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A isenção do imposto de importação para remessas postais conforme disposto no decretolei nº 1.80480 à luz do princípio da legalidade

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

LUCAS ARAÚJO DA COSTA

A ISENÇÃO DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO PARA REMESSAS POSTAIS CONFORME DISPOSTO NO DECRETO-LEI Nº 1.804/80 À LUZ DO PRINCÍPIO DA

LEGALIDADE

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LUCAS ARAÚJO DA COSTA

A ISENÇÃO DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO PARA REMESSAS POSTAIS CONFORME DISPOSTO NO DECRETO-LEI Nº 1.804/80 À LUZ DO PRINCÍPIO DA

LEGALIDADE

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação do Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Hugo de Brito Machado Segundo

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito

C837i Costa, Lucas Araújo da.

A isenção do imposto de importação para remessas postais conforme disposto no decreto-lei nº 1.804/80 à luz do princípio da legalidade / Lucas Araújo da Costa. – 2014.

54 f. : enc. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2014.

Área de Concentração: Direito Administrativo e Direito Tributário. Orientação: Prof. Dr. Hugo de Brito Machado Segundo.

1. Isenção tributária - Brasil. 2. Imposto de importação - Brasil. 3. Legalidade (Direito). I. Machado Segundo, Hugo de Brito (orient.). II. Universidade Federal do Ceará – Graduação em Direito. III. Título.

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LUCAS ARAÚJO DA COSTA

A ISENÇÃO DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO PARA REMESSAS POSTAIS CONFORME DISPOSTO NO DECRETO-LEI Nº 1.804/80 À LUZ DO PRINCÍPIO DA

LEGALIDADE

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação do Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Aprovado em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Hugo de Brito Machado Segundo (orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Carlos César Sousa Cintra

Universidade Federal do Ceará (UFC)

(5)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

À minha família que com conselhos inteligentes e desmedido incentivo não mediu

(6)

AGRADECIMENTOS

Este trabalho é fruto de muito esforço não apenas acadêmico, mas também de um aprendizado de vida que só poderia ter sido possível com a participação de diversas pessoas. Agradecimentos devidos, portanto:

Agradeço em primeiro lugar a Deus que iluminou o meu caminho durante esta caminhada.

Ao meu orientador, o Prof. Hugo de Brito Machado Segundo, pela paciência e dedicação dispensadas na análise do material apresentado e pelas valiosas lições dadas neste percurso acadêmico.

Aos membros da banca examinadora, pela oportunidade de expor o trabalho a notáveis docentes do Direito Tributário.

Aos meus pais e irmão, pelo amor, incentivo e apoio incondicional.

Meus agradecimentos aos amigos José Maurício, Márcio Fabrício, Pedro Guerra,

companheiros de trabalhos е irmãos na amizade.

Ao Me. Ricardo Silce, à Larissa Lima e ao Saulo Vinícius por terem me auxiliado na composição deste trabalho.

(7)

“Você precisa encontrar o que você ama

e isso vale para o seu trabalho e para seus amores. Seu trabalho irá tomar

uma grande parte da sua vida e o único meio de ficar satisfeito é fazer o que você acredita ser um grande trabalho e o único meio de se fazer um grande

trabalho é amando o que você faz.”

(8)

RESUMO

Há alguns anos, os brasileiros descobriram a facilidade de fazer compras pela internet através, principalmente, de sites estrangeiros que ganharam espaço, comercializando produtos baratos e de boa qualidade, levando-se em conta o valor das mercadorias nacionais. Os preços das mercadorias, na maioria das vezes, são mais atrativos em países como os Estados Unidos e China, devido à ausência da alta carga tributária que no Brasil incide sobre circulação e produção, por exemplo. Porém, algumas medidas devem ser adotadas, já que incide o imposto de importação na entrada do produto estrangeiro, em algumas hipóteses, mesmo que seja destinado para uso próprio. Desse modo, é importante detalhar ao máximo todas as feições que o Regime de Tributação Simplificada possui à luz da Constituição Federal de 1988. O Regime de Tributação Simplificada do Imposto de Importação, no Brasil, é aplicado para remessas postais internacionais entre pessoas físicas. No presente trabalho serão relacionadas questões sobre o RTS e suas previsões legais, com fito de revelar que hoje esse sistema não está consoante com a CF/88, sendo necessárias mudanças nas Leis, normas infralegais e práticas associadas ao referido regime de tributação.

(9)

ABSTRACT

A few years ago, Brazilians discovered the ease of shopping online, on foreign websites that gained ground, selling cheap and good quality products, taking into account the value of domestic goods. Commodity prices, in most cases, are more fascinating in countries like the United States and China, due to the absence of high taxes. In Brazil, these high taxes are applied on circulation and production, for example. However, some measures should be adopted, since the import tax levied on entry of foreign goods, in some cases, even if it is intended for personal use. Thus, it is important to detail the most of all the features that the Simplified Taxation System features based on the Federal Constitution of 1988. The Simplified Taxation System of import duty in Brazil is applied to international postal shipments between individuals. In the present work, related issues will be on the RTS and its legal provisions, with purpose to reveal that the system today is not consonant with the CF / 88.This way, changes to the laws, normative acts and practices related to that regime are necessary.

(10)

LISTA DE ABREVIATURAS

CF/88 - Constituição Federal de 1988

COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social CTN - Código Tributário Nacional

DSI - Declaração Simplificada de Importação EC - Emenda Constitucional

EMS – Express Mail Service

GATT - Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio

ICMS - Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação

II - Imposto de Importação IN - Instrução Normativa MP - Ministério Público

NTS – Nota de Tributação Simplificada

PASEP - Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público PIS - Programa de Integração Social

(11)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

1.IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

15

1.1 Importação por pessoa física e o regime de tributação simplificada

18

2. REGRA MATRIZ DE INCIDENCIA TRIBUTÁRIA

22

2.1 O antecedente da regra matriz de incidência tributária

22

2.2 O consequente da regra matriz de incidência tributária

24

2.2.1 Sujeitos da relação

24

2.2.1.1 Sujeito passivo

25

2.2.1.2 Sujeito ativo

25

2.2.2 Base de cálculo

25

2.2.3 Alíquota

27

3. PREVISÕES LEGAIS

28

3.1 O decreto-lei nº 1804/80

28

3.2 Portaria do Ministério da Fazenda nº 156/99

29

3.3 Instrução Normativa SRF nº 96/99

31

3.4. Do posicionamento da Receita Federal

32

3.5. A interpretação legislativa

34

3.6 O projeto de lei 6779/13

38

4. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA

39

5. CONCLUSÕES

47

REFERÊNCIAS

49

ANEXO 1-NOTA DE TRIBUTAÇÃO SIMPLIFICADA

51

ANEXO 2- FORMULÁRIO DE REVISÃO DE TRIBUTO E INSTRUÇÕES DE PREENCHIMENTO

52

ANEXO3- NOVO MODELO DE REVISÃO DE TRIBUTOS JÁ VALIDO E ALGUMAS AGÊNCIAS DOS CORREIOS

ANEXO 4 – EMISSSÃO DECLARAÇÃO SIMPLIFICADA DE

IMPORTAÇÃO

54

(12)

1 INTRODUÇÃO

O Estado necessita captar recursos materiais para manter sua estrutura prestando ao contribuinte os serviços decorrentes de sua responsabilidade como provedor de necessidades sociais. A maneira com que o poder público tributa os movimentos comerciais internacionais tem impactos diretos na produção nacional, razão pela qual os impostos relacionados com as exportações e as importações são tidos como eminentemente extrafiscais, ou seja, sua função primordial não é arrecadar riqueza para os cofres públicos, e sim regular uma situação de interesse jurídico e econômico.

O Imposto de Importação tem como função servir como regulador para o mercado. Por não ser um imposto fixo, sofre alteração de acordo com a situação econômica nacional, geralmente a fim de não suprimir o mercado interno, que por inúmeras vezes se encontra em desvantagem ao mercado externo por possuir preços menos.

Hugo de Brito Machado1 faz um juízo sobre a importância, especialmente, do imposto de importação no Brasil:

Se não existisse o imposto de importação, a maioria dos produtos industrializados no Brasil não teria condições de competir no mercado com seus similares produzidos em países economicamente mais desenvolvidos, onde o custo industrial é reduzido graças aos processos de racionalização da produção e ao desenvolvimento tecnológico de modo geral. Além disto, vários países subsidiam as exportações de produtos industrializados, de sorte que os seus preços ficam consideravelmente reduzidos. Assim, o imposto de importação funciona como valioso instrumento de política econômica

O presente estudo tem por objeto a análise da incidência do imposto sobre produtos importados por pessoas físicas, examinando se a cobrança do imposto em operações desta natureza está de acordo com o ordenamento jurídico, precipuamente à luz de princípios constitucionais. A existência deste trabalho se dá em virtude da importância do tema abordado, que não encontra o devido tratamento na doutrina e na jurisprudência.

(13)

Com maior acesso à internet, os brasileiros descobriram a praticidade de fazer compras no ambiente virtual. Os sites estrangeiros ganharam espaço, comercializando produtos baratos e de boa qualidade, levando-se em conta o valor das mercadorias nacionais. Os preços das mercadorias, na maioria das vezes, são mais fascinantes em países como os Estados Unidos, devido à ausência da alta carga tributária que no Brasil incide sobre circulação e produção, por exemplo.

O consumidor dispõe de uma maior variedade de bens e de uma comodidade por escolher o produto desejado sem evadir-se do meio digital, comprando o produto, pagando através de sites especializados em transações seguras ou por outros meios, ao passo que o vendedor, por sua vez, normalmente realiza uma remessa postal diretamente para o comprador.

Regulando a tributação das importações realizadas através de remessa postal internacional, o Brasil instituiu o regime de tributação simplificada através do Decreto-Lei nº 1.804, de 03 de setembro de 1980. O Regime de Tributação Simplificada (RTS) foi criado pela União com o objetivo de facilitar e simplificar essas operações de importação, instituído pelo DL 1.804/80, que se aplica no despacho aduaneiro de produtos recebidos do exterior por meio de remessas postais.

À época, evidentemente, já se visualizava o comércio internacional, porém, certamente, não precipuamente realizado através da Internet, que, por sua vez, só começou a se expandir e popularizar no Brasil no fim dos anos 90.2 De qualquer forma, a disciplina normativa desta modalidade do Imposto de Importação começou a tomar maiores contornos neste período, com a edição da Portaria nº 156, de 24 de junho de 1999, do Ministério da Fazenda, que definiu um âmbito de aplicação do regime de tributação simplificada. Posteriormente a Instrução Normativa nº 096, de 04 de agosto de 1999, da Secretaria da Receita Federal do Brasil, também tratou do assunto, a qual dispõe sobre a aplicação do regime de tributação simplificada.

.

2 BARBOSA, Alexandre. Cuidado, a internet está viva!: Os incríveis cenários para o futuro desse

(14)

No capítulo inicial serão abordados os aspectos gerais do Imposto de Importação e seu perfil extrafiscal no ordenamento pátrio, como também os aspectos da importação por pessoa física no regime de tributação simplificada.

No segundo capítulo, será traçada a regra matriz de incidência tributária afunilando o campo de estudo, através da análise da sistemática e das normas que regem o chamado Regime de Tributação Simplificada, descobrindo quais os casos aplicáveis pela legislação vigente, quais as alíquotas aplicáveis, os sujeitos da obrigação tributária etc.

No terceiro capítulo as normas que tratam do RTS serão estudadas em todas as suas nuances, com o propósito de determinar a validade ou não dessas normas que regem esse modelo de tributação, perquirindo-se se os instrumentos normativos são adequados, válidos e constitucionais material e formalmente. Será abordado também o posicionamento da Receita Federal quanto à delimitação valorativa e subjetiva da isenção no imposto de importação. Corroborando com o ideal inicial deste trabalho, de que se trata de um tema necessário devido à falta de atuação doutrinária e pacificação jurisprudencial sobre o tema, no 3º capítulo ainda será apresentado um projeto de Lei que tramita sobre o tema com o propósito de delimitar legalmente tais aspectos subjetivos e valorativos para a isenção tributária.

No quarto capítulo será dado tratamento ao princípio da legalidade e suas nuances, seguido da impossibilidade de delegação legislativa, atribuindo a ato infralegal a tarefa de tratar de assuntos que ela deveria tratar, traço observado logo no assunto que tratamos, ou seja, no conflito de competência do decreto, da portaria e a instrução normativa.

(15)

2 O IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

Na Constituição Federal brasileira, os tributos figuram como meios para a obtenção de recursos por parte dos entes políticos. Ademais, como na quase totalidade dos Estados modernos, a tributação predomina como fonte de receita, de modo que se pode falar num

Estado Fiscal ou num Estado Tributário, assim compreendido “o estado cujas necessidades

financeiras são essencialmente cobertas por impostos.3

Os tributos são, efetivamente, a principal receita financeira do Estado, classificando-se como receita derivadae compulsória, independendo da vontade das pessoas de contribuírem para o custeio da atividade estatal. Possuem, geralmente, caráter fiscal, devendo pautar-se pelos princípios da segurança, da capacidade contributiva e da igualdade, mas por onerarem determinadas situações ou operações, acabam por influenciar as escolhas dos agentes econômicos, tendo, pois, também efeitos extrafiscais.

Trata-se de um tributo com finalidade extrafiscal quando os efeitos extrafiscais são não apenas uma decorrência secundária da tributação, mas seu efeito principal, deliberadamente pretendido pelo legislador que se utiliza do tributo como instrumento para dissuadir ou estimular determinadas condutas. Tal qualificação se dá pela predominância do objetivo extrafiscal, tendo o imposto de importação tal intuito.

O Imposto de Importação tem o papel de regular o mercado. Sofre mudanças de acordo com a situação econômica nacional, já que não é um imposto fixo, geralmente a fim de não suprimir o mercado interno, devido à desvantagem ao mercado externo pelos preços menos competitivos que possui o mercado nacional. Desse modo, o imposto de importação acha-se livre do princípio da anterioridade tributária, a fim de propiciar à União uma maior flexibilidade no poder ordinatório. Cabe à União, direcionar este mecanismo da política econômica, protegendo a produção do mercado interno.

Em relação ao Imposto de Importação, Hugo de Brito Machado4 expõe:

3

NABAIS, José Cabalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos. Coimbra: Almedida, 2004,p. 191/192

4 MACHADO, Hugo Brito.Curso de Direito Tributário. Malheiros Editores Ltda, 24ª ed. SãoPaulo,

(16)

Predominantemente, no imposto de importação, sua função é extrafiscal. Ele é muito mais importante como instrumento de proteção da indústria nacional do que como instrumento de arrecadação de recursos financeiros para o tesouro público.

Traçando uma perspectiva histórica internacional deste imposto, na fase colonial brasileira, os artigos que entravam regularmente na colônia provinham de Portugal, e para lá iam todos os produtos saídos do Brasil. As necessidades brasileiras de bens manufaturados eram supridas por importação advindas de Portugal. O imposto de importação nunca deixou de existir durante o Brasil colônia, de revestir-se do caráter protecionista dos interesses portugueses e como instrumento de captação de rendas ao erário luso. 5

Durante o Império, a principal fonte de receitas públicas era o comércio exterior, principalmente o imposto de importação, chegando a corresponder cerca de metade da receita pública às vésperas da Proclamação da República. Durante a República observa-se que a Constituição de 1891 abraçou o regime de separação de fontes tributárias, delimitando os impostos de competência exclusiva da União e dos Estados. Com isso couberam à União o imposto de importação, os direitos de entrada, taxas de selo, taxas de correio e telégrafos federais.

No período que antecede à Constituição de 1934, tal imposto foi a fonte de receitas da União, sendo responsável por metade da receita total até o começo da Primeira Guerra Mundial. Com o início da guerra houve um arrefecimento nos lucros advindos do exterior fazendo com que o governo buscasse receita através da tributação de bases domésticas.6

Passada a guerra, o arrecadado com o imposto de importação voltou a crescer, porém não mais com a mesma força. Em virtude da Segunda Guerra Mundial, teve sua participação reduzida bruscamente, deixando de ser uma fonte importante de receita para o governo federal passando a ser um importante instrumento de política econômica a partir da década de 50.7

5 MELO, Ruy de; REIS, Raul. Manual do imposto de importação e regime cambial correlato. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 1970. p. 10.

6 VARSANO,Ricardo.A evolução do sistema tributário brasileiro ao longo do século: anotações e

reflexões para futuras reformas. < http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/viewFile/735/675 >

7A Constituição de 1934 e diversas leis desta época promoveram importantes alterações na estrutura

(17)

Visto a atuação desse importante imposto em diferentes épocas do Brasil e existente em muitos países, o imposto de importação (II) tem a função de regular o comércio nacional e internacional, sujeito às oscilações conjunturais. Vale ressaltar que os encargos decorrentes das relações negociais que sucedem a nível global não são fixos, já que diferem de país para país, bem como em resultado da dinâmica econômica mundial.

Importação8 é o ato de trazer para o território nacional ou, como diz Aurelio9, “fazer

vir de outro país (...)”. Mas, em seu sentido jurídico, não basta o simples ingresso físico. É necessária a entrada no território nacional para incorporação do bem à economia interna. Produto é termo amplo que abrange tanto mercadorias (que têm finalidade comercial) como outros bens (destinados ao uso ou consumo pelo importador).

Estrangeiro, por sua vez, designa o produto que tem origem em outro país, nele tendo sido produzido pela natureza ou pela ação humana. Não se confunde com o produto nacional que eventualmente retorne ao país, que não pode ser tributado a título de II, sob pena de inconstitucionalidade.

Ultrapassadas as noções introdutórias e históricas sobre o imposto de importação deve-se dar o devido tratamento do tema alicerçado na Constituição Federal.

O art. 153, I, da Constituição Federal de 1988 (CF/88) outorga competência à União para instituir imposto sobre “importação de produtos estrangeiros”. A CF/88 concede à União a possibilidade de instituir imposto sobre a entrada no território nacional, para incorporação à economia interna, de bem destinado ou não ao comércio, produzido, pela natureza ou pela ação humana, fora do território nacional.

Atualmente, o Código Tributário Nacional estabelece a natureza básica do Imposto de Importação nos artigos 19 a 22. Uma característica de tal imposto, semelhante ao Imposto sobre a Exportação, é a exceção prevista no art. 150, III, “b” e “c”, da CF/1988. Os

referidos dispositivos manifestam duas limitações ao poder de tributar: a anterioridade de

8 PAULSEN, L. (2009).Direito Tributário, Constituição e Código Tributário Nacional à Luz da Doutrna

e da Jurisprudência (11ª Ed ed.). Porto Alegre: Livraria do Advogado. p.288.

9 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de

(18)

exercício e a anterioridade nonagesimal, preceitos que buscam evitar a surpresa ao contribuinte.

Sendo exceção à primeira limitação, as alterações legislativas mais gravosas do Imposto de Importação podem derivar consequências no exercício em que foram editadas. Ainda, considerando que também é exceção à anterioridade nonagesimal, a instituição ou majoração do Imposto de Importação surte efeitos imediatos, não se sujeitando aos 90 dias.

1.1IMPORTAÇÃO POR PESSOA FÍSICA E O REGIME DE TRIBUTAÇÃO

SIMPLIFICADA

O Regime de Tributação Simplificada (RTS) é um regime que oferece facilidades para pessoas físicas e jurídicas que desejam importar produtos do exterior, podendo ser utilizado no despacho aduaneiro de importação de bens integrantes de remessa postal ou de encomenda

aérea internacional no valor de até US$ 3.000,00 ou o equivalente em outra moeda

,

mediante

o pagamento do Imposto de Importação calculado com a aplicação da alíquota de 60% (sessenta por cento), independentemente da classificação tarifária dos bens que compõem a remessa ou encomenda. As importações as quais são aplicadas o RTS não estão sujeitas à cobrança (são isentas) dos demais tributos incidentes das operações de importação, quais sejam, Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), PIS/PASEP e a COFINS incidentes na importação.

(19)

A base de cálculo para a cobrança do II será o valor aduaneiro dos bens integrantes da remessa, assim considerado o valor de aquisição dos bens acrescido do custo de transporte, bem como do seguro relativo a esse transporte até o local de destino no País. O custo do deslocamento, do mesmo modo que o do seguro a ele associado, não será acrescido ao preço dos bens quando já estiver incluído no preço de aquisição desses bens ou quando for suportado pelo remetente.

O preço de aquisição dos bens será comprovado mediante a apresentação da correspondente fatura comercial. Na ausência de documentação comprobatória do preço de aquisição dos bens ou quando a documentação apresentada contiver indícios de falsidade ou adulteração, este será determinado pela autoridade aduaneira com base: no preço de bens idênticos ou similares, originários ou procedentes do país de envio da remessa ou encomenda; ou em valor constante de catálogo ou lista de preços emitida por estabelecimento comercial ou industrial, no exterior, ou por seu representante no País.10

A importação realizada por pessoa física não está sujeita aos limites de valor a que estão sujeitas as pessoas jurídicas, mas sim ao uso dos bens a importar. Isto quer dizer que somente poderão ser realizadas importações de bens para uso do próprio importador e não podem caracterizar destinação comercial. Presta-se aos fitos e à utilização que uma pessoa física poderia dar a estes produtos.

O pagamento do imposto, na hipótese de utilização dos correios, para bens até U$ 500 dólares americanos é feito no momento da retirada do bem, na unidade de serviço postal através da Nota de Tributação Simplificada (NTS – ANEXO 1) lançada pela fiscalização aduaneira. Os bens serão entregues ao destinatário pelos Correios mediante o pagamento do Imposto de Importação lançado na NTS, dispensadas quaisquer outras formalidades aduaneiras. Quando o valor da remessa postal for superior a U$500 dólares até U$3000 dólares, deverá se optar pela tributação normal na Declaração Simplificada de Importação (DSI).

10Regime de Tributação Simplificada (RTS).

(20)

O modelo chamado de Importa Fácil é o serviço oferecido pelos Correios para atender às pessoas físicas e jurídicas que desejam importar produtos do exterior nas seguintes condições: pessoas físicas e empresas para mercadorias de até US$ 3.000,00 será destinada ao

„Importa Fácil‟, no qual o destinatário deverá apresentar Declaração Simplificada de

Importação (DSI),procedendo-se Alíquota de 60% de II + ICMS, conforme o Estado de destino da encomenda + taxa de serviço de despacho aduaneiro, além das formalidades aduaneiras como a vistoria física e invasiva, apresentação de documentos instrutivos, desembaraço alfandegário etc.

De acordo com o tipo de frete escolhido no momento da compra do bem, a encomenda destinada ao Brasil pode tomar três diferentes destinos quanto às cidades que receberão os bens, e por conseguinte, três diferentes tratamentos quando entram na fiscalização aduaneira realizada na unidade de importação. As 3 unidades centralizadoras são: São Paulo(SP), encomendas chamadas de expressa são encaminhadas para esta cidade. Nessa modalidade, como o próprio nome diz, refere-se à velocidade, agilidade. Aqui se enquadra ao Serviço Expresso de Encomenda(EXPRESS MAIL SERVICE) ou mais conhecido como E.M.S. Apesar de ser a modalidade mais cara de frete, pois paga-se pela suposta rapidez do desembaraço, aqui no Brasil ,é o método de envio que mais ocorre atrasos devido ao entrave que ocorre na liberação da encomenda, posterior à fiscalização aduaneira; Paraná(PR), que são conhecidas como PETIT PARQUET, o desembaraço aduaneiro ocorre na cidade, onde tudo é demorado, com rastreio falho, na maioria das vezes, e sem seguro; Rio de Janeiro(RJ), é o serviço intermediário, chamado de prioritário, já que tem preferência sobre a modalidade simples. Encomendas acima de 4,4 libras também são destinadas ao Rio. São conhecidas como COLIS e são desembaraçadas na alfândega do Rio de Janeiro. Geralmente é chamado

no meio dos importadores de rastreio „ponto a ponto‟ o qual informa desde a saída da unidade

(21)

O valor a ser cobrado como já citado é 60% de alíquota sobre o imposto de importação. Caso o valor exceda aos 60% é aconselhável o pedido de reexame (Anexo B E C), em caso de arbitramento que o contribuinte julgue equívoco. Para tal pedido, há um requerimento administrativo (Anexo B). Dessa forma, o contribuinte deve aguardar o julgamento de seu pedido sem poder usufruir do produto, observando-se que o processo de revisão não é efetuado em todos os Estados membros da República brasileira, somente naqueles que possuírem Serviço de Controle de Remessas Postais Internacionais (PR, RJ e SP), o que implica mais uma mora para o importador pessoa física que busque anular uma valoração arbitrária, situação que tem se tornado comum no âmbito do Regime de Tributação Simplificada, como real medida velada de desincentivo e coação ao importador.

(22)

2. REGRA MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA

A regra-matriz de incidência é um conceito doutrinário que determina uma estrutura lógica mínima, que é verificada em toda norma tributária e, que a partir desta composição básica é possível construir os enunciados prescritivos.

Encontramos dois momentos para a adequação da regra: antecedente e consequente. O primeiro é um enunciado hipotético pelo qual se determinam três critérios que tornam único o fato jurídico tributário: material, espacial e temporal. No consequente, encontramos a regulação, a determinação das obrigações. Neste momento temos dois critérios: pessoal e quantitativo. A partir da compreensão da norma jurídica podem-se identificar comportamentos prescritos tanto no antecedente quanto no consequente, quais sejam: na hipótese normativa, i) o critério material (verbo e complemento), ii) o critério espacial (âmbito de incidência normativa ,que é o local, segundo Paulo de Barros Carvalho11, e, iii) o critério temporal(momento da ocorrência do evento); e, no consequente , verificam-se, iv) o critério pessoal (sujeitos ativo e passivo da relação obrigacional), e o v) o critério quantitativo (conduta a ser cumprida).

2.1 ANTECEDENTE DA REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA

No antecedente da regra-matriz de incidência, para que se apresente um fato, é preciso uma modificação da vida social localizada no espaço e no tempo, ou seja, todo antecedente da regra-matriz prevê um núcleo ou critério material e os condicionantes de espaço e de tempo.O

(23)

antecedente da norma é composto pelos elementos material (acontecimento, sujeitos), espacial (onde) e temporal (quando) serão realizados os eventos descritos na norma.

A hipótese tributária seria a construção da linguagem prescritiva geral, quando o fato jurídico tributário seria a sua projeção factual. Além disso, existe uma diferença entre evento jurídico tributário e fato jurídico tributário. Enquanto o evento jurídico tributário é o acontecimento jurídico que se esvai no espaço e no tempo, o fato jurídico tributário seria o relato desses eventos através da linguagem.12

Em suma, o antecedente da norma prevê um acontecimento hipotético, na medida em que se encontra num plano abstrato e prevê a possibilidade de acontecimento futuro, que deverá conter o momento de sua ocorrência, o local de sua ocorrência e o acontecimento que o desencadeia.

O critério material geralmente vem composto por um verbo seguido de um complemento. Essa sentença faz alusão ao comportamento que o sujeito contido no antecedente da norma deve realizar para estabelecer o fato jurídico tributário, seja essa pessoa física ou jurídica. No caso do Imposto de Importação, o critério material é o ato de importar

produto estrangeiro. “Importar” é o verbo pessoal, e “produto estrangeiro” é o predicado

necessário à ação.

No critério espacial incide a limitação espacial de ocorrência da hipótese. É preciso que o evento ocorra nos padrões estabelecidos no antecedente da norma para ser considerado um fato jurídico e surtir seus efeitos.

Apesar de ser comum a coincidência entre ambos, não se deve confundir o critério espacial com a vigência territorial da lei, posto que este trata da extensão espacial em que a norma surtirá efeitos. Quanto ao imposto de importação, o referido critério é no Brasil, mais especificamente nas repartições alfandegárias, que são certas localidades habilitadas a receber os bens importados.

(24)

O critério temporal identificará quando a ocorrência de um evento será um fato jurídico, dentro de um dado momento. Geralmente é possível identificar esse critério dentro do texto legal, a fim de poder identificar o momento da realização do fato jurídico.

Sobre a conceito de fato gerador Sacha Calmon Navarro Coelho13 traz aspectos materiais, temporais e espaciais, senão vejamos:

O fato gerador do imposto é a entrada em território nacional do produto importado do exterior com o ânimo de ser internado no País. Por suposto, nos casos dos navios, trens, caminhões e aeronaves que adentram o País de passagem ou que aqui pousam e estacionam, atracam e depois partem para outros destinos com as mercadorias que transportam, não há cogitar de fato gerador.". (2006, p. 492)

2.2 O CONSEQUENTE DA REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA

O consequente da norma é composto pelos critérios quantitativo e pessoal. O critério quantitativo instituirá a base de cálculo e a alíquota; o critério pessoal, os sujeitos. Esses critérios gerarão o montante que o sujeito passivo deve da relação.

É consequente porque representa a ocorrência do fato jurídico previsto na hipótese de incidência. É necessário que todos os critérios do antecedente ocorram para que seja configurado o consequente da norma.

2.2.1 Sujeitos da relação

Esse critério define os sujeitos da relação, que são o sujeito ativo e o sujeito passivo.

13 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro Curso de direito tributário brasileiro. Rio de Janeiro: Forense,

(25)

2.2.1.1 Sujeito passivo

Sujeito passivo é aquele de deve cumprir com o dever jurídico que a norma imputa a ele. O sujeito passivo será determinado pela própria lei, e terá por obrigação o cumprimento de um dever, de natureza pecuniária ou não. É aquele que compõe o lado devedor da relação intersubjetiva tributária.14

Essa pessoa pode ser física ou jurídica, e pode ainda ser pública ou privada, que está obrigada ao cumprimento de uma obrigação, à medida que praticou todos os critérios antecedentes.

No imposto de importação o sujeito passivo é o importador ou quem a ele a lei

equiparar (art. 22, I, do CTN) ou o arrematante (art. 22, II, do CTN), “em se tratando de

produtos apreendidos ou abandonados.

2.2.1.2 Sujeito ativo

Em contrapartida, teremos os cofres públicos no polo ativo da relação, consubstanciados nos entes políticos (União, Estados, Municípios e Distrito Federal). A eles é facultado o direito de cobrar e recolher dos sujeitos passivos a obrigação estabelecida, conforme preceitua o art. 119 do Código Tributário Nacional. No imposto de importação é a União, ente federativo que possui a competência para instituir o referido imposto por força do art. 153, I, da Constituição Federal de 1988.

2.2.2 Base de cálculo

14 SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário

(26)

É um dos elementos que determinará o quantum a ser pago pelo sujeito passivo e que compõe o consequente da regra-matriz, nunca podendo ser desvencilhado da alíquota. Ela tem o condão de dimensionar e quantificar o fato jurídico tributário. Para Paulo de Barros Carvalho, a base de cálculo apresenta três funções, que são: medir as proporções reais do fato; compor a específica determinação da dívida; confirmar, informar ou afirmar o verdadeiro critério material da descrição contida no antecedente da norma.

A base de cálculo tem por função medir as proporções reais do fato, ao dimensionar a conduta prevista no verbo do núcleo do tipo. Depois, ela tem a função de se conjugar com a alíquota, a fim de calcular o débito do sujeito passivo.

No caso do Imposto de Importação sobre produtos estrangeiros, o Código Tributário Nacional determina três hipóteses de base de cálculo, a depender da alíquota utilizada, conforme se vê em seu art. 20:

Art. 20. A base de cálculo do imposto é: I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária; II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País; III - quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a leilão, o preço da arrematação.

No art. 20, I, do CTN, temos que a base de cálculo é a quantidade da mercadoria, ou seja, quando se tratar de alíquota específica. No segundo, a base de cálculo é a expressão

monetária do produto importado quando a alíquota for ad valorem, “conforme o valor

aduaneiro previsto no inciso VII, n. 2, do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio

– GATT – Decreto n. 92.930/86.”

Por fim, se tratando de arrematação em leilão de produto apreendido ou abandonado, a base de cálculo é, simplesmente, o preço da arrematação.

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A alíquota, por sua vez, é um fator complementar aplicável sobre a base de cálculo para o cálculo do valor de um tributo, podendo assumir o formato de um valor monetário fixo (determinada para todos os contribuintes) ou variável (estipulada de acordo com a base de cálculo) ou ainda como um percentual ou fração da base de cálculo. Porém a alíquota sempre deverá ter cunho pecuniário, ao contrário da base de cálculo, conforme supramencionado. A alíquota também apresenta dois tipos principais: a) fiscal: que é a alíquota de caráter arrecadatório; b) extrafiscal: utilizado para estimular ou desestimular certas condutas através de redução ou aumento de seus percentuais. A alíquota, juntamente com a base de cálculo, completa o débito. Pode se apresentar tanto como uma fração quanto como um percentual, tendo na base de cálculo um valor monetário. Mas pode apresentar-se também como valor monetário em alguns casos. No caso do imposto de importação a alíquota está indicada na Tarifa Externa Comum (TEC) que determina que produtos oriundos de países de fora da área interada adentrem aos países-membros com uma mesma tarifa.

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Após traçarmos um panorama acerca do Imposto de Importação em seu revestimento típico, com o estudo da regra matriz de incidência tributária, passamos a uma análise das normas que tratam em seus conteúdos do Regime de Tributação Simplificada no Imposto de Importação de bens de origem estrangeira.

3.1 O Decreto-Lei nº 1.804/80

O Regime de Tributação Simplificada tem guarida específica no Decreto-Lei nº 1.804, de 1980, e em outros diplomas normativos provenientes do Poder Executivo, tais como a Portaria do Ministério da Fazenda nº 156, de 24 de junho de 1999, e a Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal nº 096, de 04 de agosto de 1999.

Tal decreto dispõe sobre tributação simplificada das remessas postais internacionais. Para fins aduaneiros, são consideradas remessas postais "aquelas efetuadas com intervenção das administrações de correios do país remetente e do país receptor, conforme o previsto nas

convenções internacionais ratificadas pela Nação e o disposto na regulamentação” (Código Aduaneiro - Lei 24633, seção 550). Toda pessoa de existência física ou ideal que deseje realizar uma remessa por via postal deve submeter-se às disposições do Regime das Remessas Postais.

As Remessas Postais Internacionais(RPI), de forma direta, são os presentes, bens, produtos ou mercadorias que chegam ao país por meio do sistema postal internacional, ou seja, por meio dos Correios oficias dos países, respeitados limites e condições da legislação postal internacional. O importador terá a opção de tributação pelo Regime de Tributação Simplificada - RTS ou pelo Regime de Importação Comum.

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remessa postal internacional de valor não superior a US$ 100 (cem dólares), quando o exportador é pessoa jurídica.

Para melhor esclarecer o assunto, a legislação em vigor em relação a tributação das remessas postais e encomendas aéreas internacionais obedece ao Regime de Tributação Simplificada, instituído pelo Decreto-Lei 1.804/80, que dispõe:

Art. 2º - O Ministério da Fazenda, relativamente ao regime de que trata o art. 1º deste decreto-lei, estabelecerá a classificação genérica e fixará as alíquotas especiais a que se refere o § 2º do art. 1º, bem como poderá:

II - dispor sobre a isenção do imposto sobre a importação dos bens contidos em remessas de valor de até cem dólares norte-americanos, ou o equivalente em outras moedas, quando destinados a pessoas físicas.

Veja que conforme disposições supramencionadas, o Decreto-Lei 1.804/80, no artigo 2º, II, estabelece que as remessas de até cem dólares sejam isentas do imposto de importação quando destinados a pessoas físicas, nada mencionando sobre o remetente.

3.2 Portaria do Ministério da Fazenda nº 156/99

A Portaria MF 156/99 estabelece requisitos e condições para a aplicação do Regime de Tributação Simplificada instituído pelo Decreto-Lei nº 1.804, de 3 de setembro de 1980, dispondo:

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O art. 2º explicita qual será o valor aduaneiro do produto e procede com algumas medidas para arbitramento da base de cálculo:

Art. 2º A tributação simplificada de que trata esta Portaria terá por base o valor aduaneiro da totalidade dos bens que integrem a remessa postal ou a encomenda aérea internacional. § 1º O valor aduaneiro será o preço de aquisição dos bens, acrescido: I - da importância a ser paga pelo destinatário da remessa postal ou encomenda aérea internacional, conforme o caso: a) à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT pelo transporte da remessa postal internacional até o local de destino no País; b) à companhia aérea responsável pelo transporte da encomenda até o aeroporto alfandegado de descarga, onde são cumpridas as formalidades aduaneiras de entrada dos bens no País; ou c) à empresa prestadora de serviço de transporte expresso internacional e de entrega no local de destino no País, quando se tratar de encomenda expressa; e II - do valor do seguro a ser pago pelo destinatário, relativo ao transporte e entrega da remessa postal ou da encomenda internacional, nos termos do inciso anterior. § 2º Na ausência de documentação comprobatória do preço de aquisição dos bens ou quando a documentação apresentada contiver indícios de falsidade ou adulteração, este será determinado pela autoridade aduaneira com base em: I - preço de bens idênticos ou similares, originários ou procedentes do país de envio da remessa ou encomenda; ou II - valor constante de catálogo ou lista de preços emitida por estabelecimento comercial ou industrial, no exterior, ou por seu representante no País. (destaques acrescidos).

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3.3Instrução Normativa SRF nº 96/99

A Instrução Normativa nº 96/99, da Secretaria da Receita Federal do Brasil, é um ato infralegal que dispõe sobre a aplicação do regime de tributação simplificada. Semelhante ao que ocorre no Decreto-Lei nº 1.804/80 e na Portaria MF nº 156/99, a Instrução Normativa nº 96/99 traz poucos dispositivos, repetindo muito do que é disposto na Portaria MF nº 156/99. Informa a referida Instrução em seu artigo quinto que a base de cálculo no RTS é o valor aduaneiro acrescido do seguro e do transporte. Sobre o transporte, aduz a Instrução que o custo relacionado não fará parte da base de cálculo quando for suportado pelo remetente ou já fizer parte do preço de aquisição (art. 5º, §3º, IN96/99). O art. 8º, inovando em relação às normas anteriores, traz informação logística importante:

Art. 8º Os bens integrantes de remessa postal internacional no valor aduaneiro de até US$ 500.00 (quinhentos dólares dos Estados Unidos da América) serão entregues ao destinatário pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT mediante o pagamento do Imposto de Importação lançado pela fiscalização aduaneira na Nota de Tributação Simplificada - NTS instituída pela Instrução Normativa nº 101, de 11 de novembro de 1991, dispensadas quaisquer outras formalidades aduaneiras.

Através do referido artigo, dá-se capacidade tributária à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – EBCT – para recolher aquele tributo federal sob modalidade de Regime de Tributação Simplificada.

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3.4. Do posicionamento da Receita Federal

A Receita Federal afirma que as decisões judiciais concedidas aos requerentes, ), que acreditam no Decreto-Lei nº 1.804/80 como sendo a norma competente para tratar da isenção tributária, pelos juízos de 1º grau e tribunais durante o último ano(2014), são independentes, não tomando o valor de U$100 dólares como diretriz tributária do II. A entidade federal lançou nota afirmando que a suposta isenção é baseada em decisões isoladas e sem efeito vinculante sobre a administração tributária. A nota explica:

Limite de isenção em remessas de pequeno valor é de US$ 50,00

A Subsecretaria de Tributação e Contencioso (Sutri) e a Subsecretaria de Aduana e Relações Internacionais (Suari) informam que notícias recentemente veiculadas na mídia sobre a suposta isenção do Imposto de Importação de bens contidos em remessas de valor até cem dólares norte-americanos baseiam-se em decisões judiciais isoladas e sem efeito vinculante sobre a Administração Tributária.

A tese acatada naquelas decisões, de que a autoridade administrativa, ao fixar o valor de isenção em US$ 50,00, haveria restringido o alcance da lei, não se coaduna com a literalidade do art. 2º do Decreto-Lei nº 1.804, de 3 de setembro de 1980, que determina:

“Art. 2º O Ministério da Fazenda, relativamente ao regime de que trata o art. 1º deste Decreto-Lei, estabelecerá a classificação genérica e fixará as alíquotas especiais a que se refere o § 2º do artigo 1º, bem como poderá:

(...)

II - dispor sobre a isenção do imposto de importação dos bens contidos em remessas de valor até cem dólares norte-americanos, ou o equivalente em outras moedas, quando destinados a pessoas físicas. (Redação dada pela Lei nº 8.383, de

1991)”

No uso das competências atribuídas pelo referido dispositivo, o Ministro da Fazenda editou a Portaria MF nº 156, de 24 de junho de 1999, que dispõe, no § 2º do art. 1º, que “os bens que integrem remessa postal internacional no

valor de até US$ 50,00 (cinqüenta dólares dos Estados Unidos da América) ou o equivalente em outra moeda, serão desembaraçados com isenção do Imposto de

Importação, desde que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas.”

Dessa forma, o que fez o Decreto 1.804/80 foi delegar ao Ministro da Fazenda a faculdade de dispor sobre a isenção em remessas entre pessoas físicas da maneira que melhor convier aos interesses da Fazenda Nacional e da economia do país. Ao fixar o valor em US$ 50,00, respeitou-se o teto estabelecido pela Lei, que é de cem dólares dos Estados Unidos da América ou o equivalente em outra moeda, o qual não deve ser confundido com o valor da própria isenção.

Ressalte-se que os critérios para a fixação desse limite levam em conta diferentes fatores, dentre os quais se destacam:

- o volume de mercadorias desembaraçadas nessa condição e o consequente impacto dessa entrada na economia nacional;

- a concorrência que esses produtos exercem sobre os produtores nacionais de mercadorias similares, que pagam regularmente seus tributos;

- o impacto dessa renúncia na arrecadação; e

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Portanto, não resta dúvida de que a regulamentação dessa isenção por parte do MF é dotada de perfeita legalidade e legitimidade. Trata-se, ainda, de medida necessária e importante na prevenção da concorrência desleal, proteção e regulação da economia nacional.

A nota procura demonstrar que o Decreto 1.804/1980 incumbiu ao Ministro da Fazenda a capacidade de dispor sobre a isenção em remessas entre pessoas físicas da maneira que melhor concordar aos interesses da Fazenda Nacional e da economia do país. Ao fixar o valor em US$ 50, respeitou-se o teto estabelecido pela Lei, que é de US$ 100 dos EUA ou o equivalente em outra moeda, o qual não deve ser confundido com o valor da própria isenção. Para a Receita, não resta dúvida de que a regulamentação dessa isenção por parte do MF é dotada de perfeita legalidade e legitimidade.

Há o conflito de normas hierarquicamente inferiores ao Decreto-Lei para regulamentar a mesma matéria. É perceptível que tanto a Portaria do Ministério da Fazenda como a Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal excederam os limites postos por norma recepcionada com status de lei, inovando aqueles atos normativos na ordem jurídica ao ordenar, como condição para concessão da isenção do imposto de importação, que, além do destinatário do bem, o remetente também seja pessoa física, o que é ilegal e arbitrário, devendo ser questionado no judiciário toda e qualquer cobrança neste sentido. É evidente o abuso de poder ao legislar sobre matéria já regulamentada e ainda privar o contribuinte do direito regulamentado no Decreto- Lei.

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3.5. A interpretação legislativa

Verifica-se que o Decreto-Lei nº 1.804/80, no art. 2º, II, estabelece que as remessas de até cem dólares sejam isentas do imposto de importação quando destinados a pessoas físicas, nada mencionando sobre o remetente.

Após, a Portaria MF nº 156/99 e a IN SRF 096/99 passaram a exigir que tanto o destinatário quanto o remetente fossem pessoas físicas e reduziu o valor da isenção para o limite de US$ 50,00 (cinquenta dólares).

Após delimitação sucinta dos limites impostos pelo decretos, pela prtaria e pela instrução normativa, passemos à devida interpretação destes. Entende-se que uma autoridade administrativa não pode, por intermédio de ato administrativo, ainda que normativo (portaria ou instrução normativa), extrapolar os limites claramente estabelecidos em lei, pois está vinculada ao princípio da legalidade. Não havendo no Decreto-Lei restrição relativa à condição de pessoa física do remetente, tal exigência não poderia ter sido introduzida por ato administrativo.

Importante ainda trazer à baila os dispositivos constitucionais que vedam claramente o ato da Receita Federal do Brasil em estabelecer limite de importação inferior ao Decreto-Lei 1.804/80, senão vejamos do § 6º do art. 150 da Constituição Federal:

Art. 150 (...)

§6.º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, §2º, XII, g.

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em remessas de valor quando destinados a pessoas físicas.” Importante lembrar que ao ministro é cabível regulamentar a efetividade da isenção tributária e não decidir qual o valor desta.

O Douto Presidente da Comissão de Direitos Aduaneiros da OAB/SP assevera:

Percebe-se que tanto a Portaria do Ministério da Fazenda como a Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal extrapolaram os limites estabelecidos por norma recepcionada com status de lei, inovando aqueles atos normativos na ordem jurídica ao exigir, como condição para concessão da isenção do imposto de importação, que, além do destinatário do bem, o remetente também seja pessoa física, o que é ilegal e arbitrário, devendo ser questionado no judiciário toda e qualquer cobrança neste sentido.

Com efeito, o Código Tributário Nacional, norma recepcionada pela Constituição Federal de 1988 com status de lei complementar, prevê que as condições de isenção devem estar previstas em lei (art. 176, CTN). Com isso, entendo que as aludidas Portaria e Instrução Normativa, quando estabeleceram ser necessário que o remetente fosse pessoa física, inovaram na ordem jurídica e feriram o princípio da legalidade, pois criaram nova condição não prevista na lei que pretendiam regulamentar. Isso porque, repita-se, o Decreto-Lei n.1.804/80 prevê que basta o destinatário ser pessoa física.

Também, o mesmo ocorre com a redução do limite para isenção do imposto de importação, que foi estabelecido pelo Decreto-Lei 1.804/80 em US$ 100,00 (cem dólares), e posteriormente foi reduzido para US$ 50,00 (cinquenta dólares) pela Portaria MF nº 156/99 e Instrução Normativa SRF nº 096/99, em afronta ao princípio da legalidade. Sobre a ilegalidade da Portaria MF nº 156/99 e da Instrução Normativa SRF nº 096/99, assim dispõe a jurisprudência:

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princípio da legalidade. (TRF4, APELREEX 2005.71.00.006870-8, Primeira Turma, Relator Álvaro Eduardo Junqueira, D. E. 04/05/2010) Diante disso, a parte autora faz jus à devolução do imposto de importação incidente sobre a mercadoria importada, devidamente atualizado pela aplicação da taxa SELIC (que abrange correção monetária e juros de mora), nos termos do art. 39, § 4º, da Lei9.250/1995, desde a data do recolhimento indevido.

Seguindo esse entendimento, a Justiça tem dado razão aos consumidores que estão questionando a tributação de compras feitas no exterior acima de U$ 50 e abaixo de U$ 100. Somente neste ano, foram proferidas várias decisões, tanto em 1º grau de jurisdição como nos tribunais, favoráveis aos contribuintes. Primeiramente em sentença de primeiro grau15:

Observo, inicialmente, que a Instrução Normativa citada pela parte impetrante exige o preenchimento de requisitos para que seja reconhecida a isenção de imposto de importação em remessa posta internacional, a saber, o montante ser inferior a US$ 50,00, e o remetente e destinatário do bem serem pessoas físicas.

No entanto, tenho que um ato administrativo normativo não pode extrapolar a lei, o que ocorreu no presente caso, pois a Portaria e a Instrução Normativa mencionadas pela autoridade coatora são atos administrativos que tem por escopo explicar a lei, nunca ampliá-la ou restringi-la, sob pena de incorrer em ilegalidade. Na lição de Hely Lopes Meireles (Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros, 19ª ed., pág. 162), "como ato administrativo, o decreto está sempre em situação inferior à da lei e, por isso mesmo, não a pode contrariar. O que não ultrapasse a alçada regulamentar de que dispõe o Executivo."

De fato, o Decreto-lei nº. 1804/80, no inciso II, aduz que as remessas de até 100 dólares, quando destinados a pessoas físicas, são isentas do imposto de importação. Não há qualquer menção ao fato de também o remetente ser pessoa física, sendo que foi na Portaria MF nº. 156/99 que se estipulou limite menor, de 50 dólares, além da exigência de o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas.

A sentença acima corrobora com o entendimento exposto nesse trabalho de que o Decreto-lei nº.1804/80 é a legislação competente para tratar do assunto. Destarte, não seria possível outra conclusão, senão a de que o impetrante é guardado legalmente, não fazendo-se impor o pagamento já que sua compra encontra-se dentro do limite de U$ 100 dólares americanos e destinado a pessoa física, sendo portanto isenta do imposto de importação.

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Tribunais Federais também já se posicionaram sobre o tema.16 O voto a seguir trata-se de decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região transitado em julgado decidindo-se favoravelmente ao contribuinte/importador. No voto em questão, a Turma entendeu que a autoridade administrativa, por intermédio de ato administrativo, ainda que normativo excedeu os limites claramente estabelecidos em lei.

Verifica-se que o Decreto-Lei nº 1.804/80, no art. 2º, II, estabelece que as remessas de até cem dólares são isentas do imposto de importação quando destinados a pessoas físicas, nada mencionando sobre o remetente.

Após, a Portaria MF nº 156/99 e a IN SRF 096/99 passaram a exigir que tanto o destinatário quanto o remetente fossem pessoas físicas e diminuiu o valor da isenção para o limite de US$ 50,00 (cinquenta dólares).

Desta forma, não pode a autoridade administrativa, por intermédio de ato administrativo, ainda que normativo (portaria ou instrução normativa), extrapolar os limites claramente estabelecidos em lei, pois está vinculada ao princípio da legalidade.

Não havendo no Decreto-Lei restrição relativa a condição de pessoa física do remetente, tal exigência não poderia ter sido introduzida por ato administrativo, afastando-se do princípio da legalidade.

Para Maria Cândida Carvalho Monteiro de Almeida, juíza federal substituta da 24ª Vara Federal do Distrito Federal, em sentença17 proferida no dia 9 de maio de 2014 o objeto discutido é claro:

Tanto a Portaria do Ministério da Fazenda como a Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal extrapolaram os limites estabelecidos por norma recepcionada com status de lei, inovando aqueles atos normativos na ordem jurídica ao exigir, como condição para concessão da isenção do imposto de importação, que, além do destinatário do bem, o remetente também seja pessoa física, bem

como reduzir o valor da isenção para o limite de US$ 50”

16 APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO Nº 2005.71.00.006870-8/RS / ano :2010

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Em sua decisão, a juíza ainda afirmou que é de conhecimento de todos que o poder normativo da administração pública não pode contrariar a lei, criando direitos ou impondo restrições que não estejam previstos, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade.

3.6 O PROJETO DE LEI DE LEI 6779/13

Um projeto de lei promete pôr termo nesse assunto que tratamos até agora e que vem causando divergência há algum tempo: a cobrança do imposto de importação para produtos encaminhados por remessa postal com valor de até 100 dólares.

A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 6779/13, do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), que isenta do imposto de importação produtos de até 100 dólares encaminhados por remessa postal internacional, desde que tanto o remetente quanto o destinatário sejam pessoas físicas. Atualmente, o entendimento e o valor adotado pela Receita Federal é que a isenção vale apenas para os bens importados por pessoa física com valor de até 50 dólares. Como foi mostrado em capitulo anterior a fixação desse valor já encontra entendimentos discordantes mostrados em várias decisões que vão de encontro a esse valor fixado e ao tipo de pessoa (física e jurídica) alcançada. Segundo o deputado, o valor vigente encontra-se defasado, pois permanece inalterado por mais de dez anos, sendo necessária sua atualização. O projeto, que tramita em caráter conclusivo, será analisado pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

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4. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA

A primeira informação de legalidade nasceu a partir do conceito de que toda prestação pecuniária só poderia ser fixada por determinação de órgãos representativos, ou seja, tributo só poderia ser arrecadado se previamente consentido pelo povo, já que a representação popular é a expressão do princípio do consentimento. Conforme Victor Uckmar18,a primeira declaração de que as prestações pecuniárias deveriam ser antecipadamente aprovadas por órgãos representativos surgiu antes mesmo da Carta Magna de 1215:

Geralmente imputa-se à Magna Carta a primeira afirmação do princípio de que nenhuma prestação pecuniária pode ser imposta, se não por deliberação dos órgãos legislativos. Porém, a origem se encontra em época anterior: por exemplo, na Inglaterra, o Rei, que já percebia impostos e obtinha subsídios pelo direito consuetudinário, exigia dos vassalos, para fazer frente a despesas extraordinárias, pagamentos em dinheiro e estes podiam- embora fosse praticamente impossível- impugná-los.

O condicionamento do poder tributário serviu para limitar os poderes do Estado, como observado na Revolução Francesa e na Independência dos Estados Unidos. Portanto, a legalidade surgiu no âmbito tributário, já que partiu da necessidade de que toda prestação pecuniária só poderia ser exigida se previamente consentida pelos sujeitos que deveriam suportar tal obrigação, após ser aprovada pelo órgão representativo da vontade popular.19 A ideia segundo a qual a liberdade patrimonial dos indivíduos só poderia ser restrita segundo a aceitação do povo, por meio dos seus representantes, refletia a necessidade de proteção aos direitos decorrentes do princípio da dignidade da pessoa humana.

Hugo de Brito Machado20 afirma que o princípio da legalidade constitui o mais importante limite aos governantes na atividade de tributação. O princípio da legalidade tributária sempre esteve presente em todas as Constituições brasileiras. A Constituição do

18 UCKMAR,Victor.Principios comuns de direito constitucional tributário.Trad. de Marco Aurélio

Greco. São Paulo: Revista dos Tribunais, EDUC, 1976, p.9.

19HUGO DE BRITO ressalta que “o princípio da legalidade, é a forma de preservação da segurança.

Ainda que a lei não represente a vontade do povo, e por isto não se possa afirmar que o tributo é consentido por ter sido instituído em lei, ainda assim, tem-se que o ser instituído em lei garante maior grau de segurança nas

relações jurídicas”. “Princípio da legalidade na Constituição de 1988”. Revista de Direito Tributário n.45. São

Paulo: Revista dos Tribunais,1988, p.176

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Império já estabelecia a legalidade e o Ato Adicional de 1834, ampliou sua aplicação nas áreas provinciais, atribuindo às Assembleias Legislativas das províncias competência para estabelecer os impostos locais. Na Constituição de 1891, o princípio da legalidade tinha a

seguinte redação: “nenhum imposto de qualquer natureza poderá ser cobrado senão em virtude de uma lei que o autorize.”21

Na Constituição de 1934, o princípio da legalidade encontrava-se na regra que proibia

à União, aos Estados e aos municípios “cobrar quaisquer tributos sem lei especial que os

autorize”. Já na Constituição de 1937, o princípio da legalidade não surgiu explícito, porém estabeleceu a regra relativa à competência legislativa tributária. Na Constituição de 1946, o princípio da legalidade aparece expresso entre os direitos e garantias individuais, prescrito

assim: “nenhum tributo será exigido ou aumentado sem que a lei o estabeleça”. A Constituição de 1967 consagrou um capítulo exclusivo, delineando o princípio da legalidade como limitação constitucional da competência tributária ao vedar a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituir ou aumentar tributar sem lei que o estabeleça, ressalvados os casos previstos na Constituição (art. 19).

O princípio específico da legalidade, na Constituição Federal atual, está previsto no

artigo 5º, inciso II “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

virtude de lei”, também previsto no artigo 150, inciso I, “sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I- exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça”.

Entretanto, o princípio da legalidade é um só, já que tem alicerce na soberania popular, predita no parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal que preceitua que „todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos

desta Constituição”. Desse modo, mesmo que a legalidade estivesse prevista somente no

artigo 5º, inciso II, o tributo só poderia ser criado ou majorado por meio de lei, contudo, o legislador quis reafirmar o conceito de legalidade no campo tributário, prevendo tal princípio no artigo 150, inciso I.

21MACHADO, Hugo de Brito. “Princípio da legalidade tributaria na Constituição de 1988”. Revista de

(41)

Vale relembrar, como já exposto em capítulos anteriores, que a liberdade só pode sofrer limitações por meio de lei, advinda do Poder Legislativo, por um processo previsto na Constituição, mas não é qualquer lei que tem o caráter de limitadora da liberdade do indivíduo, mas somente aquela que foi devidamente recepcionada pelo ordenamento jurídico. Alberto Xavier22 leciona que,

Por seu turno, o aspecto formal do Estado de Direito impõe a ideia de que a lei e apenas à lei cabe a escolha, de entre várias manifestações de capacidade econômica possíveis, daquelas que se reputam adequadas à tributação, de tal modo que a eleição dos fatos da vida que devem dar origem a obrigações tributarias compete exclusivamente ao legislador, que não já administrador ou ao juiz. E assim se revela o princípio da legalidade.

O art. 97 do Código Tributário Nacional (CTN) enumera uma lista taxativa de assuntos que somente lei pode tratar, configurando a estrita legalidade, entre esses assuntos estão: a alíquota, a base de cálculo, o sujeito passivo, a multa e o fato gerador do tributo. Esses são prerrogativas tributarias, que ficam reservadas apenas à lei estabelecer.Desse modo, a lei deve estabelecer limites à liberdade individual, mas também garantir segurança, já que esse princípio alude que as liberdades fundamentais trazidas na Constituição só serão restringidas por normas abstratas e gerais, elaboradas por pessoas escolhidas pelo povo.

Esses limites constitucionais do princípio da legalidade citados decorrem, devido, por exemplo, à tripartição de poderes, artigo 2º, CF/88:

“São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o

Executivo e o Judiciário”.

O poder Legislativo possui o monopólio e este tem sua origem no conceito de „auto tributação‟, decorrente do princípio do consentimento, no qual o particular deve aceitar pagando os devidos tributos sendo tal atitude representada através dos representantes no parlamento. Através do princípio da legalidade é possível assegurar que o patrimônio dos

particulares só será atingido pelo „Fisco‟ se o tributo for criado ou majorado por lei, porém no

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