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Tô na rua mas não sou sua: uma intervenção urbana que fala sobre o assédio sexual sofrido pelas mulheres nos locais públicos

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

PRODUÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA

LARISSA NOVAIS BORBA

TÔ NA RUA, MAS NÃO SOU SUA

UMA INTERVENÇÃO URBANA QUE FALA SOBRE O ASSÉDIO

SEXUAL SOFRIDO PELAS MULHERES NOS ESPAÇOS PÚBLICOS.

Salvador

2016

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LARISSA NOVAIS BORBA

UMA INTERVENÇÃO URBANA QUE FALA SOBRE O ASSÉDIO

SEXUAL SOFRIDO PELAS MULHERES NOS ESPAÇOS PÚBLICOS.

Memória do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado do Curso de Comunicação Social da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom – UFBA) como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação – Habilitação em Produção em Comunicação em Cultura.

Orientadora: Profª. Drª. Carla de Araujo Risso

Salvador

2016

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LARISSA NOVAIS BORBA

TÔ NA RUA, MAS NÃO SOU SUA

UMA INTERVENÇÃO URBANA QUE FALA SOBRE O ASSÉDIO

SEXUAL SOFRIDO PELAS MULHERES NOS ESPAÇOS PÚBLICOS.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Carla de Araujo Risso (Orientadora) __________________________________________________ Profa. Dra. Leonor Graciela Natansohn (Avaliadora interna) __________________________________________________

Prof. Dr. Fabio Sadao Nakagawa (Avaliador interno) __________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Lindaura, pelo amor incondicional e pela sua luta diária para que eu tivesse uma boa formação educacional e pessoal. Ao meu pai, que me desafiou a ser quem eu sou.

Aos meus amigos de colégio – Leandro Mendes, Thais Garcia, Dário Junior e Ana Carolina –, que me incentivaram na escolha do curso e que nunca saíram do meu lado, me apoiando em todos os momentos desde o vestibular.

Da Facom, agradeço especialmente aos meus amigos Naiana e Ian, que me seguraram em todas as dificuldades e celebraram todas as minhas vitórias. Obrigada por aturarem meus dramas, meu nervosismo e minha intensidade. Aos outros amigos que convivi, em especial, Mary, Berg, Tiago Dias e Lucas Seixas. Vocês foram essenciais nessa minha caminhada.

Agradeço a Sergio Sobreira e Leonardo Costa, que foram meus mentores desde o primeiro momento na faculdade e me ensinaram muito sobre a Produção Cultural, a Comunicação e sobre como lidar com os desafios profissionais, acadêmicos e pessoais. Sem vocês, então, não teria aprendido metade do que sei nessa minha formação. Também serei eternamente grata a Carla Risso, que apareceu no final da minha graduação mas deixou marcas, acreditando na minha proposta e me dando todo o suporte necessário para que o projeto acontecesse da melhor maneira possível.

Às pessoas que encontrei nas minhas experiências profissionais, principalmente na Produtora Junior e Benfeitoria, que me mostraram que, quando você ama o que você faz, o trabalho gera bons frutos e desenvolve além do profissional, lhe desenvolve como pessoal.

Durante os anos de Faculdade, me prometi que nesse momento também agradeceria ao Rodoviária A, o ônibus que me levou até a faculdade e me trouxe para casa todos os dias ao longo dessa jornada. Rodô, criei uma relação de afeto e sem você esse caminho não seria possível!

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Agradeço a Natália Cunha e Carla Galrão, que me acompanharam durante os três dias de intervenção, me dando força para escutar os relatos coletados das mulheres que andavam pelo local e nas conversas com os homens nas ruas. A Dudu Assunção, que com toda a sua experiência de rádio me orientou sobre como usar os relatos para impactar mais pessoas e a Driele Coutinho, que deu identidade ao projeto com os seus poderes de designer.

Por fim, agradeço a todas as mulheres que disponibilizaram suas vozes e compartilharam as suas dores para que o projeto acontecesse. Meninas, sem vocês nada disso seria possível e aqui fica o meu mais sincero agradecimento!

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BORBA, Larissa. Tô na Rua, mas não sou sua. Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia. Salvador. 2016.

RESUMO

Este memorial busca detalhar e expor as etapas do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Comunicação Social com habilitação em Produção em Comunicação e Cultura da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA). O trabalho final resulta em uma instalação cultural na Praça Campo Grande, a qual foi ocupada com um totem que expunha relatos de assédio sexual nas ruas da cidade, o lançamento do site disponível em www.tonarua.co e a produção de vídeo como registro da intervenção. O projeto tem como principal objetivo discutir o assédio e potencializar o alcance da voz feminina através da ocupação do espaço público soteropolitano.

Palavras-chave: Assédio Sexual, Feminismo, Direito da Mulher, Visibilidade, Intervenção Cultural, Ocupação Urbana.

                                                 

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  LISTA DE FIGURAS Imagem 01 ... 29 Imagem 02 ... 30 Imagem 03 ... 32 Imagem 04 ... 33 Imagem 05 ... 34 Imagem 06 ... 35 Imagem 07... 36 Imagem 08 ... 37 Imagem 09 ... 37 Imagem 10 ... 38 Imagem 11 ... 38 Imagem 12 ... 39 Imagem 13 ... 39 Imagem 14 ... 40 Imagem 15 ... 41 Imagem 16 ... 43 Imagem 17 ... 45 Imagem 18 ... 46 Imagem 19 ... 47 Imagem 20 ... 47 Imagem 21 ... 48 Imagem 22 ... 49 Imagem 23 ... 51 Imagem 24 ... 52

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ... 10

2. REFERENCIAL TEÓRICO ... 12

2.1.ALUTAFEMINISTA ... 12

2.2.VIOLÊNCIACONTRAAMULHER ... 15

2.3.OASSÉDIONARUA ... 20

2.4.MARKETINGDEGUERRILHAEAÇÃOCULTURAL ... 22

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 26 3.1.PROJETOCULTURAL ... 26 3.2EXECUÇÂODOPROJETO ... 29 3.2.1. COLETANDO RELATOS: ... 29 3.2.2 DESIGN: ... 31 3.2.3 CAPTAÇÃO RECURSOS ... 33 3.2.4. INSTALAÇÃO ... 39 3.2.5. SITE ... 50 3.2.6. VÍDEO ... 52 3.3.REPERCUSSÃO ... 53 3.3.1.FACEBOOK ... 53 3.3.2MÍDIA ... 57 3.4.PARCERIA ... 65 3.5.PRESTAÇÃODECONTAS ... 66 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 68 ANEXOS: ... 70 REFERÊNCIAS: ... 75                    

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1. INTRODUÇÃO

Este é um projeto que une mulheres, resistência, lutas, dores e convicções, fortalecido tanto na sua execução quanto na nossa vivência diária. A instalação cultural Tô na rua, mas não sou sua surge com uma inquietação pessoal de usar a cultura e o espaço urbano para gerar reflexão sobre o assédio sexual nas ruas, sofrido pelas mulheres cotidianamente. Esse Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apesar de ter sido pensado para dar voz às mulheres e gerar visibilidade e identificação com os casos de assédio, também se direciona para os homens, como tentativa de gerar questionamentos e incômodo sobre esse tipo de violência. Com o principal objetivo de escutar e dar voz às mulheres de diferentes perfis e percepções, foi aberto um formulário para conhecer diferentes casos. A partir de uma primeira análise de dados e do apoio recebido, pude perceber que a vontade das mulheres de expor as suas histórias e suas angustias é algo comum e bastante presente, dando-me uma motivação ainda maior para a execução desse trabalho.

Pessoalmente, o assédio sexual nas ruas é algo que me afeta profundamente como mulher. Todos os dias somos obrigadas a lidar com piadas, olhares, toques indesejados e comentários obscenos e que, por muitos, são entendidos como elogios e brincadeiras. Por acreditar que nada disso é normal ou aceitável, costumo ter reações que me põem em risco e, com os casos coletados, percebi que é uma atitude comum a várias outras mulheres. Dessa forma, é cada vez mais importante pensar em ações que descontruam esse comportamento como algo inofensivo.

Minha experiência acadêmica e profissional, assim como as minhas convicções pessoais, justificam a minha escolha pelo tema e formato de trabalho. Além da intervenção cultural, o projeto se estendeu para uma plataforma online, disponibilizada no link www.tonarua.co e registro em vídeo, pretendendo aumentar o alcance do público: tanto das mulheres, que desejam ser ouvidas, quanto dos homens, que terão o conteúdo forma mais acessível.

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Durante a minha graduação, busquei me envolver em diferentes campos da produção cultural. No âmbito acadêmico, participei de duas pesquisas; trabalhei na Produtora Junior, onde pude desenvolver habilidades pessoais e adquirir competências de produção e execução de projetos culturais; estagiei na Fundação Cultural do Estado da Bahia e Centro de Artes da UFF, onde pude compreender melhor os aspectos do setor público.

Em 2014, comecei a trabalhar na Benfeitoria, uma plataforma de financiamento coletivo (crowdfunding), que tem como objetivo viabilizar projetos de impacto e, internamente, buscar o fomento de uma cultura humana e colaborativa, unindo o trabalho ao propósito. Como já tenho experiência na elaboração de campanhas, optei por essa forma de financiamento para a execução deste projeto. Dentro da empresa, tive contato com diferentes iniciativas que usavam o crowdfunding como forma de financiamento e que abordavam temas importantes para a desconstrução de diversos aspectos da sociedade. Isso despertou em mim a vontade de executar projetos próprios que juntassem as minhas competências de produção cultural, desenvolvidas ao longo da minha graduação, a minha inquietação e luta diária contra o assédio sexual nas ruas.

Nessa experiência profissional, tive a oportunidade de aprender sobre desenvolvimento de ferramentas online, estratégias de mobilização de rede e potencial de alcance das ferramentas digitais, assim como gestão e suporte a diferentes campanhas e projetos culturais.

Diante de minha trajetória, a construção deste projeto experimental se deu para unir o propósito da conquista do espaço da mulher ao desejo de trabalhar com o que gosto: produção de intervenções e projetos culturais. A ideia de usar o espaço urbano veio da percepção de que é nesse lugar que, quantitativamente, acontecem mais casos de assédio.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. A LUTA FEMINISTA

Para entender a construção da abordagem no produto final, é fundamental compreender o percurso histórico da luta feminista, analisando as origens das construções sociais existentes e as conquistas obtidas ao longo da história.

Para isso, foi feito o uso do livro Os Frutos da Revolução Feminina, de Débora Alves Souza, um livro-reportagem que analisa o panorama da situação da mulher contemporânea ocidental nos seus diferentes âmbitos, como o familiar, profissional, escolar etc. No obra, a autora se apropria e analisa o tema de uma maneira geral e, por fim, apresenta dados e problematiza casos baianos.

Segundo a autora, a luta da mulher é marcada por grandes mudanças e avanços ao longo dos últimos anos. Com a luta feminista, a mulher se alfabetizou, teve alguns direitos reconhecidos, ganhou espaço no mercado do trabalho. Porém, apesar dos avanços, ainda convivemos com a ideia da mulher como “sexo frágil”, que é uma construção social existente desde os primórdios da sociedade.

A historiadora, educadora e feminista Liz Motta, que é uma das entrevistadas no livro, justifica a dificuldade da desconstrução dessa ideia e de mudança de hábitos:

[...] via de regra, quem cria o filho é a mulher e 90% das mulheres são machistas. A cultura é muito arraigada e por isso mesmo, sendo feminista e esclarecida, eu duvido que a mulher deixará de comprar uma boneca para a filha. Ainda não temos mentalidade para tratarmos o filho e filha da mesma forma e atribuir a ambos os mesmos direitos. Como iremos mudar uma cabeça que herdou gerações e gerações de preconceito? Para isso que precisamos investir muito em educação. (MOTTA, 2014, p.16)

No Brasil, o questionamento sobre a tradicional hierarquia de gênero ganha força em 1960. O feminismo militante brasileiro começou, principalmente, como consequência da participação das mulheres contra a ditadura. Nesse período,

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começamos a ganhar visibilidade pelas manifestações na rua e que, consequentemente, levou à tona questões e lutas feministas. Apesar da visibilidade dessas questões, Liz ressalta que a modernização e conquistas aconteceram de forma sutil e gradativa:

Ela (a revolução) não chegou e colou. Até então vivíamos nos anos dourados, com todo aquele pudor. O que os brasileiros recebiam da mudança eram respingos do que acontecia lá fora. O Brasil e a maioria dos países latinos americanos são extremamente machistas e religiosos, e isso atrasou muito a modernização e a diferenciação na hierarquia de gêneros. (MOTTA, 2014, p.16)

Em 1970 surge o novo feminismo no mundo ocidental, que se caracterizou por abordar uma pluralidade de manifestações e por diferenciar gerações de mulheres, alterando o modo de pensar em viver.

Esse movimento causou um grande impacto nas instituições sociais e politicas, bem como modificou costumes e hábitos cotidianos, pois ampliou o espaço da atuação da mulher que, consequentemente, repercutiu em toda a sociedade brasileira. Segundo Liz Mota, nesse momento “as mulheres começaram a se conscientizar de que tinham os mesmos direitos que os homens.”.

Outro passo histórico para a luta de igualdade de gênero e empoderamento feminino foi o reconhecimento da ONU que, em 1975, deu o seu primeiro passo declarando o Dia Internacional da Mulher. Porém, foi apenas em 1993 que a Comissão de Direitos Humanos, dentro da própria Organização, incluiu um capítulo de denuncia e medidas contra a violência de gênero.

Alguns anos depois, em julho de 2010, foi criada a ONU MULHERES. Para eliminação da discriminação contra as mulheres e meninas, empoderamento das mulheres e realização da igualdade entre mulheres e homens como parceiros e beneficiários do desenvolvimento, dentre diferentes questões, a Organização foca nos direitos humanos, ação humanitária, paz e segurança. Para isso, a ONU lançou “Os Princípios de Empoderamento das Mulheres” (Women Empowerment

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Principles – WEPs, sigla em inglês), sete princípios para ajudar as empresas e as comunidades a entender como dar poder para mais mulheres.

Dentro dos princípios listados pela ONU MULHERES, destaca-se a busca do tratamento igual a todas as mulheres, baseado nos direitos humanos e a não-discriminação e promoção da igualdade de gênero, trabalhadas dentro de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social. Vale ressaltar que esses objetivos são convergentes a proposta desse projeto.

Após fazer uma breve apresentação da luta feminista, como a luta pelo direito ao voto, por espaço do mercado de trabalho e igualdade salarial, a autora reforça que ainda há a forte presença do posicionamento machista e patriarcal na nossa sociedade. Para ela, é perceptível que tivemos muitos avanços, porém a luta não pode parar:

Durante muitos anos as mulheres lutaram por voz, pelo direito ao voto e à candidatura, pelo reconhecimento nos ambientes publico e privado, pela licença maternidade, por creches et. A principal conquista delas foi o direito à escolha. E a mulher moderna escolheu ser mãe, esposa, “mulher”, profissional e estudante. Além da escolha, elas conquistaram espaço, respeito, emprego e benefícios. Porém a luta não acabou. Pelo contrário, ela acontece diariamente para preservar o que foi conquistado e ampliar as possibilidades. (SOUZA, 2014, p. 28)

Segundo a Coordenadora Nacional do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM/Brasil), Carmen Hein de Campos, que foi uma das fontes do livro Os Frutos da Revolução Feminina, é necessário acabar com a visão machista e patriarcal enraizada na cultura, na qual a mulher é vista como sendo de posse do homem, submissa, objeto sexual e incapaz de compreender números, estatísticas, regras de jogo etc. “Essa é uma das atuais lutas femininas, não necessariamente feministas”, defende a coordenadora. (2014, p. 118)

O histórico da luta feminista perpassa por diferentes aspectos. Apesar dos avanços e conquistas, o feminismo ainda carrega muitas lutas, como a igualdade de direitos e combate à violência, assim como a conquista do direito de decisão sobre o próprio corpo.

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2.2. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Após reconhecer a importância da luta feminista e suas conquistas, é preciso entender qual o impacto da cultura machista sobre a mulher e como ela se apresenta na sociedade contemporânea, principalmente no aspecto da violência.

Para este trabalho, é importante esclarecer que a violência contra a mulher é caracterizada não só pela agressão física, mas pelo conjunto de ações e atos que causam danos às mulheres. Para essa compreensão e definição, foi necessária a leitura do artigo Violence against women: Global scope and magnitude London, das autoras WATTS, C. & ZIMMERMAN, C..

As autoras apontam que a violência contra a mulher é um resultado das relações de poder entre os gêneros e da desigualdade existente entre eles, na qual há uma determinação social sobre o papel do feminino.

Baseando-se em uma perspectiva de gênero, a violência contra a mulher vem sendo entendida como o resultado das relações de poder entre homem e mulher, tornando-se visível a desigualdade que há entre eles, onde o masculino é quem determina qual é o papel do feminino, porém esta determinação é social e não biológica. Assim, para distinguir este tipo de violência pode-se defini-la como qualquer ato baseado nas relações de gênero que resulte em danos físicos e psicológicos ou sofrimento para a mulher, entendendo-se que tal conduta é muitas vezes usada conscientemente como um mecanismo para subordinação, como o que ocorre nas relações conjugais. (Watts & Zimmerman, 2002, p. 02) A ONU mulheres (2005), pensando na violência contra a mulher, preparou uma cartilha para orientar sobre a criação de projetos que atuassem com esse objetivo. Nesse toolkit, são apresentados diferentes papéis entre homens e mulheres, determinados pelas construções sociais, culturais, politicas e fatores econômicos. Com isso, o documento aponta que essas predefinições podem se tornar perigosas por diversos motivos, como exemplo da mulher não poder se vestir ou falar de forma sexualmente atraente, ou será julgada culpada se for agredida em algum momento.

Este tipo de violência é uma das mais comuns e persistentes formas de abuso dos direitos humanos e, atualmente, o gênero ainda é um fator determinante

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nessa realidade. Segundo a ONU, em muitos países, as mulheres ainda recebem menos do que os homens pela mesma função de trabalho, famílias priorizam a educação dos filhos homens etc. Essa desigualdade gera diferentes formas de violência, que se torna, em muitas comunidades, algo naturalizado.

De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil, a violência contra a mulher pode ser tipificada de três maneiras: Violência Física, Violência Psicológica e Moral e Violência Sexual. A violência Física é caracterizada por atos violentos, nos quais se faz uso da força física com o objetivo de ferir, lesar, provocar dor e sofrimento de forma intencional; a Violência Psicológica e Moral é toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, humilhação e utilização da pessoa para atender às necessidades psíquicas de outrem. Por fim, a Violência Sexual   é qualquer ação na qual uma pessoa, utilizando sua posição de poder, força física, coerção, intimidação ou influência psicológica, força uma outra a ter, presenciar, ou participar de alguma maneira de interações sexuais.

A violência contra a mulher gera impactos negativos em sua individualidade, em sua família, dentro das comunidades e dentro do próprio país. O documento da ONU (2005) relata que essa violência gera uma série de mortes, problemas psicológicos, abuso e negligência com os filhos, violência dentro das famílias, dependência de serviços de apoios sociais, diminuição do resultado econômico pela baixa produtividade de mulheres, que ficaram incapacitadas de trabalhar, dentre diversas outras consequências.

As lutas feministas foram essenciais para os avanços na legislação relativos à violência doméstica e ao estupro em diversas partes do mundo, porém o numero de casos ainda permanece alto. No Brasil, a atuação feminista teve como um dos principais resultados a aprovação da Lei n.11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, em 2006 – uma lei que tipifica a violência domestica contra a mulher e cria ferramentas para combatê-la. Apesar da existência desse mecanismo, ainda há uma grande dificuldade em combater a violência, pois, muitas vezes, existe uma tolerância a formas cotidianas de dominação masculina.

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Segundo uma Pesquisa da Fundação Perseu Abramo (2014), a cada 15 segundos uma mulher é espancada no Brasil. No total, cerca de 43% das mulheres já sofreram algum tipo de violência e 72% dos agressores são os seus maridos e companheiros.

Em 2014 a Bahia ficou em sétimo lugar em número de registros no ranking nacional de atendimento do “Ligue 180 - Secretaria de Políticas para as Mulheres” e ocupou o segundo lugar em violência contra a mulher, registrando mais de 36 mil casos de agressão em todo o estado. (Tribuna da Bahia, 07 de agosto de 2015)

No blog Silêncio das Inocentes, criado pelo Correio em 2015, foi feito um mapeamento de casos de estupros ocorridos em Salvador. De janeiro a outubro do último ano foram registrados 442 casos nas delegacias de Salvador.

Apesar do número elevado de denúncias, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que apenas 10% dos casos de estupros são denunciados. Para especialistas, o silêncio ocorre por consequência da vergonha que a vitima sente, principalmente quando o agressor faz parte da família e agrega o sentimento de culpa e de medo.

Além disso, para a condenação de um agressor é necessário obter uma série de informações, como testemunhas e provas materiais, o que torna a sua punição algo raro. Percebemos que o número de condenações é mínimo quando levantamos os dados de que, só em 2014, foram abertas 3.082 ações por estupro enquanto, no mesmo ano, apenas 738 pessoas cumpriam pena por esse mesmo crime em penitenciárias do estado.

Para a psicóloga Ivete Couto (Os Frutos da Revolução, 2014), existem diversos fatores que fazem com que a mulher suporte a agressão sem oficializar as denúncias:

[...] dependência financeira, dependência emocional e filhos. Mas o que mais pesa é a autoestima. O sentimento de menos valia. A mulher espera ser valorizada pelo o outro, espera que ele a projeta e a coloque em um lugar de superioridade. Ela não sabe fizer isso e espera que ele

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faça. O medo de ficar só também influencia bastante. Elas pensam que é ruim com eles, mas pior sem eles. (COUTO, 2014, p. 95)

Anailde Almeida, socióloga e atuante feminista, que também foi entrevistada para o livro Os Frutos da Revolução Feminina, acredita que a violência é fruto de uma sociedade desigual e da educação. Para ela, os meninos são educados para serem dominadores das meninas.

No aspecto familiar, existe uma construção social que reproduz desigualdades de gênero, como a divisão de papéis gera a desigualdade de renda dentro da própria família, no uso de tempo nas atividades domésticas etc. Ao assumir total responsabilidade na esfera familiar e doméstica, a mulher tem uma série de desvantagens sociais, como interrupção de carreira, empregos com menor carga horária e mal remunerados e, consequentemente, torna-se mais vulnerável.

Um exemplo básico e presente na maior parte das famílias é que os irmãos são educados para tomar conta da irmã, mesmo que mais novos, enquanto as meninas aprendem tarefas domésticas. Dessa forma, os pais estão ensinando aos meninos que, por toda a vida, terão uma mulher que façam essas tarefas por eles e para eles. “É uma preparação subliminar muito clara: estão preparando um para ser dominador e outro para ser dominado. É uma forma simbólica de dizer que ele é superior”, afirma a socióloga. (ALMEIDA, 2014, p. 98)

Para compreender os motivos de crimes de gênero, também foi utilizado o artigo Violência contra a mulher e políticas públicas, de Eva Alterman Blay, no qual a autora lista uma série de razões que influenciam e motivam o crime contra a mulher.

Reunindo-se os vários dados analisados, depreende-se que essa contradição perdura por várias razões, tais como: a persistente cultura de subordinação da mulher ao homem de quem ela é considerada uma inalienável e eterna propriedade; uma recorrente dramatização romântica do amor passional, sobretudo na televisão e no rádio, em que realidade e imaginário se retroalimentam; na facilidade com que os procedimentos judiciais permitem a fuga dos réus; na pouca importância que as instituições do Estado dão à denúncia e ao julgamento dos crimes contra as mulheres e meninas. (BLAY, 2002, p. 96)

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Os crimes são motivados pela sociedade machista e patriarcal, pela construção cultural de que a mulher é objeto e nasceu para servir o homem, pelos processos jurídicos que facilitam que o agressor não seja punido e, em último caso, até mesmo a influência das mídias.

Apesar de listarmos uma série de fatores externos que influenciam na violência contra as mulheres, ainda encontramos discursos que jogam para a vítima a culpa da agressão. No artigo Violência de Gênero, Sexualidade e Saúde de Karen Giffin, a autora apresenta uma tradição de dualismo de gênero, na qual o homem tem um papel sempre ativo e a mulher é vista como um ser passivo, papéis pré-definidos que impactam diretamente na sociedade.

Para a autora, o homem é visto na sociedade como o responsável pela mente, razão e principal ator da esfera pública, enquanto a mulher é identificada pela sua natureza, corpo e emoção. Dessa forma, as mulheres são vistas como “constantemente tentando os homens a desviarem do caminho da razão e da moralidade” (1987 apud GIFFIN, 1994, p.151). Nessa definição, a mulher é sedutora, pecadora, responsável pela atração sexual do homem e, portanto, guardiã da moralidade. Dessa forma, essa argumentação é utilizada para culpar a mulher pelos ataques sexuais, visto que ela seria a responsável por essa atração.

Para promover e discutir o tema, é essencial pensar em campanhas que promovam a intolerância à violência contra a mulher. Segundo a Carolha da ONU (2015), essas campanhas precisam levar em consideração cinco diferentes aspectos: Inclusão, Transparência, Não discriminação, Empoderamento e Parcerias.

A cartilha apresenta a inclusão necessária para que as mulheres possam participar de diferentes etapas, como nos processos de decisão e execução. O segundo ponto defendido é a transparência nos processos de coleta de denúncias e documentação de relatos, por exemplo. O terceiro ponto levantado é a importância de não discriminar nenhum tipo de grupo ou comunidade. Depois, a cartilha reforça a necessidade de empoderar as mulheres para garantir que elas se

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sintam seguras de reivindicar os seus direitos e, por fim, pensar em parcerias com instituições que trabalhem em busca dos mesmos objetivos.

A partir de todas as leituras, fica claro que há uma construção social que molda as definições e papéis do gênero feminino, colocando a mulher em um patamar inferior e de submissão ao homem. Percebemos então que a luta feminista é essencial para a garantia dos direitos e a conquista de espaço em determinados âmbitos sociais, além da sua importante função de descontruir esses papéis impostos na sociedade. Esse trabalho pretende ser uma ferramenta que amplia a voz dessa luta a partir de ações culturais que atingem diferentes públicos, conscientizando as mulheres dos seus direitos e servindo como ferramenta de empoderamento para a luta feminista.

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2.3. O ASSÉDIO NA RUA

O Assédio Sexual diz respeito a ofensas, abordagens inadequadas e propostas que constrangem, amedrontam, humilham e tentam dar uma posição de objeto passivo que não reage sob essa forma de opressão. Todos os dias mulheres são obrigadas a lidar com toques, comentários de teor obscenos, olhares, intimidações que, muitas vezes, são entendidos pelos atores das ações e grupos sociais como brincadeiras, elogios e ações inofensivas.

Nem todo assédio sexual envolve contato físico, porém isso não significa que não afeta e incomoda as mulheres, pois muitas delas optam por abrir mão da sua liberdade e direito de escolha para tentar reduzir essa violência nas ruas: deixam de usar determinadas roupas, de sair em determinados horários e ir para determinados lugares por medo de sofrer assédio.

Segundo o livro Meu Corpo não é Seu: Desvendando a violência contra a mulher, do Think Olga, o assédio é um comportamento violento porque vem de pessoas que partem do princípio de ter o privilégio de explorar a existência feminina sem nenhum respeito e dor na consciência.

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Uma pesquisa do IPEA, feita em 2014, mostrou que 65% dos brasileiros acreditavam que mulheres com roupas curtas mereciam ser atacadas. Esse dado gerou uma grande movimentação nas redes sociais, como o movimento “Não mereço ser estuprada”, que tentou dar visibilidade aos casos de assédio e estupros. Posteriormente, o instituto alegou um erro na pesquisa e informou que o número de brasileiros que acreditam na afirmação era de 26%, o que ainda é um número bastante alto e nos mostra como o assédio é algo muito natural para grande parte da população.

Em Setembro de 2016, o Datafolha fez uma pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e um a cada três brasileiros concordaram com a afirmação que a mulher que usa roupa provocativa não pode reclamar se for estuprada, o que reforça que a cultura do estupro é tão enraizada e reitera que ainda há o controle do comportamento o do corpo da mulher, jogando para a vítima a culpa da violência sofrida.

Apesar da violência contra a mulher ser classificada em física, psicológica/moral e sexual, por muito tempo a tipificação dos casos de violência foi reduzida a ações específicas.

Até 2006 as delegacias de defesa da mulher, que foram criadas em 1985, eram responsáveis por tipificar os casos de violência e – apesar da abertura dessas delegacias ser um avanço – as delegadas e escrivãs tendiam a registrar como crimes apenas as agressões ocorridas dentro do cenário conjugal, em ambiente doméstico e os casos de estupro e violência sexuais praticados pro desconhecidos. O assedio sexual, discriminação e violência psicologia praticada por homens desconhecidos e violência sexual dentro de um relacionamento, raras vezes eram classificados como crime. (THINK OLGA, 2014)

Em 2013, nasceu a campanha “Chega de Fiu Fiu” contra o assédio sexual em espaços públicos, que surgiu após uma pesquisa que mostrava que 99,6% das entrevistadas já foram assediadas, sendo que 98% sofreram essa violência nas ruas. Quando questionadas sobre a reação em relação ao assédio, 73% das mulheres informaram que não respondiam nada e que ficavam silenciadas pelo medo.

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O assédio na rua ignora os direitos iguais do cidadão e não preza por uma vida pública de respeito. É necessário, cada vez mais, dizer não ao assédio e mostrar que essas ações não são mais toleráveis.

Dizer não ao assédio é dizer que não aceitamos mais ser vistas como objetivos sexuais passivos, como corpos sedutores disponíveis para confirmar a virilidade alheia ou como vitimas frágeis dessa estrutura desigual de poder. Dizer não ao assédio é afirmar a agência de nossa sexualidade, é mostrar que buscamos equalizar nossa voz e nosso poder na sociedade, é não se [sic] submeter aos papeis sociais tradicionais as quais somos associadas. (OLGA, 2014)

Com os dados da pesquisa, percebe-se a necessidade de ir às ruas e falar sobre o assédio e de mostrar que, cada vez mais, as mulheres buscam pelos seus direitos de ter uma vida pública segura. Com esse projeto, poderemos responder aos assédios com as nossas vozes, sem sermos silenciadas pelo medo.

2.4. MARKETING DE GUERRILHA E AÇÃO CULTURAL  

É preciso envolver toda a sociedade em um debate maior, que se dedique a entender e buscar soluções coletivas para as causas e violência contra a mulher. Além disso, homens e mulheres têm diferentes experiências, necessidades e prioridades, por isso é importante entender e pensar em diferentes maneiras para a participação do público. Para isso, este projeto foi pensando em diferentes ações para atingir o público de uma forma mais ampla, porém a principal foi uma intervenção cultural, que desencadeou um movimento maior.

Baseado no Marketing de Guerrilha, que são ações de marketing não convencionais, rápidas e que surpreendem o público, e no Marketing Social, que é a criação de estratégias para mudanças comportamentais normalmente ligadas a valores sociais e morais, este projeto buscou mesclar esses conceitos para gerar um grande impacto sobre essa causa.

O Marketing Social um processo que aplica princípios e ferramentas de marketing para criar, comunicar e proporcionar valor afim de influenciar

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comportamentos de públicos-alvo que beneficiam tanto a sociedade quando a eles próprios. Kotler define o Marketing Social da seguinte forma:

A prática da Responsabilidade Social de forma correta pode melhorar o desempenho e a sustentabilidade da empresa a médio e longo prazo, a implementação e o controle de programas que procuram aumentar a aceitação de uma ideia social num grupo-alvo. Utiliza conceitos de segmentação de mercado, de pesquisa de consumidores, de configuração de ideias, de comunicações, de facilitação de incentivos e a teoria da troca, a fim de maximizar a reação do grupo-alvo.” (Kotler apud

MARGOLIS; GARRIGAN, 1978, p.287)

Segundo POPADIUK e MARCONDES (2000), o Marketing Social envolve quatro níveis de mudanças possíveis: a cognitiva, a da ação, comportamental e de valores. A mudança cognitiva refere-se à passagem de informações ao público-alvo sobre o objeto de mudança. A mudança de ação refere-se ao processo de tentar induzir a população a realizar determinada atividade. Na mudança de comportamento, a ideia é desencorajar que as pessoas continuem com certos consumos e vícios já construídos, o que é uma tarefa difícil por envolver mudança de valores e, em alguns casos, é necessário o uso de ferramentas de punição. Por fim, a mudança de valores, que é a transformação via de regra mais complexa, pois esses valores são formados pelo histórico da pessoa, ambiente que ele vive e repertório de vida.

Dessa maneira, o marketing social pode ser entendido como uma estratégia de mudanças comportamentais e atitudinais, que pode ser utilizada em qualquer tipo de organização (pública, privada, lucrativa ou sem fins lucrativos), desde que esta tenha uma meta final de produção e de transformação de impactos sociais. (ARAÚJO, 2001)

O Marketing de Guerrilha também pode ser utilizado para ações dirigidas a finalidades coletivas ou públicas. Segundo Anna Fúlvia Anastácio, no seu artigo que desmistifica o marketing de guerrilha no terceiro setor, essas ações de guerrilha podem ser uma solução para iniciativas e organizações gerarem uma visibilidade de público provedor e agente, com baixo orçamento e usando a criatividade.

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associações civis e não governamentais, movimentos sociais, formas tradicionais de ajuda mútua, além de iniciativas isoladas desenvolvidas pela população, e de investimentos filantrópicos de empresas privadas, mais recentemente nomeadas, por vezes, como ações de “responsabilidade social”. (ANASTÁCIO, 2015, p.44)

Usando uma fração do Marketing de Guerrilha, o terceiro setor consegue atender demandas que não são priorizadas pelo estado nem pelo setor privado, preenchendo as lacunas da sociedade que o governo não consegue atender e o mercado não tem interesse. Dessa forma, é possível, com baixo orçamento e planejamento, mobilizar a população, chamando a atenção para as causas de defesa levantadas por determinados grupos.

No livro Marketing de Guerrilha para Leigos, de Jonathan Margolis e Patrick Garrigan, as ações de guerrilha são defendidas por trazer diferentes benefícios aos negócios e por ser algo direcionado ao consumidor específico, com bom custo x beneficio e gerar mídias espontânea.

As estratégias de guerrilha envolvem escolhas de oportunidade, nas quais o público específico não está aguardando a ação. Para isso, é preciso identificar o “alvo”, entender onde ele está e como pode causar o maior impacto e atingi-lo de uma maneira inesperada e impactante. Essas ações tendem a induzir o seu público a olhar o objeto da ação de uma maneira diferente, proporcionando essa mudança de relação com ações mais tangíveis e experimentais. Nas palavras de Freire e Almeida.

[...] a estratégia é atacar o consumidor da forma menos esperada e convencional possível. E, geralmente, com um custo mais baixo do que a mídia tradicional. Usando as táticas de guerrilha bélica, que usa criatividade, foco e energia em vez de dinheiro [...] (2016 apud ANDREAS, 2012, p.276)

Essas ações de Marketing de Guerrilha costumam acontecer em locais inesperados, como praças, cinemas e demais espaços com grande presença de público, afinal o objetivo é gerar uma surpresa do público.

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O Marketing de Guerrilha, segundo Delana, provou sua versatilidade como ferramenta de Publicidade. Com isso, diversas empresas e organizações sem fins lucrativos passaram a utilizar essas estratégias para promover impacto em questões sociais, com o objetivo de chamar a atenção para problemas da sociedade e causas especificas.

Como principal ferramenta do projeto, foi elaborada uma ação cultural que acontece em uma praça central, pois os centros das cidades têm sido identificados como lugares dinâmicos da vida urbana, animados pelo fluxo de pessoas, veículos e mercadorias decorrentes da marcante presença das atividades terciárias.

A obra O que é ação cultural?, de Teixeira Coelho, aborda diferentes aspectos das ações culturais e sua importância para a transformação social, pois é a partir da Cultura, em suas manifestações, que o sujeito pode sair de si, de fora do contexto que está inserido para ver outras coisas além do que já conhece. O objetivo de uma ação cultural não é construir um tipo determinado de sociedade e sim provocar reflexões para a transformação e enfretamento aberto das tensões e conflitos surgidos nas práticas sociais concretas. Segundo o autor, as ações culturais permitem o “movimento” das mentes, possibilitando o questionamento do que já existe e colocando o sujeito em movimento na direção do não conhecido.

Ao longo do tempo, percebeu-se também a necessidade da ampliação do alcance das ações culturais, o que motivou os agentes culturais a optar por ações nas ruas ou nos espaços ditos alternativos, pois dessa maneira é possível atingir um público maior e diverso, que não tem acesso aos espaços e instituições culturais.

Segundo Teixeira Coelho (2001), a ação cultural espera ativar três esferas da vida do individuo e dos grupos:

1. a imaginação, onde a consciência reflete sobre si mesma, inventa a si mesma, se abre para as possibilidades, libertando-se do ser e do dever ser para aceitar o desafio do poder ser; onde a consciência está à beira de muita coisa, sem saber bem o que, gerando imagens imateriais do mundo tal como este existe em sua aparência precária, fugidia e imediata, isenta de normas e coações; 2. a ação, quando o sujeito,

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ativamente pronto, sem tensão ou distração, penetra no tempo presente e viabiliza aquilo que sua imaginação pré-sentiu, pré-dispôs, ligando-se assim ao processo cultural concreto; 3. a reflexão, que lhe permite fazer a si mesmo uma proposta de continuidade de si próprio, de sua consciência e de sua ação, numa integração com o passado capaz de permitir-lhe o exercício teórico, isto é, a previsão do futuro, a predeterminação do possível. Neste instante, o círculo se fecha e a imaginação é de novo ativada. (COELHO, 2014, p. 93)

O projeto Tô na Rua, mas não sou sua acontece inicialmente como uma ferramenta de ação cultural urbana por ter o objetivo de gerar uma reflexão e questionamentos sobre o assédio, promovendo um movimento em direção a luta feminista por respeito e direitos igualitários das mulheres.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1. PROJETO CULTURAL

Apresentação

O Tô na Rua, mas não sou sua é um trabalho de conclusão do curso de Produção em Comunicação e Cultura, da Universidade Federal da Bahia. O projeto tem como ação inicial uma intervenção urbana, que objetiva conscientizar a população sobre o assédio de rua sofrido pelas mulheres cotidianamente nos espaços públicos, proporcionando visibilidade a casos reais.

Com o intuito de dar voz às vitimas e expor casos de assédio, o projeto abre espaço para histórias narradas por mulheres que já sofreram assédio no seu cotidiano e no espaço público. Essas histórias foram registradas em áudio e as gravações exibidas na Praça Campo Grande, em Salvador.

Além da intervenção urbana, o Tô na Rua, mas não sou sua ganha um espaço virtual para que mulheres compartilhem seus casos de assédio e troquem experiências, impulsionando o alcance da sua voz. Além disso, também foram expostos os áudios e informativos, possibilitando maior acesso à informação.

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Justificativa

A violência contra a mulher é algo presente em diferentes âmbitos sociais e foram construídos através da história de uma forma que está enraizada nas ações. Ao longo dos últimos anos, o movimento feminista ganha força e luta pelo respeito e espaço igualitário entre os gêneros.

Apesar da luta e dos avanços sociais, ainda encontramos números alarmantes sobre essa violência, visto que ela é caracterizada não só pela agressão física mas pelo conjunto de ações e atos que, com base nas relações de gêneros, causam danos às mulheres.

Segundo uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo (2014), a cada 15 segundos uma mulher é espancada no Brasil e no total, cerca de 43% das mulheres já sofreram algum tipo de violência, principalmente no aspecto moral.

No último ano, a Bahia ocupou o segundo lugar em violência contra a mulher, registrando mais de 36 mil casos de agressão em todo o estado. Ainda em 2015, foram registrados 442 estupros apenas em Salvador.

Em 2013, nasceu a campanha Chega de Fiu Fiu, uma campanha contra o assédio sexual em espaços públicos e que surgiu após uma pesquisa que mostra que 99,6% das entrevistadas já foram assediadas, sendo que 98% sofreram essa violência nas ruas.

É perceptível que cada vez mais as mulheres ganham voz e lutam pelos seus direitos e por respeito. Porém, é fundamental criar meios de ampliar os espaços dessas discussões na sociedade. Visando criar um maneira segura de conscientização e impulsionar esse movimento, o projeto foi realizado em espaço público, local onde os casos de assédio e invasão do espaço da mulher são constantes e visíveis.

O Tô na Rua, mas não sou sua é um projeto que tem como objetivo criar ações de empoderamento feminino e amplificar o alcance dessa luta!

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Objetivo Geral

Discutir o assédio e potencializar o alcance da voz feminina por meio da ocupação do espaço público soteropolitano e no meio virtual.

Objetivos Específicos

> Impulsionar o alcance de histórias femininas;

> Gerar identificação das mulheres que passam pelas ruas com as histórias contadas;

> Conscientizar o público sobre a violência moral, o assédio; > Levar o projeto ao espaço público;

> Registrar relatos e torná-los acessíveis.

Metas

> Receber 50 inscrições de mulheres interessadas em contar seus casos; > Gravar 10 áudios contanto histórias de assédio;

> Ocupar 01 praça pública; > Criação de um site.

Avaliação dos resultados:

Indicadores dos resultados previstos: > Quantidade de histórias recebidas;

> Fotos e contagem sobre o número de pessoas que viram a exposição; > Quantidade de visitas ao site

Público-Alvo.

O público-alvo é formado por mulheres jovem, de faixa-etária entre 15 aos 25 anos, que sofrem assédio cotidianamente e que se identificam com os relatos gravados. O projeto também se direciona a todas às mulheres que querem

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impulsionar o alcance dos seus relatos e denúncias.

Por fim, o projeto também se direciona aos homens, com foco entre os 15 e 30 anos, que ocupam os espaços centrais da cidade e que não têm acesso às discussões e questionamentos sobre o machismo.

3.2 EXECUÇÂO DO PROJETO

Nesta etapa da memória, falarei em primeira pessoa dos processos de construção e execução do projeto, divididos nas seguintes seções: Coletando Relatos, Design, Captação de Recursos, Instalação, Site, Vídeo, Repercussão, Parcerias e Prestação de contas.

3.2.1. COLETANDO RELATOS:

Após a definição do formato do projeto, a exposição de relatos em espaço público, comecei a coletar as histórias das mulheres. Com o objetivo de atingir diferentes perfis, criei um formulário em uma ferramenta online, o typerform, e compartilhei nas redes sociais. No mesmo momento, houve 18 compartilhamentos diretos da publicação, trazendo 67 respostas em um único dia.

Imagem 01: Resultado do typerform.

No dia seguinte, comecei o processo de seleção dos relatos. Como o meu objetivo era relatar diferentes casos de assédio, que aconteceram em diferentes locais, circunstâncias e idades, considerei como principal critério a pluralidade dos casos, seguido dos diferentes perfis de mulheres.

No primeiro momento, selecionei 20 histórias e enviei um e-mail convidando as meninas para gravar os relatos. Porém, pela disponibilidade do estúdio da FACOM e mudança pessoal para o Rio de Janeiro, precisei restringir as gravações a 10 histórias (anexo 1).

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Foi feito o convite por e-mail e todas as mulheres toparam participar da gravação e apenas uma (01) delas não compareceu à faculdade para registrar o seu caso.

A gravação dos relatos aconteceu na Faculdade de Comunicação, no laboratório de rádio nos dias 15, 16 e 20 de junho de 2016. Em cada gravação, ficávamos na sala apenas eu e a vítima e a entrevista foi conduzida em formato de conversa, buscando captar as emoções das mulheres para o seguinte roteiro: contar sobre o caso de assédio, falar como ela se sentiu nesse caso específico e como se sente cotidianamente com os assédios sexuais e, por fim, que ela falasse tudo que quisesse para o homem que a violentou. A média de tempo gravado com cada mulher foi de 12 minutos.

Imagem 02: Registro da gravação dos áudios.

No final das gravações, percebi que cumpri o meu objetivo de atingir uma pluralidade de casos, mulheres e discursos. Consegui relatos de mulheres que não enfrentam o assédio, outras que vão até a delegacia; relatos de mulheres que buscam na sua roupa entender o motivo do assédio, outras que entendem que

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essas ações partem do homem, independente da roupa da mulher; consegui gravações de mulheres mais tímidas, outras mais espontâneas. Essa diversidade é algo que eu valorizo pela possibilidade de chamar a atenção e identificação com uma maior quantidade de perfis de mulheres.

Esses áudios1 foram montados sem pausa para a intervenção. As gravações com edição continua possui o objetivo de passar a sensação de que os áudios não têm fim, que os relatos e assédio não têm fim.

3.2.2 DESIGN:

A identidade visual do projeto Tô na Rua, mas não sou sua foi construída por uma designer contratada, Driele Coutinho, que recebeu orientações conceituais desde o processo de idealização até a elaboração final das peças gráficas.

A construção do projeto gráfico foi dividida em algumas etapas: a primeira, de concepção da marca; a segunda, com a elaboração do Manual de Identidade Visual2 e, por fim, a elaboração de peças e produtos para a campanha de financiamento coletivo e artes para as redes sociais.

O objetivo foi criar uma identidade visual que remetesse à arte urbana, como os grafites e estêncil, pois são formas artísticas de manifestação presentes na ocupação do espaço público. As bonecas que fazem parte da identidade visual foram criadas com um formato simples para que elas pudessem ser usada no estêncil produzido nessa campanha. Dessa maneira, a identidade gráfica do projeto segue o conceito do uso dessa manifestação artística para que as mulheres consigam expressar os seus sentimentos nos espaços públicos da cidade, que é o local onde tende a ter mais relatos de casos de assédio.

                                                                                                               

1 Disponível em: https://soundcloud.com/tonarua/to-na-rua-audio-da-exposicao   2 Disponível em: http://bit.ly/2copHXA

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Imagem 04: Segunda página do manual de identidade visual.

3.2.3 CAPTAÇÃO RECURSOS 3.2.3.1. A Campanha

Para executar a intervenção urbana e criação do site, era necessário ter recursos para efetivar as ações. Com o objetivo de cobrir esses gastos, optei por fazer uma campanha de financiamento coletivo3, pois é uma maneira eficiente de                                                                                                                

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levantar recurso, divulgar o seu projeto e mobilizar pessoas em prol da sua causa, possibilitando uma maior visibilidade ao tema e produto, antes mesmo da sua instalação.

A campanha de financiamento coletivo exige um esforço muito grande de mobilização e divulgação, além de aumentar os custos do projeto por existir a política do ganha-ganha, na qual é necessária oferecer recompensas aos colaboradores e pelas taxas da integradora financeira responsável pelas transações e uso da plataforma.

O orçamento inicial do projeto para a intervenção, que era a meta mínima da campanha na Benfeitoria, foi de R$6.000 e seria destinado para cobrir os seguintes custos:

Imagem 05: Gráfico de custos

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          Integradora   Financeira   5%   Colaboração   Benfeitoria   6%   Designer  +  Edição   de  Vídeo   11%   Recompensas   19%   Instalação   59%  

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A campanha foi lançada no dia 06 de julho e terminou no dia 29 de julho de 2016, com duração de 23 dias. No financiamento coletivo, há um estudo dos dados das plataformas que mostra que as campanhas de sucesso seguem um padrão na arrecadação: arrecadam 20% da meta em 10% do tempo, 50% da meta em 50% do tempo e 75% da meta em 90% do tempo, sendo que a previsão é sempre com pico de arrecadação nos primeiros dias, quando a campanha é novidade e no final da campanha, quando a urgência de arrecadação mobiliza as pessoas.

Seguindo esse estudo, a Benfeitoria disponibiliza um painel para o realizador da campanha mostrando o gráfico ideal de arrecadado, possibilizando que o mesmo fique atento e pense em novas estratégias de divulgação caso a arrecadação fique abaixo do indicado. No caso da campanha desse projeto, a arrecadação superou o gráfico ideal desde o momento inicial da campanha até o último dia.

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O financiamento coletivo envolve a dinâmica do tudo ou nada, na qual é preciso chegar à meta ou todo o valor arrecadado é devolvido para as pessoas. A Benfeitoria trabalha com múltiplas metas, ou seja, eu poderia definir mais de um valor a ser atingido, porém só era necessário garantir o valor da primeira para receber o valor arrecadado. Para esse projeto, optei por duas (02) metas: A primeira no valor de R$6.000, para realizar a intervenção e a segunda no valor de R$7.500, para implementar um site com programação própria e web designer.

Imagem 07: Resultado final da campanha

A primeira meta foi atingida em uma semana, no dia 14 de agosto, com a colaboração de 121 pessoas. A segunda meta foi atingida na semana seguinte, no dia 22 de agosto. Nos demais dias, a campanha continuou captando sem nenhum esforço de divulgação, totalizando a arrecadação em R$7.915 e 161 colaboradores.

3.2.3.2. Recompensas

Após o término da campanha, todas recompensas foram produzidas em menos de um mês. As recompensas dos colaboradores de Salvador foram entregues entre o dia 21 a 25 de agosto, a dos colaboradores do Rio de Janeiro

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foram entregues do dia 29 de agosto até o dia 04 de setembro, assim como o envio dos colaboradores de outros estados.

Para recompensa, foram oferecidos adesivos, kit de ocupação do espaço público, com estêncil, lambe-lambe, rolo de parede e tinta; camisas e ecobag.

Imagem 08: Adesivos oferecidos como recompensa

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Imagem 10: Ecobags oferecidas como recompensas

Imagem 11: Camisas oferecidas como recompensas

Após a entrega das recompensas, recebi um retorno positivo de alguns colaboradores, que elogiaram a qualidade do material enviado e o projeto em sua totalidade:

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Imagem 12: E-mail da colabora Andrea Marques.

Imagem 13: Mensagem de agradecimento da colabora Tais Andrade.

Acredito que a escolha de realizar a campanha de financiamento coletivo foi assertiva, pois com ela eu consegui dar visibilidade ao projeto, com mais de oito mil acessos à página, além de criar uma rede de pessoas interessadas em apoiar e ver o projeto na rua.

3.2.4. INSTALAÇÃO

A instalação foi programada para acontecer nos dias 23 a 25 de agosto, de terça a quinta, das 11h às 17h de cada dia e aconteceu na seguinte localização da Praça 02 de Julho, Campo grande.

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Imagem 14: Imagem do croqui enviado à Prefeitura para autorização.

Eu escolhi a Praça 02 de Julho, Campo Grande, para realizar o projeto por ser uma região central que acolhe um público diverso, de diferentes classes sociais e faixas etárias. Apesar de ser um local de passagem, a praça também é um espaço ocupado para lazer e atividade da população, o que possibilitaria um maior número de pessoas parando e conhecendo o nosso projeto.

A escolha dos dias da instalação, que iria de terça a quinta, foi pensada com o objetivo de pegar o público soteropolitano em sua rotina. Como no final de semana há uma maior presença de turistas e a praça tende a ser ocupada por famílias, escolher de terça a quinta aumentava as chances de que os homens escutassem o relatos sozinhos e de forma mais aberta, assim como possibilitaria que as mulheres escutassem em um ambiente e momento em que o assédio é mais recorrente, que é no cotidiano, sozinha, ao caminhar nas ruas.

A instalação da estrutura se deu no primeiro dia de projeto, no dia 23 de agosto Foi combinado com a empresa responsável por produzir o totem e a Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEMOP) que às 9h da manhã haveria a instalação do

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ponto de energia e montagem do totem, para que ambos pudessem trabalhar juntos na instalação.

Imagem 15: Instalação no primeiro dia

Em seguida, busquei a Guarda Municipal para conversar sobre a segurança do local e entender quais cuidados deveria tomar, além de solicitar o contato da responsável pela segurança geral da Praça Campo Grande. Entrei em contato com a responsável, Carolina Santana, por telefone, reforçando a execução do projeto e explicando que durante à noite o ponto de energia ficaria instalado na Praça. A estrutura seria retirada todos os dias no final da tarde e guardada em uma loja próxima ao local e reinstalada na manhã seguinte, por orientações dos guardas.

Depois da estrutura instalada e contato com segurança feito, comecei a trabalhar com minha equipe, composta por Carla Galrão, responsável por gravar as reações das pessoas e coletar depoimentos, e Natália Cunha, que deu suporte do contato com a população.

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O Labfoto também esteve presente no turno da tarde, que forneceu a cobertura no primeiro dia de exposição e possibilitou o registro fotográfico4 da intervenção na rua. A proposta de cobertura surgiu do próprio laboratório, quando Eduardo Assunção, monitor do laboratório, entrou em contato para disponibilizar uma fotógrafa para cobrir o projeto.

No primeiro dia, o maior movimento aconteceu durante a manhã, cerca de 60 pessoas já tinham parado na estrutura para escutar os relatos até às 13h. Depois desse horário, o movimento na praça foi diminuindo e, no final do dia, tínhamos cerca de mais 30 pessoas participando do projeto. Cada pessoa escutou o áudio por 03 minutos, em média.

Considero que o primeiro dia de instalação foi um sucesso, visto que a Praça 02 de Julho estava movimentada, com tempo limpo. A instalação começou às 10h no primeiro dia e terminou às 17h. Os relatos foram ouvidos por aproximadamente 90 pessoas. Além da recepção positiva da população, a intervenção foi coberta pelos jornais A Tarde, Correio e Massa.

O segundo dia amanheceu com chuva e previsão de tempestade durante todo o dia. Então, a minha primeira atividade foi encontrar uma empresa de toldo, que chegou à praça às 10h para montagem da estrutura.

                                                                                                               

4 Imagens disponíveis em: http://bit.ly/2bsknmk  

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Imagem 16: Montagem do toldo no segundo dia

Com o toldo montado, começamos a ação do segundo dia por volta das 10h30 até às 12h. Mesmo com chuva, já tinham passado 36 pessoas pela instalação. Nessa manhã, precisei dividir o meu tempo entre explicar às pessoas o projeto e atender à imprensa, que entrou em contato a todo instante – foram marcadas gravações no meio da tarde com a TV Bandeirantes, TV Aratu e TVE, que por causa da chuva não chegaram a acontecer. Além disso, nessa mesma manhã, fiz uma participação na rádio Band News.

Quando voltei à instalação, fui informada por uma pessoa em situação de rua que “estavam organizando um assalto” para levar nossos instrumentos. Nesse primeiro momento, continuamos trabalhando normalmente na instalação até que, em seguida, um trabalhador local se aproximou e informou novamente que estavam planejando um roubo a nossa câmera e celulares.

Como tinha conseguido o telefone da chefe de segurança da praça, entrei em contato e informei a situação e obtive um retorno que os guardas não estavam fazendo ronda por causa da chuva. Então fui em busca de policiais militares, informando toda a situação e pedindo reforço de segurança na praça. Os policiais apareceram cerca de 30 minutos depois, revistaram as pessoas em situação de rua

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presentes na praça e saíram do espaço, piorando o clima da instalação visto que após essa abordagem, começamos a sofrer ameaças por meio de gestos agressivos.

Depois de tentar contato novamente com a chefe de segurança e levando em consideração o dia anterior, em que a maior parte do público escutou os relatos pela manhã, entrei em contato com os fornecedores e decidi cancelar o turno da tarde e a instalação do dia seguinte, visto que a informação da chefe de segurança sobre a ronda local ser suspensa em dia de chuva, junto às ameaças gestuais sofrida nesse segundo dia, me deixou com grande sensação de insegurança.

Ao chegar em casa, entrei em contato com a prefeitura para explicar a situação e solicitar a retirada do ponto de energia, que ficou coberto com um plástico por causa da chuva. Além disso, busquei com a Fundação Gregório de Mato, parceira do projeto, uma solução para o próximo dia, como a instalação da estrutura do Espaço Cultural Barroquinha ou no Teatro Gregório de Matos, porém eu precisaria esperar a confirmação até o dia seguinte, tempo para alinhamento e ajustes internos.

Em seguida, fui a um colégio público municipal, que fica na rua em que resido e que ensina a jovens e adultos, para entender a possibilidade de fazer a instalação dentro do colégio. A vice-diretora aprovou o projeto, porém foi negado pela diretora por acreditar que traria imprensa para o colégio e eles não teriam interesse nessa exposição. Por fim, consegui o contato da responsável pelo marketing do Shopping Piedade, que se interessou em levar o projeto para dentro do local, porém essa autorização poderia demorar semanas.

Após essas tentativas, escrevi uma nota na página do Facebook informando que o último dia do projeto foi cancelado e justificando o motivo, que foi a falta de segurança.

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Imagem 17: Nota de esclarecimento

Após a nota, os funcionários da Fundação Gregório de Matos foram marcados na publicação e logo em seguida recebi uma ligação da instituição me passando contatos dos superiores da segurança local, com orientações de como o contato deveria ser feito. Tentei ligar na própria terça-feira, porém não fui atendida.

No dia seguinte, após a decisão do cancelamento, fui entrevistada pela rádio Transamérica e questionada sobre o último dia da instalação. Na ocasião, informei que não aconteceria pela falta de segurança no local e, como havia previsão de chuva para o último dia, não teria o suporte e condições necessárias para realizar a ação.

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Após essa entrevista, recebi uma mensagem da responsável pela segurança da Praça informando que soube da mídia negativa sobre a segurança e informando que ofereceria uma equipe de segurança para garantir a continuidade da ação. Na mensagem, a segurança afirma que não recebeu um oficio informando a realização da ação da praça, apesar deste documento ter sido enviado e autorizado pela própria Fundação Gregório de Mattos.

Imagem 18: Contato da responsável pela segurança da praça, Carolina Santana.

Mesmo com essa garantia, entrei em contato com dois seguranças particulares e os contratei para o último dia, que nos acompanharam na praça durante toda ação.

Ao chegar no local da instalação, já havia uma viatura e responsável da guarda à minha espera, informando que me daria todo o suporte ao longo do dia e que teriam guardas espalhados por todo o local. De fato, todo esse suporte de segurança foi dado e, ao longo do dia, estiveram sempre à vista guardas municipais e viatura rondando o local.

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Imagem 19: Suporte de segurança da guarda municipal

Como havia previsão de chuva, contratei novamente a empresa de toldo, garantia que a ação pudesse acontecer ao longo de todo o dia.

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O último dia de instalação, quinta-feira (25), teve a maior visitação no espaço. Recebemos pessoas que ouviram sobre a instalação na rádio, viram no Facebook e até mesmo nos jornais e foram conhecer a estrutura. Nesse último dia, 121 pessoas passaram pela estrutura e escutaram o relatos, e a média de tempo escutado subiu para 05 minutos.

A maior parte das pessoas que escutaram os relatos eram homens e as relações eram mais diversas – desde o abaixar de cabeça e sair sem querer falar nada até depoimentos de mudança de percepção que serão expostos em vídeo, outro produto deste trabalho de conclusão de curso. Foram poucos os homens que desafiaram o projeto, discordando do que foi apresentado.

Imagem 21: Homens escutando os relatos

As mulheres, em sua maior parte, compartilhavam da dor. Escutei algumas vezes que os relatos não surpreendiam mais por ser algo tão diário, porém que compartilhavam os sentimentos dos relatos expostos pelo simples fato delas serem mulheres e sentirem na pele, todos os dias.

O totem, além dos áudios, tinha um espaço para que as pessoas pudessem escrever o que sentiam ao ouvir os casos ou deixar alguma mensagem sobre o tema, caso tivessem interesse. No final dos três dias, tivemos várias mensagens escritas

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na estrutura da exposição, como “Se mulheres fossem homens, elas não sofreriam assédio”, escrita por um menino de 8 anos; “Faça um escândalo”, como um incentivo a denuncia ao assédio; “Meu não é não!”, dentre outros registros escritos.

Imagem 22: Mensagens deixadas no totem

Pela experiência vivida na rua e relatos coletados, considero que a instalação cumpriu com o seu objetivo de sensibilizar e conscientizar os homens, assim como

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