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Envelhecer ontem e hoje: a perspetiva do idoso

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Envelhecer Ontem e Hoje: A Perspetiva do Idoso

SÓNIA CRISTINA DA SILVA CLEMENTE

Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para a

obtenção do Grau de Mestre em Serviço Social

Orientador

Professor Doutor Artur Fernando Arade Correia Cristóvão

Vila Real

Outubro de 2013

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Agradecimentos

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Pretendo aqui agradecer a todos aqueles que mais diretamente

apoiaram a elaboração deste relatório.

Nem a sobrecarga do trabalho conseguiu esmorecer a

disponibilidade do orientador, Prof. Doutor Artur Cristóvão,

insubstituível na sua dedicação, no seu empenho e no seu saber.

Sempre simpático e com uma palavra amiga.

A todos os idosos que entrevistei, que cooperaram sempre com

entusiasmo e disponibilidade, aqui vai o meu agradecimento. Sem

eles, este trabalho não faria sentido.

A três partes da minha vida, meus queridos afilhados Andreia,

Hugo e Théo, o vosso amor acompanha-me em cada dia.

Ao meu irmão Raúl e á minha cunhada Manuela – Obrigado.

Finalmente à pessoa mais importante da minha vida, a minha mãe

Lucinda, que depois da morte de meu pai me deu motivação, força,

coragem e muito amor.

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Índice Geral

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Dedicatória... ii

Agradecimentos ... iii

Índice Geral ... v

Índice de Gráficos e Figuras ... viii

CAPÍTULO I - Introdução ... 1

CAPÍTULO II – Enquadramento Teórico ... 5

1.1 Envelhecimento ... 6 1.2 Processo de Envelhecimento ... 8 1.3 Interpretações do Envelhecimento... 12 1.4 Envelhecimento Psicossocial ... 14 1.5 Representações e Estereótipos ……...15 2.1 O Idoso e os Cuidadores ... 17 2.2 Institucionalização ... 19

2.3 Idosos, Solidão e Exclusão ... 22

2.4 Idosos, Sociedade e Reforma ... 25

CAPÍTULO III - Metodologia ... 29

1.1 Tipo de Estudo ... 30

1.2 Caracterização do Contexto e da População... 33

1.3 Definição da Amostra ... 35

CAPÍTULO IV - Resultados ... 37

CAPÍTULO V- Reflexões Finais ... 56

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vii ANEXOS

Anexo I – Guião das Entrevistas ... 63 Anexo II- Autorização ... 65

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Índice de Gráficos e Figuras

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Mapa 1 - Mapa de Vila Real………...42

Gráfico 1 – Representação do género da amostra……….…...44

Gráfico 2 – Representação da idade pelos grupos urbano e rural………...…..45

Gráfico 3 – Representação da estrutura familiar do grupo urbano……….47

Gráfico 4 – Representação da estrutura familiar do grupo rural………...48

Gráfico 5 – Representação da conotação da palavra “velho” no grupo urbano e rural...49

Gráfico 6 – Representação da caracterização económica da amostra………….……....50

Gráfico 7 – Representação do nível de alfabetização dos diferentes grupos……..…….52

Gráfico 8 – Representação da amostra que vive só ou acompanhada……….54

Gráfico 9 – Representação das relações de vizinhança nos grupos analisados………...55

Gráfico 10 – Representação da autonomia nos grupos analisados………..57

Gráfico 11 – Representação da vontade de institucionalização na amostra analisada…60 Gráfico 12 – Representação do sentimento de valorização no grupo urbano………...61

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Capítulo I - Introdução

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2 A sociedade é, na sua essência, o conjunto de todos os seres humanos, e suas interligações no domínio social e biológico. À luz do que é humanizante, queremos olhar a realidade em que estamos inseridos, e responder aos desafios com qualidade de vida e bem-estar social. Este bem-estar não significa apenas disponibilidade de bens materiais (comida, habitação, dinheiro, acesso aos serviços de saúde, educação, etc.), mas engloba a nova forma de bem-estar, com segurança, dignidade pessoal, satisfação de vida e sentido positivo de si próprio.

O fenómeno do envelhecimento da população é mundial, e Portugal não está excluído. Importa, pois, desenvolver meios capazes de proporcionar uma resposta adequada às crescentes necessidades dos idosos. É uma responsabilidade da sociedade em geral e de cada um em particular.

O envelhecimento é um processo universal, gradual e irreversível de mudanças e transformações que ocorrem com a passagem do tempo. Processo este complexo e que diverge de indivíduo para indivíduo. Depende de fatores genéticos e externos, tal como do estilo de vida, educação e do ambiente em que se vive. Os domínios biológico, psicológico e social, estão intimamente relacionados, contudo, parece consensual que o envelhecimento será o processo contínuo que ocorre desde o nascimento até à morte, enquanto, que a velhice é uma fase da vida, a última, designando-se por idosos o indivíduo que se encontra neste período de vida (Oliveira, 2010).

A velhice é, pois, uma etapa de uma vida marcada pela longevidade que, embora tenha o processo de envelhecimento como pano de fundo, não se confunde com este. Envelhecer não é ser velho, é ir sendo mais velho, dentro de um processo complexo de envelhecimento entre o nascimento e a morte, processo comum a todos os seres vivos (Cardão 2009; p.30).

Na presente sociedade capitalista e globalizada, que se caracteriza por uma visão utilitarista do ser humano e onde as transformações ocorrem a grande velocidade, o idoso é colocado numa posição de desvantagem. Esta sociedade procura “descartar” o “velho”, não lhes proporcionando igualdade de oportunidades e participação. Esta sociedade capitalista ressalva o caracter improdutivo do idoso, levando-o a uma morte antecipada, a chamada “morte social”. Por outro lado, são cada vez mais frequentes as situações de desrespeito e violência (física e emocional), especialmente nos idosos economicamente mais desfavorecidos. A sociedade apoderou-se do “esquecimento” dos seres que, no passado, contribuíram para a sua existência e desenvolvimento. O idoso é,

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3 hoje, muitas vezes, visto como uma mera estatística, um objeto, uma “fardo”, existente, sem voz, sem participação social.

Os idosos, devido às suas características, são especialmente vulneráveis. Daí a necessidade de criar legislação própria. O Princípios das Nações Unidas para o Idoso (Resolução 46/91 – Aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas 16/12/1991), sublinham direitos como a independência: ter acesso à alimentação, à água, à habitação, ao vestuário, à saúde, a apoio familiar e comunitário; ter oportunidade de trabalhar ou ter acesso a outras formas de geração de rendimentos; poder determinar em que momento se deve afastar do mercado de trabalho; ter acesso à educação permanente e a programas de qualificação e requalificação profissional; poder viver em ambientes seguros adaptáveis à sua preferência pessoal, que sejam passíveis de mudanças; poder viver em sua casa pelo tempo que for viável.

Segundo a Constituição da República Portuguesa (art.º 72), as pessoas idosas têm direito à segurança económica, às condições de habitação, ao convívio familiar e comunitário, e a serem respeitadas no âmbito da sua autonomia.

São-lhes atribuídos direitos na participação, de permanecer integrado na sociedade, participar ativamente na formulação e implementação de políticas que afetam diretamente o seu bem-estar e transmitir aos mais jovens conhecimentos e habilidades; de aproveitar as oportunidades e prestar serviços à comunidade, trabalhando como voluntário, de acordo com seus interesses e capacidades; de poder formar movimentos ou associações de idosos.

Direitos na assistência, de beneficiar da assistência e proteção da família e da comunidade, de acordo com os seus valores culturais; ter acesso à assistência médica para manter ou adquirir o bem-estar físico, mental e emocional, prevenindo a incidência de doenças; ter acesso a meios apropriados de atenção institucional que lhe proporcionem proteção, reabilitação, estimulação mental e desenvolvimento social, num ambiente humano e seguro; ter acesso a serviços sociais e jurídicos que lhe assegurem melhores níveis de autonomia, proteção e assistência.

Apesar dos seus direitos estarem consagrados na lei, são muitos os casos em que é violada a sua vontade, sendo-lhes impostas situações, nomeadamente a institucionalização, independentemente da sua vontade, do seu querer.

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4 A escolha da problemática da minha dissertação prende-se com o facto de, vivendo numa aldeia próxima de Vila Real, ter tido desde muito nova contacto com a realidade dos idosos, em regra geral isolados. Assim, a minha investigação pretende, para além de uma reflexão sobre o tratamento atual dos mais idosos, dar voz a quem não a tem. Assim, visa saber o que pensam os idosos da sua realidade atual, quais as suas necessidades, os seus desejos, ou mesmo sonhos. Tenta perceber as relações destes com a família, a comunidade e as instituições. Tem ainda como objetivo saber como os idosos desejariam ser tratados nesta fase final de suas vidas.

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Capítulo II- Enquadramento Teórico

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6 1.1- Envelhecimento

Em Portugal verifica-se um acentuado crescimento da população idosa. Uma realidade presente em todos os países da Europa industrializada, devido ao decréscimo das taxas de natalidade e de mortalidade (Fonseca e Paúl 2005; p.17).

O envelhecimento caracteriza-se por perdas biológicas, com privações ou restrições de energia física, de acuidade visual, de massa óssea e mobilidade. Há ainda perdas psicológicas, com alterações cognitivas e emocionais; e sociais, com perda de papéis e de estatutos, a separação, rejeição ou morte de familiares e amigos, e a perda de suporte social (Cardão, 2009; p.34).

Apesar do conceito de envelhecimento ser usado diariamente, a sua conceptualização não é simples nem linear (Lima 2010). Ao longo dos tempos, o conceito e as atitudes perante o idoso têm sofrido mutações. Citando Yates (1993), Paúl define envelhecimento como “…um processo termodinâmico de quebra de energia, geneticamente determinado e condicionado ambientalmente, deixando resíduos que progressivamente aumentam a possibilidade da ocorrência de doenças, de acidentes e de instabilidades dinâmicas que por fim resultam com a morte” (Paúl 2005; p.28).

O envelhecimento é, antes de mais, uma questão demográfica associada ao aumento de esperança de vida e ao declínio da mortalidade. Existem várias consequências do envelhecimento demográfico. No domínio da saúde, verifica-se um aumento das exigências nos serviços, aumento de gastos médicos e hospitalares. A nível económico, verifica-se o aumento dos reformados e, consequentemente, uma diminuição da população ativa e aumento dos encargos com prestações sociais (Oliveira 2010; p.18).

Lima (2010) refere que o envelhecimento individual corresponde ao normal crescimento e desenvolvimento, sendo parte integrante da vida e algo que não pode ser evitado, dependendo o processo de fatores genéticos, ambientais e estilos de vida. “O desafio do envelhecimento não se restringe à compreensão do fenómeno mas, sobretudo à possibilidade de participar na sua construção social, em vez de apenas o experienciar como uma realidade natural” (Lima 2010; p.130).

Birrei, citado por Lima (2010; p.13), distingue três tipos de envelhecimento: o envelhecimento biológico, que resulta do aumento da vulnerabilidade e de uma maior probabilidade para morrer (morbilidade); o envelhecimento psicológico, definido pela

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7 auto-regulação dos indivíduos, e que sucede em funções psicológicas como a memória, afectando tomada de decisões; e o envelhecimento social, que se refere ao modo como a sociedade vê os papéis que lhes são atribuídos.

Interpretando estas perspetivas, a autora conclui que o envelhecimento é um “processo universal, gradual e irreversível de mudanças e transformações que ocorrem com a passagem do tempo” (Lima 2010; p.14). Este processo complexo diverge de indivíduo para indivíduo. Depende de fatores genéticos e externos, tal como do seu estilo de vida, educação e do ambiente em que vive. Os domínios biológicos, psicológicos e sociais estão intimamente relacionados, contudo, parece consensual que o envelhecimento será o processo contínuo que ocorre desde o nascimento até à morte, enquanto que a velhice é uma “fase da vida, a última, designando-se por idosos o indivíduo que se encontra neste período de vida” (Lima 2010; p.15).

O que é envelhecer? Consultando no dicionário, o termo “velho/velha” é definido como pessoa de muita idade. Contudo, as derivações da palavra velhice, como envelhecimento e envelhecer, são usadas de modo diferente. Também outros sinónimos são usuais como a palavra “idoso”. Relevante é reter que falar de velhice, pode referir-se à idade cronológica, à idade biológica (saúde/doença), à idade psicológica e, ainda, à sociocultural (Lima 2010).

A velhice é uma etapa de uma vida marcada pela longevidade que, embora tenha o processo de envelhecimento como pano de fundo, não se confunde com este. Envelhecer não é ser velho, é ir sendo mais velho, dentro de um processo complexo de envelhecimento entre o nascimento e a morte, processo comum a todos os seres vivos (Cardão 2009; p.30).

Segundo Oliveira (2010), não é adequado usar o eufemismo de “idoso” em pessoa “velha”, porque “velho” não é uma expressão depreciativa. Em muitos países e diversas culturas a palavra “velho” é sinónimo de sabedoria e estatuto, situação não verificável em Portugal. A velhice depende da sociedade e do contexto histórico, tal como os papéis que lhes são atribuídos.

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8 1.2- Processo de Envelhecimento

Costa (2002, pag.37) define o envelhecimento como “processo experiencial subjetivo, que pode definir-se como a auto-regulação exercida através de decisões e escolhas para a adaptação ao processo de senescência.” Costa (2002; p.37) adiciona um novo conceito na definição de envelhecimento: a senescência. Segundo o mesmo autor, “o envelhecimento é um processo segundo o qual o organismo biológico, tal como o corpo humano, existe no tempo e muda fisicamente, sendo que da senescência resulta um aumento da vulnerabilidade e a probabilidade de morte”.

Embora não exista ainda uma base fisiológica, psicológica, ou social que permita marcar o seu início, o envelhecimento traduz-se por uma diminuição das capacidades de adaptação ao meio e às agressões da vida, refere Costa (2002). As diferenças de envelhecimento entre os seres humanos permitem dizer “envelhecimentos” em vez de “envelhecimento”, porque cada indivíduo, portador de uma carga genética única, adquire um envelhecimento diferente, consoante influências substanciais da nutrição, estilos de vida e ambiente. Birren e Renner (1985) referem envelhecer como “mudanças regulares, que ocorrem em organismos geneticamente maduros, que vivem em condições ambientais específicas, à medida que a idade cronológica avança”.

Segundo Paúl e Fonseca (2005; p. 28), o envelhecimento “com base na teoria do caos, pode ser definido como um processo de aumento de entropia com a idade, da qual pode surgir a ordem ou a desordem, a dinâmica do envelhecimento (gerodinâmica) trata da série finita de mudanças em direção a uma maior desordem e estruturas ordenadas de maior diferenciação (ser único) ”.

Paillat (1986), citado por Costa (2002; p.37), refere “que não se pode continuar a considerar velhice como um grupo homogéneo, sendo que envelhecer é um processo dinâmico, habitualmente lento e progressivo, mas individual e variável, o que poderá justificara tendência para denominar os idosos como um grupo heterogéneo”. A velhice é então um processo individual e heterogéneo, assim como inevitável e irreversível. As pessoas não envelhecem da mesma forma, nem no mesmo espaço temporal. Os idosos apresentam uma enorme variabilidade inter e intra individual.

As definições de velhice e envelhecimento são múltiplas e evoluirão com o avanço do conhecimento nesta área. Embora cada definição possa ser mais abrangente

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9 que outra, envelhecimento será sempre e simplesmente o processo que identifica a velhice, o de passar de um estádio evolucional para o seguinte, arrastando sinais físicos, psicológicos e sociais que identificam a passagem dos anos.

Birren (1995) considera que o envelhecimento é um processo ecológico, uma interação entre organismos com um determinado património genético e diversos meios físicos e sociais. Muita reflexão se tem feito nos últimos anos tentando explicar de forma clara porque envelhecemos e como envelhecemos, de forma a compreender melhor todo o processo do envelhecimento. Não existe até ao momento uma única explicação, pois o envelhecimento é multifatorial e multidimensional. As teorias do envelhecimento ajudam-nos a compreender este processo complexo. Há várias teorias, não se podendo afirmar que umas são mais corretas do que outras, nem mais importantes, uma vez que depois de analisadas verifica-se que afinal são complementares. Assim sendo, serão descritas algumas seguidamente.

Reportar sobre as principais alterações no processo de envelhecimento não implica apenas falar sobre as principais doenças que afetam este estádio do desenvolvimento, tanto que os grandes problemas não se limitam às doenças. As doenças talvez sejam o menor dos problemas que afetam os idosos, dado que o conhecimento científico tem apresentado uma manifesta coincidência entre a esperança de vida e esperança de saúde, como enuncia Costa (2005). O mesmo autor defende que “situações como a solidão, o sentido de perda dos contactos familiares e sociais, a carência de recursos económicos ou de suporte social e a perda de autonomia (condicionante da sua incapacidade e dependência) são os novos e os velhos motivos que continuam a perturbar o sistema global de cuidados que opera com os idosos, ao mesmo tempo que estes são os alvos mais diretos”. Além disso “a idade não se revela uma medida adequada para determinar o estado de saúde das pessoas”, segundo Costa (2005).

As alterações decorrentes do envelhecimento não afetam ao mesmo tempo todos os idosos, nem os afetam da mesma maneira. Por isso, não podemos afirmar que existe só um tipo de idade, existem vários: idade cronológica, idade biológica, idade psicológica, idade emocional e idade social, entre outras, que variam segundo os patamares da nossa perspetiva de avaliação.

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10 Quando falamos de idade cronológica falamos no número exato de anos que o indivíduo, possui naquele momento. A idade cronológica não se apresenta como um bom critério para entender as alterações consequentes do envelhecimento de um indivíduo porque o número de anos não fornece informação completa sobre a sua saúde, estado psicológico, papel social e qualidade de vida. Outro tipo de idade que se deve ter em conta no estudo das alterações associadas ao envelhecimento é a idade biológica, que se encontra relacionada com a evolução/envelhecimento do organismo. Para Sachie (1992), citado por Paúl e Fonseca (2005), “o declínio de natureza diferencial não atinge todas as funções nem todos os indivíduos de modo uniforme, nem mesmo depois dos 80 anos. As pessoas mantêm seletivamente algumas capacidades, enquanto outras se deterioram, provavelmente em função das doenças cardiovasculares, da educação e do nível ocupacional”.

Já por si, idade psicológica e idade social são variâncias do envelhecimento também afetadas por vários fatores. Na idade psicológica, há o intuito de se reportar sobre a maturidade mental da pessoa, das suas capacidades cognitivas. O evoluir da idade psicológica é afetado pelo modo que o indivíduo vê a sua vida e como age em função do seu pensar. Na idade social, o indivíduo está à mercê das dinâmicas sociais. A sociedade em torno do indivíduo, é que classifica o seu envelhecimento. Segundo Paúl e Fonseca (2005), existe “uma ideia fundamental ao iniciarmos o estudo sobre o processo de envelhecimento: a variabilidade inter-individual dos idosos é superior à verificada noutros grupos etários”.

O estado de vulnerabilidade e fragilidade próprias do envelhecimento podem transformar os idosos em vítimas potenciais da violência por parte do cuidador. Os fatores principais que influenciam as alterações associadas ao processo de envelhecimento, tendo em conta as ideias referidas por Costa (2005), são: biologia humana (capacidades funcionais, físicas, mentais e sociais e respetiva capacidade de adaptação); ambiente; hábitos diários de vida; informação a que se tem acesso ao nível da educação para a saúde; cuidados recebidos; capacidade de sociabilização e sociedade onde está inserido.

Porém, gostaríamos de salientar que as pessoas intimamente próximas a cada idoso desempenham um papel importantíssimo. A presença/ausência e a relação/não

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11 relação entre outros binómios, são cofatores que levam a família e/ou os amigos do idoso a catalisar o seu processo de envelhecimento e respetivas alterações.

Podemos resumir as alterações associadas ao processo de envelhecimento, da seguinte maneira: perda progressiva das capacidades do corpo; não renovação das capacidades perdidas; transformação dos processos sensoriais, percetivos, cognitivos e afetivos; mudança no autoconceito; alteração do seu papel social; perda progressiva da autonomia.

Desta forma, os idosos apresentam uma complexa natureza de necessidades. As necessidades dos idosos decorrentes do processo de velhice são várias e entre os autores consultados existe uma linha mais ou menos orientadora que cai sobre as seguintes distinções: necessidades sociais e familiares, necessidades físicas e psicossociais e necessidades socioeconómicas.

Em numerosos estudos, Veja (1990), citado por Sánchez e Ulacia (2005), afirma que os próprios idosos consideram que os seus problemas principais são, pela seguinte ordem, os económicos, médicos, de solidão e exclusão familiar. Ainda que estes resultados dependam da forma como as perguntas são feitas e das características da população estudada, são bastante significativos. Demonstram que o que podia ser uma etapa da vida livre de preocupações económicas e cheia de atividades lúdicas, como é para apenas alguns idosos, converte-se em bastantes casos num período de escassez, problemas de saúde e solidão.

Os problemas de solidão e relacionamento familiar e social ocupam um lugar destacado, como os próprios idosos reconhecem. As pessoas idosas têm basicamente as mesmas necessidades afetivas interpessoais que as crianças, os jovens e os adultos (Sánchez e Ulacia, 2005), mas têm-nas frequentemente menos satisfeitas.

A mesma conclusão se chega tendo em conta os diferentes tipos de apoio social que estes necessitam: apoio instrumental, que se refere a aspetos materiais como ajuda económica; apoio informal, que se refere a informações, ajuda para pensar ou encontrar alternativas; e apoio emocional, que é o sentimento de pertença a alguém, que se é valorizado, cuidado, desejado e querido.

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12 1.3- Interpretações do Envelhecimento

Segundo Lima (2010), citando a Organização Mundial de Saúde (OMS), a terceira idade tem início entre os 60 e os 65 anos de idade. Esta “velhice cronológica” é, pois, definida de acordo com o ter cumprido 65 anos. Se, por um lado, tem uma vantagem objetiva, por outropode levar ao erro na avaliação individual do ser humano, pois ignora a compreensão dos acontecimentos adjacentes à mesma. A idade que se apresenta não é mais que a idade cronológica. Assim, podemos dizer que os indivíduos só têm a mesma idade do ponto de vista cronológico. Podemos identificar três tipos de idade. A idade biológica, que está ligada ao envelhecimento orgânico, a idade social que se refere ao papel, aos estatutos, hábitos da pessoa em relação aos outros membros da sociedade, e a idade psicológica, que é relativa às competências comportamentais que a pessoa pode mobilizar em resposta às mudanças do ambiente.

Como verificámos anteriormente, o envelhecimento é um processo natural, indissociável de todos os seres vivos. Apesar da sua naturalidade é, em si, um processo complexo. É, pois, necessário evocar as causas endógenas e exógenas, associadas ao comportamento dos indivíduos e ao seu ambiente (Fontaine 2000; p.26). Como causas endógenas, sugerem-nos considerações que remetem para a genética e hereditariedade. Como causas exógenas, o processo de envelhecimento está ligado a fatores associados aos comportamentos dos indivíduos e ao seu meio ambiente (Fontaine 2000; p.29).

Frequentemente, o envelhecimento é associado à “3.º idade” ou “4.º idade”, quando não é mais que um processo de degradação progressivo do ser humano. É um processo natural, ao qual não foge nenhum ser vivo. A pessoa envelhece no seu todo, embora o primeiro responsável possam ser as células, os tecidos, os órgãos ou os aparelhos. Segundo este autor, pelos 40 anos inicia-se uma série de alterações fisiológicas, neurológicas e musculares (Oliveira 2010; p.37).

O envelhecimento é um processo diferencial (variável de indivíduo para indivíduo) que revela simultaneamente dados objetivos (degradação física e percetiva) e também dados subjetivos, que constituem de facto a representação que o indivíduo faz do seu próprio envelhecimento. “Tal significa que cada um de nós tem diversas idades” (Fontaine 2000; p.23).

É comum as pessoas dizerem que apesar dos seus 60, 70 anos, sentem-se mais novos, com espírito jovem. Enquanto jovens de 25, 30 anos dizem sentirem-se mais

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13 velhos (Debert, 1999). Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU), a 3ª IDADE começa aos 65 nos países desenvolvidos, e aos 60 anos nos países em desenvolvimento. Estas organizações adotaram um critério biológico para classificar o envelhecimento e consideram a classificação: meia-idade (45-59 anos); idoso (60-74 anos); velho (>90 anos).

Segundo Debert (1999), existe uma nova divisão nos estágios de envelhecimento, que são baseadas na idade e no nível de independência funcional dos idosos. Neste sentido são considerados: jovens-idosos (65 – 75 anos); idosos-idosos (> 75 anos) e idosos mais idosos (> 85 anos).

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14 1.4- Envelhecimento Psicossocial

A pessoa comporta diferentes dimensões, entre elas a biológica, psicológica, sociológica, cultural e espiritual, e interage com o ambiente que o rodeia. Nesta conceção, a pessoa idosa resulta, normalmente, da fixação de uma idade cronológica que são os 60 ou 65 anos, a qual tem vindo a perder algum sentido social, uma vez que a longevidade e a qualidade de vida destas pessoas se vai alterando (Moniz, 2003), criando uma nova perceção deste fenómeno, o envelhecimento. Partindo do pressuposto da dimensão psicológica do “envelhecer”, assume-se também a natureza subjetiva e portanto a unicidade na perceção implícita ao processo de envelhecimento. O que se questiona na verdade neste estudo? No fundo, pretendeu-se perscrutar a consciência que as pessoas têm acerca do seu próprio envelhecimento.

Recuperando a ideia de Damásio (2000; p. 32), “a consciência é um fenómeno inteiramente privado, relativo à unicidade do ser, e portanto na primeira pessoa, que ocorre no interior de um outro processo privado, e portanto na primeira pessoa a que chamamos mente”. Porém a consciência e a mente estão intimamente relacionados com os comportamentos externos, razão pela qual cada um de nós, ao observar-se comportamentalmente passa a ter acesso a esses fenómenos privados e deles passa a ter consciência. Podemos assim aceder à perceção subjetiva de alguém através dos comportamentos que vai expondo ao longo do seu percurso de vida, e à consciência que tem deles. Uma perceção traduz só por si a natureza subjetiva do que a humanidade perceciona de mundo, no contexto do mundo em que vive. Uma perceção não é uma imagem passiva da realidade, mas sim uma construção mental estruturada sobre informações captadas do exterior.

Acerca deste mesmo fenómeno humano, a perceção, importa reter a noção que Damásio (2000) explicita quando diz que o processo de percecionar é um processo que demora tempo. Acontece muitas vezes que logo após a estimulação sensorial, o indivíduo não descodifica a mensagem, mas será capaz de fazê-lo um ou dois segundos depois. Esta noção é importante ser aqui relembrada, porque determina a diferença entre a experiência e a consciência da experiência. Aceder a um conjunto de factos vividos, para perscrutar a “solidão” tem que, necessariamente, passar pela análise dos sentimentos que, os sujeitos foram construindo a partir das perceções das experiências vividas e que ao longo dos tempos, foram ficando retidas em memória.

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15 1.5- Representações e Estereótipos

Os estereótipos sobre o envelhecimento são definidos como “uma matriz de opiniões, sentimentos, atitudes e reações dos membros de um grupo com as características de rigidez e homogeneidade” (Lima cit. Simões 1985; p.207). Segundo um tratamento injusto e padronizado das pessoas mais velhas e em última análise, impacto nas intervenções políticas e sociais e na crença da sua incapacidade de se desenvolveram.

Baseiam-se em observações generalistas, através da “observação” do comportamento de um certo número de idosos. Levando a leituras incorretas e imprecisas, e como consequência destes estereótipos, as pessoas idosas são rotuladas de chatas/”caducas” (Lima 2010; p.23). Ao caracterizarmos a pessoa idosa apenas com base na sua idade esquecemos toda a sua história de vida, levando a uma caracterização predominantemente negativista. Esta descriminação afeta económica, social e psicologicamente o bem-estar do idosos, excluindo-os e denegrindo-os (Lima 2010; p.25). Velho não é sinónimo de doença. A velhice, embora mais propícia, não significa necessariamente incapacidade. “Não podemos evitar envelhecer e morrer, já que viver implica necessariamente mudar de genes que impõem limites à longevidade individual da espécie” (Lima 2010; p.37).

Lorda (1998) esclarece ser um erro deduzir que os idosos não são criativos, pois há muitos artistas, músicos, escritores e cientistas que produziram grandes obras após os 70 anos (Bethoven, Picasso, Verdi, entre outros), concluindo que a idade não determina, por si, a criatividade e a capacidade de aprender. Lorda (1998) também indica que a ideia de que os idosos não são produtivos, nasceu com o aparecimento da sociedade capitalista, que avalia o indivíduo pelo critério da produção material, excluindo os “não produtivos”. Assim, e segundo este autor, é possível haver uma velhice saudável, sem a presença de um conjunto de doenças associadas a estas idades.

Se o “idadismo” entrou no vocabulário europeu, e português também, é porque o termo “velho”, corresponde a uma realidade social nova, que é percecionada pelos indivíduos que o expressam. Em vez das discriminações raciais e sexistas, tem-se refletido agora sobre a discriminação da idade. Sempre que se abordam estes temas abordam-se três questões essenciais, como afirma Costa (2002): os idosos são muito numerosos, causam elevados custos, os seus valores são obsoletos.

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16 Faz sentido acerca desta realidade abordar a subjetividade, uma vez que esta descrição dos idosos e do envelhecimento não é unânime, nem pode, e é fortemente discutível. Subjetivo, (in Dicionário Houaiss, 2003), refere-se a algo que não tem objetividade nem parcialidade, que é tendencioso, emocional e passional, que é independente do que é concreto ao objetivo, pertencente à substância ou ao sujeito essencial, o que explica claramente a noção de unicidade para um determinado pensamento ou juízo de valor. Todavia, e como lembra Damásio (2000; p. 350), “a ideia de como as experiências subjetivas não são acessíveis do ponto de vista científico é absurda. (…) O conhecimento obtido a partir das observações subjetivas, por exemplo, o conhecimento proveniente de introspeção, pode inspirar a experiências objetivas e, é bem evidente, as experiências subjetivas podem ser explicadas em função dos conhecimentos científicos atualmente disponíveis”, razão pela qual se acede ao pensamento subjetivo dos idosos questionando-os, para através do discurso direto, poderem expressar a sua perceção subjetiva, colocando assim através dos fonemas a materialização da ideia e dando objetividade às experiências vivenciadas.

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17 2.1- O Idoso e os Cuidadores

Segundo Bourdieu (1989; p.35), “ cada sociedade, em cada momento, elabora um corpo de problemas sociais”. O problema social da velhice é produto da construção social, resultado de ideias e de interesses entre grupos sociais e entre gerações (Fernandes 1997; p.11). Ao longo dos tempos, verificamos alterações na população idosa e nos respetivos cuidadores.

A instituição família tem vindo a sofrer elevadas mutações ao longo dos tempos. A desvalorização dos laços de dependência entre os elementos dos vários círculos familiares, “ a família moderna contemporânea assenta numa ideia da família centrada sobre pessoas e não sobre coisas” (Fernandes 1997; p.20).

Também Remi Lenoir (1985) afirma que “o declínio da instituição família, inicia-se com o aparecimento das mulheres na vida económica, a idade do casamento e do nascimento do primeiro filho é cada vez mais tarde”.

Segundo Bourdieu (1984; p.135), “ a família é um lugar sagrado, secreto, de portas fechadas, separado do exterior pela barreira simbólica do limiar, … do domínio privado”. A industrialização veio acelerar o núcleo familiar até aí caracterizado por família alargada, e organizada em empresas familiares. Os anos que se seguiram ao pós-guerra, nos países então em fase de industrialização tecnológica e fraco desenvolvimento económico, foram ainda de relativa estabilidade. As famílias tiveram mais filhos, falou-se na renovação da família (Roussel 1991; p.116).

A partir da segunda metade da década de 70 do séc. XX, em Portugal, começam a dar-se transformações. Aumentaram os divórcios, a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a juntar à fraca fecundidade, os nascimentos fora do casamento, generalizam-se casamentos sem papéis, todos estes fatores levam à des-familização. O desaparecimento progressivo de empresas familiares ou empresas de produção de tipo familiar, em grande parte ligadas à agricultura, contribuiu também para a mudança na instituição família.

Em Portugal o desaparecimento destas empresas familiares é relativamente tardio em relação aos outros países europeus, a população feminina entra no mercado de trabalho também ela tardiamente, contudo o processo de des-familirazação está também

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18 relacionado com novos mecanismos de capitalização económica e/ou social (Lenoir 1985; p.76).

Com o advento das transformações fisiológicas e psicológicas ocorridas durante o processo de envelhecimento, o idoso tende, com o avanço dos anos, a viver uma vida social mais restrita, cingindo-se deste modo, cada vez mais, à sua família. Em consequência, esta torna-se um fator básico não só à sobrevivência do idoso, mas também para que este se mantenha emocionalmente equilibrado, face às contingências do declínio biopsiquicossocial. De facto, a família é uma célula fundamental, enquanto lugar privilegiado de trocas inter-geracionais. No entanto, nas sociedades onde a expectativa de vida está a ser ampliada, as relações familiares apresentam novos desafios, e a resposta a este problema social terá de ser dada pelo Estado, desta forma a “consciencialização social” levou a que os encargos com idosos, que anteriormente eram da responsabilidade da família ou de particulares, fossem transferidos para instâncias despersonalizadas e burocratizadas, em que as relações entre os agentes se operam de forma anónima, ignorando mutuamente as suas existências (Lenoir, 1997). Ou seja, o surgimento de novos desafios, aos quais as famílias têm dificuldade em responder leva à necessidade de criação de uma nova forma de gestão dos problemas sociais, resultantes da velhice e do envelhecimento demográfico.

Surge então a necessidade de qualificar a oferta disponível e diversificar a panóplia de recursos e respostas sociais existentes, pois constituem um instrumento essencial de solidariedade e coesão social, tanto para os idosos propriamente ditos como para as famílias. Deste ponto de vista, a oferta do subsector não lucrativo (rede solidária) tem desempenhado uma relevância no contexto atual.

Por um lado, assume-se como parceiro estratégico do Estado, ocupando um lugar central naquilo que constitui a oferta de respostas sociais, por outro lado, pelos fatores de inovação no sentido de diversificação da oferta de serviços e equipamentos que tem impulsionado e posto á disposição dos utentes. E ainda, porque, pela sua natureza não lucrativa, permite a uma vasta camada da população (idosos e familiares) aceder a um conjunto de apoios e respostas sociais de que muitos se veriam arredados se a sua única opção fosse o recurso privado lucrativo (rede privada). Nesta perspectiva, tem-se assumido também como um instrumento fundamental ao nível de solidariedade e coesão social.

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19 2.2- Institucionalização

O ser humano é um ser social. Para além da entreajuda essencial para a sobrevivência, a existência de relações sociais significativas é considerada como promotor da saúde mental dos indivíduos. Daí a sua importância em todos as fases da nossa vida, mas em especial naquelas que estamos mais vulneráveis, como a velhice. Ao longo da vida, a rede social vai-se alterando, mudam as famílias, os vizinhos, os amigos. Com o passar dos anos, os pares vão morrendo e os sobreviventes ficam com menos amigos, as redes sociais degradam-se e reorganizam-se. Para que haja uma manutenção apoiada dos idosos no seio da comunidade é essencial a existência de redes informais, dando-lhes maior saúde mental e proporcionando-lhes satisfação de vida.

A questão prende-se com a necessidade de aferirmos sobre onde é que o idoso é mais feliz. Será mais feliz em casa ou no lar? Será este mais feliz em casa a viver com a família ou estando numa instituição? Será a instituição o melhor caminho? A sociedade alterou-se. Houve uma grande alteração na família como instituição base. Anteriormente as famílias eram reconhecidas como a principal entidade de suporte. Muito embora ainda hoje estas tenham um papel primordial na vida dos idosos, as várias transformações ocorridas ao longo dos tempos diluíram o seu papel (Lima 2010; p.100). As transformações, como a entrada da mulher para o mercado de trabalho, a consequente diminuição de nascimentos, vieram reduzir o número de cuidadores disponibilizados. O que se verifica atualmente, com o aumento das taxas de ocupação/institucionalização, vem refletir, por um lado, o aumento do tempo de vida, mas também o aumento do número de idosos com incapacidades e dificuldades diversas.

Lima, citando Kane (2003), refere que existem 11 indicadores de qualidade de vida nas instituições para idosos: autonomia; dignidade; privacidade; individualidade; segurança; conforto físico; relações interpessoais; atividades com significado; competência funcional; diversão; e bem-estar espiritual. Contudo, outros autores colocam a importância na preparação e acompanhamento no processo de passagem do seu lar para a instituição.

“A perspetiva da ida para a instituição como uma «morte social» sublinha o seu papel na exclusão social dos mais velhos ao invés de uma alternativa social” (Lima

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20 2010; p.102). Contudo, não podemos esquecer que uma boa qualidade de vida numa instituição pode variar de pessoa para pessoa, lugar para lugar. Todos os seres são necessariamente diferentes e, logo, a sua adaptação a uma nova integração também ela diferente. O sucesso da institucionalização depende de vários fatores, do próprio idoso, da sua capacidade de interação e das características da própria instituição, é necessário inovar, proporcionando novos serviços, colocando a ênfase, não no apoio mas na promoção e na educação (Lima, 2010; p.105).

A institucionalização é compreendida por um processo duplo: com recurso a serviços sociais de internamento do idoso em lares, casas de repouso e afins, onde este recebe assistência; simbolizada pela presença de estados depressivos, significando uma das formas como o idoso sente e vive o ambiente institucional (Cardão 2009; p.11).

Este processo representa uma grande mudança na vida do idoso, despoletando e/ou acentuando a vivência de uma série de perdas, uma vez que, o idoso institucionalizado vê com nostalgia a perda da vida ativa. A institucionalização marca encontro com um ambiente coletivo de regras que não têm em conta a sua individualidade, a sua história de vida, e que funciona de igual modo para todos (Cardão 2009; p.12) Ocorre ainda, a perda do meio familiar, tornando o idoso mais dependente do outro.

O processo de internamento da pessoa idosa em instituição de acolhimento que desenvolve cuidados de longa duração é uma realidade quando não são encontradas outras soluções na comunidade. Este facto acontece por a família não ter tempo ou capacidade para se ocupar do idoso, que por vezes se torna dependente. Outro fator é a viuvez, que coloca o idoso numa situação solitária e de grande fragilidade (Cardão 2009; p.39).

Para alguns familiares, o internamento é a última alternativa, contudo, para muitos a institucionalização não é vista como algo negativo. Citando Born, Cardão refere que “a qualidade da instituição depende de todo um conjunto, que engloba o ambiente humano e espacial, onde a vida é valorizada e a dignidade do idoso é reconhecida até no leito da morte” (Cardão 2009; p.40).

Por vezes, os intervenientes (família e idoso) não estão em consonância. A família pode “fantasiar” o internamento como uma mais-valia para o idoso, pensando

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21 proporcionar-lhe mais convívio e melhor tratamento e acompanhamento médico. Por outro lado, o idoso institucionalizado pode ver o processo com sofrimento, dor pela separação e abandono por parte da família, sentindo-se excluído e mais perto da morte (Cardão 2009; p.41).

A integração pode ser também um processo complexo, marcado pelo medo de novas relações, como a entrada na sua vida de estranho. É uma nova vida, com novas regras, horários e restrições. Surge também a perda da privacidade, levando a que o idoso perca as “rédeas” da sua própria vida. A adaptação a este novo mundo dependerá da personalidade e da forma como este foi envelhecendo, como também dos fatores ambientais externos (Cardão 2009; p.45).

O idoso não envelhece todo do mesmo modo, como vimos, os fatores externos têm um papel fundamental. No interior o idoso não espera muito da vida que lhe resta, reza a Deus para que Este lhe dê saúde, que para o idoso é sinónimo de autonomia, e demonstra-se resignado ao seu destino. Regra geral envelhece longe da família, de filhos e netos (que com frequência residem no estrangeiro). As habitações têm condições deficientes, tornando o inverno mais doloroso. Os seus rituais são a partilha de afeto no café e/ou na mercearia da aldeia, e claro está na missa de Domingo. “Há como que um sentimento de fim, não só de uma vida, mas de uma terra, da sua terra, sem que se vislumbre nenhum indicio de mudança” (Fonseca e Paúl 2005; p.106).

Atingir a velhice significa que foi possível adaptar-se e sobreviver aos desafios específicos das várias fases da vida. Na velhice os aspetos físicos, psicológicos e sociais são essenciais (Fonseca e Paúl 2005; p.143). Admite-se que, com a idade, ocorre uma certa deterioração da saúde física. Prevenir essa deterioração com a implementação de hábitos de saúde, dieta adequada, exercício físico regular, condições de habitação (infra-estruturas), e meio ambiente seguro, poderá construir-se como uma estratégia de prevenção capaz de ser implementada pelo próprio, estando devidamente informado e esclarecido, podendo assim, estar ativamente controlando as condições da sua vida (Fonseca e Paúl 2005; p.151).

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22 2.3- Idosos, Solidão e Exclusão

O carácter multidimensional da pobreza e da exclusão social e a variedade das suas manifestações tornam complexa a tarefa de identificar os elementos que estão na sua origem. Resultam pois da interacção e da convergência de várias “desvantagens sociais”, que desencadeiam no seu conjunto um cenário propício à sua propagação.

A transmissão inter-geracional da pobreza é uma via privilegiada de perpetuação da mesma. Por um lado, as condições de vida da família condicionam o futuro das crianças nascidas em meios desfavorecidos, quer através dos recursos materiais indisponíveis, quer por aspetos sociais e culturais que caracterizam alguns modos de vida em situação de pobreza. Daí, a importância da comunidade como agente dissuasor deste “ciclo de pobreza” e exclusão social. Outro factor é a saúde, essencial para que exista um razoável nível e rendimento laboral, através da produtividade e das despesas realizadas com os cuidados médicos. Razão pela qual se pode afirmar que a doença pode induzir ao empobrecimento e levar à exclusão social. Neste “campo”, os idosos estão especialmente expostos à pobreza e à exclusão social.

A solidão não é exclusiva de uma determinada classe etária. Contudo, alguns estudos realçam que os sentimentos de solidão na velhice são um acelerador para a depressão nos idosos, precipitando-os para o isolamento social/exclusão social.

Num estudo conduzido por Barroso & Tapadinhas (2006), com 40 idosos não institucionalizados e 40 institucionalizados, com objetivo de comparar os sentimentos de solidão de acordo com o seu contexto habitacional, verificou-se que, os idosos institucionalizados sofrem de maiores níveis de solidão em relação aos que vivem em comunidade. Verificou-se ainda que os idosos residentes em lares tendiam a sentir-se mais sós e insatisfeitos, afastados das suas raízes, dos seus contactos sociais, com os dias aborrecidos e “sem esperança”. No que diz respeito aos idosos que residiam em comunidade, e que não possuíam apoio para a realização das tarefas do dia-a-dia, nem contacto afetivo, também estes acabavam por se sentirem devastados pela solidão.

No entanto, este sentimento varia consoante os diferentes fatores como: estado civil, imagem de preocupação familiar e contacto com amigos. Os que indicaram mais sentimentos de solidão foram os que tinham menos contacto e preocupação de familiares e amigos, bem como os solteiros e divorciados.

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23 Para alguns autores (King e al.) (cit. Barroso, 2006, p.5), “a maioria dos idosos resiste à ideia de deixar a sua casa, mesmo face a uma realidade de declínio físico e incapacidade para viver de forma independente, sendo sentida como uma perda de identidade, é o seu espaço que fica para trás”. Assim, os sentimentos de solidão variam de acordo com o espaço físico e social onde este se encontra. Contudo, e segundo o mesmo autor, isto não significa que pelo facto de se encontrarem nas suas casas, os idosos não sejam vítimas de isolamento por parte de familiares e amigos.

Segundo Botelho (cit. Barroso, 2006), a perda de familiares bem como do seu afeto propicia isolamento e solidão. Barroso (2006) refere que os idosos que possuem uma maior preocupação por parte dos familiares e amigos demonstram menos sentimentos de solidão. Podemos então entender que a falta de afeto/carinho/amor e o abandono na velhice podem levar a um sentimento de tristeza e solidão, que por sua vez proporciona o isolamento e exclusão social.

Desta maneira, com a perda de familiares e amigos, a solidão não só pode aumentar como provocar sentimentos de ansiedade face às expectativas da morte. Para alguns autores (cit. Barroso e Tapadinhas, 2006, p.5), “a perda do cônjuge, de um amigo, familiar ou colega, pode provocar ansiedade na medida em que o idoso pode prever que a sua morte também se avizinha”.

A perda de entes queridos é sempre um momento trágico. Sabemos que nesta idade é mais provável o desaparecimento de pessoas queridas, sejam elas amigos e/ou os próprios companheiros, que pode causar não só sentimentos de solidão, como a própria perda do sentido vida para o idoso.“O sofrimento é tanto, que o ser humano, no momento em que está experimentando a dor da perda, não encontra razões para prosseguir ou dar andamento aos seus projetos, são momentos em que a vida parece não ter sentido.” (Pedrozo e Portella, 2003, p. 175).

Segundo Pedrozo e Portella (2003, p. 178), “a solidão é a consequência de uma vida vivida em função de outras vidas”. Muitas pessoas vivem em função dos outros sem valorizar a sua própria vida e, quando se apercebem, já pouco podem fazer para realizar os seus sonhos e objetivos.

A chegada à idade da reforma pode também contribuir para a solidão, porque muitos dos idosos não sabem como usar o tempo livre, sentindo-se inúteis e excluídos

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24 do meio social. “Com a chegada da reforma, tanto a vida familiar quanto a pessoal podem-se tornar dois presentes envenenados” (Pedrozo e Portella, 2003, p.178), isto indica que muitos dos idosos quando chegam à reforma não estão preparados para reconstituir a sua vida. Associado a esta situação está o baixo valor monetário das reformas, que contribuem para o aumento da solidão nos nossos idosos, uma vez que alteraram a qualidade de vida e bem-estar, levando à pobreza e exclusão social.

Segundo Pais (2007), para os idosos é extremamente incómodo verificar que já não têm significado para os outros, verifica-se ainda que, grande parte dos idosos é deixada em instituições pelos familiares e que, muitas vezes com o passar do tempo, estes acabam por os abandonar. Hoje em dia a família está sem tempo e condições para tratar dos seus idosos, passando essa responsabilidade às instituições. Contudo, nem sempre o idoso vê esta alternativa de forma positiva, uma vez que deixa de ter atenção e apoio familiar, levando-os a sentimentos de solidão e exclusão familiar e afetiva. “A morte social ocorre geralmente quando se dá o internamento no lar, o trânsito para o piso dos fundos é a máxima expressão dessa morte social” (Pais, 2007).

Outro fator e ter em consideração é a educação. A população pobre, na sua maioria, possui fracos níveis de educação e de formação profissional, na qual se incluí os idosos, o que dificulta a sua inserção no mercado de trabalho. A relação entre educação e pobreza quase que forma um “ciclo vicioso”, isto é, as pessoas são pobres porque não conseguiram investir ou investiram pouco em si próprias, mas os pobres têm escassos recursos para aplicar em formação.

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25 2.4- Idosos, Sociedade e Reforma

O envelhecimento traz a reforma, verificando-se uma quebra brusca dos hábitos que contribuíram para a manutenção de capacidades intelectuais e físicas. Capacidades estas que, gradualmente, vão declinar, quer pela imobilização física relativa, própria do processo fisiológico de senescência, quer pela redução de utilização das funções cognitivas. Com frequência o idoso é remetido para segundo plano, deixando de ser reconhecido como membro de referência da família, de angariador de sustento, de conselheiro, de líder do agregado familiar. A perda da independência, o afastamento de amigos e colegas, a progressiva imobilização, isolam continuadamente o idoso. Assim, esquecido pela sociedade, tolerado pela família, o mesmo é paulatinamente invadido pela sintomatologia do envelhecimento biológico, que o torna cada vez mais dependente.

A reforma constitui um ponto essencial na trajetória da vida das pessoas, pois altera de forma mais ou menos drástica o seu dia-a-dia, e as suas atividades diárias. O momento da reforma pode ser sentido de forma negativa por algumas pessoas, trazendo problemas de índole psicológica e social. Segundo Ussel (2001), a saída do mercado de trabalho tem por vezes consequências traumáticas para os indivíduos, como a separação do grupo de amigos do trabalho, a perda do estatuto social, a desvinculação social, que podem transformar-se num estado de solidão, podendo adquirir um carácter transitório e de adaptação, ou crónico. No entanto, o mesmo autor descreve que os reformados aceitam relativamente bem a saída do mercado de trabalho, mas a adaptação a um novo estilo de vida é apenas fácil para uma minoria.

Segundo Fontaine (2000), a participação social define-se por duas componentes. A primeira é a manutenção de redes sociais. A segunda é a prática de atividades produtivas. Acrescenta ainda que é destas duas componentes que depende a qualidade de vida na reforma, o bem-estar subjetivo e a satisfação de viver. Afirma ainda que muitos idosos se sentem inúteis e sentem que não estão empenhados em qualquer atividade social produtiva. Este autor apresenta cinco tipos ou estilos de interação entre a reforma e os reformados. São elas a reforma retirada, a reforma da terceira idade, a reforma de lazer ou família, a reforma reivindicação e a reforma participação. Esta caracterização atribui características específicas a cada tipo de reforma, salientando o

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26 nexo existente entre velhice bem-sucedida, o grau de participação social e a prática de atividades produtivas.

Pessoas reformadas vivem, ao mesmo tempo, a perda de pessoas queridas, uma vez que nessa idade a probabilidade de uma morte no grupo de amigos e até familiares próximos é maior, sendo difícil definir uma atribuição única ao sentimento de solidão, uma vez que estão a viver uma desorganização significativa da sua vida.

A reforma é o momento marcante, que pode coincidir em muitos casos com a perda de capacidade económica e financeira, colocando o indivíduo idoso numa posição frágil e propícia, à ocorrência de alterações negativas, a pobreza e a exclusão social.

Num estudo realizado por Branco e Gonçalves (2001), concluiu-se que, numa análise por idades, se destacavam dois grupos etários particularmente vulneráveis à pobreza. São estes os idosos (65 e mais anos) e o grupo dos mais jovens (0-24 anos). É evidente que os idosos são, posto os dados anteriores, vítimas fáceis de exclusão social, não só pela visão que a sociedade atual tem sobre os idosos, mas também pelos apoios disponíveis que existem.

A velhice já foi vista, em tempos anteriores, como uma glória e uma vitória sobre a vida, sendo as pessoas idosas consideradas pessoas de mérito e com sabedoria. Normalmente era chamado de ancião, aquele que detinha o saber, que liderava o grupo, que dava conselhos baseado na sua experiência de vida. Segundo Branco e Gonçalves (2001), os idosos são o grupo da população que registou as maiores taxas de pobreza. Esta pobreza notória na maioria dos idosos de hoje, devido às reformas que recebem, leva em muitos dos casos à exclusão social. É fácil para um idoso com disponibilidade financeira procurar apoio em instituições privadas para colmatar as suas necessidades, afirmando-se assim como independe.

As redes sociais de apoio têm assim uma importância fundamental na resolução destes problemas. São vários os autores que algumas décadas atrás se referiram a esta problemática, entre os quais destacamos (citados por Paúl, 1991): Na área da epidemiologia, Cassel (1974), especialmente preocupado com as condições ambientais como a sobrelotação ou a falta de habitação adequada, na saúde física e mental das populações. Caplan (1964, 1974), na área da psiquiatria, que falava nos sistemas de apoio primários, grupos de ajuda mútua, grupos de vizinhos, e outros, como prestando

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27 uma ajuda fundamental no alívio do stress das pessoas. Kelly (1966), que se referia aos agentes urbanos, incluindo desde os barbeiros até aos comerciantes, com um papel de primeira linha no apoio aos problemas emocionais da classe operária e como mediadores entre a cultura local e os sistemas formais de saúde, nas áreas urbanas.

Gotlieb (1981), citado por Paúl (1991), refere-se ao estudo das redes sociais de apoio, como relativo às forças sociais no ambiente natural, que contribuem para a manutenção e promoção da saúde das pessoas, à forma como as ligações humanas se estruturam como sistemas de apoio, e os recursos que são partilhados entre os membros desse sistema. Para este autor, a definição de rede social de apoio surge de imediato ligada a um resultado em termos do bem-estar do homem, promovendo especialmente a sua saúde mental.

No grupo constituído pelas redes de apoio formal, incluem-se serviços estatais de segurança social e os organizados pelo poder local tais como: Lares para a Terceira Idade, Serviços de Apoio Domiciliário, Centros de Dia (Nogueira, 1996). Neste conjunto destacam-se as Instituições Privadas de Solidariedade Social, a maioria delas ligadas, direta ou indiretamente, à Igreja Católica, sendo outras do tipo associações profissionais, todas beneficiando de algum apoio do Estado. Ultimamente têm surgido também algumas instituições privadas com fins lucrativos, muitas das quais de qualidade duvidosa, que existem graças à generalizada falta de estruturas formais de apoio ao idoso no nosso pais.

Nas redes de apoio informal estão incluídos, por um lado, as famílias do próprio idoso e, por outro, os amigos e os vizinhos. O papel da família constitui o apoio necessário aos indivíduos na última fase da sua vida, quando as suas capacidades funcionais diminuem e a autonomia não é mais possível. Com a evolução da sociedade, o papel da família tem vindo a reduzir-se e a tornar-se mais difícil, a que não é alheio, entre outros aspetos, o trabalho feminino e a própria exiguidade das habitações. A família tem ainda um papel muito importante no apoio instrumental ao idoso, e também no seu bem-estar psicológico.

Quanto ao apoio informal prestado pelos amigos e vizinhos, parece desempenhar também um papel preponderante no apoio à velhice, principalmente no ponto de vista emocional e também na ajuda instrumental, verificando-se esta última mais em

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28 situações de ausência de familiares. A combinação entre o apoio formal/informal não é tarefa fácil, mas o equilíbrio entre estas duas formas de apoio, seria desejável, muitas das vezes. As redes sociais de apoio não têm carácter estático, pelo contrário, à medida que as pessoas seguem o curso do ciclo de vida, passando por estádios, como o ser solteiro, casado, ser pai/mãe, ficar com a casa vazia (“empty nest”), ser viúvo, a família, as amizades e outras ligações mudam (Mauser; 1983 citado por Paúl; 1991).

O curso de vida pode incluir muitas redes de apoio diferentes, cujos membros podem mudar com o estádio de vida da pessoa, não estando centrado num tempo específico. As interações dentro deste conjunto complexo e evolutivo de redes de apoio, incluem o dar e receber apoio, que pode ser instrumental ou aconselhamento, que pode variar ao longo do tempo.

Considerando simultaneamente a idade e o género, sabemos que a idade acarreta uma redução na extensão das relações e que, por outro lado, as mulheres têm redes de apoio mais amplas, esperando-se então que isso constitua uma vantagem para esse género (Paúl, 1991). Dentro dos idosos, as mulheres parecem, apesar de tudo, mais isoladas (Silverstone, 1985 citado por Paúl, 1991), mas que é contrário aos resultados obtidos por diversos estudos, que dão precisamente vantagem às mulheres no que diz respeito ao apoio social. As redes sociais de apoio dos idosos estão relacionadas com a história de vida de cada indivíduo e o contexto socioeconómico onde se inserem, pelo que dificilmente se chegaria a um consenso relativamente a esta questão.

Relativamente ao estado civil dos indivíduos, ainda não houve consenso nos aspetos diferenciais das redes de apoio social. Paúl (1991), relativamente à situação dos solteiros, em termos de saúde, interação social, lar e estrutura familiar, verificou que comparados com os viúvos, os casados e separados, os solteiros são socialmente ativos, não são isolados e podem não estar em maior risco de institucionalização. Os casados e os que nunca casaram é mais provável que tenham uma certa continuidade em muitos dos seus domínios sociais, como os ambientes residenciais e relacionamento interpessoal. Uma ameaça maior pode pairar sobre os divorciados e os viúvos que tiveram grandes mudanças de vida.

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Capítulo III - Metodologia

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30 1.1- Tipo de Estudo

Podemos definir método como um conjunto de operações que são realizadas para atingir um objetivo, um conjunto de princípios que guiam toda a investigação organizada, um conjunto de normas que permitem selecionar e coordenar técnicas. As técnicas são definidas como procedimentos operatórios rigorosos, bem definidos, transmissíveis, suscetíveis de serem novamente aplicados nas mesmas condições, adaptados ao tipo de problemas e aos fenómenos em causa. A escolha da técnica depende do objetivo que se pretende atingir (Coutinho, 2011).

Citando Guerra (2006), “não existem receitas para a escolha dos métodos e das técnicas a utilizar na fase de diagnóstico. Pode-se recorrer a métodos clássicos – entrevistas, questionários, etc., (…) No entanto, é sempre preferível utilizar técnicas que recorram a metodologias de implicação dos atores e que se socorrem dos princípios da pesquisa-ação” (p.145). Como sabemos, a análise qualitativa não estuda muitos casos, pois o que ela pretende é uma “representatividade social”, uma vez que esta análise procura a diversidade e não a homogeneidade.

Para a minha investigação segui uma abordagem qualitativa, naturalista e indutiva. O investigador desenvolve conceitos, e chega à compreensão dos fenómenos a partir de padrões resultantes da recolha de dados (não recolhe dados para testar hipóteses). É uma investigação que produz dados descritivos a partir de documentos, entrevistas e da observação. Dá destaque ao processo face ao produto, toma o investigador como principal instrumento da recolha de dados. O investigador tem que procurar ser objetivo. É holística, tem em conta a realidade global, sublinhando a importância do significado. O investigador tenta compreender os sujeitos de investigação a partir dos quadros de referência, dos significados que atribuem aos acontecimentos, às palavras, aos objetos. Requer que o investigador tenha grande sensibilidade em relação ao contexto onde está a realizar a investigação (Quivy e Campenhoudt,1992).

A investigação qualitativa centra-se na compreensão dos problemas, investigando o que está “por trás” de certos comportamentos, atitudes ou convicções. Não há preocupação com a dimensão da amostra nem com a generalização de resultados, e não se coloca o problema da validade e da fiabilidade dos instrumentos,

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31 como acontece com a investigação quantitativa. Aqui o investigador é o “instrumento” de recolha de dados, a qualidade (validade e fiabilidade) dos dados depende muito da sua sensibilidade, da sua integridade e do seu conhecimento (Flick, 2004).

Citando as ideias de Quivy e Campenhoudt, para termos uma entrevista “rica” em informação é fundamental que a sua apresentação facilite a expressão do entrevistado, para isso é necessário que uma entrevista contenha perguntas abertas, que não prendam o indivíduo simplesmente a uma resposta de “sim ou não”, mas que desenvolvam essas mesmas respostas. Deve ser escolhida a entrevista mais adequada a cada investigação, semidirectiva ou semidirigida, sendo uma das mais utilizada em investigação social. É semidirectiva no sentido em que não é inteiramente aberta nem encaminhada por um grande número de perguntas precisas. Geralmente o investigador dispõe de uma série de perguntas “guias” relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação por parte do entrevistado (1992; p.192).

Com a entrevista procura-se dar espaço ao participante para que este exprima todos os seus sentimentos e convicções, sem que se sinta de qualquer forma recriminado ou inibido. Por conseguinte, utilizou-se uma entrevista aberta semiestruturada para enriquecer as respostas obtidas, a expressão dos entrevistados, através do recurso a um guião de questões a propósito das diferenças entre os idosos de hoje e do seu tempo de juventude, da forma como agora são tratados comparativamente aos seus avós, bem como a sua perspetiva de futuro.

O processo de escolha dos idosos a entrevistar foi longo e moroso. No concelho de Vila Real, o processo de seleção dos idosos realizou-se com o apoio da Universidade Sénior de Vila Real. Foram também escolhidos idosos nós cafés e bancos de jardim de Vila Real. Na freguesia da Campeã, realizou-se uma procura porta-a-porta. Cada participante transmitiu o seu consentimento, após a apresentação dos objetivos do estudo. Pelos idosos que não sabem assinar, assinaram familiares, ou amigos, em duas situações (grupo rural) houve a necessidade de ser o entrevistador a assinar, depois de lido o termo de consentimento. Foi garantido o carácter confidencial e voluntário da participação.

Num primeiro contacto, foi solicitada autorização para realizar as entrevistas, mediante a explicação dos objetivos de investigação. Foi também marcada dia e hora

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32 para a sua realização. Foi dada escolha, de hora e local aos entrevistados. Na cidade de Vila Real, a grande maioria escolheu cafés ou praças, alguns alunos da Universidade Sénior escolheram as próprias instalações da Universidade. Já na freguesia da Campeã, todos os idosos foram entrevistados nas suas casas.

As entrevistas realizaram-se em tom de conversa, foram gravadas e posteriormente transcritas. As entrevistas demoraram, em média, na cidade de Vila Real 20 minutos, na freguesia da Campeã, 40 minutos. Esta discrepância deve-se ao facto de, na cidade de Vila Real, as pessoas idosas terem uma vida mais ativa, nomeadamente cuidarem dos netos, ou frequentarem as aulas na Universidade Sénior. Na freguesia da Campeã, as pessoas idosas, quando não estão nos campos agrícolas, passam o seu tempo em casa.

Este trabalho deparou-se com alguns dificuldades e contratempos. O tempo foi desde início uma grande limitação. O estrato etário em estudo caracteriza-se pela necessidade de atenção, e disponibilidade para adoram conversar. Infelizmente, não me foi possível, disponibilizar todo o tempo que os idosos solicitavam.

Na recolha da amostra, surgiram alguns contratempos. Houve a necessidade de ouvir um grande número de idosos, para escolher os 30 que foram efetivamente entrevistados. A amostra desejada passava por abranger a maior diversidade possível quer a nível de idades, mas também de vivências e contextos físicos.

A idade dos entrevistados, a sua necessidade de contar a sua história de vida, foi também uma dificuldade para o entrevistador. Sentiu uma grande dificuldade em seguir o guião. As conversas tornaram-se demoradas, muitas vezes “presas” nas suas aventuras de juventude. Este fato, leva a que o entrevistador pense que, para uma melhor compreensão do estudo, a utilização de histórias de vida teria sido uma boa opção.

Imagem

Mapa 1- Trás-os-Montes 1
Gráfico 1 – Representação do género da amostra.
Gráfico 2 – Representação da idade da amostra pelos grupos urbano e rural
Gráfico 3 – Representação da estrutura familiar do grupo urbano
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Referências

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