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Análise e controle de sistemas de estrutura variável

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Academic year: 2021

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(1)

An´

alise e Controle de Sistemas

de Estrutura Vari´

avel

(2)

em Engenharia El´etrica

An´

alise e Controle de Sistemas

de Estrutura Vari´

avel

Disserta¸c˜ao submetida `a

Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos para a

obten¸c˜ao do grau de Mestre em Engenharia El´etrica.

Felipe Borges Cunha

(3)

Felipe Borges Cunha

‘Esta Disserta¸c˜ao foi julgada adequada para a obten¸c˜ao do T´ıtulo de Mestre em Engenharia El´etrica, ´Area de Concentra¸c˜ao em Controle, e

aprovada em sua forma final pelo Programa de P´os-Gradua¸c˜ao em Engenharia El´etrica da Universidade Federal de Santa Catarina.’

Florian´opolis, 28 de Junho de 2002.

Prof. Daniel Juan Pagano, Dr. Orientador

Prof. Edson Roberto de Pieri, Dr.

Coordenador do curso de P´os-Gradua¸c˜ao em Engenharia El´etrica

Banca Examinadora:

Prof. Daniel Juan Pagano, Dr.

Prof. Edson Roberto de Pieri, Dr.

Prof. Ivo Barbi, Dr.

(4)

Agrade¸co, em primeiro lugar, aos meus pais, Maria Ang´elica

da Silveira Borges e Arlindo Camilo da Cunha Filho, pelo apoio

constante e pela compreens˜ao.

Desejo tamb´em expressar um agradecimento especial ao meu orientador, Prof. Daniel Juan Pagano, pela dedica¸c˜ao, compa-nheirismo e paciˆencia.

Manifesto tamb´em meus sinceros agradecimentos aos mem-bros da banca, Prof. Ivo Barbi, pelo inestim´avel apoio prestado pelo Instituto de Eletrˆonica de Potˆencia, Prof. Edson Roberto de

Pieri pelas valorosas discuss˜oes dentro e fora da sala de aula, e Prof. Ubirajara Franco Moreno, por seus coment´arios que

con-tribu´ıram para a consistˆencia e rigor matem´atico deste trabalho. Quero expressar tamb´em imensa gratid˜ao aos colegas do INEP, sem os quais este trabalho n˜ao teria sido poss´ıvel, especialmente,

Wail Metzker Pastorello Filho, Denise Gerardi, Rogers Demonti

e C´ıcero Postiglione, os quais contribu´ıram ativamente trabalhan-do em colabora¸c˜ao comigo e com o Departamento de Automa¸c˜ao e Sistemas.

N˜ao posso deixar de fora os colegas e professores do DAS com quem convivi durante dois anos, e que me deram o ambiente de amizade e companheirismo indispens´avel `a realiza¸c˜ao deste tra-balho. Obrigado a todos vocˆes!

Agrade¸co `a Universidade Federal de Santa Catarina, bem co-mo a todos os seus funcion´arios, especialmente aos daP´os-Gradua¸c˜ao

em Engenharia El´etrica, por todo o suporte log´ıstico.

Agrade¸co `a COPENE - Petroqu´ımica do Nordeste S.A. pela oportunidade e apoio financeiro.

(5)

AN ´

ALISE E CONTROLE DE SISTEMAS

DE ESTRUTURA VARI ´

AVEL

Felipe Borges Cunha

Junho de 2002 Orientador : Daniel Juan Pagano,Dr.

Area : Controle

Palavras-chave : Sistemas n˜ao-lineares, sistemas de estrutura vari´avel, controle por modos deslizantes, bifurca¸c˜oes,

biomatem´atica, modelo Lotka-Volterra, eletrˆonica de potˆencia, conversor boost N´umero de P´aginas :171

Este trabalho explora uma nova abordagem para an´alise e controle dos sistemas de estrutura vari´avel. Tais sistemas, mesmo quando formados por estruturas lineares, ao sofrerem comuta¸c˜ao entre essas estruturas, se tor-nam n˜ao-lineares. Al´em disso, a comuta¸c˜ao introduz descontinuidades nas equa¸c˜oes dinˆamicas do sistema. Essas duas propriedades — n˜ao-linearidade e descontinuidade — conferem caracter´ısticas ´unicas aos sistemas de estrutura vari´avel, podendo ainda, fazer surgir certos tipos de bifurca¸c˜oes pr´oprias des-ses sistemas. Alguns dos fenˆomenos resultantes dessas bifurca¸c˜oes j´a foram relatados na literatura e observados na pr´atica, principalmente, em certos artefatos tecnol´ogicos, a exemplo dos conversores de potˆencia, que proces-sam a energia el´etrica por meio de circuitos eletrˆonicos que alternam entre diferentes estruturas dinˆamicas. Os fenˆomenos n˜ao-lineares nesses sistemas

descont´ınuos ainda constituem tema pouco explorado se comparados aos

sis-temas cont´ınuos. ´E preciso, pois, empreender novos esfor¸cos de pesquisa, no sentido de combinar o conhecimento j´a adquirido no dom´ınio dos sistemas de estrutura vari´avel com os resultados advindos da teoria qualitativa dos sistemas dinˆamicos. Por isso, este trabalho faz uma incurs˜ao nesse campo, buscando um novo foco de an´alise e propondo a constru¸c˜ao de um fundamento te´orico para o estudo de bifurca¸c˜oes em sistemas de estrutura vari´avel. Neste sentido, aplica¸c˜oes em Eletrˆonica de Potˆencia e Biomatem´atica s˜ao trazidas como exemplo, para evidenciar a ocorrˆencia das novas bifurca¸c˜oes previstas pelo m´etodo de an´alise proposto. E, respaldado nos resultados obtidos com a an´alise de bifurca¸c˜oes, m´etodos de s´ıntese de controladores s˜ao tamb´em apresentados.

(6)

VARIABLE STRUCTURE SYSTEMS

ANALYSIS AND CONTROL

Felipe Borges Cunha

Advisor : Daniel Juan Pagano

Area : Control

Keywords : Nonlinear systems, variable structure systems, sliding mode control, bifurcation, biomathematics, Lotka-Volterra model, power electronics, boost converter Number of Pages :171

This work explores a new approach to the analysis and control of vari-able structure systems. Even when composed by several linear structures, such systems become nonlinear because of the switching between its structu-res. In addition, the switching brings discontinuities into the system’s state equation. Some particular features arise in variable structure systems just because of these two properties — nonlinearity and discontinuity. These fe-atures include some bifurcation phenomena that are exclusive to these kind of system. Some of these bifurcations have been reported already, either in nonlinear-related publications or in the specialized literature of Power Elec-tronics, witch is a great field of interest for variable structure systems, since most of the power converter devices are based on switching, implemented by semiconductor devices that form a switching circuit. Nonlinear phenomena appear quite frequently in these kind of discontinuous system. However, there is still little knowledge in this area, if one compares it with the wide kno-wledge about continuous systems. Therefore, it seems necessary to develop a solid ground where to build further levels of understanding about nonlinear phenomena in variable structure systems. In particular, the combination of the qualitative theory of dynamic systems with the already familiar theory of variable structure systems appears to be very promising. That is why the approach proposed in this work seeks the construction of a theoretical basis for investigation concerning bifurcations in variable structure systems. This theoretical effort comes along with practical applications covering the fields of Power Electronics and Biomathematics. Examples are presented in order to clarify some concepts in order to bring about new bifurcations predicted by the analysis method proposed in this work. Finally, controller design techniques are derived based upon these new tools.

(7)

1 Introdu¸c˜ao 13

1.1 Sistemas N˜ao-Lineares . . . 13

1.2 Sistemas de Estrutura Vari´avel . . . 15

1.3 Eletrˆonica de Potˆencia . . . 17

1.4 Objetivos e Organiza¸c˜ao do Trabalho . . . 18

2 Sistemas de Estrutura Vari´avel 20 2.1 Equa¸c˜oes Diferenciais e Modelagem de Sistemas Dinˆamicos . . 20

2.1.1 Representa¸c˜ao Matem´atica de Sistemas Dinˆamicos . . . 21

2.1.2 Existˆencia e Unicidade de Solu¸c˜oes . . . 25

2.2 Sistemas Descont´ınuos . . . 27

2.2.1 Exemplos . . . 28

2.2.2 Modelagem de Sistemas Descont´ınuos . . . 31

2.2.3 A Descontinuidade como N˜ao Linearidade . . . 34

2.3 Solu¸c˜ao de Sistemas de Estrutura Vari´avel . . . 36

2.3.1 Solu¸c˜oes Generalizadas . . . 36

2.3.2 Modos Deslizantes . . . 39

2.3.3 Condi¸c˜ao de Existˆencia de Modos Deslizantes . . . 44

2.3.4 Pontos de Equil´ıbrio em Sistemas de Estrutura Vari´avel 47 2.4 Controle por Modos Deslizantes . . . 48

3 Bifurca¸c˜oes em Sistemas de Estrutura Vari´avel 50 3.1 Sistemas N˜ao-lineares e suas Bifurca¸c˜oes . . . 50

3.2 Bifurca¸c˜oes Associadas a Modos Deslizantes . . . 54

4 Aplica¸c˜oes em Biomatem´atica 58 4.1 Introdu¸c˜ao a Biomatem´atica . . . 58

4.2 Modelagem Ecol´ogica . . . 60

4.3 O Modelo Lotka-Volterra . . . 61

(8)

4.4.1 An´alise dos Equil´ıbrios . . . 64

4.4.2 An´alise de Bifurca¸c˜oes . . . 75

4.5 Observa¸c˜oes Finais . . . 81

5 Aplica¸c˜oes em Eletrˆonica de Potˆencia 84 5.1 Introdu¸c˜ao . . . 84 5.2 Eletrˆonica de Potˆencia . . . 85 5.2.1 Modelagem de Conversores . . . 87 5.2.2 Controle de Conversores . . . 90 5.3 O Conversor Boost CC-CC . . . 91 5.3.1 Modelagem do Boost . . . 92

5.3.2 Valida¸c˜ao dos Modelos . . . 102

5.3.3 Crit´erios e Objetivos de Controle . . . 107

5.4 An´alise de Bifurca¸c˜oes no Conversor Boost . . . 111

5.4.1 Determina¸c˜ao de Ψ . . . 114

5.4.2 Condi¸c˜ao de Existˆencia de Ω . . . 117

5.4.3 Equil´ıbrios em Modo Deslizante . . . 120

5.4.4 Discuss˜ao . . . 130

5.5 Controle do Boost e Suas Limita¸c˜oes . . . 132

5.5.1 Rejei¸c˜ao de Perturba¸c˜oes de Carga . . . 132

5.5.2 Controlador Linear . . . 136

5.5.3 Controlador de Estrutura Vari´avel com Adapta¸c˜ao Fe-edforward . . . 140

5.6 Controle do Boost Usando Filtro Washout . . . 147

5.6.1 Filtros Washout . . . 147

5.6.2 M´etodo de S´ıntese . . . 151

5.6.3 Simula¸c˜ao do Modelo . . . 156

5.6.4 Discuss˜ao . . . 158

(9)

2.1 Representa¸c˜ao esquem´atica do modelo de um sistema f´ısico. . 22

2.2 Representa¸c˜ao esquem´atica do sistema em malha fechada. . . 24

2.3 Campo vetorial e solu¸c˜oes do sistema do Exemplo 2.2. . . 29

2.4 Sistema massa-mola com atrito seco. . . 30

2.5 Trajet´orias no espa¸co de estados do sistema (2.20) . . . 31

2.6 Campo vetorial e solu¸c˜oes do sistema de estrutura vari´avel (2.34) 37 2.7 Combina¸c˜ao convexa das velocidades de fase nos pontos de descontinuidade. . . 43

2.8 Modo deslizante no duplo integrador . . . 46

3.1 Diagrama da bifurca¸c˜ao de forquilha. . . 51

3.2 Diagramas de fase do sistema (3.1). . . 52

4.1 Diagramas do fluxo das solu¸c˜oes no espa¸co de estados do sis-tema Lotka-Volterra . . . 66

4.2 Representa¸c˜ao geom´etrica dos conjuntos S, Γ e Ψ (parte 1). . 68

4.3 Representa¸c˜ao geom´etrica dos conjuntos S, Γ e Ψ (parte 2). . 69

4.4 Possibilidades de posicionamento relativo entre a superf´ıcie de comuta¸c˜ao e os equil´ıbrios naturais. . . 74

4.5 Conjunto de bifurca¸c˜oes para o modelo Lotka-Volterra sujeito a controle de estrutura vari´avel. . . 78

4.6 Diagramas de fase para as regi˜oes do espa¸co de parˆametros (pontos a-d) . . . 79

4.7 Diagramas de fase para as regi˜oes do espa¸co de parˆametros (pontos e-h) . . . 80

4.8 Regi˜oes de atra¸c˜ao dos ciclos limites para o caso g. . . 81

5.1 Processo de an´alise e s´ıntese para projeto de controladores em eletrˆonica de potˆencia. . . 90

5.2 Diagrama esquem´atico do circuito de potˆencia de um conver-sor elevador de tens˜ao cont´ınua. . . 92

(10)

5.4 Poss´ıveis topologias do circuito de potˆencia do conversor boost. 95

5.5 Modelo idealizado do conversor boost. . . 98

5.6 Diagrama esquem´atico da montagem para ensaio de pertur-ba¸c˜ao de carga. . . 103

5.7 Compara¸c˜ao de corrente entre modelo e prot´otipo . . . 104

5.8 Compara¸c˜ao de tens˜ao entre modelo e prot´otipo . . . 105

5.9 Compara¸c˜ao entre diferentes modelos m´edios. . . 106

5.10 Trajet´orias de E0 no espa¸co de estados. . . 108

5.11 Trajet´orias de E1 no espa¸co de estados. . . 109

5.12 Combina¸c˜ao de segmentos de trajet´orias naturais de E0 e E1. 110 5.13 Poss´ıveis trajet´orias formadas pela comuta¸c˜ao entre as estru-turas E0 e E1. . . 111

5.14 Variedade de equil´ıbrios, parametrizada por D. . . 113

5.15 Algumas possibilidades de configura¸c˜ao da regi˜ao Ψ. . . 116

5.16 Superf´ıcie formada pela fun¸c˜ao H determinada pelas condi¸c˜oes de existˆencia do dom´ınio de modos deslizantes. . . 119

5.17 Superf´ıcie cˆonica determinada pela desigualdade (5.62). . . 121

5.18 Efeito da invers˜ao dos sinais dos parˆametros s. . . 122

5.19 Conjunto de bifurca¸c˜oes no espa¸co de parˆametros. . . 123

5.20 Processos de surgimento das interse¸c˜oes entre Γ e S. . . 125

5.21 Conjunto de bifurca¸c˜oes no espa¸co de parˆametros. . . 126

5.22 Diagramas de bifurca¸c˜ao com κ como parˆametro. . . 127

5.23 Poss´ıveis topologias do fluxo no espa¸co de estados. . . 129

5.24 Efeito de varia¸c˜oes de R sobre o conjunto Γ e trajet´orias sa-turadas. . . 133

5.25 Trajet´oria do boost no espa¸co de fase, representando os efeitos de perturba¸c˜oes de carga. . . 134

5.26 Formas de onda de tens˜ao e corrente em malha aberta diante de perturba¸c˜ao de carga. . . 135

5.27 Diagrama do lugar das ra´ızes do sistema em malha fechada. . 137

5.28 Detalhe da Fig. 5.27 . . . 137

5.29 Rejei¸c˜ao de pertuba¸c˜oes de carga com controlador linear. . . . 139

5.30 Detalhe do sinal de controle gerado por C(s) e amostrado pelo modulador PWM. . . 140

5.31 Diagrama do sistema de controle por modos deslizantes com adapta¸c˜ao de superf´ıcie . . . 142

5.32 Trajet´orias no espa¸co de fase em resposta a perturba¸c˜oes de carga. . . 143

(11)

5.34 Detalhes do regime transit´orio da vari´avel de controle. . . 145

5.35 Trajet´orias do boost quando α = 0. . . 148

5.36 ξ e ωn em fun¸c˜ao de α para m´axima carga R = 40Ω. . . 153

5.37 ξ e ωn em fun¸c˜ao de α para m´ınima carga R = 200Ω. . . 154

5.38 Regi˜ao que satisfaz as condi¸c˜oes sobre a freq¨uˆencia. . . 155

5.39 Espa¸cos de fase tridimensionais. . . 156

5.40 Diagramas de fase. . . 157

(12)

4.1 Condi¸c˜oes para Xc∈ R2++. . . 71

4.2 Valores considerados neste trabalho. . . 76

5.1 Combina¸c˜oes dos estados discretos dos dispositivos semicon-dutores. . . 94

5.2 Valores considerados neste trabalho . . . 103

5.3 Valores dos parˆametros da fun¸c˜ao σ para a Fig. 5.15. . . 117

5.4 Compara¸c˜ao de desempenho do sistema em malha fechada pa-ra os dois controladores. . . 146

5.5 Faixas permitidas de carga e freq¨uˆencia. . . 152

5.6 Valores dos parˆametros para os pontos A e B. . . 155

5.7 Desempenho do sistema em malha fechada. . . 158

(13)

Introdu¸c˜

ao

1.1

Sistemas N˜

ao-Lineares

A segunda metade do s´eculo XX foi marcada por uma revolu¸c˜ao representa-da pela (re)descoberta dos fenˆomenos complexos associados a sistemas n˜ao-lineares. Revolu¸c˜ao no sentido atribu´ıdo por Tomas S. Kuhn [1], de substi-tui¸c˜ao de velhos paradigmas por novos. Fenˆomenos que h´a muito se pensava serem aleat´orios se revelaram como manifesta¸c˜oes determin´ısticas devidas `as n˜ao-linearidades dos sistemas. Sob essa nova perspectiva a Engenharia se viu diante de um desafio: compreender os fenˆomenos n˜ao-lineares e, mais ainda, control´a-los.

Essas duas tarefas se traduzem em modelagem e s´ıntese de sistemas dinˆamicos. Ao trabalhar com sistemas de controle, o engenheiro se depa-ra, inevitavelmente, com as n˜ao-linearidades presentes nos sistemas reais. O exemplo mais corriqueiro ´e, talvez, a satura¸c˜ao nos elementos finais de con-trole, os atuadores. Outro exemplo cl´assico ´e a presen¸ca de elementos de comuta¸c˜ao, como rel´es. Menos evidente, por´em sempre presente, ´e a pr´opria natureza n˜ao-linear dos fenˆomenos f´ısicos envolvidos com os sistemas que se deseja estudar, e inerente `as suas descri¸c˜oes matem´aticas. Enfrentar o pro-blema de modelagem significa, ent˜ao, conhecer o sistema e avaliar, `as vezes, contando com um certo grau de intui¸c˜ao, o n´ıvel de complexidade que deve ter o modelo matem´atico, a fim de adequ´a-lo `a segunda fase do trabalho: o controle. O grande paradigma para esse processo dial´etico entre an´alise e s´ıntese ´e a teoria de sistemas lineares. Ela fornece modelos com o n´ıvel de aproxima¸c˜ao adequado a que seja vi´avel a formula¸c˜ao de m´etodos gerais de s´ıntese de controladores. Por´em, falha em prever fenˆomenos complexos que surgem na pr´atica e que est˜ao intimamente ligados `a natureza n˜ao-linear dos sistemas f´ısicos.

(14)

A dificuldade em tratar sistemas dinˆamicos n˜ao-lineares, tendo como ob-jetivo o controle, entretanto, levou a abordagem da teoria de sistemas lineares `a exaust˜ao. Esta se desenvolveu em diversas dire¸c˜oes motivada pela necessi-dade de garantir a robustez e confiabilinecessi-dade do funcionamento dos sistemas de controle. Apesar das suas limita¸c˜oes, ´e justo reconhecer que, a abordagem linear atende satisfatoriamente aos crit´erios de desempenho de um grande n´umero de aplica¸c˜oes. Com efeito, mesmo na presen¸ca de n˜ao-linearidades, muitas vezes ´e poss´ıvel, mediante algumas considera¸c˜oes e aproxima¸c˜oes, aplicar o ferramental te´orico de sistemas lineares. Isto permite a utiliza¸c˜ao dos fortes resultados matem´aticos dispon´ıveis nessa teoria no projeto de con-troladores que satisfa¸cam os requisitos de funcionamento e desempenho do sistema que se quer controlar.

Todavia, n˜ao se deve perder de vista que, as aproxima¸c˜oes que permitem o uso de t´ecnicas lineares demandam sempre o atendimento de certas con-di¸c˜oes que, em geral, exigem que o estado do sistema permane¸ca pr´oximo ao ponto de opera¸c˜ao para o qual foi projetado. Se essas condi¸c˜oes n˜ao fo-rem satisfeitas, as n˜ao-linearidades desprezadas na modelagem come¸cam a se manifestar. Seus efeitos tornam-se evidentes e podem, `as vezes, levar a resul-tados catastr´oficos, revelando, nesses casos, a necessidade de uma abordagem pr´opria ao tratamento de sistemas n˜ao-lineares.

Sobretudo, por estas raz˜oes, este trabalho tem como fundamento a abor-dagem n˜ao-linear. Do ponto de vista de modelagem, descrever sistemas dinˆamicos por equa¸c˜oes diferenciais n˜ao-lineares permite analisar qualita-tivamente os aspectos peculiares a cada sistema em particular e avaliar suas propriedades dinˆamicas. Muitas das quais s´o s˜ao poss´ıveis em sistemas n˜ao-lineares, e s˜ao mas mascaradas pelo processo de lineariza¸c˜ao.

Nesse cen´ario, muitas ferramentas matem´aticas para an´alise de sistemas n˜ao-lineares tˆem sido desenvolvidas desde o final do s´eculo XIX, com os traba-lhos de Henri Poincar´e [2], at´e o presente, com ˆenfase na an´alise qualitativa de

sistemas dinˆamicos, tendo experimentado consider´avel impulso na primeira

metade do s´eculo XX com as contribui¸c˜oes da escola russa, sob a lideran¸ca de Andronov [3]. A partir da d´ecada de 1960, novo est´ımulo foi dado ao estudo de sistemas dinˆamicos n˜ao-lineares, com os trabalhos de Lorenz [4], Smale [5], e muitos outros.

Naqueles prim´ordios, uma das descobertas mais marcantes foi a cons-tata¸c˜ao de que, nos sistemas n˜ao lineares, pequenas mudan¸cas nos valores de certos parˆametros cr´ıticos podem resultar em mudan¸cas significativas no comportamento qualitativo do sistema, como por exemplo, no n´umero e na estabilidade dos pontos de equil´ıbrio; no nascimento e extin¸c˜ao de oscila¸c˜oes peri´odicas; e no surgimento de fenˆomenos dinˆamicos mais complexos, como oscila¸c˜oes subarmˆonicas e atratores estranhos. A essas mudan¸cas qualitativas

(15)

deu-se o nome de bifurca¸c˜oes [6].

Nesse contexto, a teoria matem´atica dos sistemas dinˆamicos e, em es-pecial, a teoria de bifurca¸c˜oes, permite que se obtenha, para cada sistema estudado, uma vis˜ao global da estrutura do espa¸co de estados, e de como es-ta estrutura muda, ao variarem os valores dos parˆametros do pr´oprio sistema ou os valores de parˆametros externos de controle. A teoria de bifurca¸c˜oes ´e, assim, uma das ferramentas mais abrangentes para o tratamento de sistemas n˜ao-lineares, j´a que todo comportamento dinˆamico caracter´ıstico do sistema em quest˜ao pode ser detectado a partir da an´alise de bifurca¸c˜oes [7].

Todavia, quando se trata de controle, n˜ao h´a uma abordagem ´unica ou teoria geral que sirva como guia para o projeto de controladores para sistemas n˜ao-lineares [8]. H´a, ´e claro, diversos resultados ´uteis que podem ser combina-dos de diferentes mocombina-dos para se chegar aos objetivos almejacombina-dos. Entretanto, n˜ao existe uma metodologia fechada que forne¸ca as diretrizes de como fazer isto. Dentre as t´ecnicas dispon´ıveis, destacam-se a lineariza¸c˜ao por realimen-ta¸c˜ao, projetos baseados na an´alise por fun¸c˜oes descritivas, escalonamento de ganho (gain scheduling), backstepping, controle de estrutura vari´avel, e di-versas abordagens de controle adaptativo. Algumas dessas t´ecnicas e muitas outras s˜ao baseadas na teoria de estabilidade de Lyapunov [9], que se tornou um dos principais alicerces da teoria de sistemas dinˆamicos, tanto para a an´alise de sistemas n˜ao-lineares como para a s´ıntese de controladores.

Essas t´ecnicas comp˜oem a abordagem cl´assica para o controle de siste-mas n˜ao-lineares. Todas elas s˜ao bem conhecidas da literatura e podem ser encontradas nas principais obras sobre o assunto, como, por exemplo, as re-ferˆencias [10, 11, 8, 12, 13], s´o para citar algumas. Apesar disso, em geral, tais t´ecnicas n˜ao levam em conta os resultados da teoria de bifurca¸c˜oes, que tem se revelado poderosa e abrangente no estudo de sistemas n˜ao-lineares. A combina¸c˜ao do conhecimento sobre bifurca¸c˜oes com as t´ecnicas cl´assicas de controle n˜ao-linear pode provocar um novo impulso no desenvolvimento da teoria de controle e revelar novas quest˜oes de interesse pr´atico e te´orico.

1.2

Sistemas de Estrutura Vari´

avel

O tratamento matem´atico de sistemas n˜ao-lineares j´a ´e complexo por si s´o. Dificuldades adicionais surgem quando as n˜ao-linearidades se manifestam sob a forma de descontinuidades nas fun¸c˜oes que modelam o sistema [3, 14]. A maioria dos resultados matem´aticos a respeito de equa¸c˜oes diferenciais e siste-mas dinˆamicos assume como hip´otese a continuidade das fun¸c˜oes envolvidas. Isso impede que certos sistemas f´ısicos sejam modelados e tratados pelo uso dessas ferramentas. Tais sistemas s˜ao de grande interesse em engenharia,

(16)

j´a que muitos deles descrevem artefatos tecnol´ogicos de larga aplica¸c˜ao. Os exemplos mais t´ıpicos s˜ao os sistemas de controle por rel´e [15], que se baseiam em dispositivos do tipo liga-desliga. Cada comuta¸c˜ao de um rel´e corresponde a uma descontinuidade nas equa¸c˜oes diferencias do sistema ao qual pertence. Sistemas de controle por rel´e foram amplamente utilizados nos prim´ordios da moderna engenharia de controle, principalmente, pela escola russa, duran-te a guerra fria [16, 17, 18]. A op¸c˜ao por esduran-te tipo de sisduran-tema se fundamentava, sobretudo, na simplicidade de implementa¸c˜ao e nas caracter´ısticas de robus-tez que apresentavam. O uso desta t´ecnica incentivou investiga¸c˜oes te´oricas em equa¸c˜oes diferenciais descont´ınuas. Os desenvolvimentos alcan¸cados no estudo dessas equa¸c˜oes formaram ent˜ao a base do que se conhece hoje por

Controle de Estrutura Vari´avel. Com o advento da eletrˆonica de

semicondu-tores, os sistemas de controle por estrutura vari´avel n˜ao mais se restringem a sistemas com rel´es. As descontinuidades podem ser implementadas eletro-nicamente, tanto por meios anal´ogicos quanto digitais.

O tratamento matem´atico dado a sistemas descont´ınuos proporcionou a consolida¸c˜ao do controle de estrutura vari´avel como uma das principais t´ecnicas de controle n˜ao-linear, com forte embasamento te´orico [19, 16, 17]. Quando o uso desta t´ecnica ´e uma op¸c˜ao do projetista, o pr´oprio controle ´e respons´avel pela introdu¸c˜ao de descontinuidades nas equa¸c˜oes do sistema, que, no seu modelo original em malha aberta podem n˜ao possuir qualquer descontinuidade. Deste modo, toda descontinuidade ´e oriunda da lei de con-trole implementada.

Por´em, h´a ainda uma classe de sistemas intrinsecamente descont´ınuos. Nestes casos, as descontinuidades aparecem nas equa¸c˜oes do pr´oprio sistema, independentemente do tipo de controlador utilizado. Exemplos disso s˜ao os sistemas mecˆanicos com atrito seco e os conversores est´aticos de potˆencia. Estes ´ultimos s˜ao objeto de estudo da Eletrˆonica de Potˆencia, disciplina que ´e rica em exemplos de sistemas descont´ınuos, devido `a presen¸ca freq¨uente de chaves eletrˆonicas em seus circuitos.

N˜ao obstante a origem da descontinuidade, ela confere aos sistemas des-cont´ınuos comportamentos t´ıpicos muito diferentes daqueles encontrados em sistemas cont´ınuos [20]. Fenˆomenos exclusivos relacionados com as descon-tinuidades podem ser citados, como, por exemplo, modos deslizantes [19]; zonas de estagna¸c˜ao [3]; bifurca¸c˜oes de ´orbitas deslizantes [21]; e outros [22]. Muitos desses fenˆomenos foram identificados na pr´atica em sistemas de Ele-trˆonica de Potˆencia [23, 24] e esfor¸cos tˆem sido empreendidos com o objetivo de caracterizar esses fenˆomenos e entender os mecanismos que lhes d˜ao ori-gem.

(17)

1.3

Eletrˆ

onica de Potˆ

encia

Neste trabalho, prop˜oe-se o uso de algumas das ferramentas matem´aticas dispon´ıveis na Teoria de Sistemas Dinˆamicos para a an´alise e s´ıntese de con-troladores para sistemas dinˆamicos descont´ınuos, com ˆenfase em uma apli-ca¸c˜ao espec´ıfica em Eletrˆonica de Potˆencia. Particularmente, s˜ao emprega-dos conceitos de controle por estrutura vari´avel e de teoria de bifurca¸c˜oes. Compara¸c˜oes s˜ao feitas entre diferentes tipos de controladores e novos aspec-tos concernentes a bifurca¸c˜oes em sistemas descont´ınuos s˜ao revelados. Em particular, s˜ao analisadas bifurca¸c˜oes diretamente relacionadas com modos deslizantes e com a natureza descont´ınua do sistema, e s˜ao introduzidos novos conceitos de pontos de equil´ıbrio.

Para o “estudo de caso” em Eletrˆonica de Potˆencia, este trabalho faz uso de modelagem instantˆanea no espa¸co de estados e, a partir de uma meto-dologia estruturada de sucessivas aproxima¸c˜oes, chega-se a modelos lineares simplificados no dom´ınio da freq¨uˆencia. A cada etapa de simplifica¸c˜ao, um diferente n´ıvel de complexidade ´e associado ao projeto de controladores. Este tipo de procedimento engloba os tradicionais m´etodos para a modelagem de sistemas em Eletrˆonica de Potˆencia, tais como modelos m´edios no espa¸co de estados (state-space averaging) [25, 26] e modelo linearizado da chave PWM [27].

Os modelos instantˆaneos de conversores chaveados s˜ao descont´ınuos, em conseq¨uˆencia do chaveamento. Isso sugere o uso de uma abordagem volta-da para sistemas de estrutura vari´avel se se deseja projetar controladores diretamente sobre estes modelos. Por sua vez, as descri¸c˜oes de conversores chaveados por equa¸c˜oes m´edias no espa¸co de estados s˜ao, em geral, n˜ao-lineares, do que resulta a necessidade de se projetar controladores a partir de alguma t´ecnica n˜ao-linear.

Para que seja poss´ıvel aproveitar as bem conhecidas t´ecnicas lineares pa-ra o projeto de controladores, h´a que se linearizar os modelos m´edios, o que conduz a modelos lineares invariantes no tempo. Esta abordagem apre-senta s´erias limita¸c˜oes por raz˜oes j´a mencionadas, porquanto, aplicando es-tes m´etodos, ´e praticamente imposs´ıvel detectar, caracterizar ou predizer os fenˆomenos n˜ao-lineares que esta classe de sistemas pode apresentar.

Estas limita¸c˜oes se apresentam de maneira marcante quando se leva em conta que, desde a d´ecada passada, numerosos trabalhos tˆem sido publicados relatando a observa¸c˜ao de fenˆomenos n˜ao-lineares complexos em converso-res chaveados [28, 29, 23, 30, 31, 32]. Motivado por esses relatos, muitos pesquisadores tˆem dedicado especial aten¸c˜ao a esses sistemas na tentativa de caracterizar matematicamente as dinˆamicas complexas que neles se ma-nifestam, incluindo ´orbitas deslizantes, oscila¸c˜oes subarmˆonicas e transi¸c˜ao

(18)

ao caos [22, 24, 33]. De fato, tais fenˆomenos n˜ao-lineares s˜ao freq¨uentemente encontrados, na pr´atica, pelos engenheiros, apesar de muitas vezes, n˜ao co-nhecerem as suas causas. Geralmente, a rea¸c˜ao diante dessas manifesta¸c˜oes se restringe `a tentativa de limitar a opera¸c˜ao dos sistemas e seus parˆametros a faixas de trabalho restritas, para evitar os comportamentos indesejados das “zonas n˜ao-lineares”.

Essa conduta por parte dos engenheiros revela a necessidade de se estudar de maneira formal a natureza n˜ao-linear de sistemas de eletrˆonica de potˆencia, uma vez que evitar as n˜ao-linearidades n˜ao significa elimin´a-las. Seus efeitos ficam latentes, `a espera de uma condi¸c˜ao de opera¸c˜ao que os traga `a tona, prejudicando a confiabilidade e robustez dos sistemas.

Por tudo isto, a teoria dos sistemas dinˆamicos e, notadamente, a an´alise e controle de bifurca¸c˜oes s˜ao de vital importˆancia nas aplica¸c˜oes neste campo da engenharia.

1.4

Objetivos e Organiza¸c˜

ao do Trabalho

As se¸c˜oes anteriores apresentaram de maneira resumida os trˆes principais pilares deste trabalho, que se insere num contexto multidisciplinar, como ´e natural para a Engenharia de Controle. Os objetivos, portanto, s˜ao tamb´em distribu´ıdos entre os temas de Sistemas de Estrutura Vari´avel, Teoria de Bifurca¸c˜oes e Eletrˆonica de Potˆencia.

Quanto aos sistemas de estrutura vari´avel, o Cap´ıtulo 2 faz uma revis˜ao sobre os fundamentos matem´aticos para tratamento de modelos com descon-tinuidades nas equa¸c˜oes de estado. Como resultado, se prop˜oe uma forma-liza¸c˜ao para alguns conceitos novos de classifica¸c˜ao dos pontos de equil´ıbrio de tais sistemas.

Esta elabora¸c˜ao inicial constitui um fundamento para o segundo objetivo, que ´e estabelecer uma metodologia para a an´alise de bifurca¸c˜oes em sistemas de estrutura vari´avel. Com este intuito, s˜ao apresentados no Cap´ıtulo 3 alguns conceitos relacionados `a teoria de bifurca¸c˜oes, que ser˜ao utilizados ao longo do trabalho. Tamb´em naquele Cap´ıtulo, ser˜ao introduzidas as id´eias b´asicas que fundamentam a metodologia proposta para analise de bifurca¸c˜oes em sistemas de estrutura vari´avel.

O desenvolvimento do m´etodo proposto se encerra com a sua aplica¸c˜ao a um conversor est´atico de potˆencia elevador de tens˜ao cont´ınua, conhecido como conversor boost. Por ser um sistema descont´ınuo por natureza, o conver-sor boost ´e usado como exemplo para a aplica¸c˜ao de t´ecnicas de controle por estrutura vari´avel, `a luz dos resultados obtidos com a an´alise de bifurca¸c˜oes. O objetivo principal ´e aplicar t´ecnicas n˜ao-lineares que garantam o

(19)

desempe-nho do sistema em situa¸c˜oes cr´ıticas de perturba¸c˜ao de carga. Como objetivo secund´ario, s˜ao evidenciadas as limita¸c˜oes intr´ınsecas do desempenho desse sistema, para as quais o controle n˜ao pode oferecer nenhuma solu¸c˜ao. O resultado desta an´alise serve como crit´erio de projeto para o sistema em si e para a s´ıntese de controladores. O Cap´ıtulo 5 traz estes resultados depois de apresentar uma sistematiza¸c˜ao do processo de modelagem matem´atica de dispositivos de eletrˆonica de potˆencia.

Al´em de avan¸car por essas trˆes ´areas: sistemas de estrutura vari´avel, teoria de bifurca¸c˜oes e eletrˆonica de potˆencia, este trabalho tamb´em inclui um cap´ıtulo sobre um tema que, `a primeira vista, n˜ao est´a correlacionado com os demais. Trata-se do Cap´ıtulo 4, dedicado a Biomatem´atica. Mas essa falta de correla¸c˜ao ´e apenas aparente. Ao longo do texto, ficar´a claro que os novos conceitos introduzidos n˜ao se restringem a uma ´area espec´ıfica do conhecimento. Por terem uma forte componente matem´atica, os resultados apresentados nos Cap´ıtulos 2 e 3 s˜ao de vasta aplica¸c˜ao. Isto fica evidenciado com o seu emprego na an´alise de sistemas de naturezas t˜ao d´ıspares, como eletrˆonica de potˆencia e biomatem´atica.

Mas, o Cap´ıtulo 4 n˜ao se limita a um mero exerc´ıcio da t´ecnica de an´alise proposta. A aplica¸c˜ao dessa t´ecnica conduz a importantes resultados, com implica¸c˜oes para sistemas ecol´ogicos de maneira geral.

Ao final do trabalho, no Cap´ıtulo 6, s˜ao apresentadas as conclus˜oes, se-guidas de algumas indica¸c˜oes dos caminhos para aprofundamento futuro dos temas aqui desenvolvidos.

(20)

Sistemas de Estrutura Vari´

avel

“A descri¸c˜ao matem´atica de modos deslizantes ´e um desafio e tanto. ” V. I. Utkin

2.1

Equa¸c˜

oes Diferenciais e Modelagem de

Sistemas Dinˆ

amicos

O largo espectro das diferentes abordagens que comp˜oem a teoria de controle se deve, pelo menos em parte, `as diferentes formas de modelar os sistemas de interesse. Os modelos, por sua vez, devem se adequar `a natureza dos sistemas a que se referem bem como `a finalidade a que se prestam. ´E fato amplamente conhecido que, quanto mais acurado for um modelo, maior a dificuldade de trat´a-lo matematicamente. Por isso, ´e altamente recomend´avel que a descri¸c˜ao matem´atica de um sistema f´ısico seja a mais simples poss´ıvel, sem que isto comprometa suas principais caracter´ısticas. Por´em, para fins de controle, h´a uma propriedade de todo sistema f´ısico que dificilmente pode ser negligenciada. Trata-se do car´ater dinˆamico.

Os modelos matem´aticos usados em controle sempre incorporam efeitos dinˆamicos na forma de equa¸c˜oes diferenciais ou equa¸c˜oes a diferen¸cas, segun-do a sua natureza cont´ınua ou discreta em rela¸c˜ao ao tempo. Sistemas com parˆametros concentrados s˜ao modelados por equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias (EDO) e costumam ter o tempo como ´unica vari´avel independente, enquan-to que sistemas com parˆametros distribu´ıdos s˜ao modelados com equa¸c˜oes

diferenciais parciais (EDP) dependentes do tempo e de dimens˜oes

espaci-ais. Por´em, qualquer modelo matem´atico ´e sempre uma aproxima¸c˜ao da realidade, e n˜ao ´e absurdo pensar que a variedade de sistemas f´ısicos supera enormemente a capacidade representativa dos modelos matem´aticos. Essa

(21)

limita¸c˜ao deve ser levada em conta ao se tentar descrever matematicamente sistemas de estrutura vari´avel, pois estes est˜ao sempre a desafiar os esfor¸cos de modelagem

Para os prop´ositos deste trabalho, ser´a suficiente representar os modelos matem´aticos por equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias. Por´em, a fim de definir o que seja a solu¸c˜ao de uma EDO descont´ınua, ser´a feita uma breve men¸c˜ao a

inclus˜oes diferenciais na Se¸c˜ao 2.3.2.

2.1.1

Representa¸c˜

ao Matem´

atica

de Sistemas Dinˆ

amicos

Considere-se uma fam´ılia de sistemas que podem ser satisfatoriamente mo-delados por equa¸c˜oes ordin´arias com a seguinte forma geral

F£t, y(t), ˙y(t), ¨y(t), . . . , y(n)(t), u(t), ˙u(t), ¨u(t), . . . , u(p)(t)¤ = 0, (2.1)

em que t ´e a vari´avel independente, o tempo, y ´e a fun¸c˜ao inc´ognita repre-sentando a vari´avel de sa´ıda do sistema e u ´e uma fun¸c˜ao conhecida qualquer que representa a entrada do sistema. Os ´ındices n e p representam as ordens da derivadas. Para evitar ambig¨uidades, ser˜ao considerados aqui apenas os casos em que a Eq. (2.1) aceite solu¸c˜ao ´unica para a derivada de mais alta ordem. Isso significa reduzir (2.1) a

y(n)= G¡t, y, ˙y, ¨y, . . . , y(n−1), u, ˙u, ¨u, . . . , u(p)¢, (2.2)

na qual foi omitida a dependˆencia temporal das vari´aveis por quest˜ao de simplicidade. Para que uma equa¸c˜ao diferencial na forma (2.2) possua uma representa¸c˜ao em espa¸co de estados ´e necess´ario1 que p 6 n. Tal

represen-ta¸c˜ao pode ent˜ao ser expressa como

˙x(t) = f (t, x(t), u(t)) y(t) = h(t, x(t), u(t)), (2.3) sendo x ∈ X ⊂ Rn t ∈ I ⊂ R y ∈ Y ⊂ R f : R × Rn× R → Rn u ∈ U ⊂ R h : R × Rn× R → R. (2.4) Neste caso, diz-se que (2.3) ´e uma realiza¸c˜ao da Eq. (2.2) com x como vetor de estado. Uma realiza¸c˜ao deste tipo se traduz fisicamente por um sistema

1Essa condi¸c˜ao ´e necess´aria mas n˜ao suficiente. O problema da realiza¸c˜ao de sistemas

n˜ao-lineares na forma geral (2.2) foge ao escopo deste trabalho. Um caso particular pode ser encontrado em [10] no qual a realiza¸c˜ao ´e afim no vetor de controle.

(22)

x

s

, t

u

w

y

Figura 2.1: Representa¸c˜ao esquem´atica do modelo de um sistema f´ısico. dinˆamico causal, j´a que p 6 n. Al´em disso, (2.3) representa um sistema monovari´avel de acordo com as defini¸c˜oes (2.4).

Analogamente `as equa¸c˜oes alg´ebricas, se h´a r fun¸c˜oes desconhecidas yi,

s˜ao necess´arias pelo menos r equa¸c˜oes na forma (2.2) para que o sistema te-nha solu¸c˜ao determinada. Fisicamente isso corresponde ao caso de sistemas com m´ultiplas sa´ıdas. Se, al´em disso, as equa¸c˜oes dependerem de mais de uma fun¸c˜ao externa diferente, tem-se o caso geral de um sistema multiva-ri´avel. Neste caso, a representa¸c˜ao do sistema multivari´avel ´e an´aloga `a do monovari´avel, bastando definir y ∈ Y ⊂ Rl e u ∈ U ⊂ Rm.

O caso multivari´avel ´e suficientemente geral para incluir no vetor u as entradas de perturba¸c˜oes. Por´em, para efeito de controle ´e conveniente re-present´a-las em separado, j´a que entradas de controle s˜ao manipul´aveis, en-quanto que entradas de perturba¸c˜oes n˜ao o s˜ao. Uma representa¸c˜ao gr´afica de um modelo deste tipo ´e dada na Fig. 2.1, em que o bloco representa o sistema e sua dinˆamica entre entradas e sa´ıdas.

A descri¸c˜ao matem´atica deste tipo de modelo pode ser expressa por ˙xs = gs(t, xs, w, u)

y = hs(t, xs, w, u);

(2.5) sendo que

t ∈ I ⊂ R ´e o tempo como vari´avel independente;

xs∈ Xs ⊂ Rns ´e o vetor de estados do sistema;

y ∈ Y ⊂ Rl ´e o vetor das sa´ıdas do sistema;

u ∈ U ⊂ Rm ´e o vetor das entradas de controle;

w ∈ W ⊂ Rk ´e o vetor das entradas de perturba¸c˜oes;

gs : R × Rns × Rm× Rk → Rns ´e a fun¸c˜ao dinˆamica do sistema e

hs: R × Rns× Rm× Rk → Rl ´e a fun¸c˜ao de sa´ıda do sistema.

(23)

padr˜oes de sistemas dinˆamicos na moderna teoria de controle. Considerando que o sistema que se deseja descrever por meio de (2.5) ´e controlado por uma realimenta¸c˜ao dinˆamica de sa´ıda. A express˜ao matem´atica deste controlador deve ser dada por

˙xc= gc(t, xc, r, y)

u = hc(t, xc, r, y),

(2.6) sendo que

xc∈ Xc⊂ Rnc ´e o vetor de estados do controlador;

u ∈ U ⊂ Rm ´e o vetor das sa´ıdas do controlador;

r ∈ Y ⊂ Rl ´e o vetor das referˆencias externas;

gc: R × Rnc× Rl× Rl→ Rnc ´e a fun¸c˜ao dinˆamica do controlador e

hc: R × Rnc × Rl× Rl → Rm ´e a fun¸c˜ao de sa´ıda do controlador.

A dinˆamica do sistema pode ser combinada com a dinˆamica do contro-lador para formar uma descri¸c˜ao ´unica do sistema em malha fechada. Para tanto, suponha que combinando as equa¸c˜oes de sa´ıda de (2.5) e (2.6) seja poss´ıvel isolar y na equa¸c˜ao2

y = hs

³

t, xs, w, hc(t, xc, y, r)

´

, (2.7)

formando ent˜ao uma nova fun¸c˜ao h0 dada por

y = h0(t, x

s, xc, w, r). (2.8)

Considerando o novo vetor de estados estendido

x = · xs xc ¸ , (2.9)

a fun¸c˜ao gs composta com hc e com h0 ´e dependente apenas das vari´aveis t,

x, w e r. Deste modo pode-se definir uma fun¸c˜ao fs para designar o vetor

das derivadas como ˙xs = gs µ t, xs, w, hc ³ t, xc, r, h0(t, xs, xc, w, r) ´¶ , fs(t, x, w, r). (2.10)

2Conv´em notar que, para o caso geral, nem sempre ´e poss´ıvel resolver analiticamente

para y a equa¸c˜ao (2.7). Para que isso seja poss´ıvel (2.7) deve satisfazer o teorema da

fun¸c˜ao impl´ıcita. Mesmo quando isso ´e poss´ıvel, a solu¸c˜ao pode n˜ao ser ´unica como, por exemplo, no caso em que y seja dado pelas ra´ızes de uma equa¸c˜ao quadr´atica, o que pode levar a dois sistemas diferentes, gerando ambig¨uidades.

(24)

Controlador

Sistema

r

u

w

y

Figura 2.2: Representa¸c˜ao esquem´atica do sistema em malha fechada. Da mesma forma, gcpode ser colocada em fun¸c˜ao de t, x, w e r

conside-rando (2.8) e formando

˙xc = gc(t, xc, r, h0) , fc(t, x, w, r). (2.11)

O sistema combinado fica

˙x = f (t, x, w, r) = · fs fc ¸ y = h(t, x, w, r) , h0(t, x s, xc, w, r), (2.12)

com x ∈ X ⊂ Rn sendo que n = n

s + nc. Deste modo, o sistema em

malha fechada fica representado matematicamente por uma ´unica equa¸c˜ao de estado, formando um novo sistema unificado como mostra a Fig. 2.2.

O mesmo resultado ´e v´alido se o sistema estiver sujeito a uma realimen-ta¸c˜ao de estado, pois esta pode ser considerada como o caso particular da realimenta¸c˜ao de sa´ıda em que a fun¸c˜ao hs ´e a identidade.

Quando a referˆencia ´e um vetor constante ou uma fun¸c˜ao conhecida de t,

r deixa de ser uma vari´avel de entrada e pode ser considerada como sendo um

parˆametro interno ao sistema. Se al´em disso, desprezam-se as perturba¸c˜oes, o modelo (2.12) torna-se simplesmente

˙x = f (t, x)

y = h(t, x), (2.13)

que ´e a forma mais comum na literatura de sistemas n˜ao-lineares para siste-mas variantes no tempo (n˜ao-autˆonomos).

Para que (2.13) represente um processo f´ısico real, ´e necess´ario que exista solu¸c˜ao. Al´em disso, em se tratando de modelos determin´ısticos, cada con-di¸c˜ao inicial deve conduzir a uma solu¸c˜ao ´unica. Da´ı a importˆancia de se garantir a existˆencia e unicidade da solu¸c˜ao em problemas de valores iniciais.

(25)

2.1.2

Existˆ

encia e Unicidade de Solu¸c˜

oes

O teorema que garante essa propriedade pode ser enunciado assim:

Teorema 2.1 [11] Seja o sistema de equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias sujeito

a condi¸c˜oes iniciais

˙x = f (t, x), x(t0) = x0, (2.14)

no qual x ∈ Rn e a fun¸c˜ao f : D

f ⊂ R × Rn → Rn´e seccionalmente cont´ınua

em t e satisfaz a condi¸c˜ao de Lipshitz com algum L0 > 0

kf (t, x1) − f (t, x2)k 6 L0kx1− x2k (2.15)

para todo x1 e x2 pertencentes `a bola B = {x ∈ Rn/kx − x0k 6 r} e para

todo t ∈ [t0, tk]. Ent˜ao, existe um δ > 0 tal que o problema de valor inicial

(2.14) possui solu¸c˜ao ´unica no intervalo [t0, t0+ δ].

Quando uma fun¸c˜ao f satisfaz a condi¸c˜ao (2.15) diz-se que ela ´e localmente

Lipshitz em x sobre [t0, tk] × B com constante de Lipshitz L0.

O Teorema 2.1 garante existˆencia e unicidade de solu¸c˜oes num intervalo que pode ser arbitrariamente pequeno. Para estender a solu¸c˜ao a um inter-valo de interesse [t0, tk] pode-se aplicar o teorema repetidas vezes tomando

o instante final t0 + δ como instante inicial do pr´oximo intervalo e fazendo

o estado final x(t0 + δ) ser a nova condi¸c˜ao inicial. Este processo

iterati-vo pode n˜ao durar para sempre, pois em uma dada itera¸c˜ao pode acontecer que as hip´oteses do teorema n˜ao se verifiquem mais. Uma forma de saber se ´e poss´ıvel estender a solu¸c˜ao indefinidamente ´e acrescentar hip´oteses ex-tras ao teorema de forma a garantir a existˆencia e unicidade da solu¸c˜ao para

t ∈ [t0, ∞). Isto posto, tem-se o seguinte teorema:

Teorema 2.2 [11] Seja f (t, x) uma fun¸c˜ao seccionalmente cont´ınua em t e

localmente Lipshitz em x sobre o conjunto [t0, ∞) × D. Seja toda solu¸c˜ao de

˙x = f (t, x), x(t0) = x0

pertencente a um subconjunto compacto W de D. Ent˜ao, existe solu¸c˜ao ´unica partindo de x0 definida para todo t > t0.

Um modelo matem´atico que pretenda representar um fenˆomeno f´ısico de-ve ter solu¸c˜ao. Do contr´ario, nada representaria. De fato, a maioria dos modelos dinˆamicos de sistemas f´ısicos ´e localmente Lipshitz. Por´em, os mo-delos que cont´em fun¸c˜oes descont´ınuas constituem exce¸c˜oes. Estas fun¸c˜oes claramente violam a condi¸c˜ao de Lipshitz e, mesmo assim, aparecem com

(26)

freq¨uˆencia em algumas circunstˆancias. ´E o caso de sistemas de controle com rel´es, zona morta, atrito seco (ou de Coulomb) ou qualquer outro sistema que experimente transi¸c˜oes bruscas entre diferentes estruturas dinˆamicas ou diferentes topologias f´ısicas. Essas transi¸c˜oes bruscas s˜ao geralmente mode-ladas por fun¸c˜oes descont´ınuas, mas n˜ao s˜ao necessariamente descont´ınuas por natureza.

Para ilustrar este fato considere-se o seguinte exemplo. Exemplo 2.1 Seja o seguinte sistema linear

· ˙x1 ˙x2 ¸ = · 0 1 0 0 ¸ · x1 x2 ¸ + · 0 1 ¸ u (2.16)

com a realimenta¸c˜ao de estados

u = −sgn(σ) sendo que

σ(x) = cx1+ x2

com c > 0 e a fun¸c˜ao sgn dada por

sgn(a) =

n 1 se a > 0

−1 se a < 0. Reescrevendo o sistema, tem-se que

˙x = f (x) = · f1(x1, x2) f2(x1, x2) ¸ = · x2 −sgn(cx1+ x2) ¸

Sejam os pontos xa, xb e xc tais que σ(xa) > 0, σ(xb) < 0 e σ(xc) = 0.

Tem-se ent˜ao que, fazendo xa e xb tenderem a xc, a distˆancia d = kxb− xak

tender´a a zero. Mas

lim d→0kf (xb) − f (xa)k = limd→0 ° ° ° ° · xb2 1 ¸ · xa2 −1 ¸°° ° ° = = ° ° ° ° · lim d→0(xb2 − xa2) 2 ¸°° ° ° = ° ° ° ° · 0 2 ¸°° ° ° = 2

de modo que n˜ao existe constante finita L tal que kf (xb) − f (xa)k 6 L kxb− xak

Isso mostra que f n˜ao ´e Lipshitz na vizinhan¸ca dos pontos que satisfazem σ(x) = 0, como ´e o caso do ponto xc. No entanto, deve existir solu¸c˜ao para

este sistema j´a que ele corresponde ao modelo de um t´ıpico caso de controle por rel´e. Se n˜ao existisse solu¸c˜ao, n˜ao haveria correspondˆencia com o sistema pr´atico.

(27)

O Exemplo 2.1 exp˜oe o car´ater conservador dos teoremas apresentados. Tanto o Teorema 2.1 como o Teorema 2.2 fornecem condi¸c˜oes que s˜ao apenas suficientes em rela¸c˜ao `a existˆencia e unicidade das solu¸c˜oes de equa¸c˜oes di-ferenciais ordin´arias. H´a uma vasta fam´ılia de sistemas na forma (2.13) nos quais a fun¸c˜ao f n˜ao satisfaz a condi¸c˜ao de Lipshitz e que, mesmo assim, possuem solu¸c˜ao para uma dada condi¸c˜ao inicial, ainda que esta possa n˜ao ser ´unica. Tais sistemas s˜ao de interesse pr´atico, posto que muitos fenˆomenos f´ısicos e artefatos tecnol´ogicos podem ser modelados por equa¸c˜oes deste tipo, por conterem transi¸c˜oes bruscas na sua dinˆamica.

A maneira exata como ocorrem essas transi¸c˜oes ´e, muitas vezes, demasia-damente complexa ou at´e mesmo desconhecida. Mas, mesmo quando estas se d˜ao de modo simples e conhecido, sua dinˆamica ´e muitas ordens de grandeza mais r´apida que as outras dinˆamicas do sistema. Isso justifica a aproxima¸c˜ao dessas transi¸c˜oes por fun¸c˜oes matem´aticas descont´ınuas. Na pr´atica, h´a uma vizinhan¸ca em torno dos pontos de descontinuidade chamada camada limite3

em que ocorrem fenˆomenos cr´ıticos de natureza f´ısica, como arcos el´etricos em interruptores; colis˜oes em artefatos mecˆanicos; e mudan¸cas de polariza¸c˜ao em semicondutores, por exemplo. A descri¸c˜ao detalhada desses fenˆomenos cr´ıticos n˜ao ´e essencial para o controle, apesar de haver casos em que algum conhecimento sobre esses fenˆomenos pode ser ben´efico, auxiliando na s´ıntese e na realiza¸c˜ao de controladores. Esta quest˜ao ser´a abordada no Cap´ıtulo 5, no qual um tipo de efeito espec´ıfico ser´a analisado. Contudo, para o tratamento te´orico, se considera o caso ideal. Os fenˆomenos cr´ıticos s˜ao modelados por descontinuidades, no sentido matem´atico do termo, ficando todos agrupados e “encapsulados” em uma fun¸c˜ao descont´ınua.

2.2

Sistemas Descont´ınuos

Deixando de lado a descri¸c˜ao f´ısica de fenˆomenos cr´ıticos e voltando a aten¸c˜ao para os modelos matem´aticos descont´ınuos a que d˜ao origem, novas dificulda-des se manifestam. Foi visto na se¸c˜ao anterior, como um modelo dificulda-descont´ınuo, representativo de um sistema de controle por rel´e, pode violar a condi¸c˜ao de Lipshitz, perdendo, assim, a garantia de existˆencia e unicidade da solu¸c˜ao.

Esta Se¸c˜ao introduz a formaliza¸c˜ao do conceito de sistema descont´ınuo, delimitando o universo de interesse pr´atico desse tipo de sistema, com a ajuda de alguns exemplos. Al´em disso, ´e feita uma discuss˜ao a respeito do car´ater n˜ao-linear da descontinuidade. O problema da existˆencia de solu¸c˜oes para sistemas descont´ınuos ´e adiada para a Se¸c˜ao 2.3.

(28)

2.2.1

Exemplos

Quando se fala em sistemas dinˆamicos descont´ınuos, o objeto de discuss˜ao ´e, na maioria das vezes, um sistema de equa¸c˜oes diferenciais na forma

˙x = f (t, x), (2.17)

no qual a fun¸c˜ao f : Df ⊂ R×Rn→ Rn´e descont´ınua em algum subconjunto

S do seu dom´ınio Df. Em princ´ıpio, a estrutura de S pode ser arbitr´aria,

dando origem a sistemas de dif´ıcil tratamento anal´ıtico, mas em geral, quando se trata de um caso pr´atico, S ´e uma variedade, ou conjunto de variedades contidas em Df com uma express˜ao anal´ıtica definida.

A seguir ser˜ao considerados alguns exemplos de sistemas descont´ınuos simples.

Exemplo 2.2 Considere o sistema unidimensional ˙x = f (x) =

½

c1, se x ∈ Q;

c2, se x /∈ Q , (2.18)

sendo Q o conjunto dos n´umeros racionais e f : R → R uma fun¸c˜ao real com parˆametros c1 6= c2. Neste exemplo, a fun¸c˜ao f ´e descont´ınua em todos os

pontos do seu dom´ınio, que ´e o conjunto dos n´umeros reais. Em virtude das descontinuidades da fun¸c˜ao f , n˜ao h´a intervalo cont´ınuo no seu dom´ınio no qual f satisfa¸ca a condi¸c˜ao de Lipshitz. Isso significa que nada se pode dizer a respeito da solu¸c˜ao do sistema (2.18).

A fun¸c˜ao f definida em (2.18) ´e conhecida com fun¸c˜ao de Dirichlet, e foi proposta por Peter Gustav Lejeune Dirichlet em 1837 para exemplificar a generalidade do conceito de fun¸c˜ao, que no s´eculo XIX come¸cava a tomar a forma que conhecemos hoje [34]. Portanto, o sistema do Exemplo 2.2 ´e totalmente artificial e n˜ao representa nenhum sistema f´ısico. Dado o tipo de descontinuidade da fun¸c˜ao f , ´e muito prov´avel que n˜ao exista solu¸c˜ao para o sistema (2.18).

Exemplo 2.3 Outro exemplo interessante ´e o sistema dinˆamico ˙x1 = f1(x) = −x12x+x1 22

˙x2 = f2(x) = −x12x+x2 22,

(2.19)

no qual o campo vetorial f = [ f1 f2]T ´e descont´ınuo na origem, ¯x =

[ 0 0 ]T mas ´e cont´ınuo em qualquer outro ponto do dom´ınio. Apesar da

(29)

−1 −0.5 0 0.5 1 −1 −0.5 0 0.5 1 x 1 x 2 Campo vetorial −0.5 0 0.5 1 x 1 Evolução de x 1 partindo de x10=1,0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 −0.5 0 0.5 1 t x 2 Evolução de x 2 partindo de x20=0,5 t1 t 1

Figura 2.3: Campo vetorial e solu¸c˜oes do sistema descont´ınuo (2.19) para a condi¸c˜ao inicial x0 = [1, 0 0, 5]T.

Lyapunov para a origem. Isso significa que ¯x ´e um atrator das trajet´orias. Analisando a Eq. (2.19), pode-se notar que o vetor velocidade de fase apon-ta para a descontinuidade e cresce em magnitude `a medida que se aproxima desta. Por´em, quando o estado do sistema alcan¸ca a descontinuidade em um tempo finito t1, o sistema torna-se indefinido para t > t1, como mostra a Fig

2.3.

Exemplo 2.4 Seja o sistema mecˆanico composto por um bloco de massa m

sobre uma superf´ıcie plana e preso a uma mola com constante k como mostra a Fig. 2.4. H´a atrito seco entre a superf´ıcie e o bloco, que se move em apenas uma dire¸c˜ao.

Um poss´ıvel modelo dinˆamico para este sistema ´e

˙x1 = x2

˙x2 = −mkx1 m1p(x2), (2.20)

com x1 como posi¸c˜ao e x2 como velocidade, sendo que p ´e um modelo do

atrito seco, ou de Coulomb, dado por

p(x2) =

½

+p0, se x2 > 0;

−p0, se x2 < 0 (2.21)

com p0 > 0. Neste caso, conjunto dos pontos de descontinuidade de p ´e

S = {x ∈ R2/x

(30)

Figura 2.4: Sistema massa-mola com atrito seco.

ou seja, a descontinuidade ocorre quando a velocidade do bloco se anula. Este estar´a, ent˜ao, em apenas uma das situa¸c˜oes seguintes: ou (i) em equil´ıbrio, ou (ii) no ponto de invers˜ao do sentido do movimento. Para este segundo caso, se x1 for negativo, ˙x2 ser´a positivo e vice versa. Esta considera¸c˜ao

permite concluir a partir da equa¸c˜ao de ˙x2 que,

|x1| > p0

k. (2.22)

`

A outra possibilidade restante corresponde o caso para o qual

|x1| 6

p0

k .

Isso significa que h´a um conjunto cont´ınuo e limitado de equil´ıbrios chamado zona de estagna¸c˜ao [3] dado por

Γ = n x ∈ S . p0 k 6 x1 6 p0 k o

como ilustra a Fig. 2.5 para m = 1, k = 1 e p0 = 1.

O modelo do Exemplo 2.4 oferece algumas dificuldades na caracteriza¸c˜ao do movimento quando x ∈ S, pois ao considerar x2 = 0 a equa¸c˜ao diferencial

que o determina torna-se indefinida. O modelo considera que n˜ao h´a atrito se n˜ao h´a movimento relativo entre as superf´ıcies de contato. Mas, ao mesmo tempo, considera que a intensidade da for¸ca de atrito ´e constante e indepen-dente da magnitude da velocidade, quando esta n˜ao ´e nula. A passagem de (2.20) para (2.22) transp˜oe essa barreira, ignorando, de um certo modo, os problemas da descontinuidade, por utilizar-se de um argumento mecˆanico. Na verdade, a descontinuidade do modelo do atrito (2.21) constitui uma ide-aliza¸c˜ao do fenˆomeno f´ısico em quest˜ao. Um modelo mais acurado do atrito poderia eliminar as dificuldades da descontinuidade. Por´em, tal modelo pode

(31)

−2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1 1.5 2 −2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1 1.5 2 x1 x 2

Γ

S

Figura 2.5: Trajet´orias no espa¸co de estados do sistema (2.20)

ser de tal modo complexo a ponto de introduzir dificuldades maiores. Ou, ainda, pode n˜ao ser fact´ıvel a realiza¸c˜ao de estudos pr´aticos confi´aveis para a valida¸c˜ao desses modelos ou para a determina¸c˜ao de seus parˆametros. Raz˜oes como estas motivaram o estudo deste tipo de modelo descont´ınuo para siste-mas com atrito seco e, de um modo geral, o estudo de sistesiste-mas descont´ınuos idealizados como aproxima¸c˜ao de fenˆomenos de transi¸c˜ao cr´ıtica.

A diferen¸ca b´asica entre os tipos de descontinuidade dos sistemas apresen-tados nos exemplos ´e que, no caso do Exemplo 2.2, a dimens˜ao do conjunto S, no qual a fun¸c˜ao do lado direito da equa¸c˜ao diferencial ´e descont´ınua, ´e igual `a dimens˜ao do espa¸co de estados; no sistema do Exemplo 2.3, a dimens˜ao de

S ´e zero, e no caso do Exemplo 2.4 a dimens˜ao de S ´e n˜ao nula e menor que

a dimens˜ao do espa¸co de estados.

2.2.2

Modelagem de Sistemas Descont´ınuos

A Se¸c˜ao anterior mostrou como descontinuidades nas equa¸c˜oes diferenciais podem fazer emergir comportamentos diversos levando em conta a dimens˜ao do conjunto de pontos de descontinuidade do lado direito da equa¸c˜ao diferen-cial. Nesta se¸c˜ao, ser˜ao aprofundados os estudos de sistemas descont´ınuos para os quais o conjunto S tem dimens˜ao n˜ao nula, por´em, menor que a dimens˜ao do espa¸co de estados. Estes correspondem aos casos de interesse pr´atico.

(32)

Tais sistemas podem receber diversas denomina¸c˜oes. As express˜oes

siste-mas chaveados, sistesiste-mas comutados, sistesiste-mas cont´ınuos por partes, (ou sec-cionalmente cont´ınuos), sistemas de estrutura vari´avel, sistemas suaves por partes (ou seccionalmente suaves), e outros aparecem na literatura em

con-textos semelhantes para designar os casos em que os teoremas de existˆencia e unicidade falham pela presen¸ca de descontinuidades na fun¸c˜ao f ou em suas derivadas. De todas essas express˜oes, a mais abrangente ´e sistemas suaves

por partes. Alguns autores denominam de suaves (smooth) fun¸c˜oes de

clas-se C1 [14]. Outros autores definem fun¸c˜ao suave segundo a necessidade, ou

seja, uma fun¸c˜ao de classe Ck tal que k ´e a m´ınima ordem de diferencia¸c˜ao

necess´aria para satisfazer as condi¸c˜oes de um dado teorema [7]. Entretanto, parece ser mais aceito o uso do termo suave para designar fun¸c˜oes de classe

C∞ [10, 8].

Quando um sistema ´e suave por partes, isso significa que ´e poss´ıvel se

particionar o espa¸co de estados de forma a que, em cada parti¸c˜ao, o sistema

seja suave. A fronteira S entre essas parti¸c˜oes constitui o conjunto no qual a fun¸c˜ao perde a suavidade. Como neste trabalho s´o ser˜ao tratados casos em que as descontinuidades aparecem na primeira derivada das fun¸c˜oes, ´e suficiente considerar que fun¸c˜oes suaves s˜ao aquelas de classe C1. Sendo

assim, tais fun¸c˜oes podem ser classificadas como cont´ınuas por partes. Deixando de lado as sutilezas, todos os termos destacados acima podem designar sistemas que, do ponto de vista f´ısico, tˆem uma estrutura vari´avel. Tais Sistemas de Estrutura Vari´avel tˆem um comportamento h´ıbrido no que diz respeito `a natureza das suas vari´aveis: cont´ınuas ou discretas4. Cada

estrutura individual possui sua pr´opria dinˆamica cont´ınua, mas, a transi¸c˜ao entre uma estrutura e outra se d´a por um processo discreto. Tal processo pode ser dinˆamico ou est´atico. Se for dinˆamico, a modelagem das transi¸c˜oes deve ser feita usando ferramentas espec´ıficas para processos dinˆamicos dis-cretos, tais como autˆomatos finitos ou redes de Petri, casos que fogem ao escopo deste trabalho. Para o caso est´atico, os processos discretos podem ser completamente descritos por condi¸c˜oes alg´ebricas envolvendo fun¸c˜oes das vari´aveis cont´ınuas. A literatura costuma designar por Sistemas de Estrutura Vari´avel apenas esses ´ultimos, por´em n˜ao exclui a defini¸c˜ao mais geral dada aqui.

Para se modelar sistemas de estrutura vari´avel, devem ser identificados todos os poss´ıveis estados discretos do sistema. Cada um deles representando uma diferente estrutura da dinˆamica cont´ınua. Cada uma dessas dinˆamicas ´e, ent˜ao, modelada por uma equa¸c˜ao de estados associada `a respectiva estru-tura. O modelo resultante pode ser expresso na forma

(33)

(

˙x = f (t, x(t), u(t, x))

y = h (t, x(t), u(t, x)) , (2.23)

em que f : Df ⊂ R × Rn× Rm → Rn´e uma fun¸c˜ao vetorial cont´ınua em seus

argumentos t, x e u, sendo que t ∈ R ´e a vari´avel independente (em geral o tempo), x ∈ Rn ´e o vetor de estados, e u ∈ Rm ´e uma fun¸c˜ao vetorial tal

que as descontinuidades do sistema ficam todas agrupadas em u segundo a express˜ao u : Du ⊂ R × Rn → Rm ui(t, x) = ½ u+i (t, x), se σi(x) > 0 u− i (t, x), se σi(x) < 0 i = 1, . . . , m (2.24) com σ(x) = [ σ1(x) σ2(x) . . . σm(x) ]T. (2.25) sendo σi : Rn→ R

Neste caso, u apenas funciona como “recipiente” das descontinuidades do sistema para que f esteja livre de tais descontinuidades. Por´em, u tamb´em pode ser entendida como uma vari´avel de controle implementando uma re-alimenta¸c˜ao est´atica5descont´ınua em rela¸c˜ao ao estado x ou ao tempo t. A

diferen¸ca b´asica entre estes dois casos ´e que, sendo u uma realimenta¸c˜ao, as descontinuidades s˜ao introduzidas pelo controle deliberadamente para se atingir algum objetivo espec´ıfico, o que torna o car´ater descont´ınuo uma op¸c˜ao do projetista. No outro caso, quando u for apenas um reposit´orio das descontinuidades inerentes ao sistema, n˜ao h´a como evit´a-las, e o projeto de controladores para tais sistemas tem obrigatoriamente que lidar com essas descontinuidades. Os Cap´ıtulos 4 e 5 trazem exemplos de ambas as situa¸c˜oes. As Eqs. (2.23), (2.24) e (2.25) formam o sistema descont´ınuo gen´erico que servir´a como referˆencia daqui por diante. Uma variante mais simples de (2.23) pode ser definida se o campo vetorial f for uma fun¸c˜ao afim em rela¸c˜ao ao argumento u de modo que

˙x = f0(t, x) + B(t, x)u(t, x) (2.26) sendo f0 : D

f ⊂ R × Rn → Rn e B : DB ⊂ R × Rn → Rn×m. Esta forma,

apesar de menos geral, engloba um grande n´umero de sistemas de interesse pr´atico.

5O caso da realimenta¸c˜ao dinˆamica pode ser reduzido a uma realimenta¸c˜ao est´atica

desde que algumas condi¸c˜oes sejam satisfeitas. A demonstra¸c˜ao deste resultado n˜ao faz parte do escopo deste trabalho.

(34)

2.2.3

A Descontinuidade como N˜

ao Linearidade

O objetivo desta se¸c˜ao ´e mostrar que sistemas de estrutura vari´avel (ou des-cont´ınuos) s˜ao n˜ao-lineares, mesmo se a dinˆamica fora da descontinuidade for linear.

Seja, portanto, um sistema linear por partes representado pelo operador

M : W × R → Y

y(t) = M(ζ(t), t) (2.27)

para o qual

W = X × U

sendo X ⊂ Rn o espa¸co de estados, U o espa¸co das fun¸c˜oes de entrada e Y o

espa¸co das fun¸c˜oes de sa´ıda. Cada ponto ζ ∈ W ´e formado por uma condi¸c˜ao inicial x(t0) ∈ X e um vetor de fun¸c˜oes de entrada u(t) ∈ U de modo que

ζ(t) = (x(t0), u(t)) .

Considere tamb´em que o espa¸co X ´e dividido em k parti¸c˜oes por uma fron-teira S que define qual a estrutura de M que est´a ativa, ou seja

y(t) = Mi(ζ(t), t) se x ∈ Xi

onde i = 1, 2, ..., k (2.28)

sendo que Mi corresponde a uma dinˆamica linear dada por

(

˙x(t) = Ai(t)x(t) + Bi(t)u(t)

y(t) = Ci(t)x(t) + Di(t)u(t).

(2.29) Se o estado do sistema n˜ao cruza a fronteira S em nenhum ponto da sua trajet´oria, n˜ao ocorrem transi¸c˜oes na estrutura de M. Logo, y(t) corresponde `a sa´ıda de um sistema linear dada por

y(t) = Ci(t)Φi(t, t0)x(t0) +

Z t

t0

Ci(t)Φi(t, τ )Bi(τ )u(τ )dτ + Di(t)u(t), (2.30)

onde Φ(tb, ta) ´e a matriz de transi¸c˜ao de estados do instante ta ao instante

tb. Seja Zc conjunto de todos os pontos ζ(t) que levam o sistema a este tipo

de comportamento.

Caso a trajet´oria do sistema cruze a fronteira S pelo menos uma vez, o sistema muda da estrutura i para a estrutura j em um instante td = td(ζ).

Neste caso, a sa´ıda no instante t > td torna-se

(35)

onde x(t) = Φj(t, td)x(td) + Z t td Φj(t, τ )Bj(τ )u(τ )dτ x(td) = Φi(td, t0)x(t0) + Z td t0 Φi(td, τ )Bi(τ )u(τ )dτ.

Seja Zd o conjunto de todos os ζ que levam o sistema a este comportamento.

Zc e Zd s˜ao claramente disjuntos.

Mostra-se que M ´e n˜ao-linear pela viola¸c˜ao do princ´ıpio da superposi¸c˜ao. Sejam dois pontos do dom´ınio de M,

ζ1(t) = (x1(t0), u1(t)) e ζ2(t) = (x2(t0), u2(t))

pertencentes a Zc. Isso significa que as sa´ıdas

y1(t) = M(ζ1(t), t) e y2(t) = M(ζ2(t), t)

s˜ao ambas dadas pela solu¸c˜ao (2.30) calculadas para os respectivos pontos

ζ1(t) e ζ2(t). Considere uma combina¸c˜ao linear desses pontos na forma,

ζ3(t) = α1ζ1(t) + α2ζ2(t)

de tal modo que ζ3 ∈ Zd. A sa´ıda resultante da combina¸c˜ao de entradas

calculada de acordo com a defini¸c˜ao ´e

y3(t) = M(ζ3(t), t)

dada pela solu¸c˜ao (2.31) para t > td.

Fazendo a superposi¸c˜ao das respostas individuais a cada uma das entradas

ζ1(t) e ζ2(t), a sa´ıda seria

ys(t) = α1y1(t) + α2y2(t) (2.32)

sendo y1(t) e y2(t) dados por (2.30) considerando em cada caso a respectiva

entrada.

Como por defini¸c˜ao Mi 6= Mj, ∀i 6= j, as respostas (2.31) e (2.32)

tamb´em s˜ao diferentes. Logo, M n˜ao satisfaz o princ´ıpio da superposi¸c˜ao. Como M ´e formado pelos subsistemas lineares (2.29) conclui-se que a n˜ao-linearidade foi introduzida pela descontinuidade.

(36)

2.3

Solu¸c˜

ao de Sistemas de Estrutura Vari´

avel

O objetivo desta se¸c˜ao ´e destacar os aspectos peculiares das solu¸c˜oes de sistemas de equa¸c˜oes diferenciais descont´ınuas. O pr´oprio conceito de solu¸c˜ao ´e revisto e generalizado para englobar as dinˆamicas pr´oprias de sistemas de estrutura vari´avel.

A seguir, apresenta-se uma generaliza¸c˜ao do conceito de solu¸c˜ao de acordo com a teoria de Filippov [14]. Em seguida, Analisam-se as principais solu¸c˜oes exclusivas de sistemas de estrutura vari´avel.

2.3.1

Solu¸c˜

oes Generalizadas

De um modo geral, entende-se por solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao diferencial na forma

˙x = f (t, x) (2.33)

uma fun¸c˜ao x(t) diferenci´avel em rela¸c˜ao a t e para a qual a derivada ´e igual `a fun¸c˜ao f num dado intervalo de interesse. Por´em, se f ´e descont´ınua essa defini¸c˜ao n˜ao ´e adequada, como mostra o exemplo a seguir.

Exemplo 2.5 [14] Seja a seguinte equa¸c˜ao

˙x = 1 − 2sgn(x), sgn(x) =

( 1, se x > 0 0, se x = 0 −1, se x < 0.

(2.34)

Para x < 0 tem-se ˙x = 3 de modo que x(t) = 3t + c+. J´a para x > 0

tem-se ˙x = −1 sendo que a solu¸c˜ao fica x(t) = −t + c−. Em ambos os casos,

a medida que t cresce, x se aproxima da reta x = 0. Tanto para x < 0 como para x > 0, o sinal da derivada ˙x faz com que a solu¸c˜ao, uma vez tendo atingido o ponto x = 0, permane¸ca fixa na origem de modo que sua express˜ao seria x(t) = 0, como mostra a Fig. 2.6. Mas essa fun¸c˜ao n˜ao satisfaz a equa¸c˜ao diferencial, pois sua derivada ´e ˙x(t) = 0 que difere da fun¸c˜ao f para x = 0, que vale 1 − sgn(0) = 1.

Este exemplo mostra claramente a necessidade de uma generaliza¸c˜ao do conceito de solu¸c˜ao para equa¸c˜oes diferenciais descont´ınuas, pois, deixa evi-dente que a defini¸c˜ao usual n˜ao permite a existˆencia de solu¸c˜ao sobre os pon-tos de descontinuidade. Uma exposi¸c˜ao detalhada sobre tal generaliza¸c˜ao pode ser encontrada em [14]. Ser´a apresentada aqui uma breve discuss˜ao.

Considere-se a classe de sistemas de estrutura vari´avel definida pelas equa¸c˜oes gerais (2.23), (2.24) e (2.25). Cada fun¸c˜ao escalar σi(x) determina

(37)

−0.5 0 0.5 1 1.5 2 −2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1 1.5 2 t x

Figura 2.6: Campo vetorial e solu¸c˜oes do sistema de estrutura vari´avel (2.34) que este n˜ao ´e o caso geral de um sistema descont´ınuo, j´a que as desconti-nuidades est˜ao restritas aos pontos pertencentes `as variedades de dimens˜ao

n − 1 definidas pelos m conjuntos

Si = {x ∈ Rn/σi(x) = 0} i = 1, . . . , m. (2.35)

O conjunto de todos os pontos de descontinuidade de u ´e

M =

m

[

i=1

Si. (2.36)

Cada variedade Si ´e uma superf´ıcie de chaveamento, pois cada uma delas

divide o espa¸co de estados em duas regi˜oes: uma para a qual vale a fun¸c˜ao

u+i (t, x) e outra em que vale a fun¸c˜ao u−i (t, x). A equa¸c˜ao (2.24) rege esta comuta¸c˜ao de u, por´em ela nada diz sobre o comportamento de u quando

x ∈ Si ou seja, quando σi(x) = 0.

A fim de definir uma solu¸c˜ao para a equa¸c˜ao diferencial (2.23) considera-se que para cada ponto (t, x) do dom´ınio Du h´a um conjunto associado

U(t, x) ⊂ Rm. Sempre que x n˜ao for elemento de M, tal conjunto se

re-duz a um ponto que coincide com o valor de u(t, x). Quando x for ponto de descontinuidade de qualquer componente ui, o conjunto U(t, x) ´e dado na

forma do produto cartesiano

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