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Dissertação Carolina Ecard

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE LETRAS E ARTES

FACULDADE DE LETRAS

CAROLINA ECARD BARROS

A CORRELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE RETOMADA DE

OBJETO DIRETO E AS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO DO

PORTUGUÊS DO BRASIL E DO ESPANHOL DO MÉXICO

(2)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

A CORRELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE RETOMADA DE OBJETO DIRETO E AS

ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL E DO

ESPANHOL DO MÉXICO

CAROLINA ECARD BARROS

Dissertação

de

Mestrado

apresentada

ao

Programa

de

Pós-Graduação

em

Letras

Neolatinas da Universidade Federal do Rio de

Janeiro como quesito para a obtenção do Título de

Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos

Neolatinos, opção: Língua Espanhola)

Orientadora: Profa. Doutora Maria Mercedes

Riveiro Quintans Sebold

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A CORRELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE RETOMADA DE OBJETO DIRETO E AS

ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL E DO

ESPANHOL DO MÉXICO

Carolina Ecard Barros

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de

Pós-graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de

Janeiro

UFRJ, como parte dos requisitos mínimos para a

obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos

Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola)

Aprovada por:

______________________________________________________

Presidente, Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold - UFRJ ______________________________________________________

Profa. Doutora Filomena Varejão – UFRJ

______________________________________________________ Prof. Doutora Viviane Conceição Antunes Lima – UFRRJ

______________________________________________________ Profa. Doutora Virginia Sita Farias – UFRJ – Suplente

______________________________________________________ Profa. Doutor Leonardo Lennertz Marcotulio – UFRJ – Suplente

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AGRADECIMENTOS

Não poderia deixar de agradecer primeiramente aos meus pais e minha irmã que, sempre compreensivos, fizeram o que estava ao seu alcance para tornar a minha

luta diária co os estudos e os difícil e estivera do eu lado se pre.

Agradeço aos meus amigos e familiares que, com tanta boa vontade, me ajudaram inúmeras vezes para que eu chegasse até aqui. Seja com caronas, conselhos, palavras de conforto, participando dos meus testes, todos estes pequenos gestos do dia a dia contribuíram durante muitos anos para que eu pudesse seguir minha jornada na Faculdade de Letras.

Aos meus amigos de faculdade também dedico um agradecimento sincero por terem me ajudado sempre que precisei. Mas preciso reservar um agradecimento especial à minha amiga Renata, minha companheira de pesquisa que me incentivou desde o início. Se não fosse por você amiga, talvez eu não estivesse hoje no mestrado. Obrigada por tudo!

Serei sempre grata à minha orientadora querida Mercedes por ter me incentivado tanto e me ensinado coisas importantes que vão além da pesquisa. Obrigada por você, assim como a Renata, ter acreditado em mim quando eu mesma não acreditava.

Agradeço ao meu namorado por estar sempre do meu lado sendo meu melhor amigo, sempre me apoiando e me escutando falar eternamente sobre o quanto eu estava nervosa e preocupada e ansiosa etc

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Sinopse

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Resumo

A CORRELAÇÃO ENTRE TIPOS DE RETOMADA DE OBJETO E AS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL E DO

ESPANHOL DO MÉXICO

Carolina Ecard Barros

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

BARROS, Carolina Ecard. A correlação entre tipos de retomada de objeto e as estratégias de relativização do português do Brasil e do espanhol. Rio de Janeiro, 2017. Dissertação (Mestrado em Língua Espanhola) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

A presente pesquisa consiste em um estudo de cunho gerativista sobre as estratégias de relativização e os tipos de retomada de objeto direto produzidos por falantes de português do Brasil e do espanhol de três cidades mexicanas: Guadajajara, Guanajuato e Cidade do México. Damos continuidade à proposta de Kato (1981), segundo a qual estes dois conjuntos de fenômenos linguísticos podem estar correlacionados, de modo que seria possível apontar pares correlatos formados, cada um, por uma estratégia de relativização e um tipo de retomada de objeto. O falante selecionaria cada um destes pares de acordo com o contexto de comunicação em que se encontra. Temos como objetivo principal verificar se a correlação entre estratégias de relativização e tipos de retomada de objeto ocorre no português do Brasil e se também ocorre no espanhol. Assumimos como hipótese que cada estratégia de relativização produzida pelos falantes estará correlacionada a um tipo de retomada de objeto utilizado por eles e que tal correlação acontece no português do Brasil e também pode ser encontrada no espanhol. Adotamos como metodologia a aplicação de um teste de produção de fala induzida, que foi realizado com um grupo de falantes de português do Brasil e um grupo de falantes de espanhol, todos adultos e com alto nível de escolaridade. O experimento exigia que os informantes descrevessem uma sequência de imagens e respondessem a algumas perguntas. A partir da análise dos dados pudemos observar que a correlação proposta parece realmente ocorrer no PB, mas não parece ocorrer no espanhol.

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Resumen

LA CORRELACIÓN ENTRE LOS TIPOS DE RETOMADA DE OBJETO DIRECTO Y LAS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZACIÓN DEL PORTUGUÉS

DE BRASIL Y DEL ESPANHOL DE MÉXICO

Carolina Ecard Barros

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

BARROS, Carolina Ecard. A correlação entre tipos de retomada de objeto e as estratégias de relativização do português do Brasil e do espanhol. Rio de Janeiro, 2017. Dissertação (Mestrado em Língua Espanhola) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017

Esta investigación consiste en un estudio de cuño generativista sobre las estrategias de relativización y los tipos de retomada de objeto directo producidos por hablantes de portugués de Brasil e del español de três ciudades mexicanas: Guadajajara, Guanajuato y Ciudad de México. Nos basaremos la propuesta de Kato (1981), según la cual estos dos conjuntos de fenómenos lingüísticos pueden estar correlacionados, de manera que sea posible indicar pares que estén formados, cada uno de ellos, por una estrategia de relativización y un tipo de retomada de objeto. El hablante seleccionaría cada uno de estos pares de acuerdo con el contexto de comunicación en el que se encuentre. Nuestro objetivo principal es verificar si la correlación entre estrategias de relativización y los tipos de retomada de objeto ocurre en portugués de Brasil y si también ocurre lo mismo en el español. La hipótesis que asumimos es que cada estrategia de relativización producida estará correlacionada a un tipo de retomada de objeto y que dicha correlación ocurre en portugués de Brasil y también puede ser encontrada en el español. La metodología que adoptamos es la aplicación de un test de producción de habla inducida, que fue hecho por un grupo de hablantes de portugués de Brasil y un grupo de hablantes de español, todos adultos y con alto nivel de escolaridad. El experimento exigía que los informantes describieran una secuencia de imágenes y que respondieran a algunas preguntas. A partir del análisis de los datos, se pudo observar que la correlación que proponemos parece ocurrir en portugués de Brasil, pero no parece ocurrir en el español.

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Abstract

THE CORRELATION BETWEEN THE STRATEGIES RETAKE DIRECT OBJECT AND THE RELATIVIZATION STRATEGIES OF BRAZILIAN

PORTUGUESE AND MEXICAN SPANISH

Carolina Ecard Barros

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

BARROS, Carolina Ecard. A correlação entre tipos de retomada de objeto e as estratégias de relativização do português do Brasil e do espanhol. Rio de Janeiro, 2017. Dissertação (Mestrado em Língua Espanhola) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017

This research is a generative nature study about the relativization strategies (RS) and the strategies retake direct object produced by Brazilian Portuguese (BP) speakers and Spanish speakers from three different cities of Mexico: Guadalajara, Guajanuato and Ciudad de Mexico. We will follow-up Kato’s (1981) proposition, according to which these two groups of linguistic topics can be correlated, in a way that would be possible to indicate correlated pairs that are formed by a RS and a strategy retake direct object. The speaker could choose each pair according to a given communication context. Our main objective is to if the correlation between RSs and a strategies retake direct object occurs in BP and if it also happens in Spanish. The hypothesis we defend is that each RS that is produced by the speakers will be correlated to one strategy retake direct object used by them and the correlation happens in BP and in Spanish. The methodology we adopted is an experiment that induces the speaker to produce certain expressions, which was done with a group of BP speakers and a group of Spanish speakers that have a high level of schooling. The experiment requires that the participants described a sequence of images and answer some questions. The results revealed that the correlation can occur in BP but not in Spanish.

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SUMÁRIO

1. Capítulo 1 –O estudo da competência linguística a partir da abordagem gerativista ... 16

1.1. Língua-I e Língua-E... 16

1.2. Gramática nuclear a gramática periférica ... 19

1.3. O Movimento de constituintes na derivação de orações relativas ... 21

2. Capítulo 2 - A retomada do objeto direto no PB e no espanhol ... 25

2.1.Tipos de retomada de objeto direto no PB ... 25

2.1.1. A perda do clítico acusativo no PB ... 26

2.1.2. O objeto nulo no PB ... 30

2.1.3. O pronome tônico no PB ... 31

2.1.4. A retomada por repetição do SN ... 33

2.2. Tipos de retomada de objeto direto no espanhol ... 34

2.2.1. A retomada por clíticos no espanhol ... 34

2.2.2. O objeto nulo no espanhol ... 35

2.2.3. Outros tipos de retomada de objeto no espanhol ... 37

3. A relativização no PB e no espanhol ... 39

3.1. Línguas tipologicamente próximas: o caso do PB e do espanhol ... 39

3.2. O conceito de relativização ... 43

3.3. Estratégias de relativização do Português do Brasil ... 44

3.4. Estratégias de relativização do espanhol ... 50

3.5. Sobre a correlação entre estratégias de relativização e tipos de retomada de objeto ... 55

4. Metodologia ... 60

4.1. Perfil dos informantes ... 60

4.1.1. Falantes de PB ... 61

4.1.2. Falantes de espanhol ... 61

4.2. O teste ... 61

4.2.1. Aplicação ... 61

4.2.2. Descrição do material utilizado na primeira tarefa do teste ... 62

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4.3. Tratamento dos dados ... 72

5. Análise dos dados ... 73

5.1. Tipos de retomada do PB ... 73

5.1.1. Apagamento do objeto e retomada por repetição do SN ... 76

5.1.2. A retomada por clíticos ... 78

5.1.3. A retomada por pronome tônico ... 79

5.2. Estratégias de relativização do PB: análise dos resultados ... 80

5.2.1. O grau de escolaridade dos informantes ... 83

5.2.2. Função sintática do elemento relativizado ... 85

5.3. Tipos de retomada do espanhol: análise dos resultados ... 87

5.4. Estratégias de relativização do espanhol ... 90

5.4.1. As relativas padrão do espanhol ... 92

5.4.2. Análise das estratégias de relativização presentes na primeira tarefa do teste ... 95

5.4.3. Função sintática do elemento relativizado ... 97

Considerações finais ... 101

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14

Introdução

Assim como as diferentes línguas humanas variam entre si, também podemos encontrar variação dentro de uma mesma língua. Um falante de uma língua como o português do Brasil (PB) ou o espanhol, por exemplo, dispõe de inúmeros recursos linguísticos que pode utilizar nas mais diversas situações e optar pelo que julgar mais adequado para cada uma delas. Alguns destes recursos seriam, por exemplo, as estratégias de relativização (ER) e as estratégias de retomada, que se manifestam nas línguas por meio de diferentes configurações. Considerando esta questão, Kato (1981) se propõe a descrever um modelo de uso individual para as ERs do PB, observando os fatores linguísticos e extralinguísticos que estariam envolvidos na variação das relativas que pode ocorrer na produção de um mesmo indivíduo.

Observando também que há variação individual no uso que os falantes de PB fazem dos diferentes tipos de retomada do objeto (RO) disponíveis nesta língua, a autora cogita, então, uma aproximação entre ERs e tipos de RO. Ela propõe que é possível que exista uma correlação entre estes dois tópicos linguísticos que nos permita prever qual ER um indivíduo selecionará preferencialmente de acordo com o tipo de RO que ele mais usa. Assim, são apresentadas as seguintes hipóteses:

Se o tipo de retomada selecionado for o apagamento, então a ER será a cortadora;

Se o tipo de retomada selecionado for o pronome tônico, então a ER será a copiadora;

Se a retomada for realizada por clíticos, então a ER será a estratégia padrão.

Os pares correlatos formados caracterizariam as diferentes gramáticas paralelas de que um falante de PB dispõe. Parece possível também, segundo Kato (1981), que a correlação, se realmente existir, ocorra em outras línguas.

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15 levaram a cogitar a possibilidade que ERs e tipos de RO podem também estar correlacionados, porque, em princípio, não haveria evidências contrárias a isso. Então, selecionamos como variedades a serem estudadas o espanhol da Cidade do México, da cidade de Guadalajara e da cidade de Guanajuato.

Para o nosso estudo, consideramos fundamental investigar a influência da escolarização sobre as estruturas linguísticas que analisamos e sua distribuição nas línguas. Além disso, acreditamos que o fato de o contexto de comunicação ser mais ou menos controlado influencia a variação individual das relativas e das retomadas, bem como o fato de determinados elementos fazerem parte ou não da Língua-I do falante.

Temos como objetivos específicos primeiramente descrever os tipos de retomada de objeto direto e as ER do PB e no espanhol. Pretendemos também observar a produtividade que cada ER e cada tipo de retomada apresentam nestas duas línguas, a fim de verificarmos quais seriam as estruturas mais selecionadas pelos falantes. Estes passos nos levariam ao nosso objetivo mais geral que é o de verificar se a escolha do tipo de retomada de objeto mantém relação de correspondência com a escolha da estratégia de relativização de modo que possamos identificar pares correlatos caracterizadores de variedades de uma mesma língua, como a variedade padrão e a variedade não padrão. A hipótese que assumimos é que há uma correlação entre ERs e tipos de retomada de objeto no PB e que também há correlação entre as ERs e tipos de retomada de objeto no espanhol, de modo que:

A ER padrão está correlacionada à retomada do objeto por clíticos;

A ER cortadora está correlacionada ao apagamento do objeto;

A ER copiadora está correlacionada à retomada do objeto por pronome tônico.

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1.

O estudo da compete ncia

linguí stica

a partir da abordagem

gerativista

1.1.

Língua-I e Língua-E

Um dos principais interesses da Teoria Gerativa consiste no estudo do sistema de conhecimento sobre a linguagem comum à espécie humana que está de algum modo representado na mente/cérebro de cada indivíduo. Este tipo de conhecimento linguístico é o que Chomsky (1986) denomina de Língua-I, que é um conhecimento internalizado adquirido de maneira natural durante a infância.

A concepção de língua que assumimos, de acordo com a Teoria Gerativa, é a de que língua é um estado mental dos indivíduos. Quando nascemos, nossa mente se encontra num estágio inicial (S0) comum à todos os seres humanos e que é constituído de princípios bastante gerais sobre a linguagem. Este estágio inicial é o que conhecemos como Gramática Universal (GU). À medida que interagimos com o ambiente, entramos em contato com dados linguísticos produzidos pelos indivíduos de uma comunidade, o que faz com que o estágio inicial (S0) comece a ser modificado e especificado segundo as propriedades do conjunto de dados linguísticos aos quais somos expostos. No final do processo de aquisição da linguagem, nossa mente atinge um estagio relativamente estável (Ss) que corresponde à Língua-I de um falante adulto.

De tudo o que um indivíduo produz em termos de linguagem, grande parte é determinada pela sua Língua-I, o que significa que o que falamos é determinado em grande medida pelo conjunto de princípios referentes à linguagem que regem a Língua-I de todos os seres humanos. Cada pessoa possui sua própria Língua-I, por isso dizemos que ela possui caráter individual, já que varia em relação a cada indivíduo. Porém é necessário considerar que as Línguas-I não variam de maneira ilimitada, pois devem obedecer ao conjunto de regras previsto pela GU que é comum à espécie.

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18 uma oração relativa ou a retomada de um referente, há uma estrutura subjacente que respeita os limites impostos pela GU com relação ao que é possível de ser produzido numa língua natural. Interessa-nos, portanto, observar o que há de comum (relativo às Línguas-I dos falantes) entre as diferentes estratégias que os indivíduos utilizam para expressar os fenômenos linguísticos que observamos e o que consiste em uma particularidade compartilhada por vários indivíduos de uma mesma comunidade linguística, mas que pode variar de uma comunidade para outra.

Consideremos, por exemplo, o que Correa (1998) diz sobre as ERs do PB. As orações relativas são estruturas que estão disponíveis a todas as línguas naturais, porém elas podem se manifestar de formas diferentes numa mesma língua. No PB elas se manifestam de três formas, cada uma correspondendo a uma ER: a estratégia cortadora, a estratégia copiadora e a estratégia padrão. Mas apenas duas delas são adquiridas naturalmente pelos falantes desta língua, sendo a terceira, no caso de relativas preposicionadas, fruto de uma exposição constante durante o processo de escolarização. Sendo assim, as ERs que um indivíduo adquire durante o período de aquisição da linguagem são aquelas que irão compor a sua Língua-I. Espera-se, portanto, que todos os falantes de PB apresentem em sua Língua-I as ERs que adquiriram naturalmente e que apenas aqueles que se submeteram ao processo de escolarização produzam a estratégia padrão.

Casos como o da ER padrão do PB, que só é aprendida apenas através de instrução formal, se enquadram, segundo Oliveira, M. (2007), no que conhecemos como Língua-E. Este conceito se opõe ao de Língua-I na medida em que não se refere ao conhecimento internalizado na mente dos indivíduos, mas ao que lhes é externo. A Língua-E, para Chomsky (1986), compreende o conjunto dos expressões linguísticas produzidas e compartilhadas por uma comunidade linguística. Tudo o que pode fazer parte da Língua-E é determinado pelo sistema de conhecimento que já adquirimos (a Língua-I) e, por isso, é derivada dele. Quando uma criança está adquirindo uma língua ela tem acesso à Língua-E dos indivíduos com quem convive e a partir dela constrói sua própria Língua-I, o que só é possível graças ao conhecimento inato de que dispõe.

(19)

19 dissertação, Kato (1981, p. 14) afirma que “se tal correspondência realmente ocorrer, teremos uma restrição implicacional transderivacional a nível de produção, caracterizadora de idioletos.” Assim, a autora postula que se a correlação entre ERs e tipos de retomada de objeto ocorrer no PB de modo a formar pares correlatos, cada um desses pares formados caracterizaria um idioleto possível para um falante de PB. A noção de idioleto, segundo Rosa (2010), se refere ao uso individual da língua no sentido de que o que o indivíduo produz se distancia em alguns aspectos do que é falado por sua comunidade, mas se aproxima à produção de um certo conjunto de indivíduos em determinadas situações. Assim, a autora afirma que idioleto seria um termo mais antigo usado para referir-se ao que conhecemos como Língua-E. Como Kato (1981) deixa claro que a correspondência entre os pares linguísticos está relacionada à produção dos indivíduos, então podemos entender que a autora se refere à Língua-E. Embora os pares correlatos sejam compostos também por elementos linguísticos que fazem parte da Língua-I dos falantes de PB, cada par, por ser utilizado numa situação específica variando de acordo com o registro de fala, caracterizaria, deste modo, as escolhas próprias da produção de um indivíduo.

(20)

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1.2.

Gramática periférica e gramática nuclear

O questionamento sobre o que há na mente de um falante que conhece uma língua particular, como inglês ou japonês nos remete ao desenvolvimento de gramáticas das línguas. A gramática de uma língua, para Chomsky (1986), consiste na teoria utilizada para descrever sua estrutura, assim, a gramática de uma língua-I é um modelo abstrato da sua representação. O que pretendemos elaborar, portanto, seria um modelo que represente a estrutura do conhecimento que permite ao falante compreender uma língua particular e ter intuições sobre quais são as expressões lingüísticas admitidas na sua língua (a língua que ele adquiriu).

O que conhecemos como Língua-I de um indivíduo é composto, segundo Chomsky (1981), por uma gramática nuclear e uma gramática periférica. A gramática nuclear de um indivíduo é construída durante o processo de aquisição da linguagem a medida que ocorre a especificação dos parâmetros da gramática universal (GU). A GU permite que sejam geradas diversos tipos de gramáticas nucleares, porém a variação existente entre elas deve sempre respeitar os limites impostos pelos princípios universais. É na gramática nuclear que se encontram todos os elementos linguísticos próprios da competência linguística de um indivíduo. A gramática periférica, por sua vez, é um domínio que inclui necessariamente o material contido na gramática nuclear e também outros elementos de maior variabilidade nas línguas, como empréstimos, o léxico em geral, inovações da língua, entre outros. Os elementos que compõem a periferia podem variar bastante entre distintos grupos de indivíduos ainda que façam parte de uma mesma comunidade linguística.

Podemos citar alguns exemplos de estruturas do PB que nos relevam diferenças entre os conceitos de gramática nuclear e periférica. Vejamos abaixo1:

(1) […] não posso comprar detergente suave para lavar as minhas duas únicas camisas, mantenho-as bem limpas com sabão azul

(2) Eu também já tive o meu bonequinho! Era o ursinho Bilu! Pra onde eu ia, sempre levava ele!

No exemplo 1 temos um caso de retomada de objeto realizada por um clítico, no qual o antecedente “as minhas duas únicas camisas” é retomado pelo clítico “as” na

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21 função de objeto direto do verbo “manter”. Este tipo de retomada de objeto é muito comum na escrita de falantes de PB, mas não em sua fala, como verificou Freire (2011). O autor atribui este fato à explicação de que os clíticos de acusativo e dativo não fazem parte da gramática nuclear de falantes de PB, pois não fazem parte do processo de aquisição natural da linguagem. Estes clíticos praticamente não ocorrem na fala, mas ainda ocorrem de maneira significativa na escrita de indivíduos escolarizados.

O contrário ocorre com a retomada por pronomes tônicos, que podemos identificar no exemplo 2. Nele o antecedente “o ursinho Bilu” é retomado pelo pronome “ele”, objeto direto do verbo “levar”. A retomada por pronomes tônicos é muito mais utilizada na fala e menos na escrita, sendo esta um tipo de retomada que consta na gramática nuclear de falantes de PB. A forte presença de clíticos na escrita em competição com outros tipos de retomada de objeto é resultado da escolarização que ainda consegue, com maior ou menor êxito a depender de cada caso, incluir na produção dos indivíduos elementos que não fazem parte de sua gramática nuclear.

Conforme Freire (2011) observou em seu estudo, o indivíduo falante de PB escolarizado acessa a língua falada a fim de recuperar o conhecimento que já possui sobre a língua que adquiriu, o português e, com isso, aprender estruturas da língua escrita. Isso seria possível porque na Língua-I deste indivíduo existe uma periferia cujos valores dos parâmetros estão fixados de maneira oposta aos que foram fixados em sua gramática nuclear. Durante o processo de escolarização, os parâmetros da periferia que já estavam presentes são então acionados e desta forma um falante consegue incorporar elementos que não faziam parte de sua Língua-I, como os clíticos no caso do PB. Estes elementos passam a integrar uma nova gramática desenvolvida pelo falante e que estará disponível para ele em diversas situações, como por exemplo, o uso de clíticos na escrita que exigiria o acesso a esta outra gramática.

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22 da gramática periférica dos falantes e são mais acessadas em contextos de maior formalidade e na escrita.

Conforme Kato (1981) já havia mencionado, a variação individual das relativas, ou seja, a variação no uso de um mesmo falante pode ser explicada por uma mudança de gramáticas. Um indivíduo selecionaria uma das gramáticas que estiverem disponíveis para ele de maneira consciente, conforme a sua necessidade de se adequar à situação de comunicação. Contextos de fala mais controlados ilustram bem essa mudança, pois o falante se mostra consciente do quanto cada elemento linguístico pode ser mais ou menos marcado socialmente e baseado nisso, entre outros fatores, faz suas escolhas. Para a autora, estas gramáticas disponíveis seriam paralelas e a troca de uma para outra poderia ser determinada por fatores extralinguísticos.

Entretanto, no caso das ERs Kato (1981) também considera que fatores de ordem estritamente linguística podem também guiar a mudança de uma estratégia para outra na produção do falante, visto que há casos em que o indivíduo se encontra, por exemplo, em uma situação de formalidade, mas utiliza uma estratégia considerada marginal. Um dos fatores relacionados a esta questão pode ser o grau de complexidade que uma estratégia de relativização oferece para ser produzida, mas este tópico abordaremos com maior detalhamento no capítulo 3 que trata mais especificamente sobre a relativização.

1.3.

O Movimento

de constituintes na derivação de orações

relativas

As orações relativas se caracterizam por serem sentenças encaixadas que funcionam como modificadores de um sintagma nominal (SN). Este sintagma é também conhecido como núcleo e, por isso, relativas que aparecem adjacentes a um SN são chamadas de nucleares e se diferenciam das relativas livres por estas últimas não se associarem a um núcleo. Vejamos o exemplo a seguir2:

(1) A cadeia de supermercadoi [da qual você é acessor Øi ]

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23 No exemplo 3, o SN “a cadeia de supermercado” é o núcleo nominal da oração relativa “da qual você é acessor”. Essa sentença, nos traz ainda um exemplo de relativa padrão preposicionada, o que significa que a ER utilizada é a estratégia padrão e a função sintática que o SN relativizado assume dentro da relativa é regida por uma preposição, neste caso a preposição “de.”

De acordo com Braga et ali (2015), uma relativa padrão como a do exemplo que apresentamos é derivada através do movimento do pronome relativo para o início da sentença, deixando em sua posição de origem uma categoria vazia que é correferente ao SN relativizado. O movimento do pronome relativo, nas relativas padrão deste tipo, é acompanhado pelo movimento da preposição que se antepõe a ele. Este movimento de dois constituintes é que chamamos de pied piping.

Há também relativas padrão que não envolvem piedpiping, como as relativas do PB introduzidas por “onde”:

(2) Locaisi [onde tem assim mais facilidade de comunicação Øi ]

Neste caso a ER é considerada padrão, já que a oração relativa é introduzida por “onde”, mas este pronome dispensa preposições ao contrário dos pronomes “que” e “qual”.

O movimento de constituintes da sentenças, como ocorre com o pronome relativo é uma das operações realizadas pelo sistema computacional e também é conhecido pela denominação em inglês Move. Esta operação consiste no deslocamento de constituintes durante uma determinada derivação. Deste modo, um constituinte passa a ocupar uma posição diferente daquela em que foi gerado e, muitas vezes, é interpretado numa posição distinta da posição na qual foi pronunciado na forma final da sentença construída.

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24 acordo com as condições de legibilidade) pelos sistemas de performance e irá fracassar. Para que tais traços sejam eliminados, é realizada a operação da checagem de traços, que se dá através do encontro de itens, no mesmo domínio, que contenham traços equivalentes e são esses traços os que são eliminados. No caso dos traços não interpretáveis, segundo Chomsky (1995), a sua checagem ocorre através do movimento de constituintes. O movimento de constituintes é, portanto, uma operação realizada a fim de que se possa atender a certas condições de legibilidade do sistema.

Consideremos, a partir de agora, algumas condições sobre o movimento que estão diretamente relacionadas com um de nossos objetos de estudo, as orações relativas. A aplicação de Move deve respeitar não somente condições de legibilidade como também certas condições de economia do sistema. Para tanto, a quantidade de material movido deve ser a menor possível, sendo deslocado apenas o estritamente necessário.

Se considerarmos que as orações relativas são estruturas derivadas por movimento como propõe Chomsky (1977), temos que, na sua derivação, é necessário o movimento de um elemento QU, que neste caso é o pronome relativo, para o início da sentença. Segundo Kenedy (2007), mesmo em uma relativa na qual o pronome relativo é regido por uma preposição devido à função sintática que assumiu neste contexto, o movimento apenas do pronome já é suficiente, porque seria a operação mais econômica para o sistema computacional. Não sendo necessário que a preposição seja movida também para acompanhá-lo, como ocorreria numa sentença interrogativa. Observemos o exemplo abaixo3:

(3) [CP [PP com [DP quem]]i WH [você foi à praia [PP com [DP quem]]i]]?

No exemplo 1, vemos que não só pronome “quem” deve ser obrigatoriamente movido, mas também a preposição “com” porque o português não licencia sentenças com este tipo de preposição abandonada ao final, como é comum no inglês, por exemplo. Mas no caso de orações relativas temos outras possibilidades além do movimento da preposição junto ao pronome relativo.

Uma oração relativa preposicionada no PB formada pela estratégia padrão apresenta a seguinte estrutura:

(4) O assunto [CP [PP de [DP que]]WH [T P o professor [vP falou]]]

(25)

25 Relativas piedpiping, como a que podemos ver no exemplo (2), também ocorrem com semelhante estrutura em outras línguas. No entanto, tanto o PB como as demais línguas apresentam outras possibilidades de formação de uma oração relativa preposicionada, ou seja, outras ERs. Tais estratégias se diferenciam de uma relativa piedpiping porque nenhuma delas envolve o movimento da preposição além do movimento do pronome relativo. Se o sistema computacional prefere sempre as derivações mais econômicas, consequentemente as relativas piedpiping seriam bloqueadas pelas demais ERs que não envolvem o movimento de dois constituintes, mas apenas o do pronome. Estas últimas podem ser formadas pela omissão da preposição que rege o pronome relativo, pelo seu abandono (stranding) no final da relativa e pela sua manutenção na posição de base

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26

2. A retomada do objeto direto no PB

e no espanhol

Introdução

Neste capítulo, apresentaremos os tipos de RO disponíveis no português do Brasil e no espanhol. Para tanto, nos basearemos em estudos que tratam não somente da distribuição de tais RO nas línguas citadas, como também dos fatores envolvidos na preferência dos falantes pela seleção de determinada estratégia anafórica.

Na presente dissertação, pretendemos dar prosseguimento à proposta formulada por Kato (1981), segundo a qual cada estratégia anafórica (que aqui tratamos como tipos de retomada de objeto) de uma língua pode estar correlacionada a uma determinada

estratégia de relativização. Ao citar tal proposta, a pesquisadora utiliza em seu texto alguns exemplos dos tipos de estratégia anafórica a que se refere. Reproduzimos, abaixo, tais exemplos:

(7) Eu descasquei as laranjas e Pedro as comeu. (8) Eu descasquei as laranjas e Pedro comeu elas. (9) Eu descasquei as laranjas e Pedro comeu Ø.

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2.1.

Tipos de retomada de objeto direto no PB

2.1.1.

A perda do clítico acusativo no PB

Podemos identificar no PB atual quatro estratégias para a realização da retomada de um elemento (sintagma nominal ou sentença) que assumirá a função de objeto direto (Oliveira, S. 2007), a saber4:

a. A retomada por clíticos (10) – Você conhece o João?

– Sim, conheço-o.

b. A retomada por um pronome tônico (11) – Você conhece o João?

– Sim, (eu) conheço ele.

c. A presença de uma categoria vazia (objeto nulo) (12) – Você conhece o João?

– Conheço [Ø].

d. A retomada por um SN que repete o antecedente (13) – Você conhece o João?

– Sim, conheço o João.

O sistema de clíticos do PB é composto pelas formas me, te, lhe(s), se, o(s), a(s)

e nos, apresentados no quadro abaixo que ilustra o sistema pronominal do PB segundo o

que está previsto na gramática normativa (Rocha Lima, 2000):

(28)

28 Pronomes de caso

reto (desempenham função de sujeito)

Pronomes de caso oblíquo (desempenham função de complemento verbal)

átonos tônicos

p. sing.

eu me mim

p. sing.

tu te ti

p. sing.

ele/ela o, a, lhe, se ele, ela, si

1ª p. pl. nós nos nós

2ª p. pl. vós vos vós

3ª p. pl. eles/elas os, as, lhes, se eles, elas, si

Quadro 1– Paradigma dos pronomes pessoais do PB (Rocha Lima, 2000, p. 111)

Contudo, diversos estudos, como os de Tarallo (1983), Correa (1991) e Cyrino (1993), indicaram que está ocorrendo no PB um processo de perda do clítico acusativo de terceira pessoa em detrimento do uso dos demais tipos de retomada. No quadro seguinte propomos um modelo do paradigma dos pronomes pessoais do PB tal como têm se manifestado na fala brasileira comum segundo o que revelaram as pesquisas realizadas pelos autores mencionados nesta dissertação:

Pronomes que

desempenham função de sujeito

Pronomes que

desempenham função

de complemento

verbal (OD)

átonos tônicos

1ª p. sing. eu me -

2ª p. sing. tu/ você Te você

3ª p. sing. ele/ela o/ a ele / ela

1ª p. pl. nós / a gente nos nós

2ª p. pl. vocês - vocês

3ª p. pl. eles / elas os/ as eles/ elas

Quadro 2– Paradigma dos pronomes pessoais do PB

(29)

29 retomada. Como veremos posteriormente nesta dissertação, Tarallo (1983) relacionou as estratégias de relativização do PB às mudanças ocorridas no seu quadro pronominal. O pesquisador observou, através de uma análise diacrônica, que desde a primeira metade do século XVIII até a segunda metade do século XIX houve uma queda significativa no percentual de retenção pronominal (uso de clíticos) no PB em frases simples5. Esse período de tempo foi dividido em quatro períodos menores e durante todos eles a retenção pronominal foi constante.

Em um estudo diacrônico sobre os clíticos no PB, Cyrino (1993) confirmou o que Tarallo (1983) havia observado previamente com relação à perda dos clíticos. A autora critica o fato de, nos estudos que consultou, anteriores ao seu, não haver clareza com relação a qual clítico está desaparecendo (se são os de 1ª pessoa, os de 3ª etc.). Por isso, realizou uma análise mais ampla que abarcava clíticos de diferentes tipos a fim de verificar qual deles foi o primeiro a ser afetado durante o processo de mudança ocorrido no PB. Com essa análise, que teve como corpora peças teatrais, modinhas e poesias

satíricas do século XVI até o ano de 1973, Cyrino (1993) verificou que o clítico “o” que retoma uma proposição foi o primeiro que começou a ter seu uso reduzido no PB. Vejamos os exemplos seguintes6:

(14) [...] a explicação para isto está no fato de eu não ter sido capaz de elucidar o processo de conscientização tal como o fiz na prática

(15) [...] e dividir também a sociedade entre os que possuem este conhecimento e os que não o possuem

Destacamos na sentença (14) um exemplo de uso do clítico “o” proposicional que retoma o trecho “elucidar o processo de conscientização” e, atualmente, tem um uso bastante restrito ao contexto da escrita culta. Segundo Cyrino (1993), a perda deste tipo de pronome depois se estendeu ao clítico acusativo de 3ª pessoa de forma geral, o que inclui o clítico “o” usado para a retomada de substantivos, como no caso do exemplo (15) em que este pronome retoma o antecedente “este conhecimento”. Os clíticos de 1ª e de 2ª pessoas, por outro lado, continuam presentes na língua apesar de serem menos

5 Quando utilizamos a noção de frases simples nos referimos a sentenças que não envolvem relação de

subordinação com outra sentença. No presente estudo, é necessário esclarecer tal diferença porque observamos o comportamento de pronomes tanto nas sentenças simples quanto nas relativas.

6 Os exemplos 8 e 9 foram extraídos do livro

(30)

30 frequentes que antes. Na sentença 16, a seguir, destacamos um uso do clítico de 1ª pessoa, o pronome “me”.

(16) João me deu um livro

Além disso, o desaparecimento do clítico estaria relacionado com o aumento do índice de ocorrência do objeto nulo. Cyrino defende que ao longo do tempo o objeto nulo que era considerado uma variável foi reanalisado como pro e essa reanálise

consistiu em uma mudança na marcação de parâmetros que afetou também o sistema de clíticos.

Pesquisas sobre períodos mais recentes da história do PB, como Correa (1991) revelam que o clítico acusativo tem seu uso cada vez mais restrito à norma culta e, principalmente, à escrita. É uma estrutura que só passa a ser produzida depois de ter sido aprendida ao longo do processo de escolarização, por isso não ocorre entre falantes não escolarizados. Oliveira, M. (2007) vai ao encontro do que defende Correa (1991) afirmando que os clíticos são formas que não fazem parte do processo de aquisição da linguagem, mas que podem ser aprendidas. Assim, o clítico acusativo passa a ser produzido pelos falantes na escrita e na fala somente após alguns anos de escolarização, mais especificamente, a partir da 8ª série do ensino fundamental.

(31)

31 Outra restrição à proposta de Tarallo (1983) diz respeito à origem dos dados que este autor analisou. Conforme Kenedy (2007) apontou, os dados obtidos por Tarallo (1983) são provenientes de textos escritos e, por este motivo, muito provavelmente não refletem com precisão o momento em que de fato as relativas cortadoras surgiram na língua. Isto pode ser postulado porque mudanças linguísticas costumam aparecer primeiramente no registro oral e, apenas depois de já terem se estabelecido nele, se estendem à escrita. Então as mudanças no sistema de relativização do PB apresentadas pelo autor possam talvez ter ocorrido num período diferente do que ele acreditava.

2.1.2.

O objeto nulo no PB

Uma das principais características que definem o sistema pronominal do PB é, como apontado por Galves (1984), a possibilidade de haver uma categoria vazia na posição de objeto ou de esta posição ser preenchida pelo pronome tônico ele (e suas

variantes eles, ela, elas), que pode inclusive ocupar a posição de sujeito da sentença.

(17) Ele disse que faria Ø amanhã7

O exemplo (17) ilustra a assimetria que o PB apresenta hoje com relação ao preenchimento das posições de sujeito e objeto. A posição de sujeito é preferencialmente preenchida, seja por um pronome tônico ou um SN, como acontece no exemplo em questão no qual há um pronome “ele” como sujeito. Na posição de objeto, por outro lado, o emprego da categoria vazia é bastante produtivo nas modalidades escrita e oral do PB, seja em contextos formais ou informais, o que também podemos identificar no exemplo (17) através do objeto nulo como complemento do verbo “fazer”.

O uso do objeto nulo e do pronome tônico como as formas predominantes de RO no PB pode estar relacionado à reorganização do sistema de clíticos. Para Cyrino (1993) estes tipos de retomada se tornaram mais frequentes à medida que o clítico acusativo foi desaparecendo, o que gerou como consequência a refixação do parâmetro do objeto nulo que passou a licenciar este último como estratégia de retomada própria da gramática nuclear dos indivíduos.

(32)

32 O objeto nulo no PB não só se tornou mais frequente como também mais livre em relação aos contextos sintáticos que podem determinar seu uso. Esta afirmação foi confirmada por Marafoni (2010), que considera que não há restrições de contextos sintáticos para o objeto nulo no PB atual. Através da análise de entrevistas orais e da aplicação de testes de julgamento de gramaticalidade a falantes de PB e do português europeu (PE), a pesquisadora constatou que o objeto nulo é um tipo de retomada muito produtiva no PB atual e pode ocorrer em sentenças de todo tipo de configuração sintática, incluindo orações relativas, completivas e até mesmo inserido em ilhas sintáticas. Os principais fatores favorecedores deste tipo de retomada foram a estrutura de tópico e antecedentes que possuam a mesma função sintática, a de objeto direto.

O fato de um elemento na posição de tópico como referente do objeto nulo favorecer a sua ocorrência, conforme atestado por Marafoni (2010), confirma o que Correa (1991) já havia apontado em sua dissertação sobre o PB ser uma língua orientada para o discurso. Vejamos o exemplo seguinte:

(18) A Maria, o João disse que gostaria de conhecer Ø melhor

No exemplo8 (18), “a Maria” é o sintagma nominal que se encontra na posição de tópico da sentença. Este sintagma é o referente da categoria vazia que está no interior da oração “o João disse que gostaria de conhecer melhor”, ou seja, é o objeto nulo do verbo “conhecer”. As elipses no PB podem ter como co-referente elementos que estejam fora da sentença, como o tópico, não havendo a necessidade de que estejam ligadas ao seu referente. Por isso, a autora destaca que no caso do objeto nulo é mais relevante a co-referência do que a ligação, posto que o referente deste objeto pode estar em uma posição não argumental e não exige um referente que o c-comande.

2.1.3.

O pronome tônico no PB

Retomando o tópico apresentado no início da seção anterior, o tipo de RO no PB que concorre em maior medida com o objeto nulo, e que também pode ser denominado apagamento do objeto, é o uso do pronome tônico ele e suas variantes. Este pronome,

segundo os estudos diacrônicos de Cyrino (1993) e Tarallo (1983), já existia pelo menos desde o século XIX, mas seu uso estava associado à fala coloquial e era considerado

(33)

33 inculto. Cyrino (1993) defende que, assim como o objeto nulo, o aparecimento do pronome tônico na posição de objeto também está relacionado à perda do clítico acusativo.

Com relação à distribuição do pronome tônico, Galves (1984) aponta que este elemento pode figurar tanto na posição de objeto quanto na posição de sujeito, sendo muito mais frequente nesta última já que a primeira favorece o uso da categoria vazia. A autora considera relevante também a possibilidade que o PB oferece, ao contrário das demais línguas românicas, de o pronome tônico aparecer em orações relativas como um pronome lembrete. Observemos o exemplo9 seguinte:

(19) Esse moço aí [que vi ele ontem]

Na sentença (19), a oração relativa “que vi ele ontem” tem como alvo da relativização o SN “esse moço aí”, que é retomado pelo pronome lembrete “ele”. Esse pronome é, na relativa, o objeto direto do verbo “vi”. Vemos, portanto, em orações relativas, que o pronome tônico também retoma um antecedente como nos casos de RO em frases simples, pois ele é o responsável por repetir dentro da relativa o elemento relativizado.

Em um estudo posterior, Galves (1986) destaca novamente a relevância de se considerar na análise dos pronomes tônicos do PB o caso do pronome lembrete nas orações relativas. A autora considera essa especificidade da língua uma característica fundamental para distingui-la do PE e reafirma, como já havia mencionado em seu estudo anterior (GALVES, 1984), que a distribuição do pronome tônico nas relativas segue a mesma tendência que há nas frases simples: posição de sujeito preenchida e posição de objeto não preenchida.

Além disso, nos parece relevante o fato de que as sentenças que envolvem a estrutura de tópico-comentário, tão comuns no PB, apresentem configuração bastante semelhante à das orações relativas, como podemos ver nos exemplos abaixo:

(20) Paulo, o João disse que Pedro encontrou Ø ontem

(21) No tempo do calor, a gente colhe as maçãs, [que guarda Ø no porão para comer no inverno]

Quando falamos em semelhanças formais entre (20) e (21), nos referimos ao fato de que ambas as construções apresentam um argumento em posição não argumental

(34)

34 (que numa construção de tópico, como em (20), seria “Paulo” e numa oração relativa, como em (21) seria o SN relativizado “as maçãs”) e uma espécie de comentário sobre este argumento (que pode ser a relativa “que guarda Ø no porão para comer no inverno” no exemplo (21) ou a oração “o João disse que Pedro encontrou Ø ontem”). Pareceria bastante esperado, portanto, que a forma como a distribuição dos pronomes é realizada em estruturas de tópico-comentário seja seguida em orações relativas.

2.1.4.

A retomada por repetição do SN

Apesar de o objeto nulo no PB ser considerado o principal tipo de RO até os dias atuais, de acordo com Oliveira, M. (2007) a retomada pela repetição do SN na posição de objeto tem se tornado cada vez mais produtiva, chegando a ultrapassar os índices de retomada pelo pronome tônico e a concorrer agora com o objeto nulo. Temos de considerar, porém, que, para a autora, “o SN não é uma realização fonética do objeto, mas

sim uma duplicação do objeto nulo” (Oliveira, M., 2007, p. 15) e é justamente isso que explicaria o aumento do seu uso na língua. Para sustentar esta afirmação, a autora parte de sentenças encontradas em textos escolares como o exemplo 10(22):

(22) Começaram acusa-la as ovelhas, as pobres coitadas. (3º EM)

Neste exemplo, vemos a retomada realizada pelo clítico “la” e, em seguida, a duplicação feita pelo SN “as ovelhas”. A explicação para a ocorrência deste tipo de

estrutura estaria numa construção já consolidada no PB que é a duplicação do sujeito. Quando ela ocorre, o pronome considerado fraco duplica um SN numa posição à esquerda da sentença, a posição de tópico. Na duplicação do objeto, tanto o clítico quanto o objeto nulo podem duplicar, à sua direita, um SN ou um pronome. Reproduzimos, a seguir, mais um exemplo utilizado pela autora:

(23) A Clarinha, ela cozinha que é uma maravilha.

Em (23), vemos um caso de duplicação de sujeito em que o tanto SN na posição de tópico “a clarinha” quanto o pronome “ela”, sujeito da sentença, remetem ao mesmo referente. Este tipo de construção com duplicação teria servido como modelo que motivou, na produção dos estudantes, a duplicação de clíticos por um SN (acusa-la as

(35)

35 ovelhas). Do mesmo modo, o objeto nulo pode também ser duplicado à direita por um SN.

A estrutura de duplicação de sujeito, segundo Oliveira, M. (2007), é importante também para a aprendizagem do clítico acusativo de 3ª pessoa, pois, nos dados que a autora analisou em seu estudo, as sentenças produzidas pelos falantes apresentavam o clítico retomando um antecedente nominal deslocado à direita da sentença (uma estrutura de tópico).

Além dos exemplos que citamos, provenientes do estudo de Oliveira, M. (2007), apresentamos mais um exemplo11 de retomada pela repetição do SN que esperamos encontrar em nosso corpus:

(24)

Apareceu um chapeu e a brucha vestiu o chapéu

Esta sentença ilustra bem um típico caso de retomada por SN que costuma ocorrer no PB que é um pouco diferente dos exemplos vistos anteriormente, pois não apresenta um clítico imediatamente anterior a ele. Neste caso, temos duas orações coordenadas e na primeira delas o antecedente “um chapéu” que é retomado na oração seguinte como “o chapéu”.

2.2.

Tipos de retomada de objeto direto no espanhol

Tomando como base as gramáticas descritivas do espanhol, como a de Alarcos Llorach (2000), a única estratégia para a retomada do objeto que está prevista é a retomada por clíticos. A partir disto podemos supor que este seja o tipo de retomada predominante nesta língua, pelo menos no que se refere à norma culta. Contudo, alguns dos estudos que citaremos mais adiante revelam que outras possibilidades de retomada têm ocorrido de forma significativa nesta língua, como o objeto nulo, a retomada pela repetição de SN e o uso de outros tipos de pronomes que não os clíticos.

2.2.1.

A retomada por clíticos no espanhol

Ao contrário do que observamos no PB, o espanhol é, de acordo com González (1994), uma língua que permite e favorece o sujeito nulo, mas que não admite o objeto

(36)

36 nulo. Esta afirmação engloba as diversas variedades desta língua, com apenas algumas exceções que mencionaremos na próxima seção. A posição de objeto no espanhol, quando preenchida, é ocupada pelos seguintes clíticos me, te, nos, os, lo(s), la(s), le(s) e

o neutro lo. Este último é bastante utilizado para substituir proposições. O grupo me, te, le, nos e os pode ser usado tanto como clíticos de acusativo como para expressar

também o caso dativo, enquanto lo(s), la(s) e o neutro lo marcam apenas o caso

acusativo.

Apresentamos, a seguir, o paradigma dos pronomes pessoais do espanhol de acordo com o que prevê a gramática descritiva de Alarcos Llorach (2000):

Pronombres personales tônicos

Pronombres personales átonos

1ª pers. sing. yo me

2ª pers. sing. tú te

3ª pers. sing. él, ella, usted lo, le, la, se

1ª pers. pl. nosotros nos

2ª pers. pl. vosotros os

3ª pers. pl. ellos, ellas, ustedes les, los, las, se

Quadro 3– Sistema pronominal referente à variedade padrão do espanhol

A divisão apresentada sobre quais clíticos expressam caso acusativo e dativo corresponde ao uso etimológico da língua, que não necessariamente corresponde ao que ocorre na língua falada e escrita de todas as variedades do espanhol.

(25) — ¿Quiénes son esas chicas? —No sé; no las conozco.

No exemplo (25) podemos observar um caso em que o pronome átono “las” funciona como complemento de caso acusativo do verbo “conocer”, ou seja, desempenha função de objeto direto. Seu uso segue o que é estabelecido pela gramática normativa, pois o pronome recupera os morfemas de gênero (feminino) e número (plural) próprios do seu referente “essas chicas”.

(37)

37 dados de crianças madrilenas em fase de aquisição que produzem preferencialmente retomadas por clíticos, característica que é mantida também na produção de adultos.

2.2.2.

O objeto nulo no espanhol

Apesar da preferência que o espanhol apresenta pelo preenchimento da posição de objeto do verbo que mencionamos anteriormente, existe a possibilidade nesta língua da ocorrência do objeto nulo. Na gramática normativa, o licenciamento da omissão do pronome átono de objeto direto acontece em um contexto extremamente restrito: os objetos nulos só são admitidos caso seu referente seja um objeto animado] e [-definido] (PALACIOS, 2000), como podemos ver no exemplo abaixo:

(26) -¿Has traído pasteles hoy?

-No, hoy no he traído [pasteles].

No caso do exemplo (26) a omissão do objeto pode ser explicada porque o complemento verbal “pasteles” é [-animado] e [-definido] já que corresponde a um grupo indefinido de bolos quaisquer.

No entanto, estudos recentes, como o de Simões (2014)12 e Palacios (2000), têm revelado cada vez mais casos de ocorrência de objeto nulo em distintas variedades do espanhol. Com relação ao espanhol do Paraguai, Palacios (2000) demonstrou que a omissão do objeto é possível nesta variedade em contextos sintáticos considerados impossíveis na norma culta da língua. O fenômeno já está generalizado na língua falada e na língua escrita do espanhol paraguaio, visto que esta variedade não oferece restrições quanto aos contextos em que ele pode ocorrer. Contudo, a autora ressalta que a omissão do pronome átono no espanhol paraguaio é um fenômeno decorrente do contato com o guarani, língua indígena que mantém contato com o espanhol nesta região.

12 A pesquisa realizada por Simões (2014) visa analisar os contextos de realização do objeto nulo e do

(38)

38 Por outro lado, há estudos que atestam o não preenchimento do objeto em regiões onde o espanhol não está em situação de língua de contato. Em sua pesquisa sobre as variedades do espanhol de Madri e de Montevidéu, Simões (2014) encontrou dados de objeto nulo com antecedente [-determinado; -específico] e com antecedente [+determinado; +/- específico] e [+/- humano], em construções de tópico e construções com clítico dativo. A pesquisadora afirma que os contextos sintáticos que favoreceram o objeto nulo no espanhol de Madri e de Montevidéu favoreceram também sua ocorrência em outras regiões, como Quito e o País Basco, onde é possível o objeto nulo com antecedente [+determinado].

Simões (2014) conclui, a partir dos dados analisados, que as variedades de Madri e Montevidéu parecem seguir a mesma tendência sobre o objeto nulo que já está se manifestando em Quito e no País Basco. A ampliação dos contextos de uso deste tipo de RO, segundo a autora, parece também aproximar o espanhol do PB, que permite o uso do objeto nulo em inúmeros contextos sintáticos.

2.2.3.

Outros tipos de retomada de objeto no espanhol

Na bibliografia consultada para a presente dissertação, foram extremamente restritas as menções sobre a existência de outros tipos de RO no espanhol. Destacaremos algumas nesta seção a fim de deixar claro que estas outras alternativas de retomada do objeto podem ocorrer, mas, como veremos, são casos tão restritos quanto o uso do objeto nulo.

(39)

39 tipos de pronomes que não os clíticos, Parrini (2013) encontrou casos de retomada por pronome demonstrativo e um indefinido, como vemos nos exemplos13 abaixo:

(27) Yo quiero sacar esto. (las piezas del juego)

(28) Me encantaban los Exin Castillos... y entonces todos los años me regalaban uno.

No exemplo (27) temos o pronome demonstrativo “esto” retomando o referente “las piezas del juego” e no exemplo (28) é o pronome indefinido “uno” que realiza a retomada do referente “los Exin Castillos”.

É interesante observar que em determinados casos, como o exemplo 28, a escolha pela retomada por pronome indefinido em vez de um clítico não parece ser fortuita, visto que o indefinido nesta situação traz um determinado sentido de indeterminação do objeto que o clítico acusativo não poderia transmitir.

(40)

40

3.

A relativizaça o no portugue s do

Brasil e no espanhol

3.1.

Línguas tipologicamente próximas: o caso do PB e do

espanhol

Nesta seção, abordaremos alguns tópicos referentes à relação de proximidade entre o português do Brasil e o espanhol, bem como alguns dos resultados que essa complexa relação acarreta. Discorreremos sobre como a visão dos brasileiros com relação ao espanhol14 e ao seu aprendizado mudou ao longo do tempo tomando como base o estudo de Celada (2002). Segundo a autora, se um dia o espanhol já foi considerado uma língua que qualquer falante de PB poderia compreender e reproduzir sem muito esforço ou estudo, hoje se tornou objeto de especial atenção por parte dos brasileiros. Também abordaremos a inversa assimetria existente entre tais línguas, proposta por González (1994), que pode ser observada principalmente nas diferenças entre seus sistemas pronominais.

Durante muitos anos, o estudo da língua espanhola foi considerado desnecessário pela maioria dos brasileiros, devido à imagem que se tinha do espanhol como uma língua de fácil aquisição por parte dos falantes de português. Julgava-se que a proximidade entre o português do Brasil e o espanhol era grande o suficiente para que um falante de PB dispensasse o estudo do espanhol já que esta última se apresentava como uma versão modificada, ou até mesmo mais formal, da primeira e que, portanto, não possuía um saber que justificasse o estudo aprofundado desta língua (CELADA, 2002). Tal proximidade chegou, inclusive, a ser medida em dados estatísticos, que indicaram que 90% das palavras do PB teriam equivalentes idênticos em espanhol e a diferença entre tais línguas estaria, portanto, restrita aos 10% do léxico composto por falsos cognatos.

Este quadro começou a se modificar em meados do século XX quando o ensino da língua espanhola passou a integrar o currículo escolar. Segundo Celada (2002), Até

14 É necessário esclarecer que, ao longo deste trabalho utilizaremos o termo espanhol ou línguaespanhola

(41)

41 então, e mesmo durante esta época, utilizava-se o espanhol no meio acadêmico como um instrumento de apoio para a leitura de textos aos quais não se tinha acesso em português. No entanto, a partir dos anos 90 o estudo da língua espanhola começa a ser considerado não só necessário como também obrigatório para aqueles que pretendiam ingressar em um mercado de trabalho que se tornava cada vez globalizado. O ingresso do Brasil no Mercosul foi um dos principais fatores que motivaram essa mudança de perspectiva dos brasileiros com relação à necessidade de se aprender espanhol. Estes últimos, então, passaram, finalmente, a atribuir a esta língua um saber ao qual deveriam se submeter aqueles que pretendiam dominá-la.

A atribuição de um saber ao espanhol consistiu-se em uma importante mudança de paradigma a partir da qual os brasileiros deixaram de se basear exclusivamente na proximidade entre o PB e o espanhol como justificativa para não encarar esta última como uma língua estrangeira que deveria ser estudada como qualquer outra. Como consequência desta mudança, o estudo do espanhol se tornou uma grande contradição para o brasileiro, devido ao fato de ele ter que lidar com uma língua estrangeira que lhe é bastante familiar, mas que, ao mesmo tempo, exige dele um grande esforço para que não se apoie exclusivamente na visão de que o espanhol é uma língua fácil para o brasileiro.

Estudos recentes têm descrito o PB e o espanhol como línguas moderadamente próximas, pois apesar das inúmeras semelhanças que apresentam, se diferem em muitos aspectos. Kulikowski & González (1999) chegam a apontar a necessidade de se determinar a justa medida de uma proximidade15 a partir da concepção de que a distância que efetivamente existe entre as duas línguas é bastante diferente da distância percebida pelo falante. Enquanto esta última se baseia na experiência que o falante teve com o uso da língua estrangeira, a distância real entre o PB e o espanhol vem sendo determinada por estudos linguísticos que buscam apontar quais são as diferenças e semelhanças entre estas línguas e que efeitos elas causam no processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira.

Um dos mais relevantes estudos sobre estes tópicos foi empreendido por González (1994), no qual se defende que existe, entre o par de línguas em questão, uma

15 Esta expressão que utilizamos constitui uma tradução livre da expressão original “la justa medida de

Imagem

Gráfico 1- Índices de ocorrência dos tipos de retomada de objeto direto  no PB
Gráfico 3-  Distribuição dos tipos de retomada de objeto direto no espanhol
Gráfico 4-  Índices de ocorrência das Estratégias de Relativização do espanhol de três cidades  mexicanas
Gráfico 5-  Distribuição das Estratégias de Relativização no espanhol

Referências

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