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1) A ligação efectiva à comunidade nacional é um requisito da concessão da nacionalidade por naturalização.

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Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 06A2152

Relator: SEBASTIÃO PÓVOAS Sessão: 18 Julho 2006

Número: SJ200607180021521 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: REVISTA.

Decisão: NEGADA A REVISTA.

NATURALIZAÇÃO

Sumário

1) A ligação efectiva à comunidade nacional é um requisito da concessão da nacionalidade por naturalização.

2) Traduz-se na inserção do candidato no todo nacional, comungando com a generalidade dos cidadãos nas perspectivas sociais, económicas e culturais reveladoras de uma ligação afectiva a Portugal.

3) É integrada por um conjunto de circunstâncias, a valorar caso a caso, como o conhecimento da língua falada e escrita, as identificações culturais, o círculo de amizades, o exercício profissional e a residência permanente.

4) Tratando-se de candidato menor há menos rigidez, e mais tolerância, na apreciação e valoração desses factos.

5) O requerente da aquisição da nacionalidade tem o ónus da prova da ligação efectiva à comunidade nacional.

6) Só por si, a diferente nacionalidade dos membros da família próxima não contende com o princípio da unidade familiar.

Texto Integral

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

O Ministério Público intentou acção especial de oposição à aquisição de nacionalidade portuguesa contra AA, nascida em 7 de Abril de 1992 em

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Canchungo, Região de Cacheu, na República da Guiné-Bissau, de nacionalidade guineense, e representada por seus pais AA e BB.

Alegou, nuclearmente, que a requerida é filha de pais guineenses, não tendo, qualquer deles, à data do seu nascimento, a nacionalidade portuguesa; que reside em Portugal desde 2003; que seu pai adquiriu a nacionalidade

portuguesa, por naturalização, em 2003; que aquando do pedido feito pelos pais, não foram fornecidos elementos suficientes que comprovem ligação da requerida à comunidade portuguesa; que desenvolveu a sua personalidade na comunidade guineense.

Citada, veio a requerida opor-se alegando ter sido demonstrada a sua ligação efectiva à comunidade nacional.

A Relação de Lisboa julgou a acção procedente e determinou o arquivamento do processo organizado pela Conservatória dos Registos Centrais.

A requerida recorre assim concluindo:

- Preenche o requisito da alínea a) da Lei nº 37/81 de 3 de Outubro;

- Muito dificilmente pode dizer-se que um Guineense não tem uma ligação efectiva à comunidade portuguesa, dada a comunhão de tradições entre os dois povos;

- A menor está a viver em Portugal;

- A recusa da nacionalidade põe em causa os artigos 268º nº3 da CRP (objectividade no comportamento da administração), 26º (direito à nacionalidade) e 67º (unidade familiar) do mesmo diploma;

- Apresentou provas de ligação a Portugal na língua, família, cultura, relações de amizade e integração sócio-económica;

- É violado o princípio da igualdade pois a oposição do Ministério Público à aquisição da nacionalidade da irmã da recorrente, foi julgada improcedente pela Relação de Lisboa.

O tribunal "a quo" deu por provados os seguintes factos:

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- A requerida nasceu em 7 de Abril de 1992, na Guiné-Bissau;

- Aquando do seu nascimento, os pais tinham nacionalidade guineense;

- O pai, AA, adquiriu a nacionalidade portuguesa, por naturalização, tendo o respectivo registo sido lavrado em 5 de Dezembro de 2003;

- Em 13 de Agosto de 2004, os pais declararam na Conservatória do Registo Civil do Seixal pretenderem que a requerida adquira a nacionalidade

portuguesa;

- A "AA" reside, com os pais, em Portugal, desde finais de 2003, frequentando a escola primária na Amora.

Foram colhidos os vistos.

Conhecendo,

1- Ligação efectiva à comunidade nacional.

2- Unidade familiar.

3- Conclusões.

1- Ligação efectiva à comunidade nacional.

O fundamento de oposição deduzido pelo Digno Magistrado do Ministério Público foi o do artigo 9º, alínea a) da Lei 37/81, de 3 de Outubro, na redacção da Lei nº 25/94, de 19 de Agosto - ausência de ligação efectiva à comunidade nacional.

O conceito de ligação efectiva vem sendo preenchido por este Supremo Tribunal, ou em termos muito restritivos ("...não bastando que o interessado queira ser português e que, para tanto, estabeleça amizades com portugueses, se associe a colectividades portuguesas, entenda a língua e cultura

portuguesas, pois é preciso ainda que comungue da cultura portuguesa, como se fosse membro da nação portuguesa, do povo português." - Acórdão de 6 de Novembro de 2003 - 03B3460) ou mais abertos (..." uma identificação com o modo de vida e de ser dos portugueses, sem olvidar a participação em

realizações ou projectos que ultrapassem a vertente individual ou familiar, representem a comunhão de interesses, ideais ou objectivos de

desenvolvimento e progresso da nossa comunidade." - Acórdão de 2 de

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Novembro de 2004 - Pº 3483/04 da 6ª Secção).

O que se busca é só conceder a nacionalidade portuguesa aos que já estejam integrados na comunidade nacional, comungando de perspectivas sociais, económicas e culturais com a generalidade dos cidadãos nacionais e que revelem uma ligação afectiva a Portugal.

Isto é, pretende-se a integração no todo nacional.

Sendo, como é, um requisito da aquisição de nacionalidade por efeito da vontade - cf. o preâmbulo do Decreto-Lei nº 253/94, de 20 de Outubro - recai sobre o requerente o ónus da sua alegação e prova, de acordo com o nº1 do artigo 342º do Código Civil. (cf. vg. os Acórdãos do STJ de 19 de Janeiro de 2006 - 05B3192 - e de 7 de Junho de 2005 - 05 A1550).

Terão, pois, de ser alegados factos, ou um conjunto de circunstâncias,

integradores daquele conceito, como sejam a residência em Portugal, a língua falada e escrita, detalhes da vida pessoal (nas áreas culturais, sociais,

profissionais) que casuisticamente permitam concluir pela existência de um sentimento de pertença à comunidade portuguesa.

No caso em apreço a requerente não ofereceu qualquer tipo de prova nem alegou factos que permitissem concluir por aquela ligação efectiva.

É certo que se trata de menor - com 12 anos de idade à data do pedido - o que implica um menor grau de exigência na demonstração do requisito.

Neste ponto adere-se ao decidido pelo Acórdão deste STJ de 19 de Janeiro de 2006 - 05B3192 - onde se escreveu que quando o requerente é menor não se

"deve ser tão exigente na demonstração do predito, visto não ser possível existir o nível de participação na cidadania que deve ser exigido a uma pessoa adulta." (cf. no mesmo sentido, o Acórdão de 15 de Fevereiro de 2005 - Pº 4532/04-1ª).

Mas ainda assim, não basta a mera manifestação de vontade do interessado em adquirir a nacionalidade portuguesa, havendo que provar - embora com as limitações inerentes e adequadas à idade do candidato - que já tem uma

efectiva ligação à comunidade nacional.

Ora, "in casu", resulta que a requerente nasceu na Guiné-Bissau em 1992 e aí

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residiu até finais de 2003, data em que veio para Portugal. Resulta ainda que frequenta o ensino básico na Amora (Seixal).

Aquando do pedido, residia há menos de um ano e, mau grado o convite para que trouxesse aos autos elementos que permitissem aquilatar da "ligação efectiva", nada veio declarar ou informar.

Fica-se, assim, sem saber qual o seu conhecimento da língua, qual a sua inserção na comunidade, em termos sociais ou culturais.

Tanto basta para concluir que - ao menos por agora - não fez prova do requisito da ligação efectiva à comunidade nacional.

2- Unidade familiar.

A recorrente alega serem postos em causa os artigos 268º nº3, 26º e 67º da Constituição da República e violado o princípio da igualdade.

Quanto a este último - por invocação da situação de sua irmã que terá tido vencimento em idêntico incidente de oposição - (que, aliás, nem sequer demonstra) trata-se de questão nova, não conhecida pela Relação e que, por isso, escapa à cognição desta instância de recurso.

Os restantes pontos só por forma muito ínvia se podem considerar terem sido alegados para a Relação.

Por mera cautela - e, quiçá, muito escrupuloso cumprimento do nº2 do artigo 660º do Código de Processo Civil - diz-se à "breviter" que,

- O nº3 do artigo 268º da CRP reporta-se à notificação e à fundamentação dos actos administrativos não se alcançando o porquê da sua chamada a estes autos.

- Não se vislumbra em que termos a não concessão da nacionalidade

portuguesa à requerente (que, aliás, tem uma nacionalidade: a guineense) pode contender com o artigo 26º da lei fundamental.

- A invocação do artigo 67º da Constituição da República ("na sua vertente da unidade da nacionalidade familiar") não colhe, desde logo porque essa

unidade nem sequer existe agora (em que pai e mãe têm nacionalidades

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distintas).

Não se desconhece que há quem entenda decorrer do nosso direito da

nacionalidade "que todos os membros da família (da Kleine Familie, isto é, do agregado familiar constituído pelo casal e pelos filhos) devem ter a mesma nacionalidade, correspondendo à ideia de que, devendo a união familiar ser tão completa quanto possível, isso implica a unidade da nacionalidade." (Prof.

Moura Ramos, apud "Oposição à Aquisição da Nacionalidade", in RDE, 12º, 1986, 282 ss, citando Batiffol-Lagarde, "Droit International Prive" I, 7ª ed, 129).

Mas, mesmo que assim seja, a atribuição da nacionalidade portuguesa não se pode impor, apenas com esse fundamento, se não se perfilarem outros

requisitos.

Concorda-se com o Acórdão do STJ de 6 de Julho de 2005 - 05B1665 - ao dizer que "a unidade da família não é posta em crise pela diferente nacionalidade dos seus membros, pois é forjada, essencialmente, pelos laços de natureza afectiva que se vão formando entre eles."

3- Conclusões.

De concluir que:

a) A ligação efectiva à comunidade nacional é um requisito da concessão da nacionalidade por naturalização.

b) Traduz-se na inserção do candidato no todo nacional, comungando com a generalidade dos cidadãos nas perspectivas sociais, económicas e culturais reveladoras de uma ligação afectiva a Portugal.

c) É integrada por um conjunto de circunstâncias, a valorar caso a caso, como o conhecimento da língua falada e escrita, as identificações culturais, o círculo de amizades, o exercício profissional e a residência permanente.

d) Tratando-se de candidato menor há menos rigidez, e mais tolerância, na apreciação e valoração desses factos.

e) O requerente da aquisição da nacionalidade tem o ónus da prova da ligação efectiva à comunidade nacional.

f) Só por si, a diferente nacionalidade dos membros da família próxima não contende com o princípio da unidade familiar.

Nos termos expostos, acordam negar provimento ao recurso confirmando o

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Acórdão recorrido.

Custas pela recorrente.

Lisboa, 18 de Julho de 2006 Sebastião Póvoas

Moreira Alves Alves Velho

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