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Nicoli Bernecoli Miguel da Silva A PRÁTICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO E A PROTEÇÃO DO CDC

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Nicoli Bernecoli Miguel da Silva

A PRÁTICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO E A PROTEÇÃO DO CDC

Centro Universitário Toledo Araçatuba

2019

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Nicoli Bernecoli Miguel da Silva

A PRÁTICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO E A PROTEÇÃO DO CDC

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo, sob orientação do Prof. Paulo Roberto Cavasana Abdo.

Centro Universitário Toledo Araçatuba

2019

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Nicoli Bernecoli Miguel da Silva

A PRÁTICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO E A PROTEÇÃO DO CDC

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo, sob orientação do Prof. Paulo Roberto Cavasana Abdo.

Aprovado em _____de ______________de ______

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Me. Paulo Roberto Cavasana Abdo

________________________________________

Adv. Luiz Gustavo de Oliveira Berne

________________________________________

Prof. Me. Renato Alexandre da Silva Freitas

Centro Universitário Toledo

(4)

Dedico este trabalho a todos os consumidores.

Que eles possam encontrar no mercado produtos de qualidade, livres das armadilhas da obsolescência programada.

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Agradeço a Deus, por ter iluminado os meus caminhos e me dado forças.

Aos meus pais e a minha irmã por me apoiarem.

A todos os professores da Unitoledo, pelo conhecimento e carinho passados em sala de aula.

A professora Camila por indicar o tema.

Ao meu professor e orientador Paulo Cavasana, por todo o auxílio e paciência.

Às minhas amigas Loraine e Thaís, pela companhia durante todos esses dias.

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―A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela forma como nos acostumamos a ver o mundo‖

(Albert Einstein)

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RESUMO

O presente trabalho tem como tema central a prática da obsolescência programada utilizada pelo fornecedor como um mecanismo para despertar o comportamento de compras repetitivas no consumidor. Para tanto, analisaremos as relações de consumo no período em que as indústrias começaram a produzir em massa até a entrada em vigor da Lei 8.078/1990. Analisando o Código de Defesa do Consumidor, veremos a quais sujeitos e objetos a lei se aplica, quais os seus princípios e direitos básicos, bem como as práticas vedadas por ela. Feito isso, estaremos preparados para conhecer a obsolescência programada, seu conceito, os tipos de obsolescência, alguns casos, os efeitos negativos nos aspectos econômicos, sociais e ambientais, o que foi feito até o momento e se o CDC possui meios para combater a obsolescência.

Palavras-chave: obsolescência programada; consumidor.

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ABSTRACT

The present work has as its central theme the practice of programmed obsolescence used by the supplier as a mechanism to awaken the behavior of repetitive purchases in the consumer. To do so, we will analyze the consumption relations in the period in which the industries began to produce in mass until the entry into force of Law 8.078/1990. Analyzing the Consumer Defense Code, we will see to which subjects and objects the law applies, what its basic principles and rights, as well as the practices prohibited by it. Once this has been done, we will be prepared to know the programmed obsolescence, its concept, the types of obsolescence, some cases, the negative effects on economic, social and environmental aspects, what has been done so far and if the CDC has the means to combat obsolescence.

Keywords: planned obsolescence; consumer.

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Lista de abreviaturas e siglas

CC – Código Civil

CDC – Código de Defesa do Consumidor CF/88 – Constituição Federal de 1988

IBDI - Instituto Brasileiro de Direito da Informática IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor PIB - Produto Interno Bruto

PROCON – Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor STJ – Superior Tribunal de Justiça

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

I DO CONSUMO ... 11

1.1 Revolução industrial a sociedade de consumo e a necessidade de proteção ao consumidor ... 11

1.2 A criação do Código de Defesa do Consumidor... 13

II O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ... 16

2.1 A relação jurídica de consumo ... 17

2.1.1 Consumidor e fornecedor ... 17

2.1.2 Do produto e do serviço... 20

2.2 Os princípios que norteiam as normas ... 22

2.3 Os direitos básicos do consumidor ... 27

2.4 Responsabilidade civil ... 28

2.4.1 Vício e defeito ... 29

2.5 Da decadência e da prescrição ... 32

2.6 Publicidade ... 35

2.6.1 Publicidade enganosa ... 36

2.6.2 Publicidade abusiva ... 37

III OBSOLESCÊNCIA ... 38

3.1 Obsolescência tecnológica ou de função ... 38

3.2 Obsolescência psicológica, desejabilidade ou perceptiva ... 39

3.3 Obsolescência programada, planejada ou de qualidade ... 41

3.3.1 As categorias da obsolescência programada feitas pelo Comitê Econômico e Social Europeu ... 45

3.3.2 Alguns casos de obsolescência programada ... 47

3.3.3 Os impactos ambientais ... 53

3.3.4 Projetos de lei que buscam combater a obsolescência programada ... 57

3.3.5 Projetos sociais: grupos de reparos e produtos modificáveis ... 59

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 61

REFERÊNCIAS ... 63

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INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade dependente do consumo. Através dele, compramos produtos alimentícios, de higiene, e demais itens como: carros, smartphones, geladeira, fogão e produtos que melhoram a produtividade do dia-a-dia. Seguimos a evolução tecnológica, estamos cada vez mais nos modernizando e comprando eletrônicos.

Esses produtos, no entanto, não duram para sempre, eles possuem uma vida útil na qual um dia ela acabará, ou seja, os produtos deixarão de funcionar ou terão seu desempenho reduzido pelo decurso do tempo, e assim, o consumidor comprará um novo para substituir o antigo.

Algumas vezes, tais produtos acabam durando bem menos tempo, pois acabam sendo objetos da obsolescência programada que consiste na redução da vida útil do produto feita de forma intencional pelo fornecedor, para que em pouco tempo, o produto deixe de funcionar ou tenha seu desempenho comprometido, gerando no consumidor a necessidade de comprar um novo produto em um curto período de tempo. Essa prática é usada para que o fornecedor consiga aumentar o número de venda de seus produtos, objetivando assim, aumentar seu lucro.

Os problemas são dos mais diversos: da natureza se extrai recursos finitos; durante a fabricação se polui o ambiente; o consumidor nesse processo de hiperconsumo acaba se endividando com maior facilidade; além da fragilidade da aplicação da lei de resíduos sólidos, no que diz respeito a logística reversa, provocando o descarte irregular dos produtos eletrônicos gerando danos ambientais e graves problemas a saúde.

Hoje o Brasil é o segundo país que mais produz lixo eletrônico na américa, soma-se isso, a inexistência de uma norma obrigando o fornecedor a informar a vida útil de seus produtos ou então uma vedação legal da prática da obsolescência programada no CDC.

Trata-se de um tema pouco debatido por escritores brasileiros, mas que possui relevante importância para o país, razão pela qual foi feito este trabalho. O primeiro capítulo abordará a história do consumo, o segundo comentará as normas de defesa ao consumidor, existentes no CDC, no terceiro capítulo se estudará a obsolescência programada e seus efeitos, onde se terminará com as considerações finais.

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I DO CONSUMO

Hodiernamente, o ser humano vê no ato de consumir, uma forma de garantir sua sobrevivência.

Ao que se sabe, muito antes do surgimento do comércio, nossos ancestrais produziam seus próprios instrumentos. Esses instrumentos acompanharam a evolução do homem e passaram a ser valorados na sociedade, assim, os produtos produzidos por cada indivíduo, passaram a ser objeto de trocas, ou seja, comercializados. (CORNETTA, 2017)

Atualmente, grande parte das pessoas moram em centros urbanos e já não produzem alimentos e produtos para si mesmo. Em um mundo onde se domina o sistema capitalista, os produtos em sua maior parte, são criados por grandes fábricas e colocados à venda nos comércios para que o consumidor possa comprar de acordo com sua necessidade.

Observe que consumir é um ato considerável saudável, ao contrário do que é o consumismo. O consumismo é visto como uma patologia, onde o consumidor sente o desejo ou impulso de comprar excessivamente e sem necessidade. Apesar de o consumismo não ter uma causa específica, ele pode ser motivado inclusive por táticas de marketing e publicidade, como exemplo, podemos citar a prática da obsolescência psicológica, na qual age sobre o consumidor fazendo-o pensar que precisa de um novo produto quando o dele se encontra em perfeito estado.

(MOURA, 2018)

1.1 Revolução industrial a sociedade de consumo e a necessidade de proteção ao consumidor

A revolução industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII, provocou a migração da população que residia na área rural para os centros urbanos. Esse grupo de pessoas gerava um aumento da demanda por produtos, isso fez com que os fabricantes buscassem uma forma de produzir em larga escala a fim de suprir a demanda. (BOLZAN, 2017)

(13)

Após a Segunda Guerra Mundial, surgiu nos Estados Unidos da América um novo modelo de vida que passaria a ser seguido pelo mundo todo. Esse modelo era baseado no consumo de bens e serviços, e ficou conhecido como ―The american way of life‖. Segundo Diogo Petry e Vinícius Borges Fortes:

Esse novo modelo tinha como principais características: o emprego da produção em larga escala; a extração desordenada dos recursos naturais; a busca incessante por acúmulo de capital; o forte apelo pelo incremento do consumo, e a propagação dos ideais capitalistas de bem viver. (PEREIRA, 2010, p.60-61)

No livro ―a vida para o consumo‖ Bauman transcreve que as pessoas são tentadas com novidades a todo momento. Os produtos à venda prometem novos começos, e a alegria seria algo encontrado somente no momento das compras. Porém, tempos após ser adquirido, o produto passaria a trazer frustração, dor e remorso, razão pela qual as pessoas iriam as compras novamente, para reviver a sensação de felicidade e momentos agradáveis. (BAUMAN, 2008)

Na sociedade moderna, os fabricantes estariam produzindo e incentivando o consumo como uma forma do consumidor moldar sua própria personalidade.

A diferença nos termos ―consumo‖ e ―consumismo‖, o primeiro trata de um ato realizado de imediato e de forma saudável, que busca atender as necessidades do consumidor; o consumismo, por sua vez, trata do consumo sem uma necessidade, uma patologia onde a pessoa consome pelo simples desejo ou prazer de consumir. (SCHWERINER, 2006 apud CORNETTA, 2017)

As pessoas que moravam no campo, consumiam apenas o que era essencial à sua subsistência, porém, no momento em que passaram a morar em centros industriais, convivendo diariamente com estratégias de marketing, passaram a ter o hábito de consumir sem necessidade, pois não havia educação ao consumo.

Neste viés, a criação do crédito possibilitando vendas a prazo e de forma parcelada, junto as técnicas de marketing e as práticas de obsolescência foram responsáveis por acelerar o consumo. (McCRACKEN, 2003 apud CORNETTA, 2017)

As estratégias de marketing somada as várias formas de pagamento existentes, são responsáveis por atrair os consumidores e serem um combustível para novas compras.

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Não é difícil perceber que houve uma mudança significativa da forma de consumo na sociedade. Antes, consumia-se pensando na família e na durabilidade do produto por diferentes gerações. Após a revolução do consumo, o consumo é feito de maneira individualista, imediatista e hedonista. (CORNETTA, 2017)

Além do consumismo, naquele tempo, também haviam problemas causados pela produção em série, onde parte dos produtos e serviços colocados no mercado, apresentavam problemas decorrentes do processo produtivo, erros técnicos ou então vindos de práticas comerciais lesivas, trazendo riscos ao consumidor. (NISHIYAMA, 2010)

Antes do código de defesa do consumidor, possíveis lides eram resolvidas com a aplicação do Código Civil, e quando se aplica o código civil às relações de consumo, se cria um problema. Em um contrato civil entre particulares é possível observar que existe uma igualdade, um certo equilíbrio entre as partes envolvidas, tal igualdade não é encontrada em uma relação consumerista. (NUNES, 2017)

A vulnerabilidade do consumidor e o desequilíbrio das relações jurídicas de consumo era gritante. De um lado havia a figura do fornecedor que conhecia cada etapa da produção de seu produto ou serviço e do outro lado existia o consumidor, aquele a qual cabe apenas pagar para consumir. Em outras palavras, o fornecedor possuía o controle sobre a produção em massa, domínio de crédito e do marketing, já o mercado, este não era hábil a mitigar a vulnerabilidade do consumidor, houve então a necessidade da intervenção do Estado para reequilibrar a relação de consumo. (GRINOVER, 2011)

Percebendo a vulnerabilidade do consumidor e as práticas desleais que ocorriam no mercado, alguns governos perceberam a necessidade em regulamentar essas relações jurídicas de consumo.

1.2 A criação do Código de Defesa do Consumidor

Diante de todas as práticas nocivas ao consumidor e a economia, foram surgindo movimentos e ideias que buscavam amenizar esses problemas.

Nos Estados Unidos, em 15 de março de 1.962, o então presidente John F. Kennedy, realizou um discurso ao congresso, onde consagrou quatro direitos aos consumidores: o direito à

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saúde e à segurança; o direito à informação; o direito de ser ouvido; e o direito à escolha. Mais tarde, o dia 15 de março passaria a ser comemorado como o ―Dia mundial do consumidor‖.

(OLIVEIRA, 2016)

No Brasil, durante as décadas de 60 e 70, passava-se por crises econômicas e sociais, momento este que a Lei Delegada nº 4, de 1962, passou a dispor sobre a intervenção da União no domínio econômico para assegurar a livre distribuição de mercadorias e serviços essenciais ao consumo e uso do povo. Nesse sentido, o site do Ministério da Justiça:

Em 1976, foram fundadas a Associação de Proteção ao Consumidor de Porto Alegre (APC), a Associação de Defesa e Orientação do Consumidor de Curitiba (ADOC) e o Grupo Executivo de Proteção ao Consumidor (atual Fundação Procon São Paulo).

De acordo com o site do PROCON-SP, em apenas dois anos de fundação, cerca de 2.175 pessoas foram atendidas. Dentre as principais reclamações, 44% estavam relacionadas a preço e 26% falavam sobre mau atendimento dos estabelecimentos. A mídia passou a divulgar os serviços do órgão, que em pouco tempo passou a ter apoio da população.

Somente em 1.985 a Assembleia Geral das Nações Unidas, positivou o princípio da vulnerabilidade em sua resolução de nº. 39/248, indicando onde os Estados deveriam atuar para promover a proteção ao consumidor, servindo de base para legislações de vários países. As áreas de atuação segundo (VIEGAS, 2011) diziam respeito a:

a) proteção dos consumidores diante dos riscos para sua saúde e segurança, b) promoção e proteção dos interesses econômicos dos consumidores, c) acesso dos consumidores à informação adequada, d) educação do consumidor, e) possibilidade de compensação em caso de danos, f) liberdade de formar grupos e outras organizações de consumidores e a oportunidade de apresentar suas visões nos processos decisórios que as afetem.

Foi então que no Brasil, a Constituição Federal de 1.988 em seu art.5º, XXXII, reconheceu a proteção do consumidor como direito fundamental e no art. 170, V estabeleceu que a ordem econômica deveria observar os princípios de defesa do consumidor. (BRASIL, 1988)

Não bastante, o art. 48 do ato das disposições constitucionais transitórias dispôs que o Congresso Nacional elaborasse o código de defesa do consumidor em 120 dias a contar da promulgação da CF. (BRASIL, 1988)

O Código de Defesa do Consumidor foi inspirado em várias legislações estrangeiras tais como a da França, Espanha, Alemanha, de Portugal, do México e de Quebec, além de cases e

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estatutos americanos, ao passo que, todos eles foram observados quanto às peculiaridades do mercado Brasileiro. (GRINOVER, 2011)

Antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor, o Código Civil existente tentava solucionar possíveis lides nas relações de consumo, notada a vulnerabilidade do consumidor, tal aplicação era errônea, pois colocava os sujeitos da relação de consumo em um mesmo patamar, quando na verdade o fornecedor é quem estava em posição mais vantajosa. Aproximadamente um século depois, fez-se necessário criar uma lei especifica para regrar essas relações, motivo este que foi criado a Lei 8078 de 1990, conhecida como o Código de Defesa do Consumidor.

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II O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) é de 1990, fato que antes de sua criação, os problemas das relações de consumo, as lides, eram resolvidas através do Código Civil de 1917.

Conforme observa Rizzatto (NUNES, 2017, p.40):

nicie se co ocando um ponto: o CDC como sa emos foi editado em de setem ro de 99 ; portanto uma ei muito atrasada de proteção ao consumidor. Passamos o século inteiro ap icando s relações de consumo o Código Civil, lei que entrou em vigor em 1917, fundada na tradição do direito civil europeu do século anterior.

O Código Civil, porém, dava tratamento igualitário às partes, ele não considerava o principal ponto de que trata o CDC, a questão da vulnerabilidade do consumidor, que é um dos princípios nucleares do CDC.

A Constituição Federal de 1988 trouxe ao Estado o dever de promover a defesa do consumidor em dois artigos, são eles o art. 5º, inciso XXXII e art. 170, inciso V.

Em seu art. 5º, inciso XXXII, a Constituição de 88 deu uma garantia fundamental ao consumidor, a fim de proteger sua dignidade humana, pois enquanto pessoa, consome produtos e serviços para a manutenção de sua vida. Assim estabelece:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor (BRASIL, 1988)

A defesa do consumidor foi inserida como uma garantia fundamental na Constituição cidadã. Sempre que há eficácia horizontal dos direitos fundamentais, tanto o Estado como os particulares devem se atentar (TARTUCE, 2018)

Não bastante, também dispôs a defesa do consumidor no art. 170, inciso V da CF:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios

V - defesa do consumidor; (BRASIL, 1988)

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Aqui a Constituição mostra a possibilidade de se criar uma empresa para a exploração de uma atividade econômica, concorrendo inclusive com outras empresas, mas para tanto, devendo ser observado o princípio disposto no inciso V, que menciona a defesa do consumidor.

As normas do Código de Defesa do Consumidor (CDC) são normas de ordem pública, sendo assim, os direitos não podem ser renunciados pelo consumidor e os particulares não podem afastar sua aplicação, nem mesmo por meio de cláusulas abusivas, que em regra terão sua nulidade reconhecida de ofício pelos juízes, com ressalva às cláusulas de contratos bancários, onde não poderão ser reconhecidas de ofício, por conta da súmula 381 do STJ. (MARQUES, 2013)

Ademais, o CDC é considerado um microssistema multidisciplinar ―porque a erga em seu conteúdo as mais diversas disciplinas jurídicas com o objetivo maior de tutelar o consumidor, que é a parte mais fraca — o vulnerável — da relação jurídica de consumo‖. (BOLZAN, 2017, p.49)

Resta agora saber quando uma relação jurídica será uma relação de consumo, a fim de que se aplique o código que dá mais proteção ao consumidor, pretendendo harmonizar a relação de consumo.

2.1 A relação jurídica de consumo

Para todas as relações de consumo serão aplicadas as normas dispostas no CDC. No entanto, para que uma relação jurídica seja de consumo, é necessário a presença de três elementos: o consumidor, o fornecedor e um produto ou serviço.

2.1.1 Consumidor e fornecedor

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O consumidor está conceituado no art. 2º da Lei 8.078/90, que assim estabelece: ―Art. 2°

Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário fina ‖.

A norma ao definir o consumidor, utilizou um conceito amplo, onde não só a pessoa natural, mas também ―toda e qualquer pessoa jurídica‖ poderia ser enquadrada como consumidor, além disso, entende-se em ―adquirir e utilizar‖ não só produtos e serviços onerosos, mas também aqueles a título gratuito, mas para tanto é necessário que a pessoa se enquadre como ―destinatária fina ‖. (NUNES, 2017, p.119)

Em re ação a expressão ―destinatário fina ‖ importante destacar três teorias: a teoria finalista, a maximalista e a finalista aprofundada, que são explicadas por Claudia (MARQUES, 2013):

a) A teoria finalista, tem prevalecido na jurisprudência, ela compreende que para ser destinatário final, o consumidor não poderia utilizar o bem como insumo, ou tirar proveito econômico pois seria qua ificado como ―destinatário fina econômico‖ não havendo a figura do consumidor, não existindo uma relação jurídica de consumo e, portanto, se aplicaria o código civil.

b) Já a segunda teoria, a maximalista, apesar de não ser tão adotada pela jurisprudência, explica que o CDC deveria ser aplicado ao maior número de sujeitos possíveis, não importando a existência de finalidade lucrativa, sendo consumidor o destinatário fático, aquele que retira o bem do mercado para o próprio consumo ou para a utilização como insumo.

Dessa forma, se enquadraria no exemplo acima, desde a mulher que faz compras para a família no supermercado, como o empresário que compra produtos para sua empresa.

c) Por fim a terceira teoria, a finalista aprofundada, traz uma definição mais ampla de consumidor, possibilitando a pessoa jurídica ser reconhecida também como consumidora. Nesse caso, mesmo que pessoa jurídica não seja destinatária final, e desde que o insumo não seja de sua

―área de expertise‖, comprovada sua vulnerabilidade, ela seria considerada consumidora.

Como exemplo:

[...] o taxista que compra um veículo com a finalidade de auferir lucro transportando passageiros. Sem dúvida, há o uso econômico do produto em questão, mas o taxista é tão vulnerável quanto qualquer outra pessoa que adquire o veículo para passeio e, por essa questão, deve ser considerado consumidor. (DENSA, 2009, p. 11)

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Os artigos abaixo foram retirados do CDC e tratam do consumidor ―bystander‖, aqueles entendidos como consumidores por equiparação:

Art. 2º, Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

[...]

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

[...]

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. (BRASIL, 1990)

Por fim, dispõe o art. 2º, parágrafo único, que o CDC trata não só daquele consumidor que firma uma relação jurídica de consumo com o fornecedor, mas também uma coletividade de pessoas que possam vir a ser atingidas por essas relações jurídicas firmadas, seja em razão ao fato do produto (disposto no art.17, CDC), seja em relação à uma prática comercial (conforme o art.

29, CDC).

Após saber quem é a pessoa do consumidor, resta analisar a segunda pessoa da relação jurídica de consumo.

O fornecedor é mencionado no art. 3º do CDC, que diz:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. (BRASIL, 1990)

Mais uma vez, o código de defesa do consumidor buscou ser o mais amplo possível estendendo a condição de fornecedor a um conceito muito amplo. No que diz respeito a expressão ―desenvo ver atividade‖ tanto a doutrina como a jurisprudência têm entendido que ela deve ser realizada com uma certa habitualidade. Deste modo, identificada esta característica, a relação jurídica será de consumo, devendo ser aplicado o código de defesa do consumidor.

(BOLZAN, 2017)

Autores como Rizzatto Nunes, defendem que a pessoa física, ainda que exerça atividade eventualmente, pode ser qualificada como fornecedora, para isso bastaria que buscasse a obtenção de lucro.

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Ainda no tocante ao fornecedor possíve que exista uma ―cadeia de fornecedores‖ ou seja, mais de um fornecedor em uma mesma relação jurídica de consumo, onde haverá solidariedade entre eles. (MARQUES, 2013)

Sendo assim, a pessoa do fornecedor pode ser qualquer pessoa (física ou jurídica) que produz, monta, cria, constrói, transforma, importa, exporta, distribui ou comercializa (coloca no mercado) um produto ou serviço de maneira habitual.

2.1.2 Do produto e do serviço

O art.3º, parágrafo primeiro, do CDC trata do primeiro objeto de uma relação jurídica de consumo, o produto. Assim definido como ―qua quer em móve ou imóve materia ou imateria ‖.

Apesar de o conceito de produto previsto no CDC ter sido sucinto e objetivo, a doutrina entende pela necessidade de o dispositivo ser interpretado da maneira mais ampla possível, no sentido de a ergar qua quer o jeto co ocado venda no mercado de consumo. (BOLZAN, 2017, p. 127).

Também são produtos aqueles oferecidos a título de amostras grátis. Eles são considerados uma estratégia de marketing usada pelo fornecedor para apresentar um produto ao consumidor que posteriormente poderá adquirir. Apesar de serem gratuitos ao primeiro olhar, entende-se que existe uma remuneração ainda que indireta ao fornecedor. (MARQUES, 2013)

A amostra grátis é regulada pelo CDC, e se encontra no artigo 39, parágrafo único.

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:

(Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)

III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;

Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento. (BRASIL, 1990)

Quanto a classificação, os produtos podem ser ainda classificados em duráveis ou não duráveis, descartáveis, perecíveis, dissociáveis ou indissociáveis.

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Produtos duráveis ―não se extinguem após seu uso regu ar. Foram feitos para durar; para serem utilizados várias vezes. Não são, todavia, eternos. Sofrem desgastes naturais com o passar do tempo e a sequência de uso‖. Já os não duráveis, ―são aque es ens tangíveis que desaparecem, se destroem, acabam com o seu uso regular. (CAVALLIERI FILHO, 2008, p.64- 65)

Importante lembrar que os produtos não duráveis não devem ser confundidos com os produtos descartáveis pois este segundo trata de ―produtos duráveis‖ que são uti izados apenas uma vez e logo em seguida, são descartados. Os produtos descartáveis não recebem tratamento pelo CDC, da doutrina de Rizzatto se extrai o seguinte:

Um produto ―descartável‖ (termo não definido em ei o ―durável‖ de aixa dura i idade ou que somente pode ser uti izado uma vez. uma invenção do mercado contemporâneo que aca a aproximando o produto ―durável‖ em sua forma de desgaste ao produto ―não durável‖ em sua forma de extinção. (NUNES, 2017, p. 140)

A cultura do descartável teria surgido no século XIX nos Estados Unidos, naquele tempo os gastos com lavanderias eram altos, a confecção do papel se tornava mais barata que a de um pano, situação a qual eram produzidas blusas de papel e que após usadas poderiam ser queimadas pelos consumidores. (SLADE, 2007)

Bens perecíveis por sua vez, são bens não duráveis que necessitam de conservação especial para que não estraguem ou pereçam em um prazo exíguo. Os alimentos perecíveis apenas quando decorrem da natureza e não passam por processo de industrialização, não estão sujeitos a obsolescência programada. (CORNETTA, 2017)

Entende-se que os produtos indissociáveis são aqueles formados por componentes ou substâncias que dão origem a um composto, o qual não pode ser dissociado sem que comprometa o produto final. (GRINOVER, 2013)

Como exemplo de produtos indissociáveis podemos citar os remédios, a qual a alteração, suplementação, ou supressão de uma substância ou componente pode comprometer a composição final.

Já os produtos dissociáveis são aqueles onde é feito uma reunião ou justaposição de componentes ou peças a qual é possível remover uma peça ou componente sem que comprometa o produto final. (GRINOVER, 2013)

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Conclui-se que dentre produtos dissociáveis ou indissociáveis apenas o primeiro permite o reparo, ou seja, a troca de um componente defeituoso.

O art. 3º, parágrafo 2º do CDC, vem trazer a definição de serviço. Assim dispõe:

Art.3º, §2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. (BRASIL, 1990)

Nota-se que serviço pode ser entendido como uma atividade realizada pelo fornecedor para o consumidor, mediante uma remuneração. Essa remuneração pode ocorrer de forma direta (onerosa, onde o consumidor paga pelo serviço) ou indireta (gratuita, onde o consumidor aparenta não pagar, porém, o fornecedor obtém de forma indireta uma remuneração através do contrato de fornecimento de serviço, como por exemplo em um estacionamento de mercado que à primeira vista é gratuito, mas o consumidor acaba comprando produtos no mercado). Ademais as relações totalmente gratuitas não estabelecem relação de consumo. (MARQUES, 2013)

Da mesma forma as relações trabalhistas foram excluídas do CDC, pois possuem lei específica para regular as relações empregatícias, tal lei é fundamentada na Constituição e possui uma justiça especializada para dirimir os conflitos das relações de emprego. (BOLZAN, 2017)

Apesar de existirem dois objetos na relação jurídica de consumo, o presente trabalho irá destacar somente os produtos, pois são esses os que mais passam pela obsolescência programada.

Tendo definido os sujeitos e objetos da relação de consumo, importante agora, é tratar dos princípios as quais as normas devem objetivar.

2.2 Os princípios que norteiam as normas

Os princípios são verdadeiras bases, ou seja, servem como alicerce para as normas, e para sua correta aplicação. Existem vários princípios presentes no CDC, mas no momento abordaremos apenas alguns deles.

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O Código de Defesa do Consumidor prevê seus princípios no art. 4º. Eles são como uma norma narrativa, capaz de guiar, nortear e ―i uminar‖ o sentido das demais normas do microssistema. (MARQUES, 2013).

Sobre os princípios, explica Flávio Tartuce:

[...] os princípios não são aplicados apenas em casos de lacunas da lei, de forma meramente subsidiária, mas também de forma imediata, para corrigir normas injustas em determinadas situações. Em muitas concreções envolvendo entes privados – inclusive fornecedores e consumidores –, os princípios têm incidência imediata, como se verá na presente obra. Na esteira dessas últimas conclusões, não se pode esquecer que, muitas vezes, os princípios encontram-se expressos nas normas jurídicas, mas não necessariamente. No caso do Código do Consumidor, muitos dos princípios a seguir demonstrados podem ser retirados dos arts. 1º, 4º e 6º da Lei 8.078/1990. Todavia, existem princípios que são implícitos ao sistema protetivo, caso do princípio da função social dos contratos. (TARTUCE, 2018, p.29)

O princípio nuclear se encontra no artigo 4º, inciso I do CDC:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

(Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

(BRASIL, 1990)

O inciso I, trata do ―reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo‖. De acordo com a doutrina, a vulnerabilidade pode ser dividida em vulnerabilidade técnica; fática ou socioeconômica; jurídica e a vulnerabilidade informacional.

a) Na vulnerabilidade técnica de acordo com Claudia:

[...] o comprador não possui conhecimentos específicos sobre o objeto que está adquirindo e, portanto, é mais facilmente enganado quanto às características do bem ou quanto à sua utilidade, o mesmo ocorrendo em matéria de serviços. A vulnerabilidade técnica, no sistema do CDC, é presumida para o consumidor não profissional, mas também pode atingir excepcionalmente o profissional, destinatário fina fático do em‖.

(MARQUES, 2013, p.229):

b) No tocante a vulnerabilidade fática ou socioeconômica, são ―situações em que a insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica do consumidor o coloca em pé de desigua dade frente ao fornecedor‖ (BOLZAN 2 7 p.84

(25)

c) A vulnerabilidade jurídica ― a fa ta de conhecimento jurídico específico enquadrando- se tam m o conhecimento contá i e o econômico‖. Pode ser vista por exemp o quando o fornecedor coloca o consumidor em erro, ao dizer que a garantia do produto já se finalizou, quando na verdade ainda é válida. (NISHIYAMA, 2010, p.67)

Em se tratando da obsolescência programa, a principal vulnerabilidade encontrada diz respeito a vulnerabilidade informacional.

d) No que tange a vu nera i idade informaciona e a ― o maior fator de desequi í rio entre o consumidor e o fornecedor pois este timo o único verdadeiramente detentor da informação‖. (NISHIYAMA, 2010, p.67)

Resta diferenciar a condição de vulnerabilidade e a hipossuficiência. O CDC em seu art.

4º, inciso I, estabelece a condição de vulnerável a todos os consumidores. Já a condição de hipossuficiência pode ser aplicada tanto para o consumidor quanto para o fornecedor, e diz respeito a dificuldade para produzir uma prova, devendo ser analisada mediante um caso concreto.

A hipossuficiência outra característica do consumidor, mas não se confunde com a vulnerabilidade. Para o Código de Defesa do Consumidor, todos os consumidores são vulneráveis, mas nem todos são hipossuficientes.

A hipossuficiência pode ser econômica, quando o consumidor apresenta dificuldades financeiras, aproveitando-se o fornecedor desta condição, ou processual, quando o consumidor demonstra dificuldade de fazer prova em juízo. Esta condição de hipossuficiente deve ser verificada no caso concreto e caracterizada quando o consumidor apresenta traços de inferioridade cultural, técnica ou financeira. (DENSA, 2006, p.22)

Existe ainda a hipervulnerabilidade do consumidor, trata-se de uma vulnerabilidade excessiva, onde um grupo minoritário de pessoas são ainda mais frágeis em uma relação de consumo, e por essa razão precisam de ainda mais proteção. A jurisprudência tem considerado pessoas hipervulneráveis os idosos, as crianças, as gestantes, as pessoas com deficiência e os doentes. (BOLZAN, 2017)

O segundo princípio trata da intervenção estatal e está previsto no art. 4º, inciso II do CDC, ele foi inserido para atender ao artigo constitucional de número 5º, inciso XXXII.

II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:

a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;

c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

(26)

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. (BRASIL, 1990)

Esse segundo princípio trata das formas de intervenção do Estado, capazes de proteger os consumidores. As intervenções podem ser de ordem legislativa, quando o Estado cria normas de proteção ao consumidor, administrativa quando tutela o consumidor de forma direta ou indireta ou então como o Estado atua como julgador resolvendo conflitos das relações de consumo.

(BOLZAN, 2017)

No tocante a a ínea ―d‖ a ―missão desse sistema de fundamenta importância, não apenas no que diz respeito segurança e atendimento das necessidades e expectativas dos consumidores, como também no que tange à competitividade de nossos produtos no mercado externo‖. (GRINOVER, 2011, p. 78-79)

Há ainda o inciso VIII do artigo 4º do CDC que dispõe so re ―estudo constante das modificações do mercado de consumo‖. O poder público pode acompanhar as modificações no comportamento do consumidor no mercado de consumo, para que possa regrar as novas relações de forma mais efetiva.

O terceiro princípio com previsão no inciso III do artigo 4º do CDC, trata da harmonia nas relações de consumo.

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; (BRASIL, 1990)

Pode ser visualizada quando o fornecedor traz inovações econômicas e tecnológicas, mas se atentam a defesa do consumidor, utilizando instrumentos como a criação dos serviços de atendimento ao cliente (SAC), a busca pela prevenção de conflitos, ou as práticas de recall.

Existe ainda no inciso III, o princípio da boa-fé objetiva, que exige lealdade entre os sujeitos da relação de consumo. Não se analisa a boa-fé subjetiva, mas sim a objetiva, ou seja, o comportamento das partes ― oa-fé é cooperação e respeito, é conduta esperada e leal, tutelada em todas as re ações sociais‖ (MARQUES 2 3 p.234

(27)

Para se identificar a prática pela boa-fé das partes, é preciso analisar se elas se atentaram aos deveres anexos ou laterais, são eles o dever de informar, cooperar e proteger o consumidor.

(BOLZAN, 2017)

O último princípio previsto no inciso III fala sobre o equilíbrio nas relações de consumo, ou seja, as obrigações entre as partes precisam estar equilibradas.

O inciso IV traz os princípios da educação e informação tanto para o consumidor como para o fornecedor. José Filomeno, entende que existe dois tipos de educação, a formal e a informal:

[...] No tocante educação formal, destaca o autor a relevância de a criança ter contato desde os primeiros passos com o Direito do Consumidor, ainda que seja desnecessária a criação de uma disciplina para tratar do tema.

[...] Filomeno enaltece a importância da educação informal e o belo trabalho realizado nesse sentido pelos órgãos e entidades de defesa do consumidor, como ocorre com a elaboração de ―carti has materia informativo e outros instrumentos fornecidos pelos PROCONs constituem‐ se em utilíssimo instrumental para os consumidores inteirarem‐

se de seus direitos e prerrogativas. (FILOMENO, 2010 apud BOLZAN, 2017, p.248)

O princípio do incentivo ao autocontrole está previsto no art. 4º, inciso V do CDC.

V - Incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; (BRASIL, 1990)

Esse inciso trata que o fornecedor deve prezar por produtos e serviços que não acarretem risco à saúde ou segurança dos consumidores, salvo aqueles que são perigosos por sua natureza, neste caso o fornecedor deve dar a informação necessária e adequada a respeito. (BOLZAN, 2017)

O inciso VI do art. 4º do CDC traz a seguinte redação:

VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; (BRASIL, 1990)

O inciso supracitado trata dos casos em que o Estado intervirá em defesa do consumidor e do mercado de consumo. Esse inciso trata da concorrência desleal que traz prejuízo não só para o mercado, mas também para o consumidor. A intervenção poderá ser exercida não só pelo legislador, mas também pelos órgãos administrativos e, por sua vez, dar legitimidade para que o

(28)

poder judiciário ―exerça o contro e efetivo do conte do do contrato, controle da justiça contratual, em especial o controle das cláusulas abusivas‖. (MARQUES, 2013)

Os princípios mostrados, visam proteger o consumidor e o mercado, fazendo com que tanto o Estado, o fornecedor e também o consumidor ajam de forma a propiciar uma boa relação entre eles.

2.3 Os direitos básicos do consumidor

Como já abordado anteriormente, o modelo de produção em massa usado a partir da revolução industrial, tornou necessário a criação de leis que buscassem proteger a parte vulnerável da relação jurídica de consumo. Após a resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, que estabelecia direitos básicos aos consumidores, os países passaram a legislar sobre esses direitos, como forma de estabelecer um equilíbrio entre os sujeitos da relação de consumo.

Os direitos básicos, são assim definidos como ―interesses mínimos, materiais ou instrumentais, relacionados a direitos fundamentais universalmente consagrados que, diante de sua relevância social e econômica, pretendeu o legislador ver expressamente tutelados‖.

(CAVALIERI FILHO, 2011, p.90)

O art. 6º do CDC elenca em seus incisos, uma porção de direitos ao consumidor, por hora, analisaremos apenas os incisos II, III e IV:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012)

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; (BRASIL, 1990)

O art. 6º, inciso II do CDC fala a respeito do direito educação para o consumo e liberdade de escolha. Existem dois bens jurídicos tutelados por este inciso, o primeiro estabelece

(29)

que o consumidor deverá ter a informação necessária sobre o produto e sobre o contrato, de como o produto irá afetar seus interesses e sua individualidade, já o segundo direito diz respeito a liberdade de escolha do consumidor em optar por aquilo que melhor lhe atenda aos interesses.

(SILVA NETO, 2013)

O inciso II ainda dispõe que os consumidores devem ser tratados igualmente, o fornecedor deverá dar condições idênticas aos consumidores, com ressalva aos hipervulneráveis que deverão receber proteção especial. (NUNES, 2017)

Um dos direitos do consumidor, presentes no inciso III, diz respeito ao direito de informação. Se o fornecedor tem o dever de informar, o consumidor tem o direito de ser informado. Do direito da informação, destaca-se duas características, a primeira de que a informação seja adequada, ou seja, feita de acordo com a finalidade a que se propunha quando for completa, gratuita e útil, já a característica de ser clara, significa que a informação deve ser inteligível ao consumidor (MIRAGEM, 2010 apud BOLZAN, 2017)

O inciso IV trata da proteção contra as práticas comerciais e contratuais abusivas, e está derivado aos princípios da transparência, da confiança e da boa-fé objetiva, bem como o da concorrência leal (MARQUES, 2013)

Os direitos do consumidor podem estar esparsos em tratados e demais legislações como dispõe o art. 7º do CDC:

Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.

(BRASIL, 1990)

Após fazer o tratamento de um dos princípios e direitos básicos do consumidor, passaremos a abordar sobre a responsabilidade civil.

2.4 Responsabilidade civil

(30)

A revolução industrial foi responsável pela produção em massa, como se analisou, o fornecedor priorizava a quantidade e não a qualidade de seus produtos, certamente muitos deles eram colocados no mercado com imperfeições vindas do processo produtivo. Com o surgimento de danos ao consumidor, se fez importante definir a responsabilidade do fornecedor como uma responsabilidade objetiva, ou seja, independente de comprovação de culpa (lato sensu), capaz de mitigar a vulnerabilidade do consumidor ao aplicar a teoria do risco do empreendimento.

Pela teoria do risco do empreendimento, todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo tem o dever de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos independentemente de cu pa. Este dever imanente ao dever de obediência às normas técnicas e de segurança, bem como aos critérios de lealdade, quer perante os bens e serviços ofertados, quer perante os destinatários dessas ofertas. A responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se alguém a realizar atividade de produzir, estocar, distribuir e comercializar produtos ou executar determinados serviços. O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e serviços que oferece no mercado de consumo, respondendo pela qualidade e segurança dos mesmos. (CAVALIERI FILHO, 2014, p.309)

O CDC passou a observar os vícios e defeitos do produto, estabelecendo a responsabilidade objetiva ao fornecedor. Faremos a distinção entre fato e vício, e então passaremos a analisar as formas de responsabilização dispostas no CDC.

2.4.1 Vício e defeito

Diariamente as pessoas utilizam a expressão ―defeito‖ tanto para se referir a um vício como para se referir a um fato do produto. Ocorre que existe uma diferença entre eles a qual merece esclarecimento.

De início, os dois decorrem de um defeito do produto. O vício o defeito menos grave, capaz de causar mau funcionamento ou não funcionamento do produto como exemp o ―a televisão que não funciona ou que não produz boa imagem, a geladeira que não ge a‖. Já no fato do produto, o defeito é grave pois provoca um acidente que atinge o consumidor, comprometendo sua segurança, causando dano material ou moral, como exemplo cita-se ―o automóvel que colide com outro por falta de freio e fere os ocupantes de ambos os veículos‖. (CAVALIERI FILHO, 2014, p.346)

(31)

Em se tratando de vício do produto, eles podem ser classificados como aparentes ou ocultos segundo a doutrina. Os aparentes são aqueles que podem ser constatados visualmente ao tentar usar o produto. Já o vício oculto é aquele que aparece após algum ou muito tempo de uso.

(NUNES, 2017)

As normas referentes ao fato do produto e do serviço, se encontram no art. 12 ao art. 17 do CDC, e não serão aprofundadas no presente trabalho. Passaremos ao estudo dos produtos viciados, aqueles que são incólumes, ou seja, que não comprometem a saúde e segurança do consumidor.

Assim dispõe o art.18 do CDC:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

(BRASIL, 1990)

O artigo supra descrito, informa a responsabilidade solidária entre os fornecedores, ou seja, não só o fornecedor originário que responderá por vício, mas também, aqueles que participaram na comercialização e distribuição, e colocaram o produto à disposição dos consumidores. (FILOMENO, 2018).

Apesar de o artigo não fazer referência cu pa ―lato sensu‖ foi feito uma interpretação conforme ocorre nos arts. 12 e 14, sendo assim, se aplica a responsabilidade objetiva, nos casos de vício do produto. (MARTINS, 2008).

O egis ador usou a expressão ―fornecedor‖ estendendo a reponsa i idade tam m ao comerciante, ao contrário do que ocorre no fato do produto, nas hipóteses de vício, o comerciante é igualmente responsável. Sendo assim, em tese, o consumidor ao se deparar com um televisor que não quer ligar poderia ir até a loja e entregá-la ao comerciante o qual caberia encaminhar para a assistência técnica. Porém, em 2015 o STJ entendeu que o comerciante só teria este encargo, caso a assistência técnica ficasse em município diverso da localidade do consumidor.

(BOLZAN, 2017)

Ainda quanto a responsabilidade pelo vício, o legislador expôs as formas de solução:

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

(32)

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço. (BRASIL, 1990)

Identificado o vício, seja ele aparente ou não, o art.18, §1º estabelece que o consumidor deve aguardar o prazo de 30 dias para que o fornecedor repare o vício, em não sendo reparado neste prazo, o consumidor terá a faculdade de pedir a substituição por um produto da mesma espécie, ou ter a restituição do valor pago pelo produto, ou então o abatimento do preço.

O §3° traz a hipótese onde não é necessário aguardar os 30 dias, quando em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial:

§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. (BRASIL, 1990)

O art. 18, §6º do CDC define um rol exemplificativo, do que é o vício de qualidade que tornam os produtos impróprios para o consumo:

§ 6° São impróprios ao uso e consumo:

I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;

III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. (BRASIL, 1990)

Rizzatto define como vício de qualidade, aquele vício que torna o produto impróprio ou inadequado ao consumo a que se destina, ou como o vício que diminui o valor do produto, ou até mesmo aquele que contem falhas nas informações. (NUNES, 2017)

O art. 19 do CDC, aborda quanto aos vícios de quantidade e suas possíveis soluções:

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - o abatimento proporcional do preço;

II - complementação do peso ou medida;

(33)

III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;

IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. (BRASIL, 1990)

Vícios de quantidades são ―aque es decorrentes da disparidade com as indicações constantes do recipiente, embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária‖. (CAVALIERI FILHO, 2014)

Em se tratando de vício de quantidade, o consumidor não precisa esperar por 30 dias, pois o legislador não estabeleceu tal condição, podendo escolher dentre as alternativas oferecidas nos incisos de forma imediata. Outra observação diz respeito a responsabilidade, em se tratando de vício de quantidade, a responsabilidade é em regra solidária, a exceção se encontra no §2º do art.

19, onde o fornecedor imediato será responsável pelo vício de quantidade, quando fizer a pesagem do produto.

O art. 20 do CDC, trata da responsabilização do fornecedor por vícios de qualidade, nos serviços, tornando-os ―impróprios para o consumo‖, ou lhes diminuindo o valor, assim como os serviços que apresentem disparidade nas indicações constantes da oferta ou mensagem pu icitária‖. (BRASIL, 1990)

No art. 21, o CDC expõe que os serviços de reparo de produtos devem utilizar em via regra, componentes originais e novo, salvo quando autorizado situação diversa pelo consumidor.

O art. 23 reforça a ideia de responsabilidade objetiva, ao dizer que, mesmo diante a ignorância do fornecedor sobre o vício de qualidade por inadequação dos produtos e serviços ele não terá dispensado sua responsabilidade.

2.5 Da Decadência e da Prescrição

O Código de Defesa do consumidor, trata do prazo em que o consumidor deve agir para ver sanado o vício ou fato do produto.

Em disciplina própria sobre o assunto, o CDC dispõe que haverá a prescrição sempre que se tratar de acidente de consumo, seja ele de produto ou serviço. Já a decadência ocorrerá nos

(34)

casos de vício de produto ou de serviço, seja pela qualidade ou quantidade. (CAVALIERI FILHO, 2014, p.358)

Como o serva Rizzatto ―o direito ao p eito do saneamento do vício somente existe dentro do prazo de garantia‖. (NUNES, 2017, p.247)

Quanto a garantia o CDC prevê duas modalidades: a garantia legal e a garantia contratual.

A primeira, trata de uma garantia obrigatória prevista no art. 24 do CDC. Ela é dada a todos os produtos e serviços colocados no mercado, independe de termo expresso e não pode ser dispensada por cláusula contratual por tratar-se de uma norma de ordem pública inderrogável pela vontade das partes. (BOLZAN, 2017)

A segunda modalidade de garantia, está disposta no art. 50 do CDC. Trata-se de uma garantia facultativa fornecida pelo vendedor, caso ele forneça, o fará por termo expresso e a contagem transcorrerá antes do prazo da garantia legal. (TARTUCE, 2018)

Diante da existência da garantia, deve-se observar os prazos para reclamar. O prazo para reclamar de fato do produto ou serviço, está previsto no art. 27, e é um prazo prescricional de 5 anos a contar ―do conhecimento do dano e de sua autoria‖.

A garantia contra vícios, segundo a doutrina:

[...] tem por finalidade proteger o consumidor dos defeitos relacionados aos vícios do produto ou serviço (defeito intrínseco, existente desde a sua fabricação ou prestação), quer sejam eles aparentes quer ocultos, pelo que não estão cobertos pela garantia os defeitos decorrentes do desgaste natural do produto ou de sua má conservação.

(CAVALIERI FILHO, 2014, p. 364)

O prazo para reclamar de vícios do produto ou serviço está previsto no art. 26 do CDC e trata-se de um prazo decadencial. Aqui devemos tomar um pouco mais de cuidado, pois o legislador fez uma divisão entre produtos duráveis e não duráveis.

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:

I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;

II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.

§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.

§ 2° [...]. (BRASIL, 1990)

(35)

Desta forma, o prazo para reclamar de vícios de fácil constatação é decadencial de 30 dias para serviços e produtos não duráveis; e de 90 dias para serviços e produtos duráveis. Ambos os prazos são contados a partir da tradição, ou, entrega do produto ou serviço.

O cuidado deve ser redobrado ao analisar o art.26, §3 do CDC:

§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. (BRASIL, 1990)

Aqui o legislador comenta a respeito do vício oculto, onde se limitou a dizer que seu prazo é decadencial e contado a partir do conhecimento do ―defeito‖ sic.

O egis ador cometeu um erro de redação ao usar a expressão ―defeito‖ quando deveria se referir a vício, pois apesar de parecerem sinônimos, possuem significados diferentes para o código de defesa do consumidor:

[...] o vício oculto tem característica bastante duvidosa. O problema será considerado oculto quando simultaneamente:

a) não puder ser verificado no mero exame do produto ou serviço;

b) ainda não estiver provocando a impropriedade ou inadequação ou diminuição do valor do produto ou serviço. (NUNES, 2017, p. 430):

O egis ador usou o termo ―defeito‖ se referindo ao vício. Porém, não definiu por quanto tempo o fornecedor será responsável por esse vício. Diante disso, Herman Benjamin, Rizzatto Nunes, Sérgio Cavalieri Filho, Claudia Marques e Fabricio Bolzan destacam que o critério a ser ana isado será a ―vida ti ‖ do em.

Por essas e outras razões, a doutrina consumerista tem entendido que, no caso de vício oculto, cujo prazo para reclamar só se inicia no momento em que fica evidenciado o defeito (§ 3o, do art. 26), deve ser adotado o critério da vida útil do bem.

[...] ter-se-á que apurar, em cada caso, através de perícia qua a verdadeira causa do defeito. Em princípio, quanto mais distante estiver o produto ou serviço do final da sua vida útil, maior será a possibilidade de se tratar de um vício de qualidade. (CAVALIERI FILHO, 2014, p. 364)

A vida útil pode ser definida como o período em que determinado produto ou serviço pode ser usado, a longevidade de um produto. A vida útil de um produto está ligada a vários fatores como os componentes utilizados, sua natureza, qualidade do projeto, facilidade para

(36)

manutenção, temperatura, luminosidade, umidade, entre outros. (COOPER, 2010 apud CORNETTA, 2017)

No capitulo três será abordado o caso das lâmpadas que tiveram sua vida útil reduzida.

Para fazer tal redução, várias lâmpadas eram colocadas a teste, eram analisadas e dessa análise os cientistas das fábricas determinavam o que deveria ser modificado no projeto para que elas viessem a durar menos.

2.6 Publicidade

Como se verá mais a frente ao abordar a obsolescência, se notará que publicidade é uma estratégia de marketing muito usada pelo fornecedor, para provocar, no consumidor, o desejo de consumir cada vez mais em menos tempo.

Rizzatto trata a pu icidade como ―meio de aproximação do produto e do serviço ao consumidor tem guarida constitucional, ingressando como princípio capaz de orientar a conduta do publicitário no que diz respeito aos limites da possibilidade de utilização desse instrumento.‖

(NUNES, 2017)

Os termos publicidade e propaganda são confundidos muitas vezes como sinônimos, mas na verdade, trata-se de coisas diferentes. A publicidade tem o objetivo de anunciar produtos e serviços que podem ser adquiridos, já a propaganda é utilizada para propagar ideias.

A publicidade passou a ser usada a partir da Revolução Industrial, onde foi necessário um sistema de comunicação em massa, capaz de criar necessidades, mexer com o inconsciente e modificar padrões de consumo dos consumidores. (CAVALIERI FILHO, 2014)

O Código de Defesa do Consumidor passou então a disciplinar a publicidade do art. 36 a 38:

Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.

(37)

Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem.

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.

§ 4° (Vetado).

Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.

A publicidade tem a capacidade de informar e poupar o tempo do consumidor permitindo que ele exercite a sua liberdade de escolha. Ela atende tanto ao interesse de ser informado do consumidor, como também, o interesse econômico do fornecedor de promover seus produtos. Por isso a lei estabelece limites para que o fornecedor não se aproveite da vulnerabilidade do consumidor. (KHOURI, 2013)

2.6.1 Publicidade enganosa

O consumidor tem o direito a proteção contra a publicidade enganosa estampada no art.

6º, inciso IV do CDC. Tal prática, encontra-se proibida no art. 37 do CDC, e caso o fornecedor a faça, o art. 60, o obriga a fazer contrapropaganda, além de aplicações de caráter penal previstos no art. 67.

A publicidade enganosa pode ser dividida em comissiva e omissiva:

A publicidade comissiva seria aquela onde o fornecedor informaria uma característica inexistente ao produto, como exemplo, o autor cita o anúncio de um carro 2.0 que faz 20km/l no trânsito de um centro urbano. (BOLZAN, 2017)

Já na publicidade enganosa por omissão, o fornecedor deixaria de informar um dado essencial sobre o produto que poderia influenciar na escolha do consumidor. Sérgio Cavalieri cita

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