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Água, produção e tecnologias: uma análise da relação entre populações rurais e ambiente no alto Jequitinhonha – MG

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Água, produção e tecnologias: uma análise da relação entre

populações rurais e ambiente no alto Jequitinhonha –

MG

∗∗

Thiago Rodrigo de Paula Assis♣♣ Ana Paula Gomes de Melo♦♦ Luís Henrique Silvestre♥♥

Palavras-chave: recursos hídricos; produção; populações rurais; ambiente.

Resumo

Este artigo tem como objetivo discutir aspectos sobre as populações rurais, abordando as relações existentes entre tecnologias, processos produtivos e os recursos hídricos utilizados por essas populações. Parte de um estudo de caso realizado na região do Alto Jequitinhonha Minas Gerais, particularmente na comunidade de Boa Vista, localizada no município de Turmalina. Faz parte de uma parceria entre o Núcleo de Pesquisa e Apoio da Agricultura Familiar Justino Obers, da Universidade Federal de Lavras e o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica, organização de apoio aos agricultores familiares que realiza atividades em Turmalina e região, voltadas à articulação de agricultores e agricultoras e ao bem estar do ambiente. A metodologia da pesquisa envolveu reuniões com a comunidade e entrevistas com 14 famílias, sobre a relação existente entre famílias, recursos hídricos e produção. Agrega também experiências e observações adquiridas em outras atividades com populações rurais do alto Jequitinhonha. Traz como componente o conflito entre produção e água enfrentado pelas populações rurais nessa e em várias outras comunidades da região, que pode trazer limitações de renda e em situações extremas causar desentendimentos entre famílias, falta de alimentos, migração definitiva, etc. Atenta também para a importância de ações de mobilização e sensibilização sobre a importância dos recursos hídricos e sua preservação, e do uso de sistemas produtivos adaptados às condições ambientais locais, mesmo em comunidades com aparente abundância de água.

Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-

MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Engenheiro Agrônomo, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal de Lavras, área de concentração Gestão social, Ambiente e Desenvolvimento. Bolsista CNPq.

Administradora, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal de

Lavras, área de concentração Gestão social, Ambiente e Desenvolvimento. Bolsista Capes.

Acadêmico do curso de Administração da Universidade Federal de Lavras. Bolsista Iniciação Científica FAPEMIG.

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Água, produção e tecnologias: uma análise da relação entre

populações rurais e ambiente no alto Jequitinhonha –

MG∗∗

Thiago Rodrigo de Paula Assis♣♣ Ana Paula Gomes de Melo♦♦ Luís Henrique Silvestre♥♥

1. Introdução:

A pouco menos de 20 anos, os recursos hídricos eram encarados pelo consenso geral como inesgotáveis. A partir de crises de abastecimento urbanas e de problemas de disponibilidade para o uso agrícola foi se percebendo a necessidade de se repensar essa concepção, estando os problemas relativos á escassez de água e ao seu uso sustentável situados atualmente no centro das discussões ambientais e de diversas campanhas e projetos. Destas discussões constatou-se a necessidade de se desenvolver novas formas de regulação e conservação dos recursos hídricos. No entanto, esses debates foram desencadeados por grandes produtores e órgãos públicos, que não se preocuparam a princípio com um segmento de grande importância no meio rural nacional: a agricultura familiar, que convive e utiliza as águas não só para o consumo doméstico, nem só com o objetivo de lucro, mas como um componente essencial de sua sobrevivência.

A partir da emergência das discussões sobre a gestão social, da nova lei de águas, que prevê uma maior participação da sociedade civil na gestão dos recursos hídricos, e da denúncia de diversos pesquisadores sobre a importância de se considerar o conhecimento desses agricultores e agricultoras para a gestão das águas, diversas pesquisas sobre os usos dos recursos hídricos por populações rurais têm ganhado destaque em várias áreas do saber, principalmente nas ciências sociais. Admitindo-se que a água é um recurso finito, diversos estudos têm buscado compreender a percepção de agricultores e agricultoras familiares e o uso desse recurso no meio rural, com vistas a empreender ações de conservação das águas.

Esse artigo procura contribuir com essa reflexão, buscando afirmar a relevância do conhecimento de agricultores familiares para a gestão dos recursos hídricos.

2.

Objetivos e Metodologia do estudo:

O presente trabalho tem sua origem em estudos realizados pelo Núcleo de Pesquisa e Apoio da Agricultura Familiar Justino Obers (PPJ) da Universidade Federal de Lavras, em parceria com o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV) de Turmalina -MG, alto vale do Jequitinhonha, entre os anos de 2001 e 2003, com o objetivo de perceber a relação das populações rurais do alto Jequitinhonha com os recursos hídricos.

Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-

MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Engenheiro Agrônomo, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal de Lavras, área de concentração Gestão social, Ambiente e Desenvolvimento. Bolsista CNPq.

Administradora, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal de

Lavras, área de concentração Gestão social, Ambiente e Desenvolvimento. Bolsista Capes.

Acadêmico do curso de Administração da Universidade Federal de Lavras. Bolsista Iniciação Científica FAPEMIG.

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Baseia-se mais especificamente em um diagnóstico realizado em julho de 2003, na comunidade rural de Boa Vista, município de Turmalina, com o objetivo de refletir sobre as relações entre população e ambiente, principalmente no que se refere à água, dedicando-se a um aspecto essencial da vida rural, que é o da produção agropecuária, a qual depende diretamente da disponibilidade hídrica. Busca assim analisar os problemas enfrentados por agricultores familiares para produzir, quando da diminuição das águas. Aborda ainda aspectos da necessidade de se pensar técnicas de produção adaptadas à realidade hídrica do alto Jequitinhonha, que possam conciliar produção, sem o uso excessivo da água.

O diagnóstico sobre os recursos hídricos na comunidade de Boa Vista teve seu início nos problemas enfrentados por essa comunidade com a diminuição do fluxo de água do córrego Boa Vista, cujas águas alimentavam uma mini-turbina hidrelétrica na comunidade. Devido à diminuição do fluxo, a água tornava-se insuficiente para o funcionamento da turbina, e conseqüentemente os sistemas de captação utilizados pelas famílias rurais da comunidade para retirada de água do córrego e uso na produção agrícola começaram a ser questionados. A comunidade enfrentava uma situação em que o uso da água para produção ou geração de energia estava prestes a gerar conflitos.

Assim, o diagnóstico teve como objetivo compreender o uso da água pelas famílias da comunidade, buscando conhecer os motivos e possíveis soluções apontadas pela comunidade para o problema da água. Para a pesquisa foram entrevistadas 14 das 19 famílias residentes na comunidade. Utilizou-se questionários semi-estruturados, com questões relativas ao uso da terra e da água, visando compreender a relação entre recursos hídricos e produção. Além disso, realizou-se uma reunião comunitária com as famílias, onde procurou-se, através de trabalhos em grupo, traçar um mapa dos recursos hídricos na comunidade, buscando identificar quais as fontes de água existentes e quais famílias as utilizavam.

Os resultados foram sistematizados e devolvidos à comunidade para debate e apreciação, sendo aqui apresentados junto a outras reflexões realizadas pelo núcleo PPJ, do qual fazem parte os autores desse trabalho.

3.

A agricultura familiar e sua relação com o ambiente:

O termo agricultura familiar envolve diversas definições que geraram historicamente debates sobre quais tipos de agricultores se encaixam nessa definição.

Uma das definições que resume de forma interessante os elementos que perpassam esse tipo de agricultura é aquele utilizado por Lamarche (1993), segundo o qual a agricultura familiar é aquela onde terra, trabalho e família estão reunidos para um mesmo objetivo. A esses três elementos, pode-se adicionar também um quarto aspecto: o da gestão.

Assim, como mostra Chayanov (1974), na unidade familiar, a composição e o tamanho da família, determinam integralmente o montante de sua força de trabalho, e assim determinam também todos os limites máximos e mínimos do volume de suas atividades econômicas. Já Schultz (1965), demonstra que dentro dos recursos disponíveis (mão-de-obra, terra, recursos de fertilidade, etc.), a agricultura familiar adota estratégias de diversificação da produção e teias de relações de modo a conseguir o máximo de aproveitamento econômico.

Mas a agricultura familiar a que se refere este trabalho envolve ainda outros aspectos específicos. Identifica-se ao que se têm chamado de agricultura camponesa, que envolve aqueles agricultores familiares que possuem relações comunitárias fortemente determinadas pela tradição e pelo costume, para os quais o trabalho na terra representa mais que uma atividade econômica com fins lucrativos. Para estes, mais importante que a produção agropecuária é a reprodução da família e sua permanência na terra, como agricultores. Assim, esses camponeses estabelecem estratégias para sua reprodução, calculando cada fator a sua disposição, com vistas a garantir a reprodução familiar – dentre algumas das estratégias adotadas pelos agricultores familiares para sua sobrevivência estão a pluriatividade, a

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migração e o desenvolvimento de atividades rurais não agrícolas como o artesanato. Algumas outras características presentes, que dão aspecto particular a esse tipo de agricultura familiar são: a sua pouca inserção ou integração aos mercados e ao agronegócio, as fortes relações de parentesco e compadrio existentes entre as famílias, a grande identidade com o território a que pertence e o conhecimento e respeito em relação ao meio ambiente em que vive (fonte de seu sustento)1.

Esse conhecimento parte de uma ação inteligente junto à natureza, a partir da qual tais agricultores constroem “modelos de saber” em relação ao meio natural no qual vivem. Esses modelos de saber servem de base para ação sobre o ambiente. Assim, a partir da compreensão do ambiente natural os agricultores constroem seus sistemas de cultivo e manejo do meio, com base em conhecimentos que são transmitidos através do trabalho e experimentação, através de gerações. (Woortmann, 1997).

Conhecem assim plantas e outros indicadores da fertilidade dos solos, as melhores épocas para o preparo da terra para o plantio, as épocas adequadas para a coleta de frutos, madeiras e plantas medicinais, etc. Conjugam os fatores existentes e conformam um sistema equilibrado entre população e ambiente.

Nesse sistema os recursos hídricos possuem papel de destaque, visto que são essenciais para a vida e produção camponesa.

4.

O alto Jequitinhonha e os recursos naturais:

O alto vale do Jequitinhonha, localizado no nordeste de Minas Gerais, já foi famoso por sua grande riqueza, gerada pela abundância de recursos naturais e pela grande presença de minerais preciosos, principalmente o diamante. Atualmente a região é conhecida por sua baixa dinâmica econômica, e pela situação ambiental delicada, fruto de explorações sucessivas e intensivas dos solos.

A região, colonizada por migrantes baianos, foi ocupada por pequenas propriedades, nas quais se desenvolveu a agricultura tipicamente familiar. Devido às condições topográficas do alto Jequitinhonha, no qual se encontram extensos planaltos – as chapadas, de fertilidade natural reduzida –, que desembocam em vales estreitos – as grotas, nas quais se encontram nascentes e córregos, e terras mais férteis -, as populações rurais lá estabelecidas desenvolveram um sofisticado sistema de manejo do ambiente natural (Ribeiro, 1996).

Devido às condições de fertilidade e disponibilidade de água, os agricultores ocuparam historicamente as áreas de grota, nela plantando suas roças de toco. Já nas chapadas, desenvolveram formas elaboradas de manejo das áreas de florestas, para coleta de frutos, madeiras, flores, barro, etc.; e das áreas de pastagens naturais, para criação de gado bovino e outros animais.

Dessa forma, as comunidades de agricultores construíram ao longo do tempo normas e tradições, com base em seu costume e cultura camponesa, incluindo normas de gestão dos espaços e sanções para seus transgressores, criteriosamente elaboradas, com base no conhecimento sobre o ambiente, e permeadas pelas relações sociais comunitárias, pelas hierarquias de uso e principalmente pelas relações familiares. Esse sistema sofisticado de gestão do espaço comum prevê regulamentos sobre quais frutas e madeiras podem ser retiradas livremente, quais devem ser negociadas entre famílias, quais as quantidades e em quais épocas podem ser extraídas; em quais áreas as famílias podem desempenhar sua lavoura, quais pessoas podem ter acesso aos recursos da comunidade, etc. As nascentes e córregos também são objeto de regulação, de forma a garantir a disponibilidade de água à todos das comunidades.

1

Para maiores esclarecimentos sobre o tema ver Moura (1978), Abramovay (1992), Wanderley (1996), Woortmann & Woortmann (1997).

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Por isso, no alto Jequitinhonha em vários casos, a gestão, aliada com uma pressão populacional relativamente baixa permitiu com que agricultores convivessem por vários anos em áreas de cerrado, utilizando seus recursos para o trabalho, alimentação, artesanato, construção de casas, criação de animais, etc., sem causar impactos ambientais significativos, e pelo contrário, conservando na maioria das vezes os recursos existentes.

A partir da década de 70, iniciou-se a implantação pelo Estado, de políticas públicas de desenvolvimento para a região, dentre elas a de reflorestamento com eucaliptos para a produção de carvão, onde grandes empresas receberam a concessão das terras de chapada (que possuíam condições topográficas excelentes) para plantarem seus eucaliptais e posteriormente produzirem carvão para o abastecimento de siderúrgicas e outras indústrias. Dessa forma gerariam emprego, renda, movimentação econômica e conseqüentemente, desenvolvimento no alto Jequitinhonha.

Tais áreas de chapada já eram utilizadas pelos agricultores para a extração e pastagens. No entanto, como eram manejadas em comum, não possuíam registro de propriedade em cartório, sendo consideradas terras devolutas, pertencentes ao governo estadual ou nacional.

Além de não terem a propriedade legal das chapadas, devido ao modo com que manejavam os recursos existentes, esses agricultores não possuíam visibilidade econômica, visto sua pouca inserção nos mercados formais, e dessa forma, para o governo “desenvolvimentista”, deixavam de existir. Já possuíam todo um sistema de organização, com costumes e normas bem definidos. Mas esses se constituíam numa lex loci, numa lei local, não reconhecida pelos órgãos de desenvolvimento, visto que por ser local, estava fundamentada em valores e costumes locais, fazendo sentido apenas para aquela situação ou para quem viesse a compreendê-la (Thompson, 1998) – fato este que não fazia parte dos planos dos agentes do governo.

Assim, ao chegarem na região, as empresas reflorestadoras desalojaram de seu local uma grande quantidade de produtores que ali desempenhavam suas atividades, causando grandes prejuízos.

Sem as chapadas, muitos agricultores ficaram sem locais para coleta e criação de animais, tendo que desenvolver suas atividades nas áreas de grota, geograficamente reduzidas. O pastejo de animais nos terrenos declivosos das grotas causou a compactação do solo e a extinção da vegetação de cobertura. Sem a proteção das plantas, as chuvas carregaram grande quantidade de solos, causando o assoreamento e formando os chamados “peladores”. O solo carregado muitas vezes aterrou nascentes e córregos, causando problemas de água, como a diminuição ou secamento de fontes e córregos. Aliado a isso ocorreram aumentos populacionais e uma maior pressão sobre o ambiente. Sem ter para onde expandir suas atividades, os agricultores passaram a explorar de forma mais intensiva suas áreas. Assim, as áreas cultivadas com o sistema de roça de toco2, que antes contavam com descansos de até 15 anos, passaram a ter o período de pousio cada vez mais reduzidos, provocando queda da fertilidade e problemas ambientais. Como alternativa à esse processo os agricultores estabeleceram rotas migratórias, definitivas ou temporárias, com o objetivo de aliviar o uso da terra3.

Além disso, a cultura do eucalipto, com sistemas radiculares profundos e grande capacidade de absorção de água trouxe um agrave aos problemas, contribuindo para o

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Como roça de toco ou coivara, entende-se o sistema de plantio no qual utiliza-se o manejo de queimadas, que ajudam a aumentar a fertilidade natural do solo, que é utilizado por um determinado tempo, até que sua fertilidade comece a decrescer, passando então para o cultivo de outras áreas, deixando que aquela terra já utilizada recomponha naturalmente sua fertilidade (Ribeiro, 1999)

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secamento de nascentes e derramando produtos tóxicos nos solos e águas. O sistema hídrico da região, com chuvas concentradas em determinadas épocas do ano, que conformam as chamadas épocas das “secas” e “s’águas”, ajudaram a complicar a situação de recursos hídricos na região.

Atualmente o alto Jequitinhonha possui uma situação ambiental delicada, enfrentando problemas com solos e águas. Mas, populações locais aprenderam a manejar os recursos existentes de forma a garantir sua reprodução. Descobriram também formas de organização através dos sindicatos de trabalhadores rurais e de organizações de apoio, como o CAV. Estão assim lutando para recuperar suas águas.

5. A

percepção de populações rurais do Jequitinhonha sobre os recursos

hídricos:

Para as populações rurais os conceitos de água, e de qualidade de água, são diferentes daqueles normalmente apreendidos pelas populações urbanas (Ribeiro et al., 2000). Enquanto para moradores das cidades a água dos rios, tratada e distribuída aos domicílios, constitui uma água pura e de qualidade, para os moradores das zonas rurais essas percepções são diferentes.

No caso do alto Jequitinhonha, as águas consideradas pelos agricultores familiares como de melhor qualidade, são as águas de nascentes. Isso se deve ao fato dessas águas brotarem puras, limpas, cristalinas, sem contaminação. São classificadas pelos agricultores como águas “finas”, “leves” e chamadas de “água pequena”. À medida que as águas das nascentes começam a correr, formando córregos e rios, percorrem um caminho incerto, onde passam a ser utilizadas por animais, para usos domésticos e agrícolas, e recebem impurezas diversas, como dejetos, animais mortos, produtos químicos, etc. Assim, as águas dos rios, chamadas pelos agricultores familiares de “água grande” abrigam sujeiras, impurezas, sendo “grossas”, “pesadas” e impróprias para o consumo pelas famílias (Galizoni, 2003).

Por isso, a água preferida para o uso humano é a água das nascentes, coletada com o uso de vasilhas ou baldes, ou por sistemas de mangueiras, na fonte, sem impurezas. Essa água é utilizada pelas populações rurais para o consumo humano e doméstico. As águas de córregos são utilizadas para consumo animal e para o uso agrícola, através de sistemas de captação como os “regadios” (canais que levam a água para canteiros de produção). No limite, essa água é também utilizada para os afazeres domésticos e para o consumo humano.

Já as águas de represas e reservatórios são usadas apenas para fornecimento aos animais, sendo classificadas como as piores águas, pois como estão “presas”, “paradas”, deixam de correr, perdendo vida. São classificadas também como águas “pesadas” e “grossas”, mortas. Para as populações rurais do alto Jequitinhonha as águas devem correr, gerando vida (Galizoni, 2003).

Esse sistema sofisticado de classificação e uso dos recursos hídricos faz com que essas populações rurais dêem grande valor às nascentes, mobilizando-se para o uso de suas águas, e criando manejos comunitários para garantia do abastecimento das famílias.

Dessa forma, o uso das nascentes é regido por normas de gestão, construídas e fiscalizadas comunitariamente. Criam-se então gradientes de uso dos recursos hídricos. Assim, quando famílias em uma determinada comunidade não possuem nascentes em seu terreno, utilizam a água de uma nascente vizinha, obedecendo a um preceito existente ente essas populações de que água não se nega. Quando da escassez do recurso, as famílias têm que regular seu uso (às vezes deixando de utilizá-lo em atividades de produção agropecuária), de forma que ele esteja disponível aos que precisam. Por isso, mesmo nascentes localizadas em terrenos privatizados, passam por uma regulação comunitária. Somente quando a água da nascente se torna insuficiente para a divisão, é utilizada de forma individual por quem

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domina o terreno em que ela nasce. Famílias que não possuem nascentes próximas à suas casas chegam a andar até 10 quilômetros para buscar água em outras nascentes.

Observa-se assim que a questão dos recursos hídricos nas comunidades rurais do alto Jequitinhonha envolve aspectos como cultura, costumes e relações comunitárias, tratando-se de um tema complexo.

6. O caso da comunidade Boa Vista:

A comunidade Boa Vista localiza-se às margens do rio Araçuaí, no município de Turmalina, MG, sendo formada por 19 famílias de agricultores familiares. Considerada uma comunidade com abundância em água e recursos naturais em relação à maioria das comunidades da região do alto Jequitinhonha (Freire, 2001), Boa Vista sempre foi encarada por organizações externas como um palco fértil para a implantação de sistemas produtivos intensivos em uso de água, como lavouras irrigadas e outras formas de manejo ligadas à aquicultura. Também pela disponibilidade de água, a comunidade, cortada pelo Córrego Boa Vista, recebeu em parceria com organizações locais e do exterior, um projeto alternativo de geração de energia, através de uma microusina hidrelétrica constituída por uma turbina alimentada pelas águas do córrego. Esse projeto tratava-se de uma iniciativa inovadora e foi acolhido pela comunidade com grande satisfação, visto que nessa época poucas comunidades do município possuíam energia elétrica.

Mas, com o correr dos tempos, a situação dos recursos hídricos na comunidade têm se modificado sensivelmente. Em 2003, quando da realização dessa pesquisa, observou-se que a vazão do córrego Boa Vista havia diminuído consideravelmente, e mesmo possuindo ainda grande quantidade de água, não possuía mais força suficiente para proporcionar o funcionamento da turbina de forma satisfatória. Como a energia gerada pela microusina é utilizada por boa parte da comunidade (das 14 famílias pesquisadas 7 utilizavam a energia hidrelétrica, 4 energia solar – gerada por placas solares, em áreas onde a distância não permitiu a chegada da energia gerada na microusina - e 3 não possuíam energia), uma das soluções encontradas pelos moradores foi regular a retirada de água do córrego no trecho acima da turbina (utilizada para a geração de energia), para evitar que a quantidade de água diminuísse ainda mais. No entanto, tal acordo produziu alguns desconfortos, pois sistemas produtivos como tanques de piscicultura, e lavouras irrigadas mecanicamente, passaram a ser alvo de questionamentos, sendo que até processos de produção irrigada tradicionais começaram a sofrer restrições.

Ao se pesquisar a situação dos recursos hídricos na comunidade, percebeu-se então uma situação complicada. Quando questionadas sobre a fartura de água em Boa Vista, as famílias entrevistadas demonstraram ter consciência da diminuição do recurso, sendo que 9 famílias disseram não haver fartura, contra 4 delas que afirmaram a grande disponibilidade de recursos hídricos. Uma família não soube opinar sobre a questão, como pode ser observado na tabela 1 abaixo.

Tabela 1

Avaliação da fartura de água na comunidade

Há fartura? n° de famílias

Não 9

Sim 4

Dúvida 1

TOTAL 14

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Verificou-se que a população percebe um gradativo desaparecimento de fontes de água no local, tendo se extinguido, segundo as declarações dos agricultores e agricultoras, um total de 6 nascentes e 3 córregos .

Em decorrência dessa grande diminuição do número de nascentes, que são as fontes de água preferidas dessas populações rurais, a principal fonte disponível para o uso da comunidade Boa Vista passa a ser o córrego que dá nome à mesma, cuja água embora não seja a preferida das famílias para beber ou para usos domésticos, constitui-se numa água de boa qualidade, visto que nesse caso não recebe despejos em nenhum local acima das casas do povoado. O córrego passa a ser o centro das atenções, pois é a próxima água a ser usada pela comunidade.

Diante disso, desencadeia-se um debate entre as famílias acerca das prioridades de usos em relação às águas do córrego Boa Vista, que possui múltiplas serventias, desde o uso em atividades de produção agropecuária, passando pelo consumo doméstico, até a geração de energia através da microusina instalada na comunidade.

Surge então uma discussão interessante em relação às tecnologias e processos produtivos utilizados pelas populações rurais.

Frente à percepção da crescente escassez de água, têm ocorrido alguns desentendimentos entre as famílias que precisam utilizar menor quantidade de água, sofrendo restrições para usos mais essenciais, e as famílias que se beneficiam da geração de energia elétrica.

Devido à situação ambiental, as famílias buscam hoje uma outra forma de aquisição de energia, que substitua aquela atual, sendo a mais discutida a energia tradicional, distribuída pelas companhias hidrelétricas, nesse caso a CEMIG. A opção por abrir mão de uma tecnologia alternativa e sustentável de geração de energia poderia parecer a princípio uma incoerência. No entanto, quando se observam as reais condições da comunidade, nota-se que a permanência dessa forma de geração, não mais se apresenta sustentável, visto que compete com atividades importantes para os agricultores familiares, como a produção agrícola.

Assim, observa-se que a diminuição dos recursos hídricos não é sentida apenas pelo número de fontes d’água fracassadas, mas também pelas restrições que vem sendo impostas às famílias com relação ao uso da água, devido à escassez. Dessa forma, das famílias entrevistadas, 78% (11 famílias) afirmaram sofrer restrições à utilização de água para diversas atividades, inclusive para uso doméstico. Segundo as famílias, as maiores limitações referem-se à falta de água para o plantio de lavouras e hortas, conforme pode ser observado na TABELA 2. Essas restrições variam de grau, havendo casos, por exemplo, em que as famílias não possuem água suficiente para molhar uma horta pequena para o consumo da família, e outros onde a restrição se impõe à produção comercial, em maior escala.

Tabela 2

Restrições ao uso de água Restrições Nº de famílias Lavoura 10 Horta 5 Consumo doméstico 2 Piscicultura 1 Abastecer animal 1

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Essa falta de água é sentida principalmente no período das secas, com a diminuição dos níveis de água em córregos e nascentes, e afeta costumes e práticas produtivas importantes das famílias, como o de produzir alimentos, através da irrigação manual ou por sistemas artesanais, como o regadio - sistema onde as águas são conduzidas por sulcos de um ponto de maior altitude para outro de menor, pela gravidade, irrigando canteiros e lavouras (Ribeiro et al., 2000). Dessa forma, a falta de água atinge a produção não somente no que diz respeito à disponibilidade de alimentos para o consumo da família, mas também em relação às oportunidades de geração de renda, que poderia ser aumentada com a venda da produção irrigada nas feiras locais (costume de muitas famílias da região), e que é limitada pelo impedimento ao plantio.

Constata-se, então, que a continuação do uso da microusina, embora sendo uma tecnologia desenvolvida pela comunidade em parceria com outras organizações, que se apresentou como uma solução micro-local com grande potencial de geração de energia para toda a comunidade no passado, não corresponde às condições atuais, visto que exige grande quantidade de água, que o consumo de energia aumentou e que as condições ambientais mudaram, tornando o projeto defasado.

Em diversas comunidades do alto Jequitinhonha, onde a escassez dos recursos hídricos tornou-se crítica, observa -se problemas para a permanência dos agricultores em suas áreas. Em muitos casos, quando as nascentes começaram a diminuir, as famílias agricultoras mudaram suas casas de lugar, buscando a proximidade com uma fonte de água, às vezes formando aglomerados de casas, chamado de nucleação (Galizoni, 2003). Em casos onde isso não foi possível, muitas delas deixaram o meio rural, impedidas de produzir e sem água até para o consumo. É comum ao se andar pelas comunidades da região, avistar-se casas abandonadas, em locais onde um dia já viveram famílias.

Por isso, além da discussão sobre o uso da água para produção ou energia, apresentada nessa comunidade específica, dois aspectos são essenciais a serem discutidos em relação às populações rurais e os recursos hídricos.

O primeiro deles diz respeito aos sistemas agrários utilizados para produção por essas populações4. Historicamente, elas desenvolveram sistemas agrários com base em conhecimentos apurados do meio ambiente, levando em consideração tipos de solos, vegetação, disponibilidade de chuvas, etc. Sistemas intensivos em trabalho e saber. No entanto, a introdução de novas técnicas produtivas, incentivadas por organizações externas, trouxeram novas variáveis ainda não experimentadas por esses agricultores. Mesmo frente à aparente abundância de água na comunidade, esses sistemas têm demonstrado dificuldades de adaptação. Assim, para a continuação da produção através da irrigação mecanizada, ou para a continuação da criação de peixes, em muitos casos seria necessária a aplicação de tecnologias que tornariam o processo produtivo insustentável.

Por isso, torna-se imprescindível a valorização do conhecimento camponês, e a incorporação de suas técnicas por essas organizações, de modo que se criem novas técnicas produtivas adaptadas às condições ambientais locais, através de experimentações e ajustes também locais.

O segundo ponto refere-se à urgência de ações afirmativas que visem a sensibilização e a ação com vistas à conservação dos recursos hídricos nessas comunidades. Partindo do secamento de nascentes e córregos, a já anunciada diminuição da vazão do córrego Boa Vista pode agravar-se, visto que seu abastecimento depende das águas vindas dessas fontes que fracassaram.

4

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Diversas foram as causas apontadas pelas famílias entrevistadas para a redução da disponibilidade de água em Boa Vista. O principal fator, ou seja, mais citado como responsável pela diminuição das águas, é a falta de chuvas, fator que foge à vontade humana e que os moradores não podem influenciar, nem solucionar de forma direta. Mas outros fatores referem-se a intervenções diretas do homem no ambiente, e podem ser mudados. Neste aspecto destaca-se a percepção dos moradores no que se refere ao desmatamento, à construção de poços artesianos, à presença de carvoeiras e plantações de eucalipto, todos esses, fatores que ocorrem próximos às cabeceiras do córrego Boa Vista e de algumas nascentes, conforme pode ser visto na TABELA 3.

Tabela 3.

Causas da diminuição da água, segundo a comunidade

Causas nº de citações por famílias

Falta de chuva 13

Desmatamento 8

Poço artesiano 6

Carvão na chapada 5 Eucalipto na chapada 3 Roda d’água acima da turbina 2 Queimadas na chapada 1

Irrigação 1

Tirada de água em rego 1

Essas atividades são desenvolvidas também pelos agricultores, que apresentam alternativas para a melhoria da disponibilidade de água, como a implementação de práticas de preservação das fontes de água disponíveis e o desenvolvimento de formas de armazenamento de água, que podem auxiliar a produção. No entanto, em sua grande maioria são desencadeadas por atores externos à comunidade. Ações prejudiciais, como a construção de poços artesianos e desmatamentos, na maioria das vezes são desenvolvidas por empresas reflorestadoras, fazendeiros, etc., com a permissão dos órgãos ambientais responsáveis.

Assim, percebe-se a necessidade de um movimento em duas direções. Uma que passa pela conscientização e auto-organização das comunidades para a mudança de atitudes frente ao ambiente, e para o enfrentamento de problemas gerados externamente. Outra que requer a maior atenção de órgãos como IBAMA, IEF, etc, para os problemas surgidos de práticas nocivas ao meio, percebidos e denunciados por agricultores tradicionais que vivenciam o ambiente natural em seu dia a dia, trazendo contribuições práticas interessantes à conservação ambiental5.

7. Considerações finais:

A relação entre populações rurais e recursos hídricos passa por normas e costumes construídos e experimentados ao longo dos tempos, incluindo a elaboração de acordos internos em busca de um uso sustentável e igualitário desses recursos. Problemas ambientais são percebidos pelos agricultores familiares, mesmo em casos onde a percepção geral é diferente. No caso de Boa Vista, mesmo sob uma reputação de fartura, os agricultores e

5

Sobre as contribuições de agricultores à ciência ver Gómez-Pompa e Kaus (2000) Fonte: Pesquisa de campo, 2003

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agricultoras percebem as modificações em relação à disponibilidade dos recursos hídricos, apontando suas causas e possíveis soluções. Isto é possível devido aos laços diretos estabelecidos com estes recursos, necessários à sua sobrevivência e reprodução.

Partindo das constatações da pesquisa, coloca-se a necessidade de se pensar sistemas produtivos adaptados e ações de conservação dos recursos hídricos junto às populações rurais. Por isso, o trabalho de organizações de apoio, como centros e agricultura e outras Ongs, deve estar pautado no diálogo e valorização de saberes e técnicas locais, que venham a propiciar uma produção satisfatória e a garantia da sustentabilidade da água.

A importância dada pelas famílias agricultoras às nascentes traz importante substrato a ações de mobilização e sensibilização em relação à sua conservação. Disso podem surgir processos de organização que visem a articulação desses agricultores para a consecução de resultados extra-comunidade, como a fiscalização e punição de ações prejudiciais aos recursos hídricos. Para isso torna-se essencial que essas populações tenham seu saber valorizado, e que sejam considerados como sujeitos para uma gestão eficiente dos recursos hídricos.

8. Referências bibliográficas:

- ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo-Rio de Janeiro-Campinas: Editora Hucitec-ANPOCS-Editora da UNICAMP, 1992.

- BOSERUP, E, Evolução agrária e pressão demográfica. São Paulo: Hucitec/Polis, 1987.

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Referências

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