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O Estado de São Paulo

Quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Cacofonia insensata

MARCELO DE PAIVA ABREU*

Com base no que vem acontecendo nas últimas semanas, aumentou a desesperança quanto à superação das crises econômica e política, mesmo em um prazo bastante dilatado.

No plano político, a mera inspeção de alternativas ao nome de Dilma Rousseff à frente do Executivo talvez seja o único argumento convincente contra o seu impeachment. Há escassa garantia de redução da volatilidade política, quando se enfileiram os nomes de seus sucessores constitucionais ou até mesmo de possíveis alternativas em uma eleição com o objetivo de viabilizar um mandato-tampão até 2018. O País necessita ruminar sobre suas mazelas políticas estruturais e partir para uma reforma política com base nessas lições.

No plano econômico, houve um momento marcado por juras unânimes de conversão a uma política macroeconômica prudente e abandono das irresponsabilidades do passado. Mas a apostasia não se sustentou. De fato, que esperança haverá de arrependimento para valer, quando diversos dos protagonistas dos desatinos perpetrados em nome da nova matriz macroeconômica continuam a ocupar cargos estratégicos do Ministério do Planejamento ao BNDES?

Para que a reorientação da política econômica fosse viável, seria essencial duvidar da sinceridade do arrependimento coletivo dos que, no passada, demonstraram ser ingênuos ou ineptos ou talvez os dois. Acreditar na eficácia da mudança solitária no Ministério da Fazenda é fazer pouco da inteligência de investidores e do eleitorado.

As sucessivas derrotas de iniciativas relacionadas ao ajuste fiscal demonstram que o alegado arrependimento não é sincero. Em meio a juras governamentais quanto à necessidade de adotar postura fiscal mais séria, não é que o setor automotivo foi beneficiado pela disponibilidade de linhas de crédito providas pelos bancos oficiais a juros camaradas? São as mesmas empresas, calejadas na ordenha de favores oficiais, beneficiadas pelo Inovar Auto, programa de aumento disfarçado de tarifas de importação com base em conteúdo nacional, sob cerradas críticas na Organização Mundial do Comércio.

Enquanto isso, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) adota discurso criticando a política econômica que “se baseia em aumento da taxa de juros, redução do crédito e aumento de impostos, ou seja, em ações que tendem a ampliar os eleitos negativos da crise.

Não há nenhum estímulo à retomada da economia”... e “terminar o ano com 1,5 milhão de empregos a menos parece não ser um problema”. Propostas? Só uma vaga sugestão de que o que o País precisa é de pau na máquina.

A manifestação da Fiesp lembra outros episódios nos quais faltou ao empresariado visão menos míope sobre os rumos da política econômica. Agosto de 1980: Antonio Delfim Netto substitui Mário Henrique Simonsen como ministro do Planejamento e principal condutor da política econômica. É a vitória do pau na máquina e de projetada fuite en avant, para superar a crise econômica em substituição à claudicante política de estabilização defendida por Simonsen.

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Líderes empresariais se atropelaram para cumprimentar apoteoticamente o novo ministro. De fato, seria dada a partida para a espetacular decolagem da inflação rumo aos 400% ao ano, acompanhada pela maior recessão da história republicana.

Não são posturas responsáveis e compatíveis com estratégia econômica que possa superar as agudas crises que o País enfrentava em 1980 e enfrenta hoje. Isso tudo em meio à frenética tentativa de camaleões contumazes tentar reescrevera história e dissociar-se da calamitosa política econômica adotada no primeiro mandato de Dilma Rousseff. A presidente só pôde enganar o povo brasileiro porque contou com a cumplicidade de opiniões tidas como abalizadas de seus comensais regulares à época.

Com exceção de segmentos do Judiciário, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, o País parece singularmente passivo. É como se, embrutecido, já estivesse se acostumando à mediocridade permanente.

* Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge, é Professor Titular no Departamento de Economia da PUC-Rio.

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