• Nenhum resultado encontrado

A questão da afetividade no discurso da criança abandonada-representações

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A questão da afetividade no discurso da criança abandonada-representações"

Copied!
120
0
0

Texto

(1)

CURSO DE PÕS-GRADUAÇÃO EM LETRAS-LINGÜiSTICA

A QUESTÃO DA A F E T I V I D A D E NO DISCURSO

DA CRIANÇA ABANDONADA-REPRESENTAÇÕES

Dissertação submetida ao Curso de Põs-Graduação em Lingüistica da Universidade Federal de S a n ­ ta Catarina, como parte dos r e ­ quisitos para obtenção do Grau de Mestre em Letras-Lingüistica.

Sandra Maria Cesãrio Pereira

(2)

M E S T R E E M LETRAS

à r e a de Lingüística Teórica e aprovada em sua forma final pelo P rograma de Pós-Graduação em Letras-Lingüística.

Proff Dr^ M a r i a M a r t a Furlanetto C oorde n a d o r a do Curso

BANCA EXAMI NADORA:

VíL

>1AÀXX

x

ÍÕ

l

Proff D r f M a r i a M a r t a F urlanetto O r ientadora

(3)

Fucabem, que me m o s t r a r a m / s e m re­ servas , as duras verdades das suas vidas e que por causa delas marcaram, não s5 os seus d i s c u r ­ sos, mas t a m b é m a m i n h a p r ó p r i a história.

(4)

fé, trabalho e sofrimento, sal­ vou tantas crianças do abandono, da miséria e do desafeto.

Para meus filhos, Christiano,Syl- via, Fernando e Lucas, p e l o p r i ­ vilégio do afeto partilhado.

(5)

tos e deu afeto.

Para minha mãe, que me ensinou o caminho da humildade e do r e s p e i ­ to ao próximo.

(6)
(7)

de tudo, viver entre e como as "outras pessoas".

(8)

Á Prof. Dr. M a r i a Marta Furlanetto, pela calma e compe­ tência com que orientou este trabalho. T a m b é m m i n h a gra­ tidão, pela humanidade com que me t r a t o u e m momentos d i ­ fíceis da m inha vida.

Ao diretor, aos técnicos, monitores e funcionários da Fu- cabem, pela disponibilidade com que m e a t e n deram durante o ano e m que lã estive para a coleta do m a t erial da p e s ­ quisa.

A Déa, Rosa, Suzel e Zília, companheiras de ofício, pelos anos partilhados em harmonia e com afeto.

A Prof? Dr? Marta Morais da Costa, que me abriu os olhos para detalhes f u n d a m e n t a i s .

Ao Prof. Dr. José Luiz da Veiga Mercer, pelas ponderações sempre c o r r e t a s .

A Prof? Márcia Dalledone Siqueira, pela espontaneidade de seu auxílio.

A Nair Lago, pela inestimável ajuda em todos os momentos de minha vida profissional.

A A ymara Ribas e Vera de A l meida Pinto, pela eficiente correção bibliográfica e tradução para o inglês do resu­ mo deste trabalho.

(9)

A Dona Ana, que me ajudou no princípio de tudo.

A Irene, Angela, Maria e Ina, que nos últimos anos d i v i ­ diram comigo os afazeres da casa e os cuidados com meus filhos, e sem quem, teriá sido impossível realizar este trabalho.

A Mariquinha, pela p r e sença constante.

Aos meus irmãos, pela fraternidade e pela s o l idariedade e m todas as h o r a s .

A Paulina, que dividiu sua vida com a nossa.

A Tia Edith, pelas preces que sempre t ê m me reconf o r t a d o a alma e o coração.

Ao Mauricio, Isa e Elvis, que se t o r n a r a m irmãos.

(10)

Este trabalho analisa a questão da afetividade no d i s c u r ­ so do m enor abandonado institucionalizado.

Primeiramente apresenta-se uma visão da atual situação desses menores no Brasil, baseada em uma significativa b i b l i o g r a f i a constituída de artigos e teses publicados sob forma de livros. E m seguida, organizou-se o aparato teórico que f undamentou e le­ gitimou a análise dos dados e seu resultado.

A questão da afetividade ê discutida e m termos de seus valores e perspectivas, a partir de u m contexto geral até ser situada, posteriormente, no contexto de vida dos menores a b a n d o ­ nados .

Num último momento, foram colocados os caminhos da p e s q u i ­ sa, a m a neira como o material foi coletado, os procedimentos que conduziram â análise propriamente dita. Efetivada a análise, procedeu-se ao estudo dos resultados o b t i d o s .

(11)

This paper presents an analysis of the question of affec- tivity in the discourse of institutional deprived children. At first, a general v i e w of the current situation of these children in Brazil is given, b a s e d on a representative b i b b liography com- prising articles and dissertations published in book form.

Following this a theoretical apparatus was organized, which provided a backgr o u n d and legitimacy to the data analysis and its r e s u l t s .

The p r oblem of affectivity was discussed in terins of its values and perspectives, starting from a general context, until it could at a^ later stage be p laced in the context of the d e p r i ­ ved children.

Lastly, the development of the research, the process of material collecting, and the procedures which led to the analy­ sis itself were presented. Once the analysis was completed, the study of the results o b t ained was made.

(12)

P á g i n a

I N T R O D U Ç Ã O ... 01

Capítulo I - 0 M E N O R ABANDONADO - P A N O R A M A NO B R A S I L ... 0 4 Capítulo I I - LINGU A G E M E R E P R E S E N T A Ç Ã O ... 10

1. L i n g uagem e comportamento social - a i d e o l o g i a ... 10

2. Discurso e t e x t o . . . ... 17

3. A produção de sentido - protagonistas, condições de produção, rèpresentações .. . ... 21

Capítulo III - A FETIVIDADE - V A LORES E P E R S P E C T I V A S ... 41

Capítulo IV - 0 DISCURSO DO M E N O R A B A N D O N A D O ... 49

1. Os caminhos da pesquisa - A F U C A B E M . . . ... 49

2. Procedimentos para análise dos d a d o s ... 59

3. A n á l i s e ... 64

C O N C L U S Ã O ... 92

REFERÊNCIAS B I B L I O G R A F I C A S ... 94

Anexo 1 Roteiro da e n t r e v i s t a ... 98

Anexo 2 Ficha de palavras p a r a a s s o c i a ç ã o ... 101

Anexo 3 Depoimentos categorizados t e m a t i c a m e n t e ... 102

Anexo 4 Análise dos depoimentos do ponto de vista s i n t á t i c o - s e m â n t i c o ... ... 104

Anexo 5 - Sintese da a n á l i s e ... ... 106

(13)

em o u t r o lugar que não na l i n g u a g e m . .." (LACAN, apud GUIRADO, 1986:46)

(14)

o

objetivo específico desta p r o posta de trabalho

é

v e r i ­ ficar a questão da afetividade no discurso do m e n o r abandonado i n s t i t u c i o n a l i z a d o .

Pretendemos realizá-la através da análise dos dados c o l h i ­ dos sob forma de entrevista, durante o ano e m que convivemos com estas crianças na Fucabem/Palhoça, na região da Grande Flórianõ- polis (SC).

í 0 princípio em que nos apoiamos para transformar a q u e s ­ tão da afetividade n u m objeto de análise lingüística foi o/de que toda e qualquer experiência de vida se reflete na experiência da prática cotidiana da linguagem.

N a medida e m que "praticar" a linguagem implica e s t a b e l e ­ cer relações com o outro e com o mundo, pensamos em buscar, no discurso dos menores abandonados, estas relações e evidenciar c o ­ mo elas se apresentam e/ou se r e p r e s e n t a m nesse discurso.

Compreendendo a afetividade como uma decorrência das re­ lações familiares vividas pelas pessoas, acreditamos que é a p a r ­ tir dessa relação de base que ela se instala nos indivíduos co­ mo u m elemento essencial da vida de cada um. A partir da v i v ê n ­ cia afetiva na família, os indivíduos estão aptos a v i v ê - l a e m qualquer outro tipo de relação, e m qualquer outro contexto.

N o s s a hipótese é a de que a criança abandonada, pelas p r e ­ cárias condições de vida material e moral em que se e n c o n t r a , e s ­

(15)

tá privada, era função disto, da e x p e r i ê n c i a da afetividade en­ quanto uma p r á t i c a de vida. Entrando na instituição, esta p r i ­ vação continua, porque, por razões que a p r ó p r i a razão conhece, a instituição não está apta a suprir a falta da afetividade p r e ­ sente na vida da criança.

Assim, n ã o possuindo a e x periência de elos afetivos espe­ cíficos, é de se supor que a ausência de sua vida se m a n i feste como uma ausência na sua experiência lingüística. Teremos : en« tão, um discurso itiarcado, l i n g ü i s t i c a m e n t e , pela p r e s e n ç a da fal­ ta de afetividade acontecida na vida de cada u m dos menores aban­ donados, teremos a m arca de uma ausência.

Para tentar suprir para si mesmos a lacuna existente e m suas vidas, é possível que eles e n c o n t r e m uma m a n e i r a de repre- sentá-la e m seus discursos, através de imagens idealizadas, de valores atribuídos a determinadas coisas e/ou pessoas como se, explicitados esses valores e essas imagens, eles r e p r e sentassem em seus discursos alguma coisa já conhecida, já vivida.

Na tentativa de melhor conhecer o envolvimento da l i ngua­ g e m com o fato social, de compreender a m a n e i r a como os s ujei­ tos sociais, através das relações em que estão inseridos, p r o ­ duzem seus discursos, de que modo as circunstâncias dos c ontex­ tos de sua produção vão interferir n a produ ç ã o lingüística con­ duzindo os discursos para certos tipos de efeitos de sentido, salmos em busca do aparato t e ó rico que legitimaria, ou não, a nossa hipótese de trabalho.

Consideramos vários autores e vários pontos de vista. Mas, como base da pesquisa, nos detivemos e m alguns deles, tais como: BAKHTIN (1981), VERÔN (1980), OSAKABE (1979), KOCH (1984), CHA- RAUDEAU ( 1980).

(16)

N a turalmente que, além destes autores ligados e s s e n c i a l ­ mente à teoria lingüística, nos inteiramos, da m a neira mais a m ­ pla possível, da vida dos menores abandonados do Brasil. A b i ­ b l i o g r a f i a ê significativa e constara no final do trabalho.

(17)

0 MENOR ABANDONADO - PANORAMA NO BrA S I L

Ao decidirmos realizar laina pesquisa junto aos menores abandonados, não imaginávamos realmente o tipo de e xperiência que irlamos viver.

Apesar do conhecimento da dramática situação de vida d e s ­ tes menores através dos noticiários de jornal e televisão, das -evidências que se apresentam em cada esquina das cidades deste país e de uma consciência social de nossa parte, que c o n s iderá­ vamos bastante desenvolvida, foi ainda com receio e surpresa-,que entramos neste mundo diferente, solitário e distante, mas ao m e s m o tempo tão próximo de n 5 s .

Optamos pelo trabalho com o menor institucionalizado por considerarmos que ele representa, de forma viva e objetiva, a situação de todos os menores marginalizados do Brasil. Mais que isso, ele representa a caótica situação social, econômica e p o ­ lítica que vivemos hoje neste país, apesar da instauração de uma n o v a república. Na realidade, as repúblicas no Brasil vão e v o l ­ tam, intercaladas por ditaduras mais abertas e/ou mais fechadas. E m ambas, há porém, um ponto comum, que é o descaso, a absoluta falta de preocupação com o problema dos menores abandonados.

Para encobrir esta falta de atitude por parte dos g o v e r ­ nos em relação ao problema, foi criada uma instituição nacional, a Fundação Nacional de Bem-Estar do M e n o r — F U N A B E M — que, fun- ‘

(18)

dada em 19 de dezembro de 1964, se propõe, sob diferentes si­ glas, a "prevenir, educar e recuperar socialmente" o m e n o r em questão.

E m Santa Catarina, o governo do Estado, atendendo â r e ­ comendação da F u n a b e m no sentido de que fossem criados ó r g ã o s . para promover com mais eficácia a "promoção social do m e n o r " , c riou a FÜCABEM. Esta foi fundada em 30 de julho de 1975,a t r a ­ vés do decreto estadual de n9 664.

Todos os anos de descaso em que viveu e ainda vive o m e ­ nor abandonado do Brasil transformaram o problema n u m impasse de difícil solução. As proporções são gigantescas e inimagináveis.'

O Brasil disputa no momento, junto com a índia, o "cam­ peonato mundial da mortalidade infantil" (LINS e SILVA, 1985). De acordo com dados oficiais (1985), e x i stem no Brasil 38 milhões de menores marginalizados, oú seja, e m uma situação-limite de v i ­ da. Isto significa que estes menores vivem, ou melhor, sobre­ v i v e m sem as mínimas condições materiais e econômicas, o que os leva, conseqüentemente, a u m desencontro social e afetivo.

Quem são estes menores? 0 que sentem, temem o u a que as­ piram? Que exército é esse que domina hoje o Brasil?

É fácil identificá-los, embora para si mesmos t e n h a m d i ­ ficuldade em fazê-lo. Eles existem sob a forma de rõtulos e s ã o classificados como estoques de supermercados. Popularmente são conhecidos como "carente", " t r o m b a d i n h a " , "delinqüente", "malan­ dro" e assim por diante. Para efeitos legais e de i n s t i t u c i o n a ­ lização, esses menores são classificados como " a b a n d o n a d o s " ,"as­ sistidos" e "infratores", categorias que se encon t r a m no Código de Menores sob a denominação de "menor em situação irregular", isto é, fora d o pátrio poder (MARREY, 1980:18).

(19)

Para podermos realizar esta pesquisa, procedemos à lei­ tura de várias obras sobre o menor abandonado. Isto aconteceu diante da necessidade de ampliarmos as informações a respeito destes menores. Tivemos acesso a diferentes pontos de v i s t a s o ­ b ra o assunto e o enfoque cientifico de muitos destes pontos de v ista nos permitiu uma apreensão mais p r o funda e mais realista dos fatos. Apesar da dura realidade que o p r o b l e m a apresenta por si s5, devemos dizer que as informações obtidas nessas lei­ turas nos chocaram e nos fizeram perceber o q uanto estamos lon­ ge da solução destes problemas.

Os trabalhos analisados se const i t u í r a m de reportagens jornalísticas e de teses publicadas sob forma de livro. Os t e ­ mas tratados seguiram um itinerário que foi do mais abrangente ao mais especifico. Todos, sem distinção, e n f o cando com s e r i e ­ dade o problema.

E m "0 d i lèma do decente malandro", M a r i a L ucia VIOLANTE (1984) , aborda a q u estão da identidade do m e n o r da FEBEM-SP. B a ­ sicamente o p r o blema se resume na relação do m e n o r .cojn^a i n s t i ­ t uição que o _ a b r i ga. Isto acontece quando o Juiz, depois de ana­ lisar o estudo social apresentado pelo Centro de T r i a g e m e D i a g ­ nóstico, define o menor, atribuindo-lhe uma identidade. Esta pode se configurar dentro das denominações de "infrator", "pe- riculoso", "abandonado". A s s i m qualificado, o m e n o r ê e n c a m i ­ n hado para a instituição e internado segundo os critérios u t i l i ­

zados quando da análise de séu estudo social. De acordo com a autora.

a p r i o r i a t r i b u i - s e u m a i d e n t i d a d e a o m e ­ n o r , p a s s a - s e a t r a t i - l o c o m o t a l ; a o m e s ­ m o t e m p o , i d e a l i z a - s e a i d e n t i d a d e q u e e l e

d e v e a d q u i r i r e t r a ç a - s e o s e u d e s t i n o .

(20)

Isto se e x p l i c a na m e d i d a em que o menor, no m o m e n t o do seu internamento, pode não possuir a identidade que lhe foi a t r i ­ buída, mas, d e v i d o ao tipo de tratamento que recebe na unidade para a qual foi encaminhado, acabará por a s s i milar tal i d e n t i ­ dade. A partir daí ele entrará, de acordo com o discurso o f i ­ cial, no processo que o conduzirá à identidade ideali z a d a (pela instituição) que ê a de regenerado.

Fechando o círculo das possíveis identidades que o m e n o r possa ou deva adquirir, encontra-se a que a autora chama de "identidade sentida" (ibid., p. 149), e que é aquela que o m e ­ nor sente como realmente sendo sua. Desta forma, é e n t r e a i d e n ­ tidade atribuída (margi n a l ) , a idealizada (regenerado) e a s e n ­ t i d a , que o m e n o r se debate, vivenciando u m conflito interno de difícil solução.

Esta q u e stão das identidades t ambém pode ser c o m p r e e n d i ­ da se percebermos que ... n a o e o t i p o d e m e n o r q u e e x p l i c a e j u s t i f i c a a e x i s t ê n c i a d e q u a l q u e r d a s u n i d a d e s , n a o s a o s u a s c a r a c t e r í s t i c a s p e s s o a i s q u e l h e c o n f e r e m e s p e c i f i c i d a ­ d e . A o c o n t r á r i o , s ã o as c a r a c t e r í s t i ­ c a s d a u n i d a d e q u e l h e c o n f e r e m u m a c e r ­ t a i3"ent i d a d e , u m t r a t a m e n t o e s p e c i a l , u m a c a r r e i r a ... --- - ( I b i d . , p. 1 1 1 )

A l é m da q u e stão da identidade do menor, t ambém nos p r e o ­ cupamos em obter alguma informação a respeito das e x p e c t a t i ­ vas e valores dos m e n o r e s que formaram o universo da pesquisa.

Para isto nos apoiamos na obra de Rosa M aria Fischer F E R ­ R EIRA (1979). Esta p e s q u i s a apoiou-se basicamente nos meninos de rua. Seu resultado conclui que o menor que vive nas ruas v i ­ ve na expectativa apenas do dia de hoje. Por uma q u e stão de s o ­ brevivência, seus valores são os valores que ele encontra ou

(21)

re-encontra a cada dia. Vive na insegurança. Nada na sua v i d a é certo ou definitivo. Nada é p l a n ejado ou equacionado. Vive do provisório e do improvisado.

De acordo com a autora,

... evidentemente o i m e d iat i s m o q u e c a r a c t e ­ r i z a s u a s v i v ê n c i a s l e v a - o s a e m p r e g a r o m e s m o e s t i l o e m t o d a s a a ç o e s : o r a c i o c í ­ n i o d e v e s e r c u r t o e r á p i d o , n a o h £ t e m ­ p o p a r a d e c i s õ e s p l a n e j a d a s , p o r q u e t u d o q u e l h e s o c o r r e é t a m b é m r á p i d o e i m p r e ­ v i s í v e l . . . " ( I b i d . , p. 4 1 - 2 ) .

Outra obra que nos auxiliou bastante no aprofundamento das questões sobre a v i d a e a. historia dos menores, foi a de H i l ­ da Simões L. Costa ACEVEDO (1983). Foi u m trabalho e l a b orado em função dos menores delinqüentes. Nele são abordados aspectos da família, sua importância e sua função dentro do contexto e m que v i v e m estes menores. Mais especificamente, foi feito u m estudo da família fundamentado no conceito Durkheimiano de a n o m i a . T r a ­ ta-se da idéia de "desregramento social", que resulta na e x i s ­ t ência de u m indivíduo cujo comportamento social não é regular, isto é, não se encontra dentro das normas previstas pela s o c i e ­ dade. Desta forma existiria uma família anômica que incentiva seus filhos p a r a que adotem a conduta-desvio jã que não p o s s u e m condições para socializá-los adequadamente. Esta "conduta-des- vio", embora p o s s a se concretizar em forma de "apatia" social, pode t ambém tomar a forma de uma "conduta anti-social ativa"

(ibid., p. 32), como é o caso do comportamento delinqüente.

Os pontos de vista aqui levantados servem para m o s t r a r a extensão de alguns dos problemas que atingem os menores a bando­ nados no Brasil. Outros mais foram vasculhados. Mas nos l i m i ­ tamos ã sua m e n ç ã o neste momento.

(22)

encontra a cada dia. Vive na insegurança. Nada na sua v i d a é certo ou definitivo. Nada é planejado ou equacionado. Vive do provis ó r i o e do improvisado.

De acordo com a autora.

... evidentemente o i m e d iat í s m o q u e c a r a c t e ­ r i z a s u a s v i v ê n c i a s l e v a - o s a e m p r e g a r o m e s m o e s t i l o e m t o d a s a a ç o e s : o r a c i o c í ­ n i o d e v e s e r c u r t o e r á p i d o , n a o h ã t e m ­ p o p a r a d e c i s õ e s p l a n e j a d a s , p o r q u e t u d o q u e l h e s o c o r r e i t a m b é m r á p i d o e i m p r e ­ v i s í v e l . . . " ( I b i d . , p. 4 1 - 2 ) .

O u t r a obra que nos auxiliou bastante no aprofundamento das questões sobre a vida e a história dos menores, foi a de H i l ­ da Simões L. Costa ACEVEDO (1983). Foi u m trabalho e l a b orado em f unção dos menores delinqüentes. Nele são abordados aspectos da família, sua importância e sua função dentro do contexto e m que v i v e m estes menores. Mais especificamente, foi feito u m estudo da família fundamentado no conceito Durkheimiano de a n o m i a . T r a ­ t a-se da idêia de "desregramento social", que resulta na e x i s ­ t ê n c i a de u m indivíduo cujo comportamento social não é regular, isto é, não se encontra dentro das normas previstas pela s o c i e ­ dade. Desta forma existiria uma família anômica que incentiva seus filhos para que adotem a conduta-desvio já que não p o s s u e m condições para socializá-los adequadamente. Esta "conduta-des­ vio", embora possa se concretizar em forma de "apatia" social, pode t a m b é m tomar a forma de uma "conduta anti-social ativa"

(ibid., p. 32), como é o caso do comportamento delinqüente.

Os pontos de vista aqui levantados servem para m o s t r a r a extensão de alguns dos problemas que a t i ngem os menores a b a n d o ­ nados no Brasil. Outros mais foram vasculhados. Mas nos l i m i ­ tamos à sua m enção neste momento.

(23)

O que fica de fundamental como resultado destas leituras é o fato de que^ embora nossa pesqu i s a não tenha sido elabo r a d a com menores de rua nem com menores delinqüentes — visto q u e trabalhamos com menores abandonados institucionalizados — , n e ­

cessário ê colocar que muitos deles nas ruas jã v i v eram e m u i ­ tos deles quem sabe delinqüentes serão. Isto porque também a I nstituição é, em princípio, provisória. Nela alguns ficarão até sua maioridade. Outros, porém, dela sairão, fugidos, na busca da liberdade imaginada, do afeto sempre ausente, d a d i g ­ nidade e da decência que a sociedade e o estado t e i m a m em lhes negar.

Entre tantas coisas fica claro que difícil é d e l i mitar o intervalo que separa os menores abandonados dos d e l i n q ü e n t e s ,dos carentes, dos de rua. Todos são, na realidade, tudo e nada. T o ­ dos se encontram do outro lado do muro, separados da sociedade pelos medos, preconceitos e omissões.

Para realizarmos este trabalho foi p r eciso atravessar o muro, enfrentar frente â frente o m e n o r das televisões, das g r a n ­

des reportagens, das mentirosas promessas políticas.

NÓS os vimos. E também os ouvimos. Comemos, rimos e c h o ­ ramos com eles. Falamos de suas desgraças e dos seus sonhos, pois eles t a m b é m os têm.

Este trabalho é, antes de qualquer coisa, u m apelo à a ç ã o para todos os que continuam espiando pelo m u r o a triste e soli-

t ária caminhada dos menores abandonados deste país.

Para chegarmos até eles e encontrá-los na sua d u r a r e a l i ­ dade, optamos por estudar a sua linguagem. Buscamos n e l a algu­ m a coisa que evidenciasse aquilo que lhes é mais caro e q u e lhes

faz falta e m quantidade inimaginável, qual seja, o afeto de todos os dias.

(24)

Li n g u a g e m e Re p r e s e n t a ç ã o

1. Linguagem e comportamento social - ideologia

... a p a l a v r a p e n e t r a l i t e r a l m e n t e ' e m t o d a s as r e l a ç õ e s e n t r e os i n d i v í d u o s , n a s r e l a ç õ e s d e c o l a b o r a ç a o , n a s d e b a ­ se i d e o l ó g i c a , n o s e n c o n t r o s f o r t u i t o s d a v i d a c o t i d i a n a , n a s r e l a ç ã o d e c a - r ã t e r p o l í t i c o , e t c . A s p a l a v r a s s a o t e c i d a s a p a r t i r d e u m a m u l t i d ã o de f i o s i d e o l ó g i c o s e s e r v e m d e t r a m a a t o d a s as r e l a ç õ e s s o c i a i s e m t o d o s os d o m í n i o s . É p o r t a n t o c l a r o q u e a p a l a v r a s e r i s e m p r e o i n d i c a d o r m a is s e n s í v e l d e t o ­ d a s as t r a n s f o r m a ç õ e s s o c i a i s , m e s m o d a q u e l a s q u e a p e n a s d e s p o n t a m , q u e a i n ­ d a n a o t o m a r a m f o r m a , q u e a i n d a n ã o a b r i ­ r a m c a m i n h o p a r a s i s t e m a s i d e o l ó g i c o s e s t r u t u r a d o s e b e m f o r m a d o s . . . ( B A K H T I N , 1 9 8 1 : 4 1 )

Acreditando ser a linguagem o reflexo mais imediato das experiências humanas; que falamos aquilo que de diferentes m o ­ dos vivemos; que através dela formalizam-se comportamentos e ideologias, trabalhar com ela significa penetrar n u m m undo de infinitas possibilidades. Trata-se de u m mundo onde o h o m e m é peça fundamental, onde seus pensamentos, atitudes e sentimentos são expostos através da prática cotidiana da linguagem.

Deixaraos de encarar a linguagem, agui, ocmD a sinples ejqjressão do pensamento" ou ainda "\am mero instrumento de comunicação". N u m a visão mais atual e profunda, a linguagem será vista como a possibilidade m a i o r de encontro entre os indivíduos. N e ­ la e através dela os homens e stabelecem os mais diferentes t i ­

(25)

pos de relações.

0 estudo dos fatos da linguagem abrange hoje não somente a língua ou sua prática, mas, sobretudo o que está envolvido nesta situação que denominaremos de "social", pois que ocorre nu m d e terminado contexto de uma d e t e r m i n a d a sociedade.

Sendo a linguagem de n a t ureza e s s e ncialmente social, p o ­ demos afirmar que linguagem e sociedade estão ligadas por laços indissolúveis. Mais que isto, que os grupos sociais, quando o r ­ ganizados, têm na linguagem de seus integrantes u m fato r e v e l a ­ dor da ordem, das idéias e dos comportamentos que n o r teiam este grupo.

D esta forma a linguagem p a s s a a ser vista como uma a t i v i ­ d a d e , talvez a mais dinâmica dentre todas. Ê através desta a t i ­ v idade que o sujeito social assume o papel daquele que age e reage, identificando-se com d e t e r m i n a d o grupo, p o s i c ionando-se diante de si mesmo e do mundo.

Assim, o caráter social da linguagem evidencia-se q uando p revê da parte dos sujeitos falantes u m comportamento social e lingüístico. Estes comportamentos, d e p e n d e n d o do tipo de vida, experiência e ambiente que contornem o m u n d o deste sujeito, d e ­ terminarão o espaço e o limite deste mundo, da m e s m a forma que a ideologia nele contida.

Para que se possa compreender as posições colocadas até agora, é p r e c i s o que se privilegie a palavra, tal qual Bakhtin

(1981:14). Ê dele a concepção de que a fala, a e n u n c i a ç ã o , p o s ­ suem lama n a t u r e z a social. Desta maneira, a enunciação está li­ gada tanto às condições de comunicação quanto às estruturas s o ­ ciais. Isto significa atribuir à p a l a v r a a função de i n terme­ diar a r e lação entre os homens e p o s sibilitar-lhes o. c o n h e c i m e n ­

(26)

to do mundo.

A p a l a v r a possui, alem disso, a capac i d a d e não sõ de re­ p r o d u z i r as ideologias constituídas como t a m b é m a de revelar as modifi c a ç õ e s ocorridas no dia-a-dia do h o m e m que pensa e r e p e n ­ sa o seu mundo. Sendo assim, a palavra interfere no comporta^ me n t o do homem na m e d i d a em que ela se faz signo. E, enquanto signo, r e flete valores, conduzindo o sujeito social a agir. Por esta qualidade, a p a lavra acrescenta ao h o m e m a noção de consci­ ência, não sõ individual mas de classe. A p a rtir daí elasetor- na, de acordo com Bakhtin (1981:37), "um instrumento de c o nsci­ ência... acompanhando e comentando todo ato ideolõgico".

Podemos constatar, pelas evidências, que sociedade e l i n ­ g u a g e m tornam-se tim sõ corpo atuando num proce s s o de inter-rela- ção contínuo. Que todas as alterações sofridas pela sociedade implicarão uma alteração de linguagem. P a r t i n d o do pressuposto de que a p a lavra v e i c u l a a ideologia, cabe a ela, através das relações sociais que ela estabelece, m o s t r a r o que nesta socie­ dade se modifica, se cria ou se pensa nas relações de todos os d i a s .

Partindo deste ponto de vista, o h o m e m age e adquire uma forma de conduta lingüística e social sujeita n a t uralmente ao mo m e n t o histõrico, social, político e pessoal que ele possa es­ tar vivendo. De que forma então, o fato lingüístico, a palavra que v e i cula idéias chegaria até ele e dele para o outro? E até que ponto, e de que m a n e i r a o comportamento é d e terminado pela ideologia trazida pelas palavras?

Para esclarecer estas questões, partiremos do princípio de que linguagem, ideologia e comportamento formam uma tríade inseparável.

(27)

N o que se rèfere â linguagem, adotaremos a posição bakh- ti niana de que "a p a lavra é o signo ideológico por excelência"

( ibid./ p. 36). No presente caso, privilegiaremos a linguagem oral dos sujeitos envolvidos na pesquisa.

Quanto â questão da ideologia, dada a amplitude do a s s u n ­ to, nos apoiaremos na colocação de Santaella B R A G A (1980:50), apoiada, por sua vez, em Althusser. Esta posição adapta-se p e r ­ feitamente à p r o posta deste trabalho quando a autora diz que

I d e o l o g i a s s a o s i s t e m a s d e r e p r e s e n ­ t a ç õ e s i m a g i n á r i a s q u e os i n d i v í d u o s f a ­ z e m d e s u a s r e a i s c o n d i ç o e s d e e x i s t ê n ­ c i a s o c i a l , d e m o d o q u e t o d a e q u a l q u e r p r á t i c a e x i s t e a t r a v é s e sob u ma i d e o l o g i a , ( B R A G A , 1 9 8 0 : 5 0 )

Como resultado da análise da vinculação entre linguagem e ideologia, teremos o comportamento, que se evidenciará c l a r a ­ m e n t e a partir dos dois primeiros pontos levantados.

Para que se compreenda e se justifique a importância d a ­ da à linguagem, ou melhor, aos atos de fala nestas duas últimas décadas, pelos estudiosos da lingüística, é p r eciso que se c o m ­ pr e e n d a a q u e s t ã o da ideologia e de como ela i n t e r v é m nos fatos da linguagem.

0 primeiro passo para assimilar a q u e s t ã o é que devemos integrar a ideologia ao indivíduo e ãs suas condições de exis- têncià. Ê p r eciso compreendê-la não como alguma coisa externa a ele, mas como fazendo parte dele. Pois a ideologia está ém nós desde o m o m e n t o em que nos constituímos em sujeitos sociais. Ela está incorporada â nossa consciência e às nossas atitudes. Ela flui pelas nossas palavras. A ideologia faz, sobretudo,com que nos reconheçamos no grupo social.

(28)

E m qualquer sociedade a ideologia existe como parte da estrutura social. E existe pela necessidade do indivíduo em p o s ­ suir u m ponto de referência, uma base para suas crenças,um f u n ­ damento para suas aspirações. Sendo assim, p r e ssupõe-se que é da busca de uma identificação com o outro, da p o s sibilidade de criar e partilhar idéias, d a perspectiva de formar e contornar padrões que os grupos sociais se o r g a nizam segundo aquilo em que acreditam, pensam acreditar ou são levados a acreditar.

Acontece que esta ideologia, para existir, precisa ser veiculada. Isto vai se dar pelo uso da linguagem, que. é o e l e m e n ­ to socializador mais eficaz.

Por este motivo, Bakhtin qualificou a p a l a v r a como um "signo social", como "o material privilegiado da comunicação na v i d a cotidiana", como "a arena onde se e n t r e c r u z a m e lutam os valores sociais de orientação contraditória" ( ibid., p. 37,63).

Desta maneira, a ideologia se infiltra na e pela palavra. A partir daí se estabelecem as relações sociais, se criam os g r u ­ pos sociais, se p r o duzem os discursos sociais. E estes trazem, por sua vez, as marcas daquilo que se produz e reproduz d e ntro de toda e qualquer formação social.

Dentro de u m a v i s ã o marxista, toda e q u a lquer sociedade se compõe de dois níveis; o da infraestrutura, que ê de base e c o ­ nômica, e o da superestrutura, que, p o r sua vez, se s u b d ivide em dois níveis: o jurídico-político (o Estado e o Direito) e o ideológico. Daí p erceber-se que a questão da d i f e r e n ç a de c l a s ­ ses está diretamente ligada à questão econômica, porque

E m t o d o s o s g r u p o s s o c i a i s q u e e x i s ­ t e m e m u m a s o c i e d a d e , só o s g r u p o s q u e a o p a r t i c i p a r d e f o r m a d i r e t a n o p r o ­ c e s s o d e p r o d u ç ã o c h e g a m a c o n s t i t u i r

(29)

-se e m p o l o s a n t a g ô n i c o s ( e x p l o r a d o s e e x p l o r a d o r e s ) se c o n s t i t u e m em c l a s s e s s o c i a i s .

( H A R N E C K E R , 1 9 8 3 : 1 6 3 )

Já a questão dos discursos s o c i a i s , apesar de também se inserir nas questões de ordem econômica, dimensiona-se mais p a ­ ra o nível ideológico. Isto e x p l i c a o porquê das diferenças nos discursos sociais. Estas não e x i s t e m apenas pelas d i f e r e n ­ tes classes sociais às quais p e r t e n c e m os indivíduos mas, t a m ­ bém como o resultado de sua f o r mação ideológica, ou seja, d e sua e x periência de vida.

Esta experiência se p r o c e s s a através daquilo que A l t h u s - ser (1980:62-8), explicando Marx, c h amou de Aparelhos I d e o l ó g i ­ cos do E s t a d o . Estes aparelhos são as instituições que o r g a n i ­ zam e dirigem a sociedade, tais como; o AIE religioso, o f a m i ­ liar, o jurídico, o político, o cultural, o escolar e a s s i m por d i a n t e .

É a partir destes aparelhos que o indivíduo se d e s e n v o l ­ ve, positiva ou negativamente, d entro da condição de explorador ou explorado. Estes aparelhos nos c o n d u z e m muitas v e z es,de f o r ­ m a tendenciosa, a assumirmos nossos papéis na sociedade f a z e n d o de nossas práticas sociais, entre elas a linguagem, u m e l e mento revelador de pressão, pois

... a p r ó p r i a e s t r u t u r a d e c l a s s e s p r o ­ d u z h i s t o r i c a m e n t e f a l a s , s i g n i f i c a d o s , v a l o r e s q u e s a o p e c u l i a r e s a c a d a c l a s ­ se: n a m e d i d a e m q u e c a d a c l a s s e v a i t e r p a p é i s d i f e r e n t e s n a p r o d u ç ã o , v a i t e r t a m b é m e x p e r i ê n c i a s h i s t õ r i c o - s o c i a i s d i f e r e n t e s e n e c e s s a r i a m e n t e v a i p r o d u ­ z i r f a l a s d i f e r e n t e s . ( F A R A C O , 1 9 8 5 : 1 3 )

(30)

Podemos concluir dizendo que os indivíduos são o produto de u m contexto econômico que os define enquanto classe e de u m c o n texto ideológico que os define perante si mesmos e o mundo. É este duplo aspecto que transforma o indivíduo em sujeito s o ­ cial, que entra para o mundo através da linguagem, que, p e r m e a ­ da p e l a ideologia, determ i n a r a os seus comportamentos, sejam eles sociais, lingüísticos, afetivos, morais. O sujeito social precisa compreender que "para s u p o r t a r a opressão ê necessário que se t e n h a a utopia..." (ibid., p . l 6 ) , porque as reais condi­ ções de existência destes sujeitos "são em si alienantes" (AL- THUSSER, 1980:80).

Desse ponto de vista, compre e n d e - s e a defin i ç ã o de i d e o ­ logia como r e p r e s e n t a ç ã o . Ideolo g i c a m e n t e falando, os sujeitos sociais t ê m dificuldade em fazer coexistir as suas reais condi­ ções de existência e aquelas imaginadas. 0 que fazem então, é t r a n f o r m a r esta realidade, r e presentando-a, através de sua l i n ­ guagem. Isto lhes é permitido d evido à sua formação ideológica, que de uma m a neira ou de outra lhes é imposta pelo contexto de suas vidas. Sendo assim, o que é r e presentado na ideologia

... n ã o i o s i s t e m a d a s r e l a ç õ e s r e a i s q u e g o v e r n a a e x i s t ê n c i a d o s i n d i v í d u o s , m a s as r e l a ç õ e s i m a g i n á r i a s d e s t e s i n d i ­ v í d u o c o m a s r e l a ç õ e s r e a i s em q u e v i v e m .

( A L T H U S S E R , 1 9 8 0 : 8 2 )

Deve ficar claro que t o d a r e p resentação implica u m "com­ portamento falseado", mesmo que esta representação faça alusão a xama realidade. S urgem daí os "atores sociais", que b e m foram definidos por Sartre numa entrev i s t a a Madeleine Chapsal,cujas palavras abrem o artigo de Vogt, "Para uma pragmática das r e p r e ­ sentações" (1980:129) que diz:

(31)

.. . t r a t a - s e do h o m e m — q u e e a o m e s m o t e m ­ p o u m a g e n t e e u m a t o r — q u e p r o v o c a e r e p r e s e n t a s e u d r a m a , v i v e n d o as c o n t r a ­ d i ç õ e s d e s u a s i t u a ç a o a t é a e x p l o s ã o d e s u a p e s s o a o u m e s m o à s o l u ç ã o de s e u s c o n ­ f l i t o s .

Na parte que segue, abordaremos a questão do discurso, a forma como a representação nele se insere, o sentido que ele adquire e aonde ele conduz. Usando as palavras de Verõn, a n a ­ lisaremos "o m o d o de existência da ideologia no seio dos d i s ­ cursos" e também "a produção social de discursos, que é parte por sua vez, de um campo mais vasto, o da produção de sentido"

(VERÕN, 1980:22-5). 2. Discurso e texto ... s e n d o a p a l a v r a u m s i g n o , s u a f u n ç a o é q u e r e r - d i z e r , l o g o , f o r n e c e r u m s e n t i ­ do q u e , s e j a p o r r e m e t e r a u m o b j e t o , s e ­ j a p o r r e f e r i r a u m a n o r m a g r a m a t i c a l , i u m c o n h e c i m e n t o , u m s a b e r . . . a l i n g u a g e m e s e m p r e u m s a b e r ; o d i s c u r s o i s e m p r e u m c o n h e c i m e n t o , p a r a q u e m p r o n u n c i a o u o u ­ v e a p a l a v r a n a c a d e i a c o m u n i c a t i v a . ( K R i S T E V A , 1 9 7 4 : 1 2 6 - 7 )

Pretendemos, nesta parte, discutir a questão dos f e n ô m e ­ nos discursivos. Para isto é necessário que se coloque as q u e s ­ tões relativas ãs condições de produção destes fenômenos, a m a ­ neira p e l a qual eles são ou estão investidos de significação, a importância da presença dos sujeitos que p r o duzem estes f e n ô m e ­ nos d entro do contexto de sua produção.

Para isso, teceremos algumas considerações preliminares sobre os termos Discurso/Texto, necessárias tendo em vista a

(32)

va-riedade de acepções que lhes são atribuídas.

A idéia de que o discurso é a unidade que u l t r a p a s s a a frase nos parece resolvida dentro dos estudos lingüísticos atu­ ais. Há muito jã se percebeu que o discurso é mais que uma se­ q ü ê n c i a de frases., 0 que ainda é objeto de d i s c u s s ã o ê a q u e s ­ tão da delimitação da abrangência destes termos e s u a s relações.

Sabemos que nas noções de discurso e texto estão e m b u t i ­ das as noções de oral e escrita. 0 d i s curso seria, a m a n i f e s t a - ção v e r b a l da linguagem e o texto a r e p r esentação e s c r i t a desta manifestação. Esta é naturalmente uma visão p r i m á r i a do a ssun­

to. Contudo, foi a partir dela que os estudos sobre o assunto se d e s e n v o l v e r a m e foram com o tempo se ampliando. Na verdade, ainda hoje não se tem conceitos definidos sobre estes termos. 0 que se tem são conceitos formulados, ampliados, modificados. I s ­ to e compreensível na m edida em que se percebe a linguagem como xim fato revelador de uma realidade social que envolve o h o m e m e a sua condição de ser itinerante. Buscando a si mesmo, r e e n ­ contrando o outro através da linguagem, o homem é e será sempre um ser inacabado. A linguagem que o constitui também a s s i m o será. Um processo, cuja gama de possibilidades é infinito. D e s t a maneira, discutiremos sempre tendo e m v i s t a esta abertura, procurando na linguagem, ou melhor, nos fatos que a revelam, um m e i o de compreender o homem e sua atuação no mundo.

• Basicamente a noção de discurso pressupões a e x i s t ê n c i a de uma inter-ação entre sujeitos, pois

... u m d i s c u r s o é s e m p r e u m a m e n s a g e m s i t u a d a , p r o d u z i d a p o r a l g u e m e e n d e ­ r e ç a d a a a l g u é m .

(33)

Sendo assim, uma enunciação, u m discurso produzido, acontece n u ­ m a determinada situação social e histórica. Da m e s m a maneira, os agentes produtores destes discursos devem ocupar no contexto determinadas funções que os identifiquem perante si mesmos e p e ­ rante o outro. Desta idéia, podemos constatar que à noção de di s curso se incorpora a n o ç ã o de ação, de movimento, de sentido. Se, por um lado,à noção de discurso se v i n c u l a a de ati­ vidade, por outro, à n o ç ã o de texto se vincula a de e s t a t i v i d a ­ de. Isto porque o texto ê percebido como uma realidade p a l p á ­ vel, passível de análise. 0 texto seria, então, um o b j e t o c o n ­ creto, ordenado, fundamentado, permeado de relações entre os a r ­ gumentos que o constituem. U m texto se caract e r i z a basica m e n t e por aquilo que Koch (1984:21-2) chama de "textualidade" o u "tes­

situra" .

Na realidade, u m discurso t ambém pode ser c o nsiderado c o ­ mo sendo um texto em potencial, na m e dida em que ele se o r g a n i ­

za d e ntro de uma certa lógica discursiva, m a n t e n d o uma coesão e propo n d o u m direcionamento. 0 que acontece é que u m discurso, p a r a ser analisado, p r e c i s a ser transformado em texto, isto é, ser transcrito, pois o discu r s o em si se perde no p r óprio ato de sua enunciação. Compr e e n d e n d o desta maneira, podemos dizer que o discurso é u m texto na m e d i d a em que se materializa, p e r ­ mi t i n d o que uma e nunciação seja objeto de análise, trazendo con­ sigo todos os elementos ativos que a constituíram.

Pensando assim, constatamos que o texto, o b jeto m a t e r i a ­ lizado do discurso produzido pelos indivíduos, nada possui de estático. A ele e dentro dele subjazem elementos dinâmicos que lhe deram origem. Por isso o texto pode e deve ser considerado como iim ato de fala "que e feito para ser apreendido de m a n e i r a

(34)

ativa" (BAKHTIN, 1981:123).

C harau d e a u (1984:38) faz questão de colocar que o termo di s c u r s o não deve ser confundido com o termo t e x t o . Do seu p o n ­ to de vista, o texto deve ser considerado "como objeto que repre s e n t a a materi a l i z a ç ã o da m-còe en ■icèn& do ato de lingua­ gem, e ainda "como um resultado sempre s i n gular de u m processo que depende de um sujeito falante e de circunstâncias de p r o d u ­ ção particulares".

Q u a n t o ao discurso, ele o define como sendo "o lugar da m^t^e en da significação" (o fazer lingüístico).

O texto seria, então, a repres e n t a ç ã o m a t e r i a l i z a d a de u m fazer lingüístico, que se assim for p e r c e b i d o poderá ser a n a ­ lisado. Isto porque, nele p o derão ser encontradas todas as a r ­ timanhas, jogos è relações utilizados pelos sujeitos sociais q u a n d o da p r o d u ç ã o de seus discursos.

0 texto tem desta m a n e i r a sua import â n c i a configurada. Ele é a possibilidade única que a linguagem p r o d u z i d a numa s o ­ ciedade possui para se constituir como elemento revelador desta sociedade. A s s i m acontece p orque u m texto m a t e r i a l i z a d a muito mais do que palavras. Ele m aterializa atitudes, pensamentos,de- desejos, intenções, opiniões. Enfim, tudo que constitui uma s o ­ ciedade e tudo que c a r a c t e r i z a os seus m e mbros como sujeitos s o ­ ciais ê revelado pela linguagem através dos discursos sociais e materializado, isto é, transformado em argumento, através dos t e x t o s .

Como já comentamos, o discurso se perde no p r ó p r i o atò de sua enunciação. É pois o texto a ú n i c a forma de fazer com que a p a lavra permaneça, adquira loma individualidade. Isto faz com que o jogo iniciado no m o m e n t o da enunciação pelos agentes produtores d e discurso, continue a ser jogado por aqueles que

(35)

p r e t endem compreender este jogo a partir da análise dos textos que m a t e r i a l i z a m a p r o d u ç ã o lingüística dos sujeitos sociais.

Para chegarmos a esta compreensão, é necessário que se fale dos sujeitos que p a r t i c i p a m destes atos de fala, da m a n e i r a como eles se comportam d i a n t e da linguagem, e de como dela f a ­ zem uso para dizer o q u e sentem, o que querem, o que p e n s a m das coisas do mundo. E t ambém da m a n e i r a pela qual muitas vezes d i ­ zem o que não querem, m o s t r a m o que não sentem, p r o p õ e m v e r d a ­ des em que não acreditam.

A palavra permite tudo isto. Cabe ao sujeito social d e ­ la fazer uso, jogando com seu poder, com seus efeitos de s e n t i ­ do. Ê sobre isso que discutiremos em seguida. Sobre o p a p e l do pr o d u t o r de discursos e sobre a m a n e i r a pela qual as palavras são investidas de signif i c a ç ã o no e pelo jogo da linguagem.

3. A produção de sentido — protagonistas, condições de produção, representações.

Falar dos sujeitos q u e p a r t i c i p a m dos atos de fala p a r e ­ ce lógico e natural. N o entanto, por longo tempo eles e s t i v e ­ ram ausentes dos estudos sobre a linguagem. Somente q uando se começou a analisar o processo enunciativo é que se pensou na im­ portância que teriam estes sujeitos no interior daquilo que e n u n ­ ciavam.

Benveniste (1974:67-8) -nos deixou, neste campo, uma c o n t r i ­ b u ição fundamental: a de que o h o m e m s6 se percebe perante si mesmo quando toma c o nhecimento da existência do outro. Este c o ­ nhecimento s5 é possível através da linguagem, que se realiza p e ­ los atoè de fala. Desta maneira, o indivíduo, ao se apropriar dá

(36)

linguagem produzindo uma enunciação, se instaura como sujeito (EU) desta enunciação. Simultaneamente instaura o outro também como sujeito (TU). Assumindo ambos, alternadamente, as posições do "EU" e do "TU", é que se estabelece o jogo da linguagem, for­ malizado através dos diálogos entre os sujeitos sociais.

Estas noções sobre os sujeitos da enunciação foras bas­ tante ampliadas por Charaudeau, que, diferentemente de Benvenis- te, vê o jogo da linguagem estabelecido entre os parceiros atra­ vés de um contrato.

Numa primeira colocação ele diz que "uma teoria do d i s ­ curso não p o d e prescindir de uma d e f i nição dos sujeitos d o ato de linguagem" (Langage et Societé, 1984:38). Importante ê t a m ­ b é m sua definição de discurso como o "lugar da ml&e, zn Acène da significação" (Ibid, p. 38). A o u t i lizar a expressão en ■òcim, Charaudeau aí embutiu a idéia de "representação". Na r e a ­

lidade, o ato de fala acompanhado dos elementos que o constituem, pode ser v i s t o como uma "encenação", no sentido estrito do termo. Vogt também assim percebeu o ato de fala quando disse que "se a

linguagem atravessa a verdade com a m á s c a r a da neutralidade é p o r ­ que ela é palco e aí cabem outras representações" (1980:153).

Sabemos que a língua não é um código que existe por si s5. Ela existe em função daqueles q u e a ulitizam, isto é, dos i n d i ­ víduos que fazem parte de uma comunidade. Estes, por sua vez, a g e m lingüisticamente de acordo c o m aquilo que, por hábito ou convenção, ficou estabelecido nesta comunidade. Assim, p arece natural que os indivíduos se comuni q u e m e se compreendam entre si a p artir destas convenções.

Acontece que o que se passa entre emissor e receptor é, como já mencionamos, muito mais que uma simples transmissão de

(37)

informação. Se assim o fosse, o que dizemos uns para os outros teria sempre o mesmo valor. Nada seria criado n e m inter p r e t a d o porque emissor e receptor s eriam meros instrumentos de xuna m e n ­ sagem sem sentido, ou com o sentido apenas de q u e r e r dizer o que foi dito.

B asta que olhemos à n o s s a v o l t a e q u e p ercebamos o que s o ­ mos capazes de fazer e o que fazemos quando f a l a m o s . Nos d a r e ­ mos conta de que produzir um discurso não é u m c o m p o r t a m e n t o que pode ser considerado ingênuo. Quando nos propomos a e s t a b e l e ­ cer um ato de fala, levamos e m conta várias coisas, m e s m o que isto aconteça de forma inconsciente. Questionamos, por exemplo, se n osso interlocutor tem algo em comum conosco; se de alguma forma, por fazer parte do n o s s o mundo, encontramos nele parte deste mundo; se ele pensa ou não como nós; como ele i n t e r p r e t a ­ rá o que dizemos e a m a n e i r a p e l a qual dizemos. E se temos in­ tenções ao dizer, nos frustramos se o efeito não foi o p r e t e n d i ­ do. E dependendo da idade, do sexo, do papel que n o s s o ouvinte tem dentro do contexto social em que vivemos, agiremos lingüis- ticamente desta ou daquela maneira.

0 ouvinte, por sua vez, t a m b é m tece as suas considerações. Questiona-se sobre a atitude do locutor, sobre q u e m ê ele p a r a falar desta o u daquela forma; o que ele pretende dizer através do que foi dito; que tipo de r eação aquele locutor e spera dele, ouvinte?

Podemos dizer que este jogo de perguntas (e muitas o u ­ tras mais) está definitivamente inscrito no ato de fala p e l a simples razão de que o que d e t e rmina a i nstauração do ato de f a ­ la é, basicamente, o tipo de relação que existe entre u m E U (lo­ cutor) e u m TU(ouvinte). Ê a intensidade (maior ou menor) des-23

(38)

ta relação que vai definir o tipo de atitude (lingüística) que o locutor u t i l izará para chegar até seu interlocutor. Isto é compreensível na m e dida e m que

U m E U n a o d e f i n e , p o r si só, a a ç a o a s e r e m p r e e n d i d a ; e p r e c i s o q u e e l e te-, n h a s u a i m a g e m do TU o u q u e o T U f o r ­ n e ç a e s s a i m a g e m . . . u m a v e z q u e a i m a ­ g e m se a c h a d e f i n i d a , h ã q u e se d e f i n i r u m t i p o d e a ç a o . . . ( O S A K A B E , 1 9 7 9 : 5 3 )

T odas estas noções nos levam a considerar que realmente u m ato de fala, ou a produção de ura discurso, possui m u i t a s i m ­ plicações. Se à p r i meira vista parece simples e c o r r i q u e i r o u m ato de fala entre dois ou mais participantes ê e x t remamente c o m ­ plexo . É fundamental que ele seja percebido, n ã o como u m fato isolado, mas como alguma coisa que faz parte do nosso m u n d o e que acontece em função das circunstâncias de vida destes p a r t i ­ cipantes e de uma necessidade m aior que comunicar-se, qual s e ­ ja, a de conhecer-se e ao outro. Por isso,

... q u a n d o se a n a l i s a u m a t o d e f a l a , q u a l q u e r q u e s e j a e l e , n ã o é a l í n g u a q u e p r e c i s a s e r v i s a d a c o m o o b j e t o d e a n á l i s e m a s os t r a ç o s d a o r g a n i z a ç ã o s 5 c i o - c u l t u r a l n o s q u a i s o d i s c u r s o se e n t r a n h a . ( C H A R A U D E A U , 1 9 8 2 - A : 7 - 3 0 )

Sendo assim, dizer que os participantes de u m ato de fala, p o r p e r t e n c e r e m a uma m e s m a comunidade, se relac i o n a m lingüisti-

camente a p a r t i r de convenções, i dizer, de acordo com Charau- deau, que eles p o ssuem u m "contrato lingüístico" que lhes p e r ­ m i t e c o m p r e e n d e r mais que uma informação; significa q u e eles

"partilham das práticas psicossociais existentes na comunidade" (ibid, p. 2). Por práticas psicossociais entendemos t o d o tipo

(39)

de r e l a ç ã o / ou melhor, todo tipo de e x p e r i ê n c i a vivida pelos membros de uma m e s m a comunidade, s e j a m elas i n t e l e c t u a i s ,m o r a i s ,

afetivas, lingüísticas, c o m p o r t a m e n t a i s , etc. Essas e x p eriên­ cias são naturalmente apreendidas por cada indivíduo de maneira bastante singular. Esta singularidade vai ser representada nos discursos produzidos pelos sujeitos sociais, pois

... t o d o a t o d e f a l a i f a t o d e u m i n ­ d i v í d u o p a r t i c u l a r q u e i a o m e s m o t e m ­ p o u m s e r c o l e t i v o e i n d i v i d u a l , q u e r e l e se a t r i b u a a f u n ç a o d e p r o d u t o r d e f a l a o u d e i n t e r p r e t a n t e . ( I b i d , p. 2)

Por todas estas considerações podemos p e r c e b e r que e m i s ­ sor e receptor f a z e m mais do que transmitir e receber i n f o r m a ­ ções e que a sua atuação enquanto seres produtores de discurso m e r e c e u m estudo mais detalhado.

Para isto, seguiremos o e s q uema propo s t o por Charaudeau, o qual consideramos eficiente no sentido de e l u c i d a r o processo de organização dos discursos. Neste momento, colocaremos t a m ­ b é m as questões relativas às condições de p r o d u ç ã o dos d i s c u r ­ sos e, n u m último espaço, a m a neira pela qual os discursos são investidos de significação. Nos apoiaremos p a r a isso nos p o n ­ tos de vista elaborados por Bakhtin (1981), Verõn (1980) e Pê- cheux (1969) .

Por aquilo que vimos até o momento, fica perfeitamente clara a vincul a ç ã o da linguagem com o social. Indiscutível a questão de que o h o m e m vive e se organiza segundo as normas do grupo social no qual ele estã inserido. Indiscutível t a m b é m o fato de que é p e l a linguagem que os indivíduos se e n c o ntram e se reconh e c e m como sujeitos sociais. Por estas evidências, p a ­ ra que vun ato de fala se realize, é preciso que

(40)

... l o c u t o r e o u v i n t e p e r t e n ç a m

à u m a

m e s m a c o m u n i d a d e l i n g ü í s t i c a , a u m a s o ­ c i e d a d e o r g a n i z a d a . . . é n e c e s s á r i o q u e e s t e s d o i s i n d i v í d u o s e s t e j a m i n t e g r a ­ d o s n a u n i c i d a d e d a s i t u a ç ã o s o c i a l i m e d i a t a . . . q u e t e n h a u m a r e l a ç ã o de p e s s o a p a r a p e s s o s s o b r e u m t e r r e n o p r e c i s o . . . e a p e n a s s o b r e e s t e t e r r e n o q u e a t r o c a l i n g ü í s t i c a se t o r n a p o s s í ­ v e l . ( B A K H T I N , 1 9 8 1 : 7 0 )

Isto confi r m a o fato de que um discurso ocorre sempre numa d e ­ terminada situação e de que esta situação e sempre social. E s ­ te aspecto do social envolvido na produção dos discursos é u m dos fatos que contribuem para que sejam formalizadas as c o n d i ­ ções de produção dos discursos. Outro, é o papel que estes su­ jeitos sociais o c u p a m no seio da sociedade em que vivem e das possíveis relação que entre eles possa existir. Por papel d e ­ vemos entender não somente o lugar ocupado pelos indivíduos na hi e r a r q u i a social mas também o papel que "Eü"/ sujeito produtor de discurso, atribui ao "TU", sujeito receptor de discurso. 0 contrário é verdadeiro na m e d i d a e m que "EU" e "TU",como j'ã v i ­ mos, alternam suas posições no decorrer do ato de fala. Isto eqüivale a dizer que os sujeitos participantes de \im ato de fa­ la são mais que presenças físicas neste ato. Eles

... d e s i g n a m l u g a r e s d e t e r m i n a d o s n a e s ­ t r u t u r a d e u m a f o r m a ç ã o s o c i a l . . . e e s ­ t e s l u g a r e s s ã o r e p r e s e n t a d o s n o p r o c e s ­ so d i s c u r s i v o o n d e e l e s e s t a o c o l o c a d o s , e m j o g o . . . o q u e f u n c i o n a n o p r o c e s s o d i s c u r s i v o e u m a s é r i e d e f o r m a ç o e s i m a ­ g i n á r i a s d e s i g n a n d o o l u g a r q u e " A " e " B " se a t r i b u e m c a d a u m a si m e s m o e a o o u ­ t r o , i m a g e m q u e se f a z e m d e s eu p r ó p r i o l u g a r e do l u g a r d o o u t r o . ( P Ê C H E U X , 1 9 6 9 , 1 8 - 9 )

D esta forma, partilhamos não sõ dos conhecimentos do m u n d o que ■nos envolve e ao nosso interlocutor como t ambém supomos coisas

Referências

Documentos relacionados

Obedecendo ao cronograma de aulas semanais do calendário letivo escolar da instituição de ensino, para ambas as turmas selecionadas, houve igualmente quatro horas/aula

A disponibilização de recursos digitais em acesso aberto e a forma como os mesmos são acessados devem constituir motivo de reflexão no âmbito da pertinência e do valor

b) Execução dos serviços em período a ser combinado com equipe técnica. c) Orientação para alocação do equipamento no local de instalação. d) Serviço de ligação das

Sobretudo recentemente, nessas publicações, as sugestões de ativi- dade e a indicação de meios para a condução da aprendizagem dão ênfase às práticas de sala de aula. Os

Lista de preços Novembro 2015 Fitness-Outdoor (IVA 23%).. FITNESS

os atores darão início à missão do projeto: escrever um espetáculo para levar até as aldeias moçambicanas para que a população local possa aprender a usufruir e confiar

José Arno Appolo do Amaral, Prefeito Municipal, no uso de suas atribuições legais e de acordo com o Processo nº 2808/2020 da Secretaria Municipal de

 A combinação desta referência com a referência do mandato, permitirá ao Banco do devedor fazer uma análise à instrução de cobrança antes de proceder ao