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Cap 3 Concorrência Perfeita e Análise de Bem Estar

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Academic year: 2021

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Nota: Este material foi desenvolvido pelo prof. Roland Veras Saldanha Jr, e representa uma primeira versão de material a ser transformado em livro didático. Reservam-se os direitos autorais sobre o mesmo, mas comentários e sugestões são bem vindas no e-mail rsaldanha@actiomercatoria.com.br.

Cap 3 Concorrência Perfeita e

Análise de Bem Estar

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Introdução

Inicia-se neste capítulo a discussão das estruturas de mercado que se prestam como referência aos argumentos desenvolvidos na OI. De partida, é fundamental evitar qualquer expectativa de encontrar firmas ou indústrias reais que se ajustem perfeitamente a qualquer um destes referenciais ideais. Na prática, deve-se entender estas estruturas como modelos estilizados e que precisarão ser adaptados ou combinados caso a caso para refletir adequadamente cada situação específica.

O uso destes referenciais teóricos, entretanto, costuma trazer importantes esclarecimentos na análise de problemas concretos e específicos, o que justifica a insistência em seu estudo. São instrumentos singelos, é verdade, mas sua utilização não implicará em raciocínios simplistas ou inúteis, desde que se tenha bom domínio sobre suas funções e limitações. Na Economia Industrial os bons resultados dependerão da maestria no uso de ferramentas como estas, em esforço similar ao que se precisa fazer para apertar parafusos de tamanhos e formatos muito diferentes com poucas opções de chaves de fenda.

Neste capítulo ocupa-se da análise da concorrência perfeita, provavelmente a mais abstrata e rara dentre as quatro estruturas de mercado a serem discutidas nesta parte do livro. Associa-se esta estrutura de mercado ao pólo em que os agentes econômicos envolvidos dispõem de pouco ou nenhum poder de interferir nos resultados de mercado. No pólo oposto ao da concorrência perfeita encontram-se os monopólios (e monopsônios), a serem discutidos no Capítulo 4,

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nos quais se costuma esperar agentes com capacidade efetiva para alterar os preços ou quantidades observadas no ambiente em que atuam. A lógica econômica de operação em monopólios merecerá atenção também por oportunidade da análise das políticas de regulação, cuja discussão se realiza na última parte deste livro.

As situações de mercado mais frequentemente encontradas na realidade empírica, entretanto, costumam guardar mais proximidade com as estruturas dos oligopólios e da concorrência monopolística. Tais estruturas serão avaliadas nos capítulos 6 e 7, respectivamente, reservando-se o capítulo 5 para uma apresentação sucinta de elementos básicos da Teoria dos Jogos que são importantes tanto para a análise dos problemas estratégicos entre oligopolistas, como para a discussão de outras condutas estratégicas a serem tratadas na segunda parte do manual.

Na avaliação das diferentes estruturas de mercado uma forte superposição aos argumentos microeconômicos tradicionais é incontornável. Não obstante, o enfoque aqui adotado procurará explorar com rigor as hipóteses e o contraponto empírico destes referenciais teóricos, tentando mapear os limites dentro dos quais cada uma das estruturas típicas pode servir como base segura para os objetivos da OI.

O modelo de concorrência perfeita está baseado em diversas características interessantes do ponto de vista didático, dele sendo extraídos elementos que facilitarão a comparação com as outras estruturas de mercado no que concerne à eficiência na utilização de recursos e à análise de bem estar. Assim, após uma apresentação dos pilares lógicos e principais resultados do modelo concorrencial, as bases da análise econômica de bem estar sob equilíbrio parcial são discutidas.

3.1 Concorrência Perfeita – Caracterização e Hipóteses

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Se fosse necessário definir a concorrência perfeita através de um único atributo teórico, a escolha mais adequada certamente recairia sobre a falta de poder dos agentes neste ambiente competitivo para alterar os resultados de mercado. De fato, em mercados perfeitamente competitivos, espera-se que todos os ofertantes e demandantes sejam tomadores de preços (price takers), de forma que nenhum deles se sinta capaz, sozinho ou em combinação com outros, de alterar os preços determinados nos mercados.

A maior parte dos consumidores já passou pela experiência de ser um tomador de preços, bastando lembrar da última vez em que foi a um grande supermercado ou magazine para fazer suas compras. Naquela oportunidade, a sensação de impotência para negociar ou reduzir os preços das mercadorias se traduziu na simplicidade das escolhas que o consumidor precisou fazer: quanto adquirir de cada um dos itens em sua lista de compras. Os preços estavam ali pré-definidos nas etiquetas, e nada (lícito) que o demandante fizesse poderia alterá-los.

Feliz ou infelizmente, esta estória muda bastante quando se observa que na grande maioria das situações práticas encontram-se agentes, ofertantes ou demandantes, dotados de capacidade de alterar as soluções de mercado. Os casos práticos de concorrência perfeita, se existem, são extremamente raros. Não obstante, ainda que exista, sempre que o poder para interferir nas soluções de mercado for baixo, o modelo de concorrência perfeita será útil na tentativa de destrinchar logicamente a situação envolvida.

Para justificar logicamente este cenário em que os ofertantes e demandantes se sentem impotentes, incapazes de interferir nos preços dos produtos que compram e vendem, algumas hipóteses teóricas sobre a estrutura de concorrência perfeita precisam ser feitas.

Uma primeira suposição importante para a caracterização de um ambiente perfeitamente competitivo está na ausência de barreiras à entrada e saída do mercado. No capítulo sobre monopólios uma seção será dedicada exclusivamente à análise destas barreiras e da contestabilidade dos mercados, mas intuitivamente esta hipótese aponta para as dificuldades em se beneficiar com lucros econômicos positivos por muito tempo se não houver obstáculos significativos à entrada de

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outros agentes no mercado. Se inexistirem barreiras importantes ao ingresso em determinado mercado, qualquer tentativa de abusar do poder de mercado, alterando preços ou quantidades em proveito próprio, tenderá a ser dissipada pelo ingresso de novos ofertantes ou demandantes. Uma alta contestabilidade dos mercados aparece, ao menos logicamente, como fator que reforça a impotência dos agentes em ambientes concorrenciais na manipulação dos resultados da livre operação dos mercados.

No arcabouço ideal da Microeconomia, a de ausência de problemas informacionais ou da informação perfeita é outra hipótese freqüentemente empregada na discussão do modelo teórico da concorrência perfeita. Neste contexto, por informação perfeita é de se entender que todos os agentes participantes do mercado conhecem todos os preços e a qualidade da totalidade dos produtos ali transacionados. A suposição de informação perfeita tem bases tão frágeis quanto a proposição de que os seres humanos são oniscientes, mas para muitas aplicações teóricas as vantagens de se abstrair dos problemas de incerteza trazem uma relação benefício/custo bastante favorável.

Não se pode esquecer que os modelos teóricos sempre representam simplificações da realidade para a qual apontam. Fosse necessária a total identificação dos modelos e hipóteses teóricas com o mundo real para a aceitação destas explicações, o único modelo aceitável seria a própria realidade que se pretende explicar, num óbvio contra-senso. O uso de suposições como a da informação perfeita certamente impede que muitos aspectos interessantes sejam considerados, mas estas simplificações serão justificáveis e úteis caso o fenômeno analisado não dependa intrinsecamente daquilo que se abstraiu, assim como ocorre no modelo de concorrência perfeita.

A quarta hipótese usual nas apresentações do modelo competitivo é a da ausência de externalidades. Como o próprio nome indica, as “externalidades”

estão associadas a alguma forma de efeito externo, neste caso externo às escolhas dos agentes econômicos. Externalidades são os efeitos das ações de um agente econômico sobre os demais, podendo ser positivas ou negativas.

Ocorre uma externalidade positiva, por exemplo, quando a escolha de um agente

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em criar abelhas, que se explica pelo objetivo individual de produzir mel e outros produtos apícolas, acaba por beneficiar o vizinho que cultiva laranjas. A polinização mais efetiva nos laranjais tende a fazer com que a atividade do citricultor apresente maior produtividade ou menores custos em função das ações de outro agente. A existência de externalidades positivas ou negativas tem implicações sobre a eficiência na utilização dos recursos e gera impactos sobre as avaliações de bem estar. Para evitar estas complicações a suposição de ausência de externalidades aparece com freqüência nas apresentações preliminares do modelo competitivo. Ainda neste capítulo, depois de discutidas as relações entre concorrência perfeita, eficiência no uso dos recursos e bem-estar, o problema das externalidades será formalmente retomado.

Para fazer um contraponto a outras estruturas de mercado típicas, é interessante destacar uma suposição relativa à qualidade dos produtos transacionados em ambientes perfeitamente competitivos. Por hipótese, os produtos ofertados pelas diferentes firmas nos mercados competitivos serão considerados homogêneos, vale dizer, perfeitamente substituíveis entre si.

Colocadas à disposição dos consumidores quantidades iguais de produtos produzidos pelos diferentes ofertantes, pela hipótese de homogeneidade, estes se mostrarão indiferentes em relação à origem dos produtos.

Outra suposição bastante comum em modelos de concorrência perfeita é a da divisibilidade dos produtos ofertados. Pela hipótese de divisibilidade entende-se que os produtos podem ser comercializados em quaisquer quantidades, inteiros ou fracionados. Trata-se de uma suposição que elimina algumas dificuldades analíticas que se poderia encontrar em mercados nos quais são comuns vendas discretas, como no comércio de pianos. Quem compraria 1,5 pianos? Uma outra forma de contornar esta dificuldade, e que dispensaria a referida hipótese, seria trabalhar com transações que ocorrem por intervalo de tempo, já que não há nada de estranho com vendas de 1,5 pianos/dia.

Como uma nota final, e fazendo uma oportuna ligação com o final do capítulo anterior, é interessante perceber que se pelo menos duas das hipóteses mais sensíveis apresentadas acima seriam desnecessárias caso se adotasse

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explicitamente a suposição de ausência de custos de transação. De fato, a hipótese de ausência de custos de transação é implicitamente usada na maior parte das apresentações tradicionais do modelo de concorrência perfeita, embora não se costume enfatizá-la em função das dificuldades lógicas do modelo concorrencial que ela expõe, como a indeterminação do tamanho e a própria necessidade da existência das firmas. De qualquer maneira, a suposição de que os mercados possam ser usados sem quaisquer custos (de transação) eliminaria a necessidade da hipótese de informação perfeita, já que a aquisição de informações é um dos custos mais importantes para a utilização dos mercados, assim como seria desnecessária a hipótese de ausência de externalidades pois, seguindo o argumento de Coase (1960), na ausência de custos de transação todas as externalidades seriam automaticamente internalizadas nos mercados.

Um quadro resumo das hipóteses subjacentes ao modelo de concorrência perfeita é apresentado abaixo. Eventualmente o leitor sinta a falta de uma previsão a respeito do número de ofertantes e demandantes envolvidos no mercado, já que faz parte do imaginário econômico a idéia de que para que haja concorrência perfeita seja necessária uma grande quantidade de agentes pequenos, atomizados. Trata-se, entretanto, de hipótese desnecessária tecnicamente e sem fundamento lógico. Ainda que o aumento na quantidade de agentes envolvidos pelo lado da oferta ou da demanda tenda a reduzir o poder para que se interfira nos preços, esta preocupação é desnecessária quando já se supôs que nenhum agente é capaz de interferir nos resultados de mercado.

Adicionalmente, mesmo que um mercado seja caracterizado pela existência de poucos e grandes ofertantes ou demandantes, a estrutura de concorrência perfeita pode ser adequada para explicar seus comportamentos quando as barreiras à entrada e saída forem suficientemente baixas.

Modelo de Concorrência Perfeita – Quadro Resumo das Hipóteses Básicas Hipóteses 1) Ausência de Barreiras à Entrada

e Saída

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2) Ausência de Custos de Transação

2.a) Informação Perfeita

2.b) Ausência de externalidades 3) Produtos Homogêneos

4) Produtos Divisíveis

3.1.1 Concorrência Perfeita

Esta apresentação do modelo de concorrência perfeita enfatizará as decisões de oferta das firmas, sem tecer maiores considerações sobre o lado da demanda.

Entende-se, entretanto, que as firmas serão tomadoras de preços tanto quanto ofertantes de produtos quanto como demandantes de insumos e fatores de produção.

Neste contexto, serão analisadas as decisões de oferta para firmas uniproduto no curto e no longo prazo, embora os resultados apresentados sejam imediatamente extensíveis ao caso de firmas multiproduto. No intuito de simplificar ao máximo a apresentação, desconsideram-se os problemas de conflitos de interesses entre agentes e principais discutidos no capítulo anterior, o que corresponde a imaginar que os responsáveis pelas decisões na firma escolham e ajam como se fossem seus proprietários.

De forma rigorosa, o proprietário de uma firma deve estar preocupado com a maximização do valor presente dos fluxos econômicos nela gerados. Isto significa que a totalidade dos fluxos atuais e futuros necessários ou decorrentes da atividade empresarial precisaria ser levada em conta por ocasião das decisões de produção realizadas. Representando por R qt( )t as receitas totais esperadas para o período t, por C qt( )t os custos econômicos realizados em t para a obtenção de tais receitas, e tomando uma taxa de juros constante e igual a r por período, o problema da firma seria o de escolher as quantidades a produzir em cada período que maximizassem o valor presente da firma, VP, dado pela expressão (3.1):

(9)

(3.1) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( ) ( )

( )

1 1 1 1 2 2 2 2

0 0 0 0 1 1 2 1

T T T T

T

R q C q R q C q R q C q

VP R q C q

r r r

= + + + +

+ + +

Formalmente, dada uma taxa de juros, r, o problema de escolha seria o da maximização do VP, com a escolha das quantidades q q1, , ,2 qT:

(3.2) ( ) ( )

( )

0, , ,1 0

maxT 1

T t t t t

q q q t t

R q C q

VP = r

=

+

O programa de otimização esboçado em (3.2) pode e costuma ficar bastante complexo à medida que nele se introduzem os fluxos associados a investimentos, depreciação e ganhos ou perdas esperadas de capital. Não obstante as dificuldades adicionais que esta metodologia traz, é com base em raciocínios similares a este que costumam ser calculados os valores das empresas na realidade, especialmente quando se pretende estimar seu preço para aquisição ou venda.

Deixando claro que o objetivo da firma é a maximização de seu valor (presente), no argumento a seguir emprega-se uma metodologia bastante mais singela, reduzindo os problemas de escolha a apenas um período. Via de regra, esta última simplificação aparecerá como uma aproximação empiricamente razoável e adequada do ponto de vista didático para explicar as escolhas de produção das firmas. Na prática, entretanto, haverá inúmeras situações em que esta suposição de comportamento de maximização dos lucros será inadequada, merecendo aperfeiçoamentos conforme o caso.

A Decisão de Oferta no Curto-Prazo

Fixado o objetivo da firma na maximização dos lucros do período, a lógica proposta para explicar a decisão de produção no curto-prazo passa a ser trivial.

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Imagina-se que, no curto-prazo, a única variável de escolha para a firma é a quantidade a ser produzida, q. Escolhendo a quantidade a ser produzida, a firma tanto determina a sua receita total, RT(q), como os seus custos totais de produção no período, CT(q). Subtraindo-se das receitas totais os custos de produção, encontra-se o lucro da firma no período, π( )q =RT q( )CT q( ).

Admite-se que existe alguma quantidade, q*, para a qual o lucro seja máximo.

Para evitar desdobramentos formais, supõe-se ainda que esta quantidade seja única, vale dizer, que o máximo seja global. Desta maneira, pode-se perceber no gráfico 3.1 que o lucro máximo ocorre quando a inclinação de uma reta tangente à função lucro tenha inclinação nula, ou seja, quando d ( )q 0

dq

π =

.

Gráfico 3.1

Para qualquer quantidade diferente de q*, como mostra gráfico, o lucro poderia ser aumentado pela alteração na quantidade produzida. Tome, por exemplo, o ponto q0, em que a reta tangente à função lucro tem inclinação positiva. Se uma firma estiver produzindo a quantidade q0, será possível aumentar o lucro aumentando a quantidade produzida, de forma que em q0 o lucro não é máximo.

De forma análoga, em q1 existe a possibilidade de elevar o lucro reduzindo a quantidade produzida, algo que acontecerá sempre que a inclinação da função lucro no ponto considerado for negativa.

q π

q0 q q1

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No raciocínio marginalista, o que se faz é checar, para cada quantidade de produção factível, o que aconteceria com o lucro em decorrência de uma pequena variação na quantidade produzida. Esta informação é encontrada pela quantificação da mudança observada dos lucros quando são realizadas pequenas alterações, positiva ou negativas, nas quantidades produzidas. Geometricamente, a variação marginal nos lucros corresponde à inclinação da reta que tangencia a função lucro no ponto considerado.

De forma intuitiva uma outra linha de argumentação poderia ser apresentada, comparando as variações nas receitas totais e nos custos totais à medida que se altera marginalmente a quantidade de produção. Denominando por receitas marginais, RMg, estas mudanças nas receitas, e lembrando da definição de custos marginais, CMg, apenas três situações poderiam ser observadas:

( ) ( )

dRT q dCT q

RMg CMg

dq dq

>

= = =

<

Se as receitas marginais forem maiores que os custos marginais quando se produz determinada quantidade, como ocorre em q0, no gráfico 3.1, os lucros poderiam ser ampliados com o aumento na quantidade produzida. Na situação contrária, quando os custos marginais forem maiores do que as receitas marginais, vide q1 no gráfico, seria possível aumentar os lucros reduzindo a produção. Apenas quando a produção de uma quantidade maior gerar receitas e custos adicionais iguais, o lucro será máximo. Somente nesta última situação alterar a quantidade produzida não traz qualquer vantagem para a firma, e o lucro será máximo, como ilustra o ponto q*.

Algebricamente, o programa de otimização sob análise aparece em (3.3).

(3.3) maxq π( )q =RT q( )CT q( )

(12)

A solução para este problema ocorre pela escolha da quantidade produzida compatível com d ( )q 0

dq

π =

. Derivando (3.3) em relação a q e forçando a condição de lucro máximo, obtém-se:

d ( )q dRT q( ) dCT q( ) 0

dq dq dq

π = =

ou, rearranjado os termos:

(3.4) RMg q( )=CMg q( )

A expressão (3.4) estabelece a condição para a maximização dos lucros de forma bastante geral. De fato, a mesma condição (3.4) será usada para explicar a decisão de oferta dos monopolistas, dos oligopolistas e das firmas em concorrência monopolística, já que a maximização dos lucros permanecerá como objetivo a ser perseguido independentemente da estrutura de mercado considerada. As soluções específicas encontradas pela aplicação da regra geral em (3.4) tenderão a mostrar diferenças conforme as firmas detenham ou não poder para afetar os preços e quantidades de mercado, bem como em função das barreiras à entrada e saída observadas nas distintas situações.

No caso de firmas que atuam em ambiente perfeitamente competitivo, a condição expressa pela igualdade entre receita marginal e custo marginal pode ser simplificada caso se relembre o fato de que, nesta estrutura de mercado, os agentes são tomadores de preços. Sendo os preços determinados no mercado, independentemente das escolhas de qualquer firma individual, percebe-se que para a firma as receitas marginais são pré-determinadas e iguais ao preço vigente no mercado, RMg= p. Imagine, a título de ilustração, que o produto da firma tenha um preço unitário de mercado p1=$10 e que ela esteja ofertando, a este preço, q1=8000unidades por mês. Com estes valores, suas receitas totais seriam

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iguais a RT q( )1 = p q1 1=($10 8.000)( )=$80.000/mês. Considere, agora, que a firma aumente sua produção em 1%, passando a ofertar 8.080 unidades/mês, com receitas de vendas iguais a $ 80.800. Nota-se que as receitas totais variaram em

$80.800 $80.000 $800

RT = = , em decorrência de uma mudança de

8.000 8.080 80

∆ =q = unidades na quantidade produzida. Tomando a razão

1

$800 $10 80

RT p

q

= = =

, percebe-se que a variação nas receitas totais será igual ao preço de mercado. Esta relação será sempre a mesma desde que o preço de mercado não mude, qualquer seja a mudança na quantidade ofertada, de forma que para a concorrência perfeita, a condição básica para a maximização do lucro, apresentada em (3.4), pode ser reescrita da seguinte forma:

. (3.5) p CMg q= ( )

Numa primeira abordagem, portanto, percebe-se que para maximizar seus lucros, uma firma sob concorrência perfeita precisa ofertar as quantidades que façam com que os seus custos marginais de produção sejam iguais aos preços de mercado. Para se obter uma relação mais segura e geral, entretanto, será necessário avaliar a relação entre os preços de mercado, os custos totais médios e os custos variáveis médios de produção da firma.

No raciocínio usado para a obtenção de (3.5) os custos inevitáveis são desconsiderados, já que, por definição, aumentar ou reduzir a quantidade produzida não traz qualquer mudança sobre custos fixos. Este será um problema importante, pois quando os preços de mercado forem menores do que os custos totais médios de produção, o uso mecânico da regra posta em (3.5) poderá gerar soluções em que a firma terá lucros econômicos negativos (prejuízos). Enquanto os preços de mercado forem superiores aos custos variáveis médios de produção, pode ser conveniente à firma suportar prejuízos econômicos temporariamente, desde que haja a perspectiva de elevação dos preços ou da redução dos custos no futuro. Caso os preços de mercado sejam menores do que os custos variáveis

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médios de produção, a melhor decisão seria o fechamento da firma, que deixaria de produzir de forma a minimizar seus prejuízos.

No lado esquerdo da Figura 3.1, encontram-se esboçadas as curvas de custos no curto-prazo para uma firma individual, i, que ajudam a esclarecer estas questões. Para simplificar a apresentação, supôs-se que todos os custos fixos são inevitáveis, de forma que a curva de custos variáveis médios (CVMe) pode ser identificada à curva dos custos evitáveis médios. Para este raciocínio, é crucial saber encontrar no gráfico o lucro econômico da firma para as diferentes quantidades produzidas.

Suponha que o preço de mercado seja igual a p1, de forma que a maximização dos lucros indique como ótima a produção de qiCPunidades por período. Neste nível de produção, as receitas totais são dadas por p q1 iCP, o que corresponde à área do retângulo que se inicia na origem, com altura p1 e tem base igual a qiCP. Os custos totais para se produzir a quantidade qiCP também podem ser medidos pela área de um retângulo, cuja altura é dada pelos CTMe para a produção deste montante de produtos, e a base é novamente igual a qiCP [lembre-se que

CTMe q CT× = ]. Ora, ao preço p1, constata-se que a firma obtém um lucro econômico positivo no curto prazo, dado pela diferença entre as receitas e custos totais, conforme mostra a área hachurada no gráfico.

Quando o preço for igual a p0 na Figura 3.1, a quantidade produzida compatível com o lucro máximo será dada por qiLP e, como se constata com facilidade, a firma estará recebendo por unidade exatamente o seu custo total médio de produção, ou seja, perceberá um lucro econômico nulo. Esta situação aparentemente desoladora é, na verdade, aquela que se espera prevalecer no equilíbrio de longo prazo em ambientes perfeitamente concorrenciais. Longe de ser um mau resultado, um lucro econômico igual a zero traduz a idéia de que todos os recursos empregados nas operações da firma estão sendo remunerados da melhor maneira possível, tomando por referência as maiores remunerações que eles receberiam caso fossem alocados fora da firma. Tema já discutido no Capítulo 2, o cálculo dos lucros pela dedução dos custos econômicos implica um

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critério extremamente rigoroso para a avaliação dos resultados obtidos pela firma, sendo anormais ou extraordinários os lucros econômicos positivos, e normais os lucros econômicos nulos.

Os dois preços críticos a serem considerados no gráfico são, desta forma, p0 e pE, pois a preços menores do que p0 a firma passará a ter lucros econômicos negativos e abaixo de pE deixar de produzir será uma alternativa mais interessante do que produzir qualquer quantidade positiva.

A situação em que o preço é igual aos custos variáveis médios mínimos, estabelece o ponto de entrada da firma no mercado. A curva de custos marginais cruza a curva de custos variáveis médios exatamente no ponto em que estes são mínimos, de forma que produzir quantidades positivas a preços menores do que pE

seria um contra-senso, já que os prejuízos percebidos pela firma diminuiriam se ela simplesmente cessasse a produção. O preço de entrada, pE , desta forma, também é conhecido como preço de fechamento, e a curva de oferta da firma no curto-prazo é definida pela regra:

(3.6) p CMg q= ( )se p pE, com q=0, se p pE.

(16)

Figura 3.1

Ainda que o preço de mercado seja maior do que pE, a firma permanecerá tendo prejuízo econômico enquanto o preço que recebe por unidade vendida for menor do que os custos totais médios de produção. O custo total médio mínimo é encontrado no cruzamento das curvas de custo marginal e custo total médio o que, na Figura 3.1 ocorre quando a produção é igual a qiLP. Pode-se indagar por que uma firma estaria disposta a produzir a preços inferiores a p0, já que estaria sofrendo prejuízos econômicos. De fato, esta opção seria ilógica se os preços fossem permanecer inferiores aos custos médios por muito tempo, mas em se tratando de uma situação transitória ou caso a firma espere conseguir reduzir seus custos de produção no futuro, seria razoável manter a firma aberta e produzindo quantidades positivas no curto-prazo. É por este motivo que, na caracterização da curva de oferta de curto-prazo para a firma individual, a regra p CMg q= ( )é

admissível para preços menores do que os custos totais médios, desde que os custos variáveis médios estejam sendo cobertos. No longo-prazo, como se verá mais adiante, esta peculiaridade deixa de ser importante já que neste horizonte de

p p

q Q

E

qi qiLP nqiE

CMg

CTMe

CVMe

S

QCP

p1

p0

pE

Firma Mercado

πCP >0

CP

qi nqiCP

QD

(17)

planejamento mais dilatado todos os custos são variáveis e, desta forma, o ponto de entrada e o de custo total médio mínimo coincidem.

Do lado direito do Figura 3.1 encontram-se as curvas de oferta e demanda de mercado para o produto comercializado pela firma i. A curva de oferta de mercado, QCPS , inclui as quantidades ofertadas pela totalidade das firmas aos diferentes preços. Supôs-se na construção desta curva de oferta de curto prazo a existência de n firmas com estruturas de custos idênticas à da firma i. Neste caso, fica fácil entender por que abaixo de pE a oferta de mercado é nula, havendo uma quantidade ofertada igual a nqiE assim que, ao preço pE, as n firmas entram no mercado. Observa-se, ainda, que para a curva de demanda QD, o equilíbrio de mercado indicado no gráfico está determinando preços iguais a p0, o que implica que cada uma das n firmas esteja auferindo um lucro econômico positivo. A situação de firmas em concorrência perfeita percebendo lucros extraordinários contradiz outra imagem do imaginário econômico, pela qual apenas lucros econômicos nulos ou “normais” seriam factíveis nesta estrutura de mercado. No curto-prazo não há nada de anormal com firmas perfeitamente competitivas ganhando lucros econômicos positivos. O que não se pode esperar é que, na ausência de barreiras à entrada e saída, estes lucros extraordinários continuem a ser observados por muito tempo.

A Mão Invisível em Ação: Equilíbrios de Curto-prazo e de Longo-Prazo

O processo pelo qual os lucros econômicos positivos (ou negativos) em concorrência perfeita são dissipados leva a um quadro distinto do que se estava analisando, conforme exibido na Figura 3.2. Do lado direito desta figura, encontram-se as curvas de oferta e demanda de mercado para o longo prazo, chamando a atenção o fato de a oferta no longo prazo ser perfeitamente horizontal no nível de preços p . Por trás deste formato da curva de oferta de longo prazo há

(18)

duas pressuposições que merecem explicitação: (i) o fato de p0 ser igual aos custos (totais) médios de produção e (ii) a ausência de economias ou deseconomias de escala.

Efetivamente, só haverá equilíbrio de longo prazo em mercados perfeitamente concorrenciais quando os lucros percebidos pelas empresas que nele atuam, também denominadas firmas “incumbentes”, forem iguais a zero. Enquanto houver lucros econômicos positivos, a entrada de novas firmas permanecerá ocorrendo e se as incumbentes estiverem tendo prejuízos, elas sairão do mercado, de forma que o preço de entrada ou de fechamento, no longo prazo, será igual ao custo médio mínimo, como se pode observar do lado esquerdo da Figura 3.2.

Como se está supondo que todas as firmas neste mercado têm estruturas de custo idênticas, a ausência de economias ou deseconomias de escala impõe uma escala de produção eficiente com a produção de qiLP unidades por firma. A quantidade total ofertada no mercado será, então, igual ao número de firmas que ali ficarão produzindo, nLP, multiplicado por qiLP. De forma mais geral, seria interessante considerar a possibilidade de ocorrência de economias ou deseconomias de escala externas às firmas, eventualmente por razão da presença de algum insumo com disponibilidade fixa, cuja intensificação no uso ou aumento da demanda causasse alterações nos preços dos inputs. Neste caso, a curva de oferta de longo prazo poderia ter inclinação positiva (deseconomias externas) ou negativa (economias externas), mas o fim processo de entrada ou saída de novas firmas permaneceria determinado pela ausência de oportunidades de obtenção de lucros econômicos anormais.

(19)

Figura 3.2

Na Figura 3.3 ilustra-se uma curva de oferta perfeitamente competitiva de longo prazo com inclinação positiva. Conforme desenhada, a curva foi obtida pela diferenciação dos ofertantes em dois grupos, os do tipo I e os do tipo II. A existência de algum fator de produção fixo, como por exemplo, terras de alta fertilidade, permite aos ofertantes do tipo I produzir a custos médios relativamente menores do que os produtores do tipo II, que utilizam terras menos férteis. Por simplicidade supôs-se que as curvas de custos marginais para os dois tipos de produtores fossem iguais. Assim, ao preço p1, somente ofertantes do tipo I estariam no mercado, ofertando em conjunto a quantidade n1q1. Estes produtores permanecerão sozinhos no mercado até que os preços se elevem a p2, quando passará a ser factível a entrada dos ofertantes do tipo II. A este preço maior, a oferta conjunta será igual a (n1+n q2) 2, e ninguém mais desejará entrar no mercado, já que as terras mais férteis estão todas ocupadas e os lucros econômicos dos produtores que ocupam terras menos férteis é igual a zero. Aos preços p1, entretanto, observa-se que os produtores do tipo I estarão recebendo por unidade vendida valores substancialmente maiores do que os seus custos

p p

q Q

CP

qi qiLP

CMg

CTMe

CVMe S

QLP

LP

n qLP i

p0

Firma Mercado

(20)

médios de produção: Como poderiam produtores competitivos auferir lucros econômicos positivos no longo prazo?

Figura 3.3

Não podem, e os produtores do tipo I na Figura 3.3 não estão obtendo lucros anormais. Reaparece aqui a importância do uso da noção econômica de custos ou dos custos de oportunidade. De fato, observa-se que os produtores do tipo I ingressam primeiro no mercado porque têm custos médios menores do que os produtores do tipo II. Mas quando estão produzindo a quantidade q2, estes produtores conseguiriam alugar ou arrendar suas terras férteis a outros produtores por um valor máximo igual a estas receitas adicionais (anormais) que recebem por usarem terras mais férteis, exibido pela área em destaque no gráfico da esquerda.

Este valor não é um lucro econômico derivado da produção, mas uma renda que cabe àqueles que são proprietários dos recursos limitados, como são as terras de alta fertilidade. Reitera-se, assim, que no longo prazo as firmas em um mercado perfeitamente competitivo percebem lucros econômicos nulos, ou

p p

q Q CMg

CMe1

S

QLP

(n1+n q2) 2

p2

p1

Firma Mercado

CMe2

n q1 1 n q1 2

Renda Econômica

q1 q2

(21)

normais. Situações como a ilustrada na Figura 3.3 para os produtores do tipo I não aparecem como exceções, desde que a noção econômica de custos seja usada.

A Curva de Demanda Residual

No início do capítulo colocou-se como suposição central no modelo de concorrência perfeita o fato dos agentes serem tomadores de preços. Esta hipótese foi usada para encontrar a oferta ótima das firmas e traduz bem o espírito do modelo concorrencial, mas, mesmo dentro de uma estrutura de mercado teórica e ideal, ela não é rigorosamente verdadeira. Pode-se mostrar que até uma firma competitiva se defronta com uma curva de demanda negativamente inclinada e, portanto, tem alguma capacidade para alterar os preços de mercado.

Ocorre que este poder em mercados competitivos é bastante pequeno, de forma que a idéia de que os preços seja dados - ou de que demanda individual seja horizontal - para firmas perfeitamente concorrenciais permanece sendo uma boa aproximação. Dois conceitos serão discutidos para que se consiga esclarecer estes pontos: o de elasticidade e o de curva de demanda residual.

As elasticidades são usadas em Economia como indicadores de sensibilidade. Elas medem a variação percentual no valor de uma variável trazida por mudanças percentuais em outra. A priori é possível encontrar a elasticidade para qualquer par de variáveis quantitativas, mesmo que não sejam econômicas. Por exemplo, a “elasticidade horas de estudo da nota obtida no curso de OI” mediria a sensibilidade da variável “nota” a mudanças na “quantidade de tempo” de estudo dedicado à matéria. Na prática, estas notas podem estar numa escala de 0 a 10, mas há professores que usam critérios diferentes, como avaliações de 0 a 5 ou de 0 a 100. Da mesma forma, o tempo de estudo pode ser medido em dias, horas ou minutos, e para cada opção de unidades de medida se obteria uma medida de sensibilidade diferente. É por isto que no cálculo das elasticidades prefere-se trabalhar com variações percentuais nos valores das

(22)

variáveis envolvidas. O uso de mudanças em percentagem elimina problemas com as unidades de mensuração, permitindo comparações mais abrangentes e de fácil interpretação.

A fórmula para a “elasticidade tempo de estudo (t) da nota (g)”, poderia ser expressa da seguinte forma:

, t g

g

g t g

t t g t

Ε = =

Como fica evidente da fórmula acima, o valor da elasticidade depende não apenas das mudanças absolutas das variáveis envolvidas, t e g, mas também dos valores com relação aos quais se calculam as variações percentuais, t e g. O tempo de estudo e a nota a serem substituídos por t e g no cálculo de Εt g, são os anteriores à mudança ou aqueles observados depois que o tempo de estudo foi alterado? Este problema será importante sempre que se estiver calculando as elasticidades com base em mudanças discretas (“grandes”), já que nestes casos os valores iniciais e finais das variáveis envolvidas podem ser muito diferentes.

Elasticidades calculadas usando mudanças discretas nas variáveis são denominadas elasticidades no arco, e neste caso não há uma regra única para a escolha dos valores escolhidos para aferir a variação percentual, podendo ser os iniciais, os finais ou, eventualmente, uma média de ambos.

Se as variações envolvidas no cálculo das elasticidades forem suficientemente pequenas, entretanto, esta dificuldade não existe. Elasticidades aferidas com base em mudanças marginais são denominadas elasticidades no ponto, e como as mudanças tendem a ser pequenas entre a situação inicial e a final, os valores iniciais serão adequados para a aferição da elasticidade. Para o exemplo das notas e tempo de estudo, a elasticidade no ponto seria:

, lim0

t g t

g t dg t t g dt g ε ∆ →

= =

(23)

Uma aplicação do conceito mais próxima aos usos práticos na OI seria o cálculo da elasticidade preço da quantidade demandada de um produto, aqui apresentada na forma marginal (elasticidade no ponto). O que esta elasticidade quantifica é a sensibilidade da quantidade demandada em determinado mercado derivada de alterações no preço do produto, sempre em termos percentuais.

Como em resposta a uma elevação (redução) de preços espera-se que a quantidade demandada de determinado produto em um mercado se reduza (eleve), o sinal desta elasticidade é sempre negativo. Se uma alteração dos preços de 1% causar uma mudança em sentido oposto da quantidade demandada de 2%, o valor da elasticidade preço da demanda será igual a , 2%

1% 2

p QD

ε = − = − . Os valores de εp Q, D estão compreendidos em um intervalo entre −∞ e 0, de maneira que a fórmula da elasticidade preço da demanda seria:

(3.7) , D

D p Q D

Q p ε = p Q

,

com, −∞ <εp Q, D 0

Em termos absolutos, as elasticidades preço da demanda tendem a ser maiores quanto mais substitutos houver para o produto em consideração, já que o primeiro caminho usado pelos demandantes para se proteger de uma elevação nos preços de um produto é a substituição por outros produtos cujos preços não tenham se elevado. É por este motivo que se costuma usar o exemplo do sal de cozinha para ilustrar o caso de um bem com demanda preço inelástica, pois diante de uma elevação no preço do sal os consumidores encontram poucas alternativas de substituição, reduzindo pouco a quantidade demandada1. Pelo mesma razão, têm-se como “regra geral” que à medida que o tempo passa, mais fácil é para os demandantes encontrar substitutos para os produtos que tradicionalmente adquirem, pelo que as elasticidades preço costumam ser maiores (em valor absoluto) no longo prazo do que no curto prazo.

(24)

Qualquer regra geral relativa às elasticidades deve ser percebida com cautela. O objetivo de se usar estas medidas de sensibilidade não é o de explicar a realidade dos mercados, mas apenas organizar ou resumir informações econômicas de forma simples e objetiva. Neste sentido, é interessante notar que para os bens duráveis, como uma geladeira ou um automóvel, por exemplo, o comportamento das elasticidades preço no curto e no longo prazo é exatamente o oposto do preconizado pela “regra geral” acima. No curto prazo, uma elevação no preço da geladeira induz o demandante substituir o refrigerador novo por aquele que já possui, ou seja, a prolongar a vida da geladeira usada. Este comportamento que eleva a elasticidade preço da demanda por geladeiras no curto-prazo, entretanto, não pode ser mantido indefinidamente, já que a depreciação da geladeira velha forçará, no longo prazo à aquisição de uma nova, mesmo a preços mais elevados. Assim, as elasticidades preço da demanda por bens duráveis tendem a ser maiores no curto prazo do que são no longo prazo.

Outro aspecto interessante com relação à elasticidade preço da demanda é que um mesmo produto pode e costuma exibir valores diferentes para este indicador à medida que os preços e quantidades variam. No gráfico 3.2 exibe-se uma curva de demanda de mercado linear, aqui representada por QD = −a bp. É imediato perceber que qualquer variação em p leva a uma mudança na quantidade demandada, QD, igual a − ∆b p. Desta maneira, observa-se que

dQD

dp = −b, uma constante negativa que pode ser substituída em (3.7), obtendo-se:

(3.8) p Q, D D

b p ε = − Q

Na mesma curva de demanda para um produto encontram-se elasticidades preço da demanda distintas, a depender do ponto em que elas são calculadas. Um

1 As elasticidades preço da demanda também tendem a ser maiores (em valores absolutos) quando os dispêndios com os produtos a que se refere representarem uma proporção significativa dos gastos do demandante. O sal também é um bom exemplo desta regularidade, já que além de ter poucos substitutos, usualmente não representa uma fração importante dos dispêndios dos consumidores.

(25)

primeiro ponto interessante nesta curva é aquele para o qual a elasticidade-preço é unitária, p Q, D 1 D

b p

ε = − = − Q , que pode ser localizado nesta curva de demanda linear ao preço p=QDb e à quantidade QD =bp. No ponto de elasticidade unitária, uma elevação de 1% no preço do produto faz com que a quantidade demandada caia em exatos 1%. Note-se que para preços superiores a p=QDb , a elasticidade preço da demanda assumirá valores entre −∞ <εpQD < −1, e a preços inferiores aos da elasticidade unitária, 0>εpQD > −1.

Gráfico 3.2

Não deve causar estranhamento o fato da elasticidade preço da demanda aumentar (em valores absolutos) quando o preço do bem sobe. Isto ocorre porque os preços mais altos funcionam como incentivos para que os demandantes encontrem substitutos e pelo fato da redução no poder de compra dos demandantes trazida pela elevação dos preços normalmente force uma redução nas quantidades demandadas.

QD = −a bp p

0>εpQD > −1 1

pQD

ε

−∞ < < −

1

pQD

ε = −

1 α = −b QD

b

bp

(26)

A apresentação da noção de curva de demanda residual propicia um interessante uso do conceito de elasticidade. Imagine que existam n firmas em determinado mercado no qual se comercializa um produto perfeitamente homogêneo. Por simplicidade supõe-se que todas elas têm estruturas de custos exatamente iguais, e procura-se encontrar a curva de demanda “exclusiva” de uma destas firmas, digamos a firma i. O raciocínio é ilustrado no gráfico 3.3, em que se superpõem a curva de oferta de mercado das outras n-1 firmas e a curva de demanda de mercado. Sem a oferta da firma i, o preço que equilibraria este mercado seria p1. A este preço, a demanda residual da firma i seria igual a 0, conforme se observa no gráfico da direita. Para preços inferiores a p1, entretanto, observa-se que as quantidades demandadas no mercado são maiores do que a oferta das outras firmas, e as diferentes combinações entre preços e excesso de demanda de mercado abaixo de p1 constituem a curva de demanda residual da firma i.

Gráfico 3.3

A fórmula para calcular a demanda residual da firma i é apresentada a seguir:

(3.9) qiR( )p =QD( )p QoS( )p , para QD( )p QoS( )p e qiR( )p =0, para

( ) ( )

D S

Q p <Qo p

p pQoS

QD

R

qi

P1

P0

( )0

QD p ( )0 ( )0 ( )0

R D S

i o

q p =Q p Q p

( )0 S

Qo p

(27)

Derivando-se (3.9) em relação a p, e multiplicando-se ambos os lados por

i

p q , chega-se a uma expressão para a elasticidade preço da demanda individual da firma i, εiR:

R D S

R i o

i

i i i

dq p dQ p dQ p dp q dp q dp q

ε = =

Os dois termos do lado direito da expressão acima podem ser transformados em elasticidades, bastando para tanto multiplicar e dividir o primeiro por QD e o segundo por QoS:

S o

S S S S

D D D D

R o o o o

i D S D S

i o i i o i

dQ Q dQ Q

dQ Q p p dQ p Q p

dp Q q dp Q q dp Q q dp Q q

ε ε

ε = =

Representando a elasticidade preço da demanda de mercado por ε, a elasticidade preço da oferta das outras firmas por εoS, e notando que

D

i

Q n

q = e

que 1

S o i

Q n

q = − , chega-se a uma expressão mais sintética e de fácil interpretação:

(3.10) εiR =εnεoS(n1)

Por (3.10) percebe-se que a elasticidade preço da demanda individual da firma i depende (i) da elasticidade preço da demanda de mercado, ε, (ii) do número de firmas incumbentes, n, e da elasticidade preço da oferta das outras firmas, εoS. Fazendo a suposição extremamente conservadora2 de que a oferta das outras firmas seja totalmente preço inelástica, εoS =0, algumas simulações apresentadas

Referências

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