• Nenhum resultado encontrado

Reflexões éticas sobre a família e a empresa: Leituras a partir de buddenbrooks de Thomas Mann

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Reflexões éticas sobre a família e a empresa: Leituras a partir de buddenbrooks de Thomas Mann"

Copied!
18
0
0

Texto

(1)

REFLEXÕES ÉTICAS SOBRE A FAMÍLIA

E A EMPRESA: LEITURAS A PARTIR DE

BUDDENBROOKS DE THOMAS MANN

LUIZ FILIPE ARAÚJO1

PAULO CÉSAR DE OLIVEIRA2

RESUMO

O presente artigo trata das relações entre família e empresa, partindo da dimensão histórico-jurídica para se pensar a dimensão ética, num primeiro momento dentro dos marcos da ética weberiana. Para ilustrar tal movimento de articulação valorativa entre essas duas instituições utiliza-se o exemplo literário da obra os Buddenbrooks de Thomas Mann. Para finalmente propiciar uma relação com éticas contemporâneas que consideram interesses e aspectos transindividuais, como a ética do desenvolvimento.

Palavras-chave: Família e empresa; BUDDENBROOKS DE THOMAS MANN; Ética weberiana; Ética do desenvolvimento.

ABSTRACT

This article deals with the relationships between family and business, based on the historical and legal dimensions to think about the ethical dimension, at first within the frameworks of the Weberian ethics. To illustrate the relationships between these two institutions is used a literary example from the book “Buddenbrooks” wrote by Thomas Mann. To finally provide a discussion with the contemporary ethics to consider transindividual interests, such as the development ethics.

Sumário: I – Introdução; II – Da gênese da família, do trabalho e da empresa; III - Modelo ético weberiano; IV - Empresa, Família e Literatura: o exemplo de “Os Buddenbrooks”; V – Ética Familiar e Empresarial na contemporaneidade; VI - Conclusão; VII - Referências Bibliográficas.

Key words: Family and business; BUDDENBROOKS wrote by Thomas mann; Weberian ethics; Development ethics.

1 Professor da Universidade Federal de Viçosa. Mestre e Doutor em Filosofia do Direito pela UFMG.

2 Professor da Universidade Federal de Viçosa. Mestre e Doutorando em Filosofia do Direito pela UFMG.

(2)

1. INTRODUÇÃO

Quando se questiona um cidadão comum imerso nos problemas do cotidiano sobre quais seriam as relações entre família e empresa as respostas tenderiam a demonstrar que quase nenhuma semelhança existiria. Talvez até mesmo que uma empresa serviria como um meio de manutenção econômica para a família. Porém, para o jurista as relações entre as duas, e por decorrência os institutos a elas relacionados, seriam mais claras por se tratarem de objetos de estudo do direito privado e com complexas relações entre patrimônio e finalidades humanas.

Todavia, mesmo para os juristas, principalmente nos últimos tempos por conta da especialização dos ramos do saber, as relações entre estas duas instituições dentro do ambiente jurídico muitas vezes passariam despercebidas se considerarmos apenas aspectos técnicos. Hoje são raros os estudiosos do direito que se dedicam com profundidade aos estudos do direito privado como uma unidade complexa, e não somente as particularidades e subdivisões deste em ramos. Poder-se-ia dizer que há certo antagonismo entre civilistas e empresarialistas nos estudos do direito privado, cada um buscando a autonomia que lhe interessa.

Após uma reflexão mais prudente o jurista perceberá que são insuspeitas as relações entre os institutos que pertencem ao direito empresarial e ao direito das famílias3. Apenas a título exemplificativo

pense-se na constituição de uma sociedade limitada entre cônjuges. Neste caso estaria desnaturalizada a relação familiar existente por conta da empresa? Todas as análises desta sociedade devem ser feitas esquecendo-se do espectro do direito civil, nisto em especial, o direito de família e o direito sucessório?

Antes de institutos jurídicos, família e empresa são instituições que possuem íntimas relações com outras ciências humanas, como, por exemplo, a sociologia, antropologia, economia, política e, porque não dizer, com a ética. Neste sentido, a pretensão do presente artigo é lançar alguns olhares para as relações entre estas instituições, não se restringindo a um ou a outro instituto jurídico. Aqui serão experimentadas apenas algumas reflexões sobre a ética destas duas instituições tendo como ponto de partida o direito, a filosofia e a literatura.

3 Com relação a esta denominação, por todos, vide: Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves De Farias em Direito das Famílias. ROSENVALD, Nelson; DE FARIAS, Cristiano Chaves. Direito das Famílias. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016.

(3)

2. DA GÊNESE DA FAMÍLIA, DO TRABALHO E DA

EMPRESA

Para demonstrar as relações entre família e empresa, i. e., atividade comercial latu sensu, é interessante percorrer historicamente qual era a compreensão do comércio e dos trabalhos manuais na antiguidade e, posteriormente, breves notas sobre a estrutura da família entre os antigos. Tal medida serve para demonstrar a hipótese que estas duas instituições sempre foram tratadas de formas diversas na construção da civilização ocidental, e muitas vezes como inimigas.

Na Grécia antiga a propriedade, principalmente a fundiária, estava legada apenas para os cidadãos da Pólis, ou seja, os escravos e estrangeiros estavam excluídos desta relação. Fato este que relegou, e ao mesmo tempo incentivou, a permanência do comércio nas mãos das classes mais baixas. Deve-se ter em mente que os trabalhos manuais não eram bem vistos pelos nobres gregos.

Na opinião dos grandes filósofos, os comerciantes eram pessoas desprezíveis. Platão, em sua obra As Leis, ao elucubrar sobre as melhores maneiras de constituir uma cidade-estado faz um requisitório severo contra as cidades marítimas, onde para ele sempre floresceu o comércio, apontando-as como centro da corrupção dos costumes4.

Para Aristóteles a atividade dos artesãos e dos comerciantes era ignóbil e inimiga da virtude, o que ele chamava de aquisição artificial de riquezas ou crematística5. O Filósofo sustentou que profissão

mercantil é justamente depreciada, em comparação do próprio sustento para a família, porque ela nada tem de natural (não é uma profissão ligada à natureza, como a agricultura), sendo resultado de simples trocas. Para ele os comércios sequer deveriam ficar na Ágora, principal praça pública da Grécia Antiga, onde interesses particulares não poderiam preponderar.

Neste momento, uma breve digressão merece ser feita. Até mesmo para a religião grega pode-se perceber um desprestígio do comércio. Exemplo emblemático é que a divindade protetora dos comerciantes era Hermes (Mercúrio para os romanos). O deus, muitas vezes relembrando em nossa Hermenêutica por sua atividade interpretativa da mensagem divina, era protetor dos comerciantes e mensageiros,

4 PLATÃO. As Leis. Trad. Edson Bini. Bauru: Edipro, 1999. Pág. 321.

5 ARISTÓTELES. Política. Trad. Mário da Gama Kury. Brasília: Editora UnB, 1985. Pág. 23 a 30.

(4)

mas também dos ladrões6. A similitude desta percepção, mesmo que

mítica, traça algumas relações entre estas atividades tratadas como inferiores também moralmente.

Para os Romanos a compreensão sobre o trabalho e o comércio não era diferente, conforme escreveram Cícero e Sêneca7:

As artes do vulgo, as artes sórdidas, são, segundo o filósofo Posidônio, as dos trabalhadores braçais, que empregam todo o seu tempo em ganhar a vida; tais ofícios nada têm de belo e em nada se parecem com o Bem. Cícero não teve de aprender com o filósofo Panaitios, cujo conformismo apreciava, que “todo salário é sórdido e indigno de um homem livre, pois constitui o preço do trabalho, e não de uma arte; todo artesanato é sórdido e o comércio de revenda também o é”. Na Idade Média há notadamente um declínio do comércio em comparação com a vida mediterrânea da antiguidade clássica. Para agravar a situação a prática mercantil era sempre incluída nos manuais de confissão e estatutos sinodais na lista de profissões ilícitas (illicita negotia) ou ofícios desonrosos (inhonesta mercimonia) pela Igreja. No século X, o Cristianismo exortava os leigos a evitar três ocasiões de impureza: relações sexuais, portar armas e manipular dinheiro. Segundo a Norma de Direito Canônico (Decreto de Graciano), o comerciante jamais poderia agradar a Deus (Homo

mercator nunquam aut vix potest Deo placere)8. Os ganhos através do

trabalho deveriam ser moderados, nenhum cristão poderia almejar mais do que o suficiente para suprir suas necessidades básicas.

Assim, o Catolicismo pregava que a riqueza era um grande obstáculo para a ascensão espiritual. Exemplo emblemático na literatura universal é a imagem do judeu Shylock dentro da obra o Mercador de Veneza de Shakespeare; onde se pode perceber o intenso antagonismo entre a teologia cristã e a repulsa à usura praticada pelos comerciantes, em sua maioria judeus e outros estrangeiros durante a Idade Média. Posição esta semelhante à dos metecos na pólis grega, pois mais uma vez viu-se a alienação da atividade comercial para outras camadas da sociedade, tratadas na maioria das vezes como inferiores. O poder econômico ainda encontrava-se na terra e não na mercancia.

6 BULFINCH, Thomas. Livro de Ouro da Mitologia. Trad. de David Jardim Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999. Pág. 120.

7 VEYNE, Paul. História da vida privada: do Império Romano ao ano mil.; tradução Hildegard Feist; consultoria editorial Jonatas Batista Neto. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. Pág. 115.

8 LE GOFF, Jacques. Mercadores e Banqueiros na Idade Média. São Paulo, Martins Fontes, 1991. Pág. 71.

(5)

Na Modernidade, a partir do século XVI, com a contestação e enfraquecimento do dogma da Igreja Católica, percebe-se uma mudança de postura com relação ao comércio com o advento do Protestantismo. Este trazia a nova visão de que a vocação humana estaria em desempenhar as tarefas impostas ao sujeito pela sua posição no mundo. Para estes a salvação e graça de Deus seriam decorrentes de uma dedicação exclusiva ao trabalho. Segundo a doutrina Calvinista:

Deus chama cada um para uma vocação particular cujo objetivo é a glorificação dele mesmo. O comerciante que busca o lucro, pelas qualidades que o sucesso econômico exige: o trabalho, a sobriedade, a ordem, responde também ao chamado de Deus, santificando de seu lado o mundo pelo esforço, e a sua ação é santa.9

Em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Max Weber afirma que, no mundo construído com a Reforma Protestante, a valorização do trabalho árduo enquanto um meio de servir a glória de Deus e estima à prosperidade, alcançada pelo sucesso nos negócios e pela austeridade nos hábitos de consumo, conduz os homens a se tornarem comerciantes e a imaginarem-se como “escolhidos” pela graça divina para gerirem os recursos da sociedade. Quanto a esta tensão ética gerada pela atividade comercial, Weber ao tratar da questão após o fim de Idade Média e início da Idade Moderna trás a seguinte análise:

Mas esses fenômenos pertencem a um tempo em que o capitalismo moderno se tornou predominante e emancipado de seus sustentáculos antigos. Mas ao mesmo tempo que pôde destruir as antigas formas de regulamentação medievais da vida econômica só se aliando ao crescente poder do Estado moderno, podemos por enquanto afirmar que tenha se passado o mesmo com relação às forças religiosas.

Se foi esse o caso, e em que sentido, será objeto de nossa investigação. Será desnecessário provar que o conceito de ganhar dinheiro como um fim a si mesmo, ao qual as pessoas estavam presas como a uma vocação, sempre foi contrário ao sentimento ético de todas as épocas.10

9 João Calvino. In: Roland Mousiner. Os séculos XVI e XVII: os processos da civilização europeia. São Paulo: Difed, 1973. Apud SOUZA, Rainer. A religião e a atividade burguesa. Disponível em: http://www.educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-religiao-atividade-burguesa.htm. Acesso em 07/11/2015.

10 WEBER, Max. A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo. Editora Martin Claret, São Paulo, 2003. Pág. 30.

(6)

A valorização do trabalho como uma ponte para se chegar a prosperidade espiritual, serviu como justificativa para as atividades da burguesia. Dessa forma, os ideais do protestantismo, deram apoio religioso e, consequentemente, suporte social para o acúmulo de riquezas e condições para o desenvolvimento do sistema econômico capitalista.

Feitas estas considerações sobre a atividade comercial na antiguidade pode-se passar a breves explanações sobre a família na antiguidade, para deste modo relacionarmos os modelos éticos que guiam estas instituições. Lapidar é a lição do Fustel de Coulanges11

sobre o mundo antigo no tema que nos interessa:

Há três coisas que, desde os tempos mais antigos, se encontram fundadas e estabelecidas solidamente pelas sociedades gregas e itálicas: a religião doméstica, a família e o direito de propriedade; três coisas mostrando originariamente manifesta relação entre si e que parece terem mesmo andado inseparáveis. A idéia de propriedade privada estava na própria religião. Cada família tinha o seu lar e os seus antepassados. Esses deuses só podiam ser adorados pela família, só à família protegiam; eram propriedade sua.

Algo a se ressaltar dentro das relações familiares da antiguidade seria a relação entre pais e filhos. O filho estava nas mesmas condições que a mulher, ou seja, nada possuía. Nenhuma doação feita pelo filho tinha valor, pela simples razão de não lhe pertencer coisa alguma. O filho nada podia adquirir; os frutos do seu trabalho, os benefícios do seu comércio pertenciam a seu pai. Se algum estranho testasse em seu favor, seria seu pai, e não ele, quem receberia o legado. Por isto se explica o texto do direito romano que proíbe todo o contrato de venda entre pai e filho. Se o pai vendesse ao filho, é como se vendesse a si próprio, porque tudo quanto o filho adquirisse ficava pertencendo unicamente ao pai12.

Estas explanações sobre a família e a empresa em apartado demonstram que as normas que guiaram internamente a dinâmica de cada uma são distintas. Não haveria identidade entre elas, mas necessariamente não se precisa adotar uma oposição drástica neste tema, como foi sob a égide da moral cristã de matriz católica. Lado outro, adotando uma posição de reconciliação, poder-se-ia falar da coexistência das duas instituições a partir da Idade Moderna, principalmente o desejo de uma coexistência harmônica. Fato é que cada uma dessas instituições possibilitam o desenvolvimento do

11 COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fonte, 1998. Pág. 56 12 COULANGES, Fustel de. Op. Cit. Pág. 90

(7)

indivíduo sob diferentes aspectos. Aí tem-se a contribuição do protestantismo ao alterar o paradigma pelo qual se funda o trabalho como forma de ascensão ao divino, e não como castigo decorrente do pecado original.

3. MODELO ÉTICO WEBERIANO

Pode-se dizer que no decorrer da história da civilização diversos modelos éticos foram construídos pelo homem. Nisto adota-se aqui uma postura que a ética é modulada de acordo com os anseios e expectativas da sociedade e não uma verdade absoluta alcançada, ou revelada, pela simples razão humana.

Ao invés de permanecer em uma leitura a partir dos modelos éticos tradicionais do ocidente, principalmente os de matriz religiosa, pretende-se utilizar uma construção mais arrojada em comparação com o passado distante. Mais explicitamente, é plenamente compreensível a tentativa de analisar as relações entre uma ética familiar e uma ética empresarial pelo modelo aplicável à teoria política. Em maior ou menor grau, as relações dentro da família e da empresa são relações de Poder, nisto retoma-se um dos sentidos originais da palavra política.

Max Weber para analisar os modelos éticos aplicados dentro da política destacou duas teorias éticas para a orientação e referência moral: a ética da convicção e a ética da responsabilidade. A primeira, de caráter deontológico, trata de uma ética do dever, pautada por valores e normas previamente estabelecidos, princípios que se exprimem em obrigações ou imperativos aos quais se deve obedecer. Ou em termos kantianos, mesmo que não explícitos na obrar de Weber, a virtude estaria submetida ao respeito pelo imperativo categórico da lei moral. Trata-se do compromisso com a verdade e a objetividade para o agir moral.

Já a ética da responsabilidade, de caráter teleológico, diz respeito à orientação a partir da análise das consequências de uma decisão, análise que levaria em conta o bem que pode ser feito a um maior número de sujeitos, assim como em evitar o maior mal possível. Dessa forma, sua máxima é de que o homem é responsável por aquilo que faz. Refere-se a uma ética contextualizada e situacional, que pondera as várias possibilidades de ação, centrada na análise dos riscos e na eficácia dos resultados.

Entretanto, não há que se confundir esta ética da responsabilidade com uma ética utilitarista, modelo encontrado na modernidade na obra de Jeremy Bentham ou Stuart Mill. O utilitarismo teria como foco o bem estar da coletividade, mesmo que em detrimento do indivíduo, ou mais claramente, o maior bem (felicidade) para o maior

(8)

número de pessoas. Aqui, por se ter um conteúdo variável, seria possível a justificativa de medidas em prejuízo das minorias quando estas atrapalham as maiorias. Estes modelos podem possuir similitudes, mas não identidade. Conforme afirma Weber em sua obra “Ciência e Política: duas vocações” não haveria razão para se justificar atos reprováveis através de um modelo ético:

A nenhuma ética se permite ignorar o seguinte ponto: com a finalidade de alcançar metas ‘boas’, vemo-nos, frequentemente, compelidos a recorrer, de um lado, a meios desonestos, ou, pelo menos perigosos, e compelidos, de outro lado, a contar com a possibilidade e mesmo a eventualidade de conseqüências desagradáveis. Nenhuma ética pode dizer-nos em que momento e em que medida um objetivo moralmente bom justifica os meios e as conseqüências moralmente perigosos. 13

Por fim, cabe destacar que Weber não prescreve tais modelos éticos, mas descreve-os, ou seja, a partir de sua identificação na práxis social Weber revela a existência de tais modelos. Fato este que não implica a preferência de um ou outro, mas a realização da Ética como um todo de acordo com as peculiaridades da relação de poder que está a se tratar, seja ela política, familiar ou econômica.

Neste ponto poderíamos equacionar a seguinte proposição: uma ética empresarial estaria relacionada às reflexões sobre os costumes e normas vigentes nas empresas, ao conjunto de preceitos morais e de responsabilidade social praticados pelas organizações com fins lucrativos. Em uma perspectiva geral, a ética empresarial estabeleceria uma ideia de “contrato social” no qual os membros devem se comportar de maneira harmoniosa, atentando aos interesses dos outros, para o desenvolvimento e eficácia da empresa.

Há muitas formas não éticas de agir nas organizações empresariais, como, de resto, na vida em geral. Nisto os últimos fatos das recorrentes crises capitalistas não permitiriam outra conclusão. Podem-se fazer afirmações que não são verdadeiras, superestimar ou subestimar circunstâncias e situações patrimoniais, reter informações que deveriam ser compartilhadas, sonegar impostos e burlar leis, distorcer fatos em seu interesse, mas todos esses atos implicam afrontas diretas ao bom senso da coletividade, pois o que se percebe é a valorização de interesses pessoais através de uma instituição em detrimento de toda a coletividade, que em maior ou menor grau é origem e fim de toda atividade econômica.

(9)

Mesmo que as empresas que institucionalizem orientações efetivamente partilhadas sobre seus membros, que convencionem comportamentos e valores previamente negociados, por exemplo, através de um Código de Ética, como diversas empresas já têm criado, essa mudança só será eficaz quando cada um dos membros desta instituição, principalmente na pessoa de seus diligentes, tomarem consciência que os atos desta instituição ecoam em todo corpo social.

Uma vez que o sucesso da empresa está estritamente relacionado às pessoas que a integram - mesmo que o capital muitas vezes fale mais alto – e sendo elas que transformam as metas e projetos em realidade, o crescimento e desenvolvimento da empresa só se darão de forma sólida quando respeitar a coletividade que se particulariza na pessoa de cada uma dos intermediários e destinatários de seus produtos. Ou seja, haveria a necessidade de um ethos empresarial que tenha em vista o lado humanitário, e não apenas o lucro. Ações que lutem pela eficiência, mas que também abarquem o compromisso e a responsabilidade.

4. EMPRESA, FAMÍLIA E LITERATURA: O

EXEMPLO DE “OS BUDDENBROOKS”

Dentro da literatura universal Thomas Mann publicou em 1901 uma obra impactante: Os Buddenbrooks – Decadência de uma

Família14, que mais tarde lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura em

1929. A obra conta a história de uma família protestante de comerciantes de cereais em Lübeck, cidade do norte da Alemanha, pertencente a antiga Liga Hanseática. Ao longo de quatro gerações mostra-se a ascensão e queda de seus integrantes.

O primeiro patriarca mostrado na obra é o sênior Johann que inicia e desenvolve a empresa dos Buddenbrooks ciente de suas responsabilidades para com seus ascendentes e descendentes – postura que exige também dos filhos. A segunda geração da família e da empresa fica a encargo do filho Jean que já recebe a empresa consolidada, mas o filho Jean não evita a diminuição ligeira do capital da empresa. Os netos Thomas, Tony, Christian e Clara abalam o patrimônio familiar e o bisneto Hanno determina a extinção da estirpe.

Uma das ações da família foi adentrar a política local – em cargos de cônsul e senador da cidade de Lübeck. Embora prometessem

14 MANN, Thomas. Buddenbrooks: Os Decadência De Uma Família. Trad. Hebert Caro. São Paulo: Nova Fronteira, 2000.

(10)

perante a Lei que não tomariam decisões em proveito pessoal, Jean e Thomas se preocuparam em possuir os cargos para o desenvolvimento dos negócios da família e conseguir benefícios em transações comerciais. Em uma sociedade preparada para as mudanças da modernidade, os valores familiares parecem também condenados a se modificar. Aspirações pessoais, que outrora foram sacrificadas pelo bem maior da empresa, agora ameaçam decompor uma dinastia caracterizada pelo esforço, comprometimento e trabalho árduo.

O neto mais velho, Thomas, fora criado pelo pai conforme era a vida de um mercante, desde cedo aprendeu os ofícios do negócio, acompanhava o pai ao trabalho e lhe fora ensinado os valores morais para o sucesso no mercado: todas as atitudes deveriam se ater às influências que teriam nos negócios, as amizades e conversas deveriam ser de tal modo que não prejudicassem a imagem da empresa, relações exclusivamente com a elite mercantil. Com a morte do pai, Thomas se dispôs a preencher o vazio deixado e seguir com os negócios.

Enquanto isso, seu irmão mais novo, Christian queria distância das responsabilidades, rebelando-se contra tudo que o pai edificou. Aproveita uma vida de ócio e esbanjamento, com companhias duvidosas e une-se a uma mulher do teatro, na época profissão ainda vista com maus olhos pelas famílias tradicionais. A família não aceitava esse relacionamento do filho, pois, além da mulher não possuir posses, não era oriunda de uma família de comerciantes.

Já a irmã Tony sacrifica o verdadeiro amor e aceita o casamento arranjado pela família com um comerciante que tinha boas reputações no meio mercantil e poderia abrir portas e contatos para o comércio dos Buddenbrooks em outras regiões. Sacrifica-se em prol da fortuna e negócios familiares e para manter seus membros unidos e a própria saúde financeira da empresa. Sacrifício esse que repete em toda sua vida. Mais tarde, o varão primogênito Thomas tenta repassar ao filho Hanno tudo o que outrora aprendera com o pai para se ter êxito nos negócios. Entretanto, essa tentativa fracassa, pois seu filho se importava mais com a música do que com os mercados de cereais, as promissórias e os compromissos comerciais.

A história linear do romance é relativamente simples, mas a riqueza dos conflitos psicológicos vivenciados por cada uma das personagens da família- empresa ilustra de forma muito rica o que aconteceria quando há uma inversão das éticas destas instituições. Ao sacrificar os anseios pessoais, ou seja, o agir a ser pautado através de uma possível ética da responsabilidade ao invés de uma ética da

(11)

convicção, ao deturpar a ética da responsabilidade para uma responsabilidade perante a empresa e não perante si mesmo e as relação familiares, toda uma tormenta das relações pessoais e das relações comerciais começam a surgir.

Em os Buddenbrooks o que se tem é a empresa como fim em si mesmo e não o indivíduo; uma completa inversão dos papéis. O que era inicialmente a ascensão da empresa, foi a decadência de uma família e, portanto, de cada indivíduo. A cada ato, um dilema e um sacrifício em prol da empresa. Uma leitura da obra através deste pano de fundo de uma ética familiar e de uma ética empresarial clareará para o leitor as possíveis tensões de cada um dos modelos éticos propostos.

5. ÉTICA FAMILIAR E EMPRESARIAL

NA CONTEMPORANEIDADE

Indo além de uma mera aplicação de uma ética da convicção às relações familiares e uma ética da responsabilidade para as relações empresariais, pode-se pensar em novos modelos que se adequem melhor à complexa teia de relações humanas e comunicativas na contemporaneidade. Seguindo a corrente das reflexões mais recentes poderíamos claramente perceber uma significativa alteração na estrutura das famílias e das empresas nas últimas décadas.

Tais mudanças são por demasiado complexas, não se poderia identificar um fator preponderante, mas apenas o reconhecimento de uma gama de fatores que muitas vezes fogem da compreensão do perscrutador. Nisso podemos citar fatores como desenvolvimentos tecnológicos, acesso a novas fontes de informação, desagregação do modelo patriarcalista, expansão dos direitos humanos, ameaças à humanidade, sejam por guerras, ou pelo futuro incerto do meio ambiente.

Com relação à família na contemporaneidade duas variáveis são de suma importância para a mudança de sua estrutura, crise da estrutura patriarcal a partir da inserção da mulher no mercado de trabalho, esta fruto das demandas feministas a partir da década de 20 em todo o mundo ocidental. Tais fatores desencadearam pouco a pouco alterações na estrutura, ou seja, na distribuição de papeis sociais das famílias.

Hoje com muita razão pode se falar que a ética ao guiar as relações familiares está longe de uma ética deontológica, ou até mesmo, de uma ética radical das convicções. As relações familiares sempre tive-

(12)

- ram um quê de afeto, sentimento presente até mesmo nas coletivida des de primatas15, mas muitas vezes suplantado pelo estigma do

poder.

As relações familiares sempre se encontraram imersas no afeto, mas não basta tal elemento. Há a necessidade da coordenação deste sentimento como a presença da ética como guia das relações humanas, e em específico, as familiares. O que veio a se chamar por alguns como “Ética do Afeto”. Como bem esclarece Maria Berenice Dias16, com a vanguarda que lhe é peculiar no trato das questões das

famílias na contemporaneidade:

Ainda que tenha havido uma sensível mudança na concepção da família, não basta a inserção do afeto como elemento constitutivo dos vínculos familiares. Além do afeto, é impositivo invocar também a ética, que merece ser prestigiada como elemento estruturante da família. Ao confrontar-se com situações em que o afeto é o traço diferenciador das relações interpessoais, não é possível premiar comportamentos que afrontam o dever de lealdade. A omissão em extrair conseqüências jurídicas por determinada situação não corresponder ao vigente modelo de moralidade não pode chancelar enriquecimento injustificado.

Pode-se passar agora à questão mais afeita à proposta inicial do texto. A dinâmica das empresas familiares possuem peculiaridades que na maioria das vezes são olvidadas pelos seus membros, são relações de difícil solução. Atualmente o conceito de empresa familiar é definido como toda organização na qual uma ou poucas famílias concentram o poder de decisão envolvendo o controle da sociedade, com eventual participação na gestão. Segundo estudiosos, uma empresa só se torna “verdadeiramente” familiar quando consegue passar o controle para a segunda geração.

A partir disso, as empresas familiares podem ser divididas em dois tipos básicos: tradicional, na qual a família fundou e administra exercendo o domínio total sobre os negócios; e mista, na qual o capital é aberto, em que a maioria das ações está em poder do mercado, mas a família mantém a influência estratégica e detém em parte o controle. A maioria das empresas familiares de sucesso da

15 PRECHT, Richard David. Quem Sou Eu? E, se Sou, Quantos Sou? Uma aventura na

filosofia. São Paulo: Ediouro, 2009. Pág. 188.

16 DIAS, Maria Berenice. A ética do afeto. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 21, 31/05/2005 [Internet]. Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura &artigo_id=552. Acesso em 03/12/2015.

(13)

contemporaneidade praticam o tipo misto de administração, tais como o Pão de Açúcar, Votorantim, Gerdau, Danone.

De acordo com algumas pesquisas17, os índices de sobrevivência de

empresas familiares são assustadores: aproximadamente apenas 30% dos empreendimentos passam para a segunda geração e destes, somente 5% sobrevivem para a terceira. Os principais motivos que levam a essas empresas sucumbirem ao longo das gerações são: a ausência de um planejamento sucessório, a confusão entre a família e o negócio, o nepotismo e a falta de disposição para discutir assuntos conflituosos. Este último possui um forte impacto, já que na família predomina a emoção e o princípio da igualdade, estes costumam influenciar nas decisões dos negócios, onde deveria prevalecer a razão e a busca pela competitividade. Apesar desses equívocos, empresas familiares possuem vantagens, como a agilidade na tomada de decisões, a maior preocupação com resultados de longo prazo e a grande dedicação ao negócio.

Em superação ao modelo capitalista clássico de estruturação das empresas surgiu nos últimos tempos a compreensão de uma Ética do Desenvolvimento. Esta ética possibilitaria a equalização do crescimento sustentável do capital sem o detrimento do meio ambiente, seja ele o natural ou o social. Em específico para as relações empresariais um novo modelo surgiria: a Responsabilidade Social Empresarial.

Grande divulgador desse novo modelo é o economista indiano, e prêmio Nobel em economia, Amartya Sen18. Para ele uma crise

financeira mundial se torna crise humanitária. Entretanto, ele destaca que na realidade a recessão da economia americana em 2008 trouxe por trás de si a percepção da existência de gravíssimos vazios éticos; por exemplo, os bônus para os altos executivos. Para o Nobel, relembrando as lições de um dos pais do liberalismo:

Uma economia de mercado sem valores éticos pode ser portadora de altíssimos riscos, como havia observado Adam Smith, de forma visionária, ao enfatizar, em seus textos

17 Por todos, vide: OLIVEIRA, D. P. R. Empresa familiar: como fortalecer o empreendimento e otimizar o processo sucessório. São Paulo: Atlas, 1999. Pág. 19-21 apud CUNHA, Débora Paula Massoli Fiquene da. A sucessão na empresa familiar: um estudo de caso na Empresa Centro Elétrico na cidade de São Luís Estado do Maranhão. 93 f. Dissertação (Mestrado em Gestão Empresarial) – Fundação Getúlio Vargas/ Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, 2006.

18 SEN, Amartya; KLIKSBERG, Bernardo. As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

(14)

- fundamentais (Teoria dos sentimentos morais, 1759), ser imprescindível que o mercado esteja baseado em valores éticos como “prudência, humanidade, justiça, generosidade e espírito público”. 19

Ainda seriam identificáveis algumas causas éticas para a crise eco nômica de 200820 a partir dos Estados Unidos da América. Primeira

falha ética: o Estado abandonou sua missão de proteger o interesse

coletivo em áreas estratégicas. Exemplo citado é quanto à omissão da autorregulação, pois o caso Madoff já era noticiado à SEC (Security

and Exchange Comission) desde 1990. Nesta mesma linha, Juan

Somavia, diretor da OIT, quanto a essa desregulação, disse em 2009: “Essa visão supervalorizou o mercado, subvalorizou o papel do Estado e desvalorizou a dignidade do trabalho.” 21

Uma segunda falha ética seria com relação à conduta dos altos executivos financeiros. Exemplo emblemático é o de Richard Fuld, presidente do Lehman Brothers, levou a quebra de uma empresa de 160 anos. Nos últimos anos da empresa ele mesmo recebeu cerca de 500 milhões de dólares como bônus, bem como possuía uma cláusula de rescisão contratual de 65 milhões de dólares. Outro caso é o do presidente da Merryl Lynch, John Tayhn, sabendo da absorção da empresa por outra, adiantou aos altos executivos 4 bilhões de dólares22.

A terceira falha ética seria quanto aos múltiplos vieses das agências de classificação de riscos. Essas agências deram sua chancela para uma quantidade incontável de subprimes e para valores vinculados que agora são descritos como tóxicos. A confiança e boa-fé, base a ser tomada em todas as relações sociais foi abalada pela dolosa atuação destas agências. Essas três causas que parecem ser apenas aplicáveis a uma visão macro que ética empresarial na realidade trás repercussões nas micro relações do poder empresarial.

Na realidade a visão anterior da responsabilidade das empresas era o que Amartya Sen chama de “empresa narcisista”. Era preponderante que a única responsabilidade da empresa privada era gerar lucros para seus proprietários e que só a eles deveria prestar contas (Milton Friedman, 1962)21. Em contrapartida, o que seria

19 SEN, Amartya. Op. Cit. Pág. 355. 20 SEN, Amartya. Op. Cit. Pág. 357. 21 SEN, Amartya. Op. Cit. Pág. 358 22 Loc. Cit.

(15)

desejável para um novo modelo de estrutura empresarial constituiria a assim chamada Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Este novo modelo de ética da responsabilidade possuiria diversas características, dentre as quais poderia se citar algumas.

Em primeiro lugar, a existência de políticas de pessoal que respeitem os direitos dos que fazem parte da empresa. Ou seja, em termos mais claros, um assim esperado equilíbrio entre família-empresa, no qual Amartya Sen vislumbra que: “A empresa não deve gerar incompatibilidades com as tarefas básicas necessárias para que se leve uma vida familiar plena. Ao contrário, deve reforça-la”22.

Também seria necessária a transparência e boa governança corporativa, pois as informações devem ser públicas e contínuas. Aliado a isso, deveria ocorrer um jogo limpo com o consumidor, a qual se consubstanciaria em boa qualidade, preços razoáveis e produtos saudáveis. Exemplo seria certo antagonismo entre as empresas farmacêuticas e alguns produtos chineses notadamente tóxicos e prejudiciais.

Por outro lado, imperiosa seria a adoção de políticas ativas de proteção do meio ambiente; tendência, caminho e desafio sem volta para as próximas gerações. Isso seria nada mais nada menos que a integração aos grandes temas que produzem o bem-estar comum e não o privilégio para exíguas camadas da sociedade. Por fim, que as empresas não pratiquem um código de ética duplo, ou seja, que haja coerência entre o discurso de RSE e a prática. O pior é que muitas vezes há práticas da RSE na matriz, mas não há nas filiais em outros países.

Enfim, seria necessária uma tripla prestação de contas por parte das empresas: econômica – social – ambiental. Exemplo seguido com rigor em países como Suécia e Dinamarca. Entretanto, este não é um caminho fácil, não se muda a mentalidade dos dirigentes do dia para a noite, ou somente com argumentos racionais. Na realidade faz-se necessária uma mudança na educação e na formação dos CEOs até os pequenos administradores. Como bem atenta Amartya Sen, um dos caminhos para a RSE é na mente dos novos MBAs, principalmente contra os fundamentalismos de mercado que tomaram conta da educação empresarial.

22 SEN, Amartya. Op. Cit. Pág. 363

(16)

-

CONCLUSÃO

Como bem retrata Os Buddenbrooks, a família de comerciantes está subordinada a uma “ética” imposta pelos seus negócios, todas as ações individuais devem estar calcadas no bem maior da empresa. Nenhum de seus membros é livre o suficiente para tomar suas próprias decisões, uma vez que as conseqüências podem influenciar diretamente os negócios. Os casamentos e as diversas relações sociais são feitas mediante o proveito que poderão levar aos mercados, e os prejuízos que poderão deixar de acarretar. Caso um dos membros tome escolhas apenas em proveito próprio, pode provocar a desestru turação tanto familiar como empresarial.

Diante disso, a empresa familiar coagiria os membros familiares a terem certas posturas e a seguirem determinadas condutas éticas (morais), no qual a moral embutida é a de que os fins justificariam os meios, pois vale qualquer coisa desde que a imagem da família seja impecável e os negócios prosperem. A imagem da família é algo fundamental, uma vez que os negociantes consideram que as características de uma família são refletidas em sua empresa, ou seja, uma família bem estruturada e confiável é sinal de que seu empreendimento também o será.

Nesse sentido, os membros seriam orientados por uma ética da responsabilidade, como definiu Weber, na qual o fato se relaciona a causa final, ou melhor, as ações são centradas nas suas consequências. Como bem destaca Weber23, “o partidário da ética da

responsabilidade contará com as fraquezas comuns do homem e entenderá que não pode lançar a ombros alheios as conseqüências previsíveis de sua própria ação”. Dessa forma, o insucesso da empresa estaria diretamente ligado às decisões tomadas pelo líder. Logo, a decadência dos Buddenbrooks foi resultante de sua própria administração.

No entanto, observa-se que para o sucesso dos empreendimentos contemporâneos não basta apenas centrar as decisões pautadas nas consequências previsíveis, há também a importância da responsabilidade social. Num cenário globalizado, percebe-se que existem muitas cobranças e exigências por parte da sociedade, tanto no trato com os funcionários, clientes, fornecedores, serviços prestados, quanto para a manutenção e preservação do meio ambiente.

(17)

Por fim, uma perspectiva comum aos negócios contemporâneos é que a administração de uma empresa familiar envolve uma questão fundamental que pode ser a razão do sucesso ou fracasso, a saber: como administrar os relacionamentos interpessoais. E essa administração só poderá ser satisfatória quando pautada em uma orientação ética que englobe tanto os aspectos familiares quanto os empresariais.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Política. Trad. Mário da Gama Kury. Brasília: Editora UnB, 1985. BOURA, Ana Isabel Gouveia. Hegemonia do Masculino e Triunfo do Feminino no romance Buddenbrooks De Thomas Mann. Revista Filosófica de Coimbra — n. 34 (2008). pp. 535-550.

BULFINCH, Thomas. Livro de Ouro da Mitologia. Trad. de David Jardim Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.

COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fonte, 1998. CUNHA, Débora Paula Massoli Fiquene da. A sucessão na empresa familiar: um estudo de caso na Empresa Centro Elétrico na cidade de São Luís Estado do Maranhão. 93 f. Dissertação (Mestrado em Gestão Empresarial) – Fundação Getúlio Vargas/ Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, 2006.

DIAS, Maria Berenice. A ética do afeto. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 21, 31/05/2005 [Internet]. Disponível em:

http://www.ambito-juridico.com.br/site/ index.php?n_link=revista_artigos_leitura &artigo_id=552. Acesso em 03/10/2016.

ESTOL, Kátia Maria Felipe; FERREIRA, Maria Cristina. O processo sucessório e a cultura organizacional em uma empresa familiar brasileira. Revista

Administração e Contemporaneidade, Curitiba, v. 10, n. 4, Dez. 2006.

Disponível em http://

www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-65552006000400005&ln g=en&nrm=iso

MANN, Thomas. Buddenbrooks: Os Decadência De Uma Família. Trad. Hebert Caro. São Paulo: Nova Fronteira, 2000.

NOBRE, Renarde Freire. Weber e a influência do protestantismo na

configuração da modernidade ocidental. Cronos, Natal – RN, v.7, n.2, 2006.

Disponível em http://www.cchla.ufrn.br/cronos/pdf/7.2/d4.pdf PLATÃO. As Leis. Trad. Edson Bini. Bauru: Edipro, 1999.

PONCHIROLLI, Osmar; LIMA, José Edmilson de Souza. Ética Empresarial. Coleção Gestão Empresarial. Disponível em www.fae.edu/publicacoes/pdf/ cap_humano/5.pdf

PRECHT, Richard David. Quem Sou Eu? E, se Sou, Quantos Sou?: Uma aventura na filosofia. São Paulo: Ediouro, 2009.

(18)

- ROSENVALD, Nelson; DE FARIAS, Cristiano Chaves. Direito das Famílias. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016.

WEBER, Max. A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo. Editora Martin Claret, São Paulo, 2003.

. Ciência e Política. Editora Martin Claret, São Paulo, 2001. recebido em: 22.09.16 aprovado para

Referências

Documentos relacionados

O número de desalentados no 4° trimestre de 2020, pessoas que desistiram de procurar emprego por não acreditarem que vão encontrar uma vaga, alcançou 5,8 milhões

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

segunda guerra, que ficou marcada pela exigência de um posicionamento político e social diante de dois contextos: a permanência de regimes totalitários, no mundo, e o

Após a colheita, normalmente é necessário aguar- dar alguns dias, cerca de 10 a 15 dias dependendo da cultivar e das condições meteorológicas, para que a pele dos tubérculos continue

o Houve ainda a pontuação de algumas(ns) profissionais sobre a dificuldade na contratação de funcionários(as) como um dos entraves para a constituição de um serviço de

b) Execução dos serviços em período a ser combinado com equipe técnica. c) Orientação para alocação do equipamento no local de instalação. d) Serviço de ligação das

◯ b) Outras empresas, que os utilizam em seus próprios processos produtivos SOC 41.1 Se SIM para a PERGUNTA 41 alternativa (a) , em relação aos processos judiciais ou

Os interessados em adquirir quaisquer dos animais inscritos nos páreos de claiming deverão comparecer à sala da Diretoria Geral de Turfe, localizada no 4º andar da Arquibancada