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Família, Riqueza e Organização da Estrutura Doméstica: Vale do Paraopeba/MG, 1850 a 1914

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Família, Riqueza e Organização da Estrutura Doméstica: Vale

do Paraopeba/MG, 1850 a 1914

*

Cláudia Eliane P. Marques Martinez

Palavras-chave: família, demografia histórica, riqueza, escravidão

Resumo

O objetivo desta comunicação consiste em avaliar a riqueza e as formas de organização da estrutura doméstica da família mineira, entre os anos de 1850 a 1914. As análises têm como suporte empírico um Banco de Dados composto por 410 inventários post-mortem (160 documentos referentes à fase pré-abolição e 250 da fase pós-1888). Utilizam-se também informações contidas no Recenseamento da População do Brasil de 1872 e nos Anuários Estatísticos do Século XX. Parte-se do pressuposto que a economia desse antigo centro minerador e agropecuário de grande dinamismo e que teve sua história marcada por expressiva importação de africanos, sofreu profundas transformações materiais e demográficas após o fim da escravidão. Por meio da análise das fontes - cartorária e censitária - é possível perceber, por exemplo, como as mudanças na esfera material e populacional afetaram diretamente a organização da estrutura doméstica da família mineira. A abordagem estabelecida possibilita, ainda, investigar aspectos relacionados à problemática do trabalho, da renda, do patrimônio, bem como a inclusão/exclusão de alguns setores da população inventariada. Assim, este estudo permite, portanto, discutir como a família adaptou-se às novas formas de organização doméstica, impostas pelos novos valores e formas de riqueza decorrentes do final da escravidão.

*

Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu – MG – Brasil, de 20-24 de setembro de 2004.

Doutoranda em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Esta pesquisa conta com o apoio financeiro da FAPESP- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

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Família, Riqueza e Organização da Estrutura Doméstica: Vale

do Paraopeba/MG, 1850 a 1914

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Cláudia Eliane P. Marques Martinez♣♣

Introdução

A História da Família no Brasil constitui, há mais de 30 anos, sólida linha de investigação, na qual os pesquisadores buscam compreender mudanças e permanências nos padrões de conduta, na estrutura dos domicílios e diversos outros comportamentos e dinâmicas dos núcleos domésticos. Dos primeiros estudos, definidos nas décadas de 1920/40, outros métodos, fontes e abordagens estão sendo, freqüentemente, pensados com a finalidade de se (re) conhecer as famílias brasileiras nos distintos espaços e temporalidades.

Segundo Samara, a retomada da família como objeto específico de análise deu-se, no entanto, nos anos setenta. “Com objetivos e preocupações definidas, o conjunto da produção buscou questões estruturais de fundamental importância nesse momento. (...) Os resultados que se apresentaram, revelaram, por sua vez, ser impossível conceber uma imagem única de família aplicável ao longo do tempo para os vários segmentos sociais” (SAMARA, 2003, p. 20).

A autora salienta que as revisões teóricas estabelecidas nas décadas de 1970/80 consubstanciaram a base para os estudos desenvolvidos posteriormente.2 Os trabalhos que se originaram desse período tiveram como preocupação central analisar o papel dos sexos, do casamento, do concubinato, da sexualidade, dos segmentos expropriados, do processo de transmissão das fortunas e outros elementos explicativos da sociedade, na qual a família estava inserida.

Dentro desse contexto que marcou o terceiro quartel do século XX, cabe destacar a importância da demografia histórica no avanço dos estudos sobre a família. Os métodos demográficos permitiram identificar, entre muitas questões, uma diversificada tipologia de análise. Tal tipologia tinha como principal objetivo desmistificar a utopia da família extensa e, exclusivamente, patriarcal que prevalecia até então na historiografia brasileira.3

*

Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu – MG – Brasil, de 20-24 de setembro de 2004.

Doutoranda em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Esta pesquisa conta com o apoio financeiro da FAPESP- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

2 Dentre aqueles estudos desenvolvidos nas décadas de 1970 e 1980 devem ser destacados os seguintes autores: SAMARA, Eni de Mesquita. Os agregados na região de Itu – 1780/1830. São Paulo: Museu Paulista, 1977. COSTA, Iraci Del Nero. Vila Rica: população (1719-1826). São Paulo: IPE/USP, 1979. ALMEIDA, Ângela M endes de. Notas sobre a família no Brasil, in: Pensando a Família no Brasil. Rio de Janeiro: Espaço e tempo/Ed. da UFRJ. 1987. No final dos anos 80 foi publicado a Revista Brasileira de História - Grupos de Convívio. A apresentação de SAMARA, Eni de Mesquita, A história da Família no Brasil, traz um balanço de boa parte da produção realizada até aquela data. Ver Revista Brasileira de História, São Paulo, ANPUH/Marco Zero, Vol. 9, n. 17, setembro de 1988/fevereiro de 1989.

3 As influências do grupo de Cambridge e do demógrafo francês Louis Henry inspiraram e forneceram os métodos necessários ao aprofundamento do tema entre os historiadores brasileiros. Da extensa bibliografia a respeito da história da família e dos diversos estudos de cunho demográfico surgidos, a partir de então, deve-se destacar especialmente a contribuição de MARCÍLIO, Maria Luzia. População e Sociedade. Petrópolis: Vozes,

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Dos estudos provenientes da, então, revigorada História da Família, surgiram outros temas de pesquisa. Dentre os mais relevantes destacam-se aqueles dedicados à história da mulher e da sexualidade, a história da criança, os estudos de gênero, ou ainda, trabalhos que sustentados pela demografia se voltaram para setores antes desconsiderados por alegada falta de documentação, como a família escravizada.4

Partindo dos pressupostos já estabelecidos pela História da Família é que se encontram as investigações dedicadas à organização da estrutura doméstica dos núcleos familiares (SAMARA, 1998). Desta forma, a fortuna, a transmissão de heranças simbólicas e patrimoniais, os indicativos de riqueza, a concentração de renda, o processo de inclusão e/ou exclusão social dos segmentos da sociedade são alguns dos pontos que assinalam a tônica dos estudos atuais; estes, no entanto, apresentam-se revigorados com propostas teóricas e metodológicas inovadoras. 5

As análises desenvolvidas neste artigo encontram-se, portanto, em consonância com os problemas e hipóteses já consagrados pelos estudos da família no Brasil. As obras referidas, suas respectivas abordagens e métodos foram incorporados às fontes primárias aqui trabalhadas, sobretudo o censo de 1872 e os inventários post-mortem de 1850 a 19146.

É preciso ressaltar que este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla e que tem como objetivo principal entender as transformações materiais e demográficas dos núcleos domésticos na transição do sistema escravista7. Tendo como diretriz o referido tema busca-se aqui apresentar e discutir os métodos de pesquisa destinados às fontes cartorárias e censitárias coletadas, bem como os primeiros resultados empíricos alcançados.

1984. Ver também, SAMARA, Eni de Mesquita. As mulheres, o poder e a família - São Paulo, século XIX. São Paulo: Marco Zero e Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, 1989.

4 Um trabalho pioneiro sobre criança e mulher foi desenvolvido por MOURA, Esmeralda Blanco B. de. Mulheres e menores no trabalho industrial. Petrópolis: Vozes, 1982. Especialmente sobre este último tema ver DIAS, Maria Odila Leite da Silva, Quotidiano e Poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984; Sobre a família escrava, reunindo pesquisas de mais de duas décadas, ver SLENES, Robert. Na Senzala uma Flor. Esperanças e Recordações na Formação da Família Escrava. Brasil, Sudeste, Século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

5 A partir do final do Século XX, observa-se o aparecimento de uma série de trabalhos enfocando a riqueza, a fortuna, a pobreza e a organização da estrutura doméstica e material da família. Ver principalmente: OLIVEIRA, Lélio Luiz de. As transformações da riqueza em Franca no século XIX. Dissertação de Mestrado, FHDSS/UNESP, 1995. ALVES, Maurício Martins. Caminhos da Pobreza: a manutenção da diferença em Taubaté (1680-1729). Dissertação de Mestrado. IFCS/UFRJ, 1995. AMILCO, Rita de Cássia da Silva. Fortunas em Movimento: Um estudo sobre as transformações na Riqueza Pessoal em Juiz de Fora: 1870-1914. Dissertação de Mestrado. IE/UNICAMP, 2001. OLIVEIRA, A. Op. Cit. 2003. ARAÚJO, Op. Cit. 2003. RANGEL, Armênio de Souza. Escravismo e Riqueza: formação da economia cafeeira no município de Taubaté (1765-1835). (Tese de doutorado em Economia). FEA/USP, 1990. MARCONDES, A arte de acumular na Economia Cafeeira. Vale do Paraíba, Século XIX. Lorena, SP: Editora Stiliano, 1998. CARVALHO, Vânia Carneiro. Gênero e Artefato. O sistema doméstico na perspectiva da cultura material, São Paulo, 1870/1920. Departamento de História da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas/USP, 2001. (tese do doutoramento).FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento. Fortuna e Família no Cotidiano Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. SAMARA, Eni de Mesquita. Família, Riqueza e Poder na São Paulo colonial. In: Família, Mulheres e Povoamento: São Paulo, Século XVII. Bauru/São Paulo: EDUSC, 2003. BACELLAR. Carlos de Almeida Prado. Família e Sociedade em uma economia de abastecimento interno (Sorocaba, Séculos XVIII e XIX). Tese de Doutoramento. São Paulo: FFLCH/USP, 1995.

6 Ver em nota anterior o rol de autores e obras relacionados neste artigo.

7 A pesquisa desenvolvida no Departamento de História da Universidade de São Paulo tem como tema principal o estudo da família, sua riqueza/patrimônio, bem como a organização da estrutura doméstica e material na transição do sistema escravista. O espaço geográfico selecionado foi o Vale do Paraopeba/MG, região que esteve sensivelmente ligado à escravidão até as véspera da Abolição.

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É também de grande interesse problematizar as questões até então formuladas; dentre as mais importantes destaca-se a possível dispersão da riqueza familiar no Vale do Paraopeba/MG após o fim da escravidão. É provável que as mudanças oriundas do trabalho cativo tenham modificado a organização da família, a estrutura material dos núcleos domésticos compondo, desta forma, novos e diferentes arranjos demográficos e econômicos8.

Das duas partes que compõem este artigo a primeira busca identificar por meio das fontes censitárias, em especial o Censo de 1872, o perfil ocupacional da população na qual a família estava vinculada. A visão vertical dos censos populacionais fornece um retrato da realidade econômica permitindo, também, entender aspectos da estrutura material encontrados, por exemplo, nos inventários post-mortem (TUPY, 2004)9. Para ilustrar a importância de se cotejar informações extraídas de diferentes documentos, basta mencionar que a forte presença da fiação e tecelagem, encontrada no Censo de 1872, justifica as inúmeras rodas de fiar e teares localizados nas fontes cartorárias do mesmo período.

Por fim, encontra-se na segunda parte um estudo destinado à organização doméstica e material da família. O Banco de Dados composto por 410 inventários post-mortem (160 documentos para a fase pré-abolição e 250 para a fase pós-1888) tem aqui destaque especial. Dentre as inúmeras categorias de análise extraídas desses documentos privilegia-se entender, principalmente, nuanças da estrutura doméstica e material, aspectos do sistema de trabalho, da posição social e econômica, do espaço geográfico, da diversidade regional e do habitat onde viviam e/ou conviviam as diferentes unidades familiares.

1- As profissões no Censo de 1872: uma análise preliminar

A análise das profissões aqui desenvolvidas constitui apenas esboço metodológico de uma proposta mais ampla10. Proposta essa que visa extrair das fontes censitárias e estatísticas informações que possam complementar àquelas coletadas e organizadas no Banco de Dados dos inventários post-mortem11.

Dentre as várias possibilidades de análise oferecidas pelo Censo de 1872 privilegia-se, neste momento, discutir a variável profissão. Os dados encontrados para o Vale do Paraopeba são comparados com aqueles calculados para Ouro Preto e a Província de Minas Gerais respectivamente. Com se trata de uma amostra apenas oito localidades do Vale são aqui contempladas, em especial aquelas para as quais existem dados cartorários coletados até o momento 12.

Antes de apresentar os resultados alcançados com a análise censitária é preciso lembrar os problemas perseguidos neste artigo; dentre os principais destacam-se as mudanças ocorridas na estrutura material e demográfica da família entre 1850 a 1914. Uma série de outras ramificações pode ser destacada da investigação pretendida tais como: a problemática

8

Tal hipótese vale tanto para o referido Vale do Paraopeba quanto para outras partes de Minas Gerais e do Brasil, onde a escravidão se fez presente atendendo, principalmente, o mercado interno.

9

Para uma visão mais completa das múltiplas possibilidades de análise que podem ser extraídas dos censos demográficos, bem como as várias intencionalidades que existem por traz dos números e estatísticas elaboradas ver o trabalho citado.

10

As tabelas, contidas no Censo de 1872, foram gentilmente cedidas pelo Prof. Dr. Tarcísio Rodrigues Botelho. 11

No item seguinte pode-se obter informações mais detalhadas do referido Banco de Dados confeccionado a partir dos inventários post-mortem . Para a elaboração deste artigo utiliza-se somente dados do Censo de 1872. Com se trata de uma pesquisa em andamento será incorporado futuramente informações de outros Censos demográficos, tais como aqueles efetuados em 1890 e 1900.

12

Da vasta região que engloba o Vale do Paraopeba privilegiou-se aqui oito paróquias que possuem, concomitantemente, dados cartorários e censitários já coletados até o momento, a saber: Bonfim, Piedade dos Gerais, Rio do Peixe, Dom Silvério, Itatiaiuçu, Itaúna, Mateus Leme e São Gonçalo da Ponte.

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do trabalho, da renda, do patrimônio e a inclusão/exclusão de alguns setores da população inventariada.

Embora este artigo não busque desenvolver integralmente todas estas questões, é de grande interesse, no entanto, problematizar os métodos de pesquisa e os resultados encontrados até então. Neste sentido, é que se insere a pesquisa efetuada com as ocupações/profissões descritas no Censo de 1872, pois elas consubstanciam o panorama socioeconômico das localidades, no qual a família oitocentista estava localizada.

Comparando os resultados encontrados para o Vale do Paraopeba/Ouro Preto/Província, percebe-se o peso de determinados setores, como por exemplo, as ditas

Profissões Agrícolas: 25% para a Capital, 37% para a Província e 33% para o Vale (Ver tabela 1). Estes resultados, no entanto, já eram esperados haja visto o perfil agrário da economia mineira no limiar do século XIX.

Se por um lado o destaque da agricultura era esperado, por outro os dados encontrados no setor Profissões manuais e mecânicas revelou uma realidade singular. Enquanto a Província e a Capital detinham 20% do total de informações das referidas profissões manuais e mecânicas, o Vale do Paraopeba alcançava quase 32%, sendo que as costureiras e “operárias em tecido” detinham deste percentual 29,3% (Ver tabela 1)13. Essas informações colocam em evidência não só a preponderância das mulheres na composição da força de trabalho, mas também caracterizam o perfil ocupacional da população mineira um ano após a Lei do Ventre Livre (1871), sinal evidente do fim do sistema escravista14.

Deve-se destacar aqui os problemas inerentes ao Censo de 1872, tais como as imperfeições das tabelas e a própria concepção de alguns termos, como por exemplo o de profissão trabalhada neste artigo. No entanto, tais problemas não devem inviabilizar a manipulação dos dados, desde que esta seja realizada criticamente (BOTELHO, 1998). Para atenuar as eventuais imperfeições da referida fonte censitária busca-se aqui associar os resultados encontrados com outras fontes primárias tais como os inventários e os Anuários Estatísticos do Século XX15.

13

Em função do espaço físico destinado ao artigo não foi possível incluir as diversas tabelas efetuadas para o Vale do Paraopeba que traziam entre outras informações a divisão das ocupações por sexo e condição. No entanto, pode-se afirmar que a participação das mulheres livres e escravas no setor Profissões manuais e mecânicas foi estatisticamente preponderante.

14

A importância do trabalho feminino na economia foi até pouco tempo subestimada pela historiografia brasileira. Sobre a real participação do setor feminino nas diversas atividades profissionais ver a tese de doutorado de TUPY, Op. Cit. 2004.

15

Os Anuários Estatísticos do Século XX foram recentemente publicados em CD-ROM. As informações contidas no referido CD foram gentilmente cedidas pela Profa. Dra. Ismênia S. Silveira Tupy.

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Tabela 1:

Profissões, Província de Minas Gerais, Ouro Preto e Vale do Paraopeba em 1872

Profissões Província Ouro Preto Vale do Paraopeba (*)

N % N % N %

Clero Religiosos Seculares 570 0,0% 3 0,0% 10 0,0%

Regulares Homens 9 0,0% - 0,0% 0 0,0%

Mulheres 0 0,0% - 0,0% 0 0,0%

Sub Total 579 0,0% 3 0,0% 10 0,0%

Profissões Liberais Juristas Juízes 77 0,0% - 0,0% 2 0,0%

Advogados 312 0,0% 11 0,2% 8 0,0% Notários e Escrivães 396 0,0% 2 0,0% 8 0,0% Procuradores 189 0,0% - 0,0% 5 0,0% Oficiais de Justiça 478 0,0% 1 0,0% 2 0,0% Médicos 195 0,0% - 0,0% 3 0,0% Cirurgiões 29 0,0% 3 0,0% 0 0,0% Farmacêuticos 341 0,0% 10 0,1% 5 0,0% Parteiros 351 0,0% 2 0,0% 2 0,0%

Professores e homens de letras 1434 0,1% 20 0,3% 32 0,1%

Empregados públicos 583 0,0% 23 0,3% 4 0,0% Artistas 925 0,1% 6 0,1% 13 0,0% Sub Total 5310 0,4% 78 1,2% 84 0,3% Militares 1895 0,1% 960 14,3% 1 0,0% Marítimos 158 0,0% - 0,0% 0 0,0% Pescadores 107 0,0% - 0,0% 9 0,0% Capitalistas e Proprietários 6994 0,5% 92 1,4% 130 0,4% Sub Total 9154 0,7% 1.052 15,6% 140 0,5%

Profissões Industriais e Manufatureiros 516 0,0% - 0,0% 10 0,0% Comerciais Comerciantes (*) 14974 1,1% 93 1,4% 282 0,9%

Sub Total 15490 1,2% 93 1,4% 292 1,0%

Profissões Costureiras 158982 12,1% 659 9,8% 4095 13,8% Manuais Operários Canteiros, Mineiros (*) 7593 0,6% - 0,0% 0 0,0%

Ou em Metais 7854 0,6% 42 0,6% 128 0,4% Mecânicas em Madeiras 10730 0,8% 11 0,2% 317 1,1% em Tecidos 70457 5,4% 612 9,1% 4600 15,5% de Edificações 2955 0,2% 3 0,0% 52 0,2% em Couros e Peles 1534 0,1% - 0,0% 36 0,1% em Tinturaria 9 0,0% - 0,0% 0 0,0% de Vestuários 3362 0,3% 11 0,2% 86 0,3% de Chapéus 180 0,0% - 0,0% 3 0,0% de Calçado 5119 0,4% 19 0,3% 113 0,4% Sub Total 268775 20,4% 1.357 20,2% 9430 31,7%

Profissões Agrícolas Lavradores 485094 36,9% 1.717 25,5% 9158 30,8%

Criadores 2254 0,2% - 0,0% 734 2,5%

Sub Total 487348 37,0% 1.717 25,5% 9892 33,3%

Pessoas Assalariadas Criados e Jornaleiros 198422 15,1% 648 9,6% 3250 10,9%

Serviço Doméstico 330434 25,1% 1.781 26,5% 6624 22,3%

Total Geral 1.315.512 100,0% 6.729 100,0% 29.720 100,0%

Fonte: Recenseamento da População do Império do Brasil a que se publicou em 1 de agosto de 1872. (*) As Paróquias do Vale do Paraopeba contempladas são:

Bonfim, Piedade dos Gerais, Rio do Peixe, Dom Silvério, Itatiaiuçu, Itaúna, Mateus Leme, São Gonçalo da Ponte.

Dentro desse contexto as informações encontradas no Censo de 1872 reforçam a tese de que o Vale esteve, desde sua origem, associado economicamente às atividades de abastecimento interno. A produção de tecidos parece ter sido um de seus principais produtos, como lembrou alguns viajantes estrangeiros quando por lá passaram. Em 1877 ao visitar a região do Rio Paraopeba, José Joaquim da Silva, destacou que “os fazendeiros tratam de criação e de lavoura e esta consta essencialmente de cana, gêneros alimentícios e também de

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algodão, de que fazem excelentes tecidos. A maior parte dos gêneros de sua lavoura é exportada para o comércio da capital da Província” (SILVA, 1997, P. 138).

A pesquisa desenvolvida no Mestrado encontrou um perfil ocupacional semelhante para a década de 1830 (MARQUES, 2000)16. Outras fontes analisadas aqui, como os inventários por exemplo, evidenciam um expressivo número de rodas e teares na região do Vale, corroborando como já mencionado anteriormente, com os resultados encontrados no Censo de 1872. Uma vez identificado aqui e em outros trabalhos o dinamismo do Vale do Paraopeba, cabe então discutir o problema central perseguido neste artigo:

as transformações

materiais e demográficas dos núcleos domésticos na transição do sistema escravista

A análise dos Anuários Estatísticos do Século XX revela, por outro lado, informações que permitem problematizar o crescimento médio anual da população mineira, entre os anos 1872 a 1912. E é exatamente neste período que acontecem significativas mudanças na esfera política e socioeconômica tais como: a Lei do Ventre Livre (1871), a Lei dos Sexagenários (1885), a Abolição da Escravidão (1888), a Proclamação da República (1889) e outras mais.

Os dados apresentados na tabela abaixo apontam que no período pós-abolição (1890 a 1900), Minas Gerais obtém o menor índice de crescimento populacional (Ver tabela 2). A taxa apontada pela população mineira, em momento imediatamente após a extinção da escravidão no Brasil, sugere pensar em mudanças nos padrões demográficos. O decréscimo numérico, destacado principalmente para o intervalo 1890/1900 pode sinalizar, entre outras questões, uma possível migração da população mineira. A queda da renda, do patrimônio e da riqueza das famílias, assunto desenvolvido no próximo tópico deste artigo, podem ter contribuído para dispersão de alguns segmentos da população, talvez aqueles menos favorecidos.

No entanto, tal hipótese deverá ser analisada com mais propriedade no desenrolar da pesquisa, o que não impede problematizar os dados encontrados até então. Considerando a veracidade dessa questão, ou seja, a migração de alguns setores da população mineira em busca de novas frentes de trabalho e de sobrevivência, cabe então entender o contexto destas mudanças demográficas e materiais e se elas aplicam-se à realidade vivida pelas famílias do Vale do Paraopeba.

Tabela 2:

Crescimento médio anual da população do Brasil: (1872-1890); (1890-1900); (1900-1910) e (1910-1912)

CRESCIMENTO MÉDIO ANUAL ESTADO/ BRASIL 1872 a 1890 1890 a 1900 1900 a 1910 1910 a 1912 Minas Gerais 0,0233 0,0122 0,0223 0,0165 Brasil 0,0196 0,0191 0,0306 0,0254

Fonte: Anuário estatístico do Brasil 1908 - 1912. Rio de Janeiro: Diretoria Geral de Estatística, v. 1-3, 1916-1927.

Os dados encontrados simultaneamente no Censo de 1872 e nos Anuários Estatísticos do século XX, representam apenas uma pequena amostra do que é possível extrair das

16

Todas as evidências encontradas na Dissertação de Mestrado de MARQUES, Op. Cit, 2000, apontam na mesma direção. O Município de Bonfim, bem como toda a região do Rio Paraopeba, estiveram desde sua origem, no século XVIII, ligados principalmente à atividade de abastecimento interno, tendo a produção de tecidos grande destaque no mercado inter e intra-regional.

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referidas fontes. Por outro lado, as análises aferidas sinalizam que a transição do trabalho escravo para o livre deve ser entendida dentro de um viés mais amplo de questões e problemas tais como: o surgimento de novas formas de organização doméstica, distintos padrões de riqueza, bem como a inclusão e/ou exclusão de alguns setores da sociedade na qual a família mineira estava inserida. É possível que o estudo dos inventários post-mortem, exposto a seguir, possibilite um aprofundamento dessas e de outras questões apontadas nas fontes censitárias e estatísticas preliminarmente tratadas neste tópico.

2- Possibilidades e métodos de pesquisa destinada às fontes cartorárias

Do clássico, Vida e Morte do Bandeirante (1929), de Alcântara Machado, aos estudos atuais, os inventários post-mortem têm sido considerados fontes imprescindíveis.17 Revelam fragmentos da história da família, do cotidiano e da vida material. Segundo Marina Maluf informam sobre a configuração e diferenciação histórica da riqueza familiar (MALUF, 1995). Desvendam o patrimônio dos segmentos sociais, as mudanças estruturais pelas quais passou o país, como por exemplo, a extinção da escravatura e as transformações econômicas oriundas deste fato.

Dentro do contexto internacional observam-se também estudos voltados para a família e sua(s) estrutura(s) doméstica(s). A recente publicação da coletânea “Historia de La Familia Europea” constitui exemplo desse revigoramento teórico dos trabalhos. Dos dois volumes que compõem a coleção, organizada por David Kertzer e Marzio Barbagli, destaca-se aquele destinado à vida familiar no mundo contemporâneo, que vai da Revolução Francesa a 1913.

Dos dez ensaios que formam o segundo volume o artigo, Las condicionaes materiales de la vida familiar, de Martine Segalen, demonstra em detalhes a abordagem metodológica pretendida com os inventários post-mortem (SEGALEN, 2003). A referida autora enumera uma série de elementos contidos nas condições materiais que permite entender nuanças culturais e econômicas da sociedade em questão. Seguindo as orientações de Frédéric Le Play18, a autora contempla alguns dos vários elementos da estrutura material da família que podem ser identificados e analisados como categorias específicas, tais como: o processo técnico/industrial, a posição social e econômica, os estudos de gênero e outros mais desenvolvidos e adaptados às fontes cartorárias disponíveis aqui.

Tendo como base o estudo de Segalen, elabor ou-se, a partir dos inventários, algumas categorias de análise e por meio delas pôde-se perceber que o fim do sistema escravista

17 Da vasta bibliografia que utiliza os inventários como fonte principal ver: MACHADO. Alcântara. Vida e Morte do Bandeirante. São Paulo: Livraria Martins, 1953. (2a ed.); MELLO, Zélia Maria Cardoso de. Metamorfose da riqueza, São Paulo 1845-1895. São Paulo: HUCITEC, 1985; MATTOSO, Kátia M. de Queiróz. Bahia, Século XIX – Uma Província no Império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992; MALUF, Op. Cit. 1995. FRAGOSO, João Luís Ribeiro. Homens de grossa aventura: acumulação e riqueza na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992. MENESES, José Newton Coelho de. O Continente Rústico. Abastecimento Alimentar nas Minas Gerais Setecentistas. Diamantina, Minas Gerais: Maria Fumaça, 2000. MARCONDES, Op. cit. 1998.

18 O método de Frédéric Le Play tinha como objetivo principal analisar os diversos tipos de família para encontrar o modelo ideal de família e que deveria, portanto, ser seguida exemplarmente pela camada operária do século XIX. O método era, evidentemente, imbuído de pretensões ideológicas, mas permitiu uma série de trabalhos posteriores nos quais suas investigações eram contestadas, adaptadas ou reinterpretadas. Basicamente o guia elaborado pelo autor consistia em observar diretamente as condições materiais da família incluindo a moradia, o mobiliário, os alimentos, as roupas de vestir, enfim, um programa no qual o “orçamento da família” era minuciosamente estudado. Ver SEGALEN, Martine. Las condicionaes materiales de la vida familiar. In: KERTZER, David I. & BARBAGLI, Marzio. (copiladores). Historia de La família Europea. La vida familiar desde la Revolución Francesa hata la Primeira Guerra Mundial. (v.2). Buenos Aires/México: Ediciones Paidó Ibérica, S. A. 2003. (Publicado originalmente em inglês, em 2002, por Yale University Press, New Haven y Londres).

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alterou a estrutura material e a riqueza da família, bem como a organização doméstica no Vale do Paraopeba.

As categorias destacadas na análise seguinte contemplaram dois momentos distintos, pré-abolição (1850 a 1888) e a fase posterior (1888 a 1914), buscando perceber nestas temporalidades alterações no padrão de riqueza, na posição social e econômica das famílias, na organização doméstica e material, na diversidade regional, no habitat, no sistema de trabalho, no processo técnico e no espaço geográfico.

O trabalho realizado consistiu em estudar preliminarmente o conjunto de dados coletados para os dois períodos em destaque; pré e pós-escravidão. Por isso, os resultados apresentados a seguir abordaram um pequeno universo, dentre as múltiplas questões suscitadas pelas fontes cartorárias. Foram contrapostos 160 inventários do Município de Bonfim (1850 a 1888) com 250 inventários do Vale do Paraopeba (1888 a 1914). Embora a análise não corresponda a espaços geográficos idênticos, deve-se destacar que Bonfim foi uma das maiores e mais importantes unidades administrativas do Vale. Outra questão que permitiu a comparação reside no fato que tanto Bonfim, quanto os outros municípios que compõem o Vale possuem a mesma organização socioeconômica, voltada sobretudo para o mercado interno.19

2.1 - Família segundo a estrutura doméstica e material

Analisar a estrutura material da família contida nos inventários permite observar o funcionamento do grupo doméstico no plano da realidade econômica. Demonstra, por exemplo, como alguns artefatos do mobiliário, dos utensílios e das roupas assumiram diferentes dimensões, antes e depois da escravidão.

A tabela 3 e os gráficos 1 e 2 focalizam a distribuição total do patrimônio, entre os anos de 1850 a 1914. Dentre as inúmeras questões suscitadas destacam-se algumas de caráter econômico. Do total da riqueza observada para a fase pré e pós-abolição nota-se um expressivo aumento dos Bens de Raízes, dos Animais, e das Dívidas Ativas20.

Se durante o sistema escravista o cativo representou, simultaneamente, a principal fonte de trabalho e de capital, no período subseqüente, as terras e as dívidas ativas lideraram a pirâmide da riqueza familiar, como demonstram as tabelas e gráficos seguintes (MARTINS, 1986). Para Zélia Cardoso de Mello as dívidas relacionavam-se diretamente ao sistema creditício e financeiro da sociedade oitocentista. A ausência e/ou a ineficiência das instituições bancárias transformava alguns indivíduos em emprestadores particulares, possibilitando a circulação de dinheiro (MELLO, 1985, p. 92).

Um caso típico dessas transformações econômicas se deu, por exemplo, com os animais. Na fase pós-abolição os bois carreiros e as mulas de tropa tornaram-se bens extremamente valorizados na sociedade. Estes passaram a ter dupla função econômica, força de trabalho e moeda de troca, característica essa comum a economias em transição e com pouco capital de giro.

Concomitantemente aos animais uma série de itens também se valorizava, como por exemplo, os arreios, as montarias e os carros de boi. Elementos da vida material que

19 Esta questão será, no entanto, resolvida quando o Banco de Dados da fase escravista for ampliado incorporando outros distritos e localidades desta circunscrição geográfica, o Vale do Paraopeba.

20 Os bens, animais, objetos e artefatos analisados aqui não tiveram a preocupação de verificar as alterações dos valores monetários, mas sim a sua representação dentro do conjunto total. A inflação e a desvalorização da moeda, presentes no final do século XIX, poderiam inviabilizar uma análise correta de tais questões. Nos próximos trabalhos serão utilizados recursos técnicos que tornam possível acompanhar o valor dos bens ao longo de uma extensa faixa temporal sem incorrer,o entanto, em erros daquela natureza.

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traduziam não só a distinção social de quem os possuíam – uma montaria inglesa chegava custar o preço de um cavalo - como também eram imprescindíveis ao mundo do trabalho.

Outras análises podem ser pensadas a partir das tabelas e gráficos destacados. A pouca evidência de alguns objetos no pós-1888, principalmente da indumentária, apontam para duas hipóteses. Ou a sociedade perdera poder de compra com as mudanças procedentes do fim da escravidão, o que explicaria em parte a queda percentual no conjunto dos bens analisados, ou estes se tornaram mais populares sendo desnecessário mencioná-los na abertura do inventário.

A primeira proposição sugere uma possível queda na renda das famílias após o fim da escravidão. Vários indícios encontrados nos inventários corroboram nesta direção. As tabelas e gráficos delineados a seguir dão uma dimensão da realidade encontrada antes e depois do fim do sistema escravista no Brasil, em especial no Vale do Paraopeba.

Tabela 3:

Patrimônio total pré e pós-abolição

Bens e objetos inventariados 1850 a 1888 1888 a 1914

Valor % Valor % Bens de Raízes 648.063.671 42,6% 1.055.480.299 66,2% Escravos 597.947.954 39,3% - - Animais 89.938.095 5,9% 146.356.405 9,2% Dívidas Ativas 53.675.884 3,5% 255.982.487 16,1% Moeda 18.648.013 1,2% 55.380.304 3,5% Dote 28.413.220 1,9% 9.641.000 0,6% Utensílios Profissionais 17.818.407 1,2% 26.631.700 1,7% Utensílios Domésticos 15.222.201 1,0% 12.854.027 0,8% Estoque 14.041.685 0,9% 6.403.006 0,4% Móveis 9.963.230 0,7% 14.063.330 0,9% Indumentária Ger al 7.531.341 0,5% 1.702.490 0,1% Jóias 5.440.107 0,4% 2.463.930 0,2% Outros Gerais 5.265.530 0,3% 3.751.720 0,2% Outros Pessoais 2.820.240 0,2% 2.257.380 0,1% Indumentária Pessoal 2.778.700 0,2% 688.840 0,0% Botica e Remédios 3.704.160 0,2% - - Livros 329.700 0,0% 181.200 0,0% Valor total 1.521.602.138 100,0% 1.593.838.118 100,0% Fonte: AMB/MG, Inventários post-mortem, 1850/1914

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Gráfico 1:

Patrimônio Parcial das Famílias Pré-Abolição, 1850/1888 32,6% 19,5% 13,7% 10,3% 6,8% 6,5% 5,5% 5,1% -10.000.000 20.000.000 30.000.000 40.000.000 50.000.000 60.000.000 70.000.000 80.000.000 90.000.000 100.000.000

Animais Dívidas Ativas Outros Bens Dote Moeda Utensílios Profissionais

Utensílios Domésticos

Estoque

Fonte: AMB/MG, Inventários post-mortem, 1850/1888

Gráfico 2:

Patrimônio Parcial das Famílias Pós-Abolição, 1888/1914

2,39% 2,61% 5,03% 4,95% 10,29% 27,19% 47,55% -50.000.000 100.000.000 150.000.000 200.000.000 250.000.000 300.000.000

Dívidas Ativas Animais Moeda Utensílios Profissionais

Outros Bens Móveis Utensílios Domésticos

Fonte: AMB/MG, Inventários post-mortem, 1888/1914

Analisando separadamente os bens materiais (móveis, utensílios domésticos e profissionais, jóias, livros, etc) observou-se que estes apresentaram percentagens menores na fase pós-abolição, como demonstra a tabela 3. Mas se agregarmos estes elementos do cotidiano na categoria Bens Materiais, percebe-se um expressivo aumento; de 12% para 25%, como demonstram os Gráficos 3 e 4.

Com a extinção do sistema escravista o percentual destinado aos cativos foi redistribuído entre as três principais categorias: (1) Bens de Raiz, (2) Bens Materiais e (3)

Animais. Dentro do segundo item, por exemplo, observa-se um significativo aumento

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para a moeda que no pré-abolição gravitava em torno de 1% e na fase posterior atingiu 3,5 %. (Ver tabela 3).

As distintas formas de riqueza apresentadas nos gráficos (1 a 4), demonstram as alterações na estrutura e organização doméstica, do Vale do Paraopeba, com o fim do sistema escravista. Os dados sinalizam, entre outras questões, uma sensível queda no patrimônio das famílias. Estas deixaram de investir, pelo menos nos primeiros anos após a Abolição, em bens pessoais passando a concentrar a riqueza em terras e propriedades diversas.

Gráfico 3:

Patrimônio das Famílias Pré-Abolição, 1850/1888

6% 12% 39% 43% -100.000.000 200.000.000 300.000.000 400.000.000 500.000.000 600.000.000 700.000.000

Bens de Raízes Escravos Bens Materiais Animais

Fonte: AMB/MG, Inventários post-mortem , 1850/1888

Gráfico 4:

Patrimônio das Famílias Pós-Abolição, 1888/1914

9% 25% 66% 0 200000000 400000000 600000000 800000000 1000000000 1200000000

Bens de Raízes Bens Materiais Animais

Fonte: AMB/MG, Inventários post-mortem , 1888/1914

2.2 - Família segundo a posição social e econômica

A fonte analisada permite também pensar a posição econômica dos segmentos sociais. Os gráficos 5 e 6 apresentam uma classificação dos inventários post-mortem, segundo o nível de riqueza pré e pós-abolição. Foram propostos 4 níveis para as famílias inventariadas entre 1850 a 1914, a saber: Nível de Riqueza 1 - monte-mor até 2.000$000 contos de réis; Nível

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de Riqueza 2 – de 2.001$000 a 5.000$000 contos de réis; Nível de Riqueza 3 – de

5.001$000 a 10.000$000contos de réis; Nível de Riqueza 4 – acima de 10.000$000.

O maior número de famílias inventariadas - 66% para a fase pré-abolição e 71% para o período posterior - possuía patrimônio inferior a 5.000$000 contos de réis, sendo classificadas nos Níveis de Riqueza 1 e 2.

Dos inventários pré-1888 destacados, 16% eram de famílias localizadas no Nível 3. Já na fase pós-abolição apenas 12% referiam-se ao Nível mencionado.

Para a faixa mais privilegiada da sociedade, com patrimônios acima de 10.000$000 contos de réis, foi encontrado 18% e 17% de famílias inventariadas nos respectivos espaços temporais destacados aqui (1850/1888 e 1888/1914).

Os dados representados permitem concluir que a economia do Vale, entre 1850 a 1914 consistia, em grande parte de pequenos sítios e fazendas, ambos voltados para a atividade agropecuária. Embora os Níveis 1 e 2 correspondessem a mais de 65% dos inventários analisados, os números apontam que as famílias aí localizadas, possuíam pequenos e médios patrimônios, estes podiam oscilar de 200$000 réis a 5.000$000 contos de réis.

Gráfico 5:

Classificação dos inventários segundo o nível de riqueza pré-abolição

41%

25% 16%

18%

Nível 1 até 2.000$000 Nível 2 de 2.001 a 5.000$000 Nível 3 de 5.001 a 10.000$000 Nível 4 acima de 10.000$0000

Fonte: AMB/MG, Inventários post-mortem , 1850/1888

Gráfico 6:

Classificação dos inventários segundo o nível de Riqueza pós-abolição

44%

27% 12%

17%

Nível 1 até 2.000$000 Nível 2 de 2.001 a 5.000$000 Nível 3 de 5.001 a 10.000$000 Nível 4 acima de 10.000$0000

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Já os gráficos 7 e 8 permitem verificar a distribuição da riqueza familiar no Vale do Paraopeba, entre 1850 a 1914. Antes de se analisar os dados é preciso ressaltar que a história desta circunscrição geográfica esteve, desde o seu princípio, associada à exploração aurífera do final do século XVII. Por isso, a região destacada possui forte tendência à concentração de propriedade, terra e renda.

Os números revelaram algumas mudanças na distribuição da fortuna das famílias, nos distintos Níveis de Riqueza, ao longo dos espaços temporais considerados aqui: pré e pós-abolição. Dos quatro níveis apresentados é interessante perceber as alterações ocorridas no setor mais privilegiado da sociedade, aqueles que possuíam patrimônio acima de 10.000$000 contos de réis.

Entre 1850 a 1888, 71% da riqueza estava concentrada no Nível 4, ou seja 18% das famílias inventariadas. Entre 1888 a 1914, 67% do patrimônio do Vale correspondia com apenas 17% das famílias.

Com o fim da escravidão houve um declínio da riqueza entre o segmento mais abastado da sociedade – de 71% para 67%. Por outro lado, houve um aumento de 5% entre os menos favorecidos, os Níveis 1 e 2. Embora modesto os números começam a sinalizar uma gradual transformação da riqueza.

As fontes sugerem pensar ainda que os mais abastados foram os que mais sofreram com o fim do sistema escravista. É importante lembrar novamente, José de Souza Martins, ao se referir ao escravo como fonte de trabalho e capital (MARTINS, 1986). Com o fim da escravidão a elite perdia simultaneamente trabalhadores e riqueza acumulada durante décadas.

Por outro lado, o fim da mão-de-obra cativa pode ter contribuído para a melhoria de vida das famílias das camadas intermediárias, em geral pequenos proprietários e sitiantes. Estes não sofreram grandes perdas porque não usufruíam ou dependiam indiretamente do sistema escravista.

Dentro dessa mesma premissa, pode-se dizer que os setores médios da sociedade – aqui considerados como os Níveis 1 e 2 - puderam, a partir de 1888, competir de forma incisiva no mercado de alimentos. Passaram, também, a ser identificados como trabalhadores e parceiros em potencial, uma vez que novas relações de trabalho se configuravam com a inexistência do braço cativo.

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Gráfico 7:

Distribuição da riqueza familiar pré-abolição:

5% 10% 14% 71% 0 200.000.000 400.000.000 600.000.000 800.000.000 1.000.000.000 1.200.000.000

Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4

Fonte: AMB/MG, Inventários post-mortem , 1850/1888

Gráfico 8:

Distribuição da riqueza familiar pós-abolição:

67% 13% 13% 7% -200.000.000 400.000.000 600.000.000 800.000.000 1.000.000.000 1.200.000.000

Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4

Fonte: AMB/MG, Inventários post-mortem , 1888/1914

2.3 - Família segundo o sistema de trabalho

Os inventários são fontes que abordam diretamente o patrimônio e a divisão deste entre herdeiros e partes interessadas. Mas é possível perceber, nas entrelinhas da documentação cartorária, informações que ajudam a entender relações estabelecidas com o mundo do trabalho, tais como as eventuais listas de despesas efetuadas com “camaradas”, trabalhadores temporários, ou ainda, casos como o destacado a seguir.

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Em 1890, dois anos após o fim da escravidão, José Rufino da Silva solicitava ao juiz responsável, a conclusão do inventário judicial de seu pai, Antônio Rufino Pereira. Dos autos constava a seguinte declaração:

“DIZ JOSÉ RUFINO DA SILVA QUE TENDO FALELCIDO SEU PAI, ANTÔNIO RUFINO PEREIRA (...) PEDE A FACTURA DE INVENTÁRIO JUDICIAL, EM CARTÓRIO POR SEREM OS BENS DE POUCA MONTA, NÃO SÓ PELO FACTO DA LEI DE 13 DE

MAIO, COMO PELO USUFRUTO DE QUARENTA ANOS, E A DECADÊNCIA DAS PROPRIEDADES NA FAZENDA QUE FOI DE SEUS AVÓS, CONSTANDO HOJE OS

BENS DOS MENCIONADOS NA LISTA JUNTA, REQUER PORTANTO QUE V.S. SE DIGNE MARCAR DIA PARA TER COMEÇO O INVENTÁRIO, DANDO (...) AO COLLETOR PARA NOMIAÇÃO E APROVAÇÃO DE LOUVADOS, E COMO TAES NOMEIA O SUPLICANTE AO ALFERES JOÃO ALVES BRITO E DAVID DA SILVA FONSECA. AUTUADA ESTA COM A LISTA, DOCUMENTO E PROCURAÇÃO".21

Situações como a de José Rufino da Silva constitui apenas amostra do que deve ter ocorrido após a extinção da escravatura. Além da perda monetária destacada por Silva, os fazendeiros reclamavam também do abandono das lavouras e da falta de mão-de-obra para continuar o trabalho antes destinado aos escravos.

As informações extraídas dos inventários associadas àquelas de caráter jornalístico podem evidenciar, ainda mais, a realidade vivida pelas famílias, proprietárias de terras e escravos. O trecho extraído do Jornal da Cidade de Bonfim, onze anos depois da Lei Áurea, constitui exemplo salutar dessa associação.

“(...) ERA PRECISO RESOLVER O PROBLEMA DE SUBSTITUIÇÃO IMEDIATA DO

TRABALHO ESCRAVO PELO TRABALHO LIVRE; POIS QUE O ANTIGO

EX-ESCRAVO, CANSADO DE TRABALHAR PARA SEU EX-SENHOR, SENTIA-SE

DESANIMADO E PREFERIA O REPOUSO OCIOSO, EMBORA, À CUSTA DAS MAIORES PRIVAÇÕES À CONTINUAÇÃO DO TRABALHO REMUNERADO E LIVRE. EM MASSA,

ABANDONAVAM OS ESCRAVOS AS FAZENDAS E OS ESTABELECIMENTOS

AGRÍCOLAS DESORGANIZARAM-SE COMPLETAMENTE TODO TRABALHO DA LAVOURA. VOLVEU O BRASIL SUAS VISITAS PARA O ESTRANGEIRO E FOI

BUSCAR NA EUROPA O BRAÇO DE QUE PRECISAVA PARA SUBSTITUIR O BRAÇO ESCRAVO QUE LIBERTARA PELA LEI, MAIS MEMORÁVEL DE SEUS ANNAES”.22

Três questões ganharam tonicidade no Vale do Paraopeba com o fim da escravidão: (1) insuficiência ou despreparo da mão-de-obra local para continuar o trabalho antes destinado aos escravos; (2) desorganização material em que se encontravam as fazendas agrícolas imediatamente após o 13 de Maio; (3) diminuição da produção dos gêneros alimentícios comercializados dentro e fora de Minas Gerais.

O declínio da riqueza ocorrido de forma mais visível, nas décadas de 1880 e 1890, representou os primeiros indícios da situação discutida no referido periódico. Se em algumas partes do Brasil o problema do trabalho já tinha sido resolvido ou cogitava-se uma solução efetiva para a substituição da mão-de-obra, como por exemplo à introdução do imigrante, o mesmo parece que não ocorreu para Bonfim, bem como para o Vale do Paraopeba.

Se o periódico de 1899 ressalta a desorganização das fazendas e a falta de braço escravo; o inventário da mesma década lembra a expressiva queda no patrimônio “BENS DE

POUCA MONTA, NÃO SÓ PELO FACTO DA LEI DE 13 DE MAIO, COMO PELO USUFRUTO DE QUARENTA ANOS, E A DECADÊNCIA DAS PROPRIEDADES NA FAZENDA QUE FOI DE SEUS

21 Arquivo Municipal de Bonfim/MG, DC CSO 11(11).

22 Ver Arquivo Municipal de Bonfim/Minas Gerais, Jornal da Cidade de Bonfim, 08/10/1899, artigo Comércio, Indústria e Agricultura. p. 1. A primeira edição do jornal foi em 1898 e tinha como nome O PARAOPEBA cujo proprietário era o Coronel José Marques da Silveira.

(17)

AVÓS”. Faces de uma mesma moeda que se reportam às transformações da organização material e doméstica na transição do sistema escravista.

2.4 - Família segundo o espaço geográfico e diversidade regional

Segundo Martine Segalen os inventários revelam os laços existentes entre a família e as comunidades locais. Permitem estabelecer relações com o entorno geográfico das cidades, definindo fronteiras nas diferentes zonas espaciais.

A descrição das casas com suas delimitações – nome de ruas, vizinhanças laterais, terrenos baldios, citações que incluem igrejas, praças, logradouros e chafarizes – são alguns indicativos dessa rede de informações, encontrados nas fontes cartorárias.

“1 MORADA DE CASAS DE VIVENDA SITAS NESTA CIDADE, A RUA DAS FLORES DIVISANDO POR UM LADO COM CÂNDIDA MONTEIRO E POR OUTRO COM DOMINGOS FRANCISCO DE SOUZA (400000)”.23

O mesmo pode-se dizer das fazendas, sítios e ranchos, que evidenciam com a mesma tonicidade os elementos característicos: descrição da qualidade das terras – de cultura, matos e campos – e localização dentro do meio-ambiente – referências aos rios e riachos, acidentes geográficos como serras, chapadões e montanhas são freqüentes nas descrições encontradas.

“150 HECTARES E 8 ARES DE TERRAS DE CULTURA SITAS NA FAZENDA DOS MARINHOS NA GROTA DENOMINADA MAMONA (1270016)

- 106 HECTARES E 48 ARES DE TERRAS DE CULTURA NESTA MESM A FAZENDA NA GROTA DENOMINADA SÃO JOÃO VERTENTES AOS GAMELLAS (649528)

- UM PASTO DENOMINADO CRUZEIRO DEFRONTE AO MASSAME DESTA FAZENDA DA CHÁCARA (416724)

- 1 TERRENO ONDE MORA O INTERESSADO MIGUEL ANTÔNIO CORDEIRO (59532)

- 1 MORADA DE CASAS ONDE MORA O INTERESSADO ANTÔNIO JOAQUIM DOS SANTOS (300000)

- 1 PAIOL GRANDE, UM MOINHO E UM PASTO NESTA MESMA FAZENDA DA CHÁCARA (600000)

- 1 MORADA DE CASAS DE VIVENDA NESSA MESMA FAZENDA DA CHÁCARA ONDE RESIDE A INVENTARIANTE DONA UMBELINA (700000)”.24

As diversidades regionais são também observadas pelas diferentes composições e níveis de riqueza. Neste caso, o tipo de economia exercida – subsistência, mercado interno ou externo – ajuda definir esta questão.

Os produtos locais, a matéria-prima disponível, bem como os recursos alimentares, hídricos e minerais costumam também aparecer nas entrelinhas dos inventários, auxiliando na composição da estrutura material das famílias e da sociedade as quais elas pertencem. Para isso, é preciso decodificar o que está por traz de cada descrição observando, também, lacunas e omissões de dados.

Os bancos de peroba, as sedas chinesas e as casas assoalhadas constituem arquétipos dessa multiplicidade de dados extraídos, de um conjunto de inventários. Estas informações ajudam a definir, por exemplo, aspectos relacionados à natureza local (a peroba, árvore típica do Vale); ao comércio (importação de tecidos e objetos),e à cultura e sociabilidades (o assoalho feito de madeira, pela sua raridade no século XIX, restringia-se às famílias mais ricas).

23 Ver Arquivo Municipal de Bonfim/MG, DC CSO 109 (6). 24 Ver Arquivo Municipal de Bonfim/MG, DC CPO 45 (1).

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2.5 - Família segundo habitat

Segundo o antropólogo, André Leroi-Gourhan, o habitat responde a uma tríplice necessidade: 1) cria um ambiente tecnicamente eficiente; 2) assegura uma estrutura material para o sistema social; 3) garante uma certa ordem no universo circundante.

Dentro do universo analisado para o Vale do Paraopeba poder-se-ia acrescentar que o habitat, mais precisamente, a casa de morada tinha uma dupla função. Cumpria o papel de habitação, mas reservava também, lugar especial para o exercício de distintas atividades, sejam elas artesanais, mecânicas ou intelectuais. Por tudo isso, a fazenda e/ou a casa urbana constituía o espaço de nascimento, de casamento e morte, mas era também o lugar de trabalho dos artesãos, dos ourives, dos escrivões, enfim, recintos nos quais se exerciam comércio e estabeleciam os principais negócios.

Com o fim do sistema escravista, novas redes de sociabilidades e convivências começaram a se definir e, de certo modo, contribuíram para que o habitat assumisse contornos mais precisos. Os resultados apontados para as distintas temporalidades – pré e pós-abolição – indicam que tais mudanças na esfera socioeconômica foram marcadas por ritmos tênues e graduais. Com desenrolar do século XX acentuavam-se cada vez mais.

2.6 - Família segundo outras categorias

Os inventários das famílias permitem analisar uma série de outros elementos, tais como as mudanças advindas do processo técnico industrial. O aparecimento da máquina de bater ovos, do fogão a gás, ou simplesmente, a popularização do armário no final do século XIX, são apenas alguns dos inúmeros exemplos observados nos dois Bancos de Dados, confeccionados para o período pré e pós-abolição.

Segundo Segalen “com o armário se conseguiu um novo nível de organização: já não havia a necessidade de se inclinar sobre a arca e remexer no seu interior na busca de um objeto, pois, a roupa se guardava agora em prateleiras que permitiam ser ordenadas e classificadas” (SEGALEN, 2003. P. 66).

Costumes e hábitos também poderiam constituir, a partir dos inventários,

importantes categoria de análises. Dentro dessa abordagem, caberia indicar a questão do dote. Entre 1850 a 1914, o dote foi perdendo gradualmente sua importância econômica e cultural. Pela tabela 3 nota-se que este passou a ser inexpressivo no conjunto dos bens analisados, e cada vez mais eram desconsiderados nas fontes cartorárias.

Poder-se-ia destacar ainda a relação do documento em questão com os estudos de

gênero. Embora não tenha sido intenção aprofundar este tópico, bastaria lembrar os

inventários das mulheres chefes de famílias, a documentação cartorária referente às viúvas e também dos vários casos em que se percebe a ausência do marido. Nesta e em todas as categorias referidas neste trabalho a importância dos inventários é indiscutível para o entendimento das múltiplas questões relacionadas à História da Família.

Considerações finais

O trabalho realizado com o Censo de 1872 demonstrou ser um caminho viável que permite não só o mapeamento econômico da(s) sociedade(s) analisada(s), como também possibilita cotejar as informações encontradas com outras fontes primárias, tais como os inventários post-mortem. Dentre os problemas levantados ressalta-se a necessidade de investigar, com mais afinco, como o fim do sistema escravista alterou as relações sociais, as diretrizes da economia, bem como também o(s) padrão(ões) demográfico(s). Enfim, transformações na estrutura material da sociedade no qual a família esteve presente desde o seu princípio, sendo ao mesmo testemunha e co-autora desta história.

(19)

Por fim, deve-se destacar que as categorias de análise, exploradas nas fontes cartorárias, servirão de guia para futuras interpretações. Da mesma forma, a incorporação de outros documentos – principalmente os Relatórios de Presidente, as crônicas de viagens e os censos de 1890 e 1900 – poderão não só tonificar os resultados apresentados, como também poderão lançar novas perspectivas acerca do principal objeto delineado neste artigo, qual seja: as transformações da org anização doméstica da família mineira na transição do

sistema escravista.

3 - Fontes Primárias

A) Arquivo Municipal de Bonfim/Minas Gerais

- 160 Inventários Pré-Abolição de Bonfim do Paraopeba (1850 a 1888) - 250 Inventários Pós-Abolição do Vale do Paraopeba (1888 a 1914) - Jornal da Cidade de Bonfim, 08/10/1899

B) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Anuário estatístico do Brasil 1908 - 1912. Rio de Janeiro: Diretoria Geral de Estatística, v. 1-3, 1916-1927.

C) Recenseamento da População do Império do Brasil a que se publicou em 10 de agosto de 1872.

4- Bibliografia Utilizada

ALMEIDA, Ângela Mendes de. Notas sobre a família no Brasil, in: Pesando a Família no Brasil. Rio de Janeiro: Espaço e tempo/Ed. da UFRJ. 1987.

ALVES, Maurício Martins. Caminhos da Pobreza: a manutenção da diferença em Taubaté (1680-1729). Dissertação de Mestrado. IFCS/UFRJ, 1995.

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