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O paleolítico médio da Portas de Ródão, a margem esquerda (Nisa, Portugal): contributo para a sua caracterização cronoestratigráfica

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Academic year: 2021

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INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO E FORMAÇÃO AVANÇADA ÉVORA, JANEIRO de 2014 ORIENTADORES:Leonor Maria Pereira Rocha

Thierry Jean Aubry Tese apresentada à Universidade de Évora para obtenção do Grau de Doutor em Arqueologia Especialidade:Pré-História

Nelson António Carvalho de Almeida

Contributo para a sua caracterização cronoestratigráfica.

O PALEOLÍTICO MÉDIO DAS PORTAS DE RÓDÃO,

A MARGEM ESQUERDA (NISA, PORTUGAL)

(2)

Ao meu Pai

“…J’ai besoin de mon père pour savoir d’ou je viens…” Manu Chao, “Tous les Jours”

(3)
(4)

Por mais individual que seja uma investigação, a sua consecução depende sempre de um conjunto de relações interpessoais. Ao longo do tempo, sem me aperceber fui criando uma rede de contactos profissionais que, com alguma rara excepção, resultaram, com o tempo, em relações de amizade. Agora que é altura de agradecer a todos os que me auxiliaram na elaboração deste trabalho, torna-se evidente que não teria conseguido chegar ao terminus desta tese sem a sua preciosa ajuda. No meu caso algumas dessas relações já se medem em décadas noutros casos são mais recentes.

Quando há vinte anos atrás, na estação de Poitiers, entrei na 4L do Thierry Aubry para iniciar a minha primeira escavação de Paleolítico, nunca me passou pela cabeça que esta experiência iria decidir o meu futuro. É ele o responsável pelo vício que desde então me tem consumido o tempo e o corpo … É ele, indirectamente, o primeiro responsável por esta tese. Directamente, só tenho que lhe agradecer ter aceitado ser meu co-orientador e esperar que a nossa amizade dure, pelo menos, mais vinte anos.

À minha outra co-orientadora, Leonor Rocha, tenho que agradecer o entusiasmo e o apoio que me prestou para que esta tese fosse possível. E isso, não obstante ter-me aturado como colega de trabalho durante quase uma década. Este foi mais um passo nos trabalhos que temos realizado em conjunto e, certamente, não será o último.

A minha percepção e conhecimento da Bacia do Arneiro, em particular, e das Portas de Ródão, em geral, não teriam sido os mesmos sem o apoio do Pedro Proença Cunha e do António Martins. O meu obrigado por partilharem comigo os seus conhecimentos sobre a geomorfologia desta área, e pelo apoio fundamental na realização de algumas das datações apresentadas neste trabalho.

Na minha primeira visita à Bacia do Arneiro tive a companhia do Morgan de Dapper, que procurava uma área de estudo para uma sua aluna de doutoramento da universidade de Ghent, Sarah Deprez. As consequentes visitas de campo que partilhamos serviram, para mim, como introdução numa nova disciplina: a geoarqueologia. A ele devo agradecer os novos conhecimentos que adquiri, e a amizade que ficou. À Sarah devo agradecer ter realizado as datações que precisava para a sua tese, nas estações que eu pretendia escavar. A ambos o meu muito obrigado.

(5)

Ao laboratório Hércules da Universidade de Évora agradeço, na pessoa da Cristina Dias, o apoio prestado na análise de alguns materiais recolhidos nas escavações.

O trabalho que se apresenta assentou em vários anos de trabalho de campo. Esses trabalhos de campo não teriam sido possíveis sem o apoio incansável da Carla Calado, da Câmara Municipal de Nisa, que fez todos os possíveis para que as campanhas de escavação decorressem da melhor forma. Muito obrigado. Também à Junta de Freguesia de Santana na pessoa do seu anterior presidente, o Sr. Francisco São Pedro, pelo apoio que deu a este projecto. Ao Centro de Dia de Santana, agradeço a comida reconfortante e revigorante servida durante as campanhas de escavação e a simpatia das suas funcionárias.

Embora o trabalho se desenvolvesse no concelho de Nisa, a Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão apoiou-nos incondicionalmente na última campanha realizada em 2012. O meu muito obrigado a esta autarquia na pessoa da sua presidente, Maria do Carmo Sequeira.

Finalmente, tenho que agradecer a todos aqueles que participaram nas prospecções e escavações realizadas na Bacia do Arneiro e sem os quais este trabalho nunca teria visto a luz do dia: Alexandra Pimenta, Ana Baião, Augusto Aveleira, Beatriz Barros, Carlos Silva, Daniela de Matos, Francisco Garcia, Henrique Matias, Inês Lagoas, Javier Barca, Joana Torres, Maria Dolores Mejías, Maria Garcia, Nuno Félix, Rui Lourenço, Nelson Antunes, Vânia Carvalho, Vanessa Dias, Simão Almeida, Teresa Pedro e Teresa Pereira.

À Mena, ao André, ao Simão e ao Miguel agradeço tudo o que me têm dado e peço desculpa pelo que, devido a esta tarefa, lhes tenho negado.

(6)

Índice

Resumo 18

Abstract 19

I- Introdução 20

II- Aspectos geológicos 23

2.1 Introdução 24 2.2- Caracterização Geológica 24 2.3- Caracterização geomorfológica 27 2.3.1- A superfície culminante da bacia Terciária do Baixo Tejo 28 2.3.2- Primeiro embutimento do Tejo 30 2.3.4- Segundo embutimento do Tejo 30 2.3.5- Terceiro embutimento do Tejo 31 2.3.6- Quarto e Quinto embutimentos do Tejo 31 2.3.7- Último embutimento do rio Tejo 32 2.4- O nordeste alentejano 32

III-Aspectos paleoclimáticos 34

3.1- Introdução 35 3.2- Interestádios 37 3.3- Eventos de Heinrich 38 3.4- Estádio Isotópico Marinho MIS 5e 39 3.5- Estádio Isotópico Marinho MIS 5d 40 3.6- Estádio Isotópico Marinho MIS 5c 41 3.7- Estádio Isotópico Marinho MIS 5b 41 3.8- Estádio Isotópico Marinho MIS 5a 41 3.9- Estádio Isotópico Marinho MIS 4 42 3.10- Estádio Isotópico Marinho MIS 3 43

(7)

IV-Estado do conhecimento 45

4.1- Introdução 46

4.2 - O Paleolítico médio na Europa 47 4.3- O final do Paleolítico inferior em Portugal 51 4.4 - O Paleolítico médio em Portugal 52

4.4.1- História das pesquisas em Portugal 54 4.4.2 - O registo arqueológico do Paleolítico médio 55

4.4.2.1- Zona de Lisboa 55

4.4.2.2- Sítios dos terraços do Tejo e subsidiários da margem

esquerda 56

4.4.2.3- Sítios de ar livre no centro de Portugal 58 4.4.2.4- Grutas da Estremadura e zonas adjacentes 59

4.4.2.5- Algarve 67

4.4.2.6- Síntese das datações existentes relativas ao Paleolítico

médio português 68

4.4.3 - Os estudos sobre o Paleolítico no Alentejo, na Estremadura

espanhola, no Nordeste alentejano e nas Portas de Ródão. 72 4.4.3.1 - O Paleolítico médio no Alentejo. 72 4.4.3.2 - O Paleolítico médio na Extremadura espanhola 74 4.4.3.3- O Paleolítico médio das Portas de Ródão. 75 4.4.3.4 - O Paleolítico no Nordeste Alentejano 76

V- Metodologia 77 5.1- Metodologia geral 78 5.1.1- Prospecções 78 5.1.2- Escavações 80 5.1.3- Estratigrafia 81 5.1.4- Datações 82 5.1.4.1- Datações de OSL de sedimentos 82 5.1.4.2- Datações OSL sobre seixos 84

(8)

5.2- Sítios Investigados 89 5.2.1 -Pegos do Tejo 2 90 5.2.2- Azinhal 93 5.2.3- Tapada do Montinho 96 VI- Resultados 99 6.1-Pegos do Tejo 2 100 6.1.1- Estratigrafia 100 6.1.2- Datações 101 6.1.3- Estruturas 102 6.1.4- A indústria lítica 109 6.1.1.1-Matéria-Prima 110 6.1.1.2- Percutor 113

6.1.1.3- Caracterização morfológica da indústria lítica 116

6.1.1.3.1- Lascas 116

6.1.1.3.2- Núcleos 121

6.1.1.4- Caracterização tecno-tipológica da indústria lítica 124 6.1.1.4.1- Indústria lítica 124 6.1.1.4.2- Análise diacrítica dos núcleos 129

6.2- Azinhal 134 6.2.1- Estratigrafia 134 6.2.2- Datações 139 6.2.3- A indústria lítica 140 6.2.3.1- Matéria-Prima 141 6.2.3.2- Percutor 143

6.2.3.3- Caracterização morfológica da indústria 144

6.2.3.3.1.- Lascas 144

6.2.3.3.2- Núcleos 150

6.2.3.4- Caracterização tecnológica 152

6.2.3.4.1- Indústria lítica 152

6.2.3.4.2 -Análise diacrítica dos núcleos 161

6.3-Tapada do Montinho 166

6.3.1- Estratigrafia 166

(9)

6.3.3- Ornamentos, Ocre 169

6.3.4- A indústria lítica 171

6.3.4.1.-Série Patinada 172

6.3.4.1.1-Matéria-Prima 172

6.3.4.1.2- Percutor 173

6.3.4.1.3- Caracterização morfológica da indústria 173

6.3.4.1.3.1.- Lascas 173

6.3.1.1.3.2- Núcleos 178

6.3.4.1.4- Caracterização tecnológica 180 6.3.4.1.4.1- Indústria lítica 180 6.3.4.1.4.2- Análise diacrítica dos núcleos 181

6.3.4.2- Série fresca 182

6.3.4.2.1-Matéria-Prima 182

6.3.4.2.2- Percutor 184

6.3.4.2.3- Caracterização morfológica da indústria 185

6.3.4.2.3.1.- Lascas 186

6.3.4.2.3.2- Núcleos 192

6.3.4.2.4- Caracterização tecnológica 195 6.3.4.2.4.1- Indústria lítica 195 6.3.4.2.4.2- Análise diacrítica dos núcleos 200 6.3.4.2.4.3- Remontagens 204

VII- Discussão 206

VIII- Balanço, perspetivas e conclusões 244

(10)

Índice das figuras

Figura 2.1- - Extracto da área em estudo na Carta Geológica de Portugal, Serviços Geológicos de Portugal, Esc. 1: 500 000. 25

Figura 2.2- Mapa geomorfológico das depressões do Arneiro e de Rodão (retirado de:

Proença Cunha et al 2012). 29

Figura 3.1- Localização da sondagem bentónica MD 95 2042 recolhida ao largo do

estuário do Tejo (localização baseada em Sanchez Goni, 2000). 36

Figura 3.2- Variação da insolação estival à latitude de 65º N durante os últimos 140Ka;

Análise de vários parâmetros do testemunho marinho MD95-2042; variação da temperatura atmosférica da Gronelândia nos últimos 123Ka com base na sondagem de

gelo NORTHGRIP. 39

Figura 4.1- Esquema genérico do conceito Levallois. 48

Figura 4.2- Sítios do Paleolítico médio inicial e respectiva cronologia. 50

Figura 4.3- Gruta da Oliveira. Perfil estratigráfico esquemático com indicação dos

principais conjuntos estratigráficos e resultados das datações obtidas por vários

métodos. 62

Figura 5.1- Localização dos sítios identificados durante as prospecções realizadas na

Bacia do Arneiro. C.M.P n.º 315 esc.1/25000. 90

Figura 5.2- Vista aérea geral da estação dos Pegos do Tejo 2. 91

Figura 5.3- Área escavada na estação do Azinhal. 95

Figura 5.4- Tapada do Montinho, localização das intervenções. 96

Figura 5.5- Tapada do Montinho: área escavada na plataforma 1. 98

Figura 6.1.1- Pegos do Tejo 2- corte estratigráfico. 100

Figura 6.1.2- Pegos do Tejo 2. Representação gráfica da lareira. 104

Figura 6.1.3- Registo gráfico do empedrado do topo da camada arqueológica e com

identificação da indústria lítica. 106

Figura 6.1.4- Pegos do Tejo 2. Desenho geral das ocorrências arqueológicas. 107

Figura 6.1.5- Pegos do Tejo 2. Projecção vertical do registo arqueológico. 108

Figura 6.1.6- Indústria lítica dos Pegos do Tejo 2- utensílios sobre lasca. 125

Figura 6.1.7- - Indústria lítica dos Pegos do Tejo 2- utensílios sobre lasca. 126 Figura 6.1.8- Indústria lítica dos Pegos do Tejo 2. 127

Figura 6.1.9- Indústria lítica dos Pegos do Tejo 2. 128

(11)

Figura 6.1.11- Esquema diacrítico do núcleo oportunístico L2 17. 130 Figura 6.1.12- Esquema diacrítico do núcleo discoíde L3 10. 131 Figura 6.1.13- Esquema diacrítico do núcleo Levallois recolhido no corte. 132 Figura 6.1.14- Esquema diacrítico do núcleo bipolar L3 10. 133

Figura 6.2.1- Corte estratigráfico da sondagem L5. 132

Figura 6.2.2- Corte estratigráfico da sondagem WA 26 com projecção vertical dos

materiais. 136

Figura 6.2.3- Corte estratigráfico da vala de sondagem M27/J27. 138

Figura 6.2.4- Indústria lítica do Azinhal- utensílios sobre lasca. 155

Figura 6.2.5- Indústria lítica do Azinhal - utensílios sobre lasca. 156

Figura 6.2.6- Indústria lítica do Azinhal - utensílios sobre lasca 157

Figura 6.2.7- Indústria lítica do Azinhal. 158 Figura 6.2.8- - Indústria lítica do Azinhal - núcleos. 159

Figura 6.2.9- Indústria lítica do Azinhal - núcleos. 160

Figura 6.2.10- Esquema diacrítico do núcleo G26 79. 161

Figura 6.2.11- Esquema diacrítico do núcleo K27 17. 162

Figura 6.2.12- Esquema diacrítico do núcleo WA26 30. 163

Figura 6.2.13- Esquema diacrítico do núcleo M26 51. 164

Figura 6.2.14- Esquema diacrítico do núcleo WA26 34. 165

Figura 6.3.1- Distribuição vertical dos materiais (pontos vermelhos) na quadrícula M41

(perfil oeste). 166

Figura 6.3.2- Corte estratigráfico norte da vala K40/O40. É visível a afectação

realizada pelas lavras no topo da camada arqueológica nos quadrados K40/39 ao

M40/39. 168

Figura 6.3.3- Indústria patinada da Tapada do Montinho. 180

Figura 6.3.4- Esquema diacrítico do núcleo centrípeto L40 64. 181 Figura 6.3.5- Indústria da série fresca da Tapada do Montinho. 196

Figura 6.3.6- Indústria da série fresca da Tapada do Montinho, em quartzito 197

Figura 6.3.7- Indústria da série fresca da Tapada do Montinho, núcleos (quartzito) 199 Figura 6.3.8- Esquema diacrítico do núcleo M41 06 200

Figura 6.3.9- Esquema diacrítico do núcleo M41 07 201

Figura 6.3.10- Esquema diacrítico do núcleo M41 10 202

Figura 6.3.11- Esquema diacrítico do núcleo N37 21 203

(12)

Figura 6.3.13- Indústria lítica da série fresca da Tapada do Montinho: junção e

remontagem 204

Figura 6.3.14- Indústria da série fresca da Tapada do Montinho, localização das peças

da remontagem, da junção e das lascas provenientes da mesma sequência de redução205

Figura 7. 1- Vista aérea da zona das Portas de Rodão com indicação dos sítios

atribuídos ao Paleolítico médio. 208

Figura 7.2- Análise multiproxy do testemunho marinho MD95-204, esquerda

(Sanchez-Goni e D’Errico, 2005), com atribuição cronológica dos três sítios investigados neste

trabalho e respectivos cortes estratigráficos. 211

Figura 7.3- Vilas Ruivas. Estruturas identificadas como corta-ventos com estruturas de

combustão associadas (Silva e Raposo, 1982). 234

Figura 7.4- Estação do Port-Pignot (Bretanha, França): Estrutura pétrea interpretada

como lareira (retirado de Cliquet e Lautridou, 2009). 235

Figura 7.5- Sítio de Inden- Altdorf (Bona): Planta das estruturas identificadas: pontos

pretos: indústria e pedras; cinzento claro: buracos; cinzento-escuro: lareiras; branco: cabanas/abrigos (retirado de Pawlik e Thissen, 2011). 236

Figura 7.6- Sítio de La Folie, Poitiers, França. A- planta dos vestígios do habitat

identificado e, B- Reconstrução desse mesmo habitat. (retirado de: http//www.inrap.fr.) 237

Índice dos gráficos.

Gráfico 6.1.1- Suporte da matéria-prima registada nos Pegos do Tejo 2. 110

Gráfico 6.1.2- Origem da matéria-prima registada nos Pegos do Tejo 2. 111

Gráfico 6.1.3- Constituição da matéria-prima registada nos Pegos do Tejo 2. 111

Gráfico 6.1.4- Estado físico do material analisado nos Pegos do Tejo 2. 112

Gráfico 6.1.5- Presença/ausência de córtex na indústria lítica recolhida nos Pegos do

Tejo 2. 113

Gráfico 6.1.6- Tipos de percutor registado nos Pegos do Tejo 2. 114

Gráfico 6.1.7- Relação entre o comprimento e a largura dos percutores recolhidos nos

Pegos do Tejo 2. 115

(13)

Gráfico 6.1.9- Relação entre o comprimento e a largura das lascas recolhidas na estação

dos Pegos do Tejo 2. 117

Gráfico 6.1.10- Relação entre a largura e a espessura das lascas recolhidas na estação

dos Pegos do Tejo 2. 118

Gráfico 6.1.11- Número de negativos de levantamentos registados na face dorsal das

lascas recolhidas na estação dos Pegos do Tejo 2. 118

Gráfico 6.1.12- Orientação dos negativos de levantamentos registados na face dorsal

das lascas recolhidas na estação dos Pegos do Tejo 2. 119

Gráfico 6.1.13- Perfil do talão das lascas recolhidas na estação dos Pegos do Tejo 2.

119

Gráfico 6.1.14- Morfologia do talão das lascas recolhidas na estação dos Pegos do Tejo

2. 120

Gráfico 6.1.15- Relação entre o comprimento e a espessura dos talões das lascas

recolhidas nos Pegos do Tejo 2. 121

Gráfico 6.1.16- Número de levantamentos registados nos núcleos recolhidos nos Pegos

do Tejo 2. 122

Gráfico 6.1.17- Relação entre o comprimento e largura dos núcleos recolhidos nos

Pegos do Tejo 2. 122

Gráfico 6.1.18- Relação entre a largura e a espessura dos núcleos recolhidos nos Pegos

do Tejo 2. 123

Gráfico 6.1.19- Relação entre o comprimento e largura dos núcleos recolhidos nos

Pegos do Tejo 2. 123

Gráfico 6.2.1- Suporte da matéria-prima utilizada na estação do Azinhal. 141 Gráfico 6.2.2- Origem da matéria-prima recolhida na estação do Azinhal. 142

Gráfico 6.2.3- Tipo de matéria-prima utilizada na estação do Azinhal. 142

Gráfico 6.2.4- Estado de conservação da indústria lítica recolhida na estação do

Azinhal. 143

Gráfico 6.2.5- Tipo de percutor utilizado na estação do Azinhal. 143

Gráfico 6.2.6- Caracterização da indústria exumada na estação do Azinhal 144

Gráfico 6.2.7- Azinhal: razão comprimento/largura das lascas. 145

Gráfico 6.2.8- Azinhal: razão largura/espessura das lascas. 145

Gráfico 6.2.9- Azinhal: razão comprimento/espessura das lascas. 146

Gráfico 6.2.10- Número de levantamentos identificados na face dorsal das lascas

(14)

Gráfico 6.2.11- Orientação dos levantamentos identificados na face dorsal das lascas

recolhidas no Azinhal. 147

Gráfico 6.2.12- Perfil do talão das lascas recolhidas no Azinhal. 148

Gráfico 6.2.13- Morfologia do talão das lascas recolhidas no Azinhal. 148

Gráfico 6.2.14- Razão comprimento/espessura do talão das lascas recolhidas no

Azinhal. 149

Gráfico 6.2.15- Presença de córtex na indústria lítica do Azinhal. 149

Gráfico 6.2.16- Número de levantamentos identificados nos núcleos recolhidas no

Azinhal. 150

Gráfico 6.2.17- Razão comprimento/largura dos núcleos recolhidos no Azinhal. 151 Gráfico 6.2.18- Razão largura/espessura dos núcleos recolhidos no Azinhal. 151

Gráfico 6.2.19- Razão espessura/comprimento dos núcleos recolhidos no Azinhal. 152 Gráfico 6.3.1- Origem da matéria-prima registada na série patinada da Tapada do

Montinho. 172

Gráfico 6.3.2- Suporte da matéria-prima registada na série patinada da Tapada do

Montinho. 173

Gráfico 6.3.3- Relação comprimento/largura das lascas registada na série patinada da

Tapada do Montinho. 174

Gráfico 6.3.4- Relação largura/espessura das lascas registada na série patinada da

Tapada do Montinho. 174

Gráfico 6.3.5- Relação comprimento/espessura das lascas registada na série patinada da

Tapada do Montinho. 175

Gráfico 6.3.6- Número de negativos de levantamentos registados na face dorsal das

lascas na série patinada da Tapada do Montinho. 175

Gráfico 6.3.7- Orientação negativos de levantamentos registados na face dorsal das

lascas registada na série patinada da Tapada do Montinho. 176

Gráfico 6.3.8- Perfil do talão das lascas da série patinada da Tapada do Montinho. 176 Gráfico 6.3.9- Morfologia do talão registada na série patinada da Tapada do Montinho.

177

Gráfico 6.3.10- Relação comprimento/largura dos talões registada na série patinada da

Tapada do Montinho. 177

Gráfico 6.3.11- Relação comprimento/largura dos núcleos da série patinada da Tapada

(15)

Gráfico 6.3.12- Relação largura/espessura dos núcleos da série patinada da Tapada do

Montinho. 179

Gráfico 6.3.13- Relação comprimento/espessura das lascas registada na série patinada

da Tapada do Montinho. 179

Gráfico 6.3.14- Origem da matéria-prima presente na série fresca da Tapada do

Montinho. 182

Gráfico 6.3.15- Proveniência da matéria-prima presente na série fresca da Tapada do

Montinho. 183

Gráfico 6.3.16- Tipo de suporte utilizado na série fresca da Tapada do Montinho. 183 Gráfico 6.3.17- Tipo de percutor utilizado na série patinada da Tapada do Montinho.

184

Gráfico 6.3.18- Percentagem, por categorias, da indústria lítica da série fresca da

Tapada do Montinho. 185

Gráfico 6.3.19- Relação comprimento/largura das lascas registada na série fresca da

Tapada do Montinho. 186

Gráfico 6.3.20- Relação comprimento/espessura das lascas registada na série fresca da

Tapada do Montinho. 187

Gráfico 6.3.21- Relação comprimento/largura das lascas registada na série fresca da

Tapada do Montinho. 188

Gráfico 6.3.22- Número de negativos presentes na face dorsal das lascas da série fresca

da Tapada do Montinho. 188

Gráfico 6.3.23- Orientação dos levantamentos na série fresca da Tapada do Montinho.

189

Gráfico 6.3.24- Perfil do talão série fresca da Tapada do Montinho. 190

Gráfico 6.3.25- Morfologia do talão na série fresca da Tapada do Montinho. 190 Gráfico 6.3.26 – Razão comprimento/largura dos talões da série fresca da Tapada do

Montinho. 191

Gráfico 6.3.27- Presença de córtex na série fresca da Tapada do Montinho. 192

Gráfico 6.3.28- Número de levantamentos nos núcleos da série fresca da Tapada do

Montinho. 192

Gráfico 6.3.29- Razão comprimento/largura dos núcleos da série fresca da Tapada do

Montinho. 193

Gráfico 6.3.30- Razão largura/espessura dos núcleos da série fresca da Tapada do

(16)

Gráfico 6.3.31- Razão comprimento/espessura dos núcleos da série fresca da Tapada do

Montinho. 194

Gráfico 7.1- Tipo de matéria-prima utilizada em cada sítio, em percentagem. 212 Gráfico 7.2- Tipo de suporte utilizada em cada sítio, em percentagem. 214

Gráfico 7.3- Origem da matéria-prima utilizada em cada sítio, em percentagem. 214 Gráfico 7.4- Estado da indústria lítica recolhida em cada sítio, em percentagem. 216 Gráfico 7.5- Tipo de percutor utilizado em cada sítio, em percentagem. 217 Gráfico 7.6- Categorias da indústria lítica recolhida em cada sítio, em percentagem. 218 Gráfico 7.7- Relação comprimento/largura das lascas recolhidas em cada sítio. 219 Gráfico 7.8- Número de negativos identificados na face dorsal das lascas recolhidas em

cada sítio. 220

Gráfico 7.9- Relação comprimento/largura dos talões das lascas recolhidas em cada

sítio. 221

Gráfico 7.10- Perfil dos talões das lascas recolhidas em cada sítio. 222

Gráfico 7.11- Morfologia dos talões das lascas recolhidas em cada sítio. 223

Gráfico 7.12- Presença de cortex na indústria lítica recolhida em cada sítio. 224

Gráfico 7.13- Relação comprimento/largura dos núcleos recolhidas em cada sítio. 225 Gráfico 7.14- Número de negativos de levantamentos dos núcleos recolhidas em cada

sítio. 225

Gráfico 7.15- Percentagem de alteração secundária intencional nas colecções líticas dos

Pegos do Tejo 2, Azinhal e Tapada do Montinho em relação ao total do conjunto das

lascas. 227

Índice fotográfico.

Foto 2.1- Vista do Tejo a jusante das Portas de Ródão. À direita na imagem, a Bacia do

Arneiro. 24

Foto 5.1- Aspecto de um momento de prospecções gerais do terreno. 79

Foto 5.2- Vista geral da estação dos Pegos do Tejo 2 no topo do T4. 92

Foto 5.3- Pormenor da estação dos Pegos do Tejo 2, sendo visível a quadrícula

(17)

Foto. 5.4- Aspecto geral da estação do Azinhal. 94

Foto. 5.5- Aspecto geral da plataforma 1da estação da Tapada do Montinho. 97 Foto 6.1.1- Trabalhos de recolha da amostra para datação no sítio Pegos do Tejo 2. 101 Foto 6.1.2- Vista geral do topo do nível arqueológico. 102

Foto 6.1.3 – Pegos do Tejo 2. Vista de pormenor da parte superior da lareira. 103

Foto 6.1.4 – Pegos do Tejo 2- Base da lareira identificada nos quadrados L3/L2. 105 Foto 6.1.5- - Pegos do Tejo 2. Vista geral e de pormenor da localização dos buracos de

poste. 105

Foto 6.1.6- Pormenor do biface em rocha microcristalina recolhido nos Pegos do Tejo

2. 112

Foto 6.1.7- Vista geral dos nove percutores recolhidos na série dos Pegos do Tejo 2.

114

Foto 6.2.1- Pormenor do corte estratigráfico na sondagem L5. 135

Foto 6.2.2 – Trabalhos de recolha da amostra para datação no sítio Azinhal. 139

Foto 6.3.1- Fragmento de filito em forma de lágrima. 169

Foto 6.3.2- Fragmento de quartzito com estreitamento no segundo terço distal realizado

com recurso a levantamentos. 170

Foto 6.3.3- Fragmentos de óxidos de ferro recolhidos na estação da Tapada do

Montinho. 171

Foto 6.3.4- Vista geral dos três percutores recolhidos na série fresca da Tapada do

Montinho. 185

Foto 6.3.5- Vista lateral e superior da “raspadeira” tipo Quina recolhida da Tapada do

Montinho. 198

Foto 7. 1 – Tapada do Montinho: substância vítrea recolhida no sítio. 243

Índice das tabelas

Tabela 4.1- Relação das datações existentes para sítios do Paleolítico médio de

Portugal. 68

Tabela 6.1.1- Pegos do Tejo 2.Número de registos levantados por quadrado, número de

peças estudadas e percentagens parciais e totais. 109

(18)

Tabela 6.2.1- Azinhal: número de peças recolhidas, peças estudadas e razão entre as

duas. 140

Tabela 6.3.1- Tapada do Montinho. Número de registos por quadrado e número de

peças estudadas. 171

Tabela 6.3.2- Dados morfológicos dos percutores recolhidos na Tapada do Montinho.

184

Tabela 7.1- Comparação dos percutores (peso) entre o sítio do Paleolítico médio inicial

(19)

Resumo.

Neste trabalho são apresentados os resultados das escavações realizadas nos sítios Pegos do Tejo 2, Azinhal e Tapada do Montinho (Estremo nordeste alentejano, Portugal). As indústrias líticas recolhidas nestas três estações foram estudadas e inseridas num quadro cronoestratigráfico alicerçado em datações absolutas obtidas por OSL. Dessa investigação resulta um conjunto de dados inéditos, relevantes para o conhecimento do Paleolítico médio da região, do país e da Europa.

Na estação dos Pegos do Tejo 2, as datações obtidas indicam a existência de indústrias Moustierenses no Plistocénico médio final. Esta ocupação caracteriza-se, ainda, por ter apresentado prováveis estruturas de habitat.

A estação do Azinhal permite confirmar a ocupação humana datada do Würm antigo na Bacia do Arneiro. Os factos apontam para uma longa presença de comunidades humanas durante o Paleolítico médio em Portugal. Nesta estação verifica-se um reaparecimento da preverifica-sença da tecnologia bifacial, de tipo Micoquenverifica-se, interpretado como um retorno a um método de talhe que foi abandonado e depois retomado. Neste sítio, na mesma situação de proximidade ao quartzito que as ocupações dos Pegos do Tejo 2 e Azinhal, utilizou-se outro tipo de rocha, o quartzo, em percentagens significativas

Os dados obtidos para as indústrias líticas produzidas ao longo do Paleolítico médio da Bacia do Arneiro indicam que o modelo de produção baseado na obtenção de lascas a partir de núcleos de tipo Levallois é comum aos três sítios estudados. Este é o modelo à volta do qual se vão adoptar soluções técnicas que visam a produção imediata dos suportes pretendidos.

Todavia, tendo em atenção os resultados da intervenção realizada na estação de Pegos do Tejo 2, na Bacia do Arneiro verifica-se que no final do Plistocénico médio, outros vestígios revelam a aparição de novos comportamentos, num mesmo contexto geral de produção lítica.

Palavras-chave:

Paleolítico médio, Moustierense, Estruturas habitacionais, Datações, Rio Tejo.

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The Portas de Ródão middle Palaeolithic, the left bank (Nisa,

Portugal): a contribution for its cronostratigraphic characterization.

This thesis presents results of the work done in the Pegos do Tejo 2, Azinhal and Tapada do Montinho middle Palaeolithic sites (Northeastern Alentejo, Portugal). A first analysis of the lithic industry and the relation with the chronological record allowed us to discuss the Middle Paleolithic occupations from about 150 Ky to 45 Ky.

From the results of the Pegos do Tejo 2 site, the existence of Mousterian industries during the Riss can be proved. The OSL dates obtained in this occupation show the presence of Mousterian industries in the Final of the Middle Pleistocene of Portugal. Remains of a residential area are identified and a structured hearth supports a controlled use of fire by man, in this site.

A continued human presence is established, in this area, since the beginning of the Wurm glacial, as the Azinhal OSL datation confirm. The lithic industries in this site confirm the reappearance of handaxes, phenomena not only local but identified in other regions of the European continent, and the use of quartz not as a necessity but as an intentional selected rock.

In the Tapada do Montinho site Kombewa and Quina knapping were used and leptolithization of the lithic industry were observed at the final of the middle Palaeolithic.

When an overview is made, about the lithic industries identified in these three sites of the Arneiro depression, a major guideline is observed. A central Levallois reduction system is common to all the occupations but surrounded by other technical solutions, that aim the immediate production of desired supports, without the time constraints of a full Levallois reduction system per si.

The data presented in this work indicate that at the end of the Middle Pleistocene and further, new behaviours emerge and new ideas start to appear in the left bank of the Tagus River.

Keywords: Middle Palaeolithic, Mousterian, Residential structures, OSL Datation,

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(22)

Quando em Maio de 2003 se iniciaram, um pouco por acaso, as prospecções arqueológicas na Bacia do Arneiro-Nisa, nunca me passou pela cabeça que, passados dez anos, estaria a apresentar os resultados dessa investigação na forma de uma tese de Doutoramento. Em Maio de 2003 parcos eram os meus conhecimentos sobre este período do Paleolítico, um pouco melhores serão agora, como também sobre a realidade da riqueza paleolítica desta área do nordeste alentejano.

Quando me decidi a investigar o Paleolítico médio do Nordeste alentejano, mais especificamente às suas ocorrências registadas na zona do Arneiro – Nisa, junto ao Tejo, surgiu-me uma grande dúvida: o que é o Paleolítico médio? A única certeza sobre este período é que se situava entre o Paleolítico inferior e o Paleolítico superior. Devem-se considerar limites cronológicos como marcos para distinguir estes três períodos? Serão os marcos tecnológicos melhores indicadores de distinção? E existirá uma homogeneidade entre as indústrias atribuídas a este período por esta Europa fora? Ou pelo menos alguns traços comuns que as aglutine? As dúvidas são infinitamente maiores que as certezas, as lacunas são extensas, os dados científicos disponíveis, relativos a esta temática, no território português, escassos.

O número de sítios localizados durante os trabalhos de prospecção permitiram dissipar as primeiras dúvidas, os materiais arqueológicos recolhidos anunciavam-se auspiciosos. As primeiras sondagens escavadas nos terraços do Tejo e afluentes resultaram na identificação de três sítios que poderiam ser atribuídos, pelos artefactos encontrados, ao Paleolítico médio. Posteriores datações por OSL confirmaram essas atribuições.

È nesses três sítios, Pegos do Tejo 2, Azinhal e Tapada do Montinho, que se alicerça o trabalho agora apresentado. E o seu objectivo é a caracterização crono-estratigráfica das indústrias recolhidas nestas três estações de ar livre.

Com esse intuito principiou-se por estabelecer um quadro geológico e geomorfológico da zona onde se inserem as ocupações humanas focadas nesta tese. Esta breve síntese permite perceber melhor as características que poderiam ter sido fundamentais para a frequentação e implantação de comunidades neste território.

A longa diacronia dos sítios Pegos do Tejo 2, Azinhal e Tapada do Montinho, torna imprescindível ter em atenção todas as alterações climáticas que tiveram lugar durante um período tão alargado de tempo. A definição de uma sequência de acontecimentos paleoclimáticos será uma das tarefas que deverá ser levada a cabo, brevemente com junção de outros dados regionais.

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Quando se decide estudar um determinado período convém iniciar a investigação com a recolha dos dados existentes sobre esse tema. É necessário proceder a um levantamento dos trabalhos realizados anteriormente por outros investigadores ao longo do tempo. Essa compilação tem que focar o historial das investigações a diversas escalas: mais larga, na Europa, a que se reduz ao contexto nacional e finalmente a síntese dos trabalhos realizados na região onde se insere o objecto deste estudo.

De seguida apresentam-se os protocolos seguidos para o estudo da área onde se inserem os sítios arqueológicos do Paleolítico médio e das metodologias de escavação seguidas em cada uma das estações intervencionadas. Apresentam-se também as metodologias desenvolvidas para o estudo da indústria lítica recolhida durante as escavações desses locais.

Os resultados do estudo da indústria lítica das ocupações humanas serão apresentados de seguida. Cada conjunto será analisado individualmente segundo os parâmetros definidos no capítulo anterior.

Finalmente, no capítulo relativo à discussão dos dados apresentados, será feita uma análise dos sítios em estudo em relação ao contexto geomorfológico onde se insere a Bacia do Arneiro. Será ainda feita uma tentativa de associação dos sítios aos períodos paleoclimáticos correspondentes. Cada sítio será alvo de uma observação dos resultados obtidos na análise anterior. Esses dados serão depois comparados com os dados existentes para outros sítios deste período em Portugal e do resto da Europa. O estudo inter-sítio constituirá outra vertente a ser desenvolvida nesta parte da tese.

Como resultado desta dissertação espera-se conseguir uma caracterização das três estações arqueológicas em estudo, quanto à sua posição cronológica e estratigráfica. Espera-se, ainda, conseguir uma definição das indústrias destas três ocupações plistocénicas quanto à sua composição litológica, tipológica e tecnológica. Espera-se que este trabalho seja mais um pequeno passo para o conhecimento do Paleolítico médio no território português e para, através dos resultados do registo arqueológico, o conhecimento dos comportamentos do Homo sapiens neanderthalensis.

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II - ASPECTOS GEOLÓGICOS, HIDROLÓGICOS, GEOGRÁFICOS E GEOMORFOLÓGICOS

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2.1 Introdução

Não se pode iniciar qualquer estudo de investigação incidindo sobre o Paleolítico sem um trabalho preparatório de cariz geológico, hidrológico e geomorfológico. Este estudo, mesmo que superficial, permite traçar um quadro do território indispensável nomeadamente no que diz respeito a litologias, vias naturais de comunicação e habitats das comunidades humanas pré-históricas. Esta análise justifica-se pela necessidade de definir áreas que devido às suas características geológicas, geomorfológicas e hídricas poderão ter exercido atração sobre as primeiras comunidades de caçadores-recolectores que elegeram o Vale do Tejo e o Nordeste alentejano como habitats.

2.2- Caracterização Geológica

Em termos geológicos mais amplos a área estudada faz parte do complexo conhecido como Zona de Ossa Morena. A zona da Ossa Morena caracteriza-se por uma sequência que se inicia por um Precâmbrico polimetamórfico, seguido por um

Foto 2.1- Vista do Tejo a jusante das Portas de Ródão. À direita na imagem, a Bacia do Arneiro.

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Precâmbrico superior de afinidade Brioveriana, recoberto pelo conglomerado de base do Câmbrico que apresenta Fácies de Plataforma (Câmbrico inferior) seguido de uma espessa sequência Pelito quartzítica com intercalações de Espilitos. O Ordovícico apresenta-se com um fácies pelítica de águas mais profundas que o quartzito armoricano, o Silúrico é rico em rochas vulcânicas ácidas e básicas. O Devónico inferior e médio com Fácies de Plataforma está separado do “Flysch” do Devónico superior por uma importante discordância que denuncia a primeira fase de deformação hercínica (Ribeiro et al, 1965).

O maior acontecimento tectónico da Península Ibérica foi a Orogenia Hercínica responsável pelas principais estruturas da região: cadeias de relevo com orientação NW-SE, dobramentos e várias fases de fraturação com desligamentos, que se repetiram entre o Devónico e o Pérmico. Mais tarde no Mesozóico e mesmo no Cenozóico terão ocorrido novos rejogos. (ICN-PNSM, 2003).

Figura 2.1 - Extracto da área em estudo na Carta Geológica de Portugal, Serviços Geológicos de

Portugal, Esc. 1: 500 000. Principais acidentes e formações geológicas: _____ Falha; ▲ ▲ Cavalgamento; Conglomerados de Sarzedas, Areias arcósicas de Silveirinha de Figos; Conglomerados arcósicos de Cabeço do Infante (Beira Baixa); Formação de Perais: turbiditos;

Formação de Malpica: turbiditos e conglomerados; Formação do Quartzito Armoricano; Granitos biotíticos porfiroides; Ortognaisses e granitos; Xistos Indiferenciados. (Retirado de http//www.lneg.pt/geoportal/mapas/índex.html.)

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Nesta região a tetónica foi determinante. Sofreu movimentos relacionados com deslocações de placas, nomeadamente por movimentos de cavalgamento ou afastamento dos diferentes blocos. Estes movimentos originaram geosinclinais (depressões) e geoanticlinais (elevações), conforme houve distensão ou compressão de placas. Em consequência destes movimentos formaram-se os granitos e os xistos. Posteriormente todas estas formações foram dobradas, tetonizadas e metamorfizadas o que originou a sua fracturação e diaclasamento (Ribeiro et al, 1965).

Relativamente ao aspecto geomorfológico o que mais se salienta na região é a sua relação com a existência de rochas metasedimentares e graníticas (Ribeiro et al, 1965). A evolução paleogeográfica determinou, como sequência das orogenias que atingiram a região, a existência das seguintes unidades geológicas:

I- Depósitos modernos de cobertura a) Aluviões atuais (cascalhos, areias, lodos).

b) Depósitos de vertentes na proximidade das cristas quartzíticas.

c) Cascalheiras com intercalações argilo-arenosas, escalonadas a diversas alturas, acima do leito do Tejo.

d) Arcoses grosseiras, com intercalações finas (arcoses da Beira Baixa).

II- Formações paleozóicas (Ordovícico)

a) Xistos argilosos com fósseis (Lanvirniano-Landeiliano). b) Quartzitos com bilobites (Skidaviano).

c) Conglomerados (Tremadociano).

III- Complexo xisto-grauváquico ante-ordivícico e séries metamórficas derivadas

a) Xistos e grauvaques. b) Xistos mosqueados. c) Corneanas.

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IV- Rochas eruptivas a) Granito monzónitico. b) Microgranito. V- Rochas filonianas. a) Filões micrograníticos. b) Filões doleríticos. c) Filões quartzosos.

Além destas unidades geológicas temos ainda as rochas calcárias que têm origem no Devónico e Câmbrico. A mancha Devónica ocorre junto a S. Julião, Monte Sete e Vale de Aramenha. Os calcários do Devónico, que são os melhores representados no espaço da serra, mostram-se homogéneos e são dolomíticos.

2.3- Caracterização geomorfológica

Na zona que nos interessa agora estudar mais pormenorizadamente existem formas associadas à tetónica de grande importância para o assunto em estudo. A mais importante corresponde ao compartimento tetónico de Vila Ruivas-Arneiro (Carvalho et al 2006). Trata-se de um pequeno compartimento tectónico, situado imediatamente a sudoeste das cristas quartzíticas e, paralelo a estas, foi definido no início como bacia de abatimento que conservava depósitos cenozoícos e de terraços (Ribeiro et al, 1965). Teve origem num rejogo de prováveis falhas com direcções WNW-ESE e NWSE (Martins, 1999; Cunha & Martins, 2000). A exumação da escarpa de falha do Ponsul-Arneiro resultou da erosão diferencial entre os metassedimentos do soco e as formações sedimentares, mais brandas, combinada com algum desnivelamento tectónico ocorrido durante o Quaternário (Dias & Cabral, 1989).

(29)

Durante a etapa de incisão da rede hidrográfica este compartimento sofreu maior soerguimento que o alvéolo de Rodão, mas menos que o compartimento adjacente situado a jusante do atravessamento da falha do Ponsul-Arneiro, onde o Tejo apresenta um estreito vale praticamente sem terraços (Cunha et al 2005). A Falha do Ponsul constitui um elemento importante na caracterização da evolução do Rio Tejo e representa a fronteira ocidental do seu primeiro troço em território português. É sobre a importância deste rio para as ocupações humanas do Paleolítico Médio que iremos falar a seguir.

O Tejo e os seus terraços têm sido amplamente estudados, estratigraficamente, sedimentologicamente e geomorfológicamente, pelo geólogo Pedro Proença Cunha, da Universidade de Coimbra, e pelo geógrafo António Martins, da Universidade de Évora. É da bibliografia destes dois autores, com os quais tive o privilégio de trabalhar, que foram retirados, maioritariamente, os dados necessários à breve síntese que de seguida se apresenta.

O rio Tejo assume-se como o maior rio da Península Ibérica, com uma bacia hidrográfica de cerca de 86 000 km². A maior parte do seu percurso desenvolve-se em Espanha entrando em Portugal num vale encaixado, cinzelado mais de 200m na superfície de aplanação (Proença Cunha et al, 2005, 2008). No seu percurso em Portugal o Tejo apresenta um número variável de terraços podendo chegar até seis. È nestes terraços que se anicham algumas ocupações paleolíticas. Estes conjuntos de terraços permitem retirar informações acerca da amplitude e da cronologia relativa das deslocações verticais. As datações dos terraços permitem estimar as taxas de incisão fluvial e ajudam na percepção da evolução do Tejo no setor das Portas de Ródão através dos seus períodos de escavação e agradação (Proença Cunha et al, 2005, 2008).

2.3.1- A superfície culminante da bacia Terciária do Baixo Tejo

A superfície culminante da bacia terciária do Baixo Tejo é a extensão portuguesa da Meseta Extremeña que foi recoberta por arcoses paleogénicas. Após um longo período de sedimentação durante o terciário esta superfície culminante foi exposta e dissecada durante o período de incisão fluvial. Durante este estádio de incisão foram escavados profundos vales. Localmente, nas depressões coma a de Rodão e Arneiro formaram-se sequências de terraços e depósitos sedimentares diversificados como

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depósitos aluviais, terraços, aluviões e depósitos de vertente. Estes depósitos de vertente são mais extensos na base das cristas quartzíticas (Cunha et al 2012).Os depósitos da Formação de Falagueira geralmente constituem planaltos ou morfologias em mesa, culminantes relativamente a outras formas de relevo geradas pelo encaixe da rede hidrográfica (Fig. 2.2). São relevos residuais com perfil trapezoidal, cujo topo corresponde à superfície sedimentar abandonada a quando do início da etapa de incisão fluvial. Encontram-se sempre a maior altitude do que os mais altos terraços fluviais, sendo apenas dominados topograficamente pelas cristas quartzíticas ou por compartimentos soerguidos pela tetónica. A sua altitude, quase sempre acima dos 300 m, aumenta para Norte e com o afastamento do rio Tejo. Na região de Ródão os depósitos da Formação de Falagueira estão mal representados, pois a pequena espessura (6 m a 10 m) e a posição culminante no enchimento sedimentar não ajudaram à sua preservação durante a etapa de incisão fluvial.

Figura 2.2: Mapa geomorfológico das depressões do Arneiro e de Rodão (retirado de:

Proença-Cunha et al 2012): 1- Relevo residual (Topo da Formação da Falagueira); 2- Terraço T1; 3-Nível erosivo N1; 4- Terraço T2; 5- 3-Nível erosivo N2; 6- Terraço T3; 7- 3-Nível erosivo N3; 8-Terraço T4; 9- Nível erosivo N4; 10- 8-Terraço T5; 11- Nível erosivo N5; 12- 8-Terraço T6; 13-Depósitos de vertente e aluviais; 14- Crista quartzítica; 15- Base da vertente; 16- Desnível da vertente; 17- Ribeiras; 18- Escarpa de falha; 19- Falha e provável falha; 20- Altitude (m). Sítios arqueológicos: MF- Monte do Famaco; CC- Caminho da Celulose; FE- Foz do Enxarrique; PT-Pegos do Tejo 2; AZ- Azinhal; CA- Castelejo; TM- Tapada do Montinho; VR- Vilas Ruivas.

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No entanto, na área entre Perdigão e Fratel, existem alguns retalhos destes depósitos, em discordância sobre o soco metassedimentar, no interflúvio dos rios Tejo e Ocreza (Carvalho et al, 2006).

2.3.2- Primeiro embutimento do Tejo: terraço T1 e nível erosivoN1

O primeiro embutimento da rede hidrográfica, a partir da superfície culminante da Bacia Terciária do Baixo Tejo, gerou duas distintas morfologias fluviais: um extenso nível erosivo - N1 e um terraço sedimentar -T1. Na margem direita do Tejo, o terraço mais alto (T1) posiciona-se pelos 183 a 200 m de altitude (desnivelado por falhas); em Monte do Pinhal, este terraço documenta 13 m de enchimento sedimentar partindo da base, aos 183 m, até ao topo, aos 196 m (Carvalho et al, 2006). Corresponde a um conglomerado com blocos de quartzito e quartzo leitoso, sub-arredondados a arredondados. A superfície erosiva N1, que é a continuação lateral do terraço T1 em direcção às margens do paleo-vale do Tejo, reconhece-se bem na área de Fratel, nome da localidade utilizada para a sua designação formal (Cunha e Martins, 2000). No compartimento abatido da falha do Ponsul, o Nível de Fratel trunca parcialmente as brandas arcoses do Grupo da Beira Baixa, atingindo na restante área o substrato rochoso (Grupo das Beiras). Em Fratel, o embutimento da superfície N1 relativamente ao topo da Formação de Falagueira é da ordem dos 25-30 m. O Nível de Fratel é equivalente ao Nível de Mora-Lamarosa identificado em áreas a jusante de Vila Velha de Ródão (Martins, 1999), verificando-se uma continuidade geomorfológica deste primeiro embutimento, ao longo do baixo Tejo, embora desnivelado pela tetónica. Na margem esquerda encontram-se resquícios deste terraço entre altitudes que vão dos 232 aos 254 m e até aos 275 m em alguns locais (Proença-Cunha et al 2012).

2.3.4- Segundo embutimento do Tejo: terraço T2 e nível erosivo N2

Resultante de um segundo embutimento da rede fluvial, encontra-se melhor desenvolvido na confluência da ribeira do Açafal com o rio Tejo, um terraço de acumulação sedimentar, designado por Terraço de Monte da Charneca (T2). A base do terraço situa-se aos 130 m de altitude, podendo, a superfície atingir os 155 m.

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Relativamente ao Terraço do Monte do Pinhal, o segundo embutimento correspondeu a 43 m de encaixe nesta área, seguido de 10m de agradação. Os depósitos do terraço T2 são conglomeráticos, com matriz vermelha areno-siltosa, observando-se que a composição dos clastos incluí quartzito e quartzo leitoso. Este terraço passa lateralmente a uma superfície erosiva (N2) com pouca expressão no concelho.

2.3.5- Terceiro embutimento do Tejo: terraço T3 e nível erosivo N3

O terceiro embutimento fluvial está representado pelo terraço de Monte do Famaco (T3), bem desenvolvido na área da actual confluência da Ribeira do Açafal com o rio Tejo. Este nível de terraço representa um embutimento de 40 m relativamente à superfície do terraço anterior. Fazem parte do mesmo nível de terraço o patamar da Urbanização da Senhora da Alagada (sítio da Horta dos Olivais aos 110 m). Este terraço é conglomerático, apresentando 1 m de espessura máxima, maioritariamente com clastos de quartzito e quartzo leitoso. Na área de Monte de Famaco, a base do terraço encontra-se aos 118 m e o topo aos 124 m de altitude. Lateralmente liga-se geomorfologicamente a um nível erosivo (N3), observável ao longo de alguns cursos de água situados a oriente das cristas quartzíticas, tais como nas ribeiras de Alfrívida, Lucriz, Ribeirão e Açafal. No Arneiro, este terraço culmina a 121 m de altitude tendo uma espessura de 5 m. No Monte do Famaco apresenta uma altitude máxima de 116m com cerca de 10 m de espessura.

2.3.6- Quarto e Quinto embutimento do Tejo: terraços T4 e T5

Na margem direita do rio Tejo, junto à foz da ribeira do Açafal, documenta-se o Terraço da Capela da Senhora da Alagada (T4), com superfície aos 93 m de altitude e constituído por arenitos finos e siltitos, bem como alguns horizontes com traços radiculares de herbáceas fósseis e concreções carbonatadas. O extenso patamar inferior, aos 82 m de altitude, corresponde ao Terraço de Foz do Enxarrique (T5), essencialmente constituído por arenitos finos sobre uma base conglomerática. Na confluência da Ribeira do Açafal e da Ribeira do Enxarrique o T4 apresenta cerca de 10 m de espessura. Imediatamente a jusante das Portas de Ródão, estes dois terraços

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inferiores do rio Tejo estão também representados, mas o terraço T4 posiciona-se a maior altitude. Na margem direita este terraço está registado junto à confluência da ribeira de Vilas Ruivas e, na margem esquerda, uma extensa parte foi explorada para a provável obtenção de ouro (Conhal do Arneiro). Nas imediações da foz do Açafal, o mais recente embutimento do Tejo está cerca de 24 m mais abaixo, em relação com o topo da superfície de agradação da superfície do T4.

2.3.7- Último embutimento do rio Tejo.

A mais recente incisão do rio Tejo, correspondente ao estreito segmento do Vale, foi responsável pela escavação, no soco hercínico. Junto a Vila Velha de Ródão, estima-se que a base do vale se situe pelos 66 m de altitude, preenchida com 4 m de espessura média de aluviões (areões e areias cascalhentas). Um pouco por todo o concelho, mas com maior representatividade na parte a ocidente das cristas quartzíticas, observam-se vales encaixados resultantes da vigorosa erosão vertical por parte dos cursos de água. Esse encaixe é mais acentuado fora da depressão tetónica de Ródão.

2.4- O nordeste alentejano

Além da área de estudo propriamente dita, a margem sul das Portas de Ródão, convêm ter em atenção a geomorfologia do território situado imediatamente a sul e que corresponde ao extremo nordeste do Alentejo. Geomorfologicamente, este território caracteriza-se por três entidades. A primeira corresponde à Serra de S. Mamede e constitui um relevo com cerca de 40 km na sua maior dimensão (NW-SE) e de cerca de 10 km na direcção perpendicular. É envolvida pela peneplanície, constituindo esta a forma de relevo dominante da região do Alentejo e de Estremadura espanhola. A Serra de São Mamede, com 1025 metros de altitude, é o mais importante dos relevos a Sul do Tejo, para além de representar uma das raras manchas do período Devónico (entre 400 e 350 milhões de anos) existentes em Portugal. Cercada a Norte e a Leste por granitos, a sua geologia traduz-se na presença de xistos, grauvaques, calcários e quartzitos, litologia que se reflecte na variedade dos solos. O Maciço de S. Mamede estende-se a

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partir de Castelo de Vide (726 m), por Marvão (867 m) e a Serra Fria (953 m) (ICN-PNSM, 2003).

A zona da serra individualiza-se da peneplanície e da plataforma envolvente, pelo seu relevo acidentado com declives acentuados, cotas superiores a 600 metros e presença marcante de relevos abruptos coroados por cristas quartzíticas. A linha de separação das bacias do Tejo e Guadiana passa pela serra. Daqui divergem as linhas de cumeada que definem as bacias hidrográficas da Ribeira de Nisa, do Sever, do Caia e do Xévora. A rede hidrográfica revela um forte condicionamento estrutural organizando-se paralelamente ao alinhamento das cristas quartzíticas (ICN-PNSM, 2003).

A peneplanície, segunda entidade presente na zona, ostenta uma área de aplanação bem conservada na zona granítica e transformada, na zona xistenta, numa sucessão de cabeços e vales, restituindo-se pelos pontos altos, onde se conservam alguns retalhos de depósitos de cimo regular e plano (ICN-PNSM, 2003).

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3.1- Introdução

Outro dos factores que mais vão pesar sobre as ocupações paleolíticas da zona em estudo corresponde ao clima. É o clima que vai definir a sustentabilidade do ecossistema, as migrações das manadas e subsequentemente dos homens que deles dependem. A imprevisibilidade e inconstância das condições climatéricas são obstáculos para quem recorre a meios de subsistência que se baseiam no oportunismo e no imediatismo e pouco recorrem à constituição de reservas. O clima vai mudar, e muito ao longo dos últimos 150 Ka.

Durante este período de tempo vão suceder-se grandes alterações no clima da Península Ibérica, como na restante Europa e no Mundo. Períodos mais amenos vão alternar com outros períodos de frio intenso, causando impacto nas comunidades humanas que as sofrem.

Os últimos 2.5 Ma caracterizam-se por um grande número de oscilações climáticas entre períodos mais quentes e outros mais frios. Neste período, cerca de 14 glaciações foram já identificadas (Ehlers e Gibbard, 2008) Estas alternâncias entre estádios frios (glacial) e mais amenos (interglacial) têm uma ciclicidade de cerca de 100 Ka, pelo menos nos últimos 900 Ka (Berger et al, 1993 in: Adams et al, 1999). No entanto, algumas das alterações mais importantes, envolvendo por exemplo uma alteração regional da temperatura anual média de vários graus Celsius, ocorreram, possivelmente, numa escala temporal de alguns séculos, ás vezes décadas e talvez até em poucos anos (Adams et al, 1999).

Definir um quadro paleoclimático relativo à área e período em estudo (150 Ka/30 Ka) não é tarefa fácil. No entanto nos últimos anos têm sido realizados profícuos estudos sobre pólens, relativos à zona da Península Ibérica, contidos em sedimentos recolhidos através de perfuração marinhas, ou sondagens bentónicas, (Sanchez Goni et al, 2000; Abrantes, 2000; Pailler e Bard, 2002; Daniau et al, 2007, Sanchez Goni et al, 2005)em antigos lagos, originando sequências limnéticas, (Gómez-Orellana et al, 2007) ou até em coprólitos de hiena (Carrión et al, 2007). Curiosamente, as primeiras referências à presença de níveis limnéticos fossilizados na Península Ibérica tiveram lugar pela mão de George Zbyszewsky (Zbyszewsky, 1940;1943).

Os quadros paleoclimáticos podem ainda ser aferidos com o recurso a análises biocronológicas (Hernández Fernández et al, 2004). Outro método frequentemente utilizado para o estudo do clima consiste na análise dos isótopos estáveis (δ180)

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contidos nos gelos de sondagens glaciares realizadas na Gronelândia (Dansgaard et al, 1993,Johnsen et al, 1995, Landais et al, 2007).

No que diz respeito às perfurações marinhas existem duas amostras que nos interessam principalmente e que mais uma vez se situam ao largo da costa portuguesa. Uma destas perfurações, cujo nome de código é MD952042, realizou-se ao largo das costas de Portugal, nas planícies abissais do Tejo (37º 47’ N /10º 09’W) tendo já sido alvo de grande número de publicações (Sanchez Goni et al, 2000; Lowemark et al 2004, Daniau et al, 2007).

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A zona onde foi recolhida esta amostra sedimentológica caracteriza-se por uma elevada taxa de sedimentação e pela excelente conservação de pólens e diocitos neles contidos cuja origem predominante será o rio Tejo (Sanchez Goni et al 2000). Esta coluna sedimentológica permite recuar nas investigações paleoclimáticas até ao Estádio

Figura 3.1 – Localização da sondagem bentónica MD 95 2042 recolhida ao largo do

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Isotópico Marinho (MIS) 6. A análise polínica desta amostra permitiu determinar a evolução climática que caracterizou a região setentrional da Península Ibérica, de um modo mais geral, e do vale do Tejo em particular, durante os últimos 160 Ka. Outra forma de tentar perceber as alterações climáticas que se sucederam na Península Ibérica consiste na análise das taxas de sedimentação de diátomos contidos nos sedimentos marinhos. Estas taxas de sedimentação apresentam valores mais elevados durante as fases glaciares e valores menores durante os Interestádios e o Holoceno (Abrantes, 2000).

Nos registos sedimentológicos e glaciares foi reconhecido um largo número de outras alterações bruscas e alternâncias entre curtos períodos temperados e fases de frio intenso. Aparentemente uma boa parte deles ocorreram numa escala global ou pelo menos com carácter regional (e.g., Dansgaard et al., 1993). A estas flutuações mais extremas foi posto o nome de interestádios (períodos temperados) e eventos de Heinrich (períodos mais frios). Estas flutuações estão mais marcadas no registo glaciar da Gronelândia, nos sedimentos marinhos do Atlântico norte e nos registos polínicos da Europa e da América do norte, sugerindo que seriam mais intensos na zona do Atlântico Norte (e.g., Bond et al., 1992).

3.2 – Interestádios

Durante as condições mais frias que prevaleceram entre 110 Ka e 10 Ka ocorreram, por várias vezes, períodos de aquecimento repentinos mas de curta duração (Estádios isotópicos 2-5.4; Dansgaard et al., 1993). No início, a sua detecção deveu-se á descoberta da presença de flora e insectos de climas temperados nas zonas de tundra glacial do norte da Europa. São conhecidos como interestádios para os diferenciar dos períodos frios conhecidos como estádios. Entre 115 000 e 14 000 foram reconhecidos 24 destes eventos nos registos das sondagens do gelo da Gronelândia, onde são denominados eventos de Dansgaard-Oeschger (Dansgaard et al., 1993). Cada interestádio temperado está ligado a um interestádio mais frio, o que se passou a designar por ciclos de Dansgaard-Oeschger com uma duração média de cerca de 1500 anos.

A duração de cada interestádio pode, para as partes mais recentes do registo das carrotes, ser contada através dos níveis de neve depositados anualmente. A espessura

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dos sedimentos depositados nos fundos marinhos também permite realizar essas datações mas de forma menos precisa. Tanto as sondagens de gelo como os dados oceanográficos sugerem que os interestádios começam e terminam de forma brusca, não obstante o final de um período temperado ser caracterizado por um declínio gradual através de uma série de pequenos momentos de arrefecimento, resultando amiúde, num episódio final de arrefecimento apresentando maiores dimensões. Este último episódio leva ao retomar do anterior período glaciar.

3.3- Eventos de Heinrich

Em oposição aos interestádios existem curtos períodos de frio intenso conhecidos como eventos de Heinrich (Heinrich, 1998) que foram, no início, identificados como períodos de intensas deslocações de gelo no Atlântico Norte. Estes eventos surgem durante um panorama de clima glaciar e representam a resposta climática ao aparecimento de uma enorme quantidade de icebergs no Atlântico norte. Os registos presentes nas carrotes glaciares indiciam uma descida de temperatura na ordem dos 3 a 6 º num já de si de frio período glaciar (Maslin et al., 1995; Bond et al., 1997). No entanto ainda existe um debate aceso sobre se este arrefecimento é causado por uma dinâmica interna dos lençóis de gelo ou se se deve a alterações climatéricas externas, possivelmente causadas por modificações dos parâmetros orbitais do nosso planeta.

Os eventos de Heinrich exprimem-se nas sondagens marinhas pela deposição maciça de detritos transportados pelo gelo, um incremento na percentagem de foraminíferas polares (Neogloboquadrina pachyderma) e uma diminuição na razão de oxigénio isotópico devida a diminuição do caudal de água doce que chega aos oceanos (Eynaud et al, 2000).

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3.4- Estádio Isotópico Marinho MIS 5e- Entre 130 Ka e 114 Ka.

Assiste-se, no registo palinológico, a um aquecimento global importante. Este período, denominado Eemiano foi o período mais quente dos últimos 150 Ka. Existe ainda alguma discussão sobre a data exacta do evento (ou vários) de aquecimento que define o início do MIS 5e (Adams et al, 1999).

Figura 3. 2- Variação da insolação estival à latitude de 65º N durante os últimos 140Ka;

Análise de vários parâmetros do testemunho marinho MD95-2042; variação da temperatura atmosférica da Gronelândia nos últimos 123Ka com base na sondagem de gelo NORTHGRIP. A cinzento escuro, os eventos de Heinrich, a cinzento claro os interestadiais Eemiano e Holoceno na Península Ibérica. Baseado em Sanchez-Goni e D’Errico, 2005.

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Alguns trabalhos em sedimentos marinhos (Imbrie et al., 1993) e corais (Slowey et al., 1996) indiciam que o aquecimento brusco poderá ter-se iniciado logo por volta de 132 Ka. Trabalhos realizados em sondagens efectuadas nos gelos do Ártico indiciam que o aquecimento terá começado mais tarde, por volta de 134 Ka (Jouzel et al., 1993). Algumas datações por Urânio/Tório realizadas em sedimentos cársicos no Devil’s Hole, nos Estados Unidos sugerem que este estádio começou mais cedo, por volta de 140 Ka. (Winograd et al., 1992). Os desfasamentos observados entre estes vários registos podem ter a ver com divergências regionais. Temos que ter presente que essas variações ainda agora existem estando relacionadas com latitudes e altitudes diferentes. Por outro lado, recentemente foi demonstrado por alguns investigadores (Shackleton et al, 2002, Shackleton et al, 2003; Sanchez Goni et al, 2005) que o limite entre o MIS 6/5 não é coevo com a transição Saaliano/Eemiano verificado nos registos terrestres. Existe uma diferença de 6000 anos entre o início do Eemiano (126 Ka) definido pela palinologia e o MIS 5e (132 Ka) definido através dos isótopos de oxigénio (Shackelton et al, 2003, Knudsen et al , 2006).

Tendo em consideração os registos marinhos, o interglaciário Eemiano terminou com um arrefecimento brusco do clima há cerca de 110 Ka (Martinson et al., 1987). Este arrefecimento foi identificado em vários registos polínicos e carotagens glaciares ao longo de toda a Eurásia. Este episódio de arrefecimento poderá ter sido implantado em menos de 400 anos, existindo a possibilidade de ter sido ainda mais rápido (Adkins et al 1997 in: Adams et al, 1999).

A costa do Noroeste da Península Ibérica apresenta sedimentos expostos formados durante o último ciclo glaciar/interglaciar. Normalmente, os níveis mais baixos correspondem a níveis de fácies marinha (níveis de praias ou dunas compostos por areias ou seixos cimentados por óxidos de ferro) que estão normalmente associados com um nível máximo do mar de + 6m relacionado com o Eemiano (OIS 5e) (Granja, 1999, Meireles e Texier, 2000, Gomez-Orellana et al, 2007).

3.5- Estádio Isotópico Marinho MIS 5d- Entre 114 Ka e 110 Ka.

Os valores isotópicos elevados que sucedem ao Eemiano (subestádio 5d) são caracterizados por um aumento das espécies Brigantedinium spp. e B, tepikiense, com diminuição das percentagens do outro taxão dominante L. machaerophorum. São

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distinguíveis dois picos de B. tepikiense – N. labyrinthus associados a um decréscimo nas percentagens de Brigantedinium spp. (Eynaud, et al, 2000). Estes dados indiciam um arrefecimento das condições climatéricas uma vez que estas espécies são características de latitudes mais setentrionais.

3.6- Estádio Isotópico Marinho MIS 5c – entre 110 Ka e 92 Ka.

Este estádio isotópico foi reconhecido em bio-estratigrafias recolhidas no extremo Noroeste da Península Ibérica em Area Longa (Gómez-Orellana et al, 2007). Este estádio caracteriza-se, nesta região, por uma paisagem arborizada caracterizada por uma grande quantidade de pólen de Q. fagus e com uma representação de Pinus, Picea, Abies e Juniperusresidual.

O estudo palinológico da sondagem MD952042 revela, por seu lado, um domínio dos pólens de gymnospermas (Pinus, Cedrus, Cupresaceae e Abies) e também pólens típicos do mediterrânico (Olea, Phillyrea, Pistacia, e Ephedra) e até estépicas (Artemisia e Chenopodiaceae) (Sanchez Goni et al, 1999; Sanchez Goni et al, 2005). Sendo este registo característico do centro e sul da Península Ibérica, verifica-se uma diferença em termos do coberto vegetal entre o Norte e o Sul.

3.7- Estádio Isotópico Marinho MIS 5b – Entre 92 e 88 Ka

O subestádio 5b é caracterizado pela ocorrência máxima de B. tepikiense relacionado com um aumento nos valores de δ18O. As concentrações de dinócitos caem

abruptamente neste nível do registo e mantém-se baixas na parte superior desta sequência (Eynaud, et al, 2000). Este estádio corresponde, por isso, a mais um arrefecimento do clima.

3.8- Estádio Isotópico Marinho MIS 5a – Entre 88 ka e 78 Ka

O diagrama polínico recolhido no depósito de La Franca pode enquadrar-se na parte final dos interestádios pré-wurmense.

Imagem

Figura 3.1 – Localização da sondagem bentónica MD 95 2042 recolhida ao largo do  estuário do Tejo (localização, baseada em Sanchez Goni, 2000).
Figura 3. 2- Variação da insolação estival à latitude de 65º N durante os últimos 140Ka;
Foto 6.1.2 – Vista geral do topo do nível arqueológico. Em primeiro plano, em baixo à direita, o espaço sem seixos delimitando a lareira.
Gráfico 6.1.6-  Tipos de percutor registado nos Pegos do Tejo 2,  através da análise dos estigmas presentes no material debitado.
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