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Jogo e linguagem: um exercício de construção de sentidos

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Academic year: 2018

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JO G O E LIN G U A G EM :

U M EXER C íC IO

D E

C O N STR U Ç Ã O

D E SEN TID O S

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Fátima VasconcelosrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA1

"O bicho alfabeto tem vinte e três patas ou Quase". por onde ele passa nascem palavras e frases

com frases se fazem asas palavras o vento leve

o bicho alfabeto passa fica o Que não se escreve"

PAULO LEM INSKY

Resumo

I

BCH-UFC

I

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E s t e t r a b a l h o p r e t e n d e e x p l o r a r a s r e l a ç õ e s e n t r e j o g o e l i n g u a g e m a p a r t i r d a a r t i c u l a ç ã o d a a b o r d a g e m b a k h t i n i a n a d a l i n g u a g e m c o m a a b o r d a g e m p s i c o g e n é t i c a d o d e s e n v o l v i m e n t o . A p a r t i r d a s c o n t r i b u i ç õ e s d e V YC O T S K Y, P I A C E T . W A L L O N e W I N N / C O T T . n a p s i -c o l o g i a , e d e W I T T C E N S T E l N e B A K H T l N . n a fi l o s o fi a d a l i n g u a g e m , p r o c u r o u - s e d e s t a c a r o s a s p e c t o s c o m u n s Q u e p e r m i t i s s e m p e n s a r o j o g o e a l i n g u a g e m p a r a a l é m d e u m a s i m p l e s a n a l o g i a , m a s Q u e p e r m i t i s s e c h e g a r à s i n t e r / à c e s d a s d u a s n o ç õ e s . A o m e s m o t e m p o e m Q u e s e d i fe r e n c i a m r a d i c a l m e n t e n o Q u e s e r e fe r e a os u p o r t e Q u e u t i l i z a m , à n a t u r e z a d o s s i g n i fi c a n t e s e a o l u g a r Q u e o c u -p a m n o d e s e n v o l v i m e n t o , a s n o ç õ e s d e j o g o e l i n g u a g e m p o d e m s e r a p r o x i m a d a s e n o u s n t o p r o c e s s o s d e s i g n i fi c a -ç ã o Q u e a t e s t a m o fluxoc r i a t i v o e n t r e o m u n d o e x t e r n o e i n t e r n o .Ép o r o u e t a i s n o ç õ e s , s o u i , s ã o e n t e n d i d a s n e s t e m o d o d e fu n c i o n a m e n t o Q u e d e t e r m i n a d a s c o n c e p ç õ e s d e l i n g u a g e m p r e c i s a m s e r i n v o c a d a s p a r a d a r c o n t a d a a r t i c u l a ç ã o p r e t e n d i d a . A p o l i s s e m i a d a n o ç ã o d e j o g o p o d e , a s s i m , e m e r g i r n o â m b i t o d e s t a d i s c u s s ã o d e m o d o a m e l h o r c i r c u n s c r e v e r a s p o s s i b i l i d a d e s d o s e u u s o n o c o n t e x t o e d u c a t i v o .

Palavras chaves: jogo. linguagem. significação. interação e contexto

Pn:lI(:SS(JIQ do Departam ento de Estudos Especlalizados da FACED-Ed cação, prof. do Program a de Pós-Graduação

_ E- • Cal c@ ufc.br

Abstract:

Game and Language:

An exercise

of

construction

of meanings

T h i ss t u d y e x a m i n e s t h e r e l a t i o n s h i p b e t w e e n g a m e s a n d l a n g u a g e fr o m B a k h t i n ' s n o t i o n s o f l a n g u a g e w i t h a p ~ c h o g e l 1 e t i c I r e a t m e n t o / d e v e l o p m e n t . F r o m l ( y g o t a k y .

P i a g e t . W a / / o n a n d W i n n i c o t t 5 c o n t r i b u t i o n s i n t h e fi e l d o f p ~ c h o l o g y . a n d W i t t g e n s t e i n a n d B a k h t i n i n t h e fi e l d o ft h e p h i l o s o p l ! y o fl a n g u a g e . o n e l r i e d t os t r e s s c o m m o n

s s p e c t s w h i c h p e r m i t t e d o n e t o t r e a t g a m e s a n d l a n g u a g e a s m o r e t h a n a n a n a l o g y a n d a r r i v e a t t h e i n t e r / à c e o f t h e t w o n o t i o n s . D e s p i t e t h e / à c t t h a t t h e s e a r e r a d i c a l d i t t e r e n c e s c o n c e r n i n g t h e n a t u r e t h e y o c c u p . y i n d e v e l o p m e n t t h e n o t i o n s o f g a m e s a n d l a n g u a g e c a n b e b r o u g h l d o s e r i n l h e c r e a t i v e I l o w b e t w e e n t h e o u t s i d e a n d i n s i d e w o r l d . T h e r e fo r e c e r t a i n c o n c e p t i o n s o f l a n g u a g e h a v e 10 b e i n v o k e d i f o n e i s t o a r r i v e a t t h e i n t e n d e d j o i n t a r t i c u l a t i o n .

K ey-w ords:game. language.meaning.interaction.context

Jogo e Realidade:

uma relação

complementar

Quem pode se dar ao luxo de observar

crian-ças oue brincam. ou tiver o privilégio de ser

convida-do a participar de suas brincadeiras. ficará fascinaconvida-do

com o poder de mobilização desta atividade. Seu

único objetivo aparente é o autodeleite. mas a

inter-rupção. mesmo Quando a brincadeira já foi repetida

inúmeras vezes. é recebida pelas crianças com

pro-testos. como se houvesse um objetivo oculto Que

exigisse ser cumprido.

Outro aspecto Que chama a atenção é a

ne-cessidade de negociações sobre Quem vai brincar. em

Que posição. como e com oue regras. mesmo num

jogo muito conhecido como a amarelinha. por

exem-plo. ou a brincadeira de bonecas.

O entendimento ou não resultante destas

negoci-ações afetam o desenvolvimento posterior da atividade.

Ainda Que tenha a marca de atividade cultural

milenar. a brincadeira infantil só recentemente tem

merecido atenção acadêmica.

Se a consciência de algo assinala sua morte.

como afirmou o existencialismo a propósito da

(2)

iência do sujeito. somos tentados a pensar Que o

~ eresse pela brincadeira infantil como objeto de

udo surge a partir do momento em QUe cada vez

reduz mais o espaço social reservado a esta

ativi-- de no Que ela tem de essencialmente definidor. ou

seja. seu caráter de atividade "livre". Para Wallon

1981). esta liberdade define-se pela consciência de

srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAbtração momentânea da realidade e pela ausência e finalidade externa.

Mas hoje. num mundo em ritmo de

desenvolvi-ento acelerado e globalizado. as crianças. ainda

be-oês. ingressam muito cedo no ambiente escolar. Se.

'JOrum lado. a escolarízação precoce favorece inúme-edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

r o s aspectos do desenvolvimento. por outro. este

arn-ienteé marcado por urgências QUerestringem a livre

niciativa da criança. uma vez Que todas as atividades

estão sob controle de terceiros. os ouaís

estabelece-rarn previamente finalidades para as mesmas.

Do mesmo modo a massiva programação de

TV induz ou transforma. em alguma medida. a brin-cadeira num espaço virtual onde aouelas negociações.

anteriormente citadas. estão ausentes.

Na Qualidade de responsável pela formação

e educadores infantis e porque ainda gosto muito~

e brincar é Que reconheço Que refletir sobre a brin-cadeira é se interrogar sobre o sentido de nossas

ções enouanto formadores. sentido este Que se

constrói sobretudo pelo modo como essas ações

são produzidas.

A ação de ler um livro tem um sentido Quando

é uma obrigação (atender uma exigência do profes-sor. se preparar para um exame. concorrer com os

colegas ete.) e Quando decorre da própria iniciativa

do sujeito escolar (para passar o tempo. curiosidade

or um tema. hábito ete.). Isso vale para a

brincadei-ra igualmente.

Mais Que a ação em si. o seu modo de

pro-dução diferencia os efeitos Que ela produz. Claro

ue. mesmo numa atividade dirigida. a criança

apren-de muitas coisas. como a se eoullibrar, estabelecer

relações lógicas. a compartir ete. mas não tem o

mesmo sentido ter sido levado a essas

aprcndíza-eens pela necessidade de ajustar seus propósitos

aos objetos. aos parceiros e às suas próprias

neces-sidades e interesses.

Neste aspecto. mesmo sendo uma atividade

própria da cultura infantil (segundo Leontiev (I 988). é

aa t i v i d a d e p r i n c i p a l d a criança pequena). a brincadei-ra nos interessa enouanto uma atividade Que

compor-ta uma linguagem. ou seja. a possibilidade de significar.

Fazer aaproximação entre linguagem e brin-cadeira é o objetivo deste ensaio.

Considerando QUe estes termos não recebem

definições unívocas. inicialmente apresentarei as

con-cepções defendidas neste texto.

O termo brincadeira deverá ser distinguido de bnnouedo. Este último é o suporte material sobre o

Qual se sustenta a ação de brincar. Esta relação não

é. entretanto. puramente instrumental. pois o

brin-ouedo tem uma semiose complexa. Brougêre ( 1995)

o define como um o b j e t o e x t r e m o . O QUe ele Quer dizer com isto é Que o brinquedo é u m s í m b o l o e m

t r ê s d i m e n s õ e s ou. dito de outro modo. uma repre-sentação com volume.

O autor distingue em todo objeto material va-lor simbólico e função. Uma BMW é um objeto

ma-terial (carro) e como tal tem uma função. Sua

instrumentalidade é servir para conduzir. mas é

ine-gável Que a esta função é agregado um valor

simbó-lico. os t a t u s d e Quem o possui. pelo preço e rabalho midiático QUeacompanha a circulação deste bem. Por

outro lado. embora uma tela de A1demir lartins possa

servir como investimento flnancetro.? nes e obje o o

valor simbólico se sobrepõe à função. pos o QUeem

primeira instância é o processo de elaboração

criati-va Que lhe dá sentido. Teríamos assim. um contínuo

Que iria de um objeto de valor funcional ou utilitário

máximo e valor simbólico mínimo até um objeto de

valor simbólico máximo e valor funcional mínimo.

Quanto ao brinquedo. a função consiste no

próprio símbolo. Uma boneca serve para

represen-tar um bebê. uma mulher. ete. Embora oualouer

ob-jeto tridimensional possa servir de suporte físico para

2A obra de arte. conforme o crescente reconhecimento do artista.

adouire maior valor monetário no mercado de artes.

(3)

uma brincadeira. orqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAbríncuedo. aouele especialmente produzido para o uso da criança. a despeito de sua

necessária material idade. é apenas um fornecedor de

representações manipuláveis. ou seja. um artifício de

construção de sentidos.

Com seu valor expressivo. o brincuedo

es-timula a brincadeira ao abrir possibilidades de ações

coerentes com a representação. Pelo fato de

re-presentar um bebê. uma boneca-bebê desperta

atos de carinho e de cuidados ligados à

rnater-nagem. Porém. não existe no brinouedo Uma

fun-ção de maternagem. há uma representação Que

convida a essa atividade num fundo de

significa-ção (bebê) dada ao objeto num meio social de

referência (BROUGERE. 1995. p. 15-16).

A brincadeira. por sua vez. também é uma

ativi-dade cuja complexiativi-dade nem sempre pode ser

perce-bida a olho nu. Para Vigotsky. o brincar é uma atividade

paradoxal. na medida em Que "a criança opera com

um significado alienado numa situação real" (Vygotsky.

1989. p. 1 13). Permite assim a possibilidade de

dis-tinção entre significante e significado. aoutlo Que é

necessário para Que um objeto (lençol) possa perder

sua função real (objeto de cama) para assumir um

va-lor simbólico ou ficcional (fantasma).

Ela é assim um compromisso entre o real e a

fantasia. pois. mesmo QUealtere o significado do

obje-to. seus traços de realidade devem ser levados em conta

para Que a atividade alcance condições de realização.

Uma agulha. por exemplo. não serve como suporte

para brincadeira de fantasma. uma vez QUenão

permi-te o exercício da ação para representá-lo. Nespermi-te caso.

a criança pode preferir optar por usar a voz como

su-porte maisadeouado. Ainda assim. o real é

convoca-do (a voz é real). seu significaconvoca-do é QUeé fictício.PONMLKJIHGFEDCBA

ygotsky: contribuições para um debate

ções estão na base da diver-deira entre Vygotsky

Piaget postula Que a brincadeira é uma atividade

essencialmente assimilativa eenquanto tal deformadora do real. Logo. atribui excessivaênfase à fantasia em

de-trimento da realidade. Vygotsky. ao contrário. detecta

uma tensão dialética entre o real e o imaginário QUe

permite uma ínteração entre essas duas realidades

dis-tintas Que ultrapassa o plano das oposições.

No entanto. embora Piaget enfatize a

dimen-são imaginária. considera o exercício motor como

conduta de jogO.3 num estágio do desenvolvimento

em QUea função simbólica ainda não está constituída.

Encontramos aout uma fllíação do autor à

teo-ria da recapitulação. Que postula uma relação entre

ontogênese e filogênese em Que a primeira repetiria

a segunda. A consciência da criança Que joga

asse-melhar-se-ia à consciência mágica do primitivo.

Esta idéia está na base do pensamento

educa-cional dos educadores românticos como Rousseau.

cu]a influência no pensamento de Piaget já foi

apon-tada por Freitag (1991) na obra intitulada "Piaget e a

Filosofia". Para Rousseau. a infância representa o

es-tágio natural da humanidade e. como tal. eses-tágio

idí-lico de harmonia do homem com a natureza. ainda

intocada pela injunções da cultura.

Na ciência. a matriz teórica desse pensamento

é o evolucionismo de tipo darwiniano. Deste ponto de

vista. o jogo aparece como uma conduta espontânea.

análoga às condutas exploratórias dos animais. Ainda

Que Piaget recuse toda e oualouer idéia inatista. sua

epistemologia prevê um paralelismo entre a filogênese

e a ontogênese só possível numa perspectiva QUeabrace

a tese de uma continuidade entre o desenvolvimento

biológico e cultural. Daí poroue o jogo de exercício é colocado no mesmo patamar do jogo simbólico.

Para Vygotsky. ao contrário. é poroue ainda se pode observar uma certa analogia entre o

com-portamento animal e o humano em crianças de

ten-ra idade Que não podemos chamar sua conduta de

jogo. uma vez Que este. enouanto definido por uma dimensão simbólica intencional. tem origem no

Jotermo jogo. embora comporte múltiplas significações. neste

(4)

: bito da cultura e como tal representa uma fun-rqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ~âo psicológica superior.

Devemos lembrar. porém. Que a perspectiva

_ gotskyana rejeita toda idéia de infância como um

tado natural. posto Que desde o início o

desenvol-mento da criança resulta de sua inserção num meio

ial. O sujeito é assim geneticamente social.

Podemos. a partir dessas considerações.

aflr-r Que. mais Q!Jeas ações. o significado das mesmas

: nstitui o brincar e. portanto. eentrar nosso foco

so-re os modos de significação. O brincar define-se

as-como um processo de representação simbólica e.

este sentido. estrutura-se como uma "linguagem".PONMLKJIHGFEDCBA

innicott X W ittgenstein: O

central idade

do

ção de jogo

A partir das idéias de Winiccott tentarei uma

apro-mação com a abordagem wittgensteiniana da linguagem.

Comungam com a concepção rygotskyana de

go alguns autores psicanalistas. como Winnicott

1975). o Qual postula a existência de uma área

ín-.errnediária entre o objetivo e o subjetivo (espaço

cansictonal) no desenvolvimento da personalidade,

paço este dentro do Qual estaria o jogo.

Winnicott coloca o jogo não mais como

obje-da interpretação. mas como o próprio trabalho de

álise. de modo Que a interpretação passa a ser um

e emento do jogo.

Compreendendo Que a saúde mental significa a

oossíbílídadc de um trânsito de mão dupla entre

fanta-e rfanta-ealidadfanta-e. fanta-estfanta-e autor concfanta-ebfanta-e fanta-estfanta-e dinamismo como

_ . idade lúdica. destacando a dimensão de diálogo

en-ore as instâncias como mais importante Que oualouer

relação estável Que se possa estabelecer entre elas.

Embora tratando do tema em referência aos

roblemas da filosofia da linguagem. inversão

serne-ante vai ser operada por Wittgenstein (1984).

ouan-o prouan-ocura encontrar o significado daquilo Que

enominamos jogo. Ao procurar na realidade

objetí-'â uma unidade Q!Jese sujeite a esta denominação.

só encontra dlsparídades Que resistem a cualouer

cri-tério de classificação. Assim sendo. conclui Que as

relações entre as diversas realidades chamadas jogo

são do tipo relações de família. ou seja. elementos

completamente diferentes estão agrupados por uma

relação de atribuição tal Qual o nome de família.

A intuição wittgensteiniana éde Que o significa-do das palavras não pode ser encontrasignifica-do fora significa-do seu

contexto de uso. Em outras palavras. a linguagem

con-forma-se ao contexto prático em Que ocorre. isto é.

linguagem e práxis formam uma unidade. Neste

senti-do. a própria linguagem é definida como um jogo de

cujo funcionamento resulta a significação. logo de

lin-guagem é então cada sistema de significação

(conjun-to de regras) ligado a um contex(conjun-to (modo de vida).

Vê-se então Que jogo passa a ser o paradigma

a partir do Qual se compreende o funcionamento da

linguagem. entendida como interação. Este termo.

tão usual em psicologia. merece. aouí. algumas

con-siderações na medida Q!Jenão se confunde com

rela-ção interpessoal apenas. Trata-se de uma ínterarela-ção

regrada por normas intersubjetivamente validadas.

estabeleci das no convívio de uns com os outros.

Estas regras se distinguem das regras gramaticais

concebidas nos moldes da lingüística tradicional. ou seja.

como conexões simbólicas. poroue só são íntelígfvets

no contexto da ínteração. Isto significa Q!Jesó

aprende-mos a significação de uma palavra ouando aprendeaprende-mos

a operar com elas no jogo comunicativo leva do em

conta as finalidades da ação lingüística. Quando suas

regras de emprego prático estão internaJizadas.

Encontramos em Wittgenstein

uma

irn rsão

aná-loga àouela realizada por Winnicott no Q!Jese refereà

centralidade Q!Jea noção de jogo passa a er no Que

concerne à linguagem eà psicanálise respectivamente.

B akhtin: linguagem com o fenôm eno dialógico

As considerações precedentes apontam para o

caráter heurístico da noção de jogo e permite pensar uma

possibilidade de articulação teórica entre jogo e

lingua-gem. Comparar jogo e linguagem reouer; no entanto. uma

reflexão sobre a própria noção de linguagem.

(5)

Qualquer Que seja a noção de linguagem

ado-tada. ela é produtiva para pensar a relação jogo e

linguagem? Certamente Que não.

lulgo Que do ponto de vista estrutural jogo e

linguagem se diferenciam substancialmente. Mas. uma

concepção de linguagem Que dê conta da linguagem

não como estado e sim como acontecimento pode

revelar pontos de articulação Que torne produtiva a

aproximação entre as noções de jogo e linguagem.

Esse é o caso da noção bakthiniana de linguagem

Que será apresentada brevemente.

As idéias de Wittgenstein estão mais

explicita-mente desenvolvidas no trabalho de Austin (1990)

sobre a Teoria dos atos de fala. Seu postulado básico

é QUetodo dizer é um fazer. ou seja. significar é

rea-lizar uma ação.

Essa concepção recupera a dimensão

pragmá-tica da linguagem. o seu poder de mobilizar ações a

partir dos efeitos de sentido. Assim é Que dizer QUe

o tempo está QUente pode ser um mesmo texto para

diferentes atos de fala a depender dos contextos

situacionais e institucionais onde eles se realizam e

dos sujeitos envolvidos. Por exemplo. se estamos

numa ante-sala de consulta isso pode produzir o efeito

de sentido de pedido para ligar o ar-condicionado

ou abrir uma janela. Na beira de uma piscina. entre

interlocutores com pouca familiaridade. pode ser um

convite para entrar na água e assim por diante.

Mas é Bakhtin Que. ao tomar a categoria da

interação verbal como unidade de análise do

fenô-meno lingüístico. impõe uma inflexão mais radical às

teorias lingüísticas.

Para o autor. arqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAínteração verbal empresta um caráter dialógico a toda enunciação. Este termo

sur-ge em lingüística para distinguir a frase. unidade

for-mal do sistema da língua estruturada pelos princípios

da gramática. do enunciado. manifestação concreta

de uma frase em situação de interlocução. Sendo

assim. para se compreender o sentido. é preciso ir

ais além. isto é. levar em conta igualmente a

~ íação. o evento de emissão de um enunciado e e lugar determinado. com vistas a um

oo;et.n,'O

o de m Quadro referencial de

rela-ções sociais dadas. posto QUe estas condirela-ções são

constitutivas do sentido.

Na verdade. a significação pertence a uma palavra enquanto traço de união entre os interlocutores. isto é. ela só se realiza no pro-cesso de compreensão ativa e responsiva. A sig-nificação não está na palavra nem na alma do falante. assim como não está na alma do interlocutor. Ela é o efeito da interação do locu-tor e do receplocu-tor produzido através do material de um determinado complexo sonoro. É como uma faísca elétrica Que só se produz Quando há contato dos dois pólos opostos. ( ) Só a cor-rente da comunicação verbal fornece à palavra a luz da sua significação (BAKHTIN. 1981: 132).

As relações dia lógicas não são

necessariamen-te factuais. mas relações de sentido. cujos

enuncia-dos pressupõem aoueles Que os antecederam e toenuncia-dos

os Que os sucederão. Ao escrever este texto estou

neste tipo de relação. fazendo apelo a outros ditos

acerca do tema. o QUese manifesta pelas referências

a autores e textos. e ao mesmo tempo abrindo

possi-bilidades de outros ditos subseoüentes, tais como objeções. novas articulações. etc., alguns dos ouals

supostos nesta escritura. Sua compreensão. no

en-tanto. está sujeita ao trabalho de projeção do leitor e

de suas referências sobre este dito.

Esta idéia está melhor desenvolvida no

con-ceito de polifonia. O termo designa o fenômeno pelo

Qual. num mesmo texto. fazem-se presentes

diferen-tes vozes ou intenções Que negociam o sentido do

texto com o locutor. inserindo-o assim no fluxo

con-tínuo da comunicação. Neste sentido. a noção de

"fluxo contínuo da comunicação" pressupõe Que a

língua é uma tarefa inacabada. posto Que é

incessan-temente refeita pelo trabalho dos falantes.

Para o QUe nos interessa. o aspecto a reter

destas considerações é Que a concepção estrutural

da língua é insuficiente para apreender os fenômenos

lingüísticos. apreensíveis apenas no Quadro da

dialogicidade dos seus processos constitutivos. isto

é. nos contextos situacionais em Que ocorre.

(6)

90 e linguagem:

uma tentativa de aproximação

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Este itinerário tem interesse para nós

educa-resrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà medida QUe. neste trabalho. pretendo tarn-êrn traçar uma homologia entre linguagem e jogo.

endo QUeo foco de minhas reflexões é o jogo. mais

cíflcarnente o jogo infantil (a brincadeira). Para

• tomarei de empréstimo as reflexões acerca da

te-'a da linguagem. particularmente aouelas levadas a

reito pelos autores fllíados aos-pressupostos

sócio-- tóricos. para traçar uma compreensão da brincasócio--

brinca-- ira enouanto linguagem.

A tese Que procuro sustentar neste trabalho éa - QUea brincadeira é tão somente uma forma de

lin-gemo Esta tese é mais ou menos defendida pelos es udiosos da psicologia infantil. citados neste texto.

:: tretanto. nem sempre está claramente explicitada a

ncepção de linguagem QUese está invocando e nem

sempre aparece uma rigorosa análise conceitual do

go. Esteéum aspecto apontado por Brougêre como ..•ma falha teórica da Psicologia ao tratar do jogo. uma

ez QUe.a exceção de Wallon. nenhum teórico QUeo

ecedeu tomou a sério a tarefa de proceder a uma

'gorosa análise conceitual do termo.

Quando se fala de jogo. trata-se em geral da palavra utilizada na linguagem comum. 'Jogo' não é um conceito construído do interior da psicologia. Os textos mais importantes remetemà experiência cotidiana do leitor. em Que cada um supostamente sabe o Queé um jogo. A psicologia usa uma noção trabalhada pela sociedade. pela língua. freoüen-temente sem críticas. Wallon já nos dizia isso. Piaget apresenta as evidências Que permitem a cada um saber. face ao comportamento da criança. Que se trata de jogo. Em La formation du symbole chez

l'eníant (1976). ele tenta elaborar uma explicação psicológica. até mesmo biológica. do jogo masnem por isso estabelece um conceito de jogo. O jogo aparece como um comportamento reconhecível. decifrado facilmente a partir da mímica. do riso da criança. e Piaget se atribui a tarefa de explícá-lo. Ele não ouestiona os ouadros do pensamento co-mum Q!.Iedetermina a percepção do próprio fenô-meno" (BROUGERE.1998. p. 24).

Aparece então em Wal\on e Vygotsky a

dimen-são Simbólica da atividade lúdica e a dinâmica das

oposições motivadoras do desenvolvimento. Quer seja

entre o real e o ficcíonal. Quer seja entre o desejo e

sua realização. como aspectos centrais e

aproximati-vos das duas concepções.

Quanto à articulação entre jogo e linguagem. é possível encontrar uma aproximação entre os dois

autores acima citados e Bakhtin no Que se refere aos

pressupostos teóricos. uma vez Que postulam uma

unidade dialética entre práxís e consciência.

Vygotsky. ao postular uma relação entre o uso

de instrumentos e a atividade psíoulca superior.

ul-trapassa os limites de uma analogia para se inscrever

no plano ontológico.

Wallon. ao esboçar a tese da relação entre o ato

motor e o pensamento. postula QUe as reações

pura-mente fisiológicas transformam-se em meios de

expres-são graças ao caráter geneticamente social das interaçães

de QUeo bebê participa desde o nascimento .

Os gestos de slmbolização. de Que o si-mulacro (jogo) é o exemplo mais concreto. po-dem facilmente contribuir. na medida em Que perdem a sua semelhança imediata com a ação ou objeto. para levar a imagem e a idéia ara além das próprias coisas. para um plano mental em Quese possam formular relações menos indi-viduais. menos subjetivas e cada 'ez ais erais (Wallon. 1981: 182).

Bakhtin. rejeitando a concepção "subjetívísta

individualista" de linguagem. écategórico ao afirmar:

Não é a atividade mental Que organiza a expressão. mas. ao contrário. é a expressão Q!.Ie organiza a atividade mental. Que a modela e de-termina sua orientação (Bakhtin. 1995: 1 12).

Em síntese. os autores citados têm em comum

a interação como categoria determinante do

proces-so simbólico.

Resta. no entanto. tecer algumas

considera-ções sobre a natureza do Que estamos a chamar de

(7)

processo simbólico antes de estabelecermos os

pa-ralelos com a brincadeira infantil.

O Que define o processo simbólico é a

possi-bilidade de gerar significação. A significação supõe,

por sua vez, um processo mediador entre significante

(expressão) e significado (conteúdo) do oual resulta

o signo. Embora o campo nocional do signo seja

bas-tante vasto (vai do sinal. passando pelo índice, ícone,

alegoria, até o símbolo) vamos nos aterrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà semiose do signo verbal. posto Q!.Jea interlocução Que ora

em-preendemos é com a lingüística.

O critério definidor do signo lingüístico é a

dupla articulação. A primeira articulação é entre as

unidades significativas (os conceitos) e a segunda

entre as unidades distintivas do sistema (fonemas).

Porém, conforme Saussure, isto não ouer dizer Que

a significação aproxima apenas dois termos

unilate-rais, pois o significante e o significado são, ao

mes-mo tempo,edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAt e r m o e r e l a ç ã o e esta relação não é de identidade mas de eouívalêncía. Para Que haja

sig-no é preciso, por um lado, permutar coisas

diferen-tes e, por outro lado, comparar coisas similares. Ao

falarmos "casa" estamos permutando um conceito

(significado) por uma palavra (significante). Mas, é

possível estabelecer também um liarns cornparatívo

entre duas ou mais palavras (casa, lar, habitação ete.)

bem como entre conceitos (estabelecimento

residencial, estabelecimento comercial, casa,

edifí-cio, chácara ete.).

Esse é um processo análogo àouele observa-do na economia. Trocam-se R$ 5 , 0 0 por sabão mas

também pode-se trocar R$I 0,00 por duas notas de

R$S ,00 ou sabão por oualouer outra mercadoria. Todo signo possui assim significação e valor.

A ligação entre expressão e conteúdo é

contratual em seu princípio mas se torna necessária

enquanto inscrita na ternporalídade. ou seja, enouanto

coletivamente construída.

Utilizando estas categorias, podemos fazer uma

leitura do brínouedo e da brincadeira de modo a

en-contrar homologias, e também diferenças, Que nos

autorizam a tomar tais termos como realidades do

âmbi o da linguagem.

Gestos e objetos podem ser comparáveis

en-Quanto possuindo a função de mediadores de uma

determinada significação (o lençol ou a voz podem.

ser o suporte significante do significado "fantasma").

O brinouedo pode ser tomado como

signi-flcante. posto Que enquanto signo se diferencia

da-Quilo Que ouer representar (uma boneca não é um

bebê), embora se diferencie do signo verbalporouanto

é uma representação analógica. Ainda assim, todos

os brinouedos conservam uma relação de

substitui-ção (valor de troca). Podemos comparar brinouedos

e brincadeiras entre si mesmo Q!.Jese refiram a

ativi-dades muito diversas. Esta sincronia é definida pela

intervenção da "função do real" pois o Que faz

brin-ouedos e brincadeiras comparáveis é o fato de todos eles representarem uma instância fora do real. Este

parece ser o componente contratual da significação

presente na atividade lúdíca.

Entretanto, não éoualouer teoria de linguagem

Q!.Jepode dar conta desta homologia. Se a língua for

pensada numa perspectiva estrutural, essa

compara-ção terá um caráter apenas metafórico. Mas, se a

língua for pensada não como um sistema formal

dis-ponível aos usuários e sim como um fenômeno

es-sencialmente interativo e como tal dinâmico, então é

possível encontrar mais Que uma comparação

meta-fórica e descobrir o liame ontológico Que une língua

e brincadeira.

Assim como nos processos enunciativos, o

sujei-to, sob o efeito das condições de produção do discurso,

é impelido a expressar essesefeitos sob uma

determina-da forma lingüística, na brincadeira a ação externa

con-duz o processo interno, visto Quea escolha de um objeto

para representar algo envolve uma certa manipulação

manual ou visual acompanhada de um esforço para

apli-carà ação realizada com este objeto as regras de ade-ouação aos propósitos pretendidos.

Dito de outro modo, cada palavra, cada

brínoue-do ou ação,enouanto objeto semiótico, possui

oualída-des polissêmicas, ou seja, pode significar uma coisa ou

outra conforme o contexto assim o determine.

Frêdêríc François (1996), à propósito das idéias

de Wittingenstein, sugere Q!.Jese pense a língua como

(8)

_oar de deslizes de sentido e não como uma

máouí-estrutural. É neste sentido Que Brougere afirma

...e o brinouedo constitui uma cadeia de

representa-;ães mutantes, pois uma boneca, como a Barble. por

~ emplo, pode num momento ser uma "perua",

nou-uma faxineira, noutro um bebê ou noutro um avião,

da Que sua representação convide a um

determi-do sentidetermi-do. Esta perspectiva se contrapõe,

certa-~ente, ao logicismo piagetiano oue vê na simbologia

o jogo uma deformação do real substituída, ao

lon-o dlon-o desenvlon-olvimentlon-o, pellon-os prlon-ocesslon-os de imitaçãlon-o.

De Quatro a sete anos, em média, os jo-gos simbólicos, de Que acabamos de descrever as principais formas em seu período de apogeu, começam a declinar. Isto não é, sem dúvida, por-Que diminuem em número, nem sobretudo em

intensidaderqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAafetiva. mas, aproximando-se mais do real. o símbolo acaba perdendo seu caráter de

deformação lúdica para se aproximar de uma sim-ples representação imitativa da realidade (PIAGET, 1978, p. 175)

Frêdêríc Françoís, ao se perguntar: "edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAC e r t a m e n t e

e x i s t e o ' r e a l ' . M a s , d e v e m o s r e p r e s e n t a r o s p r o g r e s

-s o -s d a c r i a n ç a c o m o u n i c a m e n t e l i g a d o -s àc a p a c i d a

-d e -d e r e p r e s e n t a r o r e a l ? ' , 1996, pg. 64) e, ao responder negativamente, elabora uma das mais

per-inentes críticas ao essencialismo piagetiano.

Podemos pensar Que uma das contribuições

do estudo sobre a brincadeira infantil. na perspectiva

adotada neste trabalho, seja o de fazer ecoar essa

pergunta entre os educadores, tão preocupados em

alcançar a mais fiel tradução metodológica de Piaget.

Distinguir "play" de "game" é um outro modo de se colocar a mesma Questão, porouanto "play"

refe-re-se ao espaço potencial do brincar, enquanto "game"

a um tipo de conduta submetida a um conjunto mais ou

menos restrito de regras Que a identificam. Este último é

mais identificado com condutas adaptativas, enouanto

o primeiro com aouelas mais fantasiosas.

A partir das idéias de Frédéric Françoís.

po-demos afirmar Que, enouanto algo em

funcionamen-to, tanto a linguagem Quanto o jogo são fenômenos

EDUCAÇÃD EM DEBATE

"transíclonaís" , cujo sentido escapa a uma

delimi-tação precisa, uma vez oue têm a "fragilidade" como

característica comum. Isto Quer dizer Que tanto a

brincadeira como a linguagem verbal podem

degra-dar-se no trajeto de circulação de sentidos. A

lin-guagem pode adculrlr uma dimensão poética, por

exemplo, ou assumir uma fórmula vazia como numa

correspondência oficial. Quanto ao jogo, pode

tor-nar-se aborrecimento, imposição ou horror, como

nas competições esportivas ou em jogos

preteri-samente educativos.

Neste ponto, vale destacar Que o componente

afetivo-volitivo é inseparável destas atividades e

con-tribui para os deslizamentos de sentido agora

referi-dos, pois subjazern a estas atividades desejo, emoções,

necessidades e interesses, de modo oue a

compreen-são resulta de uma articulação entre a palavra ou ação

e o contexto extraverbal em Que a lnteração ocorre.

Ação e palavra se põem agora não apenas em

relação de anterioridade, uma em relação a outra,

mas de complementariedade necessáriaà

compreen-são do sentido, em oualouer dos casos. Palavra

apoi-ando a ação no jogo, antecipapoi-ando, classificapoi-ando ou

organizando a ação. Por outro lado, o gesto, ou om

emocional da voz pode definir o sentido de uma

mesma palavra em diferentes momentos.

A situação e o auditório obrigam o iscurso interior a realizar-seem uma expressão eríor de-finida, QUese insere diretamente no coneco ão

verbalizado da vida corrente. e nele se amplia pela ação, pelo gesto ou pela resposta mal dos outros participantesnasituaçãode e nciação. Uma ues-tão completa, a exclamação.a or em. o pedido são enunciaçõescompletas ti ica.sda 'da corrente. To-das (particularmente as ordens. os pedidos) exigem um complemen o extra erbal assimcomo um início não verbal. Essestipos de discursos menores da vida cotidiana são modelados pela fricção da pala-vra contra o meio extraverbale contra a palapala-vra do outro (BAKHTI , 1995, pg.125)

Certamente a brincadeira guarda

especifí-cidades em relação ao tipo de simbolismo presente

na linguagem verbal. a mais importante das ouaís

tal-"'~

FORTALEZA

(9)

vez seja a de não permitir algo da ordem da lingua-gem interior. A brincadeira exige uma ação aberta ou um suporte material externo. Em geral não se sub-mete a ensaio. uma vez Que seu desenvolvimento está sujeito ao inusitado. Contudo. estes componentes. inclusive o inusitado. só podem emergir mediante uma linguagem Que os tornem passíveis de serem capta-dos enouanto tais. Sendo assim. esse aspecto é rele-vante ao se tentar uma aproximação entre os dois termos. Por fim. é necessário considerar outras pos-sibilidades de relação. para além da perspectiva psicogenética. Que coloca a brincadeira como uma

etapa preliminarrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà conouísta do simbolismo verbal. Por fim. é possível pensar a relação intertextual

entre as semioses do jogo e das formas de lingua-gem verbal. mas este é um tema cue reouer um maior aprofundamento.

A tentativa de articulação entre as noções de jogo e linguagem empreendida até aoul põe em re-alce aspectos comuns aos dois processos. um dos ouais a primazia do sentido sobre a ação impõe uma atitude no mínimo de prudência. ao se utilizar o jogo em contexto educativo para Que. a exemplo do Q1.leacontece com a linguagem na escola. o jogo não se torne degradado e divorciado da prática so-cial Que lhe dá sentido.

Assim como a linguagem. o espaço de jogo é. sobretudo. o espaço simbólico. espaço esse consti-tuído por um fino trabalho imaginativo sobre a maté-ria prima da realidade. Toda ríoueza do brincar está na instabilidade desse processo. instabilidade Que decorre da dependência do situacional. o Que impe-de Que sejam previamente fixadas as possibilidades de sentido. Ao cue assistimos. ao observarmos um ambiente escolar. é Que mesmo Que a escola

assegu-re umedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAp / ~ g r o u n d para brincadeiras de correr. espa-ço para jogos de mesa e até cantinho de faz-de-con-ta. as crianças brincam de faz-de-conta nop / ~ g r o u n d .

constroem estruturas tridimensionais com as peças do dominó e organizam uma corrida a partir do can-tinho de faz-de-conta. Este dado sugere Que a brin-cadeira é uma atividade Que resiste a normatização. o Q1.lese manifesta na liberdade de instaurar sentidos

arbitrários e nisso reside a sua maior oualídade.PONMLKJIHGFEDCBA

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Referências

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