• Nenhum resultado encontrado

Transmissão de Informação em Redes Complexas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Transmissão de Informação em Redes Complexas"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

Transmiss˜

ao de Informa¸c˜

ao em Redes

Complexas

Alberione Braz da Silva

Fabio Willian Zamoner

Roberto Alves Gueleri

9 de junho de 2011

Resumo

A transmiss˜ao de informa¸c˜ao procura modelar a propaga¸c˜ao de doen¸cas em popula¸c˜oes, v´ırus em redes de computadores, dentre outras coisas. Assu-mindo uma popula¸c˜ao formada por uma rede de indiv´ıduos, este trabalho descreve os modelos epidemiol´ogicos SIS e SIR. Parte-se da descri¸c˜ao de como um indiv´ıduo pode contaminar seus vizinhos e chega-se a uma discuss˜ao sobre o comportamento macrosc´opico da doen¸ca sobre a popula¸c˜ao. ´E mostrada a influˆencia de algumas topologias de rede sobre a dinˆamica de propaga¸c˜ao da informa¸c˜ao. Traz-se tamb´em uma discuss˜ao sobre percola¸c˜ao em redes, utilizando-a para caracterizar epidemias e estudando-se como a imuniza¸c˜ao de indiv´ıduos numa popula¸c˜ao ou o ataque `a computadores numa rede podem afetar a percola¸c˜ao.

1

Introdu¸

ao

(2)

Apesar do nosso foco ser em matem´atica computacional, a transmiss˜ao da informa¸c˜ao, dinˆamica de propaga¸c˜ao e redes complexas s˜ao abordagens essen-cialmente interdisciplinares podendo tratar desde um processo epidemiol´ogico at´e um processo viral em computadores.

No processo de transmiss˜ao de informa¸c˜ao, o modelo da rede complexa utilizada pode influenciar no estudo do comportamento coletivo, devido a forma como est˜ao estruturadas as liga¸c˜oes, como acontecem a expans˜ao da rede e se existem preferˆencias nas liga¸c˜oes entre os elementos (n´os) etc. [20]. Uma topologia do tipo mundo pequeno, por exemplo, descreve uma rede que tem uma distˆancia pequena entre os elementos, por´em com um alto grau de aglomera¸c˜ao mostrando um padr˜ao de intera¸c˜ao entre os elementos sem considerar as limita¸c˜oes geogr´aficas. As redes livres de escala tˆem uma es-trutura¸c˜ao dinˆamica muito especifica que ´e a tendˆencia de um novo v´ertice fazer a conex˜ao com v´ertices de grau elevado, ou seja, as redes livres de es-cala tem uma estrutura com v´ertices altamente conectados (HUBs) e muitos outros v´ertices com poucas conex˜oes [15, 14]. Com esta abordagem e num processo infeccioso, por exemplo, as redes do tipo pequeno mundo tem a propaga¸c˜ao da doen¸ca local e r´apida, podendo atingir grandes distˆancias na rede. Enquanto que, neste mesmo processo, as redes do tipo livre de escala est˜ao mais direcionadas a preven¸c˜ao das epidemias, pois possuem n´os mais ativos – mais conectados –, que podem ser os alvos de a¸c˜oes erradicadoras das doen¸cas (epidemias).

No contexto de epidemiologia, o maior desafio dos pesquisadores desta ´

area, hoje, ´e representar atrav´es de modelos de redes complexas as intera¸c˜oes entre grupos de pessoas, para caracterizar as propriedades naturais da doen¸ca a ser estudada. Neste processo de propaga¸c˜ao de epidemia, a rede complexa pode modelar uma estrutura social para descrever o seu comportamento cole-tivo. A modelagem epidˆemica da transmiss˜ao de informa¸c˜ao, para um melhor entendimento, pode ser dividida em trˆes etapas:

1. Inicia-se a infec¸c˜ao da rede, que ´e caracterizada por um per´ıodo de ru´ıdos;

2. Acontece o surto e a propaga¸c˜ao da infec¸c˜ao para o resto da rede; e 3. a doen¸ca come¸ca a ser combatida.

(a) O sistema ´e conduzido a uma fase ativa e estacion´aria, fase esta, em que a propor¸c˜ao de indiv´ıduos doentes mantem-se constante; ou

(3)

No processo infeccioso, ainda, a escolha do modelo para caracterizar a dinˆamica da transmiss˜ao da informa¸c˜ao depende das propriedades da doen¸ca ou do compartimento atribu´ıdo ao indiv´ıduo com o objetivo de simular o comportamento desta mesma doen¸ca. Os compartimentos b´asicos que podem ser atribu´ıdos aos indiv´ıduos s˜ao:

• Suscet´ıveis, quando os indiv´ıduos est˜ao propensos a adquirir a infec¸c˜ao; • Infectados, quando os indiv´ıduos adquiriram a doen¸ca efetivamente; e • Recuperados, quando os indiv´ıduos saem do processo infeccioso e est˜ao

imunes a poss´ıveis reca´ıdas, seja a imunidade tempor´aria ou perma-nente [11].

Existem outros compartimentos em que os indiv´ıduos podem ser envol-vidos, tais como, escondido quando existe um per´ıodo de latˆencia no com-portamento de propaga¸c˜ao da infec¸c˜ao, passivamente imune quando existe uma resistˆencia natural ao processo infeccioso, e outras varia¸c˜oes dos com-partimentos b´asicos. Em resumo, o modelo de propaga¸c˜ao de epidemias por transmiss˜ao de informa¸c˜ao que for escolhido, definir´a o modelo matem´atico epidemiol´ogico mais preciso para servir como um instrumento conceitual ele-mentar para suportar a compreens˜ao dos impactos das doen¸cas ou da forma que ocorre a ativa¸c˜ao e a elabora¸c˜ao de estrat´egias efetivas para o seu con-trole e conten¸c˜ao [2, 10, 4]. Assim, os modelos epidemiol´ogicos s˜ao muitas vezes concebidos seguindo os padr˜oes de fluxos de transmiss˜ao de informa¸c˜ao com uma abordagem baseada em rede que pode ser representada matema-ticamente atrav´es de grafos, de tal forma que os elementos do sistema s˜ao representados por v´ertices, e suas poss´ıveis inter-rela¸c˜oes representadas por arestas, e explicitando-se os compartimentos atribu´ıdos aos indiv´ıduos em cada uma das fases da doen¸ca, tais como suscet´ıvel-infectado-suscet´ıvel, sus-cet´ıvel-infectado-recuperado, suscet´ıvel-escondido-infectado-suscet´ıvel, entre outras combina¸c˜oes [2]. Al´em dos padr˜oes de fluxos dos modelos epide-miol´ogicos, existem outros fatores que podem afetar o comportamento co-letivo do processo modelado, onde podemos citar: a idade e a estrutura social da popula¸c˜ao; a rede de contato entre indiv´ıduos; e as caracter´ısticas da meta-popula¸c˜ao tais como o peda¸co de uma estrutura geogr´afica. Estes fatores s˜ao de particular relevˆancia para um modelo epidemiol´ogico real [2].

(4)

em redes de computadores. Este trabalho objetiva mostrar alguns modelos de transmiss˜ao de informa¸c˜ao e sua dinˆamica, discutindo-se como essa dinˆamica ´

e influenciada pela topologia e pela modifica¸c˜ao de alguns elementos da rede.

2

O modelo SIS

SIS (Susceptible-Infected-Susceptible) ´e um modelo utilizado na Epidemiolo-gia para descrever a propaga¸c˜ao de alguma doen¸ca em uma popula¸c˜ao [10, 15]. Considera dois tipos (compartimentos) de indiv´ıduos: suscet´ıveis (saud´aveis) e infectados (doentes). Os indiv´ıduos suscet´ıveis podem tornar-se infectados e vice-versa. Apesar de sua origem na Epidemiologia, o modelo SIS (e outros mais) pode representar a propaga¸c˜ao de outros tipos de informa¸c˜ao, n˜ao ape-nas doen¸ca, desde que haja correspondˆencia entre a informa¸c˜ao e os estados suscet´ıvel e infectado.

A abordagem cl´assica do modelo SIS considera a popula¸c˜ao como sendo uma mistura homogˆenea de indiv´ıduos [10]. Nela, as transi¸c˜oes suscet´ıveis-infectados e suscet´ıveis-infectados-suscet´ıveis s˜ao caracterizadas por taxas, as quais de-pendem apenas das propor¸c˜oes de indiv´ıduos em cada compartimento. Nesse caso, a evolu¸c˜ao do sistema pode ser analisada por meio de equa¸c˜oes diferen-ciais [10].

Uma outra abordagem considera o modelo SIS como um processo de con-tato [20]. Aqui, a popula¸c˜ao n˜ao ´e tratada como uma mistura homogˆenea de indiv´ıduos, mas sim uma rede de indiv´ıduos. A doen¸ca s´o pode ser pro-pagada atrav´es das liga¸c˜oes que os indiv´ıduos mantˆem entre si. O presente trabalho ocupa-se desta ´ultima abordagem para o modelo SIS.

2.1

Funcionamento do modelo SIS

Assume-se que, inicialmente, alguns dos indiv´ıduos est˜ao infectados. Assim, a cada instante, cada indiv´ıduo pode encontrar-se em um dos dois compar-timentos: suscet´ıvel ou infectado. Durante um certo intervalo de tempo ∆t, um indiv´ıduo infectado vi pode permanecer infectado com uma

probabili-dade λ. Consequentemente, ele pode curar-se com uma probabiliprobabili-dade 1 − λ. Caso permane¸ca infectado, o indiv´ıduo transmite a doen¸ca a um de seus vi-zinhos vj. A probabilidade da escolha do vizinho vj a ser infectado pode ser

(1) equivalente entre todos os vizinhos, ou (2) dependente do grau de cada vizinho. Yang et al. [20] dizem que, tradicionalmente, a probabilidade da escolha de cada vizinho vj ´e equivalente entre todos os vizinhos. Contudo,

(5)

a ser modelado.

Visto que a rede de contato define unicamente cada indiv´ıduo, ´e enorme a quantidade de configura¸c˜oes distintas que o sistema pode assumir. Desse modo, torna-se impratic´avel a an´alise exata da evolu¸c˜ao desse sistema. Por-tanto, adotam-se dois modos distintos para essa an´alise:

1. Aplicando-se a Teoria do Campo M´edio [20]. Trata-se de uma apro-xima¸c˜ao, onde os indiv´ıduos de mesmo grau s˜ao todos tratados como tendo o mesmo comportamento, um comportamento “m´edio”. Assim, n˜ao analisa-se cada indiv´ıduo, mas cada grupo de indiv´ıduos de mesmo grau. Desprezam-se, portanto, as diferen¸cas existentes entre os in-div´ıduos de um mesmo grupo.

2. Empregando-se simula¸c˜oes computacionais [20]. Nesse caso, constr´oi-se um procedimento capaz de representar o modelo em quest˜ao (aqui, o modelo SIS). Espera-se que a ocorrˆencia de v´arias simula¸c˜oes represen-tem, na m´edia, o comportamento esperado para o sistema em quest˜ao. O Procedimento 1 exemplifica um procedimento a ser empregado em si-mula¸c˜oes computacionais para o modelo SIS. Cada itera¸c˜ao pelo la¸co princi-pal equivale a um passo (um time-step), durando o intervalo de tempo ∆t, do ponto de vista de um dos indiv´ıduos infectados.

Procedimento 1 Procedimento para o modelo SIS.

Infecta-se, inicialmente, uma certa quantidade de indiv´ıduos. enquanto houver algum indiv´ıduo infectado fa¸ca

Toma-se, aleatoriamente, um indiv´ıduo infectado vi.

r ← um n´umero real aleat´orio entre 0 e 1. se r < λ ent˜ao

Toma-se, aleatoriamente, um vizinho vj do v´ertice vi. A probabilidade

da escolha de cada vj pode ser (1) equivalente entre todos os vizinhos,

ou (2) dependente do grau de cada vizinho.

vj torna-se infectado, independentemente do estado em que estava.

sen˜ao

vi torna-se suscet´ıvel.

fim se fim enquanto

2.2

Comportamento macrosc´

opico do modelo SIS

(6)

pela existˆencia de indiv´ıduos infectados, significando que a doen¸ca mantˆ em-se preem-sente e continua em-sendo transmitida entre os indiv´ıduos. A faem-se inativa, tamb´em conhecida como fase de absor¸c˜ao, ´e caracterizada pelo desapareci-mento completo da doen¸ca.

Com o passar do tempo, uma rede que inicialmente continha parte de seus indiv´ıduos infectados tende a entrar (1) em uma fase ativa e estacion´aria, ou (2) em uma fase inativa [15, 20]. Uma fase estacion´aria ´e caracterizada por uma propor¸c˜ao constante de indiv´ıduos infectados, ou seja, a taxa com que os indiv´ıduos se curam iguala-se `a taxa com que a doen¸ca ´e transmitida.

Al´em da sua pr´opria topologia, a fase em que a rede entra ´e determinada pelo parˆametro λ. Assim, h´a um limiar para λ, separando as duas fases. Esse limiar ´e chamado de valor cr´ıtico e denotado por λc. Ent˜ao, λ > λc conduz

a rede `a fase ativa e estacion´aria, enquanto λ < λc a conduz `a fase inativa.

3

O modelo SIR

Semelhantemente ao SIS, o SIR (Susceptible-Infected-Recovered ) ´e um modelo utilizado na Epidemiologia para descrever a propaga¸c˜ao de alguma doen¸ca em uma popula¸c˜ao [10, 11]. Considera, por´em, trˆes tipos de indiv´ıduos: sus-cet´ıveis, infectados e recuperados. Os indiv´ıduos suscet´ıveis podem tornar-se infectados, que por sua vez podem tornar-se recuperados. Uma vez recupe-rado, o indiv´ıduo torna-se imune e n˜ao mais pode ser infectado.

Aqui, h´a tamb´em a abordagem cl´assica que considera a popula¸c˜ao como uma mistura homogˆenea de indiv´ıduos [10]. O presente trabalho ocupa-se, entretanto, de uma abordagem baseada numa variante daquela descrita anteriormente para o modelo SIS, considerando-se tamb´em o terceiro com-partimento: recuperados.

3.1

Funcionamento do modelo SIR

Assume-se que, inicialmente, alguns dos indiv´ıduos est˜ao infectados e os de-mais s˜ao suscet´ıveis. Assim, a cada instante, cada indiv´ıduo pode encontrar-se em um dos trˆes compartimentos: suscet´ıvel, infectado ou recuperado. Du-rante um certo intervalo de tempo ∆t, um indiv´ıduo infectado vi pode

per-manecer infectado com uma probabilidade λ. Consequentemente, ele pode curar-se com uma probabilidade 1−λ, tornando-se recuperado e imune. Caso permane¸ca infectado, o indiv´ıduo transmite a doen¸ca a um de seus vizinhos vj, caso vj seja suscet´ıvel. Nada acontece se o vizinho escolhido for imune.

A probabilidade da escolha do vizinho vj a ser infectado pode ser (1)

(7)

Isso depende da natureza do problema a ser modelado.

A evolu¸c˜ao do sistema assim definido pode ser analisada por meio da Teoria do Campo M´edio ou por meio de simula¸c˜oes computacionais. O Pro-cedimento 2 exemplifica um proPro-cedimento a ser empregado em simula¸c˜oes computacionais para o modelo SIR. Trata-se de uma variante do procedi-mento mostrado para o modelo SIS.

Procedimento 2 Procedimento para o modelo SIR.

Inicialmente, numa popula¸c˜ao contendo somente indiv´ıduos suscet´ıveis, infecta-se uma certa quantidade desses indiv´ıduos.

enquanto houver algum indiv´ıduo infectado fa¸ca Toma-se, aleatoriamente, um indiv´ıduo infectado vi.

r ← um n´umero real aleat´orio entre 0 e 1. se r < λ ent˜ao

Toma-se, aleatoriamente, um vizinho vj do v´ertice vi. A probabilidade

da escolha de cada vj pode ser (1) equivalente entre todos os vizinhos,

ou (2) dependente do grau de cada vizinho. se vj for suscet´ıvel ent˜ao

vj torna-se infectado. fim se sen˜ao vi torna-se recuperado. fim se fim enquanto

3.2

Comportamento macrosc´

opico do modelo SIR

Observando-se a rede de indiv´ıduos como um todo, e ap´os um tempo suficien-temente longo, a rede entra em uma fase inativa caracterizada pela existˆencia de indiv´ıduos suscet´ıveis e recuperados somente [11]. Nessa fase, a doen¸ca desapareceu da popula¸c˜ao. Aqui, o parˆametro λ, junto com a topologia da rede, determina a propor¸c˜ao final de indiv´ıduos recuperados, ou seja, a pro-por¸c˜ao de indiv´ıduos que uma vez foram infectados.

4

Influˆ

encia da topologia da rede

(8)

receber a informa¸c˜ao (ser infectado) for inversamente proporcional a seu grau. Os autores concluem, assim, que os indiv´ıduos de grau baixo desempenham um papel fundamental na propaga¸c˜ao da informa¸c˜ao.

Tipicamente, as diversas topologias de redes apresentam o limiar λc> 0

para o modelo SIS [15]. Contudo, segundo Pastor-Satorras e Vespignani [15], algumas classes de redes livres de escala apresentam λc = 0. Isso significa

que, por menor que seja o parˆametro λ, o sistema sempre tende a se manter na fase ativa. Ou seja, se a informa¸c˜ao que trafega na rede for alguma doen¸ca, essa doen¸ca persistir´a. Os autores utilizam esse resultado para explicar a persistˆencia dos v´ırus pela Internet. Tamb´em dizem que, por um lado, a infec¸c˜ao persiste na rede, mas por outro, a propor¸c˜ao final dessa infec¸c˜ao ´e tipicamente pequena, caracterizando um estado endˆemico.

Huang et al. [11] desenvolveram um trabalho utilizando um tipo par-ticular de modelo SIR e redes modulares. Observaram que a dura¸c˜ao da informa¸c˜ao na rede ´e dependente da quantidade de m´odulos (comunidades) da rede. Aumentando-se a quantidade de m´odulos, a dura¸c˜ao da informa¸c˜ao tamb´em aumenta, at´e atingir um valor m´aximo, a partir do qual o aumento da quantidade de m´odulos faz reduzir a dura¸c˜ao da informa¸c˜ao. Os autores chamaram isso de fenˆomeno ressonante.

5

Percola¸

ao em redes

Do ponto de vista f´ısico, percola¸c˜ao pode ser definida como um fluido que passa por um meio poroso [18]. O meio ser´a imperme´avel se a quantidade de poros foi muito pequena impedindo a passagem do fluido. Por outro lado, se a quantidade de poros foi muito grande, o fluido conseguir´a propagar pelo meio. Ent˜ao, ´e dito que o meio percola se houver uma quantidade grande de poros formando um caminho pelo qual o fluido passa. Quando o meio tem tamanho suficientemente grande, ´e definido um limiar de percola¸c˜ao que corresponde `

(9)

gigante1, ou seja, um subgrafo de v´ertices ativos de tamanho proporcional ao tamanho da rede. Logo, a fase de transi¸c˜ao ´e caracterizada por um limiar de percola¸c˜ao que separa a ausˆencia ou a existˆencia de um componente gigante. Na ausˆencia, a rede cont´em somente pequenos grupos de v´ertices ativos.

Em redes, o processo de percola¸c˜ao ´e geralmente dividido em dois tipos: percola¸c˜ao de v´ertices2 e percola¸c˜ao de arestas3 [3]. Descrito anteriormente,

o primeiro caso considera cada v´ertice na situa¸c˜ao ativa ou inativa com certa probabilidade e as arestas apenas definem as rela¸c˜oes entre v´ertices. No segundo caso, a situa¸c˜ao ativa ou inativa est´a relacionada com cada aresta e os v´ertices est˜ao sempre ativos. As situa¸c˜oes ativas e inativas, tanto de v´ertices quanto de arestas, variam conforme a abordagem e podem ser simuladas, por exemplo, pela remo¸c˜ao de v´ertices ou arestas quando inativos. Em ambos os tipos de percola¸c˜ao, o processo est´a relacionado com o aparecimento de um componente gigante [7]. Na literatura existem v´arios trabalhos relacionados a essa teoria para an´alises de rede tais como controle de tr´afego [19], controle de propaga¸c˜ao de doen¸cas [8], estabilidade de redes [5], entre outros.

Na percola¸c˜ao de v´ertices, uma das formas de determinar a ausˆencia de um componente gigante ´e verificar se, ap´os cada remo¸c˜ao de v´ertice, o tama-nho do maior subgrafo da rede diminui bruscamente, ou seja, se a quantidade de v´ertices do maior subgrafo ´e inferior a um valor pr´e-determinado. Nem sempre existe um valor exato para o tamanho do componente gigante, por isso ´e feita uma aproxima¸c˜ao levando em conta o tipo de rede e que o tama-nho seja proporcional ao da rede completa. Simula¸c˜oes s˜ao repetidas v´arias vezes a fim de obter a m´edia do tamanho do componente gigante.

A propaga¸c˜ao de doen¸cas ´e bem caracterizada pela teoria da percola¸c˜ao. O tamanho m´edio da epidemia equivale aproximadamente ao tamanho do componente gigante da rede. Mas ´e dif´ıcil determinar quando uma epidemia ocorre e por esse motivo epidemiologistas s˜ao obrigados a definir um n´umero m´ınimo de indiv´ıduos infectados para afirmar que uma epidemia ocorreu [12].

´

E poss´ıvel mapear o modelo SIR como um processo de percola¸c˜ao de arestas de forma que a probabilidade de uma aresta estar ativa corresponde a pro-babilidade de um v´ertice (indiv´ıduo) infectado transmitir a doen¸ca para um v´ertice vizinho [13]. Se a probabilidade de transmiss˜ao ´e alta, a fra¸c˜ao de v´ertices que foram infectados pelo menos uma vez ´e, no m´aximo, o tamanho do componente gigante. Considerando que a transmiss˜ao da doen¸ca inicia a partir de um ´unico v´ertice, uma epidemia poderia ocorrer se esse v´ertice infectado pertencesse ao componente gigante.

(10)

Existem diversos m´etodos baseados no modelo SIR para controle de pro-paga¸c˜ao de doen¸cas atrav´es da imuniza¸c˜ao de indiv´ıduos. Um indiv´ıduo imunizado est´a no compartimento recuperado(R) e n˜ao ser´a mais infectado. Na propaga¸c˜ao de doen¸cas em redes livres de escala a tendˆencia ´e que os v´ertices com muitas conex˜oes, chamados de hubs, sejam infectados por al-gum de seus v´ertices vizinhos e, em seguida, transmitam para outros hubs, infectando uma parcela significativa dos indiv´ıduos da rede. Neste caso, a imuniza¸c˜ao aleat´oria de poucos v´ertices da rede ´e ineficiente, uma vez que a chance de imunizar os v´ertices hubs ´e pequena [1]. Para ter efeito satis-fat´orio, a imuniza¸c˜ao aleat´oria precisa ser feita em grande quantidade da popula¸c˜ao. Por outro lado, a imuniza¸c˜ao de v´ertices hubs tem mostrado ser uma estrat´egica de controle efetiva [8]. Assim, a estrat´egia de imuniza¸c˜ao pode ser entendida como um processo de percola¸c˜ao de v´ertices, tal que os v´ertices imunizados correspondem aos v´ertices removidos.

A teoria da percola¸c˜ao tamb´em ´e aplicada no estudo sobre estabilidade de redes para verificar a tolerˆancia a falhas e ataques [17]. A falha ´e simu-lada com a remo¸c˜ao aleat´oria de v´ertices ou arestas enquanto o ataque ´e simulado pela remo¸c˜ao de v´ertices ou arestas escolhidos previamente. Con-forme v´ertices s˜ao removidos, o tamanho do caminho m´edio entre v´ertices aumenta e o tamanho do maior componente diminui. Em rela¸c˜ao `as falhas aleat´orias, as redes livres de escala n˜ao correlacionadas s˜ao robustas [6], pois a probabilidade de um v´ertice com grau alto ser removido ´e menor que a a probabilidade de remover um v´ertice de menor grau. Isso significa que a chance de um componente gigante se manter ´e alta e consequentemente o limiar de percola¸c˜ao ´e baixo. Por´em, ´e evidente que ataques direcionados aos v´ertices de maior grau quebram a integridade da rede.

6

Considera¸

oes finais

A principal motiva¸c˜ao para o estudo de transmiss˜ao de informa¸c˜ao em redes complexas ´e compreender como a topologia da rede influencia na propaga¸c˜ao da informa¸c˜ao. Algumas redes s˜ao mais propensas para propagar informa¸c˜ao que outras.

(11)

imunizado, n˜ao podendo propagar a doen¸ca para outros indiv´ıduos. Este ´

ultimo modelo apresenta uma fase inativa ap´os um tempo suficientemente longo, caracterizada pela existˆencia somente de indiv´ıduos imunizados e de indiv´ıduos nunca infectados. Quando a popula¸c˜ao subjacente ´e tratada como uma rede de indiv´ıduos, os modelos SIS e SIR s˜ao baseados em processos de contato.

Foi visto que a percola¸c˜ao permite determinar fatores prop´ıcios para transmiss˜ao de informa¸c˜ao. Estrat´egias de imuniza¸c˜ao de indiv´ıduos de uma rede e estabilidade de redes podem ser simuladas como um processo de percola¸c˜ao de v´ertices. Neste processo ´e poss´ıvel determinar em quais cir-cunstˆancias um componente gigante est´a presente indicando que a rede possui um subgrafo de tamanho proporcional `a rede completa. Ent˜ao, v´ertices que pertencem ao componente gigante podem se comunicar `a maioria dos outros v´ertices da rede. Esse resultado ajuda a entender o porquˆe de determinadas redes serem mais tolerantes a falhas e tamb´em, no contexto de epidemiologia, como a propaga¸c˜ao de doen¸ca gera uma epidemia.

Referˆ

encias

[1] Albert-L´aszl´o Barab´asi and Eric Bonabeau. Scale-free networks. Sci. Am., 288(5):50–59, 2003.

[2] M. Barth´elemy, A. Barrat, R. Pastor-Satorras, and A. Vespignani. Dynamical patterns of epidemic outbreaks in complex heterogeneous networks. Advances in Physics, 2008.

[3] S. Boccaletti, V. Latora, Y. Moreno, M. Chavez, and D-U. Hwang. Com-plex networks : Structure and dynamics. Phys. Rep., 424(4-5):175–308, Fervier 2006.

[4] M. Bogu˜na, R. Pastor-Satorras, and A. Vespignani. Absence of epide-mic threshold in scale-free networks with degree correlations. Physical Review Letters, 2003.

[5] R. Cohen, K. Erez, Ben D. Avraham, and S. Havlin. Resilience of the internet to random breakdowns. PHYS.REV.LETT, 85, 2000.

[6] Reuven Cohen, Keren Erez, Daniel ben Avraham, and Shlomo Havlin. Breakdown of the internet under intentional attack. Phys. Rev. Lett., 86(16):3682–3685, Apr 2001.

(12)

[8] Zhang Hai-Feng, Li Ke-Zan, Fu Xin-Chu, and Wang Bing-Hong. An efficient control strategy of epidemic spreading on scale-free networks. Chinese Physics Letters, 26, 2009.

[9] ZHANG Hai-Feng, M. Small, and FU Xin-Chu. Different epidemic mo-dels on complex networks. Commun. Theor. Phys., 2009.

[10] Herbert W. Hethcote. The mathematics of infectious diseases. SIAM REVIEW, 2000.

[11] Liang Huang, Kwangho Park, and Ying-Cheng Lai. Information propa-gation on modular networks. PHYSICAL REVIEW E, 2006.

[12] C. Lagorio, M.V. Migueles, L.A. Braunstein, E. L´opez, and P.A. Ma-cri. Effects of epidemic threshold definition on disease spread statistics. Physica A: Statistical Mechanics and its Applications, 388(5):755 – 763, 2009.

[13] Nilly Madar, Tomer Kalisky, Reuven Cohen, Daniel B. Avraham, and Shlomo Havlin. Immunization and epidemic dynamics in complex networks. Eur. Phys. J. B, 38(2):269–276, 2004.

[14] R. Pastor-Satorras and A. Vespignani. Epidemic dynamics and endemic states in complex networks. Physical Review Letters, 2001.

[15] Romualdo Pastor-Satorras and Alessandro Vespignani. Epidemic spre-ading in scale-free networks. PHYSICAL REVIEW LETTERS, 2001. [16] Romualdo Pastor-Satorras and Alessandro Vespignani. Immunization of

complex networks. Phys. Rev. E, 65(3), Feb 2002.

[17] Albert Reka and Barab´asi. Statistical mechanics of complex networks. Rev. Mod. Phys., 74:47–97, jun 2002.

[18] Tˆania Tom´e and M´ario Jos´e de Oliveira. Dinˆamica Estoc´astica e Irre-versibilidade. Edusp, 2001.

[19] Dan Wang, Na Cai, Yuanwei Jing, and Siying Zhang. Phase transition in complex networks. In Proceedings of the 2009 conference on American Control Conference, ACC’09, pages 3310–3313, Piscataway, NJ, USA, 2009. IEEE Press.

Referências

Documentos relacionados

No prazo de 10 dias contada da deliberação, para os condóminos presentes, ou contada da sua comunicação, para os condómino ausentes, pode ser exigida ao administrador a convocação

Projetil encamisado por uma camisa pré-sulcada de latão endurecido, contendo chumbo não endurecido no seu interior, dotado de uma ponta oca. HYDRA SHOCK centro, que

15, estão representados os teores médios de safrol contido em óleo essencial obtido, no decorrer do progresso de extração, da biomassa aérea de pimenta longa procedente de cultivos

As técnicas são baseadas em descontinuidade: detecção de pontos isolados, detecção de linhas e detecção de bordas, e similaridade: limiares (Thresholding), crescimento de

Foram incluídos no estudo os portadores de cirrose hepática e carcinoma hepatocelular diagnosticado pelos critérios da EASL ( European Association for the Study of the Liver ). Após

grandiflora por estaquia, foram avaliados dois ambientes (viveiro e ambiente / condições de ocorrência natural), assim como o efeito do hormônio de enraizamento, o ácido

A partir deste ensaio, é obtida diretamente a resposta do sistema em função da sua acelerância directa, ou seja, o ponto de excitação e de análise da resposta do sistema é o

General: Knowing the conceptual and methodological foundations of the main projective methods; Identify and understand the operational concepts of projection and distress; Identify