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Potêncial produtivo e enológico de clones admitidos à certificação da casta Aragonez Vitis vinifera L.

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Academic year: 2021

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ÍNDICE DE FIGURAS...i

ÍNDICE QUADROS...iii

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS...v

RESUMO...vi ABSTRACT...vii I – PREÂMBULO...1 1.1 – Introdução...1 1.2 - Aragonez...2 1.3 - Objectivos...4 II - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...5 2.1 - Introdução...5 2.2 – Enquadramento legal...5 2.3 – O encepamento nacional...6

2.4 – Da prospecção à selecção de clones de videira: evolução e metodologia...9

2.5 – Admissão à certificação...12

2.5.1 – Entidade responsável...13

2.5.2 – Clones admitidos à certificação...13

2.6 – As categorias comerciais de material vegetativo...15

2.7 – Potencial de produção...17

2.8 – Material existente nos viveiros...19

2.9 – Considerações sobre o cultivo de clones...22

III - MATERIAL E MÉTODOS...24

3.1 - Material vegetal...24

3.2 - Localização e caracterização do campo de ensaio...27

3.3 - Delineamento experimental, instalação e manutenção do ensaio...28

3.4 - Fenologia...29

3.5 - Comparação ampelométrica dos clones em estudo...29

3.6 - Caracterização do coberto vegetal...30

3.6.1 - Estimativa da Área Foliar...31

(2)

3.7 - Evolução da maturação...34

3.8 - Caracterização qualitativa e quantitativa da vindima...34

3.9 - Microvinificações...35

3.10 - Caracterização analítica dos vinhos...35

3.11 – Análise sensorial...36

3.12 - Avaliação do vigor...36

3.13 - Tratamento de dados...36

3.13.1 - Análise estatística...36

3.13.2 - Análise multidimensional...37

IV- APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS...39

4.1 - Condições meteorológicas e estados fenológicos...39

4.2 - Caracterização ampelométrica dos clones em estudo...41

4.2.1 - Fenograma...41

4.2.2 - Análise em componentes principais...43

4.3 - Caracterização da estrutura do coberto vegetal...46

4.3.1 – Área foliar...46

4.3.2 – Dimensões da sebe / Superfície foliar exposta (SFE)...47

4.3.3 – Densidade do coberto vegetal / Número de camadas de folhas (NCF)...49

4.4 - Evolução da maturação...50

4.5 - Rendimento e características dos bagos à vindima...52

4.6 – Relações vegetação / frutificação / qualidade...55

4.7 – Vigor...59

4.8 – Características analíticas dos vinhos...60

4.9 – Análise sensorial...62

V - CONCLUSÕES...65

(3)

Pág. Figura 2.1 Esquema de multiplicação e categorias comerciais de material

vegetal. 16

Figura 2.2 Evolução do material existente nos viveiros no período 2000-2008. 19

Figura 2.3 Porta-enxertos mais utilizados nas enxertias em 2008. 21

Figura 2.4 Oferta de enxertos-prontos de origem clonal em 2008. 21

Figura 3.1 Localização do campo experimental. 27

Figura 3.2 Esquema do delineamento experimental do ensaio instalado na

Quinta da Torre. 28

Figura 3.3 Esquema da folha (A) e da grainha (B) com indicação das distâncias lineares medidas: (N, comprimento das nervuras; S, profundidade dos seios laterais; L, largura total; C, comprimento total; B, bico; R,

rafe; C*, calaza; F, fosseta. 30

Figura 3.4 Representação esquemática da face superior de uma folha de videira. Comprimento da nervura de 2.ª ordem esquerda (Le) e

direita (Ld). 31

Figura 3.5 Corte transversal da sebe com a representação esquemática do

processo de avaliação do número de camadas de folhas - NCF. 33 Figura 3.6 Corte transversal da sebe com a representação esquemática dos

locais onde foram realizadas as medições para determinação das

dimensões do coberto vegetal. 33

Figura 4.1 Precipitação total mensal (mm) e temperatura média mensal do ar (ºC) dos meses de Janeiro a Outubro de 2009 (Posto meteorológico de Torres Vedras, DRAPLVT) e média de 30 anos (1951 a 1980)

(Estação Meteorológica de Dois Portos, IM). 39

Figura 4.2 Fenograma das distâncias dos clones estudados, usando o método de

agregação UMGPA (coeficiente de correlação cofenética de 0,87). 42 Figura 4.3 Projecção da árvore de conexão mínima dos clones estudados no

plano definido pelas duas primeiras componentes principais, à qual foi sobreposta a projecção das variáveis utilizadas na caracterização

ampelométrica. 45

Figura 4.4 Projecção da árvore de conexão mínima dos clones estudados no plano definido pela primeira e terceira componentes principais, à qual foi sobreposta a projecção das variáveis utilizadas na

caracterização ampelométrica. 45

Figura 4.5 Contributo relativo da área foliar secundária na área foliar total por cepa. Valores médios de 8 medições (2 em cada unidade

experimental), realizadas a 25 de Agosto de 2009. 47

(4)

Pág. Figura 4.7 Evolução da acidez total (g de ác. tartárico/l) do mosto obtido pelo

esmagamento de 100 bagos (25 em cada unidade experimental) colhidos a 1, 8, 15 e 21 de Setembro de 2009.

51 Figura 4.8 Evolução do pH do mosto obtido pelo esmagamento de 100 bagos

(25 em cada unidade experimental) colhidos a 1, 8, 15 e 21 de Setembro de 2009.

51 Figura 4.9 Variação percentual dos parâmetros do rendimento em relação à

média do ensaio. 53

Figura 4.10 Variação percentual das características qualitativas dos bagos à

vindima relação à média do ensaio. 53

Figura 4.11 Relação entre o TAP (%V/V) e o rendimento (t/ha). 54

Figura 4.12 Relação entre o TAP (%V/V) e a razão SFE/Rendimento (m2/kg). 57

Figura 4.13 Relação entre o TAP (%V/V) e o Índice de Ravaz. 58

Figura 4.14 Evolução dos valores da temperatura do mosto durante a

fermentação alcoólica. 60

Figura 4.15 Evolução dos valores da densidade do mosto durante a fermentação

alcoólica. 61

Figura 4.16 Relação entre o teor em álcool provável (TAP) nos bagos à vindima e o título alcoométrico volúmico (TAV) do vinho determinado a 29 de Março de 2010.

62 Figura 4.17 Pontuações obtidas pelos clones mais qualitativos na análise

(5)

Pág. Quadro 2.1 Área e percentagem das principais variedades aptas à produção de

vinho em Portugal. 8

Quadro 2.2 Clones admitidos à certificação. 14

Quadro 2.3 Superfície de vinhas destinadas à produção de materiais de

propagação vegetativa, em 2008. 17

Quadro 2.4 Superfície de vinhas destinadas à produção de garfos, em 2008. 18 Quadro 2.5 Superfície de vinhas destinadas à produção de porta-enxertos, em

2008. 18

Quadro 2.6 Estacas enxertadas postas em viveiro, em 2008. 20

Quadro 3.1 Características e correspondência entre a referência utilizada e a designação oficial dos clones estudados. ES – Espanha; RJ – Rioja; EAN – Estação Agronómica Nacional; PT – Portugal; JBP

– Jorge Böhm Plansel; FR – França. 26

Quadro 4.1 Datas de ocorrência dos principais estados fenológicos nos clones

em estudo da casta Aragonez durante o ciclo vegetativo de 2009. 40 Quadro 4.2 Matriz dos dados originais utilizados na caracterização

ampelométrica dos clones estudados. 41

Quadro 4.3 Coeficientes de correlação entre as variáveis originais utilizadas na

caracterização ampelométrica e as três componentes principais. 43 Quadro 4.4 Área foliar por cepa. Valores médios de 8 medições (2 em cada

unidade experimental), realizadas a 25 de Agosto de 2009. AF t -área foliar total; AFp - área foliar principal; AFs - área foliar

secundária. 46

Quadro 4.5 Dimensões da sebe. Área foliar por cepa. Valores médios de 20 medições (5 em cada unidade experimental), realizadas a 20 de Agosto de 2009. Hs – Altura ao solo; Hv – altura da vegetação; Lc – largura da sebe ao nível dos cachos; Lv – largura da sebe ao nível vegetativo; Lt – largura da sebe no topo; Ls – largura média da

sebe; SFE – superfície foliar exposta. 48

Quadro 4.6 Densidade do coberto vegetal ao nível da zona de frutificação. Valores médios de 40 medições (10 em cada unidade experimental), realizadas a 20 de Agosto de 2009. NCF – número de camadas de folhas; Fint – folhas interiores; Cint – cachos

interiores. 49

Quadro 4.7 Componentes do rendimento e características dos bagos à vindima. Valores médios das 4 unidades experimentais, obtidos a 24 de

Setembro de 2009. 52

(6)

Quadro 4.9 Parâmetros relativos ao vigor. Valores médios das 4 unidades

experimentais, obtidos na última semana de Janeiro de 2010. 59 Quadro 4.10 Características do mosto. Amostras recolhidas imediatamente após

o esmagamento. Valores obtidos a 24 de Setembro de 2009 (sem

repetições). 60

Pág. Quadro 4.11 Caracterização analítica dos vinhos. Análise efectuada a 29 de

Março de 2010. 61

Quadro 4.12 Resultados da análise sensorial efectuada a 12 de Abril de 2010.

(7)

AFp - Área foliar principal AFs - Área foliar secundária AFt - Àrea foliar total Cint - Cachos interiores

ELISA - Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay Fint - Folhas interiores

GLRaV - Grapevine leaf-roll associated virus Hs - Distância da base da vegetação ao solo Ht - Altura total da sebe

Hv - Altura da vegetação (Ht-Hs) IC - Intensidade corante

IM – Instituto de Meteorologia

INIA - Instituto Nacional de Investigação Agrária Lc - Largura da sebe ao nível dos cachos

Lv - Largura da sebe ao nível vegetativo Ls - Largura média da sebe

Lt - Largura no topo da sebe

NCF - Número de camadas de folhas p - Valor-p

P - Paulsen

PT - Índice de polifenóis totais R - Richter

R. - Rupestris Ru - Ruggeri

R2 - Coeficiente de determinação SO4 – Selecção de Oppenheim 4 SFE - Superfície foliar exposta TAP - Teor em álcool provável TAV - Título alcoométrico adquirido

UPGMA - Unweighted Pair-Group Method using Aritmethic Averages vs - versus

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A Aragonez (sinónimo Tempranillo) é, provavelmente, a casta tinta com maior importância económica no contexto vitícola ibérico. Encontram-se hoje disponíveis no mercado viveirista vários clones desta casta, com origens geográficas distintas. A interacção genótipo x ambiente torna pertinente a realização de ensaios de comparação clonal. Com o objectivo de caracterizar alguns daqueles clones já admitidos à certificação, num contexto ambiental diferente dos ensaios que estiveram na base das respectivas homologações, foram instalados, em 2003, numa parcela experimental localizada na região vitivinícola de Lisboa (39º01’46’’N e 9º01’35’’W; altitude 99m), os clones 13-72 (ES), RJ-24 (ES), RJ-51 (ES), RJ-78 (ES), 56 EAN (PT), 59 EAN (PT), 117 JBP (PT), 106 JBP (PT), 110 JBP (PT), 111 JBP (PT), 114 JBP (PT), 776 (FR) e ainda uma selecção candidata, que recebeu do proponente o n.º 230. Os dados foram colhidos no ano de 2009, tendo os parâmetros rendimento, o n.º de cachos por cepa, o peso médio do cacho, o grau alcoólico provável e a acidez total revelado diferenças significativas entre os clones estudados. Com base nas medições da folha e da grainha, foi possível classificar os clones em diferentes grupos, tendo um dos clones apresentado características que o isolaram dos demais, no respectivo fenograma.

(9)

ABSTRACT

The Aragonez (synonym Tempranillo) is probably the red grape variety with the highest economic importance in the Iberian wine context. With different geographical origins, several clones of this variety are now commercially available in the nursery industry. The genotype x environment interaction becomes relevant in clonal comparison trials. In order to characterize some of these clones already accepted in the certification scheme, in a different environmental context which led to the respective approvals, the clones 13-72 (ES), RJ-24 (ES), RJ-51 (ES), RJ-78 (ES), EAN 56 (PT), EAN 59 (EN) 117 JBP (PT), 106 JBP (PT), 110 JBP (PT), 111 JBP (PT), 114 JBP (PT), 776 (FR) and a selection candidate, breeder number 230 were installed in 2003, on an experimental plot located in Lisboa wine region (39 º 01'46''N and 9 01'35 ''W, 99m). Data were collected in 2009. Yield, number of bunches per vine, weight of bunch, probable alcoholic degree and total acidity revealed significant differences between the clones. Based on measurements of the leaf and seeds, it was possible to classify the clones into different groups. One of the clones displayed characteristics that isolated it from the others in the phenogram.

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I – PREÂMBULO

1.1 – Introdução

O sucesso de uma vinha, e do vinho a que dará origem, dependem da disponibilidade de materiais vegetativos que assegurem ao viticultor, não só a perenidade das novas plantações, mas também a obtenção de um produto final com produtividade regular e elevado nível qualitativo.

Naturalmente, os materiais provenientes de uma selecção genética e sanitária eficiente e de uma multiplicação cuidada estarão em muito melhores condições de dar essa garantia.

Portugal apenas iniciou os trabalhos de selecção das castas de videira a partir de finais da década de setenta do século passado (Martins et al., 1994).

A deficiente qualidade do material vegetal, no que diz respeito à sua aptidão genética e estado sanitário, tem sido apontada como uma das causas para o fraco desempenho da viticultura nacional (Pereira, 1997).

Consequentemente, parte da reestruturação vitivinícola, que desde os anos oitenta vem sendo efectuada em todo o país, terá sido algo comprometida uma vez que sobre porta-enxertos “certificados” foram enxertados garfos de qualidade duvidosa (Peixe, 2007).

Actualmente, com uma superfície vitícola de 240 mil hectares repartida pelas diferentes regiões, a cultura da vinha ocupa 6,9% da superfície agrícola útil (SAU) e 2,6% do território continental. A produção média de vinho no período 2000-2008 foi de 7,3 milhões de hl (IVV, 2009a).

No contexto internacional, em termos de área, Portugal ocupa a 7ª posição no Mundo e o 4.º lugar na UE, e em termos de produção de vinho, o nosso país é o 5º produtor europeu e o 10º mundial (IVV, 2009b).

A produção média unitária nacional é, contudo, demasiado baixa, quando comparada com a dos restantes parceiros comunitários. Com efeito, se tivermos presentes os valores apresentados pelo GPP (2007), relativos à produtividade da vinha para as campanhas de

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1999/2000 a 2004/2005, verifica-se que o nosso país, com 28 hl/ha, apresentava o pior registo da UE-151.

O aumento médio do rendimento de 10 hl/ha entretanto registado nas campanhas 2004/2005 a 2008/2009 (IVV, 2009a) é, ainda assim, insuficiente para uma verdadeira convergência à média comunitária, e é revelador do muito que ainda há a fazer nesta matéria.

A homologação recente de mais de uma centena de clones das castas portuguesas com maior importância económica, constituiu um passo fundamental para ultrapassar a situação de penúria em materiais de propagação vegetativa com garantia varietal e sanitária (Despacho 6147/2006, de 15 de Março; Despachos 6225 e 6226/2006, de 16 de Março) tornando expectável que se verifique, nos próximos anos, uma assinalável melhoria quantitativa e qualitativa do potencial vitícola, reforçando a competitividade da viticultura nacional na resposta às solicitações de um mercado cada vez mais exigente.

Contudo, e apesar do comportamento produtivo e qualitativo de um clone ser avaliado com base em numerosos parâmetros agronómicos e enológicos, a influência ambiental (solo, clima, práticas culturais…), que assume frequentemente um peso elevado, faz com que potencial de cada clone esteja estreitamente ligado ao local onde se realizou a sua avaliação (Magalhães, 2008). Desta forma, a selecção clonal apenas constituirá um factor de evolução da fileira vitivinícola, na medida em que a escolha dos clones, pelo viticultor, seja feita sobre uma base criteriosa e desde que as técnicas culturais aplicadas respeitem a natureza dos materiais seleccionados.

1.2 - Aragonez

A Aragonez é uma casta com forte expressão no encepamento ibérico, estando frequentemente associada à produção de vinhos de qualidade nas denominações de origem com maior prestígio (Magalhães, 2000; Banza et al., 2001; Chomé et al., 2003; Rubio et al., 2005).

Segundo Martins et al. (2004a), a casta será originária da região de Valdepeñas tendo sido posteriormente difundida para a Rioja e para as outras de regiões de cultura espanholas e portuguesas. Na opinião de Loureiro (2002), terá sido nesse percurso que a casta foi adquirindo uma lista extensa de sinónimos, certamente devido ao reconhecimento do seu potencial vitícola pelos viticultores, que teriam como objectivo reclamá-la como sua.

1 Média na UE-15: 48 hl/ha; Alemanha 95 hl/ha; França 61 hl/ha; Itália 57 hl/ha; Grécia 49 hl/ha; Espanha 33 hl/ha.

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Em Espanha tem como nome principal Tempranillo, sendo oficialmente reconhecidos os sinónimos Cencíbel, Tinto Fino, Tinto de Toro, Tinto del País e Ull de Llebre (Chomé et al., 2003); em Portugal é também reconhecido o sinónimo Tinta Roriz (Portaria n.º 428/2000, de 17 de Julho).

A altura em que a casta é introduzida no nosso país não é consensual. Böhm et al. (2007) avançam a hipótese de ter sido introduzida a partir de finais do século XVI, durante a dinastia filipina. No entanto, as primeiras referências escritas à casta apenas aparecem em obras publicadas na primeira metade do século XIX, sendo referidos então três tipos: Aragonês,

Aragonês da Terra e Aragonês de Elvas e só a partir de 1880, há referência à Tinta Roriz,

nome pelo qual é conhecida no Douro e no Dão (INRB, 2010). Segundo relatos da mesma altura, a casta já era dominante nos encepamentos de Portalegre, Borba e Viana do Alentejo (Loureiro, 2002). Estes factos parecem indiciar não só uma presença mais antiga da casta entre nós, mas também que a sua introdução tenha sido feita a partir do Sul do país.

Segundo Böhm et al. (2007) a Aragonez já ocupa uma área de cultura superior a 20.000 ha, o que a tornaria na principal casta do encepamento nacional.

A sua presença é tradicional nos encepamentos do Douro e do Alentejo e no Dão a sua expressão é ainda diminuta, mas essencial para o loteamento dos tintos aí produzidos (Salvador, 2005). A sua introdução na região da Estremadura é mais recente, onde tem originado vinhos elementares que têm encontrado boa receptividade por parte do consumidor (Ghira e Constâncio, 2004; Carvalho, 2005).

Também em Espanha se regista um interesse renovado pela casta. A sua área de cultura ultrapassa os 200 000 ha, o que a torna na casta tinta com maior expressão no encepamento daquele país (OEMV, 2009).

A selecção da casta Aragonez teve início em 1985, com a prospecção de plantas-mãe nas principais regiões de cultura da casta Douro, Dão e Alentejo. As principais características a ter em conta na sua selecção foram, para além do aspecto sanitário, em que o vírus do enrolamento foliar da videira se revelou com alguma importância e representatividade, a regularidade da produção inter-anual, a produtividade média e a boa capacidade de maturação, designadamente acumulação de açúcares e intensidade corante (Banza et al, 2001).

Reflexo da importância económica da casta, a necessidade em material de multiplicação e o interesse por clones seleccionados tem aumentado. Actualmente, encontram-se em

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multiplicação no território nacional mais de duas dezenas de clones da casta Aragonez, com diversas origens geográficas.

1.3 - Objectivos

A instalação de parcelas experimentais com clones já admitidos à certificação, tem como objectivo proporcionar informações úteis de forma a auxiliar os viticultores na escolha dos clones, em função do “terroir”e dos objectivos de produção.

No presente trabalho, doze clones da casta Aragonez admitidos à certificação na União Europeia e uma selecção candidata a clone, com origens geográficas diferentes, encontram-se instalados numa mesma parcela e, portanto, em idênticas condições de solo, clima e sujeitos às mesmas técnicas de cultivo, foram estudados no sentido de avaliar a sua adaptação às práticas culturais e condições edafo-climáticas da região vitivinícola de Lisboa (DOP Torres Vedras).

Este campo experimental faz parte de uma rede instalada à escala nacional, que para além da região de Lisboa incluiu ainda a instalação de ensaios nas regiões do Douro, Beira Interior, Ribatejo, Alentejo e Algarve (Böhm et al., 2002).

O objectivo principal é a recolha de informação de base sobre o potencial agronómico e enológico de cada selecção, contribuindo para uma escolha mais criteriosa dos clones a utilizar, num determinado contexto de produção.

Durante o ano de 2009 registaram-se as datas de ocorrência dos principais estados fenológicos, procedeu-se ao estudo ampelométrico das características da folha e da grainha, foram determinadas as dimensões do coberto vegetal, estimada a área foliar, caracterizada a vindima e avaliado o vigor. Em 2010, os vinhos resultantes das microvinificações foram sujeitos a análise sensorial.

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II - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 - Introdução

O contributo da selecção clonal, tanto de castas como de porta-enxertos, para a melhoria do rendimento das vinhas e até da qualidade dos vinhos, tido como equivalente ao atribuído às melhorias proporcionadas pelo conjunto de todas as técnicas culturais, conferiu à actividade seleccionadora uma particular importância estratégica, técnica e económica, e despertou no seio dos agentes da fileira vitivinícola o interesse pela plantação de clones.

2.2 – Enquadramento legal

O acervo legislativo respeitante a esta matéria rege-se, no âmbito do direito comunitário, pelo disposto na Directiva n.º 68/193/CEE, do Conselho, de 9 de Abril, relativa à comercialização de materiais de propagação vegetativa de videira, e suas alterações, e na Directiva n.º 2004/29/CE, da Comissão, de 4 de Março, relativa às condições mínimas para o exame de variedades de videira.

Entretanto, foi aprovada a Directiva n.º 2005/43/CE, da Comissão, de 23 de Junho, relativa à comercialização de materiais de propagação vegetativa de videira, que alterou integralmente os anexos da Directiva n.º 68/193/CEE, do Conselho, de 9 de Abril. Com este procedimento, culminou-se um primeiro processo de revisão da legislação comunitária no âmbito dos materiais de propagação, estabelecendo-se novas regras no que respeita às condições a preencher quanto à cultura, aos de materiais de propagação, ao seu acondicionamento e etiquetagem.

A nível nacional, o documento definitivo é o Decreto-Lei n.º 194/2006, de 27 de Setembro, que incorpora as modificações mais recentes da legislação comunitária no que diz respeito aos procedimentos que devem ser observados na produção, controlo, certificação e comercialização de materiais de propagação vegetativa de videira.

Naquele documento, encontram-se especificadas quais as variedades de videira que podem ser produzidas e comercializadas; foi acrescentada a definição de clone e precisados os procedimentos a observar na sua obtenção, bem como os controlos necessários subsequentes; definem-se as categorias de material vegetal e as condições que devem estar reunidas para cada uma em particular; as obrigações dos agentes económicos; as condições de isolamento

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das parcelas destinadas à produção de materiais de viveiros vitícolas e a tolerância em relação à presença de organismos prejudiciais da qualidade; as regras a observar na comercialização, designadamente o acondicionamento do material vegetal e aposição de etiquetas de certificação.

2.3 – O encepamento nacional

As castas de videira, em particular as mais antigas, são constituídas por conjuntos de plantas com diferenças sensíveis entre si, relativamente a numerosas características com importância cultural e enológica. As origens dessas diferenças são atribuídas, principalmente, à ocorrência de mutações e à presença de vírus (Huglin e Scnheider, 1998; Bessis et al., 2005).

A amplitude da variabilidade genética e sanitária existente no interior de cada casta (variabilidade intravarietal) pode ser maior ou menor, dependendo em grande parte da sua antiguidade, e da área de expansão, e da pressão de selecção que foi exercida no passado (Martins e Carneiro, 1996); este será o caso da maioria das variedades tradicionais portuguesas (Martins et al., 1994; Eiras-Dias et al., 1998).

A variabilidade genética resulta da acumulação de mutações dos genes que controlam as chamadas características quantitativas (como por exemplo o rendimento, teor em açúcares e em antocianas). No seio das castas portuguesas foi observado que as diferenças podem ir do simples para o quíntuplo, em termos de rendimento, do simples para o dobro no teor em açúcares do mosto e do simples para o triplo, no caso das antocianas (Martins, 2007).

Mais de 40 vírus podem infectar a videira (Krake et al., 1999). A presença de alguns desses vírus, pelas alterações fisiológicas e metabólicas que provoca, pode ter repercussões consideráveis sobre a quantidade e qualidade do produto vitivinícola. Destacam-se a redução do rendimento e do vigor, irregularidade na maturação, diminuição do tamanho dos cachos acompanhados de modificações da composição nos mostos e alteração nos perfis aromáticos. Para além disso, os seus efeitos condicionam e afectam também a actividade viveirista, provocando, por exemplo, o mau atempamento do material lenhoso, incompatibilidade nas enxertias e diminuição da rizogénese (Walter e Martelli, 1996). Durante os trabalhos de selecção da videira, iniciados a partir do final dos anos 70 do século passado, verificou-se uma elevada frequência do vírus do enrolamento tipo 3 em algumas castas tradicionais portuguesas (Sequeira et al., 1991; Martins et al., 1995), nalgumas acima dos 90 %, como é o

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caso da Alvarinho, da Sercial e da Tinta Francisca; no caso da Aragonez o nível de infecção variou entre os 15 e os 22,7% consoante a origem dos pés-mãe prospectados.

A tendência do material vegetal, na ausência de uma multiplicação cuidada, é para se degradar até perder o seu potencial produtivo e qualitativo e se tornar economicamente desinteressante. Como exemplo poderemos citar o caso emblemático das castas durienses Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Francisca, entre outras, que, durante a década de 70 do século XX, apesar da sua reconhecida qualidade, a baixa e irregular produtividade fez com que deixassem de ter expressão significativa nas plantações daquela época (Magalhães e Martins, 2000).

Face ao exposto, e na perspectiva de Ladeira (1994), a selecção clonal da videira surge como o único um meio para recuperar as castas tradicionais e assegurar a permanência das suas características ou, por outro lado, modificá-las, no sentido de um melhor desempenho cultural e enológico.

A importância das castas tradicionais é acentuada por Martins (2007) referindo que para além de produzirem boa matéria-prima para fazer vinhos de qualidade, acompanham também o vinho transportando consigo toda a envolvência social e cultural do ambiente onde foi produzido, melhorando desta maneira a imagem do produto final, junto do consumidor. Considerando o exemplo anterior relativo às castas durienses, a situação das castas tradicionais, não obstante os esforços já realizados, poderá ser preocupante, se tivermos presente o número de castas aptas à produção de vinho em Portugal, e a respectiva importância económica. Segundo a lista oficial (Portaria 428/2000, de 17 de Julho) encontram-se aptas para a produção de vinho 341 castas, entre tintas (165), brancas (153) e rosadas (23).

Pela análise do Quadro 2.1 verificamos que apesar das mais de três centenas das castas listadas oficialmente, apenas 37 (21 tintas e 16 brancas) contribuem, segundo Böhm (2007), de maneira significativa para a economia da fileira vitivinícola nacional. Neste restrito grupo é de salientar o contributo particular de castas alóctones que foram sendo introduzidas: Aragonez (Tempranillo), Alicante Bouschet, Syrah, Cabernet Sauvignon, Jaen (Mencía), Bastardo (Trousseau), no caso das tintas, e Malvasia-Rei (Palomino Fino), no caso das brancas; também ainda está por esclarecer a verdadeira origem de algumas castas que têm sinónimos em Espanha: Alvarinho (Albariño), Loureiro (Loureira) e Trajadura (Treixadura) (Pereira, 1997), Síria (Malvasia Castellana) e Gouveio (Godello) (Arranz et al., 2010).

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Quadro 2.1 - Área e percentagem das principais variedades aptas à produção de vinho em Portugal.

Adaptado de Böhm (2007).

CASTAS Área (ha) Repartição (%)

Total, 341 variedades consideradas 230 768 - 100,0

Total, 165 variedades tintas 145 668 100,0 63,1

Aragonez 23 500 16,1 10,2 Castelão 20 500 14,1 8,9 Trincadeira 16 200 11,1 7,0 Touriga Franca 13 200 9,1 5,7 Baga 9 200 6,3 4,0 Tinta Barroca 7 000 4,8 3,0 Touriga Nacional 6 700 4,6 2,9 Vinhão 6 100 4,2 2,6 Marufo 5 000 3,4 2,2 Rufete 4 400 3,0 1,9 Alicante Bouschet 4 101 2,8 1,8 Syrah 3 401 2,3 1,5 Cabernet Sauvignon 2 944 2,0 1,3 Jaen 2 400 1,6 1,0 Malvasia Preta 2 000 1,4 0,9 Alfrocheiro 1 850 1,3 0,8 Tinta Carvalha 1 800 1,2 0,8 Espadeiro 1 600 1,1 0,7 Moreto 1 400 1,0 0,6 Borraçal 1 375 0,9 0,6 Bastardo 1 100 0,8 0,5 Carignan 900 0,6 0,4 Outras variedades, 143 8 997 6,2 3,9

Total, 153 variedades brancas 84 400 100,0 36,6

Fernão-Pires 17 500 20,7 7,6 Síria 11 693 13,9 5,1 Arinto 5 900 7,0 2,6 Malvasia Rei 5 700 6,8 2,5 Malvasia Fina 5 500 6,5 2,4 Loureiro 5 200 6,2 2,3 Azal 3 800 4,5 1,6 Vital 2 250 2,7 1,0 Trajadura 2 200 2,6 1,0 Rabigato 2 200 2,6 1,0 Rabo de Ovelha 2 150 2,5 0,9 Gouveio 2 050 2,4 0,9 Alicante Branco 1 900 2,3 0,8 Alvarinho 1 800 2,1 0,8 Diagalves 1 300 1,5 0,6 Bical 1 230 1,5 0,5 Tália 900 1,1 0,4 Outras variedades, 136 11 127 13,2 4,8

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2.4 – Da prospecção à selecção de clones de videira: evolução e metodologia

No seio de uma casta se um indivíduo se destacar dos demais, por pequenas diferenças no seu património genético ou do seu estado sanitário, o conjunto da sua descendência obtida por propagação vegetativa, pode constituir um clone mantendo desse modo as características comportamentais (produtividade, tamanho do cacho, teor em açúcares e outros compostos químicos da uva ou do mosto) e sanitárias do progenitor inicial, também chamado “cabeça de clone”.

A selecção clonal da videira teve início na Alemanha há mais de um século (Rühl et al., 2004), mas apenas conheceu um desenvolvimento notável a partir da segunda metade do século XX, com o aparecimento em França de uma instituição especializada para a sua realização e coordenação, e de cuja actividade resultou, num curto espaço de tempo, a produção de material seleccionado (Lacombe et al., 2004). Na sequência das prospecções levadas a cabo durante a década de 60 do século passado naquele país, e após a homologação das obtenções, em 1975 foram instaladas as primeiras plantações destinadas à produção de uva com material clonal (ITV, 1995 cit. em Pereira, 1997). O objectivo foi o de colocar à disposição dos viticultores material vegetal isento das principais viroses e com boa capacidade produtiva.

Os avanços sentidos nesta área levaram mesmo o OIV, a sentir a necessidade de elaborar um programa-tipo para a realização da selecção clonal, para servir como referência metodológica na União europeia e em países terceiros (OIV, 1991) e a precisar a definição de clone como a “descendência vegetativa de uma variedade de videira obtida a partir de uma cepa

seleccionada pela sua identidade varietal, os seus caracteres fenotípicos e o seu estado sanitário” (OIV, 1993).

Em Portugal, a selecção das castas tradicionais de videira com maior importância nos diversos encepamentos das regiões vitivinícolas nacionais foi iniciada de forma sistemática em 1978, pelo Instituto Superior de Agronomia, Estação Vitivinícola Nacional e Universidade de Trás-os-Montes e com base nos primeiros resultados experimentais, constatou-se que a metodologia implementada noutros países poderia não ser a melhor opção para a realidade da viticultura nacional (Martins et al., 1994).

Inicialmente foi seguido o método francês, com visitas repetidas às parcelas, ao longo de vários anos, e notação visual das características das cepas avaliadas ao nível das parcelas de vinha (selecção individual fenotípica de pés-mãe). Contudo, o comportamento de plantas

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individuais nas vinhas é altamente marcado por influências ambientais, que mascaram quase por completo o determinismo genético dessas plantas, o único pelo qual vale a pena seleccioná-las. Está hoje comprovado experimentalmente que não adianta tentar avaliar uma planta isolada para conhecer o seu valor genético. Antes pelo contrário, este só se revela se nós a multiplicarmos e se avaliarmos a descendência em conjunto, segundo um delineamento experimental apropriado (Martins et al., 2002, Martins et al., 2005; Magalhães, 2008). Como consequência, e com base na experiência entretanto adquirida, foram introduzidas modificações metodológicas que conduziram a uma metodologia própria e até inovadora em alguns aspectos, como seja o da opção por uma selecção massal de clones, como etapa prévia da selecção clonal propriamente dita.

A metodologia de selecção integrada de selecção massal e clonal desenvolvida no nosso país, a partir de 1985, decorre duma filosofia de aproveitamento racional e da preservação da variabilidade genética intravarietal. Uma descrição pormenorizada da metodologia pode ser encontrada, por exemplo, em Martins et al. (1994), Martins et al. (2002), Carneiro et al. (2003) ou Magalhães (2008).

No presente trabalho descrevem-se os três ciclos experimentais em que a selecção da videira desenvolvida em Portugal é realizada, destacando-se, quando for caso disso, os principais resultados.

Uma primeira fase é constituída pela prospecção de pés-mãe nas vinhas das regiões onde a casta é cultivada. Sempre que a casta é cultivada em várias regiões ou mesmo países, a prospecção abrange todas essas realidades. No caso da casta Aragonez, a prospecção de genótipos foi realizada nas regiões portuguesas do Douro, Alentejo e Dão, e nas espanholas da Rioja e Valdepeñas (Banza et al., 2001). A sua duração é relativamente curta, e procura-se marcar o maior número de vinhas possível reduzindo o número de cepas marcadas em cada uma (no máximo nove). O principal objectivo desta fase é dispor de uma amostra representativa da variabilidade no interior da casta. Os pés-mãe prospectados são submetidos ao teste serológico ELISA relativamente ao vírus do nó-curto e a alguns vírus do complexo associado ao enrolamento foliar (GLRaV-1 e GLRaV-3).

A segunda fase consta da instalação de uma população experimental de clones, em que os diferentes genótipos prospectados na fase anterior, que se revelaram isentos das viroses referidas, são plantados obedecendo a um delineamento experimental (4 plantas x 4 repetições em blocos casualizados). A duração desta fase é de cerca de 4 anos. A população experimental é um ensaio especialmente planeado para que se possa avaliar as características

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das plantas na medida em que estas são geneticamente determinadas e, portanto, transmissíveis às suas descendências. Segundo Martins et al. (1994) a possibilidade de avaliar geneticamente as plantas logo à cabeça do processo de selecção é inteiramente inovadora e garante uma eficácia nunca antes alcançada neste tipo de trabalho A partir do segundo ano, procede-se à vindima controlada para uma primeira avaliação do potencial genético, principalmente, baseada no rendimento. No quarto ano, avalia-se a qualidade do mosto por amostragem de bagos, sendo determinado o teor de açúcar, acidez total e o pH. Com base nos dados fornecidos pela população de clones, é possível proceder a dois tipos de selecção. Uma, denominada selecção massal genotípica, constituída pelos quinze melhores clones da população e imediatamente disponível para uso dos viticultores, sob a forma de mistura de clones. Este material para além da garantia varietal apresenta também uma garantia sanitária em relação às viroses de maior frequência é o primeiro resultado concreto da selecção. A outra selecção consiste na escolha dos 30 a 40 clones superiores, que antes de transitarem para a fase seguinte são novamente submetidos a testes serológicos.

Na terceira e última fase da selecção procede-se à instalação de, pelo menos, três campos de comparação clonal, em regiões distintas onde a casta é cultivada, de preferência sobre porta-enxertos diferentes. Nestes campos experimentais, o número de repetições é maior – 8 blocos casualizados cada, e cada clone clone é representado por 56 plantas. São ensaios de longa duração, normalmente 7 a 8 anos, durante os quais é realizada uma avaliação exaustiva das mais importantes características culturais e enológicas dos clones, bem como do seu estado sanitário quanto aos vírus mais perigosos. Durante os primeiros quatro anos os clones são novamente avaliados quanto ao rendimento e às características qualitativas do mosto, com base na amostragem de bagos. No final deste período, procede-se à selecção dos doze melhores clones. Uns com um bom equilíbrio de todas as características relevantes, outros com valores mais elevados de cada uma dessas características. Nos anos seguintes este sub-grupo irá ser sujeito a uma avaliação mais pormenorizada e que consta da avaliação do seu potencial enológico, com base em microvinificações, a testes de afinidade com porta-enxertos, e indexagem lenhosa sobre indicadores específicos para os vírus que a legislação impõe. Simultaneamente os clones são descritos ampelograficamente para se comprovar a sua conformidade com a descrição oficial da casta.

Este longo processo de avaliação clonal completa-se com a escolha dos sete melhores clones que apresentaram melhor desempenho neste último processo de avaliação. A bondade do número resulta do facto se ter verificado experimentalmente que a variação ambiental do

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rendimento dos clones diminui acentuadamente quando se cultivam misturas de clones até um limite próximo ou superior a 7 (Martins et al., 1998).

Esta última fase corresponde à selecção clonal propriamente dita praticada em outros países europeus; para Martins et al. (2005) com a metodologia tradicional não é seguro que os clones que chegam a esta fase sejam geneticamente superiores, pois pelas razões apontadas anteriormente, não é de crer que contenham variabilidade genética passível de ser explorada através das avaliações realizadas no ensaio. Isto é, os clones chegados a esta etapa, normalmente em reduzido número, podem ser excelentes do ponto de vista sanitário, mas a sua superioridade genética pode ter sido perdida logo à partida.

Por último importa referir que, frequentemente, a selecção clonal é feita, numa base regional como é o caso da selecção da casta Aragonez ou Tempranillo em Espanha (Rubio et al., 2005) ou em França (IFVV, 2007), ou ainda da casta Pinot Noir em Champagne e em Bourgogne (Huglin e Scnheider, 1998), o que pode originar que os clones apresentados tenham características culturais ou tecnológicas muito distintas, devendo por esta razão o viticultor se preocupe também com os clones a cultivar, tendo em vista o tipo de vinho que pretende produzir (Pereira, 1997). Contudo, se a selecção tiver sido bem-feita, a superioridade evidenciada por um clone em relação aos outros (teor em açúcares, acidez, rendimento, regularidade da produtividade) apresenta geralmente um certo paralelismo em ambientes distintos (Huglin e Scnheider, 1998) pois o seu potencial genético, que se reflecte pela resposta vitivinícola, mantém-se, independentemente, das características do meio (Magalhães

et al., 2000).

2.5 – Admissão à certificação

A admissão à certificação é um procedimento previsto na legislação, cuja finalidade é atestar que o clone foi obtido em observância das regras legais e que serve os interesses da viticultura, nomeadamente no que se refere ao estado sanitário, ao potencial tecnológico e às características organolépticas do produto obtido, se for caso disso.

É da responsabilidade da entidade interessada na admissão do clone à certificação, a elaboração de um processo, que incluirá obrigatoriamente toda a documentação comprovativa de que foram satisfeitos os procedimentos legais relativamente às condições a cumprir nos ensaios e em relação ao estado sanitário da cepa seleccionada ou das plantas que constituem a sua descendência directa. Devem, ainda, ser justificadas as razões que levaram o proponente a

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apresentar aquela selecção. O “dossier” é parte integrante do pedido de admissão à certificação e permite a avaliadores externos pronunciarem-se sobre o interesse das mesmas.

2.5.1 – Entidade responsável

A entidade responsável pela apreciação dos pedidos de admissão é a Comissão Nacional para o Exame de Variedades de Videira (CNEVV), de cariz interprofissional, que representa os vários sectores da fileira vitivinícola nacional interessados na admissão de clones de videira à certificação, nomeadamente organizações de viticultores, vinicultores e produtores de materiais vitícolas e os serviços do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas (MADRP) envolvidos, bem como os organismos competentes das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira (Despacho n.º 9055/2007, de 18 de Maio).

Os candidatos a clone podem ter sido originados por hibridação, isolados, no seio das variedades de videira, por selecção ou termoterapia ou obtidos por qualquer outro meio técnico-científico válido, tendo em conta o melhoramento da produção vitivinícola.

Compete à CNEVV proceder ao acompanhamento dos ensaios, análises e testes que devem acompanhar o pedido de inscrição das selecções candidatas, podendo, a qualquer momento solicitar esclarecimentos sobre ensaios já realizados ou em curso, visitar ensaios, consultar documentos e verificar os dados que lhe são apresentados.

Após apreciação do pedido de inscrição, a CNEVV emite um parecer relativo ao pedido de inscrição submetendo-o à apreciação da DGADR (Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural), organismo oficial a quem compete decidir sobre a admissão do candidato à certificação, após ouvido o respectivo conselho técnico da protecção da produção agrícola.

A inscrição dos clones no Catálogo Nacional de Variedades é feita pela DGADR através de publicação na 2.ª Série do Diário da República.

2.5.2 – Clones admitidos à certificação

Através da observação do Quadro 2.2, constatamos que apesar de já terem sido admitidos à certificação 122 clones de castas cultivadas em Portugal, 63 referentes a castas tintas e 59 referentes a castas brancas, o que só por si constitui uma boa notícia, verificamos que os

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trabalhos de selecção apenas abrangeram uma pequena parte do universo das castas aptas à produção de vinho, não existindo, para já, clones homologados para algumas castas com relevante importância económica a nível regional, como por exemplo a Baga, Espadeiro, Borraçal, no caso das tintas, ou Azal, Vital ou Rabigato, no caso das brancas.

Quadro 2.2 – Clones admitidos à certificação (Despacho n.º

20603/1998, de 25 Novembro; Despacho 6146/2006, de 15 de Março; Despacho 6225 e 6226/2006, de 16 de Março).

Total, clones homologados 122

Total, clones de castas tintas 63

Aragonez 12 Trincadeira 10 Touriga Nacional 10 Castelão 8 Jaen 7 Vinhão 7 Tinta Caiada 3 Tinta Barroca 2 Moreto 1 Bastardo 1 Alfrocheiro 1 Touriga Franca 1

Total, clones de castas brancas 59

Arinto 8 Malvasia Fina 8 Fernão Pires 8 Síria 6 Alvarinho 6 Trajadura 5 Loureiro 5 Gouveio 3 Sercial 3

Trincadeira das Pratas 2

Cerceal Branco 1

Bical 1

Antão Vaz 1

Perrum 1

Viosinho 1

Total, variedades rosadas 0

Por outro lado, para algumas castas de assinalável importância como exemplo Touriga Franca, Tinta Barroca ou mesmo a Alfrocheiro apenas existem 1 a 2 clones homologados. A

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questão do número de clones disponíveis é particularmente sensível quando a opção do viticultor recai sobre materiais clonais.

Em França, no ano 2005, encontravam-se homologados 590 clones relativos a 142 castas para produção de vinho, e 129 clones relativos a 27 variedades de porta-enxertos (VINIFLHOR, 2005). Segundo a mesma fonte, nesse ano, o valor estimado da venda de material vitícola para fora de França, foi superior a 30 milhões de Euros.

Considerando o exemplo francês e se tivermos presente que mais de 30 dos clones homologados em Portugal têm uma área de multiplicação proposta inferior a 0,1 ha, o que quer dizer que estão reduzidos à categoria Inicial, facilmente constatamos que trinta anos após o início dos trabalhos de selecção da videira, o potencial proporcionado pela variabilidade inter e intra varietal existente no encepamento nacional está ainda insuficientemente explorado.

2.6 – As categorias comerciais de material vegetativo

O facto de um clone se encontrar admitido à certificação não quer dizer que este esteja de imediato disponível para a viticultura.

Depois de cumprido o procedimento de admissão à certificação, o clone é constituído por um número muito reduzido de plantas - materiais iniciais – que se encontram sob condições de alta protecção sanitária. Para produzir os muitos milhares de plantas que são necessários para os utilizadores finais, é necessário proceder à sua multiplicação (Figura 2.1).

No que diz respeito ao material vegetal destinado à instalação de vinhas comerciais para produção de uva, são admitidas duas categorias: standard e certificada.

São classificados na categoria standard os lotes de plantas para os quais se verificou, por uma inspecção oficial, recorrendo meramente a métodos visuais, a identidade, a pureza varietal e a ausência de plantas com sintomas atribuíveis a viroses e doenças similares. São comercializados com uma etiqueta laranja.

Com origem numa selecção clonal, genética e sanitária, as plantas classificadas na categoria certificada apresentam garantias quanto à sua procedência geográfica, conformidade varietal e estado sanitário. Desta maneira, o material certificado provêm de uma multiplicação controlada oficialmente desde a planta de origem, para a qual se comprovou a pureza varietal,

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Cabeça de clone

Plantas para a produção de material inicial

Vinhas-mãe para produção de material de certificado

Material inicial

Vinhas-mãe para produção de material de base

Material base

Material certificado

Viveiros

Plantas

certificadas standardPlantas

Plantação na vinha

baseado numa descrição ampelográfica, e a ausência de viroses prejudiciais, recorrendo a métodos laboratoriais.

Os materiais certificados são comercializados com uma etiqueta azul, que para além da variedade deve também indicar a designação oficial sob a qual ficou registado o clone.

Pela sua localização estratégica a montante da fileira vitivinícola, é o dinamismo do sector viveirista que determina, em cada momento, a quantidade e qualidade das plantas disponíveis para novas plantações. Porém, factores de índole diversa (técnicos, económicos e até políticos) podem interferir, ou mesmo limitar, essa capacidade operativa.

Figura 2.1 – Esquema de multiplicação e categorias comerciais de

material vegetal (Decreto-Lei n.º 194/2006, de 27 de Setembro).

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2.7 – Potencial de produção

A imagem positiva criada em torno dos clones motivou o sector viveirista vitícola nacional, na condição de utilizador intermédio dos materiais de propagação vegetativa, no sentido da renovação e diversificação do potencial de produção. Naturalmente, nesta reestruturação foi dado um particular destaque para as castas e porta-enxertos de maior importância económica actual.

No final de 2008 a área total de vinhas proposta ao controlo oficial para a produção de materiais vitícolas era de 767,7 ha (Quadro 2.3). Comparativamente a 2005, verifica-se uma redução da área porta-enxertos (menos 150 ha). No mesmo período, a área destinada à produção de garfos para enxertia teve um aumento global de cerca de 20 ha. De destacar, neste último caso, uma melhoria substancial da qualidade do potencial produtivo, motivada pela instalação de mais 40 ha de vinhas com materiais de origem clonal.

Quadro 2.3 – Superfície de vinhas destinadas à

produção de materiais de propagação vegetativa, em 2008.

Qualitativamente, e no que diz respeito às castas, verificamos que as seis com maior área representavam 50% da área total e eram tintas, com especial destaque para a Aragonez T e Touriga Nacional T. As castas listadas no Quadro 2.4, reflectem também a adaptação do sector viveirista às novas tendências do mercado dos vinhos, em particular o aumento da procura de vinho branco.

Quanto aos porta-enxertos, as variedades 1103P e 110R dominavam a oferta potencial e representavam mais de metade da área em multiplicação (Quadro 2.5).

Para produção de: Área (ha)

Garfos 379,9 Base 4,3 Certificado 92,1 Standard 283,5 Porta-enxertos 387,8 Base 1,8 Certificado 386,0 Total 767,7

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Quadro 2.4 – Superfície de vinhas destinadas à produção de

garfos, em 2008.

Variedade Área (ha) %

Aragonez T 53,8 14,2% Touriga Nacional T 52,7 13,9% Touriga Franca T 24,3 6,4% Tinta Barroca T 23,1 6,1% Trincadeira T 21,3 5,6% Vinhão T 13,4 3,5%

Moscatel Galego Branco B 13,2 3,5%

Castelão T 12,5 3,3% Syrah T 11,2 3,0% Arinto B 10,5 2,8% Alicante Bouschet T 10,4 2,7% Malvasia Fina B 8,8 2,3% Viosinho B 8,1 2,1% Rabigato B 7,9 2,1% Outras variedades (90) 108,8 28,6% Total 379,9 100,0%

Quadro 2.5 – Superfície de vinhas destinadas à produção de

porta--enxertos, em 2008.

Variedade Área (ha) %

1103P 128,4 33,1% 110R 110,3 28,4% 99R 34,4 8,9% 196-17 32,8 8,5% SO4 32,5 8,4% 140Ru 14,4 3,7% R. du Lot 8,9 2,3% 161-49 8,3 2,1% 3309 7,8 2,0% 41B 6,0 1,5% 101-14 2,2 0,6% Fercal 2,0 0,5% Total 387,9 100,0%

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2.8 – Material existente nos viveiros

Metade dos enxertos-prontos produzidos em Portugal tem origem em materiais clonais o que perspectiva também uma melhoria da qualidade das uvas produzidas, com reflexos no rendimento das explorações vitícolas (Andrade, 2009).

Depois de várias campanhas de abrandamento, a actividade viveirista recuperou e conhece agora uma certa estabilidade na quantidade de estacas postas em viveiro (Figura 2.2). As enxertias postas “em terra” aumentaram a um ritmo médio de 2,5 milhões/ano, alcançando-se um novo máximo na última campanha. Com tendência oposta, as intenções de produção de bacelos (destinados à enxertia no campo) registaram o valor mais baixo na série de anos considerada. Esta atitude revela, mais uma vez, a enorme capacidade de adaptação do sector às novas solicitações do mercado.

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 0.0 10,000,000.0 20,000,000.0 30,000,000.0 40,000,000.0 50,000,000.0 60,000,000.0 36,161,060.037,458,900.0 33,049,925.032,397,552.0 23,057,450.0 11,949,850.0 9,462,100.09,858,800.0 7,141,070.0 7,341,065.0 12,159,250.013,729,358.0 16,578,673.017,377,440.0 22,395,910.0 18,759,784.0 25,598,950.028,283,111.0 43,502,125.0 49,618,150.0 46,779,283.048,976,225.0 40,434,890.0 34,345,760.0 28,221,884.0 35,457,750.0 35,424,181.0

Para produção de bacelos Para produção de enxertos-prontos Total

Figura 2.2 - Evolução do material existente nos viveiros, no período 2000-2008.

Em 2008 foram enxertadas 91 castas, principalmente destinadas à produção de uva para vinho (Quadro 2.6). As vinte e cinco castas listadas representam 90% do total de enxertias. Comparativamente à campanha anterior, verifica-se que as castas Touriga Nacional (18,0% em 2007), Aragonez (13,2%), Touriga Franca (9,0%), Syrah (5,8%) e Alicante Bouschet (5,0%) são as mais enxertadas, representando praticamente metade das enxertias declaradas. No que diz respeito às castas brancas, as apostas dos viveiristas recaíram sobre a Arinto e a Fernão Pires, com especial destaque para esta última. Em situação oposta encontram-se a

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Trincadeira (6,0% em 2007), Tinta Barroca (4,4%) e Castelão (3,7%). Globalmente, o leque de castas utilizadas tem vindo a diversificar-se, enxertaram-se mais castas brancas destinadas à produção de uva para vinho e também mais castas destinadas à produção de uva para mesa.

Quadro 2.6 – Estacas enxertadas postas em viveiro, em 2008.

Variedade % Touriga Nacional T 15,7% Aragonez T 11,7% Touriga Franca T 8,8% Syrah T 5,7% Alicante Bouschet T 4,8% Fernão Pires B 4,7% Arinto B 4,1% Trincadeira T 3,5% Tinta Barroca T 3,1% Caladoc T 2,9% Alvarinho B 2,6% Castelão T 2,5% Viosinho B 2,4% Antão Vaz B 2,3% Vinhão T 2,2% Gouveio B 1,8% Malvasia Fina B 1,8%

Moscatel Galego Branco B 1,8%

Chardonnay B 1,3% Síria B 1,3% Alfrocheiro T 1,1% Cabernet Sauvignon T 1,1% Sauvignon Blanc B 1,0% Moscatel Graúdo B 0,8% Loureiro B 0,8% Outras (66 variedades) 10,0% Total 100,0%

Os porta-enxertos mais utilizados nas enxertias foram as variedades 1103P e 110R (Figura 2.3). Comparativamente a 2007, aquelas variedades reforçaram a sua posição de dominância, enquanto as variedades 99R e SO4 seguem uma tendência inversa. De registar ainda, um aumento da utilização do híbrido complexo 196-17

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1103P; 32.57% 110R; 31.27% 99R; 13.37% SO4; 9.86% 196-17; 7.97% Restantes (7); 4.96%

Figura 2.3 – Porta-enxertos mais utilizados nas enxertias, em 2008.

Na Figura 2.4 apresenta-se a disponibilidade de enxertos-prontos, por categoria de certificação. Pode-se constatar que, para um conjunto alargado de castas já existem no mercado clones homologados que poderão ser adquiridos pelos viticultores.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Certificado Standard

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2.9 – Considerações sobre o cultivo de clones

A selecção clonal levada a cabo na maioria dos países vitivinícolas contribuiu decisivamente para a melhoria do sector vitivinícola, proporcionando ao viticultor material vegetal de elevada qualidade e isento de viroses.

Contudo, quando se selecciona escolhe-se. Essa escolha tem como consequência a redução da variabilidade genética no interior das castas. Esta perda de genes poderá inviabilizar futuras selecções com base noutros critérios, muitas vezes motivados pela modificação do gosto do consumidor (Carneiro et al., 2003).

O potencial quantitativo e qualitativo do material vegetativo pode exprimir-se mais ou menos intensamente em função do clima, do solo e das práticas culturais (forma de condução, tipo de poda, compasso, porta-enxerto, fertilização, e outros amanhos culturais), é a chamada interacção genótipo x ambiente.

A interação genótipo x ambiente pode revestir-se de particular importância quando se utilizam materiais geneticamente homogéneos, como é o caso dos clones, pelo facto do comportamento observado pelo seleccionador, de determinado clone em determinado ambiente, ser específico dessa combinação particular e não se repetir necessariamente quando o clone for cultivado noutro ambiente, pelo viticultor, mesmo que a escolha do local e as práticas culturais seguidas tenham sido correctas (Martins et al., 2004b).

No catálogo de variedades e clones de videira francês (ENTAV, 1995) são feitas as seguintes recomendações fundamentais para uma boa utilização do potencial produtivo e qualitativo do material certificado, num contexto preciso de produção:

 Evitar cultivar um só clone, em particular quando as áreas a plantar são consideráveis. Este procedimento visa evitar riscos ligados à plantação monoclonal, como por exemplo, más condições climáticas à floração ou acidentes vegetativos inerentes a uma só combinação porta-enxerto/garfo. Por outro lado, a existência de vários clones com características complementares contribui para uma maior complexidade dos vinhos;

 Utilizar as plantas certificadas em solos nos quais tenha sido despistada a presença de nemátodos vectores de viroses;

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 Aplicar técnicas culturais que permitam compatibilizar o potencial produtivo e qualitativo dos clones com o tipo de produção visado.

Na opinião de vários autores (Martins et al., 2002; Carneiro et al. 2003) só no caso de empesas possuidoras de vinhas cultivadas em ambientes estáveis e com sólido apoio enológico, poderá ser aproveitado comercialmente todo o potencial dos clones. Nesta situação, as vindimas poderão ser feitas combinando os diferentes estados de maturação dos diversos clones, possibilitando assim ao viticultor capitalizar todas as mais-valias geradas, que compensarão a eventual má prestação de um ou vários clones, em determinado ano.

Stefanini (1999) propõe a instalação de vinhedos policlonais com clones que possuam características complementares. Para cada casta deverá ser eleito um clone de referência, cujo peso não deverá ultrapassar os 50%, e por 3 a 5 clones complementares, cada um dos quais caracterizado por um carácter fenotipicamente estável.

Contudo, sabe-se hoje que o sistema de condução, através das modificações que introduz na superfície foliar total e exposta e na relação entre a altura da parede de vegetação e o espaçamento entre as linhas de plantação, determina a quantidade de radiação interceptada pelo coberto vegetal. Estes factores têm consequências importantes sobre a produção de fotoassimilados e, em última instância, são decisivos para o rendimento e qualidade das uvas, nomeadamente na acumulação de açúcares e degradação dos ácidos. Também Riou (1997) partilha desta opinião e refere que as práticas culturais, em conjunto com as próprias características da videira, do solo e do clima, determinam a optimização da relação «vegetação-frutificação», que para além de imprescindíveis para a qualidade dos frutos, influenciam também a acumulação de reservas nos órgãos perenes das plantas, assegurando a sua longevidade.

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III - MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho realizou-se durante o ciclo vegetativo de 2009, na região vitivinícola de Lisboa, com o objectivo de avaliar o potencial produtivo e enológico de 13 clones da casta Aragonez enxertados no porta-enxerto 1103P, 12 dos quais já admitidos à certificação.

Neste capítulo referem-se os principais materiais e métodos utilizados para recolha e tratamento dos dados.

3.1 - Material vegetal

A Aragonez é uma casta de porte erecto, vigorosa e com varas muito quebradiças (Magalhães, 2008). O abrolhamento é médio (9 dias após a Castelão), apresenta boa fertilidade nos gomos da base das varas (incluindo os da coroa), pelo que é aconselhável podá-la em poda curta e conduzi-la em cordão Royat, unilateral ou bilateral (INRB, 2010).

A folha adulta apresenta tamanho médio a grande, com lóbulo central alongado, perfil irregular, com empolamento e ondulação do limbo entre as nervuras no ponto peciolar. O seio peciolar apresenta lóbulos sobrepostos e base em V; os seios laterais superiores são profundos, ligeiramente sobrepostos e base em U (Magalhães, 2008).

De uma forma geral, é bastante atreita às doenças criptogâmicas. É sensível ao míldio, nomeadamente tardio (bago de ervilha), que lhe pode causar prejuízos destruindo até 50% da produção. Também sofre consideráveis danos com oídio e é sensível à podridão cinzenta, em particular antes da floração – altura em que, nos anos de chuvas persistentes, pode sofrer estragos consideráveis a nível de todos os órgãos verdes. No domínio das pragas é muito apetecida pela cigarrinha verde, que chega a provocar intensas esfoliações antes da maturação completa das uvas (INRB, 2010).

Os cachos, frequentemente grandes e cilindro cónicos, podem variar desde frouxos a compactos. Os bagos são de tamanho médio, arredondados, apresentam película espessa, polpa mole e suculenta, sem sabor particular (Magalhães, 2008).

Com produtividade irregular, geralmente média a alta, é das castas onde a correlação negativa entre a quantidade e a qualidade mais se acentua, justificando, por vezes, a monda de cachos para a obtenção de vinhos de qualidade superior (Magalhães, 2008). Com produções moderadas, na ordem da 2,5 kg por cepa, e desde que garantida a melhor forma de condução correspondente ao melhor equilíbrio entre uma parede vegetativa ampla e o nível de

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produção, obtêm-se boas massas vínicas que originam vinhos com uma grande riqueza fenólica, carregados de cor, de grande complexidade aromática, alcoólicos e com capacidade para envelhecimento. Quando provenientes de uvas bem maduras, os vinhos elementares desta casta são aptos a vinificação e estágio em madeira, podendo atingir assim grande nobreza de carácter e longevidade (Rubio et al. 2004; Salvador, 2005). Com produções elevadas registam-se quebras nos teores de polifenóis e antocianas (Magalhães, 2008), conduzindo a vinhos de pouca concentração em cor, pobres em taninos e com toques herbáceos (Mayson, 2001).

O seu potencial é muito diversificado, em função dos locais e destino da produção, desde vinhos correntes a vinhos de reserva e Vinhos do Porto. Em regiões quentes revela acidez particularmente baixa (Magalhães, 2008).

O estudo incidiu sobre 13 clones da casta Aragonez provenientes de trabalhos de selecção realizados em diferentes países. Os clones 13, 24, 51 e 78 foram seleccionados em Espanha; os clones 56, 59, 106, 110, 111, 114, 117 e 230 (este último com o estatuto de selecção candidata), em Portugal; o clone 776, de origem espanhola, foi admitido à certificação em França. A designação oficial dos clones referidos e as principais características são referidas no Quadro 3.1.

O 1103P é um porta-enxerto de origem siciliana, obtido em 1896, por Frederico Paulsen, através do cruzamento entre Vitis berlandieri cv. Rességuier nº 2 e Vitis rupestris cv. Lot (IFVV, 2007). Apresenta boa adaptação a climas quentes e secos, a solos com baixa fertilidade, revelando também uma certa tolerância à reacção ácida do solo (Magalhães, 2008) assim como à clorose férrica, suportando até 30% de calcário total no solo (IFVV, 2007). É também um dos porta-enxertos mais tolerantes à salinidade e ao encharcamento temporário, o que lhe confere um interesse ainda maior. A sua polivalência faz com que seja um dos porta-enxertos mais difundidos nas regiões de clima mediterrânico. Em Portugal é o porta-enxerto mais utilizado na produção de enxertos-prontos (Andrade, 2009). Contudo, trata-se de um porta-enxerto muito vigoroso, indutor de rebentações múltiplas nas castas onde é enxertado (Magalhães, 2008). Embora considerado como indutor de uma produtividade média a alta, o 1103P quando comparado com o 110 R, geneticamente muito próximo, revela-se, no entanto, mais irregular e o seu maior vigor traduz-se em maturações mais heterogéneas que levam à obtenção de vinhos de qualidade inferior, isto é, com menor teor de antocianas e taninos (Cordeau, 1998).

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Quadro 3.1 – Características e correspondência entre a referência utilizada e a designação oficial dos clones

estudados. ES – Espanha; RJ – Rioja; EAN – Estação Agronómica Nacional; PT – Portugal; JBP – Jorge Böhm Plansel; FR – França.

Referênci

a utilizada Designação oficial Características

13 Aragonez clone 13-72 (ES) Os resultados das microvinificações revelam que os seus vinhos estão emconformidade com as características da casta (Böhm, pessoal).

24 Tempranillo clone RJ-24 (ES)

Clone muito produtivo, medianamente vigoroso, grau alcóolico médio a baixo, média acidez total, média a baixa intensidade corante (Chomé, pessoal).

51 Tempranillo clone RJ-51 (ES) Clone com rendimento médio, médio-baixo vigor, grau alcoólico médio,média a alta acidez total, média a alta intensidade corante (Chomé, pessoal).

78 Tempranillo clone RJ-78 (ES) Clone com rendimento superior à média, medianamente vigoroso, médiaacidez total, média a baixa intensidade corante (Chomé, pessoal).

56 Aragonez clone 56 EAN (PT)

Clone que evidencia um bom rendimento e é muito equilibrado em todos os outros parâmetros (teor alcoólico, acidez total e cor). Especialmente adaptado a ambientes favoráveis a altos rendimento, onde poderá expressar todo o seu potencial produtivo. Os resultados das microvinificações revelam que os seus vinhos estão em conformidade com as características da casta (Martins, pessoal).

59 Aragonez clone 59 EAN (PT)

Clone caracterizado por um rendimento médio, bom teor alcoólico, acidez total média e muito bom comportamento nos parâmetros da cor. Os resultados das microvinificações revelam que os seus vinhos estão em conformidade com as características da casta (Martins, pessoal).

106 Aragonez clone 106 JBP (PT)

Clone de médio rendimento, elevado teor alcóolico, baixa acidez total e com boa intensidade ao nível da cor. Os cachos apresentam bagos grandes. Pouco vigoroso. Os resultados das microvinificações revelam que os seus vinhos estão em conformidade com as características da casta (Böhm, pessoal).

110 Aragonez clone 110 JBP (PT)

Clone de médio rendimento, elevado teor alcóolico, média acidez total e com muito boa intensidade ao nível da cor. Os cachos apresentam bagos pequenos. Maturação precoce. Os resultados das microvinificações revelam que os seus vinhos estão em conformidade com as características da casta (Böhm, pessoal).

111 Aragonez clone 111 JBP (PT)

Clone de médio rendimento, elevado teor alcóolico, média acidez total e com boa intensidade ao nível da cor. Os cachos apresentam bagos de tamanho médio. Os resultados das microvinificações revelam que os seus vinhos estão em conformidade com as características da casta (Böhm, pessoal).

114 Aragonez clone 114 JBP (PT)

Clone muito produtivo, elevado teor alcoólico, elevada acidez total e com boa intensidade de cor. Os cachos apresentam bagos de tamanho pequeno. Vigor médio. Os resultados das microvinificações revelam que os seus vinhos estão em conformidade com as características da casta (Böhm, pessoal).

117 Aragonez clone 117 JBP (PT)

Clone produtivo, médio teor alcoólico, elevada acidez total e com intensidade média de cor. Os cachos apresentam bagos grandes. Clone muito vigoroso e de maturação tardia. Os resultados das microvinificações revelam que os seus vinhos estão em conformidade com as características da casta (Böhm, pessoal).

230 Selecção candidata n.º 230 Os resultados das microvinificações revelam que os seus vinhos estão emconformidade com as características da casta (Böhm, pessoal).

776 Tempranillo clone 776 (FR)

Clone de média produção com cachos de tamanho médio, com bagos médios. Os mostos apresentam uma concentração de açúcar superior à média. Os resultados das microvinificações revelam que os seus vinhos estão em conformidade com as características da casta (IFVV, 2007). Nota: Em cada caso, as apreciações comparativas têm como referência o conjunto dos clones presentes nos

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3.2 - Localização e caracterização do campo de ensaio

O campo do ensaio foi instalado na Quinta da Torre, freguesia de Dois Portos, concelho de Torres Vedras (39º01’46’’N e 9º10’35’’W; altitude 99m), inserida na região vitivinícola de Lisboa.

Segundo a classificação da FAO/UNESCO (1990), o solo pertence à classe dos Fluvissolos Calcários – FLc. Os solos pertencentes a esta unidade principal são solos recentes de aluvião que se encontram nos vales de rios (Varennes, 2003). Correspondem aos Aluviossolos Modernos Calcários de textura mediana, segundo a classificação de Cardoso (1965).

Figura 3.1 – Localização do campo experimental. Imagem

obtida em www.googleearth.com.

De acordo com a caracterização climática das regiões vitícolas de Portugal, segundo a classificação de Thornthwaite e Mather, o clima da região de Torres Vedras é do tipo sub-húmido chuvoso, com moderada deficiência de água no Verão, mesotérmico, e nula ou pequena concentração de eficiência térmica na estação quente, a que corresponde a fórmula climática C2 s B2’ a’ (Magalhães, 2008).

Para a caracterização do ano climático durante o período de ensaio utilizaram-se os dados mensais de temperatura e precipitação registados no posto meteorológico de Torres Vedras, pertencente à DRAPLVT2.

Imagem

Figura   2.1  –   Esquema   de   multiplicação   e   categorias   comerciais   de material vegetal (Decreto-Lei n.º 194/2006, de 27 de Setembro).
Figura 2.2 - Evolução do material existente nos viveiros, no período 2000-2008.
Figura 2.4 – Oferta de enxertos-prontos de origem clonal, em 2008.
Figura   3.1  –   Localização   do   campo   experimental.   Imagem obtida em www.googleearth.com.
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