PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL
DIREITO AMBIENTAL
PROFª. IVONEIDE ALENCAR
CONCEITO
Os princípios passaram de meras fontes
de integração a espécie de normas
jurídicas, dotados, portanto, de
conteúdo normativo.
Os princípios são normas jurídicas que
fundamentam o sistema jurídico, com
maior carga de abstração, generalidade e
indeterminação que as regras, não
regulando situações fáticas diretamente,
carecendo de intermediação para a
aplicação concreta.
Devem ser pesados com outros princípios
em cada caso concreto, à luz da
ponderação casual (Princípio da
Proporcionalidade). Ou seja, inexiste
princípio absoluto.
Em Direito Ambiental, não há
uniformidade doutrinária na identificação
dos seus princípios específicos, bem
como o conteúdo jurídico de muitos
deles.
Em Direito Ambiental, não há
uniformidade doutrinária na identificação
dos seus princípios específicos, bem
como o conteúdo jurídico de muitos
deles.
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
Ele se volta a atividades de vasto
conhecimento humano (risco certo,
conhecido ou concreto), em que já se
definiram a extensão e a natureza dos
danos ambientais, trabalhando com boa
margem de segurança.
O Princípio da Prevenção trabalha com a
certeza científica, sendo invocado
quando a atividade humana a ser
licenciada poderá trazer impactos
ambientais já conhecidos pelas ciências
ambientais em sua natureza e extensão,
não se confundindo com o Princípio da
Precaução, que será estudado a seguir.
PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
A legislação brasileira recepcionou o princípio da precaução com a obrigação que dele consta:
não postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental, eis que constituiu obrigações aos Poderes Públicos de que, em qualquer atividade ou obra que possam representar algum risco para o meio ambiente,
sejam necessariamente submetidas a
procedimentos licenciatórios, nos quais,
em graus apropriados a cada tipo de
risco, são exigidos estudos e análises de
impacto, como condição prévia de que as
obras e atividades sejam iniciadas.
Quando houver ameaça de danos
sérios ou irreversíveis, a ausência de
absoluta certeza científica não deve ser
utilizada como razão para postergar
medidas eficazes e economicamente
viáveis para precaver a degradação
ambiental.
Se determinado empreendimento puder causar danos ambientais sérios ou irreversíveis, contudo inexiste certeza científica quanto aos efetivos danos e a sua extensão, mas há base científica razoável fundada em juízo de probabilidade não remoto da sua potencial ocorrência, o empreendedor deverá ser compelido a adotar medidas de precaução para elidir ou reduzir os riscos ambientais para a população.
Assim, a incerteza científica milita em favor do meio ambiente e da saúde (in dúbio pro natura ou salute).
A precaução caracteriza-se pela ação antecipada diante do risco desconhecido.
Enquanto a PREVENÇÃO trabalha com o risco certo, a PRECAUÇÃO vai além e se preocupa com o risco incerto.
PREVENÇÃO se dá em relação ao perigo concreto, ao passo que a PRECAUÇÃO envolve perigo abstrato ou potencial.
Com a finalidade de proteger o meio ambiente, os Estados devem aplicar amplamente o critério da precaução, conforme suas capacidades.
Quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a falta de uma certeza absoluta não deverá ser utilizada para postergar-se a adoção de medidas eficazes para prevenir a degradação ambiental. A exigência de certeza absoluta é algo utópico no âmbito das ciências.
O princípio da precaução significa que, se há incerteza científica, devem ser adotadas medidas técnicas e legais para prevenir e evitar perigo de dano à saúde e/ou ao meio ambiente.
PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL OU ECODESENVOLVIMENTO Para se alcançar um desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada separadamente.
Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.
Este princípio decorre de uma ponderação que deverá ser feita casuisticamente entre o direito fundamental ao desenvolvimento econômico e o direito à preservação ambiental, à luz do Princípio da Proporcionalidade.
Frise-se que a livre iniciativa que fundamenta a Ordem Econômica não é absoluta, tendo limites em vários princípios constitucionais, em especial devendo observar a defesa do meio ambiente, conforme previsão expressa do artigo 170, VI, da Lei Maior,
inclusive devendo-se dar tratamento privilegiado aos agentes econômicos que consigam reduzir os impactos ambientais negativos em decorrência de seus empreendimentos.
PRINCÍPIO DO POLUIDOR (OU PREDADOR)-PAGADOR OU DA
RESPONSABILIDADE
Poluição decorre de uma conduta humana comissiva ou omissiva que altera negativamente as características do meio ambiente, tais como o lançamento de efluentes não tratados nos rios, o desmatamento e a morte de animais silvestres.
Por este princípio, deve o poluidor responder pelos custos sociais da degradação causada por sua atividade impactante (as chamadas externalidades negativas), devendo-se agregar esse valor no custo produtivo da atividade, para evitar que se privatizem os lucros e se socializem os prejuízos.
Este Princípio inspirou o § 1.º, do artigo 14, da Lei 6.938/1981, que prevê que “é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”.
PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR
Segundo esse princípio as pessoas que
utilizam recursos naturais devem pagar pela
sua utilização, mesmo que não haja
poluição, a exemplo do uso racional da
água.
Saliente-se que é um dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente “a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”, nos moldes do inciso VII, do artigo 4.º, da Lei 6.938/1981.
PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS
Fenômenos poluidores geralmente
ultrapassam as divisas territoriais de
uma nação e atingem o território de outra,
a exemplo da emissão de poluentes na
atmosfera que venham a causar o efeito
estufa e a inversão térmica.
Por esse motivo cresce a celebração de
tratados internacionais na esfera
ambiental, este princípio foi elevado pelo
poder constituinte originário ao status de
princípio fundamental que deverá nortear as
relações internacionais do Brasil, consoante
insculpido no artigo 4.º, IX, da Lei Maior.
PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL OU EQUIDADE
Por este Princípio, que inspirou a parte final do caput do artigo 225 da CRFB, as presentes gerações devem preservar o meio ambiente e adotar políticas ambientais para a presente e as futuras gerações, não podendo utilizar os recursos ambientais de maneira irracional de modo que prive seus descendentes do seu desfrute.
PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA (OU OBRIGATORIEDADE) DA
PROTEÇÃO AMBIENTAL
Este princípio inspirou parcela do caput do artigo 225 da CRFB, pois é dever irrenunciável do Poder Público promover a proteção do meio ambiente, por ser bem difuso (de todos, ao mesmo tempo), indispensável à vida humana sadia e também da coletividade.
Deverá o Estado atuar como agente
normativo e regulador da Ordem
Econômica Ambiental, editando normas
jurídicas e fiscalizando de maneira eficaz o
seu cumprimento.
Por essa razão, entende-se que o exercício
do poder de polícia ambiental é
vinculado (em regra), inexistindo
conveniência e oportunidade na escolha do
melhor momento e maneira de sua
exteriorização.
PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA OU CIDADÃ OU
PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO
As pessoas têm o direito de participar ativamente das decisões políticas ambientais.
Exemplo da aplicação desta norma é a necessidade de realização de audiências públicas em licenciamentos ambientais mais complexos (EIA-RIMA), nas hipóteses previstas; na criação de unidades de conservação (consulta pública); na legitimação para propositura de ação popular ou mesmo no tradicional direito fundamental de petição ao Poder Público.
Essa participação popular no processo de formação da decisão política ambiental poderá também se dar por meio de associações ambientais (ONG’s).
Também já é comum a realização deste princípio por meio da intervenção das associações ambientais nos processos de controle abstrato de constitucionalidade no STF, na condição de amicus curiae.
PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA
PROPRIEDADE
Já se fala atualmente em função socioambiental da propriedade, uma vez que um dos requisitos para que a propriedade rural alcance a sua função social é o respeito à legislação ambiental (artigo 186, II, da CRFB), bem como a propriedade urbana, pois o plano diretor deverá necessariamente considerar a preservação ambiental, a exemplo da instituição de áreas verdes.
PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO
Ele mantém íntimo contato com o Princípio
da Participação Comunitária e da
Publicidade, que informa a atuação da
Administração Pública, notadamente no que
concerne aos órgãos e entidades
ambientais,
que ficam obrigados a permitir o
acesso público aos documentos,
expedientes e processos
administrativos que tratem de matéria
ambiental e a fornecer todas as
informações ambientais que estejam sob
sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro
ou eletrônico.
PRINCÍPIO DO LIMITE OU CONTROLE
Cuida-se do dever estatal de editar e
efetivar normas jurídicas que instituam
padrões máximos de poluição, a fim de
mantê-la dentro de bons níveis para não
afetar o equilíbrio ambiental e a saúde
pública.
PRINCÍPIO DO PROTETOR- RECEBEDOR
Defende que as pessoas físicas ou
jurídicas responsáveis pela
preservação ambiental devem ser
agraciadas como benefícios de alguma
natureza, pois estão colaborando com toda
a coletividade para a consecução do direito
fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado.
Assim, haveria uma espécie de compensação pela prestação dos serviços ambientais em favor daqueles que atuam em defesa do meio ambiente, como verdadeira maneira de se promover a justiça ambiental,
a exemplo da criação de uma compensação financeira em favor do proprietário rural que mantém a reserva florestal legal em sua propriedade acima do limite mínimo fixado no artigo 12 do novo Código Florestal.
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO ECOLÓGICO
De acordo com este princípio, especialmente voltado ao Poder Legislativo, é defeso o recuo dos patamares legais de proteção ambiental, salvo temporariamente em situações calamitosas.
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE COMUM, MAS DIFERENCIADA
Tem feição ambiental internacional, decorrendo do Princípio da Isonomia, pontificando que todas as nações são responsáveis pelo controle da poluição e a busca da sustentabilidade, mas os países mais poluidores deverão adotar as medidas mais drásticas, pois são os principais responsáveis pela degradação ambiental na Biosfera.
PRINCÍPIO DA GESTÃO AMBIENTAL DESCENTRALIZADA, DEMOCRÁTICA
E EFICENTE
Com o advento da Lei Complementar 140, de 08 de dezembro de 2011, que regula as competências ambientais comuns entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, foi previsto como objetivo fundamental de todas as esferas de governo proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente.
A descentralização política decorre da repartição das competências protetivas ambientais entre todos os entes federativos, nos moldes do artigo 23, III, IV, VI e VII, da Constituição, que deverão cooperar para alcançar o tão sonhado desenvolvimento sustentável, em parceria como toda a coletividade, que é titular do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Já a democracia na gestão ambiental é concretizada em várias passagens da legislação ambiental, sendo imprescindível inserir a população nos processos decisórios ambientais, a exemplo da promoção das consultas e audiências públicas.
E a eficiência na gestão ambiental é a exigência de resultados positivos pela Administração Pública dos três poderes, fruto de uma atuação moderna, extraindo-se mais com o menos, uma verdadeira ecoeficiência, a exemplo da adoção do modelo das licitações sustentáveis.
REFERÊNCIA
AMADO, Frederico. Direito Ambiental Esquematizado, 7ª ed. São Paulo. Método.
2016.