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3.3 Obsolescência programada, planejada ou de qualidade

3.3.3 Os impactos ambientais

Já vimos que a obsolescência programada é utilizada para reduzir a vida útil dos produtos, fazendo com que o consumidor sinta a necessidade de adquirir um novo produto, dessa forma, a empresa venderia cada vez mais em um curto espaço de tempo e obteria mais lucro. No entanto, para que haja um grande número de vendas é preciso que as empresas fabriquem uma grande quantidade de produtos para atender à demanda do mercado.

Nesse sentido, para a produção de produtos eletrônicos e eletrodomésticos, os fabricantes teriam que extrair uma excessiva quantidade de matérias-primas do tipo mineral (extraídos do solo), e daqui tiramos o primeiro problema de cunho ambiental, a exploração mineral de forma excessiva.

A exploração de minérios causa impactos negativos significativos ao meio ambiente, especialmente no Brasil, onde o método de extração é ainda muito rudimentar. [...] a exploração inadequada pode causar poluição do solo, do subsolo, do lençol freático, poluição dos cursos d’água po uição do ar e po uição sonora. No entanto a exp oração de minérios causa danos mais intensos ao solo. (SIRVINSKAS, 2018, p.532)

Na Amazônia uma das principais causas de desmatamento é a mineração do ouro, gerando rejeitos de alto teor em cianeto e mercúrio, que são altamente tóxicas e podem contaminar a água potável e a pesca. (BYRNE; EDWARDS, 2018)

Entre os materiais mais usados em um smartphone, o ferro corresponde a 20,47% de um aparelho celular. (STATISTA, 2010)

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de minério de ferro e exporta a maior parte de sua produção. Para a extração do minério são ocupadas e desmatadas áreas gigantescas, após a coleta dos minérios iniciam-se vários processos, entre eles o de aglomeração e concentração onde a água é muito utilizada e ao final são gerados resíduos parecidos com a lama, contendo óxidos de ferro e silício. A forma de armazenamento mais utilizada no Brasil são os reservatórios a céu aberto onde são contidas por barragens. Se essas barragens não forem bem estruturadas e

fiscalizadas elas podem se romper causando estragos a comunidades vizinhas e a natureza ao entorno. (ECYCLE, 2019)

A barragem por alteamento a montante é o método mais simples e barato e era utilizado na barragem que se rompeu em Brumadinho-MG em 2019, por não ser considerado um método seguro acabou sendo banido do Chile. (COSTA, 2019)

No desastre ocorrido em Mariana-MG em 2015 a lama que ficou sobre a vegetação se solidificará com o tempo, compondo uma espécie de cimento, impedindo o desenvolvimento de algumas espécies de vegetais, tornando a região infértil. Em contato com os rios, a lama provocou a turbidez das águas impedindo a fotossíntese de algumas espécies, isso afetou totalmente o ecossistema aquático provocando a morte de algas, resultando na inclusive na morte de peixes, além da lama ter provocado o assoreamento dos rios. (SANTOS, 2015)

Universidades em parcerias com algumas mineradoras e com o próprio poder público financiam projetos para o reaproveitamento de rejeitos, reutilizando-os, principalmente na construção civil, como a confecção de telhas, tijolos, e vários outros insumos para a construção civil. Segundo os pesquisadores os rejeitos não são tóxicos, nem corrosivos e muito menos inflamável. (ODILLA, 2019)

O que se deseja mostrar acima, é que a extração ilimitada de recursos limitados, somado a irresponsabilidade, pode causar (e já causou no Brasil) danos irreparáveis.

O segundo problema diz respeito a fabricação dos produtos. Após a revolução industrial o capitalismo passou a ser o modelo econômico mais adotado do mundo, a poluição passou a ser um problema global. (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013)

O comportamento consumerista é responsável pela extração de matérias-primas, pela geração de atividades industriais poluentes, pelo comportamento do descarte e do desperdício e por não incentiva atitudes e atividades sustentáveis. (ARAGUAIA, 2018)

O terceiro problema (e o mais mencionado em estudos) é o descarte irregular do lixo eletrônico.

O lixo eletrônico, também conhecido como e-lixo, é composto por produtos que não têm mais va or por fa ta de uti ização su stituição ou que ra. A categoria inc ui ―produtos da inha ranca‖ como refrigeradores máquinas de avar e microondas a ém de aparelhos eletrônicos como televisores, computadores, telefones celulares, tablets, drones, assim como pilhas, baterias, cartuchos e toners. (FELIPE, 2018)

O lixo eletrônico não pode ser descartado junto com o lixo doméstico, pois possui diversos metais pesados em sua composição, tais como: o chumbo, cobre, cádmio e níquel, e também metais preciosos como o ouro, prata e a platina. (SUÇUARANA, [entre 2014 e 2019])

Em 2016 todos os países do mundo geraram juntos 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico, onde apenas 20% foi documentado e reciclado. Estima-se que até 2021 a quantidade de lixo eletrônico deverá aumentar para 52,2 milhões de toneladas. Em 2016 as três regiões que mais geraram o e-lixo foram a Ásia, seguida pela Europa e as Américas. (BALDÉ et al., 2017)

O envio de lixo eletrônico para países de terceiro mundo é proibido por regras da União Europeia, mas acredita-se que as empresas tenham declarado o lixo como produtos de segunda mão. Então vários containers são enviados a Gana, com declarações de que os eletrônicos podem ser reparados e reutilizados, mas cerca de 80% do lixo eletrônico não possui conserto. (RTVE, 2014)

Gana recebe todos os anos cerca de 215 mil toneladas de aparelhos eletrônicos. Agbogbloshie, localizado em Accra (capital de Gana), é um dos maiores lixões tecnológicos do mundo. (ELOLA, 2017)

Os moradores de Agbogbloshie, possuem baixa condição econômica, procuram extrair metais e quaisquer componentes que possam ter valor econômico no lixo eletrônico. Porém as formas de extração desses materiais são precárias, muitas vezes resumidas na queima plásticos, quebra de vidros, manuseio de chapas metálicas (enferrujadas e cortantes) sem qualquer tipo de proteção, em um cenário de uma enorme montanha de lixo eletrônico, uma densa fumaça tóxica, onde animais e famílias pobres buscam sobreviver. (RTVE, 2014)

Embora o negócio beneficie cerca de 200 mil ganenses, [...]em algumas áreas de Agbogbloshie, a concentração de chumbo no solo chega a ser mil vezes superior à tolerada. E a exposição contínua, devido à falta de proteção, a substâncias como o chumbo, cádmio e mercúrio provoca desde dores de cabeça, tosse, erupções e queimaduras até câncer, doenças respiratórias e problemas reprodutivos. (GIORGI; ATTANASIO, 2015)

Segundo o pesquisador da Comissão de Energia Atômica de Gana, Atiemo Smapson, as quatro substâncias mais tóxicas do mundo são ―Merc rio chum o cádmio arsênico‖ e e as podem ser encontradas em grandes quantidades nesses tipos de ixões de e etrônicos‖. (BBC, 2016)

O lixo eletrônico, tem seu valor, sendo possível encontrar metais preciosos como ouro, prata, cobre, platina e paládio, e outros materiais que podem ser encontrados em maiores quantidades, como é o caso do ferro e do alumínio. Estatísticas apontam que em 2016 era possível encontrar 55 bilhões de euros em matérias-primas (entre elas: ouro, cobre, platina e paládio) presentes no lixo eletrônico. (BALDÉ et al., 2017)

Por isso é importante que os países invistam na reciclagem de lixo eletrônico, evitando que produtos tóxicos poluam o meio ambiente e prejudiquem a saúde das pessoas, podendo refletir positivamente na economia com o reaproveitamento das matérias-primas.

Em 2016 o Brasil gerou 1,5 milhão de toneladas de lixo eletrônico. No continente americano, só perdeu a primeira colocação para os Estados Unidos, que produziram 6,3 milhões de toneladas. (BALDÉ et al., 2017)

De acordo com o estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Brasil deixa de auferir R$ 8 bilhões por ano quando não recicla os resíduos. A Lei nº 12.305 de 2010 institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, procura enfrentar os problemas provenientes do manejo inadequado dos resíduos sólidos, propondo hábitos de consumo sustentável, buscando reduzir a geração de resíduos, promovendo uma maior reutilização e reciclagem deles. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2011)

O artigo 3º da Lei 12305/10, incisos XII, XVI e XVII conceituam alguns pontos:

XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;

[...]

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede p ica de esgotos ou em corpos d’água ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível; [...]

XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei; (BRASIL, 2010)

Já o art. 33, inciso VI trata da obrigatoriedade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes fazerem a logística reversa dos produtos eletrônicos e seus componentes:

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:

[...]

VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes. (BRASIL, 2010)

Passados pouco mais de 8 anos desde a criação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, as prefeituras, não possuem condições financeiras para assegurar um manejo adequado dos resíduos sólidos urbanos, como exigido na lei. (SENADO NOTICIAS, 2019)

É preciso fazer mudanças dos padrões de produção e consumo, diminuindo o descarte de lixo eletrônico e tóxico no planeta. (IDEC, 2012)

Devemos superar o modelo econômico ineficiente adotando um sistema de economia circular, no qual o lixo eletrônico é tratado como recurso. Isso reduziria a extração de matérias-primas, a quantidade de resíduos e energia gasta, aumentando o crescimento econômico, com empregos ―verdes‖ e oportunidades de negócios. (BALDÉ et al., 2017, p.55)

As marcas devem aumentar os prazos de garantia, incentivar o reparo dos produtos independente de não serem feitos em serviços autorizados, projetar seus produtos de forma a permitir a extração de peças e componentes, reduzir os impostos das marcas e dos artesãos que se dediquem a esse fim, além de multar aqueles que praticam a obsolescência programada de forma intencional. (ELOLA, 2017)

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