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Influências da exposiçãp ao fumo do tabaco: consequências no desenvolvimento, crescimento da criança e em patologia

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Influências da Exposição ao Fumo de Tabaco: Consequências

no Desenvolvimento, Crescimento da Criança e em Patologia

Influences of Exposure to Tobacco Smoke: Implications for Development and Growth of the Child and Pathology

S Figueiredo

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto Centro Hospitalar do Porto, EPE - Hospital de Santo António

Estudante do sexto ano profissionalizante, Medicina

T Borges, MD

Serviço de Pediatria

Centro Hospitalar do Porto, EPE - Hospital de Santo António Especialista Pediatra

Endereço para correspondência e requisição de cópias/ Address correspondence and reprint requests to: S Figueiredo, Travessa do Janeleiro, nº11, Abraveses, Viseu, 3515-107 Viseu

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Resumo: Influências da Exposição ao Fumo de Tabaco: Consequências no

Desenvolvimento, Crescimento da Criança e em Patologia

Na Europa, cerca de dois terços das mulheres fuma durante a gravidez, de forma activa

ou passiva, e cerca de quatro em cada cinco crianças estão expostas ao fumo de tabaco ambiental (FTA) em espaços fechados. Nestes espaços, a concentração de partículas aspiráveis em suspensão é duas a três vezes superior caso se fume. O momento de exposição pode ser pré-natal (com a mãe fumadora activa ou passiva), pós-natal ou uma associação de ambos. A criança está mais vulnerável que o adulto à exposição ao FTA e ao desenvolvimento de patologias relacionadas, por motivos fisiológicos e comportamentais. As consequências da exposição ao FTA podem ocorrer no período pré-natal (placenta prévia, placenta abrupta, malformações congénitas, gravidez ectópica, parto pré-termo, baixo-peso, etc.), e período pós natal (asma, infecções respiratórias, neoplasias linfóides, perturbações comportamentais, etc.). A resolução deste problema passa pela redução da exposição da criança ao FTA. Este objectivo pode ser obtido por diversas estratégias, desde campanhas de sensibilização para grandes massas e leis de proibição do consumo tabágico em espaços fechados, à sensibilização dos pais feita directamente pelo médico e/ou pessoal especializado.

Summary: Influences of Exposure to Tobacco Smoke: Implications for Development

and Growth of the Child and Pathology

In Europe, about two thirds of women smoke during pregnancy, either actively as passively, and about four out of five children are exposed to the environmental tobacco smoke (ETS) in closed environments. Within these spaces, whenever there is smoking activity, the concentration of suspended particles that may be breath in is two to three times higher. The exposure to ETS may happen during the pre-natal period (mother

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being active or passive smoker), post-natal period or both. For physiological and behavioural reasons, children are more vulnerable than adults to the exposure to ETS and to the development of ETS exposure-related pathologies. The consequences of the exposure to ETS may occur during the prenatal moment (planceta previa, abruptio placenta, congenital malformations, ectopical pregnancy, preterm birth, low-weight newborn, etc.) and postnatal moment (asthma, respiratory infections, lymphoid cancers, behavioural disturbances, etc.). The solution to this problem lives within the reduction of children’s subjection to ETS exposure. This goal may be achieved by several strategies, namely crowd-directed sensitizing advertisements and closed environment tobacco consumption restriction laws, as well as parental-directed intervention, made by the physician and/or specialized personnel.

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Introdução

O conceito de “fumo de tabaco ambiental” (FTA) define-se como sendo a mistura do fumo exalado pelo indivíduo fumador associado ao proveniente da queima directa do cigarro, após o qual é inalado por não fumadores. É composto por mais de 3800 químicos diferentes, alguns dos quais carcinogénicos. A concentração de partículas em suspensão passíveis de serem aspiradas (<2,5µm) pode ser duas a três vezes superior em habitações onde se fuma comparada com habitações onde não se fuma1.

Em 2007, o Relatório de Controlo de Tabaco Europeu (The European Tobacco Control Report), elaborado pela divisão europeia da Organização Mundial de Saúde, anunciava uma proporção de 28,6% de fumadores na Europa2. Uma maior percentagem cabia ao sexo masculino (40%, no total de homens), relativamente ao sexo feminino (18,2%, no total de mulheres)2. Em Portugal, apenas existem dados para o sexo masculino, com uma redução de 2,1% entre 2002 e 2005 (39,1% para 37%, respectivamente)2.

Conhecendo-se a maior prevalência de fumadores, e dificuldade na cessação tabágica entre aqueles que se iniciam em idades mais jovens, a realidade portuguesa é preocupante. Para jovens de 15 anos, a prevalência de fumadores no sexo masculino diminuiu 5% entre 1999 e 2002 (de 19% para 14%), mas no sexo feminino aumentou em 8,6% (de 17,6% para 26,2%)2.

Mesmo com recentes medidas de combate ao tabagismo e à exposição ao FTA (Lei n.º 37/2007, que consiste na restrição ao consumo em espaços fechados), este continua a representar risco para a população geral e, particularmente, para a criança3.

Na criança a exposição ao FTA pode acontecer no período pré-natal, pós-natal ou, mais frequentemente, em ambos. No período pré-natal, a mãe pode ser fumadora activa ou passiva, situação última que se assemelha a um consumo activo moderado. No período pós-natal, a criança está directamente exposta ao fumo de outros, maioritariamente

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dentro de casa mas também noutros espaços fechados. A exposição pode ainda dar-se durante o aleitamento, com passagem da nicotina via leite materno, ou até pela proximidade física com elementos fumadores, cujas roupas apresentam detritos do consumo de tabaco4.

Na Europa, entre 20% a 30% das mulheres fumam activamente durante a gravidez, sendo que das restantes não fumadoras, metade delas está exposta ao FTA5. No mesmo continente, a percentagem de crianças expostas ao FTA em casa é de 77,8%, e em edifícios públicos 86,1%6.

A maior vulnerabilidade da criança assenta em propriedades fisiológicas e comportamentais. Fisiologicamente, a criança apresenta maior frequência respiratória, menor capacidade de excreção de toxinas (variável conforme a fase de crescimento em que se encontra) e imaturidade dos sistemas nervoso, respiratório e reprodutor, que no seu rápido desenvolvimento estão mais sujeitos ao aparecimento de patologia. A nível comportamental existe uma menor consciência do risco de exposição e menor capacidade de evitar a exposição ao FTA3.

Esta revisão bibliográfica foca os efeitos da exposição ao FTA na saúde da criança (crescimento, desenvolvimento, patologia) e baseia-se numa pesquisa feita através da PubMed, de publicações científicas publicadas entre 1994 e Março de 2009. As palavras-chave utilizadas foram “Environmental Tobacco Smoke” (ETS), “Tobacco Smoke Pollution”, “Smoking”, “Pregnancy”, “Fetus”, “Child”, “Adolescent”, “Growth & Development”, “Respiratory”, “Cancer”, bem como citações feitas aos artigos seleccionados.

Apesar de crescente, o número de estudos sobre as consequências à exposição ao FTA é ainda insuficiente, particularmente numa situação pós-natal. É essencial a continuação

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destes estudos com vista à realização de programas de saúde que protejam desta exposição tanto o feto como a criança.

A quantificação da exposição ao FTA pode ser estimada através de questionários individuais, pela monitorização de substâncias particuladas/nicotina em suspensão aérea em ambientes fechados, e pela biomonitorização dos níveis de cotinina (o maior metabolito da nicotina, com elevadas sensibilidade e meia-vida). Em crianças, os níveis de cotinina urinária e salivar, bem com de nicotina capilar, são maioritariamente provocados pelo consumo de tabaco materno7.

Período Pré-Natal

O acto de fumar materno numa situação pré-concepcional e pré-natal influencia negativamente o processo da gravidez. A nicotina induz a libertação de adrenalina e noradrenalina no sangue materno, com diminuição da irrigação placentar8. Valores elevados de carboxihemoglobina, detectados em mães fumadoras activas ou passivas, foram também detectados no feto. A placenta não garante protecção contra a passagem de nicotina e outras substâncias particuladas, facto confirmado pelo aumento dos valores de cotinina no líquido amniótico aquando mãe fumadora activa ou passiva9. Quanto maior o tempo de exposição, maior o risco para o desenvolvimento de placenta prévia, placenta abrupta, malformações congénitas, gravidez ectópica e parto pré-termo (idade gestacional inferior a 37 semanas)10. Os partos pré-termo estão associados a uma maior taxa de mortalidade infantil (com especial relevo para o Síndroma de Morte Súbita Infantil) e outras complicações (atraso cognitivo e motor, maior risco de infecção, asma).

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Uma mulher grávida fumadora activa compromete o peso do recém-nascido em cerca de 250g11. O risco de nascimento com um baixo percentil de perímetro cefálico aumenta, algo que contrariamente à recuperação de peso e estatura, persiste inferior ao normal até que a criança atinja os cinco anos de idade4. A fumadora passiva, acarreta para o seu feto um risco de 20% de restrição ao crescimento intra-uterino, e a uma redução do peso do recém-nascido entre 25g e 100g12. Indivíduos nascidos com baixo peso apresentam, já em idade adulta, maior risco de desenvolvimento de doença coronária, acidente vascular cerebral, hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, insulino-resistência, dislipidémia, e pubarca precoce13.

Com a recente entrada em vigor da lei anti-tabágica para espaços comerciais fechados (mas não residenciais), será de esperar uma redução no número de recém-nascidos de baixo peso e menor número de partos pré-termo.

Período Pós-Natal

Patologia de Foro Respiratório

Uma criança exposta ao FTA, em período pré ou pós-natal, apresenta um risco superior de comprometimento da normal função respiratória, bem como o aparecimento e aumento de intensidade e frequência de sintomas respiratórios8.

Numa amostra de 22712 crianças, Moshammer et al relataram uma associação entre o consumo materno durante a gravidez e uma diminuição de todos os parâmetros da função pulmonar, com excepção da capacidade vital forçada. Após correcção para factores de confundimento, as reduções observadas foram desde 0,9% para o volume expiratório forçado no primeiro segundo (FEV1) a 5,1% para o fluxo expiratório

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forçado a 25% (FEF25). Até aos dois anos de idade, a exposição ao FTA causou uma redução de FEV1 em 0,3%, e uma redução de FEF25 em 0,6%14.

Jaakkola e Gissler, num estudo de coorte em que foram seguidas 58841 crianças finlandesas nascidas a 1987, verificaram que ao longo de sete anos, o risco de desenvolvimento de asma aumenta em concordância com o consumo tabágico materno pré-natal15. Para um consumo de menos de 10 cigarros diários, o risco está 25% acrescido (Razão de Probabilidades (RP) =1,23; Intervalo de Confiança (IC) 95%), enquanto que para mais de 10 cigarros diários, 36% (RP=1,35; IC 95%)15.

Cook e Strachan encontraram relação entre o diagnóstico clínico de asma e a exposição da criança ao fumo dos pais (RP=1,21; IC 95%). Observaram também que apesar da ocorrência de asma ser mais frequente quando a mãe é fumadora, existe relação estatisticamente significativa quando o único elemento fumador é o pai da criança. Tal sugere que a exposição pós-natal é relevante16.

Para crianças diagnosticadas com asma, a exposição ao fumo dos pais está associada a uma maior ocorrência de crises de asma. Existe redução do número dos mesmos caso a exposição seja reduzida4.

A explicação desta associação poderá assentar no efeito irritante das substâncias particuladas, bem como situações de hiperreactividade brônquica, alterações da normal função pulmonar, e aumento da sensibilidade a substâncias alérgicas.

A exposição da criança ao FTA está associada a uma maior frequência de hospitalizações por infecção do tracto respiratório. Num estudo observacional prospectivo com 926 crianças, Ladomenou et al verificaram que as crianças expostas ao FTA exalado pelos pais apresentavam uma superior frequência de infecções (P=0,025) e

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hospitalizações por infecção (P=0,007)1. Verificaram também que o aleitamento materno exclusivo actua como factor protector para infecções (RP=0,982; P=0,036), e hospitalizações por infecção (RP=0,980; P=0,036), numa criança exposta1. A proximidade ao indivíduo fumador influencia o risco de hospitalização por infecção, como demonstram Blizzard et al, num estudo de coorte realizado a partir de uma recolha feita na Tasmania entre 1988 e 199517. Numa amostra de 4486 crianças no seu primeiro ano de vida, foram observados riscos de hospitalização por infecção respiratória superiores e de intensidade crescente quando a mãe fumou na mesma divisão (RP=1,56; IC 95%), com a criança ao colo (RP=1,74; IC 95%), e durante o acto de aleitamento (RP=1,97; IC 95%)17.

Muito embora a incidência de bronquiolite por vírus sincicial respiratório não pareça aumentar com a exposição ao FTA, numa situação de doença os valores médios de saturação de oxigénio são inferiores para as crianças expostas (89,8% contra 92,2% em não expostos; P=0,01), o que agrava o quadro clínico da doença18.

Cook e Strachan descreveram uma relação entre a exposição ao FTA e uma prevalência aumentada de pieira (RP=1,24; IC 95%), tosse crónica (RP=1,40, IC 95%) e expectoração crónica (RP=1,35; IC 95%). A prevalência aumentava caso ambos os pais fossem fumadores (RP=1,47; 1,67; 1,46, respectivamente; IC 95%) e para pieira e tosse crónica continuava superior ao normal caso apenas o pai fosse fumador (RP=1,14; 1,21 respectivamente; IC 95%)16.

Apesar de estudos anteriores não verificarem associação entre a exposição ao FTA e o aparecimento de patologia alérgica, Johansson et al observaram uma maior prevalência de rinite em crianças expostas (RP=1,24; IC 95%), no período pós-natal19. De et al

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descrevem também uma maior prevalência de obstrução nasal em crianças expostas, sem que no entanto haja rinite alérgica20.

Contrariamente a estudos anteriores, Johansson et al não encontraram uma associação clinicamente significativa entre o desenvolvimento de otite média e a exposição ao FTA. Os resultados obtidos ocorrem após correcção feita para o nível sócio-económico, uma vez que a incidência de otite média é superior para um nível sócio-económico baixo19.

Síndroma de Morte Súbita do Lactente

O Síndroma da Morte Súbita do Lactente (SMSL) é definido como a morte súbita e inexplicada de uma criança com menos de um ano de idade, sem qualquer diagnóstico de doença fatal após realização de autópsia. É a causa mais comum de morte infantil nos países industrializados, para crianças com mais de um mês e menos de um ano21.

A exposição ao FTA, quer no período pré-natal, pós-natal, ou ambos, aparece associada a um maior risco de SMSL, numa relação dose-resposta.21. Anderson e Cook demonstraram que a concentração de nicotina no tecido pulmonar das crianças falecidas com SMSL estava aumentada, o que apoia a associação entre SMSL e exposição pós-natal ao FTA. Segundo os mesmos autores, o risco de SMSL aumenta cerca de duas vezes caso a criança esteja exclusivamente sujeita ao FTA no período pós-natal (RP=1,94; IC 95%)21.

Embora o mecanismo desencadeador deste fenómeno não esteja ainda definido, julga-se que tal esteja relacionado com perturbações ao normal desenvolvimento do sistema nervoso a nível de controlo cardio-respiratório e reacção a estados de hipoxia21. Quando comparadas com crianças falecidas por outras causas, aquelas falecidas por SMSL

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apresentam maior concentração de nicotina no tecido pulmonar, o que faz supor que a exposição ao FTA, mais concretamente à nicotina, é responsável pela agressão ao sistema nervoso. Ao contrário de substâncias lesivas como o monóxido de carbono, o benzeno e a acroleína, a única proveniência lógica da nicotina é o fumo de tabaco21. Contudo, este mecanismo não é capaz de identificar qual o momento de exposição, uma vez que apesar de a nicotina poder atravessar a placenta durante os períodos de maior diferenciação orgânica com consequente neurotoxicidade, durante o período pós-natal ainda ocorre desenvolvimento do sistema nervoso, sendo que a nicotina pode ser absorvida do FTA. Independentemente do momento, o modelo prevê que as lesões neurológicas culminem numa maior ocorrência de apneia central21.

Outra explicação consiste na irritação das vias aéreas, ou a infecção das vias aéreas inferiores, durante o período pós-natal. Indirectamente, tal poderá também explicar o maior risco de SMSL5.

Patologias Neoplásicas

Durante a exposição ao FTA, parte deste fumo é proveniente da lenta combustão do cigarro, com maior concentração de substâncias carcinogénicas. No adulto, a exposição ao FTA está associada a um risco aumentado de desenvolvimento de cancro do pulmão22.

Em meta-análises realizadas por Boffetta et al, ficou sugerido um risco ligeiramente superior para desenvolvimento de neoplasia caso exista exposição pré-natal (Risco Relativo (RR) =1,10; IC 95%). Contudo, não se verificou destaque de qualquer tipo de neoplasia. Tal poder-se-á dever à presença de factores confundidores e introdução de viés22.

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Os mesmos autores observaram uma associação entre o consumo paterno e o aparecimento de neoplasias do sistema nervoso central (RR=1,22; IC 95%), leucemia linfoblástica aguda (RR=1,17; IC 95%) e linfomas não Hodgkin (RR=2,08; IC 95%). Uma explicação possível para esta discrepância poderá ter génese no período pré-concepcional, no progenitor masculino22. O mesmo é sugerido por Chang et al, que para um consumo paterno pré-concepcional verificaram maior risco de desenvolvimento de leucemia mielóide aguda (RP=3,84; IC 95%) e leucemia linfoblástica aguda (RP=1,32; IC 95%)23.

Não se conhece risco aumentado para o aparecimento de cancro do pulmão, neoplasias renais, oftálmicas, endócrinas e sarcoma de Ewing22.

Alterações do Neurodesenvolvimento

O consumo de tabaco por parte da mãe durante o período pré ou pós-natal está associado a uma maior ocorrência de perturbações comportamentais.

Enquanto recém-nascido, a exposição pós-natal ao FTA relaciona-se com um maior número de episódios de irritabilidade, tais como choro excessivo, agitação, reacção de desagrado à fralda e menor atenção ao jogo24. A exposição pré-natal está associada a quadros de hipertonicidade e tremor24.

Para uma criança em idade pré-escolar, a exposição tanto pré como pós-natal resulta numa maior exteriorização de problemas comportamentais, tais como oposição fácil, pedidos exagerados de atenção, variações de humor, instabilidade emocional e agressividade física, independentemente da saúde mental dos pais25. A justificação deste fenómeno parece ser uma alteração ao normal desenvolvimento do SNC provocada por hipoxia (no feto) e pela actuação da nicotina nos receptores de neurotransmissores (na criança), com aparecimento de anomalias nos processos de proliferação e diferenciação

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celular25. Estas perturbações tomam continuidade para a adolescência24. Nigg e Breslau verificaram existir uma associação entre a exposição pré-natal e o desenvolvimento de perturbação de oposição. Verificaram também uma associação para com perturbação de conduta, sugerindo que esta será uma evolução da perturbação de oposição26. Um risco aumentado de diagnóstico de perturbação de hiperactividade com défice de atenção nos indivíduos cuja mãe fumou durante a gravidez (OR 2.39, P<0,001) foi demonstrado por Langley et al27.

Quanto ao desenvolvimento cognitivo, Batty et al observaram que quando a mãe fumou durante a gravidez, os valores de inteligência mensuráveis pelo Quociente de Inteligencia de Stanford-Binet foram inferiores 1,73 pontos caso o consumo fosse inferior a 20 cigarros por dia, e 2,87 pontos caso fosse superior a 20 cigarros por dia28. Hawley et al demonstraram existir associação entre sono fragmentado por roncopatia e exposição pós-natal ao FTA (P=0,005). Verificaram também uma associação entre um sono fragmentado por roncopatia e uma menor capacidade cognitiva (P=0,011)29.

Conclusão

Desde 1 de Janeiro 2008 que a entrada em vigor da Lei n.º 37/2007 proíbe o consumo de tabaco na maioria dos espaços públicos, resultando numa protecção de todos os indivíduos à exposição ao FTA. Contudo, a mesma lei não contempla o espaço doméstico, local onde a exposição da criança é mais frequente. A impraticabilidade de criar uma lei que funcione no domínio doméstico obriga a uma outra solução. Esta é de carácter preventivo, e idealmente procurará a cessação tabágica em período pré-concepcional, muito embora o consumo feito fora da presença da criança seja um objectivo aceitável7.

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Gehrman e Hovell, numa revisão de 19 estudos com análise de medidas de redução da exposição ao FTA, analisaram os resultados obtidos face à estratégia aplicada. Para o local onde a intervenção é realizada, os autores dão preferência ao contacto médico-doente, colocando os médicos pediatras em posição privilegiada. O contacto médico destes com pais jovens é superior ao tido por qualquer outro médico especialista, uma vez que a procura de assistência médica é relativamente rara para a faixa etária considerada. O indivíduo fumador atribui também mais autoridade e credibilidade ao médico do que aos familiares, amigos, legislação anti-tabágica, agravamento de impostos sobre os produtos de tabaco, anúncios anti-tabágicos, entre outros. Existe inclusive expectativa dos pais fumadores para que o médico aborde o assunto. Contudo, e apesar de não ter sido possível estabelecer uma conclusão definitiva, o sucesso da abordagem anti-tabágica foi superior quando a mesma era feita por pessoal especializado em visita à casa dos pais, situação em que o contacto entre pessoal médico e pais era mais frequente. Pôde-se no entanto concluir a importância desta estratégia, e o eventual sucesso caso a intervenção aconteça nos dois ambientes30.

Os mesmos autores observaram existir uma maior taxa de sucesso sempre que era oferecido aconselhamento, fundamentado teoricamente, sobre como reduzir ou cessar o consumo. Nos estudos em que apenas se procurou o alarme, com descrição dos malefícios do consumo de tabaco, o grau de sucesso foi inferior. Verificaram também existirem iguais índices de sucesso na sensibilização dos pais para o risco da criança, independentemente de esta ser saudável ou, por exemplo, asmática, o que substancia uma intervenção médica igualmente intensiva aos pais de todas as crianças30.

O simples facto de ser possível reduzir a exposição da criança ao FTA justifica esta abordagem, com vantagens a curto, médio e longo prazo. Para além da criança, também os pais saem beneficiados com o fim do consumo de tabaco, motivo pelo qual o sucesso

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das intervenções de cessação tabágica neste contexto deva ser tido cada vez mais em conta como importante medida de saúde pública.

Agradecimentos:

O autor gostaria de agradecer ao Prof. Doutor Tojal Monteiro pelo apoio aquando escolha do tema.

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Referências

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