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Anomalias dentárias em deficientes mentais

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Academic year: 2017

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ANOMALIAS

DENTÁRIAS

EM DEFICIENTES

MENTAIS’

Ney Moraes,

Elisabete Moraes e Heloisa Helena Cunha Marques4

A freqüência extremamente elevada com que apresentam ano- maiias dentárias em indivíduos deficientes mentais sugere a hipó- tese de que fatores causais ou concomitantes à doenca mental es- timulam o desenvolvimento daquelas irregularidades. 0 presente artigo examina essa hipótese com referência a um estudo de pa- cientes de urna instituicâo para doentes mentais do Estado de Sáo Paulo, Brasil.

Introdugõo

Nos últimos anos grande ênfase tem sido dada ao atendimento dentário dos deficientes mentais. Principalmente nos Estados Unidos vários estudos têm sido realizados para deter- minar a extensão e profundidade dos proble- mas dentários de tais pacientes. Por outro lado, o estudo da doenca mental tem trazido importantes contribuiCóes para o desenvolvi- mento de várias ciências, tais como a psico- logia, a endocrinologia, a genética, as ciências do comportamento e a própria odontologia, urna vez que certas anomalias dentárias têm sido associadas a certos tipos de deficiência mental. De modo geral, é conhecida a asso- ciacáo entre alteracóes e malformacões somáticas e a doenca mental. Já em 1929, Tregold (22) afirmava que “ocorrem com ex- trema freqüência condicões anormais do es- queleto nos deficientes mentais e é pequeno o número dessas pessoas que náo apresentam urna ou mais anomalias ósseas bem mar- cadas. 0 crânico, o palato, as mandíbulas e os dentes são as partes mais freqüentemente afetadas.” 0 mesmo autor afirma: “Con- siderando a freqüente ocorrência de deformi- dades do palato, náo surpreende a consta-

’ Aparece em inglês no Bulletin of the Pan Ameritan Health Or- ganization. Vol. IX, No. 4 (1975), págs. 325-328.

zProfessor Titular Contratado, Departamento de Odontologia Social, Faculdade de Odontologia de Bauru. U.S.P. Bauru. São Paulo. Brasil.

3Pós-graduanda em Diagnóstico Oral, Faculdade de Odon- tal 8 gia de Bauru. Mestre em Diagnóstico Oral, Faculdade de Odontologia de BauÍ-ll.

tacáo de que sáo bastante comuns as ano- malias dentais nem o fato de que é mais ou menos raro encontrar um conjunto de dentes em boas condicóes nos deficientes mentais.” Diner (4) afirma que “as anomalias dentárias ocorrem com freqüência maior que 0 normal em criancas retardadas,” Gullikson (6), exa- minando criancas retardadas, encontrou urna incidência de problemas dentários maior que a normal associada a urna proporcão muito alta de anomalias dentárias. Sasseti et al.

(II), estudando a ocorrência de anomalias dentárias em oligofrênicos e epiléticos, obser- varam que, embora a presenta de anomalias variasse conforme o tipo de problema mental em causa, sua freqüência era evidentemente maior nos deficientes do que em indivíduos normais.

De modo geral, essas observaqóes con- firmam o amplamente aceito ponto de vista de que existe urna associa@o entre doenca mental e urna freqüência inusitadamente ele- vada de anomalias dentárias. Com base nessas observacóes, o presente trabalho procura avaliar a incidencia de vários tipos de anomalias dentárias observadas num grupo de deficientes mentais numa instituicáo de Bauru, Estado de São Paulo, Brasil.

Material e Método

Foram examinados 53 pacientes internos, semi-internos e externos de urna instituicão especializada da cidade de Bauru, com- preendendo 47 do sexo masculino e 6 do sexo

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244 BOLETIN DE LA OFICINA SANITARIA PANAMERICANA 9 Septiembre 1977

feminino, variando de suas idades de 7 a 18 anos, com média de 12 anos. Todos estavam classificados genericamente como “deficien- tes mentais”, conhecendo-se os diagnósti- cos específicos (esquizofrenia e mongolismo) em apenas dois casos. 0 QI mediano do grupo foi de 58, variando os quocientes indi- viduais de 10 a 120. Quanto às características raciais, 40 eram brancos e 13 eram negróides. Os exames foram realizados à luz natural com o auxilio de espelho bucal, tendo-se pro- cedido à sua desinfeccáo química em solucáo de “Zefirol”. Foram utilizadas espátulas de madeira previamente esterilizadas para afas- tar a língua e as bochechas dos pacientes. Por náo ter sido utilizado equipamento radio- gráfico, quase nada foi possível determinar quanto ao desenvolvimento das anomalias, exceto nos casos de ausência clínica de dentes.

Complementarmente, foram avaliadas as condicóes gerais da saúde oral dos pacientes, tendo sido feitas observacóes de cáries, problemas gengivais, higiene oral e má oclusão. Os resultados dessa avaliacáo seráo assunto de outro trabalho.

Resultados e Discussõo

Dos pacientes examinados 21 (39,6%) náo apresentaram qualquer tipo de alteracáo. Em 28 (52,890) observou-se ocorrência de ano- malias dentárias e em sete (13,2%) foram en- contradas fraturas de incisivos superiores, tendo havido concomitância dessas alteracóes em três pacientes.

É

importante assinalar que a proporcáo de dentes fraturados nos pa- cientes examinados é acentuadamente maior que registrada para indivíduos normais, es- timada em 6%, segundo Bijella (2).

As anomalias dentárias foram avaliadas se- gundo a classificacáo de Bhaskar (1), que as divide de acorde com a fase de desenvolvi- mento do dente em que ocorrem (ver quadro 1). Essa clasifica@o relaciona anomalias que se manifestam na fase de iniciacáo, na mor- fodiferenciacáo, durante a aposicáo dos teci- dos duros, na calcificaCáo e, finalmente, durante a erupcáo dos dentes.

Um dos distúrbios que ocorrem na fase de iniciacáo é a anadontia (ausência congênita de dentes) total ou parcial, que é, segundo a literatura (6, 8 e IO), muito freqüente em pa-

QUADRO I-Anomalias e fraturas den16rias observadas em deficientes mentais de urna instituiCão especializada de Bauru (São Paulo), segundo a classificaqão de BHASKAR (1).

Número de Número de Fase de desenvolvimento pacientes com dentes

dos dentes Anomalia anomalias afetados

Iniciacào Ausências clínicas (náo confirma-

das radiograficamente) . 4 4

:

Segundos molares (superiores) com

três cúspides. . . . . . . . 8 12 Segundos molares com micro-

dontia . . . 2 2 Segundo molar (inferior) com cinco

Morfodiferenciacáo cúspides . . . . . . . . . . 1 1 Primeiro molar (inferior) com seis

cúspides . . . 1 1 Primeiro molar moriforme (su-

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Moraes et al. l ANOMALIAS DENTÁRIAS EM DEFICIENTES MENTAL5 245

tientes portadores de lesões cerebrais. Em nosso trabalho verificamos a ausência clínica de dentes superiores em quatro pacientes, faltando primeiros molares em dois casos, um incisivo lateral em outro e um no canino no último. Por falta de exame radiográfico, porém, nao foi possível determinar se eram casos de anodontia verdadeira.

Dos problemas que se instalam durante a morfodiferenciaqáo, o encontrado mais fre- qüentemente foi o desenvolvimento de se- gundos molares superiores com três em vez de quatro cúspides, apresentado por oito pa- cientes (15,1%) com um total de 12 dentes. Foram também observadas outras anomalias que se manifestam na morfodiferenciacão. Dois pacientes eram portadores de segundos

molares microdontes (anormalmente pe-

quenos); em outro foi encontrado um se- gundo molar inferior com cinco cúspides e em outro ainda um primeiro molar inferior com seis cúspides; um paciente apresentou dente moriforme na mandíbula; e três outros apresentaram dente de Hutchinson,’ com in- cisivos centrais e laterais superiores afetados.

A hipoplasia de esmalte, que se torna patente durante a fase de aposicão, foi ex- tremamente freqiiente, tendo sido encon- trada em seis indivíduos, com um total de 16 dentes anteriores afetados.

Nao foram observados distúrbios de cal- cificacão, mas houve dois casos de retardo acentuado da erupcão, fenômeno também verificado por Raison et al. (10).

Os resultados observados coincidem, de maneira geral, com os encontrados na litera- tura. A alta incidência de segundos molares com três cúspides já havia sido citada por Sasseti et al. (II). Gullikson (6) encontrou anomalias em 37% dos pacientes que es-

tudou; destes, 15% tinham anodontia,

8,5%, dentes com altera@0 de forma, e 16%, hipoplasia do esmalte.

Ademais, um estudo realizado por Mc- Millan e Kashgarian (7) revelou a ocorrência

5 Incisivos chanfrados e de bordas ectreitas. frequentemente ap,ontados como smal de sífilis con@nita mar nem sempre de tal orp3ll.

de dentes hipoplásticos em 315% de um grupo de 286 pacientes com problemas

mentais. Os mesmos autores encontraram freqüências elevadas de anodontia (35,1%) e de morfologia anormal (345%) entre indi- víduos com mongolismo (¿?), e freqüências também elevadas de hipoplasia do esmalte (22,270) e de morfologia anormal de órgãos dentários (ll,1 %) em pacientes epiléticos (9). Codina (3) observou anomalias seme- lhantes entre epiléticos.

Diner (5) relata pesquisas em que foram comparadas anomalias dentárias de pa- cientes normais e deficientes cerebrais. Veri- ficou-se que apenas 8% da populacão normal estudada apresentavam algum tipo de al- tera@ morfológica, enquanto a cifra corres- pondente para mongolóides foi de 74%.

Conclusões

Em decorrência dos resultados obtidos e de sua comparaqáo com os de outros autores, podemos concluir que:

1) Existe urna íntima relacão entre altera- @es mentais congênitas ou hereditárias e alteracões da morfologia dentária.

2) A atividade ameloblástica pode ser afetada em deficientes mentais, e provoca dis- túrbios na aposicão da matéria orgânica do esmalte, produzindo alta incidencia de hipo- plasia.

3) Há grande incidência de fraturas de dentes anteriores em portadores de deficiên- cias mentais.

Resumo

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em dentes anteriores. Além disso, a proporcáo cantemente maior que observada em indi- de incisivos superiores fraturados foi signifi- víduos normais. 0

REFERENCIAS

(1) Bahskar, S. N. Synopsis »f Oral Parhology (sec- ond edition). C. V. Mosby. St. Louis, Missouri, 1965, p. 100.

(2) Bijella, M. F. T. B. Estudo de Traumatismos em Incisivos Permanentes de Escolares Brasileiroc, de Bauru, Estado de Sáo Paulo: Prevalência, Causas e Atendimento Odontológico. Tese apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru, 1972.

(3) Codina, J. B. Semiótica oral de epileptóide. An Es- pañ Odontoestomat 15:91-105, 1956. (4) Diner. H. Treasure the exceptional Child-and

learn from him. Denral Survey 45:44-45, 1969. (5) Diner. H. Tooth defects studied for clues to mental

(8) McMillan. R. S.. e M. Kashgarian. Relation of human abnormalities of structure and function to abnormalities of dentition: II. Mongolism. JAm DCIII Assoc 63:368-373. 1961.

(9) McMillan. R. S.. e M. Kashgarian. Relation of human abnormalities of structure and function to abnormalities of dentition. III. Relation of enamel hypoplasia to epilepsy and to diagnoses associated with Rh factor. JAm Dent Assoc 63:

497-502. 1961.

(10) Raison, J.. <>t ul. Manifestations buceo-dentaires du mongolisme. Actual Odontosromcrr 10:348-

59, 1956.

retardation. Dental Survey 45:46-47, 1969. (6) Gullikson, J. S. Oral findinrrs of mentallv retarded

(II) Sasseti, 1. S., c/ crl. AlRumas observaqóes \obre a ocorrência de anokalias em um grupo de doentes mentais. Rev Bras Odont 25:389-392. children.JDent Child 31>:133-37, 1959. 1968.

(7) McMillan, R. S., e M. Kashgarian. Relation of (12) Tregold, A. F. A T~~ho«k of Mcwtal Defficiency human abnormalities of structure and function (sixth edition). William Wood and Co.. Balti- to abnormalities of the dentition: 1. Relation of more, 1937.

hypoplasia of enamel to cerebral and ocular disorders. JAm DentAssoc 63:38-48, 1961.

Anomalías dentales en pacientes psiquiátricos (Resumen)

En una institución de Bauru, Estado de São segundos molares con número excesivo de cús- Paulo, especializada en la atención del deficiente pides, fue muy elevada. Con frecuencia se observó mental, se examinó a 53 pacientes con el fin de hipoplasia del esmalte en dientes anteriores y el detectar anomalías dentales. La incidencia de porcentaje de incisivos maxilares fracturados fue dientes morfológicamente anormales, sobre todo mucho mayor que el de los individuos normales.

Dental anomalies in mental patients (Summary)

Fifty-three patients were examined for dental normal number of cusps, was extremely high. abnormalities at an institution specializing in care Enamel hypoplasia was frequently found in ante- of the mentally deficient in Bauru, Sáo Paulo rior teeth, and the percentage of fractured State. The incidence of teeth with abnormal maxillary incisors was significantly higher than morphology, mainly second molars with an ab- that observed in normal individuals.

Anomolies dentaires chez des malades mentaux (Résumé)

Cinquante trois malades mentaux traités dans élevé de cuspides, était très haute. La fréquence de une institution spécialisée å Bauru, Etat de São I’hypoplasie de I’émail dans les dents antérieures Paulo, ont été examinés pour découvrir toute trace était prononcée tandis que le pourcentage d’incises d’anormalités dentaires. L’incidence de dents 2 maxillaires fracturées était nettement plus élevé morphologie anormale, principalement des molai- que chez des individus normaux.

Referências

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