ZERO
Jornal laboratório do Curso de
Comunicação
Social da Universidade Federal de Santa Cata rina. Estaedição
foiexe cutadanamadrugada
de seis de novembro de 1987.Textos: Ana Cristina
Lavratti,
Ana PaulaMarcili,
Arley
Machado,
Carla
Cabral,
CarlosAugusto Locatelli,
Da nielPaim,
DauroVeras,
Débora deMedeiros,
EwaldoNeto,
FernandoCrocomo,
Ismail AhmadIsmail,
IvoneiFazzioni,
Joachim Herbert Sch
mitz,
LucianoFaria,
Luís CarlosFerrari,
LuísFelipe Miguel,
MárioVaz,
Marques
Casara,
Milton
Spada,
Monique
Vandresen,
Ney
Pache co,Phillipe
Arruda,
Ru bensVargas,
Sílvia Lara Zamboni e Carlos Henrique
Guião.Diagramação:
Ana Cris tinaLavratti,
Analu Zidko,
Denyris Rodrigues,
I1ka
Margot
Goldschmidt,
IvoneiFazzioni,
Mara Cloraci Arruda dePaiva,
MarcosCardoso,
Monique
Vandresen,
Salete
Dalmoro,
Sabrina F. Franzoni e Joachim Herbert Schmitz.Fotografia:
CarlosAugusto
Locatelli,
Ivo neiFazzioni,
Phillipe
Arruda,
Fernando Cro como, CarlaCabral,
Ana PaulaMarcili,
Da nielIsidoro,
Joachim Herbert Schmitz.Edição gráfica:
Ricar do Barreto.Ilustração:
Frank Maia.Coordenação
e super visão:professores
Ricar do BarretoeLúis Alber to Scotto. Telefone:(0482)
33-9215 Telex:(0482)
240 BRCorrespondência:
Cai xa Postal472,
Departa
mento deComunicação
eExpressão,
Curso deJornalismo,
Florianópo
lis,
Se.Composição,
revisão,
acabamentoeimpressão:
Empresa
Editora O Es tado.Distribuição
Gratuita.Circulação
Dirigida.
IMPRENSA
ESTUDANTIL
Jornal
diário
da
Vela
dá
lucro
e
trabalho
Estudantes
fazem
o
Daily
Bruin
MODique
Vandresen
o
Dai/y
Bruinéojornal
dosestudantes daUniversidade da Califórnia
(UCLA)
em LosAngeles.
Seus dez milexemplares
circulam desegunda
a sexta, no campus e em umaá!ea
de 5
quilômetros
ao seuredor. O Jornaltablóide.de26
páginas,
é feitoex clusivamentepelos
alunos, que chegam a trabalhar
quarenta
horas por semana em urna Imensasala, tendoàsua
disposição
terminaisde computadores,
telefonese um bom laboratóriode
fotografia.
Segundo
o editor administrativo Robert J. O'Connor, osalunos que estãono Bruin o fazem por amor àcamisa,
pois
otrabalho é absorventee osalário pequeno. São 26
repórte
res,quatro editoresesete
editores
assistentes.Da editorachefeao
designer
gráfico,
todosiiãredação
doBruin sãoalunos, comexcessão do conselheiro de
publicidade.
. ..
Na
prática,
o Bruin se divide emduaspartes:o
jornal
e apublicidade.
Ao contrário dos alunos quetraba
lhamna
redação
dojornal
daUCLA, os que trabalham comapublicidade
conseguem fazer um bom dinheiro.
Anúncios de restaurantes perto do campus, filmes e
lojas
serão capazesdesustentar o Bruin dentro de três
anos.Atualmente,àadministraçãoda
universidadesópagaosaláriodos alu nos.
Política nacionaleinternacionalge
ralmente são tratadasnoeditorial.No
tícias, Ponto deVista, Comentárioe
Esportes
sãoas editorias fixas, e as pautassãodecididaspelos
editoresdecadaseção. O ritmo do jornalmuda
um pouco acada troca de editores. Não háumaregrafixa,masestastro cas
geralmente
acontecemacadaano.Para a editorachefe,
Penny
Rosenberg,
oComputer Graphic
FirstSis tem, usado desde82,já
estáultrapas sado,eagoraaprincipal
lutadoBruinésubstituí-loealcançarsuaindenpen dência financeira.
"ALGOA DIZER"
AUCLAtemseujornaldesde1919,
Tiragem
de dezmil
exemplares
eaté meadosde 50foiconhecidocomo uma das
publicações
estudantis mais liberais. O nomeBruin, que vemde umursinho,mascotedauniversidade,
surgiu
em 1960.Hoje
seuseditoreso classificam como umjornal
modera do,quetentarecuperaraforça depois
deumlongo período
emqueaadministração
e oconselhoestudantil,radicalmente conservadores, direciona ram alinha editorial. Em 5(Fa chama
da "Editorial" foi extinta, e
páginas
inteiras foram censuradas
pois,
segundooconselho,só deveriamser
publi
cadas
quando
tivessem"algoadizer"."Alguns
argumentamqueojornal
universitário deveinflamar osconfli tos,estimularointeressedos estudan tes. Não é verdade. Nosso trabalho
é
simplesmente
colocarasnotíciasdo campusde umamaneira claraelegí
vel",diziaoeditorEdwardB.Robin son, em umartigo.
Em 510 Bruin era umjornal
radical de direita. A "clareza" das notícias docampuspode
servistaemduasmanchetesde
janeiro
daquele
ano:'�Sindicato
Socialista éSubversivo" e�"AcusadosTrabalha
doresSocialistas
Ligados
aComunis tas".Aseleições
paraeditor chefeaca baram, e o conselho agora indicavaseus escolhidos.
Segundo
Penny
Rosenberg,
naquela época ninguém
maislembrava doBruin críticoe da
força
deseueditorial.
Cincomembrosdo
antigo
conselho editorialresolveramlançar
umapubli
cação querealmente representasse aimprensa
estudantil.Começaram
a distribuiro"Observar"nospontosde ônibus, sem apermissão daadminis tração.Apesar
demoderada,apubli
caçãofoiconsideradasubversiva. Os custosdeprodução,
no novosistema OffSet, eram cobertos por empresasvoluntárias,
e circulou um boato de que aFundação
Ford estaria colabo rando,masnada ficouprovado.
Há vinteanosqueoBruinvemten tandorecuperar-se deste
período.Ho
je
oconselho estudantile a administração
respeitam
a suaautonomia, e ojornal
consegue colocarquestõesco mo asintervenções norte-americanasna América Central e Oriente e a
apartbeid.
Surgem
os
alunos
correspondentes
À primeira
vista, editarumjor
nal diário de alcance internacio
nal,
pode
pareceíozoucura. Lou cura ounão,foioque resolveramem reunião noúltimo final de se mana,
alguns
cursos de comunicaçãoda
Europa.
Estetipo
de ini ciativatem comoobjetivo
levararedação
até asescolas, já
que asituação
real do dia-a-dia nemsempre está refletida nos cursos de
comunicação.
O
jornal já
tem aparticipação
daGrã-Bretanha,
Irlanda, Dina marca,Holanda, Espanha,
Itália,Bélgica
eFrança.
Otrabalho serárealizado através do intercâmbio de alunos, troca de informações
e
jornais-escola
internacionais.Neste último a maioriadas aulas
é
prática
e os alunos envolvidostêm a
possibilidade
de acompa nhar todooprocessojornalístico.
Desde a reunião de pauta até adistribuição
nas bancas e mesmo avendaaopúblico.
Essas escolasainda
dispõem
deequipamentos
informatizadospara trabalhocom textoecomposição,
alémde estú diosde rádio televisão. No final doprimeiro
ano aimprensa
regio
nalofereceum
estágio obrigatório
e remunerado.Uma dasidéias é utilizaras es colas de diferentes
países
como'correspondentes estrangeiros'
e 'enviadosespeciais'
dessesjor-nais-escolas. O
projeto,
financiadocom recursosdas
próprias
esco laseapoio
das instituiçõesacadêmicas
européias,
V!:')11 a reconhe cer um aspectoque-
nãopode
ser obtidosimplesmente
com um cur so de comunicação: o conheci mento.O Jornal Diário Internacional atende ao
princípio
de que ojor
nalismoé umaprofissão
abertae.
por issomesmo
sujeita
acontantestransformações.
Alémdepermitir
oexercício daredação,estejornal
possibilita
às pessoas escreverem sobrequalquer
assuntode interes se dacomunidade. A loucurator na-se um exercício decompetên
cia. .
P2
'ZERO
NOV
-87
Aluno
agora
trabalha': Zero
sai
na
madrugada
Samuel
Panteia
De
repente,
a sala deredação
do Curso deComunicação
Social é um caldeirão de idéias. O comanda-nteLuiz
Alberto,
óculoses curosescondendoasdores da noiteem
claro,
caminhanervosamente entreàs
máquinas
berrandoordens."Trêsdenove,
baixinha,
praontem!",
dispara
Scotto.Na mesa de
diagramação
duas vezestrês tádandonove comore sultado.Depois
de12horas detrabalho,
afinal começa a choramin gar, na boca dolobo,
mais umaedição
do"ZERO",
trazendoumespecial
caderno "Z".Apurando
aredação,
Kafka-em
trajes
es curos - é sóconcentração.
Elepára
uminstanteeobservao zum zum,geléia geral.
Mas Kafka sóconsegue
vercaras ebocas.A sala deredação
está cheiade olhosesbugalhados,
rostosbrilhantes,
bo cas secas.Maispareceumaressacaqualquer,
quem sabe transadano CondomínioEuropa,
na Trinda de. Oredatorlogo
saideseudevaneio.
Dooutro lado do
corredor,
outroComandantetambém deócu los escuros, secretaria a
edição.
Barreto,
serecuperada noitesemdormir,
recuperando-se
junto
aosalunos.Ele comanda:
"Apanha
ocatálogo
de título. Já disse quenão é para tirardaqui". Alguém
dáuma
pancada
nabunda,
o "ZE RO" chora.Nasceu.A AIDS
explodiu.
Pacto de
morte
e
sensacionalismo
se
misturaram
na
intenção
de esclarecer
o
leitor.
E
até
a
Polícia
se
encarregou
de aumentar
a
confusão.
P4
'.
'ZERO'
NOV
-87
Marques
Casara
Umagarota
complicada,
quesegundo
a irmã tinhao hábito deassustara famíliacom mentiras sobre sua saúde e quena
última visitaaoRioGrande do Sul apareceu em casa comumapernaenfaixadae um olho
pintado
deroxo,fingindo
umacidente,foio
pivô
deumahistóriapolicial
emFlorianópolis
comrepercussão
nacional. MárciaRe,;ma
Correada Silveira, 18 anos,foi presanodia18passado '.acusada
por
Rosângela
Correia,aLU,de furtaralgu
masroupas doseuapartamento,o821 do edifícioHelsinque,
nocondomínioEuropa,
naTrindade. Elacontouàpolícia
que Rosângela
e seumaridoJoãoMachado,oDedinho,
portadores
dovírusdaAids,
faziam partedeum"pactode morte"com afinali dade de transmitiradoença
deliberadamen teparaumgrande
número de pessoas.Segundo
Márcia,estacontaminação
seriarea lizadacom autilização
da mesmaseringa
naaplicação
de cocaínaeatravés de rela çõessexuaiscomvárias pessoas.Essa mistura deAids,cocaínae
possibi
lidade demortefezodelegado
Elói Gonçalves
de Azevedoseimaginar
nolugar
de ondenuncaquis
sair: osjornais.
Márcia dissenãosaber dadoença
docasalnoprincí
pio,
edeclaroutercompartilhado
damesmaseringa,
apesar deumprimeiro
examenãoterconstatadoapresençado vírusno seu
or�anismo.
Tampouco
node Patrícia de Oliveira, moradora doapartamento841 domesmo
prédio,
que também foi acusada departicipar
dopacto,ouno examede "Pati nha",quemorava comelaetambémparti
cipava
das "sessões".O
delegado
ElóiGonçalves
deAzevedo, titulardoDepartamento
EstadualdeInvestigações
Criminais(DEIC)
acreditou no "pactode morte".Declarouquesuasinvestigações
são baseadasemdepoimentos
de viciadosequecercade60 pessoas estariamenvolvidase
provavelmente
contaminadaspelo
consumodecocaínanoapartamento. "alémdeque 600pessoas
noEstado seriamvítimas do
pacto'
. Afirmou também queJoão e
Rosângela poderão
serindiciadospor homicídiono
artigo
121 doCódigo
Penaie tambémno 131. que puneapropa gaçãodeliberadade moléstiagrave.
CriançaProblemática Colocandoa
posição
de Elóicomoirresponsável
einconseqüente,
umdosadvoga
dosdocasal, NestorLodetti, dissequeodelegado
"embarcou numahistóna decriança problemática",
defendendoaposi
çãode que. "ele utilizouo casopara
seauto promoversemmedirconseqüencias,
como é deseufeitio". Defato,odelegado
Elói tempouca coisanamão:dos cincoenvolvidos diretamentenas"festas" do edifício
Helsinque,
somentedoisapresentaramre sultadopositivo.
Se de cinco Elóierroutrês,imaginem
de600-.Sem provasconcretassobreasdenúncias,
Nestor
prevê
umaaçãocontraodelegado
Elóietambémcontra"certos meios decomunicação
queusaram o casode formasen sacionalista, apenascomobjetivos
lucrativos".
Luís CarlosdosSantos,
delegado
de tóxi cosdo DEIC,confirma ainexistência de provas: "Temosapenas testemunhas".Masse dizconvencidodo
"pacto
de morte"e danegligência
consciente do casalemofere cer asseringas
contaminadas,nãotomando omínimo de cuidadoeprocurando
seisolar dos demaismembrosdo grupo.LuísCarlosconsiderouqueaatitude de
Elói.apesar
deimpulsiva,
nãoquis
criarpâ
nico. Disse ainda quea
posição
do chefedoDEIC foidarum
"grito
de alerta" para apopulação.
Falando doespírito
impulsivo
do
delegado.
LuísCarlos lembrouum caso de tráfico decocaína,quando
foi presoumhomememe'-Imenauquerecebiaa
droga
doMato Grossoefaziaa
distribuição
paraItajaí,
Balneário CamboriúeFlorianópolis.
O
delegado
detóxicos tinhaaintenção
de mantero caso emsigilo.
parachegar
nos "carasquentes",
pedindo
quenada fossedivulgado.
Mas Elói,segundo
ele, "falou demaisparaosjornais
e aquadrilha
seante nou, tornando mínimas asesperanças de desbaratarogrupo".
LuísCarlos confessou nãoconcordarcom oprocedimento
deseucolega.
Até agoraa
polícia
continuana estaca zero comrelação
ao"pactode morte".Sem. provase semtestemunhasgsõ
sobraramaspáginas
dejornais
comfotos de Elói fazendoeacontecendosemcomprovarcoisa al
guma.
Mudança
de
comportamento
Pacto provoca
restrições
e
abstinência
sexual
carmsmha.Nãolevei,
porque
sou ata- . vordo atrito".Nemtudoéretrocesso.Grandeparte
das pessoas ouvidas demontraramestar
encarando a masturbação de forma muito maisaberta, livre deculpas.Os homens descobriramque ela não faz crescercabelona mão, eas mulheres viram que não furao útero.nãocria
bigodenemfazasunhas caírem. Mas
turbaçãoadois,então... éamoda da
temporada.
Outravantagemdessa onda toda é que, maisquenunca,otemasexovirou assuntodo dia para todasasfaixas etá rias.Hojejáhácriançasfalando desexo oralenquantochupammamadeira.de
liciadascom omistériodotermonovo, Emmeioatantopãnicoesensacio nalismo, sempre há espaçopara boas doses deirreverência. Um conhecido
cabeleireirohomossexual da cidade descreveseudesesperocom asituação: "Tou dejejumhátantotempo,que de vez em quando tenho que botaruma bolinha denaftalinapra evitaromofo". Fala também sobreafreqüênciade rela çõessexuais:..
Agoratouigualahiena: transotrêsvezesporano eaindamorro de rir!"
Dauro Veras
Umdelessintetiza:"Anteseu erapassr-.
vooagorasoureflexivo".
Atémesmoospresos estão transando menos, conformeconstatou o diretor daPenitenciáriadeFlorianópolis,pro motorJoséDarciPereira Soares: "Te mostrêsapartamentospara os encon trosíntimos dos detentoscom suas com
panheiras,mas emcertosfins desema na.sóumestáocupado". Um dos fato resque levaaisso éoregulamento rígi
do, queexigeexames médicos e,uma série de outros
rpquisitos.
Mesmo assim,é baixoonumeroderequerentes agozaremobenefício.Dos280 presos, apenas 10 tiveramencontrosíntimosem setembro. Emagosto,onúmerofoino ve.emjulho, 15.Medo?Sim,também lá dentro. Háalguns meses,a mulher
de um detento morreu de AIDS, ea
moçadanãoQuerarriscar à-toa.
Aarcaieae'desconfortávelcamisinha
de vênus voltouagoracomforçatotal.
Algunschegamàparanóiadeusar uma 'emcima daoutra, praprevenir.Rubens
ChavesVargasdocursodeJornalismo.
descreveseu drama: "Quando fuiao ENECOM(EncontroNacional de Es tudantes deComunicação)de Piracica
ba,
minha
mãequeria Queeu levasse Já passouotempo dobicho-papão.Indiscutivelmente.ostemoresdestefi nalde século são outros. "Vádormir, menino.senão-eu chamo um aidético pratepegar".quemsabeestafórmula Jánãoestá sendousadapelasmães mais
sádieas edesinformadas. comainten ção de amedrontarseusfilhos? Uma versãomoderna decontoinfantilpode riaserassim: "Eraumavezummonstro aidético chamado Césio,9,ue tinhao sangue azule cintilante...' Exagero?
Bom,talvezoterrornãosejaaindatão
grande. O fato é que elecorresponde
de formadiretamente proporcional à falta deesclarecimento.
Como
aparecimento
do vírusHIV,muitoshábitos têm mudado, e verifi cou-secertoretrocessoemrelaçãoàre
volução
sexual. Umapesquisaacu-radaIcomprovaria.
porexemplo.
quemono gamia voltoua serprallcacomum,as simcomo umadiscriminaçãomaiordos homossexuais. "Até deixei de irao cabeleireiro", disse um entrevistado. E
�l� homo.comoestãovendo issotudo?
A
Freguesia
dos
motéis sumiu
Luís Carlos Ferrari
No
chamado
"baixo mundo" deFlorianpolis
caiu
como umabomba
oestardalhaço
feito
pela grande
imprensa
sobre
umsuposto pacto
f�ito
entredoentes
aidéticos para
espalhar
o virus.Omovimento
dos hotéis
edormitórios
querecebem
casaiscaiu
quase
àmetade
e muitaspr<:>s�itutas
ehomossexuais
abandonaram
aatividade.
O Hotel
Levi,
naRua BentoGonçalves,
01,
é
umprédio antigo
de
doisandares que
aluga
quartos
para
casais,aCz$
300,00
opernoite.
No
local também
sehospedam
pessoas
depassagem
pela
cidade,
menosmulheres
desacompanhadas,
anãoserque
estejam chegando
deviagem.
Narecepção,
duas
poltronas
de vulcouro
puído
,�Ultas
folhagens,
doisquadros
e umcrucifixo. Aolado de
umcalendário
tipo
folhinha,
omural
que ostenta,
junto
ao alvará dapolícia,
umacertidão do
Departamento
Autônomode
Saúde
Públicaautorizando
oestabelecimento
afuncionar
como"dormitório".
Atrás deumamesinha onde
estão-apenas
umbloco para controle de
�.:;dagem
eumcinzeiro,
Domingos
Joaquim Marques,
cunhado da
proprietária,
nashoras de
folga ajuda
narecepção,
egarante
que
omovimento
continuanormal.
Na
saída,
entretanto,
umvendedorde
cosméticos que
sehospedara
por
umanoite
no hoteleacompanhou
umaparte
da -conversaconfidencia:
"IsS()
aqui
é
amaior
espelunca
que
eujá
vi". E issoque
eletrabalha autônomo
efreqüentemente
sehospeda
emhotéis baratos paraeconomizar.
"E só
dá
bicha",
completa
ele,
indo embora.
Nas ruasé
quase
imperceptível
essaretração.
NaFrancisco Tolentino
asmulheres do bar Bem Bolado continuam
a mexer com os
homens que passam
e osvigilantes
dosMóveis Silvae Pivel Veículosnão
dispensaram
suas"namoradas"
ocasonais. Na
Conselheiro Mafra
aindahámuitas
prostitutas
no"trottoir",
disputando
osrarosclientes.É
arecepcionista
do Dormitório
Estevão,
umamulherde maisou menos35anos,loira,
de
óculos,
que faz
asrevelações
mais
significativas.
Ela dizque
omovimentodecasais
caiuemtornode 50%
nosúltimos .tempos,
umaqueda
que
já
ocorria háunstrêsmesesmas seacentuou
muito
nasúltimas
semanas. O
próprio
dormitório
tratoude
tornar
alguns cuidados,
como selecionar asmulheresetrocarsempre os
lençóis,
paraevitar
algum
comentário que
poria
fim
de
vez ao
negócio
já
cambaleante. As "meninas"também
estãotratando de
secuidar: asque ainda não deixaram a "vida
fácil"
sótransamcomcamisinha
ereduziram
muito seus
parceiros.
A
exemplo
do que
acontecenaConselheiro
Mafra,
aprocura
pelos
travestisda
Praça
XVtambém caiu à metade.
Volnei,
que
preferiu
ser"Luana",
contaque
muitos
homossexuais
abandonaram
apraça,
commedo
dadoença.
Elatemseusparceiros
quase
somenteentrehomens
casados,
tambéin
homossexuais,
esóusa camisinhaquando
ocompanheiro pedir.
Os
travestis,
umdos chamados�pos
derisco,
são osque mais sofrem
discriminação.
Freqüentemente
eles sãohostilizados
e"xingados
de
AIDS",
revela Luana.
.
Bido Muniz
Daniel
Paim@
No meio
universitário,
o casoda AIDS em
Florianópolis
reper cutiu de maneiraamena. Sem discursos
inflamados,
nem medidas radicais deprofilaxia.
A convivên cia continua a mesma. Na UFSC nãofoiregistrado
nenhumcasodecontaminação, pelo
menos até o baixamento dessaedição
...Em
princípio,
ninguém
seconsi deraintegrante
dequalquer
dos gruposde risco. Essaposição,
pa rece, épro-forma:
éinexpressivo
onúmero de pessoasquejá
"ousa ram" fazerexamedesangue.Cau tela todosprometem,
mas onível dedesinformação
ainda éelevado. "Até háumasemana eu via a AIDS como umacoisa dos gran des centros,tipo
SãoPaulo",
foio comentário de
S.,
24 anos, de Letras. Elanãose considera per tencenteaosgruposderisco. Afinal,
"eu nãomeaplico
e nemcheiro porque não me
adapto
com acoisa. Maso meu
companheiro
dá as suas cheiradinhas... Tudobem
Agora,
derepente,
ele cheirabebe,
pinta
umamina...fica mais fácil a coisa acontecer.
Eu vou selecionar mais os meus com
panheiros.
""Não
transarmais! Essa a mi nha decisão até ter certeza de mim.Que
não estou contamina da"-B.,
24anos, das Ciências Sociais. Elaseconsioerade risco: "mantenhorelações
sexuais comvárias pessoas, sem
questionar
oparceiro.
Difícil saberqual
dos que transeieraportador".
Os homens pensam diferente. Sãolacônicos. As
respostas
trans mitemaparente
segurança. Com pequenasvariações,
todos afirmam: "não
participo
de nenhum dosgruposde risco." Deve ser aassociação
apressada
entreAIDS e homossexualismo.Ninguém
j
I
(
l:
querdarmargem a
insinuações
...Os cuidados serão tomados. Ha verá
restrições
nos contatos sexuais:"a
gente
temque sabercom quem anda. Ter certeza!"- éa
opinião
deZ.,
19 anos,daCompu
tação.
Masafreqüência
dosconta tosdeverásermantida."Discuto o conceito de grupo de risco porque é muito
estigma
tizante e não traduz a realidade endêmica dadoença",
éoque afir maT.,
24anos,daPsicologia.
Elaentrou em
pânico.
Chegou
"con denar àbalança"
alguns
dosseuscompanheiros
sexuais. T. acha "muitosemimaginação
morrerde AIDS. R-omântico,ainda,
é mor rer de tubercolose comoantiga
menteos
poetas
morriam..."
Romântico ou
não,
o certo é que asprimeiras mudanças
decomportamento já
começaram a se cristalizar. A moral vitoriana está de volta. Comforça
total. Afidelidade,
que até há pouco nãoimportava
muito,
voltouaserexigida.
Passou a ser umaquestão
de vida ou de morte. Como co
mentou
S.,
"tenhoquelutarpela
minha sobrevivência. Não quero
entrarem
pânico,
mas quero me mantersaudável!"O debatesobrea"Síndrome da Imune-Deficiência
Auto-adquiri
da" passou a ser assuntoobriga
tório. Emespecial
naUniversidade,
onde vinte mil pessoas entrealunos,
funcionários e-professo
res,convivemdiariamente.
o
robôpianista
Primeiro
robô
do
sul
do
País,
com
tecnologia
alemã,
está instalado
na
Mecânica
Rute Enriconi
o
primeiro
robô industrialda,
região
sul,
está instaladono Centro
Re�ional
de.Tecnologia
emIn formática(Certi),
naUFSC.OIP SO V15 fOIadquirido
com afinali dade de desenvolverpesquisas,
sensoramento e
aplicação
.de solda�em
no campo darobótica,
alem de
ajudar
empresasque
usamefabricamrobôsindustnais
no
país.
O
IPSO V15 estásendo opera do por umpós-graduando
epelo
professor
Geraldo daengenharia
Mecãnica. Os acadêmicos docur so deEngenharia
Mecânica não temacesso aorobô.Segundo
Fer nandoLafratta,
o mau condicionamento do
robô,
"pode
causaracidentes
graves, e osalunosnão estãocapacitados
paraoperá-lo,
já
quesetratadeumequipamento
complexo".
Uma
dasvantagens
daintrodu-I
ção
da robótica nas empresas é queaqualidade
deprodução
será, sempre a mesma,enquanto
queohomem
pode
alterarsuacapaci
dade
produtiva.
Muitas empresas brasileirasjá
estão introduzindo robôsemalguns
setoresquemere cemmaioratenção.
Um
computador
vaipermitir
tambémarealização
depesquisas
edesenvolvimentodecomponen tesacessórios.formação
derecur soshumanoseprestação
deservi ços�o
campo da rohótica.ALIENÍGENAS
�í
6ALER.�J
é ISSO
rvéRMO!
..,)
AR�tSEfJÍO
...JASC:
Importação
de
atletas
terá
Iimítes
típicos
eevidentes
destepro
blema. No
judô,
nada mais
nada
menosdo que
obronze
olímpico,
Walter
Carmona,
levoua
medalha de
ouro,representando
acidade de Vi
deira.
"WalterCarmona
eraligado
aFederação
Catari
nensede Judô
eparticipou
dos
Jasc em82.
Logo após,
ele
desligou-se
e retomou aFederação Paulista,
voltando
a solicitar o seu retorno ao
nosso
Estado
este anopara
competir.
Seu
pedido
foi negado
eele
impetrou
manda
do de
segurança,conseguin
do
umaliminar
judicial
libe
rando-o
para
acompetição",
argumentou
Felipe Abrahão,
coordenador
de
Esportes
da
Secretaria
de
Cultura,
Espor
tee Turismoe,
também
Presidente
do Conselho de Re
presentantes
dos Jasc.
RESTRIÇÕES
EM88
Novas
leis
regem ainclu-A
importação
de
atletas
tira
ocaráter
dos
jogos
Joachim
Schmitz
Rubens
Vargas
\.
\\
-�
-são
de
"super-heróis"
nalista
de
atletasdos
Jogos
Abertos
de Santa Catarina de 1988.
A
partir
do
próximo
ano oscompetidores,
além de
seremfederados
emSantaCatarina
e
homologados
pela
Confe
deração Brasileira,
deverão
cumprir
umestágio
'dê,
nomíni
mo, 14 meses na cidade pIa
qual
irão
competir.
Como
exceção,
cada
município
poderáter na sua
delegação
nomáximo 2 atletas que não
cumpram
estasregulamenta
ções.
"Com isso
oEstado
quer promover
o nossoatle
ta",
afirmaFelipe
Abrahão
mesmo não
acreditando que
a
importação maciça
tenha
desmotivado
os nossos competidores.
Fidelis
Back,
dire
tor
dos
Jasc,
diz que
onível
da
competição
cresceu muito esteano.Agora
surge, inevi
tavelmente,
adúvida sobre
o . motivodeste
avanço.
Que
in
fluênciateriam
os"super-he
róis
estrangeiros"?
RENOVAÇÃO
Atualmente a
espera por
resultados
imediatos,
aglória
acurtoprazo, inibe
uma estruturação
sólida do
nosso esporte
amador. Isto
decorre,
pr
í
ncipalmente
rde um crescente
apoio
da iniciativa
pri
vadanesta área.
O interesse
destas empresas
nãoultra
passa as
barreiras
do imedia
tismo,
sem sepreocupar
eincentivar a
formação
de
escolinhas. Dentro
desta
novperspectiva
noesporte
catari
nense, a
questão
é
saber
at aondeisto
prejudica
aforma
ção
e osurgimento
de
novoatletas. Há
alguns
anos osJogos
Abertos de
SantaCatarina
vêm
secaracterizando
pela
importação
deatletas,
umacorrida
aosgrandes
centros embusca de
melhoresresul
tados.
Averdade é que para
queisto
ocorra,para
opleno
. sucessodesta
investida,
asci
dades
y;ecisam
de
umaboa
infraestrutura.
Estas condi
ções,
sem nenhumadúvida,
só
algumas
cidades do
Estado
possuem. O
que se temob
servado,
então,
é
umahege
monia
destês
municípios
nosmais variados
esportes.
Este
fato seria
algo
muito
normal,
portanto
aoverificarmos
aorigem
desses
atletas,
semnenhum
vínculo com acida
de,
overdadeiroobjetivo
dos
Jasc,
que é
oincentivo
aoesporte
amador. é
esquecido.
Nos
últimos
Jasc,
disputa
dos
em Criciúmade 17
a27
de
outubro,
como numpro
cesso evolutivoda
importa
ção
que
atingiu
o nossoEsta
do,
astorcidas viram muitos
estranhos
competindo
por
sua
cidade.
Nosmeios
decomunicação
e nospapos sobre
osjogos,
oespanto
erageral:
aimportação
de atletas atin
geum
grande
número deesportes.
Há
alguns
exemplos
-REPRESSAO
o
eterno
dflema
do
sexo
Sexo
e
amorsão
tratados
como
se
fossem
segredo
Rosângela
Bion
Sabe
aquele
diaemqueo me nino resolve fazer uma perguntinha. - Mãe eu
queria
sabercomo eunasci. A mãe ficaapa vorada, não sabe por onde co
meçar, mas num
ímpeto
coloca o menino no colo e... era umavez numa noite estrelada...
osexoédefinido
pelo
padre
Orlando Brandes como "umdomdocriadorparaaunião das pessoase
procriação"
evisto pe lo dr.NiltonCésar, terapeutase xualeprofessor
desexologia
hu mana, como"algo
que propor ciona prazer para as pessoas".Algo
assimtão fortenãodeveriaenfrentar um silêncio tão pro fundo, como diria o
padre
Orolando,
"sintomático". Oucomoenfatiza o
padre
Mira,
genera lizado: "afamília,
aescolaeaté aigreja
secaiam". Emresposta ojovem
buscaumcaminhopró
prio, conquistado
adurasperdas
edescobreafórmula:sexomais amorigual
emoçãoefelicidade,segundo
odr. Nilton. Um beloequilíbrio
afetivo.Esta
história,
commuitoscapítulos
e fortes protagonistas, deveria idealmenteseiniciarem casa,com aorientação
dospais.
Mas ainda existe muita distância entreoideale oreal. "Tudo que euseiaprendi
narua comvaga bundos", declara Hamilton, 39 anos.Os
pais
deveriampelo
menos resolverasdúvidas,
tãocomuns nainfância,eagir
comnaturali-Umprazerresponsável
pel?
equilíbrio
emocionaldade. Noentantoé sempre pre ferívelnãorepresentarumafalsa naturalidade do que dar amos tras de
repressão,
como a que o dr Nilton descreve. "Opai
quersermoderninhoetomaba nhonu com afilha. Tudo muito bonitinho até a horaem que a meninamexe nopênis
dele. EleA sexualidade humana éainda cercada de muitos tabus
levaumsustocai pra trás- Tira
amãodaí minha filha!"
CEGUEIRAE SURDEZ As
crianças
crescem.Uma sé rie deexperiências
levamoadolescenteaformarsuaidentidade
pessoal.
As escolas bem que po deriam orientarojovem
sexual mente, mas infelizmente ficam restritas??
biologia
dareprodu
ção,
enquanto o "sexo recreativo",
comodenominaodrNil ton,éignorado.
A esta
cegueira
e surdezcorresponde
umamensagemnítidae embomsomdos meios deco
municação
de massa, que ven demo sexofácil,
amulher libe radae osmodismos. "Vemsurgindo
muito sutilmente ahistó ria do orgasmomúltiplo. É
ati rania do orgasmo:primeiro
a mulhernemsabia que eleexistia ehoje
se vê naobrigação
de ter". Nestedepoimento
do dr Niltonpode-se
observaraimpo
sição
daideologia
do prazer, ci tadapelo padre
Orlando como umadas bandeiras daideologia
consumista do sistema.
Mas,
com televisãoligada
ounão,
são inevitáveisos famososconflitosde
geração.
Dosquais,
felizmente,
ojovem
temsesaídomuito bem. Primeirofoia revo
lução
sexualdosanos70einício de80- o caraconheceagarotanum barzinho: batata-frita, cer
vejinha
... meia horadepois
es
tãonuma cama.transamanoite
todae
beijinho;
beijinho, tchau,
tchau. Nooutrodiavemovazio,
ochamado "theday
after". Estaliberação,
iniciadacom apílula
anticoncepcional, levou as pes soas a se usarem comoanimais e a veremquenãoerapor aí."HOJEE MELHOR" Então surge a contra-revolu-,
ção sexual,
com uma novaproposta: buscar o verdadeiro
amor, construirum ninho e se
possível
até ter filhos. Mesmo queparatal nãoseutilizeos caminlios oficiais. E nesse ponto a
igreja
reconhece o "invernoprofundo"
que estáatravessan doocasamento. Naopinião
dopadre
Mira "umainstituiçãoque nãodácertoporque há todauma sociedade bombardeando e degradando
afamília". Daí sóres taa esperança dopadre
Orlan do: "apsicologia já
comprovou�ue
ohomemprecisa
dapossibi
lidade doamor
definitivo,
é por isso que o matrxaônio não vaimorrer, porque ele
pode
proporcionar
esseamor".O novo comportamento se xual
pregado
pela
contra-revolução,
quepodemos qualificar
comoconservador, émesmoan terior àmudança
de hábitostrazida
pela
AIDS,eda formacom quetemconquistado
audiência,
parece queveiopara ficar.Nesseponto
odr Niltonnãomede elogios
ao falar dojovem
atual. "Ele émuito mais saudáveldo pontode vista sexual. Hámenosmalíciaemais
respeito. Hoje
hámais
diálogo
e orapaztambémparticipa
dacontracepção".
Por isso ele
proclama
o fim depreconceitos
como avirgin
dade - "o caráter e aintegri
dade deumapessoa não
podem
ficarrestritosa umamembrana, a umaquestão topográfica".
Opadre
Orlando assinaembaixo,
a
integridade
estánacabeça
da pessoa,no seucomportamento. Avirgindade
é só umconselho daigreja
e numauniãotorna-se umdetalheinsignificante,
diante doverdadeiroamor.Muitos tabus assim como idéias
poéticas
e consumistascercam a sexualidade humana.
Todos são unânimes em reco nhecera
importância
doassunto, "Se não fosse isso o povo não vivia" afirma o sr Marino, de 55 anos. E
igualmente
todos se calam.Seráque faltaavisãoespiritualista
queopadre
Mira pregaeprevalece
oegoísmo
do homemtecnológico,
criticadopelo padre
Orlando?Enquanto
a
orientação
depai
para filho nãofunciona,
ojovem
vaipas sandopelas
mais variadas tensões, na busca de uma vida se xual
equilibrada.
Equtlíbrio
que encontrou omenino-que
naquele
dia ficouconhecendo uma
história,
sem fadasnembruxas, mascheia de amor.A verdade fluiusolta,
garantindoaexistênciade muitas outrasnoitesestreladas.
DESTERRADOS
Foragidoda
seca!
descobre
na
ilha
o
recanto
da
paz
Henrique
Guião,
Os sonhos foramos mesmosdetan tos e tantosnordestinos que fugiram dasecado sertão para buscar vidame lhornacidadegrande.Comumadife rença: GilsonSantana, 47,ummulato baixoeraquíticoveio pararemFloria
nópolis. A princípiotrouxe amulher e mais doisfilhos pequenos que não resistiram ao frioe aoventosul que varriadiariamentetodosospequenos
pertencestrazidosemgrandestrouxas de roupas,alojadassobumapequena
ponte no bairro do Estreito. Pior de tudo: varreu asaúde'etodasasespe ranças que aindarestavam.Voltaram para a cidade natal, Quixadim, no Ceará.Gilson ficou. .
Apersistência deste cearense que se recusou avoltarepadecer.na seca nordestina encontrou apoio em pro
gramas de assistência da Prefeitura
Municipal deFlorianópolis que atra vésdealberguesparaindigentes,con
seguiu alojá-loporalgumtempo.Pou cotempo. A vontade de vero mar maisumavez,alémdaquelavisãores tritaconseguidacommuitoesforçope lajanelade umônibusemplenaBR
101,na suavinda,encurtou suaestadia nocentrodacapital. Porintermédio deummapa turístico depraiasdo lito ral de SCe com aajudadeconhecidos, pessoas que casualmente encontrou
no seu caminho, pegouumOnibuse
parouemNaufragados,extremonorte da ilha. Não voltou mais.
Situadaa uns35 kilômetrosdocen tro,Naufragadosconservaaindauma beleza selvs gem e uma monotonia
quebradaapenas por pequenos grupos de pescadores. Agora mais um fato contribuía paratornarapraiamais pe culiar: Seu Gilson.Nordestino, sozi
nho,escrevia paraosparentesdoou trolado doPaísuma vezpor mês. Mas nãomandavaacarta,poisnãogostava depisarnacidade."O cheiro é muito ruim". Ficava por lá. Pescavacom an zolecatavamarisco. Tudocom aaju da dos velhos
pescadores
que até de ram umamãozinhanosprimeirosdias.Montaramumabarraca de lona atrás deumranchinho ondeguardavaas ca noas eensinaramaartede saber pegar umbompeixe.Nem sempre davacer to. Sem sabernadar,Seu Gilson não podiasair depertodos costõesde pe dras. Tinhaumpouco de medo.
Orgu
lho também. Porsuacontituiçãoffsica nãoser das melhores, adoença nãopediu licença para abatê-loe jogá-lo nacama,oumelhor,numaesteiraes
tendidanochão.'
Sem contar com qualquertipo de assitênciamédica,ospoucos morado res da regiãocontam apenas com a sorte eum pouco da boa vontade de
alguém que coloque em um barco e atravesseascorrentezasqueseparam Naufragados da praia do Sonho no continente. Ou queencare umacami nhada durante umahora nummorro até chegaremCaieira doSul, último
pontoda ilha ondepode-sechegarde carro ouônibus.
João:
depois
dapenitenciária,
para semprenoMorroMorro
do
Horácio
a
prisão
na
favela
•
•
com
o..,prgulho
detersevirado sozinha todosesses anos eportercons truídosua casademadeiranumter renooferecido
pela
penitenciária.
Umpoucomaisabaixonadescida domorro,moradonaBraulina Car valho,viúva, hojemorandocom um ex-setenciado. "Foi uma
briga
em Xanxerê,há16anos.Acabei beben do demaisemateiumprimo-irmão
daminhamulher,que não
quis
vircomigo",
disse o marido de Braulina.Ele
chegou
napenitenciária
es tadual em 71 e um"no depois já
freqüentava
oHorácio para namo rar a atualcompanheira.
A pena diminuiu desetepara três ano. Em74,novamentelivre,João ficou pra sempre no morro e
hoje
temumbotecoquedáalgum
dinhei ro."Aqui
asituaçãode todomundo éigual
a nois,seu José, seu Bene dito,seuJuventinoemaisum montãodegente
já
passoupela peniten
ciária,moram
aqui
massãodo interior, e não voltarão mais para lá.
Voltam àsvezesparaaprisão", �
O MORROE
XANXERE,
CHAPECÓ
•••PLÁYGROUNDE GALINHAS
Porém, nessa
primeira
etapa, avala é cobertacomconcreto, sobre o
qual
foramconstruídosalguns
canteiros de flores. No último
estágio,
no
l'0nto
mais alto domorro,o mau cheiro seespalha
portodaa parte. Ali,já
não existem mais canteirosfloridose os
dejetos
sãojogados
di retamentenavala, que aospoucosvai
adquirindo
umacoloraçãoescu ra,misturadaà espuma queseforma nos cantosdas valetasmenores.As
pedras
nomeio doesgotocumpremuma
dupla função:
servemdeponte ede
"play-ground"
para as crianças.Nãohánem murodesegurança.Porcos, cachorros,
galinhas,
ratos, sapos e crianças convivem
num mesmo espaço. A
prefeitura
aparece de vezenquando:
emépo
cas deeleição
oupara cobrartaxasdemanutençãoe
serviços,
que não existem.A margem dos casebresedos bar
racos,sobreviveumcomércio diver
sificado.
Pequenas
vendascomercializamcaixasdefósforos, pães,bana nas,balas,
refrigerantes,
farinha,saleazeite. Entreospequenos botecos,
trabalham lavadeiras,costureiras e
traficantes.Tudonum mesmo mun do.
Otelefone
público,
ofusca 66 incrementadonagaragem
improvisa
dae osomestridente que sai de den tro dobarraco, não modificamem nadaaimagem
domorro.No Horá cio,aúnicaesperançasãoasquatroigrejas
que funcionamespalhadas
pela
favela.DuassãodaAssembléia de Deus, uma é católicae outra épresbiteriana.
Apesar
das diferenças, todas utilizam um mesmo dis curso: "a
pobreza
existepor obrado destino, Deus
quis
assim,amém".
o Zero foi
ver
onde
estão
os
sonhos
dos presos
Fernando
Crocomo
Luciano
Faria
Não é um morro
qualquer.
Mesmo com umavaladeesgotos passan doporentreascasas,ele
guarda
his tóriasdecrimese achegada
de mui tasfamílias vindas do interior do Estado,
desesperadas
pára
ficaremmaispertodoparente presono casa réu, na Trindade. A maior parte
vemdooeste.'Deixamaroçaepara
lánãovoltam mais.
Tudo começouem1956.A
prisão
do marido forcoua
mudança
dePi ratuba para rlorianópolis, onde construiuseu barraco no morrodoHorácio, local
próximo
àpeniten
ciária. Foram doze anos
passando
miséria parasustentar os cinco fi lhos."Vendi tudo
pelo
primeiro
preço queme ofereceram. Fui
obriga
da". Com umtrabalho nacidade e
"plantando
arvoredo"nofundo do terrenoemquemora,Arcíliaconseguiu
manter a família. Doze anos sepassaram,omaridocumpriu
ape na,mas avidacomelenãofoi maispossível.
Hoje
com mais de sessenta anos ela ainda cuida dos filhosmenores,Braulina: acolheu
João
Aqui,
aoinvésda tãosonhadaca saedo emprego seguro, sóencon trambaixossalários.Empoucotem po,conhecemocrime,seenvolvem com o roubo,descobremummodoeficaze rentável <'!
ganhar
avida.Depois
são presos. A famíliavem emseguida,
para ficar maisperto doparente.OmorrodoHorácio
pode
serdividido em trêspartes. O começo, à
beira da Lauro Linhares, constitui umdosmetros
quadrados
maiscarosda cidade.Ali,são
erguidas
asmaislindas
mansões:
N�
segunda
part�,
aparecemospnmeirossmaisdami séria. Uma valaonde sãojogados,
além do lixoproduzido pelos
filhos de classe médiaas fezes da maior parte dapopulação
é apaisagem
principal.MasseuJoãonãovaimaisvoltar pra
lugar
nenhum.Vai ficar alimes mo no Horácio, morro que tem a cara dequem passoupela peniten
ciária,comprofundas
marcas,carac terísticasdosanosdepena.Vizinho da
penitenciária
e alvopredileto
dapolícia
emépocas
debatidas,o morrodo horácio mais pa rece uma colôniade
migrantes
dooeste do Estado.
Desapropriados,
semterrase semestruturapara
plan
tar,osfilhosmaisnovosdas famíliasde
agricultores
vem deConcórdia,Chapecó
eXanxerêembusca deem pregonacidade."Vaso ruim nãoquebra.ACaatinga medeu resistênciaenãoéumasimples
indisposiçãoque vai me abater". De
fato,Seu Gilsonconseguiuselevantar econtinuarnaquelaesperança deum.
dia, todo aquele mar, trazer alguma
coisaboa. Um sopro de vidasemdor,
semlembranças.
.
P14
.
ZERO
NOV
-87
CAMPUS
Eleições:
DCEmuda
este
ano?
Ismail Ahmad Ismail
Nosdias17e18denovembroha
verá eleição para a nova diretoria
do DCE,
paralela
as eleições paraReitor. Quatro
chapas
estão inscritas: Reconstrução, Paidéia, Vira ção,Movimento AZ.
Estaéa
primeira
vezqueseinscreve umnúmero tão
grande
dechapas. Gimena, atualdiretora de cul
tura ecandidataaCâmaradeEnsino
e
pesquisa pela chapa
Viração dizque "a atualdireçãodoDCEtornou
a entidade viável administrativa
mente, principalmente
depois
da reaberturadacantinaedoauditóriodo Convivência".
As
chapas
estão fazendo uma campanhacorpo-a-corpo, sala-a-sala,comexcessão da
chapa
Reconstruçãoque está fazendoumtrabalho
maisanívelde Centros Acadêmicos.
A
Viração possui
um cronogramadas'turmase cursosevaitentarpas sarpor todasassalas.Wlade,candi datoaPresidente
pela
Paidéia,coordenaumtrabalhodeconversacom osestudantes atéaconfecçãodecar tazes e "pixações" portodaaUni
versidade.AMovimento
AZ,
transformouoXeroxdoSócio-Econômi
co,onde trabalhaPalma seucandi
datoaPresidência,noseucentrode
contatose ponto de confecçãode 'panfletos.Quantoa
chapa
Reconstrução pouco se encontra, não faz propaganda.
AS PRIORIDADES
Mas no que realmente interessa
sabernesta
"guerra"
-aspropostas
decadaum- àsconcorrentestive
ramuma
plataforma
maisou menosparecida.
A excessão da Paidéia,que propõeum trabalho voltadoà "culturaemtodosos'âmbitos . Em
vezde
papel
parapanfletos,
vamos usarestematerialemrevistascultu rais eem defesa daecologia
e dosdireitos humanos. Alémdisso, pro
pomos urna administraçãoanti-co
munista,
anti-anarquista,
antiqual
quer filosofia
política pois
elas sãoortodoxasenós queremos
algo
bem livree aberto"esclareceWlade.Já Gimena, daViração, diz quesuachapa pretende
"urnaadmimstração voltada paraaUniversidade,desdeascoisasmais
simples
comoumame sadetênisdemesaatéassuntosco rno a moradia estudantil. Adilson.
candidatoaDiretor de Ensino
pela
Reconstrução garantequeirão "fa
zer menosshows queaatualdireção etrabalharmaisconcretamente nas
necessidades básicas daUniversida de,corno amoradia eas
Pesquisas
eExtensão".Palma,doMovimentoAZ',acha que "as
prioridades
sãoamoradiaestudantil,urnaRádioLi
vre,umSebo e um
jornal
semanal,onde quem escrever será remune
rado".
AS DIFICULDADES Todaselasconcordam que enfren
tar uma
campanha
corno'estaeadministrarumDCE nãoéfácil.Para isto, achapa Viraçãocontacom72
integrantes,62amaisqueonúmero de cargos quesão10.
Palmadizqueprovavelmentevai
rodarem quase todas as matérias. "Algumacoisaagentetemquesa crificar",afirmaele.
FOTOS:CARLOSLOCATELLlIZERO
Alunosusamárvore
depredada
parafazer
movimentocontradesmatamentoColégio
de
Aplicação
invade
a
Universidade
Alunos
protestam
contra
o
desmatamento
Garlos
A. Locatelli
Na última
quarta-feira
oCampus
Universitáriofoi invadido
pelos
alu-.
nosdo
Colégio
deAplicação.
Elesprotestavamcontra odesmatamento
do
bosque próximo
aoColégio,
queé utilizado para fins didáticos ede
recreação.No localseráconstruído oCentro de Ciências FísicaseMate
máticas.Naala "C" doRUoscandi datosa reitor tiveram que ceder a
palavra
a250 alunos deprimeira
a quarta série,enobosque
asmotos serrascalaram frenteosestudantesde
segundo
grau.Ao ritmo do"dá-lhe, dá-lhe, olê,
olê, olé" dosestádios brasileiros.z
crianças
de 5 a 11 anos.cantavam"éanatureza, éanatureza,olê, olê,
olê".As"tias" tiveram dificuldade
paraque todosescutassem oscandi
datos areitor falar. Mascorno ne
nhum deles
pode
fazerusodopoder,
ao menosoficialmente,areitoriafoi
invadida porumacomissãode crian
çaseprofessores.Contudoa
profes
soraGlauciaSchenkelnãopôde
es conder suadecepção, após
conver sarcom oReitoremexercício. "Para eleas árvores estão sendo cortadasemnomedoprogresso, eisso é um
As
crianças
querem seubosque,
areitoria tambémabsurdo.Entendemos queaUniver sidade
precisa
se expandir, mas acriança
precisa
brincar,subiremárvores, enfim, ser criança", disse
Glaucia.
Enquantoisso no
bosque
as mo tosserrasnãomatavammais.Segun
doo
exemplo
dosalunos doprimá rio,osestudantesdeSegundo
Grau pararamotrabalho daempreiteira."Nós vimosospequenosindopara
abrigaenãopoderíarrlPlsficar para dos. Omovimento nasceuesponta
neamente,
pois
todosentenderamqueodesmatamentonão
pode
continuar",comentouPedroSaraiva da
Silva,alunodo
Colégio.
Utilizando as árvorescaídas cornopalanque
eles realizaramumaassembléiaede
cidiram dividirogrupoemduas par tes.Umadelas ficounolocaleoutra foià Reitoriaexigir explicações. Lá elesforam"enrolados" por um re
presentanteda Pró-Reitoria deAs sistênciaaComunidadeUniversitá
ria, que após urnareunião passou abola paraaPrefeitura do
Campus,
quenão temqualquerpoder
dedeci sãosobreoassunto.Numa sala
carpetada,
combelosquadros,
ar condicionado e folha gens,oReitoremexercício,Aquiles
Córdova dosSantos,dissequeader rubada das árvoresnão
poderia
serevitada. "Hátrêsanosaareafoides
tinada,
pelo
Plano Diretor daUFSC, para oCentro de Ciências
FísicaseMatemáticas,cujaconstru ção não
pode
mais ser adiada". A obra seráfeitaemmódulos,primei
roQuímica,
depois
FísicaeMatemática..e
segundo
eleasárvores abatidásserãoasúltimas,
já
queoprédio
cresceráparaoladoopostoaobos que. "OIBDF autorizouocortede 75eucaliptos,e sesoubéssemos que urnacoisasemimportância
corno es sacausariatantapolêmicateríamosarmadouma
estragégia:
cortaríamos asárvoresemjaneiro",finalizouumReitoremexercício.
NOV
-87
ZERO'