CURSO DE PÕS-GRADUAÇÃO EM LETRAS-LINGÜiSTICA
A QUESTÃO DA A F E T I V I D A D E NO DISCURSO
DA CRIANÇA ABANDONADA-REPRESENTAÇÕES
Dissertação submetida ao Curso de Põs-Graduação em Lingüistica da Universidade Federal de S a n ta Catarina, como parte dos r e quisitos para obtenção do Grau de Mestre em Letras-Lingüistica.
Sandra Maria Cesãrio Pereira
M E S T R E E M LETRAS
à r e a de Lingüística Teórica e aprovada em sua forma final pelo P rograma de Pós-Graduação em Letras-Lingüística.
Proff Dr^ M a r i a M a r t a Furlanetto C oorde n a d o r a do Curso
BANCA EXAMI NADORA:
VíL
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xÍÕ
lProff D r f M a r i a M a r t a F urlanetto O r ientadora
Fucabem, que me m o s t r a r a m / s e m re servas , as duras verdades das suas vidas e que por causa delas marcaram, não s5 os seus d i s c u r sos, mas t a m b é m a m i n h a p r ó p r i a história.
fé, trabalho e sofrimento, sal vou tantas crianças do abandono, da miséria e do desafeto.
Para meus filhos, Christiano,Syl- via, Fernando e Lucas, p e l o p r i vilégio do afeto partilhado.
tos e deu afeto.
Para minha mãe, que me ensinou o caminho da humildade e do r e s p e i to ao próximo.
de tudo, viver entre e como as "outras pessoas".
Á Prof. Dr. M a r i a Marta Furlanetto, pela calma e compe tência com que orientou este trabalho. T a m b é m m i n h a gra tidão, pela humanidade com que me t r a t o u e m momentos d i fíceis da m inha vida.
Ao diretor, aos técnicos, monitores e funcionários da Fu- cabem, pela disponibilidade com que m e a t e n deram durante o ano e m que lã estive para a coleta do m a t erial da p e s quisa.
A Déa, Rosa, Suzel e Zília, companheiras de ofício, pelos anos partilhados em harmonia e com afeto.
A Prof? Dr? Marta Morais da Costa, que me abriu os olhos para detalhes f u n d a m e n t a i s .
Ao Prof. Dr. José Luiz da Veiga Mercer, pelas ponderações sempre c o r r e t a s .
A Prof? Márcia Dalledone Siqueira, pela espontaneidade de seu auxílio.
A Nair Lago, pela inestimável ajuda em todos os momentos de minha vida profissional.
A A ymara Ribas e Vera de A l meida Pinto, pela eficiente correção bibliográfica e tradução para o inglês do resu mo deste trabalho.
A Dona Ana, que me ajudou no princípio de tudo.
A Irene, Angela, Maria e Ina, que nos últimos anos d i v i diram comigo os afazeres da casa e os cuidados com meus filhos, e sem quem, teriá sido impossível realizar este trabalho.
A Mariquinha, pela p r e sença constante.
Aos meus irmãos, pela fraternidade e pela s o l idariedade e m todas as h o r a s .
A Paulina, que dividiu sua vida com a nossa.
A Tia Edith, pelas preces que sempre t ê m me reconf o r t a d o a alma e o coração.
Ao Mauricio, Isa e Elvis, que se t o r n a r a m irmãos.
Este trabalho analisa a questão da afetividade no d i s c u r so do m enor abandonado institucionalizado.
Primeiramente apresenta-se uma visão da atual situação desses menores no Brasil, baseada em uma significativa b i b l i o g r a f i a constituída de artigos e teses publicados sob forma de livros. E m seguida, organizou-se o aparato teórico que f undamentou e le gitimou a análise dos dados e seu resultado.
A questão da afetividade ê discutida e m termos de seus valores e perspectivas, a partir de u m contexto geral até ser situada, posteriormente, no contexto de vida dos menores a b a n d o nados .
Num último momento, foram colocados os caminhos da p e s q u i sa, a m a neira como o material foi coletado, os procedimentos que conduziram â análise propriamente dita. Efetivada a análise, procedeu-se ao estudo dos resultados o b t i d o s .
This paper presents an analysis of the question of affec- tivity in the discourse of institutional deprived children. At first, a general v i e w of the current situation of these children in Brazil is given, b a s e d on a representative b i b b liography com- prising articles and dissertations published in book form.
Following this a theoretical apparatus was organized, which provided a backgr o u n d and legitimacy to the data analysis and its r e s u l t s .
The p r oblem of affectivity was discussed in terins of its values and perspectives, starting from a general context, until it could at a^ later stage be p laced in the context of the d e p r i ved children.
Lastly, the development of the research, the process of material collecting, and the procedures which led to the analy sis itself were presented. Once the analysis was completed, the study of the results o b t ained was made.
P á g i n a
I N T R O D U Ç Ã O ... 01
Capítulo I - 0 M E N O R ABANDONADO - P A N O R A M A NO B R A S I L ... 0 4 Capítulo I I - LINGU A G E M E R E P R E S E N T A Ç Ã O ... 10
1. L i n g uagem e comportamento social - a i d e o l o g i a ... 10
2. Discurso e t e x t o . . . ... 17
3. A produção de sentido - protagonistas, condições de produção, rèpresentações .. . ... 21
Capítulo III - A FETIVIDADE - V A LORES E P E R S P E C T I V A S ... 41
Capítulo IV - 0 DISCURSO DO M E N O R A B A N D O N A D O ... 49
1. Os caminhos da pesquisa - A F U C A B E M . . . ... 49
2. Procedimentos para análise dos d a d o s ... 59
3. A n á l i s e ... 64
C O N C L U S Ã O ... 92
REFERÊNCIAS B I B L I O G R A F I C A S ... 94
Anexo 1 Roteiro da e n t r e v i s t a ... 98
Anexo 2 Ficha de palavras p a r a a s s o c i a ç ã o ... 101
Anexo 3 Depoimentos categorizados t e m a t i c a m e n t e ... 102
Anexo 4 Análise dos depoimentos do ponto de vista s i n t á t i c o - s e m â n t i c o ... ... 104
Anexo 5 - Sintese da a n á l i s e ... ... 106
em o u t r o lugar que não na l i n g u a g e m . .." (LACAN, apud GUIRADO, 1986:46)
o
objetivo específico desta p r o posta de trabalhoé
v e r i ficar a questão da afetividade no discurso do m e n o r abandonado i n s t i t u c i o n a l i z a d o .Pretendemos realizá-la através da análise dos dados c o l h i dos sob forma de entrevista, durante o ano e m que convivemos com estas crianças na Fucabem/Palhoça, na região da Grande Flórianõ- polis (SC).
í 0 princípio em que nos apoiamos para transformar a q u e s tão da afetividade n u m objeto de análise lingüística foi o/de que toda e qualquer experiência de vida se reflete na experiência da prática cotidiana da linguagem.
N a medida e m que "praticar" a linguagem implica e s t a b e l e cer relações com o outro e com o mundo, pensamos em buscar, no discurso dos menores abandonados, estas relações e evidenciar c o mo elas se apresentam e/ou se r e p r e s e n t a m nesse discurso.
Compreendendo a afetividade como uma decorrência das re lações familiares vividas pelas pessoas, acreditamos que é a p a r tir dessa relação de base que ela se instala nos indivíduos co mo u m elemento essencial da vida de cada um. A partir da v i v ê n cia afetiva na família, os indivíduos estão aptos a v i v ê - l a e m qualquer outro tipo de relação, e m qualquer outro contexto.
N o s s a hipótese é a de que a criança abandonada, pelas p r e cárias condições de vida material e moral em que se e n c o n t r a , e s
tá privada, era função disto, da e x p e r i ê n c i a da afetividade en quanto uma p r á t i c a de vida. Entrando na instituição, esta p r i vação continua, porque, por razões que a p r ó p r i a razão conhece, a instituição não está apta a suprir a falta da afetividade p r e sente na vida da criança.
Assim, n ã o possuindo a e x periência de elos afetivos espe cíficos, é de se supor que a ausência de sua vida se m a n i feste como uma ausência na sua experiência lingüística. Teremos : en« tão, um discurso itiarcado, l i n g ü i s t i c a m e n t e , pela p r e s e n ç a da fal ta de afetividade acontecida na vida de cada u m dos menores aban donados, teremos a m arca de uma ausência.
Para tentar suprir para si mesmos a lacuna existente e m suas vidas, é possível que eles e n c o n t r e m uma m a n e i r a de repre- sentá-la e m seus discursos, através de imagens idealizadas, de valores atribuídos a determinadas coisas e/ou pessoas como se, explicitados esses valores e essas imagens, eles r e p r e sentassem em seus discursos alguma coisa já conhecida, já vivida.
Na tentativa de melhor conhecer o envolvimento da l i ngua g e m com o fato social, de compreender a m a n e i r a como os s ujei tos sociais, através das relações em que estão inseridos, p r o duzem seus discursos, de que modo as circunstâncias dos c ontex tos de sua produção vão interferir n a produ ç ã o lingüística con duzindo os discursos para certos tipos de efeitos de sentido, salmos em busca do aparato t e ó rico que legitimaria, ou não, a nossa hipótese de trabalho.
Consideramos vários autores e vários pontos de vista. Mas, como base da pesquisa, nos detivemos e m alguns deles, tais como: BAKHTIN (1981), VERÔN (1980), OSAKABE (1979), KOCH (1984), CHA- RAUDEAU ( 1980).
N a turalmente que, além destes autores ligados e s s e n c i a l mente à teoria lingüística, nos inteiramos, da m a neira mais a m pla possível, da vida dos menores abandonados do Brasil. A b i b l i o g r a f i a ê significativa e constara no final do trabalho.
0 MENOR ABANDONADO - PANORAMA NO BrA S I L
Ao decidirmos realizar laina pesquisa junto aos menores abandonados, não imaginávamos realmente o tipo de e xperiência que irlamos viver.
Apesar do conhecimento da dramática situação de vida d e s tes menores através dos noticiários de jornal e televisão, das -evidências que se apresentam em cada esquina das cidades deste país e de uma consciência social de nossa parte, que c o n s iderá vamos bastante desenvolvida, foi ainda com receio e surpresa-,que entramos neste mundo diferente, solitário e distante, mas ao m e s m o tempo tão próximo de n 5 s .
Optamos pelo trabalho com o menor institucionalizado por considerarmos que ele representa, de forma viva e objetiva, a situação de todos os menores marginalizados do Brasil. Mais que isso, ele representa a caótica situação social, econômica e p o lítica que vivemos hoje neste país, apesar da instauração de uma n o v a república. Na realidade, as repúblicas no Brasil vão e v o l tam, intercaladas por ditaduras mais abertas e/ou mais fechadas. E m ambas, há porém, um ponto comum, que é o descaso, a absoluta falta de preocupação com o problema dos menores abandonados.
Para encobrir esta falta de atitude por parte dos g o v e r nos em relação ao problema, foi criada uma instituição nacional, a Fundação Nacional de Bem-Estar do M e n o r — F U N A B E M — que, fun- ‘
dada em 19 de dezembro de 1964, se propõe, sob diferentes si glas, a "prevenir, educar e recuperar socialmente" o m e n o r em questão.
E m Santa Catarina, o governo do Estado, atendendo â r e comendação da F u n a b e m no sentido de que fossem criados ó r g ã o s . para promover com mais eficácia a "promoção social do m e n o r " , c riou a FÜCABEM. Esta foi fundada em 30 de julho de 1975,a t r a vés do decreto estadual de n9 664.
Todos os anos de descaso em que viveu e ainda vive o m e nor abandonado do Brasil transformaram o problema n u m impasse de difícil solução. As proporções são gigantescas e inimagináveis.'
O Brasil disputa no momento, junto com a índia, o "cam peonato mundial da mortalidade infantil" (LINS e SILVA, 1985). De acordo com dados oficiais (1985), e x i stem no Brasil 38 milhões de menores marginalizados, oú seja, e m uma situação-limite de v i da. Isto significa que estes menores vivem, ou melhor, sobre v i v e m sem as mínimas condições materiais e econômicas, o que os leva, conseqüentemente, a u m desencontro social e afetivo.
Quem são estes menores? 0 que sentem, temem o u a que as piram? Que exército é esse que domina hoje o Brasil?
É fácil identificá-los, embora para si mesmos t e n h a m d i ficuldade em fazê-lo. Eles existem sob a forma de rõtulos e s ã o classificados como estoques de supermercados. Popularmente são conhecidos como "carente", " t r o m b a d i n h a " , "delinqüente", "malan dro" e assim por diante. Para efeitos legais e de i n s t i t u c i o n a lização, esses menores são classificados como " a b a n d o n a d o s " ,"as sistidos" e "infratores", categorias que se encon t r a m no Código de Menores sob a denominação de "menor em situação irregular", isto é, fora d o pátrio poder (MARREY, 1980:18).
Para podermos realizar esta pesquisa, procedemos à lei tura de várias obras sobre o menor abandonado. Isto aconteceu diante da necessidade de ampliarmos as informações a respeito destes menores. Tivemos acesso a diferentes pontos de v i s t a s o b ra o assunto e o enfoque cientifico de muitos destes pontos de v ista nos permitiu uma apreensão mais p r o funda e mais realista dos fatos. Apesar da dura realidade que o p r o b l e m a apresenta por si s5, devemos dizer que as informações obtidas nessas lei turas nos chocaram e nos fizeram perceber o q uanto estamos lon ge da solução destes problemas.
Os trabalhos analisados se const i t u í r a m de reportagens jornalísticas e de teses publicadas sob forma de livro. Os t e mas tratados seguiram um itinerário que foi do mais abrangente ao mais especifico. Todos, sem distinção, e n f o cando com s e r i e dade o problema.
E m "0 d i lèma do decente malandro", M a r i a L ucia VIOLANTE (1984) , aborda a q u estão da identidade do m e n o r da FEBEM-SP. B a sicamente o p r o blema se resume na relação do m e n o r .cojn^a i n s t i t uição que o _ a b r i ga. Isto acontece quando o Juiz, depois de ana lisar o estudo social apresentado pelo Centro de T r i a g e m e D i a g nóstico, define o menor, atribuindo-lhe uma identidade. Esta pode se configurar dentro das denominações de "infrator", "pe- riculoso", "abandonado". A s s i m qualificado, o m e n o r ê e n c a m i n hado para a instituição e internado segundo os critérios u t i l i
zados quando da análise de séu estudo social. De acordo com a autora.
a p r i o r i a t r i b u i - s e u m a i d e n t i d a d e a o m e n o r , p a s s a - s e a t r a t i - l o c o m o t a l ; a o m e s m o t e m p o , i d e a l i z a - s e a i d e n t i d a d e q u e e l e
d e v e a d q u i r i r e t r a ç a - s e o s e u d e s t i n o .
Isto se e x p l i c a na m e d i d a em que o menor, no m o m e n t o do seu internamento, pode não possuir a identidade que lhe foi a t r i buída, mas, d e v i d o ao tipo de tratamento que recebe na unidade para a qual foi encaminhado, acabará por a s s i milar tal i d e n t i dade. A partir daí ele entrará, de acordo com o discurso o f i cial, no processo que o conduzirá à identidade ideali z a d a (pela instituição) que ê a de regenerado.
Fechando o círculo das possíveis identidades que o m e n o r possa ou deva adquirir, encontra-se a que a autora chama de "identidade sentida" (ibid., p. 149), e que é aquela que o m e nor sente como realmente sendo sua. Desta forma, é e n t r e a i d e n tidade atribuída (margi n a l ) , a idealizada (regenerado) e a s e n t i d a , que o m e n o r se debate, vivenciando u m conflito interno de difícil solução.
Esta q u e stão das identidades t ambém pode ser c o m p r e e n d i da se percebermos que ... n a o e o t i p o d e m e n o r q u e e x p l i c a e j u s t i f i c a a e x i s t ê n c i a d e q u a l q u e r d a s u n i d a d e s , n a o s a o s u a s c a r a c t e r í s t i c a s p e s s o a i s q u e l h e c o n f e r e m e s p e c i f i c i d a d e . A o c o n t r á r i o , s ã o as c a r a c t e r í s t i c a s d a u n i d a d e q u e l h e c o n f e r e m u m a c e r t a i3"ent i d a d e , u m t r a t a m e n t o e s p e c i a l , u m a c a r r e i r a ... — — --- - ( I b i d . , p. 1 1 1 )
A l é m da q u e stão da identidade do menor, t ambém nos p r e o cupamos em obter alguma informação a respeito das e x p e c t a t i vas e valores dos m e n o r e s que formaram o universo da pesquisa.
Para isto nos apoiamos na obra de Rosa M aria Fischer F E R R EIRA (1979). Esta p e s q u i s a apoiou-se basicamente nos meninos de rua. Seu resultado conclui que o menor que vive nas ruas v i ve na expectativa apenas do dia de hoje. Por uma q u e stão de s o brevivência, seus valores são os valores que ele encontra ou
re-encontra a cada dia. Vive na insegurança. Nada na sua v i d a é certo ou definitivo. Nada é p l a n ejado ou equacionado. Vive do provisório e do improvisado.
De acordo com a autora,
... evidentemente o i m e d iat i s m o q u e c a r a c t e r i z a s u a s v i v ê n c i a s l e v a - o s a e m p r e g a r o m e s m o e s t i l o e m t o d a s a a ç o e s : o r a c i o c í n i o d e v e s e r c u r t o e r á p i d o , n a o h £ t e m p o p a r a d e c i s õ e s p l a n e j a d a s , p o r q u e t u d o q u e l h e s o c o r r e é t a m b é m r á p i d o e i m p r e v i s í v e l . . . " ( I b i d . , p. 4 1 - 2 ) .
Outra obra que nos auxiliou bastante no aprofundamento das questões sobre a v i d a e a. historia dos menores, foi a de H i l da Simões L. Costa ACEVEDO (1983). Foi u m trabalho e l a b orado em função dos menores delinqüentes. Nele são abordados aspectos da família, sua importância e sua função dentro do contexto e m que v i v e m estes menores. Mais especificamente, foi feito u m estudo da família fundamentado no conceito Durkheimiano de a n o m i a . T r a ta-se da idéia de "desregramento social", que resulta na e x i s t ência de u m indivíduo cujo comportamento social não é regular, isto é, não se encontra dentro das normas previstas pela s o c i e dade. Desta forma existiria uma família anômica que incentiva seus filhos p a r a que adotem a conduta-desvio jã que não p o s s u e m condições para socializá-los adequadamente. Esta "conduta-des- vio", embora p o s s a se concretizar em forma de "apatia" social, pode t ambém tomar a forma de uma "conduta anti-social ativa"
(ibid., p. 32), como é o caso do comportamento delinqüente.
Os pontos de vista aqui levantados servem para m o s t r a r a extensão de alguns dos problemas que atingem os menores a bando nados no Brasil. Outros mais foram vasculhados. Mas nos l i m i tamos ã sua m e n ç ã o neste momento.
encontra a cada dia. Vive na insegurança. Nada na sua v i d a é certo ou definitivo. Nada é planejado ou equacionado. Vive do provis ó r i o e do improvisado.
De acordo com a autora.
... evidentemente o i m e d iat í s m o q u e c a r a c t e r i z a s u a s v i v ê n c i a s l e v a - o s a e m p r e g a r o m e s m o e s t i l o e m t o d a s a a ç o e s : o r a c i o c í n i o d e v e s e r c u r t o e r á p i d o , n a o h ã t e m p o p a r a d e c i s õ e s p l a n e j a d a s , p o r q u e t u d o q u e l h e s o c o r r e i t a m b é m r á p i d o e i m p r e v i s í v e l . . . " ( I b i d . , p. 4 1 - 2 ) .
O u t r a obra que nos auxiliou bastante no aprofundamento das questões sobre a vida e a história dos menores, foi a de H i l da Simões L. Costa ACEVEDO (1983). Foi u m trabalho e l a b orado em f unção dos menores delinqüentes. Nele são abordados aspectos da família, sua importância e sua função dentro do contexto e m que v i v e m estes menores. Mais especificamente, foi feito u m estudo da família fundamentado no conceito Durkheimiano de a n o m i a . T r a t a-se da idêia de "desregramento social", que resulta na e x i s t ê n c i a de u m indivíduo cujo comportamento social não é regular, isto é, não se encontra dentro das normas previstas pela s o c i e dade. Desta forma existiria uma família anômica que incentiva seus filhos para que adotem a conduta-desvio já que não p o s s u e m condições para socializá-los adequadamente. Esta "conduta-des vio", embora possa se concretizar em forma de "apatia" social, pode t a m b é m tomar a forma de uma "conduta anti-social ativa"
(ibid., p. 32), como é o caso do comportamento delinqüente.
Os pontos de vista aqui levantados servem para m o s t r a r a extensão de alguns dos problemas que a t i ngem os menores a b a n d o nados no Brasil. Outros mais foram vasculhados. Mas nos l i m i tamos à sua m enção neste momento.
O que fica de fundamental como resultado destas leituras é o fato de que^ embora nossa pesqu i s a não tenha sido elabo r a d a com menores de rua nem com menores delinqüentes — visto q u e trabalhamos com menores abandonados institucionalizados — , n e
cessário ê colocar que muitos deles nas ruas jã v i v eram e m u i tos deles quem sabe delinqüentes serão. Isto porque também a I nstituição é, em princípio, provisória. Nela alguns ficarão até sua maioridade. Outros, porém, dela sairão, fugidos, na busca da liberdade imaginada, do afeto sempre ausente, d a d i g nidade e da decência que a sociedade e o estado t e i m a m em lhes negar.
Entre tantas coisas fica claro que difícil é d e l i mitar o intervalo que separa os menores abandonados dos d e l i n q ü e n t e s ,dos carentes, dos de rua. Todos são, na realidade, tudo e nada. T o dos se encontram do outro lado do muro, separados da sociedade pelos medos, preconceitos e omissões.
Para realizarmos este trabalho foi p r eciso atravessar o muro, enfrentar frente â frente o m e n o r das televisões, das g r a n
des reportagens, das mentirosas promessas políticas.
NÓS os vimos. E também os ouvimos. Comemos, rimos e c h o ramos com eles. Falamos de suas desgraças e dos seus sonhos, pois eles t a m b é m os têm.
Este trabalho é, antes de qualquer coisa, u m apelo à a ç ã o para todos os que continuam espiando pelo m u r o a triste e soli-
✓
t ária caminhada dos menores abandonados deste país.
Para chegarmos até eles e encontrá-los na sua d u r a r e a l i dade, optamos por estudar a sua linguagem. Buscamos n e l a algu m a coisa que evidenciasse aquilo que lhes é mais caro e q u e lhes
faz falta e m quantidade inimaginável, qual seja, o afeto de todos os dias.
Li n g u a g e m e Re p r e s e n t a ç ã o
1. Linguagem e comportamento social - ideologia
... a p a l a v r a p e n e t r a l i t e r a l m e n t e ' e m t o d a s as r e l a ç õ e s e n t r e os i n d i v í d u o s , n a s r e l a ç õ e s d e c o l a b o r a ç a o , n a s d e b a se i d e o l ó g i c a , n o s e n c o n t r o s f o r t u i t o s d a v i d a c o t i d i a n a , n a s r e l a ç ã o d e c a - r ã t e r p o l í t i c o , e t c . A s p a l a v r a s s a o t e c i d a s a p a r t i r d e u m a m u l t i d ã o de f i o s i d e o l ó g i c o s e s e r v e m d e t r a m a a t o d a s as r e l a ç õ e s s o c i a i s e m t o d o s os d o m í n i o s . É p o r t a n t o c l a r o q u e a p a l a v r a s e r i s e m p r e o i n d i c a d o r m a is s e n s í v e l d e t o d a s as t r a n s f o r m a ç õ e s s o c i a i s , m e s m o d a q u e l a s q u e a p e n a s d e s p o n t a m , q u e a i n d a n a o t o m a r a m f o r m a , q u e a i n d a n ã o a b r i r a m c a m i n h o p a r a s i s t e m a s i d e o l ó g i c o s e s t r u t u r a d o s e b e m f o r m a d o s . . . ( B A K H T I N , 1 9 8 1 : 4 1 )
Acreditando ser a linguagem o reflexo mais imediato das experiências humanas; que falamos aquilo que de diferentes m o dos vivemos; que através dela formalizam-se comportamentos e ideologias, trabalhar com ela significa penetrar n u m m undo de infinitas possibilidades. Trata-se de u m mundo onde o h o m e m é peça fundamental, onde seus pensamentos, atitudes e sentimentos são expostos através da prática cotidiana da linguagem.
Deixaraos de encarar a linguagem, agui, ocmD a sinples ejqjressão do pensamento" ou ainda "\am mero instrumento de comunicação". N u m a visão mais atual e profunda, a linguagem será vista como a possibilidade m a i o r de encontro entre os indivíduos. N e la e através dela os homens e stabelecem os mais diferentes t i
pos de relações.
0 estudo dos fatos da linguagem abrange hoje não somente a língua ou sua prática, mas, sobretudo o que está envolvido nesta situação que denominaremos de "social", pois que ocorre nu m d e terminado contexto de uma d e t e r m i n a d a sociedade.
Sendo a linguagem de n a t ureza e s s e ncialmente social, p o demos afirmar que linguagem e sociedade estão ligadas por laços indissolúveis. Mais que isto, que os grupos sociais, quando o r ganizados, têm na linguagem de seus integrantes u m fato r e v e l a dor da ordem, das idéias e dos comportamentos que n o r teiam este grupo.
D esta forma a linguagem p a s s a a ser vista como uma a t i v i d a d e , talvez a mais dinâmica dentre todas. Ê através desta a t i v idade que o sujeito social assume o papel daquele que age e reage, identificando-se com d e t e r m i n a d o grupo, p o s i c ionando-se diante de si mesmo e do mundo.
Assim, o caráter social da linguagem evidencia-se q uando p revê da parte dos sujeitos falantes u m comportamento social e lingüístico. Estes comportamentos, d e p e n d e n d o do tipo de vida, experiência e ambiente que contornem o m u n d o deste sujeito, d e terminarão o espaço e o limite deste mundo, da m e s m a forma que a ideologia nele contida.
Para que se possa compreender as posições colocadas até agora, é p r e c i s o que se privilegie a palavra, tal qual Bakhtin
(1981:14). Ê dele a concepção de que a fala, a e n u n c i a ç ã o , p o s suem lama n a t u r e z a social. Desta maneira, a enunciação está li gada tanto às condições de comunicação quanto às estruturas s o ciais. Isto significa atribuir à p a l a v r a a função de i n terme diar a r e lação entre os homens e p o s sibilitar-lhes o. c o n h e c i m e n
to do mundo.
A p a l a v r a possui, alem disso, a capac i d a d e não sõ de re p r o d u z i r as ideologias constituídas como t a m b é m a de revelar as modifi c a ç õ e s ocorridas no dia-a-dia do h o m e m que pensa e r e p e n sa o seu mundo. Sendo assim, a palavra interfere no comporta^ me n t o do homem na m e d i d a em que ela se faz signo. E, enquanto signo, r e flete valores, conduzindo o sujeito social a agir. Por esta qualidade, a p a lavra acrescenta ao h o m e m a noção de consci ência, não sõ individual mas de classe. A p a rtir daí elasetor- na, de acordo com Bakhtin (1981:37), "um instrumento de c o nsci ência... acompanhando e comentando todo ato ideolõgico".
Podemos constatar, pelas evidências, que sociedade e l i n g u a g e m tornam-se tim sõ corpo atuando num proce s s o de inter-rela- ção contínuo. Que todas as alterações sofridas pela sociedade implicarão uma alteração de linguagem. P a r t i n d o do pressuposto de que a p a lavra v e i c u l a a ideologia, cabe a ela, através das relações sociais que ela estabelece, m o s t r a r o que nesta socie dade se modifica, se cria ou se pensa nas relações de todos os d i a s .
Partindo deste ponto de vista, o h o m e m age e adquire uma forma de conduta lingüística e social sujeita n a t uralmente ao mo m e n t o histõrico, social, político e pessoal que ele possa es tar vivendo. De que forma então, o fato lingüístico, a palavra que v e i cula idéias chegaria até ele e dele para o outro? E até que ponto, e de que m a n e i r a o comportamento é d e terminado pela ideologia trazida pelas palavras?
Para esclarecer estas questões, partiremos do princípio de que linguagem, ideologia e comportamento formam uma tríade inseparável.
N o que se rèfere â linguagem, adotaremos a posição bakh- ti niana de que "a p a lavra é o signo ideológico por excelência"
( ibid./ p. 36). No presente caso, privilegiaremos a linguagem oral dos sujeitos envolvidos na pesquisa.
Quanto â questão da ideologia, dada a amplitude do a s s u n to, nos apoiaremos na colocação de Santaella B R A G A (1980:50), apoiada, por sua vez, em Althusser. Esta posição adapta-se p e r feitamente à p r o posta deste trabalho quando a autora diz que
I d e o l o g i a s s a o s i s t e m a s d e r e p r e s e n t a ç õ e s i m a g i n á r i a s q u e os i n d i v í d u o s f a z e m d e s u a s r e a i s c o n d i ç o e s d e e x i s t ê n c i a s o c i a l , d e m o d o q u e t o d a e q u a l q u e r p r á t i c a e x i s t e a t r a v é s e sob u ma i d e o l o g i a , ( B R A G A , 1 9 8 0 : 5 0 )
Como resultado da análise da vinculação entre linguagem e ideologia, teremos o comportamento, que se evidenciará c l a r a m e n t e a partir dos dois primeiros pontos levantados.
Para que se compreenda e se justifique a importância d a da à linguagem, ou melhor, aos atos de fala nestas duas últimas décadas, pelos estudiosos da lingüística, é p r eciso que se c o m pr e e n d a a q u e s t ã o da ideologia e de como ela i n t e r v é m nos fatos da linguagem.
0 primeiro passo para assimilar a q u e s t ã o é que devemos integrar a ideologia ao indivíduo e ãs suas condições de exis- têncià. Ê p r eciso compreendê-la não como alguma coisa externa a ele, mas como fazendo parte dele. Pois a ideologia está ém nós desde o m o m e n t o em que nos constituímos em sujeitos sociais. Ela está incorporada â nossa consciência e às nossas atitudes. Ela flui pelas nossas palavras. A ideologia faz, sobretudo,com que nos reconheçamos no grupo social.
E m qualquer sociedade a ideologia existe como parte da estrutura social. E existe pela necessidade do indivíduo em p o s suir u m ponto de referência, uma base para suas crenças,um f u n damento para suas aspirações. Sendo assim, p r e ssupõe-se que é da busca de uma identificação com o outro, da p o s sibilidade de criar e partilhar idéias, d a perspectiva de formar e contornar padrões que os grupos sociais se o r g a nizam segundo aquilo em que acreditam, pensam acreditar ou são levados a acreditar.
Acontece que esta ideologia, para existir, precisa ser veiculada. Isto vai se dar pelo uso da linguagem, que. é o e l e m e n to socializador mais eficaz.
Por este motivo, Bakhtin qualificou a p a l a v r a como um "signo social", como "o material privilegiado da comunicação na v i d a cotidiana", como "a arena onde se e n t r e c r u z a m e lutam os valores sociais de orientação contraditória" ( ibid., p. 37,63).
Desta maneira, a ideologia se infiltra na e pela palavra. A partir daí se estabelecem as relações sociais, se criam os g r u pos sociais, se p r o duzem os discursos sociais. E estes trazem, por sua vez, as marcas daquilo que se produz e reproduz d e ntro de toda e qualquer formação social.
Dentro de u m a v i s ã o marxista, toda e q u a lquer sociedade se compõe de dois níveis; o da infraestrutura, que ê de base e c o nômica, e o da superestrutura, que, p o r sua vez, se s u b d ivide em dois níveis: o jurídico-político (o Estado e o Direito) e o ideológico. Daí p erceber-se que a questão da d i f e r e n ç a de c l a s ses está diretamente ligada à questão econômica, porque
E m t o d o s o s g r u p o s s o c i a i s q u e e x i s t e m e m u m a s o c i e d a d e , só o s g r u p o s q u e a o p a r t i c i p a r d e f o r m a d i r e t a n o p r o c e s s o d e p r o d u ç ã o c h e g a m a c o n s t i t u i r
-se e m p o l o s a n t a g ô n i c o s ( e x p l o r a d o s e e x p l o r a d o r e s ) se c o n s t i t u e m em c l a s s e s s o c i a i s .
( H A R N E C K E R , 1 9 8 3 : 1 6 3 )
Já a questão dos discursos s o c i a i s , apesar de também se inserir nas questões de ordem econômica, dimensiona-se mais p a ra o nível ideológico. Isto e x p l i c a o porquê das diferenças nos discursos sociais. Estas não e x i s t e m apenas pelas d i f e r e n tes classes sociais às quais p e r t e n c e m os indivíduos mas, t a m bém como o resultado de sua f o r mação ideológica, ou seja, d e sua e x periência de vida.
Esta experiência se p r o c e s s a através daquilo que A l t h u s - ser (1980:62-8), explicando Marx, c h amou de Aparelhos I d e o l ó g i cos do E s t a d o . Estes aparelhos são as instituições que o r g a n i zam e dirigem a sociedade, tais como; o AIE religioso, o f a m i liar, o jurídico, o político, o cultural, o escolar e a s s i m por d i a n t e .
É a partir destes aparelhos que o indivíduo se d e s e n v o l ve, positiva ou negativamente, d entro da condição de explorador ou explorado. Estes aparelhos nos c o n d u z e m muitas v e z es,de f o r m a tendenciosa, a assumirmos nossos papéis na sociedade f a z e n d o de nossas práticas sociais, entre elas a linguagem, u m e l e mento revelador de pressão, pois
... a p r ó p r i a e s t r u t u r a d e c l a s s e s p r o d u z h i s t o r i c a m e n t e f a l a s , s i g n i f i c a d o s , v a l o r e s q u e s a o p e c u l i a r e s a c a d a c l a s se: n a m e d i d a e m q u e c a d a c l a s s e v a i t e r p a p é i s d i f e r e n t e s n a p r o d u ç ã o , v a i t e r t a m b é m e x p e r i ê n c i a s h i s t õ r i c o - s o c i a i s d i f e r e n t e s e n e c e s s a r i a m e n t e v a i p r o d u z i r f a l a s d i f e r e n t e s . ( F A R A C O , 1 9 8 5 : 1 3 )
Podemos concluir dizendo que os indivíduos são o produto de u m contexto econômico que os define enquanto classe e de u m c o n texto ideológico que os define perante si mesmos e o mundo. É este duplo aspecto que transforma o indivíduo em sujeito s o cial, que entra para o mundo através da linguagem, que, p e r m e a da p e l a ideologia, determ i n a r a os seus comportamentos, sejam eles sociais, lingüísticos, afetivos, morais. O sujeito social precisa compreender que "para s u p o r t a r a opressão ê necessário que se t e n h a a utopia..." (ibid., p . l 6 ) , porque as reais condi ções de existência destes sujeitos "são em si alienantes" (AL- THUSSER, 1980:80).
Desse ponto de vista, compre e n d e - s e a defin i ç ã o de i d e o logia como r e p r e s e n t a ç ã o . Ideolo g i c a m e n t e falando, os sujeitos sociais t ê m dificuldade em fazer coexistir as suas reais condi ções de existência e aquelas imaginadas. 0 que fazem então, é t r a n f o r m a r esta realidade, r e presentando-a, através de sua l i n guagem. Isto lhes é permitido d evido à sua formação ideológica, que de uma m a neira ou de outra lhes é imposta pelo contexto de suas vidas. Sendo assim, o que é r e presentado na ideologia
... n ã o i o s i s t e m a d a s r e l a ç õ e s r e a i s q u e g o v e r n a a e x i s t ê n c i a d o s i n d i v í d u o s , m a s as r e l a ç õ e s i m a g i n á r i a s d e s t e s i n d i v í d u o c o m a s r e l a ç õ e s r e a i s em q u e v i v e m .
( A L T H U S S E R , 1 9 8 0 : 8 2 )
Deve ficar claro que t o d a r e p resentação implica u m "com portamento falseado", mesmo que esta representação faça alusão a xama realidade. S urgem daí os "atores sociais", que b e m foram definidos por Sartre numa entrev i s t a a Madeleine Chapsal,cujas palavras abrem o artigo de Vogt, "Para uma pragmática das r e p r e sentações" (1980:129) que diz:
.. . t r a t a - s e do h o m e m — q u e e a o m e s m o t e m p o u m a g e n t e e u m a t o r — q u e p r o v o c a e r e p r e s e n t a s e u d r a m a , v i v e n d o as c o n t r a d i ç õ e s d e s u a s i t u a ç a o a t é a e x p l o s ã o d e s u a p e s s o a o u m e s m o à s o l u ç ã o de s e u s c o n f l i t o s .
Na parte que segue, abordaremos a questão do discurso, a forma como a representação nele se insere, o sentido que ele adquire e aonde ele conduz. Usando as palavras de Verõn, a n a lisaremos "o m o d o de existência da ideologia no seio dos d i s cursos" e também "a produção social de discursos, que é parte por sua vez, de um campo mais vasto, o da produção de sentido"
(VERÕN, 1980:22-5). 2. Discurso e texto ... s e n d o a p a l a v r a u m s i g n o , s u a f u n ç a o é q u e r e r - d i z e r , l o g o , f o r n e c e r u m s e n t i do q u e , s e j a p o r r e m e t e r a u m o b j e t o , s e j a p o r r e f e r i r a u m a n o r m a g r a m a t i c a l , i u m c o n h e c i m e n t o , u m s a b e r . . . a l i n g u a g e m e s e m p r e u m s a b e r ; o d i s c u r s o i s e m p r e u m c o n h e c i m e n t o , p a r a q u e m p r o n u n c i a o u o u v e a p a l a v r a n a c a d e i a c o m u n i c a t i v a . ( K R i S T E V A , 1 9 7 4 : 1 2 6 - 7 )
Pretendemos, nesta parte, discutir a questão dos f e n ô m e nos discursivos. Para isto é necessário que se coloque as q u e s tões relativas ãs condições de produção destes fenômenos, a m a neira p e l a qual eles são ou estão investidos de significação, a importância da presença dos sujeitos que p r o duzem estes f e n ô m e nos d entro do contexto de sua produção.
Para isso, teceremos algumas considerações preliminares sobre os termos Discurso/Texto, necessárias tendo em vista a
va-riedade de acepções que lhes são atribuídas.
A idéia de que o discurso é a unidade que u l t r a p a s s a a frase nos parece resolvida dentro dos estudos lingüísticos atu ais. Há muito jã se percebeu que o discurso é mais que uma se q ü ê n c i a de frases., 0 que ainda é objeto de d i s c u s s ã o ê a q u e s tão da delimitação da abrangência destes termos e s u a s relações.
Sabemos que nas noções de discurso e texto estão e m b u t i das as noções de oral e escrita. 0 d i s curso seria, a m a n i f e s t a - ção v e r b a l da linguagem e o texto a r e p r esentação e s c r i t a desta manifestação. Esta é naturalmente uma visão p r i m á r i a do a ssun
to. Contudo, foi a partir dela que os estudos sobre o assunto se d e s e n v o l v e r a m e foram com o tempo se ampliando. Na verdade, ainda hoje não se tem conceitos definidos sobre estes termos. 0 que se tem são conceitos formulados, ampliados, modificados. I s to e compreensível na m edida em que se percebe a linguagem como xim fato revelador de uma realidade social que envolve o h o m e m e a sua condição de ser itinerante. Buscando a si mesmo, r e e n contrando o outro através da linguagem, o homem é e será sempre um ser inacabado. A linguagem que o constitui também a s s i m o será. Um processo, cuja gama de possibilidades é infinito. D e s t a maneira, discutiremos sempre tendo e m v i s t a esta abertura, procurando na linguagem, ou melhor, nos fatos que a revelam, um m e i o de compreender o homem e sua atuação no mundo.
• Basicamente a noção de discurso pressupões a e x i s t ê n c i a de uma inter-ação entre sujeitos, pois
... u m d i s c u r s o é s e m p r e u m a m e n s a g e m s i t u a d a , p r o d u z i d a p o r a l g u e m e e n d e r e ç a d a a a l g u é m .
Sendo assim, uma enunciação, u m discurso produzido, acontece n u m a determinada situação social e histórica. Da m e s m a maneira, os agentes produtores destes discursos devem ocupar no contexto determinadas funções que os identifiquem perante si mesmos e p e rante o outro. Desta idéia, podemos constatar que à noção de di s curso se incorpora a n o ç ã o de ação, de movimento, de sentido. Se, por um lado,à noção de discurso se v i n c u l a a de ati vidade, por outro, à n o ç ã o de texto se vincula a de e s t a t i v i d a de. Isto porque o texto ê percebido como uma realidade p a l p á vel, passível de análise. 0 texto seria, então, um o b j e t o c o n creto, ordenado, fundamentado, permeado de relações entre os a r gumentos que o constituem. U m texto se caract e r i z a basica m e n t e por aquilo que Koch (1984:21-2) chama de "textualidade" o u "tes
situra" .
Na realidade, u m discurso t ambém pode ser c o nsiderado c o mo sendo um texto em potencial, na m e dida em que ele se o r g a n i
za d e ntro de uma certa lógica discursiva, m a n t e n d o uma coesão e propo n d o u m direcionamento. 0 que acontece é que u m discurso, p a r a ser analisado, p r e c i s a ser transformado em texto, isto é, ser transcrito, pois o discu r s o em si se perde no p r óprio ato de sua enunciação. Compr e e n d e n d o desta maneira, podemos dizer que o discurso é u m texto na m e d i d a em que se materializa, p e r mi t i n d o que uma e nunciação seja objeto de análise, trazendo con sigo todos os elementos ativos que a constituíram.
Pensando assim, constatamos que o texto, o b jeto m a t e r i a lizado do discurso produzido pelos indivíduos, nada possui de estático. A ele e dentro dele subjazem elementos dinâmicos que lhe deram origem. Por isso o texto pode e deve ser considerado como iim ato de fala "que e feito para ser apreendido de m a n e i r a
ativa" (BAKHTIN, 1981:123).
C harau d e a u (1984:38) faz questão de colocar que o termo di s c u r s o não deve ser confundido com o termo t e x t o . Do seu p o n to de vista, o texto deve ser considerado "como objeto que repre s e n t a a materi a l i z a ç ã o da m-còe en ■icèn& do ato de lingua gem, e ainda "como um resultado sempre s i n gular de u m processo que depende de um sujeito falante e de circunstâncias de p r o d u ção particulares".
Q u a n t o ao discurso, ele o define como sendo "o lugar da m^t^e en da significação" (o fazer lingüístico).
O texto seria, então, a repres e n t a ç ã o m a t e r i a l i z a d a de u m fazer lingüístico, que se assim for p e r c e b i d o poderá ser a n a lisado. Isto porque, nele p o derão ser encontradas todas as a r timanhas, jogos è relações utilizados pelos sujeitos sociais q u a n d o da p r o d u ç ã o de seus discursos.
0 texto tem desta m a n e i r a sua import â n c i a configurada. Ele é a possibilidade única que a linguagem p r o d u z i d a numa s o ciedade possui para se constituir como elemento revelador desta sociedade. A s s i m acontece p orque u m texto m a t e r i a l i z a d a muito mais do que palavras. Ele m aterializa atitudes, pensamentos,de- desejos, intenções, opiniões. Enfim, tudo que constitui uma s o ciedade e tudo que c a r a c t e r i z a os seus m e mbros como sujeitos s o ciais ê revelado pela linguagem através dos discursos sociais e materializado, isto é, transformado em argumento, através dos t e x t o s .
Como já comentamos, o discurso se perde no p r ó p r i o atò de sua enunciação. É pois o texto a ú n i c a forma de fazer com que a p a lavra permaneça, adquira loma individualidade. Isto faz com que o jogo iniciado no m o m e n t o da enunciação pelos agentes produtores d e discurso, continue a ser jogado por aqueles que
p r e t endem compreender este jogo a partir da análise dos textos que m a t e r i a l i z a m a p r o d u ç ã o lingüística dos sujeitos sociais.
Para chegarmos a esta compreensão, é necessário que se fale dos sujeitos que p a r t i c i p a m destes atos de fala, da m a n e i r a como eles se comportam d i a n t e da linguagem, e de como dela f a zem uso para dizer o q u e sentem, o que querem, o que p e n s a m das coisas do mundo. E t ambém da m a n e i r a pela qual muitas vezes d i zem o que não querem, m o s t r a m o que não sentem, p r o p õ e m v e r d a des em que não acreditam.
A palavra permite tudo isto. Cabe ao sujeito social d e la fazer uso, jogando com seu poder, com seus efeitos de s e n t i do. Ê sobre isso que discutiremos em seguida. Sobre o p a p e l do pr o d u t o r de discursos e sobre a m a n e i r a pela qual as palavras são investidas de signif i c a ç ã o no e pelo jogo da linguagem.
3. A produção de sentido — protagonistas, condições de produção, representações.
Falar dos sujeitos q u e p a r t i c i p a m dos atos de fala p a r e ce lógico e natural. N o entanto, por longo tempo eles e s t i v e ram ausentes dos estudos sobre a linguagem. Somente q uando se começou a analisar o processo enunciativo é que se pensou na im portância que teriam estes sujeitos no interior daquilo que e n u n ciavam.
Benveniste (1974:67-8) -nos deixou, neste campo, uma c o n t r i b u ição fundamental: a de que o h o m e m s6 se percebe perante si mesmo quando toma c o nhecimento da existência do outro. Este c o nhecimento s5 é possível através da linguagem, que se realiza p e los atoè de fala. Desta maneira, o indivíduo, ao se apropriar dá
linguagem produzindo uma enunciação, se instaura como sujeito (EU) desta enunciação. Simultaneamente instaura o outro também como sujeito (TU). Assumindo ambos, alternadamente, as posições do "EU" e do "TU", é que se estabelece o jogo da linguagem, for malizado através dos diálogos entre os sujeitos sociais.
Estas noções sobre os sujeitos da enunciação foras bas tante ampliadas por Charaudeau, que, diferentemente de Benvenis- te, vê o jogo da linguagem estabelecido entre os parceiros atra vés de um contrato.
Numa primeira colocação ele diz que "uma teoria do d i s curso não p o d e prescindir de uma d e f i nição dos sujeitos d o ato de linguagem" (Langage et Societé, 1984:38). Importante ê t a m b é m sua definição de discurso como o "lugar da ml&e, zn Acène da significação" (Ibid, p. 38). A o u t i lizar a expressão en ■òcim, Charaudeau aí embutiu a idéia de "representação". Na r e a
lidade, o ato de fala acompanhado dos elementos que o constituem, pode ser v i s t o como uma "encenação", no sentido estrito do termo. Vogt também assim percebeu o ato de fala quando disse que "se a
linguagem atravessa a verdade com a m á s c a r a da neutralidade é p o r que ela é palco e aí cabem outras representações" (1980:153).
Sabemos que a língua não é um código que existe por si s5. Ela existe em função daqueles q u e a ulitizam, isto é, dos i n d i víduos que fazem parte de uma comunidade. Estes, por sua vez, a g e m lingüisticamente de acordo c o m aquilo que, por hábito ou convenção, ficou estabelecido nesta comunidade. Assim, p arece natural que os indivíduos se comuni q u e m e se compreendam entre si a p artir destas convenções.
Acontece que o que se passa entre emissor e receptor é, como já mencionamos, muito mais que uma simples transmissão de
informação. Se assim o fosse, o que dizemos uns para os outros teria sempre o mesmo valor. Nada seria criado n e m inter p r e t a d o porque emissor e receptor s eriam meros instrumentos de xuna m e n sagem sem sentido, ou com o sentido apenas de q u e r e r dizer o que foi dito.
B asta que olhemos à n o s s a v o l t a e q u e p ercebamos o que s o mos capazes de fazer e o que fazemos quando f a l a m o s . Nos d a r e mos conta de que produzir um discurso não é u m c o m p o r t a m e n t o que pode ser considerado ingênuo. Quando nos propomos a e s t a b e l e cer um ato de fala, levamos e m conta várias coisas, m e s m o que isto aconteça de forma inconsciente. Questionamos, por exemplo, se n osso interlocutor tem algo em comum conosco; se de alguma forma, por fazer parte do n o s s o mundo, encontramos nele parte deste mundo; se ele pensa ou não como nós; como ele i n t e r p r e t a rá o que dizemos e a m a n e i r a p e l a qual dizemos. E se temos in tenções ao dizer, nos frustramos se o efeito não foi o p r e t e n d i do. E dependendo da idade, do sexo, do papel que n o s s o ouvinte tem dentro do contexto social em que vivemos, agiremos lingüis- ticamente desta ou daquela maneira.
0 ouvinte, por sua vez, t a m b é m tece as suas considerações. Questiona-se sobre a atitude do locutor, sobre q u e m ê ele p a r a falar desta o u daquela forma; o que ele pretende dizer através do que foi dito; que tipo de r eação aquele locutor e spera dele, ouvinte?
Podemos dizer que este jogo de perguntas (e muitas o u tras mais) está definitivamente inscrito no ato de fala p e l a simples razão de que o que d e t e rmina a i nstauração do ato de f a la é, basicamente, o tipo de relação que existe entre u m E U (lo cutor) e u m TU(ouvinte). Ê a intensidade (maior ou menor) des-23
ta relação que vai definir o tipo de atitude (lingüística) que o locutor u t i l izará para chegar até seu interlocutor. Isto é compreensível na m e dida e m que
U m E U n a o d e f i n e , p o r si só, a a ç a o a s e r e m p r e e n d i d a ; e p r e c i s o q u e e l e te-, n h a s u a i m a g e m do TU o u q u e o T U f o r n e ç a e s s a i m a g e m . . . u m a v e z q u e a i m a g e m se a c h a d e f i n i d a , h ã q u e se d e f i n i r u m t i p o d e a ç a o . . . ( O S A K A B E , 1 9 7 9 : 5 3 )
T odas estas noções nos levam a considerar que realmente u m ato de fala, ou a produção de ura discurso, possui m u i t a s i m plicações. Se à p r i meira vista parece simples e c o r r i q u e i r o u m ato de fala entre dois ou mais participantes ê e x t remamente c o m plexo . É fundamental que ele seja percebido, n ã o como u m fato isolado, mas como alguma coisa que faz parte do nosso m u n d o e que acontece em função das circunstâncias de vida destes p a r t i cipantes e de uma necessidade m aior que comunicar-se, qual s e ja, a de conhecer-se e ao outro. Por isso,
... q u a n d o se a n a l i s a u m a t o d e f a l a , q u a l q u e r q u e s e j a e l e , n ã o é a l í n g u a q u e p r e c i s a s e r v i s a d a c o m o o b j e t o d e a n á l i s e m a s os t r a ç o s d a o r g a n i z a ç ã o s 5 c i o - c u l t u r a l n o s q u a i s o d i s c u r s o se e n t r a n h a . ( C H A R A U D E A U , 1 9 8 2 - A : 7 - 3 0 )
Sendo assim, dizer que os participantes de u m ato de fala, p o r p e r t e n c e r e m a uma m e s m a comunidade, se relac i o n a m lingüisti-
camente a p a r t i r de convenções, i dizer, de acordo com Charau- deau, que eles p o ssuem u m "contrato lingüístico" que lhes p e r m i t e c o m p r e e n d e r mais que uma informação; significa q u e eles
"partilham das práticas psicossociais existentes na comunidade" (ibid, p. 2). Por práticas psicossociais entendemos t o d o tipo
de r e l a ç ã o / ou melhor, todo tipo de e x p e r i ê n c i a vivida pelos membros de uma m e s m a comunidade, s e j a m elas i n t e l e c t u a i s ,m o r a i s ,
afetivas, lingüísticas, c o m p o r t a m e n t a i s , etc. Essas e x p eriên cias são naturalmente apreendidas por cada indivíduo de maneira bastante singular. Esta singularidade vai ser representada nos discursos produzidos pelos sujeitos sociais, pois
... t o d o a t o d e f a l a i f a t o d e u m i n d i v í d u o p a r t i c u l a r q u e i a o m e s m o t e m p o u m s e r c o l e t i v o e i n d i v i d u a l , q u e r e l e se a t r i b u a a f u n ç a o d e p r o d u t o r d e f a l a o u d e i n t e r p r e t a n t e . ( I b i d , p. 2)
Por todas estas considerações podemos p e r c e b e r que e m i s sor e receptor f a z e m mais do que transmitir e receber i n f o r m a ções e que a sua atuação enquanto seres produtores de discurso m e r e c e u m estudo mais detalhado.
Para isto, seguiremos o e s q uema propo s t o por Charaudeau, o qual consideramos eficiente no sentido de e l u c i d a r o processo de organização dos discursos. Neste momento, colocaremos t a m b é m as questões relativas às condições de p r o d u ç ã o dos d i s c u r sos e, n u m último espaço, a m a neira pela qual os discursos são investidos de significação. Nos apoiaremos p a r a isso nos p o n tos de vista elaborados por Bakhtin (1981), Verõn (1980) e Pê- cheux (1969) .
Por aquilo que vimos até o momento, fica perfeitamente clara a vincul a ç ã o da linguagem com o social. Indiscutível a questão de que o h o m e m vive e se organiza segundo as normas do grupo social no qual ele estã inserido. Indiscutível t a m b é m o fato de que é p e l a linguagem que os indivíduos se e n c o ntram e se reconh e c e m como sujeitos sociais. Por estas evidências, p a ra que vun ato de fala se realize, é preciso que
... l o c u t o r e o u v i n t e p e r t e n ç a m
à u m a
m e s m a c o m u n i d a d e l i n g ü í s t i c a , a u m a s o c i e d a d e o r g a n i z a d a . . . é n e c e s s á r i o q u e e s t e s d o i s i n d i v í d u o s e s t e j a m i n t e g r a d o s n a u n i c i d a d e d a s i t u a ç ã o s o c i a l i m e d i a t a . . . q u e t e n h a u m a r e l a ç ã o de p e s s o a p a r a p e s s o s s o b r e u m t e r r e n o p r e c i s o . . . e a p e n a s s o b r e e s t e t e r r e n o q u e a t r o c a l i n g ü í s t i c a se t o r n a p o s s í v e l . ( B A K H T I N , 1 9 8 1 : 7 0 )Isto confi r m a o fato de que um discurso ocorre sempre numa d e terminada situação e de que esta situação e sempre social. E s te aspecto do social envolvido na produção dos discursos é u m dos fatos que contribuem para que sejam formalizadas as c o n d i ções de produção dos discursos. Outro, é o papel que estes su jeitos sociais o c u p a m no seio da sociedade em que vivem e das possíveis relação que entre eles possa existir. Por papel d e vemos entender não somente o lugar ocupado pelos indivíduos na hi e r a r q u i a social mas também o papel que "Eü"/ sujeito produtor de discurso, atribui ao "TU", sujeito receptor de discurso. 0 contrário é verdadeiro na m e d i d a e m que "EU" e "TU",como j'ã v i mos, alternam suas posições no decorrer do ato de fala. Isto eqüivale a dizer que os sujeitos participantes de \im ato de fa la são mais que presenças físicas neste ato. Eles
... d e s i g n a m l u g a r e s d e t e r m i n a d o s n a e s t r u t u r a d e u m a f o r m a ç ã o s o c i a l . . . e e s t e s l u g a r e s s ã o r e p r e s e n t a d o s n o p r o c e s so d i s c u r s i v o o n d e e l e s e s t a o c o l o c a d o s , e m j o g o . . . o q u e f u n c i o n a n o p r o c e s s o d i s c u r s i v o e u m a s é r i e d e f o r m a ç o e s i m a g i n á r i a s d e s i g n a n d o o l u g a r q u e " A " e " B " se a t r i b u e m c a d a u m a si m e s m o e a o o u t r o , i m a g e m q u e se f a z e m d e s eu p r ó p r i o l u g a r e do l u g a r d o o u t r o . ( P Ê C H E U X , 1 9 6 9 , 1 8 - 9 )
D esta forma, partilhamos não sõ dos conhecimentos do m u n d o que ■nos envolve e ao nosso interlocutor como t ambém supomos coisas