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POLUIÇÃO MARINHA: IMPLICAÇÕES E RESPONSABILIDADE NO DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE

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FACULDADE DE DIREITO

GLÓRIA RIOS FERREIRA GOMES

POLUIÇÃO MARINHA: IMPLICAÇÕES E

RESPONSABILIDADE NO DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE

FORTALEZA 2007

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GLÓRIA RIOS FERREIRA GOMES

POLUIÇÃO MARINHA: IMPLICAÇÕES E RESPONSABILIDADE NO DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profa. Sheila Pitombeira.

Fortaleza-Ceará 2007

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GLÓRIA RIOS FERREIRA GOMES

POLUIÇÃO MARINHA: IMPLICAÇÕES E RESPONSABILIDADE NO DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Monografia apresentada no Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Monografia apresentada por

___________________________________

Glória Rios Ferreira Gomes Aprovada em 17/01/07

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________

Profa. Sheila Cavalcante Pitombeira (Orientadora) Universidade Federal do Ceará

________________________________________________

Profa. Ana Mônica Filgueiras Menescal Faculdade Integrada do Ceará

________________________________________________

Emília Cavalcante Nobre

Bacharela em Direito pela Universidade Federal do Ceará

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me presentear com tanta sorte, nem sempre merecida.

À minha família, pelos ensinamentos de vida que me foram ofertados e pelos momentos de descontração inesquecíveis.

Às minhas queridas amigas Najara e Emília, as maiores recompensas fraternas conquistadas durante este período acadêmico que se encerra.

Ao Chico Buarque, mestre Cartola e companhia, por me fazerem despertar sentimentos adormecidos e por tornarem tão singelas as horas de descanso durante o preparo deste trabalho.

Ao CEDECA – Centro de Defesa da Criança e do Adolescente, por me propiciar aprendizagem ímpar.

A todos meus amigos espalhados por este vasto Mundo, simplesmente por terem participado da minha vida e me presenteado com saudosas lembranças.

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"A verdadeira sobrevivência da espécie humana depende da manutenção de um oceano vivo e limpo, em toda a sua extensão. O oceano é o cinto de segurança do planeta".

Jacques Costeau

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RESUMO

Analisa as implicações da poluição marinha, seus efeitos nocivos para o ecossistema e para a sociedade humana. Aborda a evolução histórica do Direito Internacional do Meio Ambiente, os princípios basilares e a legislação internacional mais influente. Acentua como se aplica a responsabilidade internacional quando da ocorrência de evento danoso ao meio ambiente. Ressalta a importância da participação social na construção e defesa do meio ambiente e na concretização do desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: Poluição Marinha. Preservação Ambiental. Responsabilidade Internacional. Direito Internacional do Meio Ambiente.

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ABSTRAIT

Analyse les implications de la pollution de la mer, ses effets négatives sur l´environment e lá societé. Aborde l´evolution historique du Droit International de l´Evironment, ses principes fondamentaux et la législation internationale plus influente.

Précise l´application de la responsabilité internationale pour la occasion d´un événement nuisible au environment. Accentue l´importance de la participation sociale pour la construction et la défense de l´environment et pour la concrétion du développment durable.

Mots clés: Pollution de la Mer. Preservation de l´Environment. Responsabilité Internationale. Droit International de l´Environment.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE: PRIMÓRDIOS E EVOLUÇÃO... 13

3 DIREITO A UM MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO COMO DIREITO FUNDAMENTAL... 19

4 POLUIÇÃO MARINHA... 23

4.1 Poluição de origem terreste... 25

4.2 Poluição proveniente das atividades relativas aos fundos marinhos sob jurisdição nacional... 27

4.3 Poluição proveniente de atividades na Área... 28

4.4 Poluição por alijamento...28

4.5 Poluição proveniente de embarcações... ...29

4.6 Poluição proveniente da atmosfera ou através dela... 31

4.7 Impacto ambiental causado pelo petróleo... 32

5 PRINCIPIOLOGIA... 34

5.1 Princípio do patrimônio comum da humanidade... 34

5.2 Princípio da responsabilidade comum mas diferenciada... 35

5.3 Princípio do dever de não causar dano ambiental... 36

5.4 Princípio da responsabilidade estatal... 37

5.5 Princípio do poluidor pagador... 37

5.6 Princípio da prevenção... 40

5.7 Princípio da precaução... 41

5.8 princípio da participação... 41

6 LEGISLAÇÃO 6.1 Tratados Internacionais... 43

6.2 Convenção sobre o Direito do Mar... 46

6.3 Convenção sobre poluição marinha por alijamento de resíduos e outras matérias... 51

6.4 Convenção Internacional para a prevenção da poluição do mar por navios, MARPOL. ... 52

6.5 Agenda 21... 54

7 RESPONSABILIDADE...57

7.1 A responsabilidade na Convenção sobre Direito do Mar... 59

7.1.1 Responsabilidade internacional... 60

7.1.2 Responsabilidade civil... 61

7.1.3 Responsabilidade penal... 61

7.2 Competência e execução na Convenção sobre Direito do Mar... 62

7.3 Organizações internacionais... 64

7.3.1 PNUMA... 65

7.3.2 OMI... 66

7.4 educação ambiental: uma responsabilidade social... 67

8 CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS... 69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 71

ANEXO...73

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1 INTRODUÇÃO

O mar sempre gerou fascínio nos homens. Provavelmente por sua vastidão, riqueza, mistério e por ser instigante desvendá-lo, enfrentá-lo, conquistá-lo. E o homem, sedento por aventuras, renome e poder, o dominou.

Tal domínio foi crucial na evolução histórica. A expansão comercial e marítima, aliada à Revolução Industrial, impulsionou o homem ao desenvolvimento, alcançando- se a Era Moderna.

A modernidade trouxe a praticidade, mas não somente. Máquinas, indústrias, veículos, grandes cidades, guerras, pobreza de muitos, riqueza de poucos e lixo, muito lixo. Mas lixo é ruim, é sujo! Onde camuflá-lo? Não cabe debaixo de um tapete...

Restaram, então, os oceanos como “lixeira inesgotável da humanidade”.

Acreditava-se em sua infinita capacidade de autodepuração. O mar tornou-se receptor das mais diversas e tóxicas substâncias. Resíduos industriais, agrícolas, hospitalares e urbanos (esgotos) consistem em uma oferta diária prestada pela terra. O ouro negro jamais poderia ser esquecido: o petróleo, fonte de tantas especulações e conflitos, contribui assiduamente.

Questão resolvida? Nem tanto... O homem, sábio homem, passou a perceber indícios de que sua saúde estaria “levemente” ameaçada. Zonas costeiras completamente poluídas: praias impróprias para o banho, peixes impróprios para o almoço! Doenças... E as “marés negras”? Mortandade de espécies animais e vegetais, comprometendo todo um ecossistema.

As ONGs (Organizações Não Governamentais) passaram a fazer barulho, a opinião pública de repente acordou e ficou em alerta. A comunidade internacional

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rapidamente se mobilizou e produziu uma infinidade de tratados. A situação, entretanto, permanece grave.

Eis nosso objeto de estudo: a poluição marinha e sua responsabilidade no Direito Internacional do Meio Ambiente.

As questões ambientais, em todos os seus aspectos, são extremamente preocupantes. Ouve-se muito acerca do efeito estufa, do aquecimento global e derretimento das calotas polares, da emissão desenfreada de gás carbônico, da devastação de florestas por meio de desmatamento e queimadas. No entanto, a poluição marinha nos parece um tanto esquecida, a não ser quando um navio-petroleiro derrama milhares de toneladas de óleo nos oceanos. Então, logo a mídia se volta inteiramente para o tema, que vira capa de jornais e revistas semanas a fio, e depois retorna ao esquecimento, mas somente até o próximo acidente.

O mar é fonte de vida e continuará sendo, se assim o permitirmos. Fornece-nos alimento, lazer, transporte. É inconcebível transformá-lo em um depósito de lixo. É dever da comunidade internacional punir em favor deste direito: o de sobrevivência dos mares.

Neste breve estudo, tentaremos abordar de maneira crítica a poluição marinha e suas implicações. Iniciando por uma simples apresentação do surgimento do Direito Internacional do Meio Ambiente, passaremos à acepção do “direito a um meio ambiente equilibrado como direito fundamental”.

Logo mais, analisaremos as diversas formas de poluição marinha: origens, processos e efeitos. Em seguida, partimos para o estudo dos princípios basilares da proteção do meio marinho, princípios esses que inspiraram e constituem a legislação internacional acerca do tema, que será devidamente examinada.

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Por fim, convém o estudo da responsabilidade e reparação do dano em matéria de poluição do meio ambiente marinho: objetivos da proteção, tipos de responsabilidade, instrumentos de preservação, organizações internacionais implicadas, países e sociedades considerados individualmente, cidadania e proteção dos oceanos.

Objetiva-se, por meio desta monografia, o mero questionamento acerca da degradação do meio marinho. Caso seja suscitado ao menos um pouco de indignação, terá atingido o seu propósito.

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2 DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE: PRIMÓRDIOS E EVOLUÇÃO

A História mostra-nos que o desenvolvimento econômico das nações esteve, durante anos, à frente de qualquer inquietação acerca do meio ambiente. Via-se a natureza como fonte inesgotável de matérias primas, e o homem, sedento por riquezas, como um explorador impiedoso.

As primeiras preocupações que suscitariam a questão ambiental, como a das normas relativas à preservação de florestas na Península Ibérica no século XVI, concernentes ao reflorestamento para fins de construção de navios, têm na verdade um caráter tão utilitário e imediatista que não podem ser consideradas como um “primeiro suspiro” do Direito Ambiental. A finalidade maior estava voltada para o interesse comercial, não para o resguardo da natureza.

Na realidade, a ótica jurídica se volta para a questão ambiental somente no século XX, quando a espécie humana passa a tomar consciência de que suas práticas predatórias têm afetado seriamente o equilíbrio ecológico do planeta, e, se assim prosseguisse, o homem seria cabalmente comprometido.

Quanto aos mares e oceanos, embora tenham constituído, desde o século XVI, objeto de regulamentação pelo Direito Internacional, sobretudo por meio de normas consuetudinárias (liberdade de navegação, delimitação de alto-mar), no que tange à normatização de caráter preservacionista, apenas no século XX é que foi experimentada.

E quanto ao Direito Internacional do Meio Ambiente ou, como preferem alguns autores, Direito Ambiental Internacional, este se desenvolveu a partir de legislações internas e, conforme as situações emergenciais, tomou uma proporção internacional.

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De fato, enquanto a saúde das populações não sofria os efeitos nocivos da degradação do ambiente, como o acúmulo de resíduos perigosos, não tinha surgido a necessidade de uma regulamentação específica; porém com o desenvolvimento industrial, o crescimento desordenado das cidades e a concentração demográfica, a situação tornara-se insustentável, e a preocupação com a saúde pública fomentou a regulamentação no âmbito ambiental em nível doméstico.

Tais preocupações de ordem de proteção ambiental, com o decorrer do tempo, ultrapassaram as fronteiras nacionais, pois a poluição, assim como outras formas de degradação, não obedece aos limites determinados pela geografia política. Logo, “o homem foi compelido a buscar em normas internacionais a disciplina daqueles fenômenos que ultrapassam fronteiras dos estados e exigem uma formulação no âmbito internacional”1.

A década de 60 do século XX é reconhecida como o marco inicial da expansão do Direito Internacional do Meio Ambiente. O contexto histórico favoreceu nesse sentido, senão vejamos: vivenciava-se a Guerra Fria, na qual os Estados estavam constantemente ameaçados por ataques bélicos de natureza nuclear; a destruição era iminente. Por força da grande expansão dos meios de comunicação de massa, as discussões anteriormente restritas a foros diplomáticos internacionais foram abertas à opinião pública internacional, e as teses científicas passaram a ser conhecidas e valorizadas. A democratização das relações internacionais foi finalmente alcançada, contando com a participação efetiva da opinião pública, e, por fim, as grandes catástrofes ambientais ocorridas, como derramamentos de petróleo, e seus conseqüentes efeitos nocivos passaram a ocupar as manchetes da imprensa.

1 Cf. SOARES, Guido, Direito Internacional do Meio Ambiente: Emergência, Obrigações e Responsabilidade. 2ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2003, p. 36.

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No que concerne à degradação ambiental, dois fatores precipitaram o surgimento do Direito Internacional do Meio Ambiente:

- a problemática da poluição transfronteiriça, que acomete rios, lagos, além da poluição atmosférica advinda pelas correntes de ar. Os Estados, por mais criteriosos que fossem para o controle ambiental sob sua jurisdição, teriam que suportar a poluição gerada no território de seu vizinho, exigindo-se uma regulamentação na esfera internacional.

- a poluição de mares e oceanos, cada vez mais agressiva, clama por um controle legal. O alijamento de resíduos tóxicos provenientes de indústrias e da limpeza de tanques de navios, os acidentes envolvendo petroleiros, as substâncias químicas de alta toxidade carregadas pelas águas dos rios que desembocavam no mar, além dos emissários submarinos que traziam o esgoto urbano para o meio marinho poluíram de forma desenfreada e alteraram definitivamente esse ecossistema.

Em 1967, um acidente com o superpetroleiro Torrey Canyon chamou a atenção internacional para o fenômeno das “marés negras”, que consiste no derramamento de grande quantidade de óleo bruto no mar. Na referida ocasião foram alijadas 320 mil toneladas de petróleo bruto no mar da Bretanha, região noroeste da França. O impacto ambiental foi desastroso e infinitamente oneroso em todos os aspectos.

Imbuída pelo incidente, a comunidade internacional foi levada a assinar diversas convenções, a serem posteriormente abordadas com mais propriedade (capítulo 6 deste trabalho).

Em 1972, foi realizada em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que chamou a atenção das nações para o fato de que a ação humana estava causando séria degradação da natureza e criando severos riscos para o bem-estar e para a própria sobrevivência da humanidade. Foi marcada por uma visão

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antropocêntrica de mundo, em que o homem era tido como o centro de toda a atividade realizada no planeta, desconsiderando o fato de a espécie humana ser parte da grande cadeia ecológica que rege a vida na Terra.

Marcante também foi o embate travado entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Estes últimos opuseram-se a medidas de caráter preservacionista estabelecidas pelos primeiros, pois temiam um entrave a seu desenvolvimento econômico.

Como resultados daquela Conferência, temos a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, que consiste em uma declaração de princípios de comportamento e responsabilidade que deveriam governar as decisões concernentes a questões ambientais, e um Plano de Ação que convocava todos os países, os organismos das Nações Unidas, bem como todas as organizações internacionais a cooperarem na busca de soluções para uma série de problemas ambientais. O Direito Internacional do Meio Ambiente amadurecera.

A partir de 1972, é impressionante o número de tratados e convenções internacionais que versam sobre a preservação ambiental. Foi criado o PNUMA, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, primeira agência internacional destinada a coordenar os esforços da comunidade internacional em questões envolvendo o meio ambiente e sua respectiva proteção jurídica.

Destacou-se também a atuação persistente e incansável das Organizações Não- Governamentais (ONGs), que embora não constituam pessoas jurídicas de Direito Internacional Público, são dotadas de grande força de pressão social. O World Wildlife Fund (WWF), o Greenpeace, os Friends of Earth, a International Law Association e o Institut de Droit International, dentre outros, merecem ser lembrados como eficientes

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agentes conscientizadores e catalizadores do processo de formação de regras de Direito Ambiental Internacional.

Em 1992, quase cento e oitenta países reuniram-se no Rio de Janeiro para a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a fim de que fosse feita uma avaliação de como os países haviam promovido a proteção ambiental desde a Conferência de Estocolmo de 1972.

A Conferência da ONU propiciou um debate e mobilização da comunidade internacional em torno da necessidade de uma urgente mudança de comportamento visando à preservação da vida na Terra. Como produto desse encontro, também chamado de ECO 92, tem-se a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Agenda 21, os Princípios para a Administração Sustentável das Florestas, a Convenção da Biodiversidade e a Convenção sobre Mudança do Clima.

Em Kyoto, no Japão, em 1997, ocorreu a "Rio + 5", quando a avaliação da aplicação das propostas do Rio deixou claro que a implementação da Agenda 21 era bastante deficiente na maioria dos países.

No ano de 2002, Johanesburgo foi palco da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, a “Rio + 10”, com o objetivo de avaliar mudanças ocorridas nos dez anos passados desde a reunião do Rio de Janeiro, quando se reconheceu internacionalmente que a proteção do meio ambiente e o manejo dos recursos naturais precisam ser integrados a assuntos socioeconômicos como pobreza e subdesenvolvimento.

Conforme se pode constatar, o Direito Internacional do Meio Ambiente, que disciplina os direitos e obrigações dos Estados e das organizações governamentais internacionais, bem como dos indivíduos na defesa do meio ambiente, vem sofrendo

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intenso processo de evolução no que tange à normatização, e uma enormidade de material vêm sendo produzida em curto período.

No entanto, as medidas já tomadas em prol da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentável ainda são insuficientes. Séculos de exploração e degradação não podem ser revertidos em cinqüenta anos. É fato que muito mais já poderia ter sido realizado se países e empresas se engajassem arduamente. O interesse econômico é deveras fator dissuasivo.

A preservação ambiental é uma questão de sobrevivência da espécie humana, e não só: o dever de preservar todas as formas de vida e os recursos naturais para as gerações futuras está posto, mas somente o tempo mostrará claramente a opção tomada pelo homem.

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3 DIREITO A UM MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO COMO DIREITO FUNDAMENTAL

O tratamento respeitoso que se deve ao Meio Ambiente é hoje uma questão de sobrevivência para os seres vivos. Muitas espécies já foram extintas ou seriamente prejudicadas, e o homem já se sente ameaçado, ou pelo menos alguns. Configurada tal preocupação de extrema relevância, pode-se refletir sobre o caráter atribuído ao direito ao meio ambiente em equilíbrio, enquadrado no rol dos direitos fundamentais.

Analisemos brevemente o que seja um direito fundamental. José Afonso da Silva2 ensina-nos que direitos fundamentais servem para “designar, no nível de direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantia a uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas”. São, portanto, direitos imprescindíveis e indispensáveis de serem proclamados, e não só, pois hão de ser efetivados pela Constituição de um país que vele por um ordenamento jurídico justo.

Caracterizam-se por sua historicidade, visto que nascem em determinados contextos históricos e podem evoluir com o passar do tempo; inalienabilidade, haja vista que são indisponíveis; imprescritibilidade, já que jamais deixarão de ser exigíveis;

e irrenunciabilidade, pois até pode ocorrer de não serem exercidos, mas nunca renunciados.

No que concerne à classificação, o mestre Paulo Bonavides3 fala em dimensões.

Os direitos fundamentais da primeira dimensão teriam surgido com o advento da Revolução Francesa, baseada na tríade liberté-egalité-fraternité, e consistem unicamente no direito à liberdade e nos direitos civis e políticos. Seriam uma garantia

2 Cf. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 1994.

3 V.Curso de Direito Constitucional Positivo, 8ª ed., Malheiros, 1999.

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de proteção do indivíduo contra qualquer arbitrariedade estatal, perfeitamente justificável tendo em conta os abusos cometidos pelo Absolutismo naquela época.

Quanto aos de segunda dimensão, temos os direitos sociais, culturais, econômicos e coletivos, que tiveram maior expressividade no pós-Segunda Guerra Mundial, frente aos destroços deixados pelos combates e pela necessidade de reconstrução, amparada pelo Estado Social de Direito. Saltemos os de terceira dimensão, a fim de que sejam melhor abordados um pouco mais adiante. E finalmente os de quarta dimensão, que compreendem o direito à democracia, à informação e ao pluralismo, impulsionados pela globalização e neoliberalismo vivenciados nestes últimos tempos.

Os direitos fundamentais de terceira dimensão datam do fim do século XX, quando os homens, já massacrados por tanta guerra, hostilidade e desigualdade entre os povos e munidos por um sentimento de fraternidade, fazem emergir o direito ao desenvolvimento, à paz, à comunicação, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o nosso objeto de estudo, o direito ao meio ambiente, os quais estão orientados pelos princípios de indivisibilidade, interdependência e solidariedade.

Constituem-se em direitos que necessitam de uma solidariedade social para que sejam efetivados. O direito de viver em um meio ambiente saudável e não poluído torna imprescindível uma ação conjunta entre sociedade e Estado para ser efetivado; o indivíduo, ao mesmo tempo em que é titular desse direito, tem o dever de preservá-lo e pode fazê-lo inclusive judicialmente, visto que se trata de interesse difuso4.

4É o interesse comum de pessoas não ligadas por vínculos jurídicos, ou seja, questões que interessam a todos, de forma indeterminada. Por exemplo, habitação e saúde. Glossário Jurídico do STF (Supremo Tribunal Federal). Site:http://www.stf.gov.br/noticias/glossario/verbete.asp?SEQ_VERBETE=181

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É essa noção de solidariedade que tem de ser afirmada em torno do direito ao meio ambiente, nosso bem comum. Muitos delegam tal função ao Estado, quando não percebem que sem colaboração social não há efetividade.

O direito a um meio ambiente equilibrado já é reconhecido como direito fundamental pela maioria dos textos constitucionais dos países. No Brasil, é o artigo 225 da Constituição Federal de 1988 que o preconiza:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Como se pode constatar, o legislador pátrio considera o meio ambiente ecologicamente equilibrado como condição essencial à salubridade e à qualidade de vida do ser humano e reafirma o dever coletivo de preservá-lo.

A União Européia também consagrou o direito ao meio ambiente como um direito fundamental dos cidadãos dos países que a integram. Assim está dito no art. 174, n.1 do Tratado da Comunidade Européia ao determinar que

a política do meio ambiente passa a ser uma política comum, tendo em vista a preservação, a proteção e a melhoria da qualidade do ambiente; a proteção da vida das pessoas; a utilização prudente e racional dos recursos naturais; e a promoção, no plano internacional, de medidas destinadas a enfrentar os problemas regionais ou mundiais do ambiente.

O reconhecimento de que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito de todo indivíduo já foi realizado, e resta agora lutar pela sua efetividade, fruto da responsabilidade compartilhada.

A proteção ao meio ambiente pode ser concebida como meio para conseguir o cumprimento de outros direitos fundamentais, tomando-se em conta que um entorno ambiental destruído contribui diretamente para a violação dos direitos humanos à vida, à saúde, ao bem estar. E considere-se que o direito à vida é o mais fundamental de todos, pois se não há vida, não há existência e muito menos direitos e obrigações a serem garantidos.

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É bem verdade que ainda outros direitos fundamentais são tidos como pré- requisitos para a eficácia do direito ao meio ambiente, pois é através do direito à informação, à liberdade de expressão, à tutela judicial, à participação política, que os indivíduos poderão reivindicar e efetivar direitos ambientais. Mas é essa interdependência dos direitos fundamentais que também os determinam como imprescindíveis. Para se viver em uma sociedade harmônica e justa, fazem-se necessárias a garantia, a eficácia e a efetividade desses direitos individuais, sociais, políticos, econômicos, acrescentando-se os direitos ao meio ambiente, à informação, à democracia.

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4 POLUIÇÃO MARINHA

A preocupação com a degradação do meio marítimo é relativamente nova, levando-se em consideração a antiga crença em que os oceanos tinham a infinita capacidade de absorver e depurar todo e qualquer elemento nele introduzido. O interesse maior relativo aos mares restringia-se a expansão territorial e econômica que proporcionava.

A partir do momento em que a saúde humana percebeu-se passível de ser afetada das mais diversas formas, a questão passou a ser pautada em importantes discussões. A poluição marinha é meio extremamente pernicioso de degradação, com conseqüências nefastas, como o comprometimento do bioma marítimo em geral, além das inúmeras doenças que podem acometer o ser humano.

Os acidentes envolvendo navios petroleiros suscitaram e fomentaram os primeiros debates, haja vista a dimensão do impacto ambiental causado pelo derramamento de óleo. Logo outras formas de poluição passaram a ser objeto de estudos e a proteção do meio marinho passou a ser legalmente estabelecida.

É válido se proceder a simples diferenciação entre poluição e contaminação, conceitos por vezes confundidos. Contaminação corresponde à presença de concentrações elevadas de certas substâncias na água, sedimentos ou organismos, cuja presença supera os níveis naturais para determinada área e um organismo específico.

Enquanto que poluição já pressupõe a ocorrência de determinados fatores.

Doutrinadores brasileiros lançam conceitos abrangentes. Para Hely Lopes Meirelles, “poluição é toda alteração das propriedades naturais do meio ambiente, causada por agente de qualquer espécie, prejudicial à saúde, à segurança ou ao bem estar da população sujeita a seus efeitos”. Já Fabio Nusdeo entende que “poluição

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significa a presença de elementos exógenos num determinado meio, de molde a lhe deteriorar a qualidade ou a lhe ocasionar perturbações, tornando-o inadequado a uma dada utilização”. Mário Guimarães Ferri, por sua vez, afirma que “poluição é tudo o que ocasione desequilíbrios ecológicos, perturbações na vida dos ecossistemas. Não nos interessa saber se a modificação se faz no ar, na água ou na terra; se é produzida por matéria em estado gasoso, líquido ou sólido, ou por liberação de energia; nem se é causada por seres vivos ou por substâncias destituídas de vida”5.

Os conceitos acima referem-se à poluição de maneira geral, ocorrida em qualquer meio; como nosso objeto é poluição em meio marinho, apresentamos a definição dada pela Convenção da ONU sobre o Direito do Mar em seu artigo 1º, §1º, inciso 4:

Poluição do meio marinho significa a introdução pelo homem, direta ou indiretamente, de substâncias ou de energia no meio marinho, incluindo os estuários, sempre que a mesma provoque ou possa vir a provocar efeitos nocivos, tais como danos aos recursos vivos e à vida marinha, riscos à saúde do homem, entrave às atividades marítimas, incluindo a pesca e as outras utilizações legítimas do mar, alteração da qualidade da água do mar, no que se refere à sua utilização e deterioração dos locais de recreio.

Como se pode concluir, são pressupostos essenciais para que ocorra internacional e legalmente poluição os seguintes elementos: “que a poluição seja causada por ação ou omissão do homem; que provoque efeitos nocivos ou deletérios às substancias do meio marinho; que tais efeitos nocivos ocorram em outro Estado ou em área fora da jurisdição nacional”. 6

A supracitada convenção é um dos documentos gerais mais importantes de preservação e combate a poluição do meio marinho. Para melhor deliberar acerca das diferentes formas de poluição, a Convenção de Montego Bay, além de apresentar o

5 MEIRELES, Hely Lopes; NUSDEO, Fábio; FERRI, Mário Guimarães apud SILVA, José Afonso da.

Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 1994.

6 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito Ambiental Internacional. 2ª ed. Rio de Janeiro: Thex Editora, 2002.

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conceito também classifica quanto à origem os diversos tipos de poluição; essa, portanto, será a classificação adotada neste trabalho.

4.1 Poluição de origem terrestre

A poluição proveniente do continente chega a corresponder a 80% da poluição dos oceanos; ocorre nas águas territoriais dos Estados e facilmente se expande pelos mais diversos mares, pois para a água não há fronteiras. Daí a importância ressaltada no artigo 207 da Convenção de Montego Bay de os Estados adotarem “leis e regulamentos para prevenir, reduzir e controlar a poluição do meio marinho proveniente de fontes terrestres, incluindo rios, estuários, dutos e instalações de descarga”.

A poluição de origem terrestre pode ocorrer por conta do despejo de esgoto e lixo nas áreas costeiras e também através de rios que desembocam no mar, como pela descarga elevada de poluentes por indústrias e pelo uso de produtos químicos na agricultura.

A questão sanitária de tratamento de esgotos é de suma importância. Mais frequentemente nas cidades litorâneas de países em desenvolvimento, como Fortaleza, há favelas, onde pessoas vivem abaixo da linha de pobreza, não tendo acesso a higiene sanitária; o lixo e o esgoto produzidos nesses locais não seguem o destino correto e, conseqüentemente, acarretam uma contaminação costeira e marinha, alterando a vida de quem vive perto do mar e de quem vive dos recursos do mar.

Os prejuízos não se resumem simplesmente a contaminação das praias, muitas vezes impróprias para o banho, ou da contaminação de peixes, fonte de alimento. Há ainda o fenômeno da eutrofização, que consiste numa acumulação excessiva de nutrientes (nitratos e fosfatos) nos rios devido ao que escorre dos campos agrícolas e às

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águas dos esgotos, induzindo uma proliferação da flora aquática, a qual diminui a concentração de oxigênio contido na água e coloca a vida aquática em perigo, por impedir a realização de fotossíntese pela flora marinha. Este fenômeno está na origem das marés vermelhas, verdes e castanhas. A principal causa do aumento destes nutrientes é a agricultura intensiva e o seu recurso sistemático aos fertilizantes, naturais ou químicos.

Dos resíduos agrícolas escoados pelos rios também temos os fertilizantes, herbicidas e pesticidas, que acabam alcançando os mares, e pelo fato de não serem biodegradáveis, são contaminadores persistentes das águas costeiras, alterando de forma insistente a cadeia alimentar e aumentando a concentração de fosfatos, nitratos e silicatos.

Igualmente não biodegradáveis e também bioacumulativos são os resíduos provenientes das indústrias, muitos dos materiais liberados são compostos orgânicos tóxicos, ácidos e metais pesados potencialmente capazes de poluir.

Uma das mais preocupantes é a poluição por mercúrio de águas costeiras e seus efeitos prejudiciais aos seres humanos: pode causar adormecimento dos membros e lábios, perturbação da coordenação motora, paralisação do campo visual com movimento inconscientes e involuntários, seguido depois de morte. A contaminação por mercúrio pode advir da ingestão de peixes e outros organismos marinhos contaminados.

O mercúrio é muito utilizado em processos industriais, principalmente na manufatura de soda cáustica do sal.

Os resíduos sólidos também consistem numa fonte de preocupação, pois plásticos e isopores, que embora não sejam considerados tóxicos aos organismos marinhos, muitas vezes são ingeridos por pássaros, peixes e mamíferos que acabam por morrerem asfixiados.

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Os resíduos radioativos, como lixos radioativos líquidos e sólidos lançados por usinas nucleares e águas de refrigeração dos reatores (que além das partículas radioativas ocasionam um desequilíbrio ecológico devido ao despejo de águas com temperaturas elevadas, chegando a aproximadamente 15°C acima da temperatura ambiente), igualmente são fontes de poluição marinha.

4.2 Poluição proveniente de atividades relativas aos fundos marinhos sob jurisdição nacional

O artigo 208 da Convenção de Montego Bay enuncia a responsabilidade de os Estados costeiros adotarem “leis e regulamentos para prevenir, reduzir e controlar a poluição do meio marinho, proveniente direta ou indiretamente de atividades relativas aos fundos marinhos sob sua jurisdição e proveniente de ilhas artificiais, instalações e estruturas sob a sua jurisdição...”. Aqui o risco de poluição maior refere-se a acidentes envolvendo derramamento de óleo provenientes de plataformas petrolíferas. O impacto ambiental causado pelo petróleo e seus derivados será logo mais analisado.

4.3 Poluição proveniente de atividades na área

A Área é constituída pelo leito do mar, fundos marinhos e seu subsolo, além dos limites da jurisdição nacional (art.133 da Convenção sobre Direito do Mar). Os recursos minerais sólidos, líquidos ou gasosos localizados na Área constituem patrimônio comum da humanidade, portanto os Estados devem tomar medidas necessárias para assegurar que as atividades sob sua jurisdição se efetuem de modo a não causar prejuízo por poluição a outros países e a seu ambiente (§2 do art.194).

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No entanto, é de competência da Autoridade (“Autoridade” significa a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos; inc.2 do art.1) estabelecer normas pertinentes aos mais diversos tipos de poluição ocorrida na Área. Ainda assim, o artigo 209 afirma que

os Estados devem adotar leis e regulamentos para prevenir, reduzir e controlar a poluição do meio marinho proveniente de atividades na área efetuadas por embarcações ou a partir de instalações, estruturas e outros dispositivos que arvorem a sua bandeira ou estejam registrados no seu território, ou operem sob sua autoridade, segundo o caso.

4.4 Poluição por alijamento

Por alijamento entende-se, conforme o inciso 5 do art.1, da Convenção de Montego Bay,

qualquer lançamento deliberado no mar de detritos e outras matérias, a partir de embarcações, aeronaves, plataformas ou outras construções; e qualquer afundamento deliberado no mar de embarcações, aeronaves plataformas ou outras construções.

Protegendo o meio ambiente desse tipo de poluição, foi assinada a London Dumping Convention, ou a Convenção sobre Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e outras matérias, de 1972, documento de força normativa específica.

Tal Convenção regula toda e qualquer espécie de alijamento, em seus anexos traz a listagem daquelas substâncias terminantemente proibidas de serem alijadas, como aquelas que necessitam de permissão especial prévia para que se proceda ao alijamento (art. IV); toda forma de alijamento permitido prescindirá de estudo de impacto ambiental anterior.

No entanto, em seu artigo V, estabelece que em casos de força maior e com a finalidade salvaguardar a segurança da vida humana ou de embarcações, aeronaves, plataformas em outras construções no mar, ou em qualquer caso em que a vida humana se encontre em perigo ou embarcações e semelhantes estejam sob ameaça; e o

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alijamento seja a única solução que possa afastar o perigo ou ameaça, este é por fim permitido ou justificado, sem se necessitar de autorização prévia.

A poluição advinda do alijamento de resíduos pode ter poluentes de natureza diversas, sempre a depender da toxidade da substância lançada ao mar.

4.5 Poluição proveniente de embarcações

Durante muitos anos, prática habitual considerada normal era a descarga de lixo doméstico, águas usadas ou mercadorias estragadas advindas de navios ou semelhantes nos mares e oceanos. Tal prática, no entanto, não se confunde com o alijamento de resíduos e outras substâncias; “descarga significa quaisquer despejos provenientes de um navio e inclui qualquer escapamento, remoção, derramamento, vazamento, bombeamento, lançamento para fora ou esvaziamento”7.

Havia ainda a descarga de óleos de qualquer espécie e os acidentes de embarcações (poluição acidental), que poluem o meio marinho com o derramamento de petróleo ou derivados.

Todas essas formas de poluir o meio ambiente marinho foram expressamente reprimidas pelo art. 211 da Convenção sobre o Direito do Mar, que ainda “prevê a adoção de tratados internacionais e de leis e regulamentos destinados a prevenir, reduzir e controlar a poluição” proveniente de embarcação. E assim se procedeu com o surgimento da Convenção Internacional para a Prevenção de Poluição por Navios (MARPOL) em 1973.

7 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito Ambiental Internacional. 2ª ed. Rio de Janeiro: Thex Editora, 2002. p.102.

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Além de se proibir a descarga de determinadas substâncias, convinha controlar o intenso fluxo de embarcações, determinando um sistema de fixação de tráfego de modo que pudesse minimizar o risco de acidentes potencialmente poluidores do meio marinho. Tal atribuição compete à Organização Marítima Internacional (OMI), que fixa rotas a serem seguidas pelas embarcações nas áreas de trânsito mais intenso.

É obrigação do Estado que possua embarcações com sua bandeira arvorada punir pela prevenção e redução da poluição, adotando as regras enunciadas pelas Convenções internacionais ou estabelecendo regras próprias não conflitantes com aquelas (art.2).

O Estado costeiro também pode argumentar uma série de exigências consoantes à prevenção e redução da poluição como condição para a admissão de embarcações estrangeiras nos seus portos ou nas suas águas interiores ou para fazerem escala nos seus terminais, contanto que esses requisitos sejam anterior e devidamente publicados (art.3).

Da passagem inofensiva de determinadas embarcações pode o Estado Costeiro, no exercício de sua soberania, exigir o cumprimento de determinadas regras referentes ao controle da poluição, com tanto que a não comprometa aquele direito adquirido (de passagem inofensiva) por embarcações estrangeiras (art. 4).

4.6 Poluição proveniente da atmosfera ou através dela

A fim de que toda espécie possível de poluição marinha estivesse abarcada pela Convenção das Nações Unidas, aquela que advém da atmosfera ou através desta não poderia ser negligenciada.

Portanto artigo 212 enuncia que

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os Estados devem adotar leis e regulamentos para prevenir, reduzir e controlar a poluição do meio marinho proveniente da atmosfera ou através dela, aplicáveis ao espaço aéreo sob sua soberania ou a embarcações que arvorem a sua bandeira ou a embarcações ou aeronaves que estejam registradas no seu território, tendo em conta as regras e normas, bem como práticas e procedimentos recomendados, internacionalmente acordados, e a segurança da navegação aérea.

Recomenda-se ainda que os Estados, representados em organizações internacionais ou conferências diplomáticas, devem acordar regras e normas de âmbito mundial e regional contra a poluição marinha de tal procedência.

4.7 Impacto ambiental causado pelo petróleo

Nas águas marinhas, o petróleo ou seus derivados podem ser liberados ao mar por:

escape natural de depósitos geológicos de petróleo; perda acidental de operações de perfurações costeiras; acidentes e operação negligente durante o carregamento e descarregamento de petróleo (são mais comuns); colisões e naufrágios resultando na perda de carga; lavagem dos tanques de petróleo com água do mar, e o transporte atmosférico dos seus componentes mais voláteis (Skinner & Turekian, 1977).

O petróleo quando derramado no mar se espalha formando uma mancha, de espessura variável, que se deslocará em função da velocidade e da direção dos ventos e correntes marinhas. A mancha em seu percurso sofrerá uma série de processos, ditos processos intempéricos, que , por sua vez, são influenciados por outros fatores como o estado do mar e do clima, a presença de bactérias e materiais suspensos na água, e, principalmente, das propriedades físico-químicas do óleo derramado.

Os efeitos negativos causados pela poluição advinda do petróleo e seus derivados são inúmeros e suscitam grande preocupação frente ao impacto ambiental que proporciona. Os mais diversos seres são afetados. A cadeia alimentar é desfeita. O

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ecossistema, da perfeita estabilidade inicial, passa para o desequilíbrio completo. A amplitude desse desastre é praticamente impossível de ser calculada com exatidão.

Seguem em breve resumo os principais efeitos negativos decorrentes do derramamento de petróleo em meio marinho:

- Morte direta por recobrimento e asfixia: animais e vegetais que entram em contato com a mancha de óleo se vêem impossibilitados de efetuar suas trocas (respiração, alimentação, fotossíntese) com o meio, a locomoção também resta comprometida e a temperatura do corpo é passível de ser alterada; o que pode levar a morte dos organismos.

- Morte direta por intoxicação: os efeitos tóxicos dos compostos aromáticos do petróleo são responsáveis pela intensa mortalidade logo nos primeiros dias após o acidente.

- Morte de larvas e recrutas: as larvas são bem mais sensíveis aos efeitos tóxicos do petróleo do que animais adultos, o índice de mortalidade pode alcançar a cifra de 100%.

- Redução na taxa de fertilização: trata-se de um efeito que pode ser sentido a longo prazo, a taxa de fertilidade de algumas espécies, a exemplo de mexilhões pode-se ver alterada, o que resulta na diminuição da prole.

- Bioacumulação: muitas substâncias derivadas do petróleo são passíveis de serem absorvidas pelas mucosas e membranas biológicas. O que pode se dar é que a concentração dessas substâncias nos organismos passe a ser maior do que na água do mar, acarretando diminuição da resistência e surgimento de infecções.

- Perturbação nos recursos alimentares dos grupos tróficos superiores: com a morte de algumas presas, os predadores têm suas fontes alimentares reduzidas, o que

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altera toda a comunidade pertencente a dado ecossistema e pode levar ao desaparecimento de algumas espécies.

- Incorporação de substâncias carcinogênicas: muitas substâncias derivadas do petróleo tem comprovado caráter cancerígeno, o que pode desencadear o surgimento de tumores nos organismos.

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5 PRINCIPIOLOGIA

Os princípios, segundo ensinamento de J.J. Canotilho8 “são normas de natureza ou com um papel fundamental no ordenamento jurídico devido à sua posição hierárquica no sistema das fontes (ex: princípios constitucionais) ou à sua importância estruturante dentro do sistema jurídico (ex: princípio do Estado de Direito)”.

Frente à gravidade dos problemas ambientais que acometem nosso planeta, os Princípios Gerais de Direito Ambiental constituem importante fonte para a efetivação da proteção do meio ambiente.

Presentes nas Convenções e Tratados internacionais, ditam as principais normas a serem obedecidas pela comunidade internacional a fim de se conduzir da maneira menos danosa a interação do desenvolvimento econômico e proteção ambiental, preservando o Meio Ambiente como um todo.

No momento, não se pretende abordar os seguintes princípios à exaustão, mas apenas examinar os que, a nosso juízo, são os mais relevantes e inspiradores da proteção ambiental do meio marinho.

5.1 Princípio do Patrimônio Comum da Humanidade

O referido princípio enuncia, fundamentalmente, a máxima de que determinados recursos naturais e preocupações ambientais constituem patrimônio comum de toda a humanidade.

8 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. Coimbra, Portugal. Editora Almedina. 1993.

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As duas acepções podem ser distinguidas. Há aqueles recursos que são considerados comuns já que não estão sob a jurisdição de nenhum Estado, e, então, por estes não podem ser reclamados; a exemplo dos que se encontram em alto-mar. Há ainda as problemáticas questões ambientais que são de interesse comum e preocupação de toda a humanidade, como a diversidade biológica.

O meio ambiente marinho, portanto, constitui patrimônio comum da humanidade, e por ela deve ser protegido. Primeiro por comportar áreas que não estão sob a jurisdição de nenhum Estado costeiro, áreas estas que ricas, sobretudo, em minerais de grande valor monetário. E segundo porque a poluição marinha, de fácil movimentação, pode transpor quaisquer fronteiras, espalhar-se pelos mais longínquos mares e comprometer o ecossistema dos mais diversos locais.

Impõe-se, logo, o interesse e a proteção conjunta de toda a comunidade internacional na defesa desse meio tão ecologicamente valioso.

5.2 Princípio da Responsabilidade Comum mas Diferenciada

Esse princípio traz a idéia de que os problemas ambientais, embora comuns a toda comunidade internacional, devem ter sua responsabilidade compartilhada de maneira distinta entre os países, atendendo a certos critérios.

As atividades econômicas praticadas em países desenvolvidos causam um impacto negativo, na esfera ambiental, bem maior do que aquelas exercidas em países em desenvolvimento. Como ilustração: as maiores frotas de navios comerciais são de propriedade de países ricos, então a responsabilidade da segurança ou de superveniente reparação de dano causado pelo intenso fluxo do tráfego marítimo seriam de responsabilidade desses países.

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O princípio da responsabilidade comum mas diferenciada implica o

“reconhecimento de que determinados países possuem uma maior responsabilidade na implementação de medidas concretas para equacionamento desses problemas, uma vez que contribuíram ou vem contribuindo de forma mais intensa para que eles existam.”9 Paralelamente, reconhece-se, a partir desse princípio, que os países desenvolvidos têm melhores condições financeiras de solucionar os problemas ambientais. Dessa forma, foram impostas a esses países obrigações específicas, como, por exemplo, a transferência de tecnologias que auxiliem na preservação ambiental, enunciada pela Convenção sobre Direito do Mar.

Não fica aqui excluída de modo algum a responsabilidade individual de cada país em eventos danosos.

5.3 Princípio do Dever de não Causar Dano Ambiental

A aplicação desse princípio é de imensa importância para a preservação do meio ambiente, apesar da simplicidade de seu enunciado: “os estados tem o dever de assegurar que as atividades desenvolvidas sob sua jurisdição ou controle não venham a causar danos ambientais em áreas que se encontrem além dos limites de suas respectivas jurisdições nacionais”.

Consiste no dever de o estado fiscalizar atividades de risco praticadas por particulares nacionais, de modo a evitar que determinadas operações venham a provocar riscos transfronteiriços.

9 SAMPAIO, José Adércio Leite; WORLD, Chris; NARDY, Afrânio. Princípios de Direito Ambiental.

Belo Horizonte: Del Rey, 2003.p. 16.

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No que concerne ao dano ambiental ocorrido em meio marinho, a situação faz-se ainda mais problemática, e a aplicação de tal princípio ainda mais fundamental.

5.4 Princípio da Responsabilidade Estatal

Complementado pelo princípio do dever de não causar dano ambiental, tal princípio também se fundamenta no dever de um Estado não se utilizar de seu território de maneira a provocar danos em território estrangeiro.

É por meio do princípio da responsabilidade estatal que, no âmbito internacional, apura-se a responsabilidade em caso de dano ambiental. Para tanto, os pressupostos devem fazer-se presentes: a violação de um dever específico por parte de um nacional do estado em questão, o nexo causal entre essa violação e o dano provocado a outro estado; e, por fim, a identificação dos danos (passíveis de serem individualizados) ocorridos em outro estado, de maneira que se possa proceder à compensação por parte do estado infrator, obrigando-o a arcar com todos os prejuízos.

Atendidos todos os pressupostos, podem os países serem responsabilizados por dano ambiental ocorrido em estado diverso.

5.5 Princípio do Poluidor Pagador

Diante dessa nomenclatura, errôneas interpretações são experimentadas. O leigo é levado a crer que quem polui paga, simples assim. Bem, dessa maneira, estaria

“autorizada” a prática de atos que desencadeassem a poluição mediante o pagamento de determinado valor, talvez em forma de multa. Felizmente não se trata disso.Temos em

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mãos um dos princípios mais importantes de Direito Ambiental, o mais discutido certamente.

O princípio do poluidor pagador pode ser compreendido como um mecanismo de alocação da responsabilidade pelos custos ambientais associados à atividade econômica. Em essência, portanto, esse princípio fornece o fundamento dos instrumentos de política ambiental de que os estados lançam mão para promover a internalização dos custos ambientais vinculados a produção e comercialização de bens e serviços10.

A idéia de base desse princípio está em internalizar nos custos da elaboração de determinado produto o custo social relativo ao impacto ambiental que tal produção acarreta. No preço do objeto deveria estar embutido o custo tanto de sua produção como de sua eliminação; tal produto advém de matéria-prima retirada da natureza e, fatalmente, transformar-se-á em resíduo; todo esse processo importa gastos, geralmente assumidos pelo estado.

Não estando esses gastos incluídos no preço, o prejuízo seria integralmente repassado à sociedade, importando um lucro exorbitante para o fabricante. O que se pretende com tal princípio é redistribuir eqüitativamente o custo ambiental implicado por determinada produção. Visa-se, logo, à indenização dos custos externos da degradação ambiental (custos de prevenção, de reparação e de repressão ao dano ambiental).

Portanto, não se trata de um princípio meramente corretivo; mas sim preventivo, pois sua intenção é evitar a ocorrência do dano. No entanto, ainda assim, em se verificando o evento dano, o responsável tem de responder devidamente pelo prejuízo causado.

10 SAMPAIO, José Adércio Leite; WORLD, Chris; NARDY, Afrânio. Princípios de Direito Ambiental.

Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

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No caso do conhecido acidente com petroleiro Exxon Valdez em 1989, que derramou 11 milhões de galões de óleo causando imensos danos à extensa área no litoral do Alasca, a companhia petrolífera responsável pelo desastre foi obrigada a arcar com os mais diversos meios de reabilitação do meio ambiente e também com as perdas sofridas pela comunidade pesqueira. Tal princípio consiste também num instrumento que permite que os agentes econômicos arquem com todos os custos dos impactos negativos que se desencadeiem, eis seu caráter repressivo.

No entanto, a política econômica internacional vem limitando a aplicação desse princípio, sobretudo devido à proibição da OMC em discriminar produtos conforme seu meio de produção, pois acredita ser “pressuposto de um regime de comércio internacional justo a possibilidade de virem os países a decidir, em conformidade com sua legislação doméstica qual o nível de proteção do meio ambiente que deve ser empregado como parâmetro de definição dos custos ambientais embutidos nos produtos por eles produzidos”11.

Os dois princípios a serem abordados na seqüência constituem a princípios de concretização do princípio do poluidor-pagador, são eles: o princípio da prevenção e o princípio da precaução.

5.6 Princípio da Prevenção

“A prevenção é forma de antecipar-se aos processos de degradação ambiental, mediante adoção de políticas de gerenciamento e de proteção dos recursos naturais”.12

11 SAMPAIO, José Adércio Leite; WORLD, Chris; NARDY, Afrânio. Princípios de Direito Ambiental.

Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 25.

12SAMPAIO, José Adércio Leite; WORLD, Chris; NARDY, Afrânio. Princípios de Direito Ambiental.

Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 70.

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O princípio da prevenção reporta-se a mera possibilidade de risco, bem anterior à concretização de dano ambiental, implicando medidas indispensáveis que previnam a ocorrência de um desastre ecológico. A prevenção deve sempre prevalecer sobre a reparação, mais onerosa em todos os aspectos, sobretudo na esfera ambiental. O fundamento desse princípio está na crença de que ocorrido dano ambiental, sua recuperação é praticamente impossível.

Tem razão Canotilho13 quando afirma que “as ações incidentais sobre o meio ambiente devem evitar sobretudo a criação de poluições e perturbações na origem e não apenas combater posteriormente os seus efeitos, sendo melhor prevenir a degradação ambiental do que remediá-la a posteriori.”

As medidas preventivas fundadas no princípio em questão se traduzem em atos indispensáveis à proteção do meio ambiente; para efeito de ilustração têm-se as exigências de estudos de impactos ambientais, que fornecem toda a informação referente a determinadas atividades e o comportamento do ecossistema em relação a estas.

Apesar da confusão gerada pela nomenclatura, prevenção e precaução possuem sentidos diversos. A prevenção se aplica a impactos ambientais conhecidos, informando estudos e pareceres técnicos; enquanto que a precaução trata de reflexos ambientais cientificamente incertos ou desconhecidos.

5.7 Princípio da Precaução

13 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. Coimbra, Portugal. Editora Almedina. 1993.

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O referido princípio tem aplicabilidade quando da irreversibilidade dos danos ambientais ou da incerteza científica acerca da degradação do meio ambiente, seu objetivo é evitar o risco mínimo em função de qualquer conduta a ser realizada.

Concordamos com Marcelo Abelha Rodrigues, quando afirma que a “precaução antecede a prevenção”, pois sua preocupação consiste não apenas em evitar o dano ambiental específico, mas em evitar os riscos ambientais que porventura venham a surgir.

Se o princípio da precaução é, antes de tudo, uma ferramenta para decisão em situação de incerteza científica; por outro lado, é objeto de política estratégica que direciona a forma pela qual os políticos, com o intuito de proteger o meio ambiente, aplicam a ciência, a tecnologia e a economia.

5.8 Princípio da Participação

O princípio da participação refere-se à necessidade que deve ser dada à cooperação entre o Estado e a sociedade, objetivando a resolução dos problemas das degradações ambientais. Com efeito, é de fundamental importância a participação dos diversos setores sociais na formulação e na execução da política ambiental, haja vista que o sucesso desta implica que todas as categorias da população e as demais forças sociais, conscientes de suas responsabilidades, contribuam para a proteção e melhoria do ambiente, que enfim, é bem e direito de todos.

A efetividade do princípio da participação pressupõe o acesso adequado dos cidadãos às informações relativas ao meio ambiente de que disponham os órgãos e entidades do Poder Público. É que, quanto melhor informados estejam os cidadãos,

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melhores condições têm eles de participar ativamente nas decisões sobre a matéria ambiental.

A participação na tutela do meio ambiente necessita, para a sua consecução, da cooperação entre os diversos Estados visando à proteção ambiental comum. De fato, os problemas de degradações do meio ambiente não se circunscrevem apenas às fronteiras, mas, ao contrário, chegam mesmo a extrapolá-las, exigindo uma atuação interestatal solidária para um combate efetivo à devastação ambiental, preservando os recursos para as futuras gerações.

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6 LEGISLAÇÃO

Esse momento nos foi reservado para estudo e avaliação da legislação que aborda nosso tema: proteção do meio marinho. A divisão em tópicos facilitará nosso entendimento, propondo um alcance mais didático. A seguinte listagem apresenta, em ordem cronológica e de forma sucinta, a enormidade de tratados e convenções que versam sobre a proteção dos mares e oceanos nos mais diversos aspectos, sobretudo acerca do controle da poluição marinha. Na seqüência, os documentos mais relevantes serão examinados detidamente.

6.1 Tratados Internacionais

O Professor Chicele de Direito Internacional Público da Universidade de Oxford, Ian Brownlie, citando a definição de tratado dada por um projeto provisório da Comissão de Direito Internacional, diz que o tratado é

qualquer acordo internacional concluído por escrito, quer esteja consignado num instrumento único, quer em dois ou mais instrumentos conexos independentes da sua denominação particular (tratado, convenção, protocolo, pacto, carta, estatuto, ato, declaração, concordata, troca de notas, ata concordata, memorando de acordo, modus vivendi, ou qualquer outra designação), concluído entre dois ou mais Estados ou entre outros sujeitos de Direito Internacional, e regido por Direito Internacional (BROWNLIE, Ian, 1990, p. 629).

Um tratado só é considerado válido e de acordo com as regras internacionais quando as partes apresentam capacidade para tal; quando os agentes signatários, representantes destas partes, estejam habilitados; quando existe um consentimento mútuo; ou seja, quando é de livre vontade que os contraentes firmam uma convenção internacional entre si; e quando o objetivo fruto de deliberação é lícito e possível.

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O fundamento do tratado internacional é a origem de sua obrigatoriedade; ou seja, aquilo que o torna válido e eficaz. Se o tratado nada mais é do que um contrato regido pelas normas de Direito Internacional, então o fundamento que rege os contratos particulares é o mesmo que rege os tratados internacionais.

O princípio do “pacta sunt servanda” é uma regra basilar das normas de DI geral, tendo sua origem ainda no Direito Natural. Base do direito contratual, este princípio obriga o contratante a cumprir o acordado ou arcar com as responsabilidades contratuais. Levando estas regras para o Direito Internacional, os tratados obrigam os seus signatários a cumprir as convenções, só podendo ser o tratado modificado por meios similares à sua elaboração.

Retomemos, então, a listagem dos principais acordos internacionais relacionados ao nosso objeto de estudo:

1954 – Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição do Mar por Óleo.

1969 - Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados por Poluição por Óleo. Visa à compensação de danos causados por derramamento de óleo.

1969 - Convênio Relativo à Intervenção em Alto Mar em caso de acidentes com Óleo. Para tomada de providências em acidentes que afetem o mar e a costa.

1971 - Convênio sobre Responsabilidade Civil na Esfera do Transporte Marítimo de Materiais Nucleares. Responsabiliza o operador da instalação nuclear por danos causados em incidente nuclear no transporte marítimo de material nuclear.

1971 – Convenção Internacional relativa ao Estabelecimento de um Fundo Internacional para a Reparação de Danos por Poluição por Óleo.

1972 – Convenção sobre Prevenção de Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e Outras Matérias.

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1972 - Convenção sobre Prevenção da Poluição Marítima por Navios e Aeronaves. Controle de despejos de substâncias nocivas.

1972 - Convenção das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano. Declaração de Princípios sobre Proteção do Meio Ambiente.

1973 - Protocolo relativo à Intervenção em Alto-mar nos casos de Poluição Marinha por Substâncias além do Óleo.

1973 – Convenção Internacional para Prevenção da Poluição do Mar por Navios.

Preservação do meio ambiente marinho contra poluição por óleo e outras substâncias, visando à diminuição do despejo incidental. MARPOL.

1974 - Convenção para Prevenção da Poluição Marinha por Fontes Terrestres.

Conjunto de medidas para proteção do meio ambiente marinho.

1977 – Convenção sobre Responsabilidade Civil por Dano Decorrente de Poluição por Óleo, Resultante de Exploração de Recursos Minerais do Subsolo Marinho.

1982 - Convenção sobre Direito do Mar. Estabelece o regime jurídico para os mares e oceanos, bem como padrões de proteção e sanções contra a poluição.

1990 - Convenção Internacional sobre o Preparo, Resposta e Cooperação em caso de Poluição por Óleo. Propugna a tomada de medidas conjuntas ou isoladas para se preparar ou responder a incidentes de poluição por derramamento de óleo.

1992 - Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Carta de Princípios gerais para um novo estilo de vida na terra, proteção dos recursos naturais e busca do desenvolvimento sustentável.

1992 - Agenda 21. Diretrizes para o desenvolvimento sustentável ao longo prazo, a partir de temas prioritários, tais como: desmatamento, lixo, clima, solo, desertos, água,

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biotecnologia, etc. O capítulo 17 é destinado exclusivamente à proteção do meio marinho.

1992 - Convenção para Proteção do Meio Ambiente do Atlântico Nordeste.

Prevenção e eliminação de poluição por fontes terrestres; eliminação e prevenção de poluição por despejo ou incineração; proibição de despejos por fontes extra-costeiras.

Inclui os princípios da precaução do poluidor-pagador.

1992 - Convenção para Proteção do Mar Negro contra Poluição. Prevenir, reduzir e controlar a poluição para proteção e preservação do meio ambiente do Mar Negro.

1992 - Convenção para Proteção do Mar Báltico. Prevenção e eliminação de poluição; inclui os princípios do poluidor-pagador e da precaução e exige o uso da melhor tecnologia e prática disponível.

1993 - Convenção de Londres sobre Banimento de Despejo de Resíduos de Baixo Índice de Radiação nos Oceanos. Impõe banimento permanente do despejo de resíduos de baixo índice de radiação nos oceanos.

6.2 Convenção sobre Direito do Mar

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar resultou de anos de negociação (mais precisamente nove sessões entre 1974 e 1982), a fim de se chegar a um consentimento sobre a necessidade de revisão de costumes antigos, não mais adequados à realidade atual.

Finalmente foi adotada em Montego Bay, Jamaica, em 30 de abril de 1982, por votação de 130 votos a favor, 17 abstenções e quatro votos contra (Estados Unidos,

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Turquia, Venezuela e Israel). O Brasil firmou tal convenção em 1982, juntamente a outros países, e, em 1998, veio a ratificá-la.

A Convenção traz definições e limites de espaços marítimos e respectiva jurisdição; instaura o Tribunal Internacional sobre Direito do Mar, com sede em Hamburgo na Alemanha, tendo por finalidade dirimir controvérsias que envolvam questões relacionadas ao meio marinho; no entanto, a maior inovação foi considerar os Fundos Marinhos, também chamados de Área, patrimônio comum da humanidade.

O objetivo geral dessa convenção é abordar o Direito do Mar de forma racional, precisar conceitos e estabelecer normas, evitando maiores conflitos e ressaltando a importância da preservação dos recursos marinhos e do combate à poluição, sempre fazendo alusão ao aproveitamento e desenvolvimento sustentável. Objetivos como o fortalecimento da paz, da cooperação e das relações de amizades entre os estados são igualmente propostos.

Portanto, o referido documento definiu o mar territorial, zona contígua, zona econômica exclusiva, plataforma continental, a área (zona dos fundos marinhos) classificando como patrimônio comum da humanidade; estabeleceu regras internacionais para prevenir, reduzir e controlar a poluição do meio marinho; criou regras para a realização de pesquisas científicas e transferência de tecnologia marinha entre países; obrigou a solução de controvérsias com a instauração de um Tribunal próprio e a utilização do mar por meios pacíficos e para fins pacíficos.

A parte que mais nos interessa, a que trata da proteção dos mares e oceanos, está posta de maneira regular, de modo que permeia quase todos as subdivisões, o que deve ser visto de maneira positiva já que a idéia está sendo sempre reforçada. A matéria é tratada individual e especificamente a partir da Parte XII, entitulada Proteção e Preservação do Meio Marinho, art. 192 e seguintes até o art. 237.

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É importante lembrar que a definição dos conceitos, elaborada nessa Convenção, de poluição do meio marinho e alijamento de resíduos já em seu artigo 1, corresponde aos mesmos conceitos apresentados no capítulo 3 desse trabalho, quando lá já foram examinados.

A referida parte XII é subdividida em 11 secções, cujos conteúdos aqui serão resumidamente apresentados, de maneira que assim pode-se perpassar, mesmo que ligeiramente, todo o assunto. Vejamos, então:

Secção 1 – Disposições gerais. Enuncia ser obrigação de todo Estado proteger e preservar o meio marinho. Dispõe sobre a soberania dos estados em relação ao aproveitamento dos recursos naturais. Aponta medidas necessárias para o controle da poluição.

Secção 2 – Cooperação mundial e regional. Ressalta a importância e o dever de cooperação entre os Estados para a manutenção de um meio marinho sadio, regulamentando planos de emergência contra a poluição, troca de informações e promoção de estudos integrados.

Secção 3 – Assistência técnica. Aqui se é apontado o dever de prestar assistência aos Estados em desenvolvimento, os quais recebem tratamento preferencial, quando da distribuição de fundos e da utilização de serviços especializados. O objetivo dessa secção parece ser um tratamento uniforme de todos os mares, não permitindo que o acesso restrito a tecnologias em determinados países seja empecilho ou desculpa para uma proteção do meio de forma falha.

Secção 4 – Controle sistemático e avaliação ecológica. Pauta-se a obrigação de os Estados investirem no controle da poluição, através de estudos científicos e publicações de relatórios, apontando os riscos de determinadas atividades.

Referências

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