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A proficiência motora das crianças do 1º ano do 1º ciclo do Ensino Básico

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Academic year: 2021

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A PROFICIÊNCIA MOTORA DAS CRIANÇAS DO 1º ANO DO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO

Dissertação de Mestrado em Educação Física e Desporto – Especialização em Desenvolvimento da Criança

Andreia Castro da Silva

Orientação:

Professora Doutora Maria Isabel Martins Mourão Carvalhal

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A PROFICIÊNCIA MOTORA DAS CRIANÇAS DO 1º ANO DO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO

Dissertação de Mestrado em Educação Física e Desporto – Especialização em Desenvolvimento da Criança

Andreia Castro da Silva

Orientação:

Prof.ª Dra. Maria Isabel Martins Mourão Carvalhal

Composição do Júri:

Presidente:

Isabel Maria Rodrigues Gomes (Prof.ª Auxiliar, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)

Vogais:

Carla Sandra Carneiro Afonso (Doutorada Assistente Convidada, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)

Maria Isabel Martins Mourão Carvalhal (Prof.ª Associada Aposentada, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)

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iii Esta dissertação foi idealizada e produzida para a obtenção do grau de Mestre em Educação Física e Desporto, Especialização em Desenvolvimento da Criança, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, sob orientação da Professora Doutora Maria Isabel Martins Mourão Carvalhal.

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v

“As crianças não representam apenas pessoas que

vivem a sua vida, num dado momento. Encerram

em si um passado que traduz a história de um

país, de uma nação, de uma família e, de modo

geral, de uma sociedade e da sua evolução, e,

simultaneamente, um futuro que se constrói no

presente, passo a passo, e que delimitará, não

apenas o percurso de vida de cada uma delas, mas

dos vários grupos e ecossistemas a que pertencem.”

Mário Cordeiro, 2015, em Crianças e Famílias num Portugal em Mudança

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vii

Agradecimentos

Gostaria de agradecer a todos aqueles que de alguma forma me ajudaram ao longo de todo o meu percurso académico, quer pela partilha de conhecimentos, assim como pelo companheirismo e apoio que sempre me prestaram.

Agradeço em especial…

… à minha orientadora a Prof.ª Dra. Maria Isabel Martins Mourão Carvalhal por me guiar ao longo deste estudo, desde o seu projeto e ao longo de toda a realização do mesmo. Pelo seu apoio, atenção, disponibilidade e acima de tudo o seu profissionalismo. Muito Obrigada.

… a todos os que aceitaram associar-se a este estudo, à Diretora do Agrupamento de Escolas participante pela permissão, aos encarregados de educação pela autorização da participação dos seus educandos, e às crianças que sempre se mostraram entusiasmadas em participar, e que permitiram assim a realização deste estudo. Muito Obrigada.

… a toda a minha família, especialmente os meus pais e irmão, que sempre me incentivaram e apoiaram ao longo deste percurso. Muito Obrigada.

… aos meus amigos e colegas, pelo seu apoio e partilhas de experiências que me permitiram ser mais e melhor. Muito Obrigada.

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ix

Resumo

Existem diversos fatores que podem influenciar o desenvolvimento da criança, entre eles, o contexto socioeconómico e educacional. Estes fatores associados à vida sedentária das crianças, com a passagem de grande parte do seu dia sentadas, promovem o desenvolvimento da motricidade fina (MF) em detrimento da motricidade global (MG). Desde o ensino pré-escolar as crianças são colocadas em salas com dimensões reduzidas, dificultando as atividades que recorrem à motricidade global, debilitando não só a sua proficiência motora (PM), assim como a sustentabilidade de possíveis aprendizagens escolares.

Neste contexto, a presente investigação foi organizada em três estudos com os seguintes objetivos: (i) - caracterizar de acordo com o género, a proficiência motora e a motricidade global e fina, de crianças do 1º ano do 1º Ciclo do Ensino Básico (CEB), (ii) - verificar a influência do contexto socioeconómico e educacional na motricidade global e na motricidade fina, de crianças do 1º ano do 1º CEB e (iii) - comparar a proficiência motora das crianças do 1º ano do 1º CEB, de acordo com as vivências educacionais anteriores ao pré-escolar.

A amostra dos três estudos incluiu 72 crianças (34 rapazes e 38 raparigas), com idades compreendidas entre os 5 e 7 anos (78,31meses ± 3,45). Os dados sobre o contexto socioeconómico e educacional da criança foram recolhidos através de um questionário e foi aplicado o Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky-2 Forma Reduzida (TPMBO-2 FR) para avaliar a PM, a MG e a MF.

Os resultados do estudo-1 revelam que a maioria das crianças apresenta uma PM média (65,3%). Embora não se tenham verificado diferenças significativas entre a MG e a MF, a MF (68,22%) revela-se superior em ambos os géneros. As raparigas mostraram-se significativamente superiores aos rapazes nas tarefas de coordenação bilateral (p=0,050). Enquanto os rapazes foram significativamente superiores nas tarefas de coordenação dos membros superiores (p=0,003).

Os resultados do estudo-2 evidenciam que relativamente à MG não se verificou nenhuma variável preditiva, ainda assim observamos que 10,7% da variância da MF foi explicada pelas habilitações literárias e profissão da mãe (p=0,008). O estatuto socioeconómico da mãe mostrou-se influente no desempenho da MF.

No estudo-3 os resultados mostram que relativamente aos contextos educacionais anteriores ao pré-escolar não se registaram diferenças significativas na PM.

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x Concluindo, a maioria das crianças do 1º ano do 1º CEB apresenta uma proficiência motora média. A motricidade fina revelou-se a motricidade mais desenvolvida em ambos os géneros, sendo que o estatuto socioeconómico da mãe se mostrou uma influência positiva no seu desempenho.

Palavras-Chave

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xi

Abstract

There are several factors that can influence the child's development, some of them are, the socio-economic and educational context. These factors associated with children's sedentary lifestyle, spending most of their day sitting, promotes the development of fine motor skills (FMS) at the expense of gross motor skills (GMS). Since preschool, children are placed in rooms with small dimensions, hampering the activities that appeal to gross motor skills, undermining not only their motor proficiency (PM) as well as the support of possible school learning’s.

In this context, this research was organized in three studies with the following goals: (i) - characterize motor proficiency and gross and fine motor skills of the children in the 1st year of the 1st Cycle of Basic Education (CBE), according to gender, (ii) - determine the influence of socioeconomic and educational context on gross motor and fine motor skills, of the children in the 1st year of the 1st CBE, and (iii) - compare motor proficiency of the children in the 1st year of the 1st CBE, according to educational experiences before preschool.

The sample for the three studies included 72 children (34 boys and 38 girls), aged between 5 and 7 years (78,31 months ± 3,45). The data from the child’s socio-economic and educational contexts was retrieved through a questionnaire, and was applied the Bruininks-Oseretsky Test of Motor Proficiency-2, Brief Form (BOT-2 BF) to evaluate the MP, the GMS and the FMS.

The results from the study-1 revealed that the majority of the children have an average MP (65,3%). Although there wasn’t significant differences between the GMS and FMS, both genders presented higher values in FMS (68,22%). The girls were significantly better than the boys in bilateral coordination tasks (p=0,050). Meanwhile the boys were significantly superior in the upper limbs coordination (p=0,003).

The results from the study-2 show that regarding to the GMS there wasn’t any predictive variable, but still we observed that 10,7% of the FMS variance was explained by the mother’s highest level of education and the mother's occupation (p=0,008). The mother’s socioeconomic status showed a positive influence in FMS performance

In the study-3 the results show that regarding to educational contexts before entering preschool there were no significant differences in MP.

In conclusion, most of the children of the 1st year of the 1st CBE evaluated have an average motor proficiency. The FMS was revealed as the most developed motor skill in both genders, being that the mother’s socioeconomic status showed a positive influence in its performance.

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xii Keywords

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xiii

Índice

Pensamento ... v Agradecimentos ... vii Resumo ... ix Abstract ... xi Índice de tabelas ... xv

Lista de Abreviaturas e Siglas ... xvii

1. Introdução ... 1

Objetivos ... 7

2. Estudo 1 - Caracterização da proficiência motora e da motricidade global e fina de crianças do 1º ano do 1º CEB, de acordo com o género ... 9

Resumo e Abstract ... 9 Introdução ... 10 Metodologia ... 12 Resultados ... 13 Discussão ... 15 Conclusão ... 17 Referências ... 17

3. Estudo 2 - Variáveis preditoras da motricidade global e da motricidade fina de crianças do 1º ano do 1º CEB ... 21

Resumo e Abstract ... 21 Introdução ... 22 Metodologia ... 23 Resultados ... 24 Discussão ... 26 Conclusão ... 27 Referências ... 28

4. Estudo 3 - Comparação da proficiência motora das crianças do 1º ano do 1º CEB, de acordo com as vivências educacionais anteriores ao pré-escolar ... 31

Resumo e Abstract ... 31

Introdução ... 32

Metodologia ... 34

Resultados ... 35

(15)

xiv

Conclusão ... 38

Referências ... 39

5. Conclusão ... 41

6. Limitações e Futuros estudos ... 43

7. Referências ... 45

8. Apêndices ... 47

Apêndice A - Pedidos de autorização ao Agrupamento de Escolas para aplicação dos instrumentos ... 49

Apêndice B - Pedidos de autorização aos Encarregados de Educação ... 59

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xv

Índice de tabelas

Estudo 1:

Tabela 1 - Caracterização da Proficiência Motora ... 14 Tabela 2 - Comparação dos resultados dos subtestes do TPMBO-2 FR, e da

motricidade global e fina, em percentagem (média ± DP), de acordo com o género . 15

Estudo 2:

Tabela 1 - Análise Descritiva dos subtestes do TPMBO-2 FR e Motricidades ... 25 Tabela 2 - Regressões lineares relativas à MF, Precisão Motora Fina e Integração Motora Fina ... 26

Estudo 3:

Tabela 1 - Caracterização da Proficiência Motora ... 35 Tabela 2 - Variância do Standard Score de acordo com o tipo de Contexto Educacional anterior ao Pré-escolar ... 36

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Lista de Abreviaturas e Siglas

cit. ... citado et al. ... e outros MG ... Motricidade Global MF ... Motricidade Final PM ... Proficiência Motora CEB ...Ciclo do Ensino Básico TPMBO-2 FR ... Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky-2 Forma Reduzida DP ... Desvio Padrão GMS ... Gross Motor Skills FMS ...Fine Motor Skills MP ... Motor Proficiency CBE ... Cycle of Basic Education BOT-2 Brief Form ...Bruininks-Oseretsky Test of Motor Proficiency-2 Brief Form FR ...Forma Reduzida FC ... Forma Completa BPM ... Bateria Psicomotora PDMS-2 ... Peabody Developmental Motor Scales-2 SPSS ... Statistical Package for Social Sciences

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1. Introdução

O homem tem a capacidade de controlar e transformar o seu meio, criando instrumentos, e símbolos, dando origem ao aparecimento da comunicação e de novas aprendizagens. Devido às suas características biopsicosocioculturais e à sua natureza adaptativa, o cérebro é um órgão versátil e plástico arquitetado pelas experiências vivenciadas, no seu longo processo filogenético. As múltiplas tarefas que o homem é capaz de realizar, como a postura bípede, a manipulação práxica, a leitura e a escrita, entre outras, são o resultado de várias interações entre estruturas corticais e subcorticais, criando um sistema complexo de processamento simultâneo e concorrente (Fonseca, 2007).

Segundo Luria (1973, cit. por Fonseca, 2007), o cérebro é composto por 3 unidades funcionais básicas, que em conjunto formam a atividade mental com todas as suas características, porém, cada uma é responsável por determinada função. A primeira unidade funcional é responsável pela regulação do tónus cortical e vigilância. A segunda unidade capta, processa e armazena a informação proveniente do meio exterior. A terceira unidade tem como função programar, regular e verificar a atividade mental. Mais concretamente, organiza as atividades mais complexas através da integração das várias áreas corticais. Uma vez que exige uma maior complexidade, esta estrutura é a última a desenvolver-se, quer na filogénese, quer na ontogénese, estando esta situada nas regiões anteriores do córtex, formando os lobos frontais.

O desenvolvimento ontogénico do cérebro ocorre durante os períodos pré e pós-natal, com períodos sensíveis de maior vulnerabilidade ao aparecimento de malformações, disfunções, dificuldades, entre outros (Roeber, Gunnar & Pollak, 2014).

O cerebelo e o corpo caloso são duas partes importantes do cérebro envolvidas no desenvolvimento motor. O cerebelo tem um papel fundamental na função motora e na aprendizagem motora, atingindo aos 7 meses de idade o seu máximo desenvolvimento (Rice & Barone, 2000). Roeber, et al., (2014), afirmam que o corpo caloso é o principal responsável pela rápida troca de informação entre os hemisférios cerebrais, como a informação motora, sensorial e também cognitiva, intervindo também no movimento ocular, na coordenação óculo-manual, na memória visual e auditiva.

O desenvolvimento motor é um processo de mudanças que ocorrem no comportamento motor ao longo do ciclo da vida. A criança inicia o uso dos grandes grupos musculares como o tronco, os braços e pernas, e dos pequenos grupos musculares como as mãos e dedos, aprendendo a coordená-los entre si (Fonseca, 2007). A sua carência ou

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2 incorreta aquisição pode comprometer severamente o desenvolvimento da criança, dificultando a assimilação e aprendizagem de outras competências, debilitando a criança.

De acordo com o modelo de desenvolvimento de Gallahue, o desenvolvimento progride do simples para o complexo, e do geral para o específico. Neste contexto, as crianças passam por uma série de fases, iniciando com os reflexos, seguida dos rudimentares, fundamentais e dos especializados (Gallahue & Ozmun, 2005).

Por volta dos 2 anos de idade até aos 7 anos os movimentos fundamentais são refinados através das experiências e da exploração do meio envolvente, proporcionando a realização de uma maior variedade de movimentos de estabilidade, de locomoção e de manipulação.

Uma motricidade global bem desenvolvida resulta da maturação e do crescimento da criança, facilitando a aprendizagem e a realização de movimentos cada vez mais complexos que se baseiam em movimentos básicos já aprendidos corretamente e repetidos ao longo do tempo (Gallahue & Ozmun, 2005).

A observação da motricidade global através da execução do ato motor permite retirar algumas conclusões importantes relativamente à eficiência, proficiência e realização motora (Fonseca, 2007).

A realização motora implica o conhecimento do movimento inserido no mapa cognitivo que controla a ação e consequentemente a sua execução (Lima, 2008).

A eficiência motora é fruto da maturação progressiva da região pré-frontal, implicando um planeamento motor cada vez melhor permitindo a realização de um movimento mais eficiente, isto é a utilização apenas dos músculos e da energia necessários (Andrade, Luft & Rolim, 2004).

A proficiência motora (PM) corresponde à performance total da criança na realização de atividades com objetivos específicos, tendo em conta a prestação quantitativa e qualitativa dos movimentos (Bruininks & Bruininks, 2010).

A motricidade fina é crucial na aquisição de movimentos mais específicos que facilitarão a aquisição de várias habilidades essenciais para a vida autónoma da criança e que terão um desempenho muito importante na aprendizagem do desenho e consequentemente da escrita (Gallahue & Ozmun, 2005).

É caracterizada por movimentos finos precisos e velozes e pela reprogramação da ação consoante a integração das informações táctilo-percetivas e visuais (Fonseca, 1984). São também necessárias noções espácio-temporais bem definidas para a estimativa de distâncias, trajetórias, velocidade e precisão, todas essenciais na motricidade fina (Gallahue

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3 & Ozmun, 2005). A coordenação bimanual precisa promove o bom desenvolvimento da criança e associada a uma boa perceção visual, favorece também um bom desenvolvimento na aprendizagem da leitura, escrita e cálculo, uma vez que a motricidade fina integra não só a ação, mas também a atenção voluntária, a pré-programação e a capacidade de reprogramação, entre outros (Fonseca, 1984).

A aquisição do movimento está dependente de momentos de aprendizagem e respetiva repetição em diversas atividades, em locais propícios para jogos e brincadeiras, de modo a adicioná-lo ao seu reportório. Proporciona-se assim a oportunidade de estimulação das crianças que associada à presença de feedbacks sensoriais, as permite corrigir e reajustar os seus movimentos e torná-los cada vez mais corretos e eficientes (Barros, Fragoso, Oliveira, Cabral Filho & Castro, 2003; Gallahue & Ozmun, 2005).

Segundo Roeber, et al., (2014), a privação precoce nas crianças tem impacto no seu desenvolvimento motor ao longo do seu crescimento. Os fatores de privação podem ser a pobreza, uma nutrição pré-natal empobrecida e/ou um ambiente tóxico para a criança.

A ausência da mãe ativa ao longo do dia exige a necessidade de soluções para que o seu filho seja cuidado durante esse tempo. As opções são geralmente os familiares (o pai caso haja essa possibilidade, mas na maioria das vezes são os avós ou tios da criança), as amas ou as creches, consoante o contexto educativo que seja mais benéfico e favorável à criança (Wagner & Tarkiel, 2009).

No contexto educativo as preocupações centram-se no cuidado e na estimulação da criança. Este deve ser um espaço com boas condições, com uma oferta de horários compatíveis e flexíveis, com educadores capazes e especializados, e com um preço compatível com o orçamento familiar, que atualmente influência bastante a escolha dos pais (Wagner & Tarkiel, 2009).

As oportunidades oferecidas às crianças são fundamentais para o seu desenvolvimento motor, no entanto, as condições em que vivem dependem muito do estatuto socioeconómico do agregado familiar, influenciando também as relações sociais e o ensino (Ghosh, S., Chowdhury, Chandra & Ghosh, T., 2012). O desenvolvimento da motricidade global e da motricidade fina pode variar com as diferentes ocupações que as crianças têm, seja pela participação num desporto organizado, através das experiências proporcionadas no meio familiar, na pré-escola, nas atividade dos tempos livres, entre outros.

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4 As crianças com uma boa proficiência motora mostram-se mais competentes na realização de atividades físicas, aumentando a possibilidade de repetição dessas atividades, assim como de novas experiências (Fransen, et al., 2014).

Pelo contrário, a ocorrência de dificuldades motoras promovem na criança limitações e consequentemente sedentarismo, que terá como possibilidade a obesidade, e uma maior dificuldade de integração da criança no seu grupo social, quer por falta de aceitação dos pares quer por não partilharem os mesmos interesses. Assim, não só a criança se afasta dos outros por falta de confiança em si, e de uma baixa autoestima, como também o grupo a excluí da participação nas atividades grupais.

Tendo como referência o modelo de Gallahue e Ozmun, (2005), o desenvolvimento da motricidade global deveria estar mais desenvolvida que a motricidade fina uma vez que esta surge como base para a realização de movimentos mais refinados.

No entanto, a maioria das crianças atualmente não têm grandes oportunidades para a prática de atividade física. Estas despendem grande parte do seu tempo sentadas, porque para além do tempo que as crianças passam na escola, a carga horária escolar inclui atividades de enriquecimento curricular e apoios (Medina-Papst & Marques, 2010), beneficiando assim o desenvolvimento da motricidade fina.

A disparidade entre a motricidade global e fina surge mesmo antes da entrada para o 1º CEB, pois as crianças no ensino pré-escolar estão maioritariamente envolvidas em atividades que requerem a utilização de pequenos grupos musculares como o desenho e o recorte, negligenciando as atividades mais globais (Saraiva, Rodrigues, Cordovil & Barreiros, 2013). Vários autores observaram melhores resultados na motricidade fina, comparativamente aos obtidos na motricidade global (Melo & Pereira, 2006; Almeida, 2009; Saraiva & Rodrigues, 2007).

Na Europa, as crianças iniciam a frequência do pré-escolar entre os 3 e os 6 anos de idade. Em 2010, 73% das crianças de 3 anos já se encontravam inseridas num contexto educativo (OECD, 2012).

Atualmente as crianças, nos anos pré-escolares, passam grande parte do seu dia com papel e caneta na mão, ao invés de aproveitarem o tempo para adquirirem mais competências a nível da motricidade global, de forma a obterem um bom desenvolvimento (Saraiva, Rodrigues, Cordovil & Barreiros, 2013).

Os pais e educadores são também responsáveis pelas oportunidades e experiências que proporcionam aos seus filhos, centrando-se a sua preocupação nas atividades de

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5 ensino e de aprendizagem da leitura e da escrita para facilitar o seu ingresso no 1º Ciclo do Ensino Básico (CEB).

O ingresso no 1º ano do 1º CEB é uma etapa muito importante na vida das crianças. É nesta altura, mas também com a entrada para o pré-escolar, que surgem frequentemente as solicitações para a avaliação da criança, uma vez que com estas mudanças na vida da criança decorrem normalmente alterações no seu comportamento, e a descoberta de possíveis atrasos globais no desenvolvimento ou ainda de dificuldades motoras (Adolph, 2002).

O desenvolvimento da criança é principalmente avaliado através do desenvolvimento motor (Berk, 2003).

Para avaliar o desempenho das habilidades de motricidade global e fina foi escolhido o Teste de Proficiência Motora de Bruinink-Oseretsky-2 Forma Reduzida (TPMBO-2 FR).

Em 1978, surgiu o primeiro TPMBO utilizado para a avaliação da proficiência motora assim como os atributos positivos e as dificuldades da proficiência motora (Bruininks & Bruininks, 2010). O TPMBO-2 é a versão mais recente do teste e avalia, através de critérios pré-definidos, o desempenho da criança observado durante a aplicação do teste. Este tipo de teste tem em consideração não só a prestação quantitativa mas também a qualidade dos movimentos durante a realização das atividades em indivíduos entre os 4 e os 21 anos (Bruininks & Bruininks, 2010).

O TPMBO-2, na sua Forma Completa (FC), é constituído por 53 itens distribuídos por 8 subtestes: precisão motora fina com 7 itens; integração motora fina com 8 itens; destreza manual com 5 itens; coordenação bilateral com 7 itens; equilíbrio com 9 itens; agilidade e velocidade com 5 itens; coordenação dos membros superiores com 7 itens e força com 5 itens (Bruininks & Bruininks, 2010). A FC é um excelente teste para identificar problemas motores e de desenvolvimento e o tempo de aplicação varia consoante a criança avaliada, entre 45 e 60 minutos (Verderber & Payne, 1987).

A Forma Reduzida (FR) do TPMBO-2 é principalmente utilizada como teste para despiste rápido, entre 15 a 20 minutos, que reflete de forma geral a proficiência motora da criança. Esta forma é composta por apenas 12 itens, retirados dos 8 subtestes da FC do TPMBO-2, tendo sido selecionados através de informações retiradas de dados recolhidos durante a estandardização (Bruininks & Bruininks, 2010).

Segundo o TPMBO-2 FR, o subteste de precisão motora fina foi avaliado através de duas atividades: (i) Preenchimento de uma estrela; (ii) Desenho de uma linha através de um percurso. No subteste de integração motora fina a avaliação ocorreu também através de

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6 duas atividades: (i) Cópia de dois círculos sobrepostos; (ii) Cópia de um losango. Para avaliar o subteste de destreza manual foi utilizada uma atividade de enfiação de blocos de madeira num fio. O subteste de coordenação bilateral foi avaliado através de duas atividades: (i) Toque no nariz com os dedos indicadores- com os olhos fechados; (ii) Girar polegares em contato com os dedos indicadores. O subteste de equilíbrio foi avaliado através de uma atividade de caminhada em pé-ante-pé sobre uma linha. O subteste de velocidade e agilidade foi avaliado através de uma atividade de salto em apoio unipedal. Para avaliar o subteste de coordenação dos membros superiores foram utilizadas duas atividades: (i) Apanhar uma bola arremessada - com uma mão; (ii) Driblar uma bola - alternando as mãos. E finalmente para avaliar a força foi utilizada uma atividade de flexões de braços com os joelhos apoiados (Bruininks & Bruininks, 2010).

Tendo em conta a qualidade da FC em verificar as dificuldades motoras e devido à sua extensão, tanto a nível de itens como a nível de tempo/duração da execução do teste, a FR parece ser a mais indicada para ser utilizada no presente estudo.

Uma das vantagens deste teste é a aplicação individual, e a constituição do teste ser baseado em atividades apelativas, com objetivos definidos para avaliar uma vasta quantidade de habilidades motoras (Bruininks & Bruininks, 2010).

Ao avaliar as alterações das competências motoras nas crianças é possível observar as alterações provocadas ao nível do sistema nervoso central (Adolph, 2002). Com a avaliação da proficiência motora das crianças podemos ainda verificar se a criança se encontra dentro da média para a sua idade, ou se está favorecida ou desfavorecida em relação à média dos resultados obtidos pela maioria das crianças da sua idade.

Este estudo surgiu da importância do início de uma nova etapa da vida da criança, com a entrada para o 1ºCEB. Pensamos que uma avaliação das crianças em fase escolar poderá fornecer dados sobre as mesmas relativamente ao seu desenvolvimento motor, assim como providenciar informações importantes para os educadores, possibilitando e potenciando uma melhor intervenção (Rosa Neto et al., 2010;Fransen, et al., 2014; Silva & Dounis, 2014).

Desta forma, pretendemos analisar a proficiência motora das crianças do 1º ano do 1º CEB, e consequentemente o nível de desenvolvimento da motricidade global e da motricidade fina.

O objetivo passa por avaliar a proficiência motora das crianças e analisar qual a motricidade mais desenvolvida, a global ou a fina.

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7 Face ao exposto, pensamos que alguns fatores poderão estar relacionados com a maior importância e estimulação no desenvolvimento da motricidade fina, em detrimento da motricidade global, como o género, o estatuto socioeconómico (em termos das habilitações literárias e profissão dos pais), e os contextos educativos anteriores à frequência do ensino pré-escolar.

Neste contexto, definimos como questão orientadora do nosso estudo:

- Será que as crianças, atualmente, têm a motricidade fina mais desenvolvida que a motricidade global?

Objetivos

• Caracterizar, de acordo com o género, a proficiência motora e a motricidade global e fina de crianças do 1º ano do 1º CEB.

• Verificar a influência do contexto socioeconómico e educacional da criança na sua motricidade global e fina.

• Comparar a proficiência motora de crianças do 1º ano do 1º CEB, de acordo com as vivências educacionais anteriores ao pré-escolar.

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2. Estudo 1 - CARACTERIZAÇÃO DA PROFICIÊNCIA MOTORA E

DA MOTRICIDADE GLOBAL E FINA DE CRIANÇAS DO 1º ANO

DO 1º CEB, DE ACORDO COM O GÉNERO

Andreia Silva1, Isabel Mourão Carvalhal1

1Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, CIDESD, Vila Real, Portugal

RESUMO

As crianças do ensino pré-escolar passam cada vez mais tempo em salas com dimensões reduzidas, envolvidas em atividades que desenvolvem principalmente a motricidade fina, em detrimento da motricidade global. Neste contexto, este estudo tem como objetivo caracterizar e comparar, de acordo com o género, a proficiência motora (PM) e a motricidade global (MG) e fina (MF) de crianças do 1º ano do 1º Ciclo do Ensino Básico (1º CEB). A amostra incluiu 72 crianças (34 rapazes e 38 raparigas), com idades compreendidas entre os 5 e 7 anos (78,31meses ± 3,45). Foi utilizado o Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky-2 Forma Reduzida (TPMBO-2 FR) para avaliar a PM, a MG e a MF. Para comparar a MG e MF nos rapazes e raparigas foi utilizado o teste t de Student. Os resultados demonstram que relativamente à PM a maioria das crianças encontra-se na categoria média (65,3%), 30,6% acima da média e muito acima da média e 4,2% muito abaixo e abaixo da média. Os resultados dos testes de comparação não evidenciaram diferenças significativas entre a MG e a MF, no entanto a MF (68,22%) revela-se superior em ambos os géneros. Os resultados mostram ainda que as raparigas são significativamente superiores aos rapazes nas tarefas de coordenação bilateral (p=0,050). Nas tarefas de coordenação dos membros superiores, os rapazes, apresentam resultados significativamente superiores (p=0,003). Concluindo, a maioria das crianças do 1º ano do 1º CEB apresenta uma proficiência motora média. A MF revelou-se a motricidade mais desenvolvida em ambos os géneros.

PALAVRAS-CHAVE

Proficiência motora, crianças, motricidade global, motricidade fina ABSTRACT

Preschool children spend many hours indoors developing fine motor skills in detriment of gross motor skills. This research aims to characterize and to compare according to the gender, elementary school children’s motor proficiency (MP), gross motor skills (GMS) and fine motor skills (FMS). This study evaluated 72 children (34 boys and 38 girls), aged between 5 and 7 years old (78,31months ± 3,45), with the Bruininks-Oseretsky Test of Motor Proficiency, Second Edition, Brief Form (BOT-2 Brief Form) to assess MP, GMS and FMS. To compare the GMS and FMS of boys and girls, was applied the Student’s t-test. The majority of children (65,3%) are in the average category of MP, 30,6% are above or well above average and 4,2% are below or well below average. The results showed no significant differences between the GMS and FMS, however, both genders present higher values in FMS (68,22%). The results also show that girls are significantly better than boys in bilateral coordination tasks (p=0,050), however, boys showed significantly higher values in the upper limbs coordination (p=0,003). In conclusion, most children have an average motor proficiency, and the FMS is the most developed in both genders.

KEYWORDS

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10 INTRODUÇÃO

A competência motora é resultado da interação dinâmica entre o crescimento, a maturação (morfológica, fisiológica e neuromuscular), e as influências do meio envolvente (Papalia, Olds & Feldman, 2001; Malina, 2004; Gallahue & Ozmun, 2005).

De acordo com o modelo de desenvolvimento de Gallahue e Ozmun, (2005), a criança passa por diferentes fases de desenvolvimento: (i) movimentos reflexos, (ii) movimentos rudimentares; (iii) movimentos fundamentais e (iv) movimentos especializados. De acordo com este modelo, a criança quando nasce, é portadora de um conjunto de reflexos, de movimentos rítmicos e estereotipados, suportes do comportamento voluntário, fundamentais e essenciais para a sua sobrevivência. Através da inibição dos centros cerebrais inferiores e do comando dos centros cerebrais superiores, e da interação com o meio, verifica-se um maior controlo nas respostas, cada vez mais especializadas e competentes nas três grandes categorias de movimento (estabilidade, locomoção e manipulação), das quatro fases de desenvolvimento motor (reflexa, rudimentar, fundamental e especializada), e dos estádios de aprendizagem dos movimentos reflexos (descodificação e codificação), movimentos rudimentares (pré-controlo e inibição), movimentos fundamentais (inicial, elementar e maduro) e movimentos especializados (transição, aplicação e aplicação ao longo da vida).

A motricidade global (MG) compreende tarefas motoras sequenciais globais que invocam a realização e automatização dos movimentos globais complexos, realizados num determinado período de tempo e utilizando em conjunto vários grupos musculares na sua execução, (Fonseca, 2007). A MG está presente nas atividades do dia-a-dia, como na locomoção, nas atividades recreativas, entre outras, que promovem na criança o seu desenvolvimento, de forma natural (Aubert, 2007, cit. por Ghosh, S., Chowdhury, Chandra & Ghosh, T., 2012).

A motricidade fina (MF) resulta da integração de todas as considerações e significações psiconeurológicas, é mais complexa que a MG, e demonstra-se através da micromotricidade e da perícia manual (Fonseca, 1984, cit. por Fonseca, 2007). As habilidades finas caracterizam-se por movimentos precisos para realizar tarefas delicadas, que exigem maior destreza, como a manipulação de pequenos objetos, transferência de objetos de uma mão para a outra e tarefas que implicam coordenação óculo-manual. A proficiência motora (PM) corresponde à performance total da criança na realização das atividades com objetivos específicos que compõem o Teste de Proficiência Motora de

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11 O desenvolvimento motor das crianças deve ser avaliado de forma a evitar descobertas tardias de dificuldades. Esta avaliação é de extrema importância nas crianças em idade escolar, resultando não só num mecanismo de intervenção, mas também de prevenção e de informação para os pais e educadores (Rosa Neto, Santos, Xavier & Amaro, 2010; Fransen, et al., 2014; Silva & Dounis, 2014).

As crianças do ensino pré-escolar passam grande parte do seu dia envolvidos em atividades que estimulam o desenvolvimento da MF, em detrimento da aquisição de competências ao nível da MG, e consequentemente de um bom desenvolvimento. Inclusivamente, cada vez menos se proporciona às crianças as oportunidades e experiências adequadas, centrando-se a preocupação dos pais e dos educadores fundamentalmente no desenvolvimento cognitivo e na aprendizagem da escrita da criança, para facilitar o ingresso no 1º Ciclo do Ensino Básico (CEB).

O estudo de Melo e Pereira, (2006), realizado com crianças brasileiras, constatou que a MF apresentava níveis superiores de desenvolvimento comparativamente aos obtidos na MG, através da aplicação da Bateria Psicomotora de Vítor da Fonseca (1995). Na MF, as crianças apresentaram perfis psicomotores eupráxicos e hiperpráxicos, mas nenhum dispráxico. Na MG, embora haja uma maior percentagem de crianças com perfil psicomotor eupráxico, evidencia também perfil dispráxico, mas nenhum resultado hiperpráxico. No estudo de Almeida, (2009), com o mesmo instrumento, foi possível verificar que as crianças obtiveram melhores resultados na MF, comparativamente com a MG. Quanto ao género, os rapazes foram somente superiores na coordenação óculo-manual, incluída na MG, enquanto as raparigas foram superiores na coordenação óculo-pedal, e na MF.

O estudo de Miyabayashi e Pimentel, (2011), avaliou apenas a MG das crianças, utilizando as seis atividades do TPMBO, da versão para língua portuguesa de 1994, tendo as raparigas obtido melhores resultados na coordenação e equilíbrio, enquanto os rapazes se destacaram na corrida, e na força. Estas diferenças podem dever-se aos resultados encontrados no estudo de Pereira, V., Condessa e Pereira, B., (2013), onde foram apresentadas algumas estereotipias de género em atividades comuns de recreio, como saltar à corda, dançar e jogar à macaca nas raparigas, enquanto os rapazes se dedicam mais aos jogos de lutas, cartas e jogos eletrónicos.

No estudo de Gentier et al., (2013), utilizando o TPMBO-2 com 14 itens, as crianças normoponderais obtiveram standard scores médios de 56,44 pontos, encontrando-se na categoria descritiva de proficiência motora média, situada entre os 41 e 59 pontos.

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12 Segundo o estudo de Saraiva e Rodrigues, (2007), utilizando o Peabody

Developmental Motor Scales-2, (PDMS-2) foram observados resultados superiores de MF e

inferiores de MG, quando comparadas as crianças portuguesas com as norte-americanas. Os rapazes e raparigas apresentam ritmos diferenciados de maturação neurológica observáveis através dos diferentes níveis de desenvolvimento motor (Larson et al., 2007). Durante o período escolar, entre os 6 e 11 anos, as crianças tendem a ficar mais fortes, mais rápidas e melhor coordenadas. Aos 6 anos, as raparigas destacam-se na exatidão dos movimentos, enquanto os rapazes se destacam na força e em ações que exigem menor complexidade (Papalia, et al., 2001). Devido à maturidade física geral, as raparigas evidenciam melhores resultados na MF quanto à escrita e desenho, e na MG nas atividades que dependem de equilíbrio e agilidade, como é o caso do salto (Haywood & Getchell, 2005, cit. por Berk, 2012).

Este estudo pretende caracterizar e comparar a PM assim como o desenvolvimento da MG e da MF, de acordo com o género, nas crianças do 1º ano do 1º CEB. É esperada a observação da MF, como a mais desenvolvida, devido às exigentes expetativas colocadas nas crianças para que se tornem bem-sucedidas academicamente.

METODOLOGIA

Amostra

A amostra é constituída por 72 crianças, 34 rapazes (47,2%) e 38 raparigas (52,8%), com idades compreendidas entre os 5 e os 7 anos (78,31meses ± 3,45), do 1º Ano do 1º CEB.

Instrumentos e Procedimentos

Foi utilizado o Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky-2, na sua forma reduzida (TPMBO-2 FR), para avaliar a PM, assim como a MG e MF. A Forma Reduzida (FR) do TPMBO-2, é utilizada para avaliação da PM e para despiste rápido, possuindo apenas 12 itens, que integram 8 subtestes, retirados da Forma Completa do TPMBO-2 (Bruininks & Bruininks, 2010). A PM foi subdividida em duas categorias: (i) - MF, constituída pelos subtestes: Precisão Motora Fina; Integração Motora Fina e Destreza Manual; (ii) – e MG constituída pelos subtestes: Coordenação Bilateral; Equilíbrio; Velocidade e Agilidade; Coordenação dos Membros Superiores e Força.

O TPMBO-2 FR é vantajoso devido à sua aplicação individual, rápida com uma duração de 15 a 20 minutos, e resultados adaptados a indivíduos entre os 4 e os 21 anos de

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13 idade (Cools, Martelaer, Samaey & Andries, 2009). Cada item do teste é pontuado de acordo com o desempenho da criança, no final são somados os pontos dos 12 itens, obtendo-se o Total Point Score. Tendo em conta o género e a idade em meses, da criança, o Total Point Score é convertido, através de uma tabela, em Standard Score, posteriormente traduzindo-se em categoria descritiva (Bruininks & Bruininks, 2010).

A recolha dos dados foi realizada no ano letivo 2014/2015, em duas escolas do 1º CEB, através da entrega de uma autorização assinada pelos Encarregados de Educação e pela aplicação do TPMBO-2 FR às crianças.

Análise estatística

Inicialmente foi efetuada a estatística descritiva através das medidas de tendência central e de dispersão (média e desvio padrão) para as variáveis medidas em escalas contínuas, e as frequências e percentagens para as variáveis medidas em escalas ordinais e nominais. Para comparar os resultados da MG e MF, em função do género, foi aplicado o teste t de Student.

Foi utilizado, para este efeito, o programa estatístico Statistical Package for Social

Sciences (SPSS, Versão 20.0) para Windows.

RESULTADOS

Análise descritiva

Através da análise da tabela 1, podemos verificar quanto à PM, em termos gerais, que a maior parte das crianças se encontra bem qualificada. Sendo que a maioria das crianças se encontra na categoria média (65,3%), as restantes 1,4% das crianças encontram-se na categoria muito abaixo da média, 2,8% na categoria abaixo da média, 18,1% na categoria acima da média e 12,5% na categoria muito acima da média. Apenas uma rapariga obteve classificação muito abaixo da média. No entanto, os rapazes mostraram-se claramente superiores na categoria muito acima da média com resultados de 17,6%, versus 7,9% das raparigas. No entanto na categoria média, as raparigas superam os rapazes com 71,1%, versus 58,8%.

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14

Tabela 1 - Caracterização da Proficiência Motora

Categoria Descritiva Frequência Total % Frequência Masculino (n=34) % Frequência Feminino (n=38) % Muito Abaixo da Média 1 1,4 0 0 1 2,6 Abaixo da Média 2 2,8 2 5,9 0 0 Média 47 65,3 20 58,8 27 71,1 Acima da Média 13 18,1 6 17,6 7 18,4 Muito Acima da Média 9 12,5 6 17,6 3 7,9 Análise comparativa

Ao analisar a tabela 2 verificamos que as crianças obtiveram resultados inferiores na MG (59,01%) relativamente à MF (68,22%). Não se verificaram diferenças significativas entre géneros, contudo as raparigas obtiveram melhores resultados na MF com 70,51% versus os rapazes com uma média de resultados de 65,67%, quanto à MG obtiveram-se resultados contrários com os rapazes a superarem as raparigas, com 60,51% versus 57,66%, respetivamente. Verifica-se a existência de diferenças significativas, entre rapazes e raparigas, quanto à coordenação bilateral, (p=0,050), sendo as raparigas significativamente superiores aos rapazes. Verificam-se também diferenças estatisticamente significativas, na coordenação dos membros superiores (p=0,003), neste caso, os rapazes demonstram-se superiores às raparigas.

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15

Tabela 2 – Comparação dos resultados dos subtestes do TPMBO-2 FR, e da motricidade global e fina, em percentagem (média ± DP), de acordo com o género

Masculino ± DP (n=34) Feminino± DP (n=38) Geral ± DP (n=72) p Motricidade Fina 65,67% ± 13,36 70,51% ± 10,76 68,22% ± 12,22 0,093 Precisão Motora Fina 76,47% ± 17,56 82,11% ± 14,73 0,143 Integração Motora Fina 82,62% ± 23,19 87,32% ± 18,85 0,347 Destreza Manual 37,91% ± 11,96 42,11% ± 10,70 0,121 Motricidade Global 60,51% ± 9,38 57,66% ± 9,11 59,01% ± 9,28 0,196 Coordenação Bilateral 85,71% ±15,73 92,11% ± 11,36 0,050* Equilíbrio 91,18% ± 21,22 94,74% ± 19,42 0,460 Velocidade e Agilidade 24,12% ± 9,25 21,58% ± 10,01 0,269 Coordenação dos Membros Superiores 48,28% ± 25,02 32,24% ± 19,49 0,003** Força 53,27% ± 15,66 47,66% ± 15,69 0,134 Nota: * p 0,05 **p ≤ 0,01 DISCUSSÃO

Em termos de PM constatamos que a maior parte das crianças (65,3%) se encontra dentro da categoria descritiva média, tal como já havia sido observado no estudo de Gentier et al., (2013), assim como o de Marmeleira e Abreu, (2007), onde as crianças não ciganas obtiveram uma PM de 53,53 pontos, inserida na categoria média. Também no estudo de Rosa Neto et al., (2010), 73,3% das crianças se encontra no índice de desenvolvimento motor normal médio.

As raparigas destacam-se na classificação média e os rapazes na classificação muito acima da média. Este resultado foi também obtido no estudo de Hume et al., (2008), onde os rapazes se apresentaram mais competentes que as raparigas, atingindo níveis de domínio completo, ou quase completo das habilidades motoras. O estudo de Souza, Spessato e Valentini, (2014), defende que na maioria dos estudos não se identificam

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16 diferenças entre géneros quanto à PM, contudo parece haver uma predominância de melhores resultados nos rapazes, nos casos em que são identificadas diferenças.

Segundo Gallahue e Ozmun, (2005), seria esperado que a MG estivesse mais desenvolvida que a MF tendo em conta que a realização de movimentos mais refinados, tem por base a aquisição total dos movimentos globais. No entanto, tal como esperado no nosso estudo, foi possível verificar que a MF se encontra mais desenvolvida que a MG. Este resultado já havia sido obtido nos estudos de Almeida, (2009), e de Melo e Pereira, (2006), referidos anteriormente. Pensamos que este resultado pode dever-se ao tipo de experiências vivenciadas na pré-escola, onde cada vez mais o intuito é preparar as crianças para a alfabetização e a entrada para o 1º CEB, aumentando assim as atividades recorrentes à MF como por exemplo o desenho e o recorte, e descurando as atividades que desenvolvem a MG (Saraiva, Rodrigues, Cordovil & Barreiros, 2013).

Tendo em conta o género, e à semelhança dos resultados do estudo de Almeida, (2009), as raparigas apresentaram melhores resultados nas tarefas de MF, enquanto os rapazes foram melhores na MG, embora sem significância estatística. Foi observada superioridade significativa das raparigas comparativamente aos rapazes nas tarefas de coordenação bilateral. Porém, os rapazes foram significativamente superiores às raparigas, nas tarefas de coordenação dos membros superiores. Na opinião de Düger, Bumin, Uyanik, Aki, e Kayihan, (1999), as diferenças entre géneros nas habilidades motoras aumentam com o avançar da idade, pelo que será de esperar que as diferenças entre MG e MF se tornem significativas, assim como nas tarefas que integram o teste. O acentuar das diferenças está relacionado com as expetativas mais elevadas que se têm dos rapazes, e a uma maior estimulação e empenho à prática de desporto. Pelo contrário, as raparigas são mais estimuladas para brincadeiras mais sedentárias que implicam o desenvolvimento da MF. As diferentes expetativas e oportunidades de prática acentuam as diferenças genéticas com o decorrer da idade (Düger, et al., 1999; Carvalhal & Vasconcelos-Raposo, 2007; Berk, 2012). Quanto aos resultados dos subtestes, relativamente à MG, o nosso estudo corrobora o estudo de Miyabayashi, e Pimentel, (2011), onde as raparigas obtiveram melhores resultados na coordenação bilateral e equilíbrio, e os rapazes se destacaram na velocidade e agilidade, e força. As diferenças observadas são resultado das brincadeiras a que cada género está mais propenso. Os rapazes são em geral mais ativos no recreio que as raparigas, preferindo atividades mais dinâmicas, como os jogos de luta e de perseguição, que utilizam a corrida, e a manipulação de bolas, enquanto elas optam por atividades como

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17 o saltar à corda, dançar, e jogar à macaca (Carvalhal & Vasconcelos-Raposo, 2007; Miyabayashi & Pimentel, 2011; Pereira, V., et al., 2013).

CONCLUSÃO

O presente estudo concluiu que a maioria das crianças apresenta uma proficiência motora dentro da média. Embora não tenham sido observadas diferenças significativas, foram obtidos melhores resultados na motricidade fina em ambos os géneros. As raparigas foram superiores aos rapazes na motricidade fina enquanto os rapazes superaram as raparigas na motricidade global.

Os resultados observados poderão ser uma consequência das práticas pré-escolares vivenciadas pelas crianças, centradas nas atividades da aprendizagem do desenho e da escrita, em detrimento dos jogos e das brincadeiras, essenciais para o desenvolvimento multilateral da criança.

É necessário apostar, enquanto educadores, técnicos e cuidadores, na promoção de atividades que estimulem o crescimento e o desenvolvimento da criança nas suas múltiplas dimensões.

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21

3. Estudo 2 - VARIÁVEIS PREDITORAS DA MOTRICIDADE

GLOBAL E DA MOTRICIDADE FINA DE CRIANÇAS DO 1º CEB

Andreia Silva1, Isabel Mourão Carvalhal1

1 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, CIDESD, Vila Real, Portugal

RESUMO

O contexto socioeconómico e educacional são fatores que podem influenciar a proficiência motora (PM) das crianças. Assim sendo, este estudo pretende verificar a sua influência na motricidade global (MG) e na motricidade fina (MF), em 72 crianças do 1º ano do 1º Ciclo do Ensino Básico (CEB). Foram recolhidos, através de questionário, dados sobre o contexto socioeconómico e educacional da criança, e aplicado o Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky-2 Forma Reduzida para avaliar a MG e a MF. Os resultados demonstram que 10,7% da variância da MF é explicada pelas habilitações literárias e profissão da mãe (p=0,008), porém nenhuma variável individualmente apresentou valor preditivo. Relativamente à MG não se verificou qualquer associação significativa com as variáveis do contexto socioeconómico e educacional. Concluindo, o estatuto socioeconómico da mãe influencia de forma positiva o desempenho da MF, fundamental no desenvolvimento e aprendizagem das competências académicas escolares.

PALAVRAS-CHAVE

Proficiência motora; motricidade global; motricidade fina; crianças ABSTRACT

Socio-economic and educational context are factors that may influence the children’s motor proficiency (MP). So this study aims to determine their influence on gross motor (GMS) and fine motor (FMS) skills, on 72 children in the 1st year of the 1st Cycle of Basic Education. Socio-economic and educational context data of the child, was collected, through a questionnaire, and was applied the Bruininks-Oseretsky Test of Motor Proficiency-2, Brief Form to assess GMS and FMS. The results shows that 10,7% of the FMS variance is explained by the mother’s highest level of education and the mother's occupation (p=0,008), although no variable individually presented a predictive value. There was no significant association with GMS and socio-economic and educational context variables. In conclusion, the mother’s socio-economic status influences positively the performance of FMS, crucial in the development and learning of educational academic skills.

KEYWORDS

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22 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da criança é um processo dinâmico fruto da interação entre fatores de ordem genética e do ambiente. O comportamento motor emerge da interação dinâmica entre os constrangimentos de ordem individual (estruturais e funcionais) e do ambiente (físico e sociocultural) e da tarefa (objetivos, regras e equipamentos) (1).

A motricidade global (MG) é fundamental para a execução das habilidades motoras básicas(2). Esta corresponde a movimentos coordenados por grandes grupos musculares, na realização de uma tarefa com um objetivo definido. A motricidade fina (MF) diz respeito a movimentos mais complexos e minuciosos de destreza e precisão, controlados por pequenos músculos - como a escrita(3).O desenvolvimento e a aprendizagem das tarefas de MG e MF são fundamentais para o quotidiano das crianças, quer para as suas atividades da vida diária, como também para interagir com o meio e com o outro(4-6).

As affordances fornecidas às crianças pelos vários contextos educacionais, independentemente do tipo de cuidado, são importantes e uma boa forma de estimular e de favorecer um bom desenvolvimento ao longo do tempo(7). Com a frequência da pré-escola entre os 4 e 6 anos de idade(8) e à medida que as crianças se aproximam da entrada para a escola, as atividades vivenciadas são as que predominantemente desenvolvem a MF como o desenho e o recorte(4,9), promovendo um melhor desenvolvimento de uma motricidade em detrimento da outra(10). Atividades sedentárias predominantes no contexto pré-escolar, como ler, pintar, recortar implicam uma perda de oportunidades para o desenvolvimento motor mais global(9,11). O maior tempo e frequência dedicada a este tipo de atividades revela a importância e a prioridade que os educadores e os pais dão à preparação das crianças para o nível de escolaridade seguinte.

São vários os resultados de estudos, independentemente dos instrumentos utilizados, que comprovam melhores resultados na MF comparativamente à MG (12,13), através da aplicação da Bateria Psicomotora de Vítor da Fonseca (1995), e o de Saraiva, Rodrigues, Barreiros(14) quando aplicou a versão portuguesa da Peabody Developmental Motor

Scales-2, verificou a classificação máxima na preensão fina por parte da maioria das crianças de 5

anos.

O estatuto socioeconómico pode potenciar, ou não, o desenvolvimento da criança. Os baixos rendimentos dos pais estão associados a um desenvolvimento com maiores constrangimentos, seja pela frequência de creches públicas, falta de estimulação e pelo possível acompanhamento inadequado dos educadores(15). Devido ao acompanhamento da criança ao longo da sua vida e à sua proximidade, os pais são os principais potenciadores

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23 na criação de oportunidades para o desenvolvimento motor da criança(16). As crianças cujos pais são mais habilitados a nível educacional mostram-se mais competentes no seu desempenho motor(11). O estudo de Chiarentin, Cadore, Sachetti, Oliveira e Schiavinato(17), observou que o maior rendimento familiar possibilita uma maior predisposição para a aquisição de materiais estimulantes de ambas as motricidades. Enquanto no estudo de Nobre, Costa, Oliveira, Cabral, Nobre e Caçola(18) foi observado, independentemente do nível socioeconómico, um fraco acesso a material estimulador para ambas as motricidades, ainda assim as crianças apresentaram maior acesso a material potenciador da MF.

Neste âmbito, o objetivo deste estudo é verificar as variáveis preditoras da MG, da MF, e consequentemente da proficiência motora (PM), considerando o contexto socioeconómico e educacional das crianças do 1º ano do 1º Ciclo do Ensino Básico (1º CEB).

METODOLOGIA

Amostra

A amostra é constituída por 72 crianças, 34 rapazes (47,2%) e 38 raparigas (52,8%), entre os 5 e os 7 anos de idade (78,31meses ± 3,45), que se encontram no 1º ano do 1º CEB. Todos os participantes entregaram uma autorização assinada e um questionário preenchido para poderem participar no estudo.

Instrumentos e procedimentos

Foi aplicado um questionário, preenchido pelos encarregados de educação, de forma a obter dados demográficos (identificação), educacionais (frequência de cuidados anteriores ao pré-escolar: cuidados familiares; creche; ama; dois ou mais cuidados), socioeconómicos (habilitações literárias e profissão dos pais), e de estilo de vida (perceção dos pais quanto à atividade física realizada pela criança). As habilitações literárias e a profissão dos pais foram agrupadas em 3 categorias (9º ano; 12º ano; e Ensino Superior) e (escalão superior, médio e médio-baixo).

O Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky-2, na sua forma reduzida (2 FR), foi utilizado para avaliar a PM e consequentemente a MG e MF. A TPMBO-2 FR é constituída por 1TPMBO-2 itens, que integram os 8 subtestes tanto da FR como da Forma Completa do TPMBO-2(5). A PM foi subdividida em duas categorias: (i) - MF, constituída pelos subtestes: Precisão Motora Fina; Integração Motora Fina e Destreza Manual; (ii) – e MG constituída pelos subtestes: Coordenação Bilateral; Equilíbrio; Velocidade e Agilidade; Coordenação dos Membros Superiores e Força. O teste foi aplicado de forma individual,

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24 com uma duração de 15 a 20 minutos, e destina-se a crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 21 anos (5). A pontuação de cada item do teste varia de acordo com o desempenho, no final são somados os pontos dos 12 itens, obtendo-se o Total Point Score. Tendo em conta o género e a idade em meses, o Total Point Score é convertido, através de uma tabela, em Standard Score, posteriormente traduzindo-se em categoria descritiva(5). Para obter os valores de MG e MF foi realizada a média de cada subteste, e posteriormente somado os subtestes relativos a cada motricidade, referidos anteriormente.

A recolha dos dados foi realizada no ano letivo 2014/2015, em duas Escolas do 1º CEB.

Análise estatística

Inicialmente foi efetuada a estatística descritiva através das medidas de tendência central e de dispersão (média e desvio padrão) para as variáveis medidas em escalas contínuas, e as frequências e percentagens para as variáveis medidas em escalas ordinais e nominais. Para verificar a associação entre variáveis foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson e o modelo de regressão linear para determinar as variáveis preditoras da MG e da MF.

Foi utilizado, para este efeito, o programa estatístico Statistical Package for Social

Sciences (SPSS, Versão 20.0) para Windows.

RESULTADOS

Através da análise descritiva dos dados na tabela 1, verificamos que quanto ao

Standard Score a média obtida pelas crianças encontra-se na categoria descritiva média. O

desempenho da MF apresenta resultados superiores (68%±12,22) comparativamente com a MG (59%±9,28).

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Tabela 1 - Análise descritiva dos subtestes do TPMBO-2 FR e Motricidades

n Média Desvio Padrão Min-Máx Subtestes TPMBO-2 FR (Point Scores)

Precisão Motora Fina 72 7,94 1,63 4-10

Integração Motora Fina 72 9,36 2,31 0-11 Destreza Manual 72 3,61 1,03 2-6 Coordenação Bilateral 72 6,24 0,97 2-7 Equilíbrio 72 3,72 0,81 0-4 Velocidade e Agilidade 72 2,28 0,97 1-5 Coordenação dos Membros Superiores 72 4,78 2,82 1-12 Força 72 4,53 1,42 1-9 Motricidade (%) Motricidade Fina 72 68 12,22 27-89 Motricidade Global 72 59 9,28 22-78 Total Point Score --- 72 42,46 6,60 19-54 Standard Score --- 72 56,19 9,93 29-80

Os resultados das correlações entre as variáveis socioeconómicas e educacionais das crianças e a sua PM revelam correlações estatisticamente significativas entre a MF e as habilitações literárias da mãe (r=0,34; p=0,004), e negativa com a profissão da mãe (r= - 0,34; p=0,004). No que diz respeito à associação entre a MG e as variáveis independentes não se registou qualquer associação. Relativamente à precisão motora fina apenas as habilitações literárias da mãe apresentaram uma correlação estatisticamente significativa e positiva (r= 0,30; p=0,01), enquanto o estilo de vida (r= - 0,25; p=0,03), a profissão da mãe (r= - 0,32; p=0,007) e os contextos educacionais anteriores ao pré-escolar (r= - 0,29;

p=0,01), se apresentaram associações significativas e negativas. Para a integração motora

fina verificou-se uma correlação estatisticamente significativa e positiva com as habilitações literárias da mãe (r= 0,26; p=0,03).

Os resultados do modelo de regressão linear para determinar as variáveis preditoras da MF são apresentados na tabela 2. Podemos observar que 10,7% da variância da MF é explicada pelas habilitações literárias da mãe e profissão da mãe (p=0,008). No subteste, precisão motora fina 15,7% da variância é explicada pelas variáveis estilo de vida,

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26 habilitações literárias da mãe, profissão da mãe e contexto educacional anterior ao pré-escolar (p=0,004), porém nenhuma das variáveis isoladamente apresenta valor preditivo. No subteste de integração motora fina 5,6% da variância do desempenho é explicado pelas habilitações literárias da mãe (p=0,03).

Tabela 2 - Regressões lineares relativas à MF, Precisão Motora Fina e Integração Motora Fina

Motricidade Fina Precisão Motora Fina Integração Motora Fina β p β p β p Habilitações Literárias da Mãe 0,20 0,23 0,12 0,45 0,26 0,03* Profissão da Mãe -0,19 0,24 -0,18 0,26 --- --- Estilo de Vida --- --- -0,19 0,08 --- --- Contexto Educacional anterior ao Pré-escolar --- --- -0,22 0,06 --- --- r2 10,7; p=0,008** r2 15,7; p=0,004** r2 5,6; p=0,03* Nota: * p 0,05 **p ≤ 0,01 DISCUSSÃO

Como era esperado a MF mostrou-se melhor desenvolvida que a MG corroborando assim os estudos referidos anteriormente(12,13). Este resultado pode ser justificado pelas reduzidas oportunidades de participação das crianças em jogos e outras atividades mais globais, quer na escola como em casa. O tempo despendido nas tarefas escolares, somado ao dedicado aos apoios(2), às atividades de enriquecimento curricular, desenvolvem principalmente a MF e reduz drasticamente a possibilidade de estas se envolverem em atividades que não sejam as escolares.

Este estudo tinha como objetivo determinar as variáveis preditoras da MG e da MF. Os resultados apontam no sentido de que as habilitações literárias e a profissão da mãe foram as variáveis que influenciaram a MF, explicando 10,7% da variância. As habilitações influenciam positivamente e a profissão influencia negativamente, ou seja, as crianças filhas de mães com habilitações mais elevadas apresentam resultados superiores na MF, enquanto as crianças cujas mães possuem profissões de escalão inferior obtém piores resultados na MF. O processo de aprendizagem depende dos cuidados maternais, através

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Tabela 2 - Regressões lineares relativas à MF, Precisão Motora Fina e Integração Motora  Fina
Tabela 1 - Caracterização da Proficiência Motora
Tabela  2  -  Variância  do  Standard  Score  de  acordo  com  o  tipo  de  Contexto  Educacional  anterior ao Pré-escolar   Contexto  Educacional  anterior ao  Pré-escolar  Standard Score

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