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Vinculação e estilos parentais: papel das competências sociais na ideação suicida de adolescentes

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Academic year: 2021

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i Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

VINCULAÇÃO E ESTILOS PARENTAIS: PAPEL DAS COMPETÊNCIAS SOCIAIS NA IDEAÇÃO SUICIDA DE ADOLESCENTES

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Filipa Manuela dos Santos Nunes

Orientação: Professora Doutora Catarina Pinheiro Mota

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

VINCULAÇÃO E ESTILOS PARENTAIS: PAPEL DAS COMPETÊNCIAS SOCIAIS NA IDEAÇÃO SUICIDA DE ADOLESCENTES

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Filipa Manuela dos Santos Nunes

Vila Real, 2014

Dissertação apresentada para a obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Educação e Psicologia, sob a orientação da professora Doutora Catarina Pinheiro Mota

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Agradecimentos

A realização do Mestrado em Psicologia Clínica estabeleceu um ápice de frenéticas aprendizagens que inevitavelmente concorreram para a minha formação académica e para o meu crescimento pessoal. O término desta etapa resulta não apenas de um esforço e dedicação individual, mas antes da contribuição indescritível de inúmeras pessoas que de modo direto ou indireto privaram comigo. Desta feita, não posso deixar de mencionar aqueles que me acompanharam ao longo de todo este percurso académico cuja singularidade me marcou tendo, portanto, contribuído para a concretização deste projeto pessoal.

Dedico, particularmente os mais verdadeiros e honrosos agradecimentos à Professora Doutora Catarina Pinheiro Mota, não apenas pela orientação exímia a nível científico, mas também por toda a disponibilidade, dedicação e apoio. Pela presença constante, pelos conhecimentos e saberes partilhados e pelas críticas construtivas que me ajudaram a crescer e a fazer mais e melhor. Pela exigência, rigor e persistência decretada que incitaram a procura de um maior conhecimento e competência.

À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro enquanto estabelecimento de ensino e ao corpo docente do Mestrado em Psicologia Clínica que contribuiu com os seus saberes para a minha formação e para a implementação de uma atuação pautada pela competência e rigor.

A todas as instituições de ensino que me acolheram, da melhor forma, facilitando o processo de recolha de dados e a todos os jovens e adolescentes pela sua disponibilidade e motivação para participar nesta investigação.

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À Dr.ª Marisa Borges pelo profissionalismo, pela sincera amizade e pela total disponibilidade que sempre revelou para comigo. Pela força, apoio e compreensão empática transmitidos nos momentos em que a fragilidade e o desgaste quiseram vencer.

A todos os meus amigos pelas experiencias únicas e indescritíveis, pelo carinho e compreensão incondicionais mesmo perante a minha ausência prolongada. À Felícia, ao André, ao Gil e à Tânia pelas experiências partilhadas e por terem contribuído para o meu crescimento enquanto Ser Humano.

À Raquel, Emmilie, Patrícia, Sara e Lina parceiras eternas desta jornada académica.

À Fátima companheira inicial deste percurso e à Filipa descoberta nesta reta final, pela troca de ideias, pelo carinho e pela motivação nos momentos de significativo desgaste. Acima de tudo pela amizade, pela energia e alegria que me contagiou, por terem sido o meu “porto seguro”. Unidas chegamos mais longe.

A toda a minha Família, por acreditarem sempre em mim e na minha competência e por todos os ensinamentos. Ressalto, particularmente, a minha gratidão ao meu pai pelo seu rigor e perfeccionismo; à minha mãe pelo seu amor e apoio incondicionais; à minha irmã Fátima pela sua inteligência e perspicácia; à minha irmã Carla pela sua jovialidade e inocência; à minha avó Maria pela sua “escola da vida” e ao meu avô Vitorino que esteja onde estiver foi quem mais me ensinou.

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ix Índice

Introdução ... 1

Estudo empírico I ... 5

Estilos parentais e ideação suicida em adolescentes: Efeito mediador da vinculação aos pais ... 5

Resumo ... 7

Abstract ... 8

Papel das relações primordiais no desenvolvimento infanto-juvenil ... 9

Papel da vinculação aos pais na associação entre os estilos parentais e a ideação suicida na adolescência ... 11 Objetivos e hipóteses ... 13 Método ... 14 Participantes ... 14 Instrumentos ... 14 Procedimento ... 17

Estratégias de análise de dados... 17

Resultados ... 19

Variância da vinculação aos pais, dos estilos parentais e da ideação suicida em função da idade, sexo e sintomatologia depressiva ... 21

Efeito do estilo parental democrático na ideação suicida: Papel mediador da vinculação aos pais ... 23

Discussão ... 26

Referências ... 34

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Papel protetor da vinculação aos pais e das competências sociais na ideação suicida de

adolescentes ... 39

Resumo ... 41

Abstract ... 42

Vinculação aos pais e competências sociais ... 43

Papel da vinculação aos pais e das competências sociais na ideação suicida dos adolescentes ... 45 Objetivos e hipóteses ... 47 Método ... 48 Participantes ... 48 Instrumentos ... 48 Procedimento ... 50

Estratégias de análise de dados... 51

Resultados ... 52

Variância da vinculação aos pais, das competências socais e da ideação suicida em função da idade e sexo dos participantes e idade das respetivas figuras parentais ... 53

Papel preditor da vinculação aos pais e das competências sociais na ideação suicida ... 56

Discussão ... 57

Referências ... 67

Referências gerais ... 77

ÍNDICE DE TABELAS E FIGURAS ... 79

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1 Introdução

De acordo com uma perspetiva ecológica, a família constitui uma fonte de socialização primária assumindo um papel relevante na transmissão de componentes afetivas e no desenvolvimento psicossocial da criança e do adolescente (Rockhill, Stoep, McCauley, & Katon, 2009). Um ponto de vista mais holístico permite perceber que a qualidade das relações primordiais estabelecidas com as figuras significativas de afeto podem constituir um meio de preparação, através do qual o indivíduo aprende a enfrentar desafios, assumir responsabilidades e compromissos, no sentido de concretizar projetos integrados no meio social (Bowlby, 1969). Isto porque, os vínculos significativos representam ligações exclusivas e singulares que permitem e incentivam a procura de apoio, conforto e segurança, ingredientes que podem concorrer para um funcionamento psicológico mais resiliente (Ainsworth, 1969).

Partindo dos pressupostos traçados pela teoria da vinculação, Baumrind (1991) defende que os estilos parentais, ao definir a natureza afetiva e relacional da díade pais-filhos, podem também contribuir significativamente para a trajetória desenvolvimental do adolescente. Para a autora, o estilo parental veicula a disponibilidade afetiva face à criança mediante a qualidade da atenção, o tom de voz empregue e as respostas emocionais evidenciadas pelos pais perante os seus filhos (Baumrind, 1996). Assim a qualidade dos laços emocionais desenvolvidos com as figuras cuidadoras e os estilos parentais implementados durante a infância e adolescência parecem constituir importantes fatores face ao desenvolvimento afetivo dos jovens (Baumrind, 1991; Bowlby, 1969), na medida em que contribuem para a aquisição de competências sociais e para uma gestão adaptativa dos conflitos internos (Brás & Cruz, 2008; Lizardi et al., 2011).

A qualidade da vinculação com as figuras cuidadoras e dos estilos parentais tem, também, vindo a ser apontadas enquanto fontes de aquisição de competências sociais, sugerindo-se que os jovens que mantêm vinculações seguras e uma interação democrática

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com as figuras parentais se revelam mais autónomos e reportam uma maior responsabilidade social e assertividade (e.g., Bennett & Hay, 2007; Faria, 2008). Cabe ressaltar que as competências sociais constituem comportamentos desenvolvidos numa situação interpessoal através da manifestação coerente de afetos, desejos, crenças e/ou atitudes (Elliott & Busse, 1991; Gresham, 1986). A sua aquisição congruente parece revelar-se importante, uma vez que a interação e a aceitação social estabelecem uma necessidade básica da espécie humana. Nesta medida, o estudo da dinâmica familiar e processos inerentes à vinculação e aos estilos parentais, revela-se pertinente na compreensão das competências sociais que possibilitam um conhecimento mais profundo das vivencias emocionais e riscos inerentes aos adolescentes.

Desta feita, são vários os autores que sugerem a adolescência enquanto uma etapa desenvolvimental pautada por períodos de reestruturação psíquica e de significativa instabilidade emocional que se pode associar a uma maior vulnerabilidade face ao risco (e.g., Macedo, 2010). É nesta perspetiva de labilidade e reorganização que Marcelli e Braconnier (1989) consideram que os adolescentes, face ao esgotamento de recursos, podem equacionar a ideação suicida como uma forma de “fuga” a um sofrimento insustentável. Segundo a literatura o comportamento suicida compreende três categorias distintas nomeadamente a ideação, a tentativa e o suicídio consumado, as quais se apresentam num continuum de severidade e heterogeneidade crescente (e.g., Araújo, Vieira, & Coutinho, 2010). Assim, a ideação suicida definindo-se pela presença de ideias e planos sobre o término da própria vida, como tentativa de alívio de uma angústia mediante o atentado ao próprio corpo, constitui um potencial precedente do suicídio consumado (e.g., Borges & Werlang, 2006).

Segundo os dados reportados pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2012), o suicídio constitui um grave problema de saúde pública atingindo cerca de um milhão de pessoas por ano, a nível mundial. Os relatórios mais recentes da Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS, 2014) sugerem que o número de suicídios em Portugal aumentou significativamente tendo praticamente duplicado do ano de 2000 para 2011 (9.6 por 100.000

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habitantes). A expressividade destes dados é preocupante mas agudiza-se, ainda mais pelo facto de os mesmos se encontrarem incompletos, visto o comportamento suicida constituir um fenómeno manifestamente subdeclarado em função do estigma político, religioso e sociocultural que lhe é associado. Desta feita, urge a necessidade da implementação de novos estudos que promovam um conhecimento mais próximo da realidade atual e a implementação de estratégias que visem a prevenção da ideação suicida.

Neste sentido, a presente dissertação encontra-se organizada em torno de duas investigações distintas, mas complementares, que versam a temática “Vinculação e estilos parentais: Papel das competências sociais na ideação suicida de adolescentes”. Objetiva analisar o papel das relações de vinculação, dos estilos parentais e das competências sociais no desenvolvimento de ideação suicida no período da adolescência. Assim sendo, o primeiro estudo pretende analisar o efeito dos estilos parentais na ideação suicida controlando o papel mediador da qualidade da vinculação aos pais. O segundo estudo, por sua vez, pretende testar o papel protetor das competências sociais e da vinculação aos pais na ideação suicida, sendo ainda controladas variáveis pessoais dos jovens como o sexo e a idade. Sob um ponto de vista prático visa-se, sobretudo fomentar um maior conhecimento acerca da vinculação e dos estilos parentais enquanto fontes de proteção face à ideação suicida dos adolescentes. Neste sentido, pretende-se possibilitar intervenções clínicas mais precoces, abrangentes e estruturadas que fomentem a profilaxia da psicopatologia infanto-juvenil mediante a sinalização prematura de fatores de risco ou problemas do desenvolvimento. De ressaltar, ainda, que o protocolo de avaliação que foi construído para a elaboração dos estudos empíricos se encontra em anexo (anexo 2).

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Estudo empírico I

Estilos parentais e ideação suicida em adolescentes: Efeito mediador da vinculação aos pais

Parenting styles and suicidal Ideation in adolescents: Mediational effect of attachment to parents

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7 Resumo

De acordo com a Organização Mundial de Saúde o suicídio atinge cerca de um milhão de pessoas por ano estabelecendo a segunda causa de morte na adolescência. Embora a natureza/dinâmica da relação entre pais e filhos sofra algumas alterações durante a adolescência, a qualidade da vinculação às figuras significativas, assim como, a adoção de estilos parentais democráticos, podem constituir fatores protetores para o adolescente em situações de maior vulnerabilidade face ao risco. O presente estudo procura analisar o papel dos estilos parentais no desenvolvimento de ideação suicida em adolescentes, bem como testar o papel mediador da vinculação aos pais na associação entre o estilo parental democrático e a ideação suicida. A amostra foi constituída por 604 indivíduos, com idades entre os 15 e os 18 anos de idade. Para a recolha dos dados, recorreu-se ao Styles & Dimensions Questionnaire: Short Version, Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe, Questionário de Ideação Suicida. Os resultados apontam para uma predição negativa dos estilos parentais democráticos face à ideação suicida, confirmando o papel mediador da vinculação aos pais na associação entre o estilo parental democrático e a ideação suicida. Os resultados serão analisados à luz da teoria da vinculação considerando a importância dos estilos parentais na compreensão dos processos inerentes à ideação suicida na adolescência.

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8 Abstract

According to the World Health Organization suicide affects about one million people a year establishing the second cause of death in adolescence. Although the nature / dynamics of the relationship between parents and children has modifications during adolescence, the quality of attachment to significant figures, as well as the adoption of democratic parenting styles, may be protective factors for adolescents in situations of higher vulnerability to risk. This study seeks to analyze the role of parenting styles in the development of suicidal ideation in adolescents as well as test the mediational role of attachment to parents in the association between democratic parenting style and suicidal ideation. The sample consisted of 604 individuals, aged between 15 and 18 years old. For data collection, we used the Styles & Dimensions Questionnaire: Short Version, Questionnaire Attachment to Father and Mother, Suicidal Ideation Questionnaire. The results suggested a negative prediction of democratic parenting style relatively to suicidal ideation, confirming the mediator role of attachment to parents in the association between democratic parenting style and suicidal ideation. The results will be analyzed according to the attachment theory considering the importance of parenting styles on understanding the processes involved in suicidal ideation in adolescence.

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Papel das relações primordiais no desenvolvimento infanto-juvenil

Descrita originalmente por Bowlby (1969), a vinculação consiste na habilidade intrínseca ao ser humano para criar e desenvolver vínculos afetivos intensos. O desenvolvimento de elos emocionais com as figuras significativas propicia uma progressiva maturação emocional, a partir da qual emerge um sentido interno de segurança pessoal que predispõe e capacita a criança para a exploração de si, dos outros e do mundo, num clima de segurança. Assim sendo, o laço emocional que se estabelece na díade cuidador-criança detém uma função de sobrevivência e proteção, de tal modo que a qualidade desse vínculo pode assumir uma certa preponderância ao nível do desenvolvimento físico e emocional da criança (Ainsworth, 1969; Bowlby, 1969).

Neste seguimento, Bowlby (1969) preconiza a existência de ligações seguras e inseguras, realçando que as mesmas podem predizer a qualidade das relações interpessoais desenvolvidas pelo indivíduo no decurso da sua vida. A evidência empírica sugere que uma criança que mantém uma ligação segura com as suas figuras de referência sente-se valorizada e compreendida em função dos cuidados que lhe são dedicados, evidenciando um desenvolvimento psicoafetivo mais equilibrado. Por sua vez, uma criança com uma ligação pautada pela ansiedade de separação e a inibição tende a avaliar o mundo como um local perigoso pela carência de proteção, conforto e apoio emocional, tornando-se mais vulnerável face ao risco (e.g., Meier, Carr, Currier, & Neimeyer, 2013; Wedekind et al., 2013).

Na conceção de Michiels, Grietens, Onghena, e Kuppens (2010) apesar de o desenvolvimento da criança ser pautado pela disposição para criar laços emocionais, a natureza e dinâmica de tais ligações afetivas depende do ambiente parental a que a criança se encontra exposta. Desta forma, Roelofs, Meesters, Huurne, Bamelis, e Muris (2006) acrescentam que a qualidade dos estilos parentais implementados na infância pode contribuir para o desenvolvimento emocional da criança, visto que, a construção/interiorização das primeiras representações, de si e dos outros, surge a partir das interações com os

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pais/cuidadores. Nesta perspetiva, torna-se importante salientar que os estilos parentais compreendem o reportório comportamental das figuras cuidadoras que é desenvolvido num ambiente emocional, incluindo simultaneamente, dimensões da relação diádica entre pais-filhos – tom de voz e linguagem corporal – e, também, as práticas parentais (Baumrind, 1991; 1996). Denote-se que estas últimas encerram estratégias específicas com o propósito de incentivar ou suprimir a execução de determinadas condutas por parte da criança. Contrariamente, o estilo parental utilizado veicula uma disposição afetiva face à criança que reflete o sentimento dos pais para com aos filhos. Desta forma, pode contribuir para a qualidade do laço emocional estabelecido na díade cuidadores-criança (Darling & Steinberg, 1993; Simões, 2011).

No decurso dos anos 60, Baumrind (1991) desenvolveu uma abordagem tipológica que integra três estilos parentais: o democrático que é definido como o mais equilibrado, e o autoritário e permissivo que caracterizam dois extremos de disfuncionalidade. De acordo com a autora, o estilo democrático caracteriza-se pela determinação de regras, a independência, a conformidade com a disciplina, o suporte emocional, a autonomia e a comunicação clara, enquanto que o estilo autoritário se define pela obediência, ordem, autoridade, ausência de comunicação e punição na interação parental. O estilo permissivo, por sua vez, é caracterizado pela tolerância excessiva, a indulgência e ausência de regras e punição, no qual as crianças são livres de tomarem as suas próprias decisões crescendo com a ausência de uma base segura de apoio e suporte que as direcione quando necessário (e.g., Baumrind, 1991; 1996).

Segundo diversas investigações, as crianças educadas dentro de um estilo democrático detêm maior capacidade para suportar vivências e sentimentos negativos (e.g., Morris, Silk, Steinberg, Myers, & Robinson, 2007; Silva, Morgado, & Maroco, 2012) enquanto que os filhos de pais autoritários e permissivos são mais vulneráveis ao desenvolvimento de certas condições clínicas como depressão, que se podem associar a condutas autodestrutivas (e.g.,

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Fotti, Katz, Affi, Candidate, & Cox, 2006; Lizardi et al., 2011). Importa, contudo, realçar que esta última situação não é linear, tornando-se mais frequente mediante a carência de afeto e a presença de um vínculo inseguro com as figuras significativas (Simões, 2011). Pelo exposto, depreende-se que o estudo dos processos inerentes à vinculação parental, assim como, aos estilos parentais pode ser relevante no que concerne à compreensão das condutas evidenciadas pelos adolescentes.

Papel da vinculação aos pais na associação entre os estilos parentais e a ideação suicida na adolescência

Na perspetiva de Fleming (2005), a adolescência constitui um período propício à aparição de determinadas atitudes irreverentes e ao questionamento dos modelos e paradigmas infantis (desidealização das figuras parentais) que são inevitáveis ao próprio crescimento. Macedo (2010) destaca, a propósito, que a fase inicial da adolescência é demarcada por alterações biológicas e ambientais perante as quais o indivíduo enfrenta uma certa instabilidade psíquica que o pode tornar mais vulnerável. Alguns adolescentes são capazes de enfrentar e superar os vários desafios e exigências desenvolvimentais, enquanto que outros evidenciam um esgotamento (burn-out) de recursos.

Na conceção de Macedo (2010) muitos adolescentes perante a ausência de recursos pessoais para gerir o sofrimento recorrem, muitas vezes, a condutas autodestrutivas, nomeadamente ideação suicida, como meio de suprimir a intensidade dos seus conflitos psíquicos. Denote-se que ideação suicida pode ser definida pelo polo de “menor severidade” do comportamento suicida por se caracterizar apenas pela presença de pensamentos, ideias e\ou desejos, dados a conhecer pela pessoa, quanto ao término da sua vida.

De acordo com Borges e Werlang (2006) é entre os 15 e os 19 anos de idade que a violência autodirigida se torna mais evidente constituindo, mesmo, a segunda causa de morte nesta faixa etária a nível mundial. Para Marcelli e Braconnier (1989) a ideação suicida, na

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adolescência surge não raras vezes, como uma forma de “fuga para a frente” no sentido de “escape”, mediante o atentado ao próprio corpo, de uma situação sentida como insuportável.

Segundo a evidência empírica os adolescentes mais jovens, do sexo feminino e com ligações inseguras no seio familiar evidenciam níveis mais elevados de ideação suicida (e.g., DiFilippo & Overholser, 2000). Os autores referem que a instabilidade patente na fase inicial da adolescência e as relações pautadas pela ansiedade de separação e inibição da individualidade acarretam maior vulnerabilidade face ao risco, podendo eventualmente despoletar uma desadaptação psicossocial que, por sua vez, aumenta o risco de patologia que se pode associar a ideações suicidas.

Nesta medida, salienta-se que a teoria da vinculação tem sido proposta como um quadro desenvolvimental para se compreender a associação das relações primordiais significativas com outras variáveis que possam produzir uma maior vulnerabilidade face ao risco de ideações suicidas (Adam, 1994). De acordo com Bowlby (1988) a segurança no seio das relações primordiais potencia o desenvolvimento de modelos internos dinâmicos em que o indivíduo constrói uma imagem positiva de si e dos outros. Por seu turno, os indivíduos que crescem no seio de vínculos inseguros vivenciam relações de desconfiança pautadas pela desvalorização pessoal, carência de afetos e punição, a partir das quais desenvolvem a conceção de si como não merecedor de amor e dos outros como pouco competentes e sensíveis para suprimir as suas necessidades. Face a isto, poderão autocompreender-se como menos competentes, evidenciando uma menor autoestima e uma regulação funcional deficiente, o que pode diminuir a sua capacidade de utilizar habilidades eficazes de gestão dos conflitos (e.g., Brás & Cruz, 2008; Gonçalves, Freitas, & Sequeira, 2011).

Apesar disto, DiFilippo e Overholser (2000) realçam que a convivência com alguns fatores de proteção pode direcionar o desenvolvimento do indivíduo para uma trajetória mais resiliente. Neste sentido, Jakobsen, Horwood, e Fergusson (2012) destacam que embora a natureza da relação entre pais e filhos seja redefinida na adolescência, a qualidade da ligação

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afetiva às figuras parentais nesse período constitui um importante fator protetor face às adversidades. De acordo com a evidência empírica, a aquisição de autonomia e o desenvolvimento da identidade pessoal, estabelecem tarefas específicas da adolescência, que se foram cumpridas mediante ligações seguras com os pais, propiciam um desenvolvimento psicoafetivo pautado pela ausência de problemas significativos (e.g., Doyle, Lawford, & Markiewicz, 2009). Desta forma e de encontro às lacunas encontradas na literatura, no que concerne à abordagem da ideação suicida em adolescentes, torna-se pertinente desenvolver novas investigações que possibilitem um conhecimento mais profundo desta problemática e, concomitantemente intervenções mais precoces.

Objetivos e hipóteses

O presente estudo tem como principal objetivo analisar o papel dos estilos parentais e da vinculação aos pais no desenvolvimento de ideação suicida em adolescentes. Desta forma pretende-se observar as associações entre estilos parentais, ideação suicida e qualidade da vinculação aos pais. Objetiva-se, igualmente, analisar as diferenças dos estilos parentais, da ideação suicida e da qualidade da vinculação aos pais em função das dimensões sociodemográficas da amostra, particularmente idade, sexo e sintomatologia depressiva. Por fim, pretende-se analisar em que medida a qualidade da vinculação aos pais pode exercer um efeito mediador na associação entre o estilo parental democrático e a ideação suicida.

Tomando em consideração a evidência empírica, aguarda-se que as dimensões dos estilos parentais, da vinculação aos pais e a ideação suicida se correlacionam significativamente. Espera-se, também, que os estilos parentais, a vinculação aos pais e a ideação suicida apresentem diferenças significativas face à idade e sexo. Aguarda-se, ainda, que os estilos parentais democráticos predigam negativamente a ideação suicida e os estilos autoritário e permissivo predigam positivamente a ideação suicida. Por último, espera-se que a vinculação

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aos pais exerça um papel mediador na associação entre o estilo parental democrático e a ideação suicida.

Método Participantes

No estudo participaram 604 adolescentes portugueses com idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos (M = 15.99, DP = 0.97), dos quais 274 (45.4%) são do sexo masculino e 330 (54.6%) são do sexo feminino. No que se refere ao ano de escolaridade, 224 (37.1%) adolescentes frequenta o 10º ano, 255 (42.2%) o 11º ano, 110 (18.2%) o 12º ano, enquanto 15 (2.5%) frequenta o 1º ano da licenciatura. Relativamente à idade das figuras parentais, os pais dos participantes apresentam idades compreendidas entre os 32 e os 71 anos (M = 45.69, DP = 5.34) enquanto as mães apresentam idades entre os 31 e os 60 anos (M = 43.59, DP = 5.25).

Instrumentos

Questionário sociodemográfico - Foi construído um questionário sociodemográfico que permitiu obter informações relativas à idade, sexo e escolaridade dos participantes e, ainda, recolher informação acerca da idade das figuras parentais.

O Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (QVPM) desenvolvido por Matos e Costa (2001) foi utilizado para a avaliar as representações da vinculação que os adolescentes têm face às figuras parentais. Este questionário na sua forma revista é composto por 30 questões distribuídas por três dimensões: a Qualidade do laço emocional (QLE, 10 itens) – “Tenho confiança que a minha relação com os meus pais se vai manter no tempo” –; a Ansiedade de separação (AS, 10 itens) – “É fundamental para mim que os meus pais concordem com aquilo que eu penso” –; e a Inibição da exploração e individualidade (IEI, 10 itens) – “Os meus pais estão sempre a interferir em assuntos que só têm a ver comigo”. Para

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cada item, existem seis opções de resposta realizadas para o pai e mãe separadamente, apresentadas numa escala tipo Likert que varia entre 1 (Discordo Totalmente) e 6 (Concordo Totalmente). A análise de consistência interna demonstrou valores de alpha de Cronbach de .83 para o pai e .77 para a mãe, relativamente à totalidade do instrumento. No que concerne às dimensões analisadas verificaram-se os valores de alpha: IEI = .79 / .79, QLE = .93 / .88, AS = .82 / .79, para o pai e mãe respetivamente. As análises fatoriais confirmatórias verificaram que o QVPM apresenta índices de ajustamento adequados para os modelos (SRMR = .07 / .05, CFI = .97 / .97, RMSEA = .07 / .07, χ2 (21) = 140.57, p = .001 / χ2 (24) = 90.04, p = .001) quer na sua versão para o pai e para a mãe respetivamente.

O Styles & Dimensions Questionnaire: Short Version (PSDQ) traduzido para a população portuguesa por Nunes e Mota (2013) a partir da versão original de Robinson, Mandleco, Olsen, e Hart (1996) foi utilizado com o objetivo de avaliar a perceção que os adolescentes apresentam perante os estilos parentais das figuras cuidadoras. Trata-se de uma escala de autorrelato composta por um total de 32 itens que estabelecem uma versão para a “Pai” e outra para o “Mãe” nas quais as respostas se apresentam numa escala tipo Likert que varia entre 1 (Nunca) e 5 (Sempre). Relativamente à organização do questionário, este apresenta-se segundo três dimensões, na medida em que avalia os estilos parentais propostos pelo modelo conceptual de Baumrind: democrático, autoritário e permissivo. O Estilo Democrático (ED) inclui 3 subescalas: apoio e afeto, regulação, e cedência de autonomia/participação democrática; o Estilo Autoritário (EA) inclui também 3 subescalas: coerção física, hostilidade verbal e punição; e o Estilo Permissivo (EP) é constituído apenas por uma subescala, a indulgência. Ainda que esta seja a organização basilar do instrumento, torna-se importante salientar que na presente amostra a análise das propriedades psicométricas do instrumento levaram à agregação das dimensões coerção física e punição numa só, pelo que sob o ponto de vista semântico e estrutural obtiveram-se índices de ajustamento mais adequados. Destaca-se, ainda, que através das análises confirmatórias de 1ª

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ordem, se constatou que a dimensão hostilidade verbal não se encontra ajustada face ao construto originalmente estabelecido pelo autor, pelo que, se optou por não analisar esta variável de forma a não enviesar os resultados.

Mediante estas alterações foram analisadas 3 dimensões do Estilo democrático, cada uma com 5 itens, sendo elas: Apoio e afeto “Os meus pais são sensíveis aos meus sentimentos e necessidades”; Regulação “Os meus pais realçam os motivos das regras que implementam”; e Cedência de autonomia e participação democrática “Os meus pais têm em conta os meus desejos antes de me pedirem que faça algo”. Relativamente ao Estilo Autoritário apenas foi analisada uma dimensão constituída por 8 itens, a Coerção física e punição “Os meus pais castigam-me fisicamente como forma de me disciplinar”, enquanto que no Estilo Permissivo foi analisada a dimensão da Indulgência que é constituída por 5 itens “Os meus pais cedem quando faço birra”. A análise de consistência interna demonstrou valores de alpha de Cronbach de .86 para o pai e .81 para a mãe relativamente à totalidade do instrumento. No que se refere à consistência interna de cada dimensão, registaram-se os seguintes valores de alpha Cronbach: ED apoio e afecto = .85 / .82, ED regulação = .82 / .77, ED cedência da autonomia e participação democrática = .84 / .81, EA coerção física e punição = .77 / .08, EP indulgência = .65/ .65, para o pai e para a mãe respetivamente. Por sua vez, as análises fatoriais confirmatórias apresentaram valores de ajustamento adequados (SRMR = .07 / .07, CFI = .95 / .92, RMSEA = .07 / .08, / χ2(80) = 308.29, p = .001, χ2 (79) = 384.37, p = .001 / χ2(80) = 308.29, p = .001) para o pai e para a mãe respetivamente.

O Questionário de Ideação Suicida (QIS) adaptado por Ferreira e Castella (1999) do Suicide Ideation Questionnaire, desenvolvido por Reynolds (1988) foi utilizado para avaliar a ocorrência de pensamentos suicidas dos adolescentes. Este instrumento é unidimensional constituído por 30 itens – “Pensei que seria melhor não estar vivo” –, cujas respostas são apresentadas numa escala tipo Likert que oscila entre 1 (Nunca) e 7 (Sempre). Os estudos psicométricos efetuados na presente amostra revelam um coeficiente de alfa de Cronbach de

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.97. As análises fatoriais confirmatórias apresentam índices de ajustamento adequados para os modelos (SRMR = .03, CFI = .95, RMSEA = .02, χ2 (35) = 445.22, p = .001).

Procedimento

A recolha de dados foi realizada de forma aleatória em diversas instituições de Ensino Secundário da região norte de Portugal. Cabe ressaltar que, em cada instituição, foi realizada uma reunião com os Diretores do Conselho Executivo, a quem foram solicitadas as devidas autorizações e clarificados diversos aspetos do estudo como a sua pertinência, estrutura e objetivos. Após a aceitação da proposta, os participantes consentiram a aplicação dos questionários, através da assinatura do Termo Consentimento Livre e Esclarecido. A recolha de dados decorreu em contexto de sala de aula, na presença do investigador responsável que de forma sucinta, realizou uma série de instruções standard onde foram explicitados os objetivos gerais do estudo, assim como, garantidos todos os pressupostos de voluntariedade, privacidade, anonimato e confidencialidade das informações prestadas. De modo a evitar enviesamentos nas respostas devido ao fator cansaço procedeu-se à inversão dos questionários de autorrelato no protocolo de avaliação. A recolha de dados foi realizada em Novembro e Dezembro de 2013, em 4 escolas secundárias nas turmas do 10º ao 12º ano, bem como de forma aleatória na população em geral da região norte do país. De realçar, ainda, que foi realizada uma reflexão falada com adolescentes entre os 15 e 18 anos de idade, que permitiu verificar que o protocolo de avaliação se encontrava percetível em termos formais e semânticos e que a sua aplicação requeria cerca de 45 minutos.

Estratégias de análise de dados

A presente investigação apresenta um cariz transversal dado que o conjunto de medições foi realizado num único momento do tempo não existindo, portanto, um seguimento temporal dos indivíduos. O método de estudo baseia-se, ainda, num paradigma

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18

ético e deontológico onde as questões de privacidade, confidencialidade e anonimato foram asseguradas (Freixo, 2011). O tratamento dos dados foi realizado com o programa estatístico SPSS – Statistical Package for Social Sciences –, na sua versão 20.0 para o sistema Windows.

No sentido de identificar e excluir missings e eventuais outliers realizou-se, de forma preliminar, uma limpeza da amostra. Para verificar se os dados da amostra seguiam os pressupostos de normalidade foram analisados os valores de skeweness (assimetria) e kurtosis (achatamento), procedendo-se, concomitantemente, à realização de uma série de análises estatísticas que fornecem informação acerca da distribuição dos dados: teste de Kolmogorov-Smirnov, os gráficos de Histogramas, Q-QPlots, Scatterplots e Boxplots (Maroco, 2007; Pallant, 2001). Os valores calculados confirmaram que a amostra em estudo cumpria os critérios de normalidade procedendo-se, neste sentido, a análises estatísticas mediante testes paramétricos. Na sequência dos objetivos propostos foram levadas a cabo análises de acordo com modelos de equações estruturais (SEM, recorrendo ao programa EQS 6.1.). Foi testada a estrutura original dos instrumentos utilizados, de acordo com os modelos teóricos propostos, através das Análises Confirmatórias de 1ª ordem. Foi, também realizado um conjunto de análises estatísticas nas quais foram considerados valores de significância de p < .05 para a interpretação dos dados. Destaca-se o recurso a análises correlacionais, médias e desvio padrão das variáveis em estudo, assim como a análises de variância multivariada. Testou-se, ainda, a presença de um efeito mediador da variável vinculação aos pais na associação entre as variáveis estilo parental democrático e ideação suicida, através do Teste de Sobel. O Teste de Sobel permite analisar a magnitude da predição da variável independente sobre a dependente, assim como, o contributo da variável mediadora na relação inicial. Por outras palavras, analisa o contributo da variável mediadora na relação existente entre as variáveis independente e dependente (Baron & Kenny, 1986).

(29)

19 Resultados

Com o objetivo de analisar as associações entre os estilos parentais, a ideação suicida e a qualidade da vinculação aos pais dos adolescentes, foram efetuadas análises correlacionais entre os vários instrumentos utilizados. Os resultados das análises de correlações inter-escalas e as respetivas médias e desvios-padrão, reportados na tabela 1, permitem constatar que existem correlações significativas entre as variáveis em estudo.

No que concerne à associação entre a ideação suicida e as dimensões da escala qualidade da vinculação aos pais os resultados indicam a existência de correlações negativas e significativas de magnitude moderada com a qualidade do laço emocional (r = - .31, p < .001) (r = -.25, p < .001) e uma correlação positiva e significativa de magnitude moderada com a inibição da exploração e individualidade (r = .26, p < .001) (r = .28, p < .001) face ao pai e à mãe respetivamente.

Relativamente à associação entre a ideação suicida e as dimensões dos estilos parentais, os resultados indicam a existência de correlações negativas e significativas, de magnitude entre fraca a moderada com o apoio e afeto, regulação e cedência de autonomia e participação democrática (r = -.09, até r = -.27) face ao pai e à mãe. A ideação suicida apresenta, ainda uma correlação significativa, no sentido positivo, de magnitude moderada com a coerção física e punição e a indulgência (r = .11, até r = .28) face ao pai e mãe.

No que respeita às associações entre as dimensões da qualidade da vinculação ao pai e as dimensões dos estilos parentais adotados pelo pai, os resultados apontam para a presença de associações significativas. A dimensão qualidade do laço emocional ao pai regista uma associação significativa, no sentido positivo e de magnitude entre moderada a elevada com o apoio e afeto, a regulação e a cedência de autonomia e participação democrática (r = .58, até r = .66) e no sentido negativo com magnitude fraca com a coerção física e punição (r = -.19, p < .001). Por sua vez, a dimensão ansiedade de separação ao pai

(30)

20

apresenta correlações significativas no sentido positivo e de magnitude entre fraca a moderada com o apoio e afeto, a regulação e a cedência de autonomia e participação democrática (r = .39, até r = . 47). Por último, a dimensão da inibição da exploração da individualidade ao pai apresenta uma correlação significativa, no sentido negativo e de magnitude entre fraca a moderada com o apoio e afeto, a regulação e com a cedência de autonomia e participação democrática (r = -.29, até r = -.46) e no sentido positivo com a coerção física e punição e indulgência (r = .28, até r = .49).

Relativamente às associações entre as dimensões da qualidade da vinculação à mãe e as dimensões dos estilos parentais adotados pela figura materna, os resultados apontam, também para a presença de associações significativas. A dimensão qualidade do laço emocional à mãe regista uma associação significativa no sentido positivo e de magnitude moderada com o apoio e afeto, a regulação e a cedência de autonomia e participação democrática (r = .46, até r = .65) e no sentido negativo e de magnitude fraca com a coerção física e punição e indulgência (r = -.12, até r = -.27). Por sua vez, a dimensão ansiedade de separação à mãe apresenta correlações significativas no sentido positivo e de magnitude entre fraca a moderada com o apoio e afeto, a regulação e a cedência de autonomia e participação democrática (r = .27, até r = .47). Por último, a dimensão da inibição da exploração da individualidade à mãe apresenta uma correlação significativa de magnitude entre fraca a moderada no sentido negativo com o apoio e afeto, a regulação e com a cedência de autonomia e participação democrática (r = -.24, até r = -.43) e no sentido positivo com a coerção física e punição e a indulgência (r = .30, até r = .52)

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21 Tabela 1.

Correlação entre variáveis, média e desvio-padrão (N=604)

* p < .05 ; ** p < .01

Variância da vinculação aos pais, dos estilos parentais e da ideação suicida em função da idade, sexo e sintomatologia depressiva

Com o objetivo de analisar as diferenças da qualidade da vinculação aos pais, estilos parentais e ideação suicida em função das dimensões sociodemográficas da amostra efetuaram-se análises de variância uni e multivariada (ANOVA e MANOVA).

No que respeita à idade foram estabelecidos dois grupos (dos 15 aos 16 anos; e dos 17 aos 18 anos) para se proceder às análises diferenciais, sendo que os resultados indicam a ausência de diferenças estatisticamente significativas da qualidade da vinculação ao pai F(3, 570) = .52, p = .840, ƞ2 = .23 e à mãe F(1, 580) = .56, p = .644, ƞ2 = .17. As análises

Variáveis 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Estilos parentais: Pai

1. Apoio e afeto - 2. Regulação .72** - 3. Cedência de autonomia e participação democrática .76 ** .67** -

4. Coerção física e punição -.18** -.07 -.26** -

5. Indulgência .02 .04 .04 .37** -

Estilos parentais: Mãe

6. Apoio e afeto .71** .58** .60** -.17** -.06 -

7. Regulação .51** .85** .54** -.10** -.01 .62** -

8. Cedência de autonomia e

participação democrática .54

** .53** .82** -.24** -.05 .75** .60** -

9. Coerção física e punição -.18** -.05 -.21** .81** .32** -.29** -.07 -.29** -

10. Indulgência -.04 .00 -.01 .36** .84** -.04 -.01 -.01 .42** - Vinculação ao Pai 11. Inibição da exploração e individualidade -.39 ** -.29** -.46 ** .49** .28** -.32** -.25** -.38** .47** .26** -

12. Qualidade do laço emocional .66** .58** .62** -.20** -.03

.47** .45** .48** -.21** -.11** -.35** - 13. Ansiedade de separação .47** .37 ** .39** .03 .04 .37** .29** .32** -.02 -.03 -.04 .65** - Vinculação à mãe 14. Inibição da exploração e individualidade -.38** -.28** -.41** .42** .28** -.35** -.25** -.43** .52** .30** .85** -.33** -04 -

15. Qualidade do laço emocional .52** .43** .48** -.20** -.12** .65** .46** .58** -.27** -.12** -.38** .62** .44 -.42** -

16. Ansiedade de separação .30** .20** .25** .03 -.01 .45** .27** .36** -.02 .01 .01 .27** .79** -.05 .58 * * - Ideação Suicida -.27** -.27** -.27** .23** .11** -.21** -.091* -.22** .28** .18** .26** -.31** -.06 .28** -.25** -.03 - M 3.51 3.38 3.39 1.63 2.01 3.82 3.55 3.53 1.71 2.15 2.94 5.21 3.98 5.41 4.11 5.41 1.80 DP 1.04 .97 .976 .59 .75 .92 .89 .90 .67 .79 .90 .92 .92 .67 .87 .67 1.05

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22

multivariadas apontam, também, para a ausência de diferenças estatisticamente significativas da idade face aos estilos parentais quer seja a nível do pai F(5, 567) = .87, p = .502, ƞ2 = .31

quer seja a nível da mãe F(5, 583) = 1.60, p = .157, ƞ2 = .56. Resultados similares foram

denotados relativamente à ideação suicida F(1, 591) = .15, p = .698, ƞ2 = .07.

Face à variável sexo, os resultados apontam para a ausência de diferenças estatisticamente significativas do sexo relativamente à qualidade da vinculação com a figura paterna F(3, 570) = 11.68, p = .054, ƞ2 = .99, e para a presença de diferenças estatisticamente

significativas com na qualidade da vinculação com a figura materna F(3, 580) = 10.94, p =.001,

ƞ2

= .99. A partir das análises univariadas foi possível verificar que esta diferenciação ocorre na escala da ansiedade de separação face à mãe F(1, 421) = 23.38, p = .001, η2 = .99, na qual o

sexo feminino evidencia níveis mais elevados comparativamente com o sexo masculino. As análises multivariadas apontam, também, para a presença de diferenças estatisticamente significativas do sexo face ao estilo parental do pai F(3, 570) = 11.68, p =

.001, η2 = .99 e da mãe F(5, 583) = 5.79, p = .001, η2 = .99. As análises univariadas, indicam

que as diferenças ocorrem nas escalas regulação F(1, 571) = 10.27, p = .002, η2 = .83, cedência

de autonomia e participação democrática F(1, 571) = 4.40, p = .036, η2 = .55, coerção física

e punição F(1, 571) = 17.31, p = .001, η2=.99 e indulgência F(1, 571) = 5.46, p = .020, η2 = .65

face ao pai, nas quais o sexo masculino evidencia uma perceção mais elevada de regulação, de cedência de autonomia e participação democrática, coerção física e punição e indulgência comparativamente com o sexo feminino. As análises univariadas permitem, igualmente observar diferenças nas escalas regulação F(1, 468) = 4.43, p = .036, η2 = .56 e coerção física e

punição F(1, 259) = 2.68, p = .014, η2 = .69 no que se refere à figura materna, sendo o sexo

masculino quem apresenta uma perceção mais elevada de regulação e coerção física e punição quando comparado com o sexo feminino (tabela 2).

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23

Relativamente às análises diferenciais da ideação suicida face à variável sexo, os resultados revelam a presença de diferenças estatisticamente significativas F(1, 591) = 10,51, p

= .001, η2 = .90, sendo o sexo feminino a evidenciar níveis mais elevados de ideação suicida comparativamente com o sexo masculino.

Tabela 2. Análise diferencial da vinculação aos pais, estilos parentais e ideação suicida em função do

sexo.

Sexo M±DP IC95% Direção das

diferenças Vinculação à mãe

Ansiedade de separação 1 – Feminino 2 – Masculino

4.28±.05 3.93±.05

[4.18, 4.37]

[3.82, 4.03] 1>2

Estilos parentais pai

Regulação 1 – Feminino 2 – Masculino 3.26±.06 3.52±.06 [3.15, 3.37] [3.41, 3.64] 1<2 Cedência de autonomia e participação democrática 1 – Feminino 2 – Masculino 3.32±.06 3.49±.06 [3.21, 3.43] [3.37, 3.61] 1<2 Coerção física e punição 1 – Feminino

2 – Masculino 1.53±.03 1.73±.04 [1.47, 1.60] [1.66, 1.80] 1<2 Indulgência 1 – Feminino 2 – Masculino 1.95±.04 2.10±.05 [1.86, 2.03] [2.00, 1.19] 1<2

Estilos parentais mãe

Regulação 1 – Feminino 2 – Masculino 3.48±.05 3.63±.06 [3.38, 3.58] [3.53, 3.74] 1<2 Coerção física e punição 1 – Feminino

2 – Masculino

1.66±.04 1.79±.04

[1.58, 1.72]

[1.71, 1.87] 1<2

Ideação suicida 1 – Feminino

2 – Masculino

1.93±.06 1.65±.06

[1.81, 2.04]

[1.53, 1.77] 1>2

Efeito do estilo parental democrático na ideação suicida: Papel mediador da vinculação aos pais

Os resultados permitem observar um efeito inicial negativo do estilo parental democrático no desenvolvimento da ideação suicida, destacando um valor significativo relativamente à figura paterna (β = -.29). A análise do papel mediador da vinculação aos pais foi realizada tendo em conta todas as dimensões que definem o estilo parental democrático (apoio e afeto, regulação, cedência de autonomia e participação democrática) como preditoras quer da vinculação aos pais (qualidade do laço emocional, ansiedade de separação e inibição da exploração e da individualidade), quer da ideação suicida.

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24

Foi calculado o efeito mediador da variável qualidade da vinculação aos pais com recurso ao Modelo de Equações Estruturais, especificamente ao teste de Sobel. Constatou-se que o estilo parental democrático da figura paterna prediz positivamente a vinculação ao pai (β = .79), assim como se observa um efeito negativo da vinculação ao pai na ideação suicida (β = -.31). Quando se introduz a variável mediadora da vinculação ao pai, no último passo do teste de Sobel, observa-se que o efeito direto inicial do estilo parental democrático da figura paterna sobre a ideação suicida (β = -.29) perde significância (β = -.01) denotando-se assim uma mediação total da vinculação ao pai (Sobel test z = -7.11, SE = .08 , p = .001, β = -.19 (Tabela 3). No que respeita aos índices de ajustamento do modelo final, estes encontram-se adequados (χ2(23) = 121.29, p = .001, Ratio = 5.27, CFI = .98, SRMR = .06,

RMSEA = .09 (Figura 1).

Tabela 3.

Passos do teste de Sobel do modelo de mediação

Passos do Teste de Sobel B SE β P

Estilo parental e vinculação da figura paterna

1º Passo – Estilo democrático – Ideação suicida -.27 .04 -.29 p<.001 2º Passo – Estilo democrático – Vinculação ao pai .73 .03 .79 p<.001 3º Passo – Vinculação ao pai – Ideação suicida -.29 .04 .31 p<.001 4º Passo – Estilos democrático – Vinculação ao pai –

Ideação suicida – Efeito de Mediação -.17 .08 -.19 p<.001

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Figura1. Modelo representativo do efeito mediador da vinculação ao pai na associação entre o estilo

democrático adotado pela figura paterna e a ideação suicida.

No que concerne à figura materna, a testagem do modelo verifica que inicialmente a variável de estilo parental democrático da figura materna assume um efeito negativo sobre a ideação suicida (β = -.23). Constatou-se ainda que ao estilo parental da figura materna prediz positivamente a vinculação à mãe (β = .79), assim como se observa um efeito negativo da vinculação à mãe na ideação suicida (β = -.24). Quando se introduz a variável vinculação à figura materna na equação final, constata-se que o efeito direto inicial do estilo democrático da mãe sobre a ideação suicida (β = -.23) perde a significância (β = -.17) denotando-se, tal como para o pai, uma mediação total (Sobel test z = -7.04, SE = .09, p = .001, β = -.17 (Tabela 4). Os índices de ajustamento encontram-se adequados (χ2(23)= 103.32,

p = .001, Ratio = 4.49, CFI = .98, SRMR = .06, RMSEA = .08) (Figura 2). 0 .87* 0 .93* 0.87* 0.93* 0.81* Vinculação ao pai Qualidade do laço emocional Ansiedade de separação Inibição da exploração da individualidade 0 .90* -0.44* 0 .55* 0.87* . 0 .95* 0 .92* Ideação Suicida -0.23* Ideação suicida 1 Ideação suicida 2 Ideação suicida 3 -.19* -.01 Efeito da mediação -.19* ?ESTE VALOR Efeito direto

(perdeu a significância testada)

(χ2(23) = 121.29, p = .001; CFI = .98, SRMR = .06, RMSEA = .09 Z = -7.11; SE = .08, p=.001, β= -.19 Estilo democrático Pai Apoio e afeto Regulação Cedência de autonomia e participação democrática 0.84* -0.23 * 0.92* 0.95* 0.93* 0.90* -0.44* 0.55*

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26 Tabela 4.

Passos do teste se Sobel para o modelo de mediação.

Figura 2. Modelo representativo do efeito mediador da vinculação à mãe na associação entre o estilo

democrático adotado pela figura materna e a ideação suicida.

Discussão

O presente estudo assumiu como principal objetivo testar o papel dos estilos parentais no desenvolvimento de ideação suicida em adolescentes, bem como analisar o papel mediador da vinculação aos pais na associação entre o estilo democrático e a ideação suicida. Os resultados alcançados apontaram que a qualidade do laço emocional aos pais se associa positivamente com o estilo democrático e negativamente com os estilos autoritário

Passos do Teste de Sobel B SE β P

Estilo democrático e vinculação da figura materna

1º Passo – Estilo democrático – Ideação suicida -.25 .05 -.23 p<.001 2º Passo – Estilo democrático – Vinculação à mãe .60 .03 .79 p<.001 3º Passo – Vinculação à mãe – Ideação suicida -.30 .05 ..24 p<.001 4º Passo – Estilo democrático – Vinculação à mãe

– Ideação suicida – Efeito de Mediação -.17 .09 .-.17 p<.001

Z = -7.04, SE = .09, p < .001, β = -.17 0.83* 0.91* 0.68* Vinculação à mãe Qualidade do laço emocional Ansiedade de separação Inibição da exploração da individualidade 0 .90* -0.44* 0 .55* 0.87* . 0 .95* 0 .92* Ideação Suicida -0.23* Ideação suicida 1 Ideação suicida 2 Ideação suicida 3 -.17* -.02 Efeito da mediação -.17* ?ESTE VALOR Efeito direto

(perdeu a significância testada)

(χ2(23) = 103.32, p = .001, CFI = .98, SRMR = .06, RMSEA = .08 z = -7.04, SE = .09, p < .001, β = -.17 Estilo democrático Mãe Apoio e afeto Regulação Cedência de autonomia e participação democrática 0.82* -0.20 * 0.92* 0.98* 0.93* 0.89* -0.51* 0.62*

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permissivo e a ideação suicida. Por sua vez, a ansiedade de separação face aos pais associa-se positivamente com o estilo democrático enquanto que a inibição da exploração da individualidade se associa negativamente com o estilo democrático e positivamente com a ideação suicida. Deste modo parece que adoção de condutas democráticas no seio familiar contribui para a qualidade do laço emocional estabelecido na tríade mãe-pai-adolescente, potenciando um desenvolvimento psicoafetivo mais equilibrado, através do qual o indivíduo evidencia uma menor propensão para a ideação suicida. Contrariamente, a adoção de condutas pautadas pela rigidez e punição e fraca responsividade afetiva parece associar-se ao estabelecimento de relações afetivas pautadas pela inibição da exploração e da individualidade fomentando um maior risco de ideação suicida.

As conclusões formuladas vão ao encontro da conceção Bowlby (1969) que compreende que os indivíduos que mantêm laços emocionais com as figuras parentais pautados pela rigidez e carência afetiva edificam um modelo dos outros como seres omnipotentes, o que se expressa na sua necessidade de aceitação e aprovação por parte dos mesmos. Assim, a frustração decorrente desta necessidade, a perceção de desvalorização pessoal e a instabilidade emocional característica da adolescência podem constituir fatores precipitantes para a ideação suicida mediante o seu contributo na auto-estima do indivíduo (Adam, 1994). Estes resultados validam assunções empíricas prévias que sugerem que o estilo democrático se associa positivamente com a qualidade da vinculação (e.g., Simões, 2011) e que filhos de pais autoritários e indulgentes revelam uma maior predisposição a ideação suicida (e.g., Iglesias & Romero, 2009). O estudo de Brás e Cruz (2008) sugere que a vinculação insegura se encontra associada ao desenvolvimento de ideação suicida.

Os resultados auferidos no presente estudo reportam ainda a ausência de diferenças significativas da idade na vinculação aos pais. Deste modo, sugere-se que a ligação afetiva estabelecida na díade pais-adolescente evidencia uma certa estabilidade ao longo da adolescência apesar da crescente importância que o grupo de pares assume para o indivíduo

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nesta fase da vida. De acordo com Fleming (2005) a estabilidade observada na vinculação aos pais pode ser explicada pelo facto de esta não ser redefinida nem reestruturada durante a adolescência, mas antes por se manifestar e expressar de uma forma distinta. Estes resultados corroboram a investigação longitudinal desenvolvida por Doyle et al. (2009) que apurou uma estabilidade consistente da vinculação aos pais ao longo de toda adolescência.

Relativamente aos estilos parentais verificou-se, igualmente a ausência de variabilidades significativas face à idade. Estes resultados são escassos na literatura, pelo que se considera que a homogeneidade das experiências tidas pelos adolescentes pode ter contribuído para uma perceção mais equitativa acerca dos estilos parentais. Segundo a literatura, os jovens na fase inicial da adolescência tendem a sentir um suporte e apoio afetivo mais consistente por parte das figuras parentais (e.g., Meeus, Iedema, Maassen, & Engels, 2005). Assim seria de esperar que o aumento da idade contribuísse para a perceção de menor apoio afetivo a nível parental. Porém, também é sabido que a adolescência é caracterizada por inúmeras aquisições, perante as quais o indivíduo vai desenvolvendo uma maior maturidade cognitiva e emocional e redefinindo a importância das relações com os pais e com os pares, (Marcelli & Braconnier, 1989). Apesar disto, Azevedo (2012) na sua investigação com uma amostra de 136 adolescentes, também, verificou que a perceção que os adolescentes têm face aos estilos parentais não varia em função da idade.

No que concerne à ideação suicida não foram observadas diferenças em função da idade. Tal como comentado anteriormente, julga-se que os dados encontrados, no presente estudo, podem ser explicados pela proximidade etária existente entre os grupos e, concomitante similaridade e partilha das exigências desenvolvimentais. Na perspetiva de Matos (2011) a adolescência é demarcada por significativas alterações biopsicossociais cuja intensidade vai diminuindo com a aquisição progressiva de autonomia e da identidade pessoal. Assim, para este autor a fase inicial da adolescência constitui um período de maior instabilidade psíquica que pode fomentar um desajustamento emocional e, assim, associar-se

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a condutas autodestrutivas. Deste modo, os resultados alcançados não são consistentes com a evidência empírica que sugere que os adolescentes mais jovens evidenciam índices superiores de ideação suicida (e.g., Machado & Oliveira, 2007).

Os resultados alcançados indicam, ainda, a presença de diferenças do sexo face à vinculação aos pais, sendo o sexo feminino a evidenciar níveis mais elevados de ansiedade de separação face à mãe comparativamente com o sexo masculino. Desta feita, sugere-se que o sexo feminino atribui grande importância às relações afetivas que no decurso da adolescência se caracterizam por inúmeras descontinuidades, facto que pode fomentar índices mais elevados de ansiedade de separação. Considera-se, também, que observação desta variabilidade apenas face à figura materna pode ser justificada pelo facto de a interação com o pai e a mãe apresentar características distintas. De acordo com a literatura, apesar da configuração familiar tradicional ter sofrido grandes alterações, determinando a redefinição dos papéis parentais, existe a tendência de se preferir uma figura principal na procura de segurança e conforto, na qual a mãe assume primazia (e.g., Monteiro, Veríssimo, Vaughn, Santos, & Fernandes, 2008). Conclusões similares são descritas no estudo de Matos e Costa (2006) que apurou numa amostra de 82 adolescentes que o sexo feminino denotava índices mais elevadas de ansiedade de separação do que o sexo masculino. A evidência empírica sugere, ainda, a ausência de diferenças estatisticamente significativas do sexo face à vinculação ao pai, pelo facto de a relação estabelecida na díade pai-filho se aproximar do companheirismo e interação lúdica mantida com o grupo de pares (e.g., Mayseless, 2005).

Tal como se aguardava verificaram-se, também, diferenças nos estilos parentais em função do sexo, nos quais o sexo masculino apresentou uma perceção mais elevada de regulação, coerção física e punição face ao pai e à mãe e de cedência de autonomia e participação democrática e indulgência face ao pai comparativamente com o sexo feminino. Desta forma, sugere-se que o sexo masculino perceciona um menor investimento parental quando comparado com o sexo feminino. De acordo com Muris, Meesters, Merckelbach, e

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Hülsenbeck (2000) na adolescência o sexo masculino tende a ser menos sensível ao estilo parental do que o sexo feminino, uma vez que este último detém um formato de socialização pautado, principalmente pelos aspetos da dinâmica relacional, o que poderá fomentar uma maior perceção dos estilos parentais. Alguns estudos, por sua vez, apuraram que o sexo masculino se mostra mais suscetível à influência parental e, assim, mais atento aos estilos parentais (e.g., Hutz & Bardagir, 2006) enquanto que outras investigações sugerem a ausência de diferenças significativas do sexo relativamente à perceção dos adolescentes face aos estilos parentais (e.g., Costa, Teixeira, & Gomes, 2000). Atendendo a esta controvérsia empírica, sugere-se que as vivências pessoais e interpessoais dos adolescentes contribuem de forma mais consistente para a perceção que os mesmos têm acerca dos estilos parentais do que propriamente as diferenças inerentes ao sexo.

Os resultados encontrados verificaram, também, diferenças na ideação suicida em função do sexo, nas quais o sexo feminino, comparativamente com o sexo masculino, evidencia maiores níveis de ideação suicida. Discutindo este resultado, julga-se que o sexo feminino evidencia uma estrutura psíquica mais vulnerável face ao risco evidenciando um menor leque de soluções cognitivas para enfrentar as dificuldades de forma positiva e adaptativa. Estas conclusões são consistentes com a perspetiva de Marcelli e Braconnier (1989) que apontam o sexo feminino como mais suscetível a desenvolver problemas de internalização e o sexo masculino como mais predisposto a desenvolver perturbações de externalização associadas a problemas de conduta e passagens ao ato. Para os autores uma vivência pautada pelo vazio afetivo, desvalorização pessoal, desesperança face ao futuro e por medos e angústias patológicas constitui um importante preditor de cognições sobre o término da própria vida. Conclusões similares são descritas em diversos estudos, nos quais o sexo feminino tende a manifestar mais ideação suicida, enquanto que o sexo masculino evidencia uma maior propensão para o suicídio consumado (e.g., Borges & Werlang, 2006).

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Por último, e de encontro aos objetivos propostos, os resultados sugerem a importância da adoção de estilos parentais democráticos, na medida em que, parecem facilitar o desenvolvimento da qualidade da vinculação com os pais. A vinculação aos pais constituindo um fator importante no desenvolvimento psicoafetivo do adolescente, confirmou no presente estudo, o seu papel mediador na associação entre o estilo parental democrático e o desenvolvimento de ideação suicida. Os resultados apontam para uma mediação total pelo que a predição dos estilos parentais face à ideação suicida é realizada através da vinculação aos pais. Estes resultados parecem fornecer uma importante evidência empírica, na medida em que os adolescentes que percecionam não ser educados dentro de um estilo parental democrático, mas que consideram manter uma relação segura com as figuras parentais, são capazes de ativar estratégias de resolução mais adaptativas não equacionando a ideação suicida. Desta forma, parece que o desenvolvimento de um sentido interno de segurança pessoal decorrente da qualidade do laço emocional com as figuras cuidadoras, possibilita uma representação interna mais positiva de si como merecedora de amor, conforto e apoio afetivo e dos outros como responsivos e capazes de lhe prestar auxílio, fomentando uma maior capacidade de adaptação face ao risco. Neste sentido, julga-se que a capacidade para desenvolver vínculos afetivos constitui um aspeto importante para o funcionamento psicológico e para a compreensão da ideação suicida que parece suceder da rutura indesejada dos laços emocionais.

As conclusões formuladas são consistentes com a teoria da vinculação que preconiza que a presença de uma base segura, percebida pelo adolescente, predispõem o indivíduo a solicitar auxílio de forma mais consistente não equacionando condutas desajustadas face às dificuldades (Bowlby, 1969). Por sua vez, Jakobsen et al. (2012) sugerem que o desenvolvimento de uma relação segura com os pais propicia sentimentos de valorização, aceitação, segurança e confiança que contribuem para uma adequada maturação emocional, integração social e autonomia pessoal. Esta questão parece ser consistente com os dados

Referências

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