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AULA DE

DIREITO CONSTITUCIONAL I

Profª Lúcia Luz Meyer

atualizado em 02.2010

PONTO 04 – HISTÓRICO D

O DIREITO CONSTITUCIONAL

Roteiro de Aula (09 fls)

SUMÁRIO:

4.1. As Constituições antigas. 4.2. A Constituição inglesa. 4.3. A Constituição norte-americana.

4.4. A influência da Constituição norte-americana. 4.4.1. Influência na Europa.

4.4.2. Influência na América Latina. 4.4.3. Influência no Brasil.

4.1. AS CONSTITUIÇÕES ANTIGAS:

Desde a Idade Antiga percebe-se que há leis tidas como “superiores”, que organizam o

próprio poder.

CELSO RIBEIRO BASTOS

(Curso de Direito Constitucional, São Paulo: Celso Bastos

Editora, 2002, pp 150-151– grifamos):

A origem do constitucionalismo remonta à antiguidade clássica. Segundo Karl Lowenstein o nascimento deste movimento se deu entre os hebreus, que em seu Estado Teocrático criaram limites ao poder político, através da imposição da ‘Lei do Senhor’. Esta, por sua vez, apesar de não ser escrita, fixava limites à atuação do Estado, impedindo assim que o poder fosse exercido de forma absoluta e arbitrária. Os limites eram aqueles fixados pela Bíblia, sendo que cabia aos profetas, dotados de legitimidade popular, acusar ao governante quando este ultrapassasse aqueles limites. Este fenômeno representa a primeira experiência constitucionalista de que se tem registro. Apenas no século V é que se vai encontrar os gregos com suas cidades-estados, que representavam o primeiro caso de democracia direta. (…).

Esta fase de constitucionalismo, denominada pelos doutrinadores de ‘constitucionalismo antigo’ foi brutalmente interrompida por um longo processo de absolutismo que substitui os regimes democráticos por governos despóticos que se encontravam, sem sombra de dúvidas, acima de qualquer diploma legal ou costume. (…).

Foi durante a Idade Média que o constitucionalismo apareceu como um movimento de conquista de liberdades individuais, não se restringindo apenas a impor limites à atuação soberana. (…).

A Inglaterra destacou-se nesse cenário como palco do surgimento dos primeiros diplomas constitucionais a despeito de sua tradição consuetudinária.

Nessa mesma esteira diz

ALEXANDRE DE MORAES

(Constituição do Brasil

Interpretada – e legislação constitucional, São Paulo: Atlas, 2002, p. 74) que:

No constitucionalismo antigo, o termo constituição, derivado da idéia de ‘estabelecer ou ordenar, ou a ordenação ou regulamentação assim estabelecida’, surgiu com um significado menos amplo do que o atual. Assim, no Império Romano, essa palavra latina significava os atos legislativos do

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tutelar os direitos individuais em relação aos arbítrios estatais. A Lei das XII Tábuas pode ser considerada a origem dos textos escritos consagradores da liberdade, da propriedade e da proteção aos direitos do cidadão. Posteriormente, no Direito Canônico, passou a significar o termo técnico das regulamentações eclesiásticas. A noção de constitucionalismo na Idade Média passou, de maneira mais aparente, a interligar-se com a idéia de limitação do poder estatal e proteção do indivíduo da atuação arbitrária das autoridades públicas.

ARISTÓTELES

, em “A Política”, já distinguia as leis ‘constitucionais’ de outras leis, as

‘comuns’.

Segundo

VICENTE RÁO

(O Direito e a vida dos Direitos, 4ª ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 8.1997, vol. I, p. 105):

Durante o período anterior às Ordenações Afonsinas, constituíam fontes jurídicas o direito romano representado pelo CORPUS JURIS CIVILIS, pela GLOSA e pelos comentários e tratados dos bartolistas, e o direito canônico representado pelas DECRETAIS de Gregório IX e pelas compilações posteriores. Mais tarde, as ORDENAÇÕES AFONSINAS (II, 9), as MANUELINAS (II, 5) e as

FILIPINAS (III, 64) mandaram recorrer às leis imperiais, isto é, ao direito romano, na falta da lei do

reino, costume ou estilo da corte, (…).

Pode-se fazer remissão a instrumentos de institucionalização política, (

MANOEL

GONÇALVES FERREIRA FILHO

, Curso de Direito Constitucional, 24ª ed. São Paulo:

Saraiva, 1997, pp. 4-5), tais como:

a) os PACTOS, comuns na Inglaterra, na Idade Média, “eram convenções entre os

monarcas e os súditos, concernentes ao modo de governo e às garantias de direitos

individuais”; o mais famoso Pacto foi a MAGNA CARTA, de 1215, entre o rei João

sem Terra e os barões feudais, sobre direitos a serem respeitados pela coroa,

apontada como a fonte formal histórica da idéia de que a Constituição é uma norma

que está acima das demais normas.

Tem-se também, a PETITION OF RIGHTS, de 1628, imposta pelos parlamentares

ao rei inglês Carlos I para respeitar hábitos, usos e costumes imemoriais seguidos

por todos os moradores da ilha.

b) os FORAIS,

ou

CARTAS DE FRANQUIA

, comuns por toda a Europa também

na Idade Média, assim como os Pactos, eram escritos sobre direitos individuais;

outorgadas.

c) os CONTRATOS DE COLONIZAÇÃO, típicos das colônias da América do

Norte, assemelhavam-se aos Pactos, mas já se aproximavam das idéias setecentistas

de Constituição.

Cita-se o COMPACT, firmado em 1620, a bordo do Mayflower, e as

FUNDAMENTAL ORDERS OF CONNECTICUT, de 1639. A organização de

governo é idealizada pelos próprios governados.

d) as LEIS FUNDAMENTAIS DO REINO, que se impõem ao próprio rei, de

origem francesa - “fonte da superioridade e da imutabilidade das regras

concernentes ao poder, que se empresta às Constituições escritas”.

(3)

Saraiva, 1994, p. 11) leciona que:

Na Península Ibérica vigeu, a partir de 506, o BREVIÁRIO DE ALARICO, todo ele estribado na legislação romana; e só após a separação de Portugal da Espanha é que são promulgadas, no novo reino, as ORDENAÇÕS AFONSINAS. Estas, depois substituídas pelas ORDENAÇÕES

MANOELINAS, vão dar lugar, um século mais tarde, em 1603 e estando Portugal sob o jugo

espanhol, às ORDENAÇÕES FILIPINAS. Como disse, estas constituíram manancial inexaurível, onde se abeberou o legislador pátrio.

Cita-se, ainda:

HOBBES

- “Leviatã”, século XVII;

JOHN LOCKE

- “Tratado do

Governo Civil”, séc. XVII;

JEAN JACQUES ROUSSEAU

- “Contrato Social”;

Barão de

MONTESQUIEU

- “Espírito das Leis” – liberalismo: ‘laissez faire, laissez passer’ – separação

dos Poderes / idéias contra o Absolutismo (l’Ancien Régime’).

Observa-se que, com a “Declaração dos Direitos do Homem”, de 1789, inicia-se o que se

denomina de Constitucionalismo.

Nas palavras de

RICARDO CUNHA CHIMENTI et alli

(Curso de Direito

Constitucional, São Paulo: Saraiva, 2004, p. 05):

Constitucionalismo é o movimento político e jurídico que visa estabelecer regimes constitucionais, ou seja, um sistema no qual o governo tem seus limites traçados em Constituições escritas. É a antítese do absolutismo, do despotismo, nos quais prevalece a vontade dos governantes.

4.2. A CONSTITUIÇÃO INGLESA:

CELSO RIBEIRO BASTOS

(2002:150-151), a respeito da “Consttuição inglesa“, diz

que:

O direito constitucional britânico formou-se por meio de um processo lento e gradual de estruturação das instituições constitucionais o que acabou por gerar o aparecimento de uma monarquia constitucional. (…).

Na realidade, pode-se afirmar que a fonte imediata do poder é a Carta Constitucional, mas a fonte mediata apresenta-se como o povo. Em razão do desenvolvimento lento e gradual do direito constitucional inglês este compôs um modelo político-jurídico singular em sua época, uma vez que contemplava o poder real, a aristocracia e os comuns. Tratava-se, pois, de um sistema de governo misto.

Sob o ponto de vista da modernidade constitucional e para a liberdade contemporânea, o que mais importa são os documentos que começaram a surgir a partir do século XVII, sendo o primeiro deles a

Petição de 1628, que o Parlamento inglês enviou ao desastrado rei Carlos I (que seria mais tarde

decapitado durante a revolução puritana de 1649). Nessa petição, os cidadãos reclamam dos impostos ilegais, do aboletamento dos soldados em casas de gente boa e nas prisões sem justa causa. Dado o comportamento incorrigível de seus reis, os parlamentares ingleses tiveram que apresentar uma outra, a Bill of Rights, de 1689, que visava limitar ainda mais a autoridade real, bem como impedir que, dali em diante, o Parlamento fosse fechado a qualquer pretexto. Tais liberdades conquistadas pelos britânicos encantaram não apenas seus vizinhos franceses, como bem atestam os testemunhos de Montesquieu, de Voltaire, de Rousseau, como terminaram por inspirar os colonos ingleses da América a lutar pela conquista da sua independência.

A Constituição inglesa não é formalmente escrita. Suas normas são reconhecidas como

constitucionais pelo CONTEÚDO, pela matéria de que trata. Vigora na Inglaterra o Direito

Costumeiro. A prática tem que ter aceitação da sociedade por muito tempo. Então o Parlamento fará

a lei, pois não haverá opinião contrária por parte da sociedade. Instituto do Precedente – “Stare

(4)

Decisis”: aquilo que já se estabeleceu.

Leciona

JOSÉ AFONSO DA SILVA

(Curso de Direito Constitucional Positivo, 23ª ed.

São Paulo: Malheiros, 01.2004, p. 139-140) que:

Na Inglaterra, elaboraram-se cartas e estatutos assecuratórios de direitos fundamentais, como a

Magna Carta (1215-1225), a Petition of Rights (1628), o Habeas Corpus Amendment Act (1679)

e o Bill of Rights (1688). Não são, porém, declarações de direitos no sentido moderno, que só apareceram no século XVIII com as Revoluções americana e francesa. Tais textos, limitados e às vezes estamentais, no entanto, condicionaram a formação de regras consuetudinárias de mais ampla proteção dos direitos humanos fundamentais. Realmente a estabilidade e o sempre firme desenvolvimento das instituições inglesas bastaram para tornar ociosa uma lista maior de liberdades públicas. A constante afirmação do Parlamento inglês e dos precedentes judiciais, formando a

common law, fora suficiente, com aqueles documentos históricos, para assentar o mias firme respeito

pelos direitos fundamentais do homem.

Sobre os já citados e importantes ordenamentos observa-se ainda que:

a) a MAGNA CARTA, assinada em 1215, mas tornada definitiva apenas em 1225, é

considerada mais uma Carta Feudal para proteger os privilégios dos nobres e os

direitos de alguns poucos homens livres. Consubstanciou o esquema básico do

desenvolvimento constitucional inglês;

b) a PETITION OF RIGHTS (Petição de Direitos), de 1628, é uma petição feita

pelos membros do Parlamento ao rei, para reconhecimento de direitos e liberdades

dos súditos, que já estariam previstas na própria Magna Carta;

c) o HABEAS CORPUS ACT, reforça as reivindicações de liberdades, suprimindo

as prisões arbitrárias;

d) o BILL OF RIGHTS (Declaração de Direitos), que decorreu da Revolução de

1688, afirma a supremacia do Parlamento e faz surgir na Inglaterra a Monarquia

Constitucional, com os poderes do rei limitados por uma Declaração de Direitos,

submetida a uma soberania popular. Teve em John Locke seu principal teórico;

e) o ACT OF SETTLEMENT (Ato de Sucessão ao Trono), de 1707, é mais um

instrumento de limitação do poder monárquico.

4.3. A CONSTITUIÇÃO NORTE-AMERICANA:

Para

VICENTE RÁO

(1997:132):

O direito norte-americano, por sua origem histórica e por motivos de ordem étnica, filia-se ao direito inglês, do qual, na substância e na forma, é um desenvolvimento adaptado às condições peculiares do povo norte-americano. Excetua-se, entretanto, o direito público, que, nos dois países, difere essencialmente. Nos Estados Unidos, a organização política e constitucional exerce acentuada influência sobre o direito privado, em conseqüência da adoção do regime de constituição escrita e da resultante superioridade hierárquica das disposições constitucionais sobre todas as demais normas obrigatórias, escritas ou não escritas.

(5)

consubstanciava a base dos direitos do homem e visava principalmente um governo democrático e

um sistema de limitação de poderes. Diz ele que

A primeira declaração de direitos fundamentais, em sentido moderno, foi a Declaração de Direitos

do Bom Povo de Virgínia, que era uma das treze colônias inglesas na América. Essa declaração é de

12.1.1776, anterior, portanto, à Declaração de independência dos EUA. Ambas, contudo, inspiradas nas teorias de Locke, Rousseau e Montesquieu, versadas especialmente nos escritos de Jefferson e Adams, e postas em prática por James Madison, George Mason e tantos outros.

Mais adiante, assevera ainda

JOSÉ AFONSO DA SILVA

(2004:142-143) que:

A Constituição dos EUA aprovada na Convenção de Filadélfia, em 17.9.1787, não continha inicialmente uma declaração dos direitos fundamentais do homem. Sua entrada em vigor, contudo, dependia da ratificação de pelo menos nove dos treze Estados independentes, ex-colônias inglesas na América, com que, então, tais Estados soberanos se uniriam num Estado Federal, passando a simples Estados-membros deste. Alguns entretanto, somente concordaram em aderir a esse pacto se se introduzisse na Constituição uma Carta de Direitos, em que se garantissem os direitos fundamentais do homem. Isso foi feito, segundo enunciados elaborados por Thomas Jefferson e James Madison, dando origem às dez primeiras Emendas à Constituição de Filadélfia, aprovadas em 1791, às quais se acrescentaram outras até 1975, que constituem o Bill of Rights do povo americano, (…).

Valiosas as palavras do já citado

VICENTE RÁO

(1997:53) quando afirma que:

A primeira proclamação institucional dos direitos fundamentais do homem, e, pois, dos princípios acima indicados, que poderosamente influiu na organização política dos Estados democráticos, encontra-se nas disposições da Constituição dos Estados Unidos da América do Norte, de 1787, e, em particular, nas emendas nº I a X e emendas XIII, XIV e XIX. A seguir, como documento histórico de repercussão ainda maior, pois resultou, não de um movimento nacional de independência, mas de uma revolução política que abalou o mundo, destaca-se a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, adotada pela Assembléia Nacional Constituinte, em França, a 26 de agosto de 1789 e, depois, incluída, com certas alterações, ou adotada, no texto das Constituições Republicanas deste País.

4.4. A INFLUÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO NORTE-AMERICANA:

CLÁUDIA MARIA TOLEDO SILVEIRA

em artigo intitulado “Cidadania” – p. 3

(TEXTO Nº 0015) observa que:

ROUSSEAU, ao mesmo tempo em que defende os direitos do indivíduo contra a opressão e a autoridade, prega a submissão do indivíduo à sociedade ou ao Estado, com rigorosa disciplina moral ou social. Acredita que o retorno do homem ao estado da natureza é uma possibilidade legítima. Apesar das divergências e mudanças sucessivas de concepções, a corrente jusnaturalista, neste período surgida, foi o que originou a idéia dos Direitos Individuais Fundamentais, inspirando, dessa forma, tanto as Revoluções Americana (1776) e Francesa (1789), como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789).

(…).

Das Revoluções Americana e Francesa surgiram as Constituições não apenas naqueles países, como crescentemente em várias nações do mundo. É o nascimento do ‘constitucionalismo’. Com ele se cria também o ‘Estado de Direito’, o qual se caracteriza pelo alto grau de formalização, afirmando-se os seus principais elementos estruturais: a separação dos poderes, o conceito de lei, o princípio da legalidade da administração, a garantia dos Direitos Fundamentais e a independência dos tribunais.

(6)

CELSO RIBEIRO BASTOS

(2002:153):

O constitucionalismo moderno traz consigo a valorização das Constituições escritas, que foram desencadeadas pela criação da Constituição Americana de 1787 e pela Revolução Francesa, em 1789. Estas cartas têm por características um certo ranço de ordem revolucionária que visa a estabelecer todo o conjunto de diretrizes constitucionais, que inauguram uma estrutura jurídico-estatal ou alteram radicalmente a que estava vigente. Foi a partir da independência das Treze colônias americanas e do Congresso de Filadélfia de 1776 que propôs aos Estados Federados a criação de suas próprias constituições que ganhou força o constitucionalismo moderno, que espalhou sua doutrina por toda a Europa a partir dos fins do século XVIII. Santi Romano chega a afirmar que:’o direito americano serviu como trâmites entre o direito constitucional inglês e aquele dos vários estados continentais da Europa.

ALEXANDRE DE MORAES

(2002:77):

A origem formal do constitucionalismo moderno, como observa Giuseppe de Vergottini, está ligada às Constituições escritas e rígidas dos Estados Unidos da América, em 14 de setembro de 1787, após a independência das 13 Colônias (Declaração de Direitos de Virgínia , de 1776; Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, de 04 de julho de 1776) e da França, em 1791, a partir da Revolução Francesa, apresentando dois traços marcantes: ‘organização do Estado e limitação do Poder estatal, por meio da previsão de direitos e garantias fundamentais’.

GERALDO BEZERRA DE MENEZES

(O Direito do Trabalho e a Seguridade Social

na Constituição, Rio de Janeiro: Pallas SA, 1976, pp. 16-17):

Nítida a distinção entre as constituições políticas e as constituições sociais, compreendendo os dois períodos da história constitucional, assinalados por Pergolesi: O primeiro, de 1789 a 1914, de caráter individualista; o segundo, de 1914 a nossos dias, marcado pelo conteúdo social das constituições, que abriu ensejo à obra do famoso jurista intitulada ‘Orientamenti Sociali delle Costituzioni Contemporanee’, (Ferrucio Pergolesi, Florença, 1946) (...) Conhecido o contraste com o qual se deparava o mundo, quando Leão XIII ergueu sua voz profética: de um lado, o liberalismo, condenando, sem rebuços, a ingerência do Estado nestas questões; de outro, a reação extremada do socialismo, batendo-se, com intransigência, pela entrega dos meios de produção ao domínio do Estado. Ambos os sistemas econômico-sociais e políticos – o liberal individualista e o socialista – foram condenados na Rerum Novarum.

ROBERTÔNIO SANTOS PESSOA

, em artigo se sua autoria intitulado “Controle de

Constitucionalidade: jurídico-político ou político-jurídico?” (TEXTO Nº 0016, p. 3) diz que:

E

m razão da forte influência do direito norte-americano no constitucionalismo republicano nacional, a Constituição de 1891 introduziu no país o controle judicial difuso de constitucionalidade. A raiz do chamado controle difuso data do famoso julgamento do caso Marbury x Madison nos EUA (1803), quando a Suprema corte desse país proclamou solenemente a superioridade hierárquica da Constituição sobre as demais leis e do conseqüente poder dos juízes e tribunais de não aplicar normas infraconstitucionais contrárias à Lei maior.

4.4.1. Influência na Europa:

(7)

DA SILVA

(2004:144) que:

Os autores costumam ressaltar a influência que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, adotada pela Assembléia Constituinte francesa em 27.8.1789, sofreu da Revolução Americana, especialmente da Declaração de Virgínia, já que ela precedeu a Carta dos Direitos, contida nas dez primeiras emendas à Constituição norte-americana, que foi apresentada em setembro de 1789. Na verdade, não foi assim, pois os revolucionários franceses já vinham preparando o advento do Estado Liberal ao longo de todo o século XVIII. As fontes filosóficas e ideológicas das declarações de direitos americanas como da francesa são européias, como bem assinalou Mirkine-Guetzévitch, admitindo que os franceses de 1789 somente tomaram de empréstimo a técnica das declarações americanas, “mas estas não eram, por seu turno, senão o reflexo do pensamento político europeu e internacional do século XVIII – dessa corrente da filosofia humanitária cujo objetivo era a liberação do homem esmagado pelas regras caducas do absolutismo e do regime feudal.E porque essa corrente era geral, comum a todas as Nações, aos pensadores do todos os países, a discussão sobre as origens intelectuais das Declarações de Direito americanas e francesas não tem, a bem da verdade, objeto. Não se trata de demonstrar que as primeiras Declarações ‘provêm’ de Locke ou de Rousseau. Elas provêm de Rousseau, e de Locke, e de Montesquieu, de todos os teóricos e de todos os filósofos. As Declarações são obra do pensamento político, moral e social de todo o século XVIII.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789, França) aponta uma vocação

universalizante dos direitos do homem, influenciando as tendências fundamentais das Constituições

do século XX - o universalismo e o socialismo -, culminando no surgimento e reconhecimento dos

direitos sociais. Baseia-se ela na afirmação da existência de direitos naturais, inalienáveis,

imprescritíveis e sagrados do homem. Adota um estilo sintético e preciso, com 17 (dezessete)

artigos, proclamando os princípios da liberdade, da igualdade, da propriedade e da legalidade e as

garantias individuais liberais que ainda se encontram nas declarações atuais, salvo liberdade de

reunião e associação face à concepção tipicamente individualista.

Vale citar

VICENTE RÁO

(1997:56) quando sintetiza afirmando que:

Da constituição Norte-Americana e da Constituição Francesa, as garantias dos direitos do homem penetraram em todas as Constituições democráticas, denotando, com o correr dos tempos, um sensível progresso no sentido de definir, como direitos fundamentais, tanto os de caráter estritamente individual, quanto os de caráter social. E também se inscreveram, em vários desses estatutos jurídicos, garantias tendentes ao respeito e manutenção da paz universal.

4.4.2. Influência na América Latina:

As idéias constitucionalistas norte-americanas espalham-se por todas as Américas ganhando

foro mundial.

Em 1945, em Chapultepec, México, 21 (vinte e um) países da América do Sul uniram-se

firmando entendimento de que um dos primeiros objetivos das Nações Unidas seria uma carta dos

Direitos dos Homens, o que originou a CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS, de 26/6/1945.

O passo seguinte foi a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM,

pela ONU, em 1948, com um preâmbulo e trinta artigos, considerado o mais importante documento

político e social contemporâneo.

(8)

4.4.3. Influência no Brasil:

Preciosas as palavras de

JOÃO CARLOS SOUTO

no artigo “Composição da Câmara e

Equilíbrio Federativo” (TEXTO Nº 0028) ao afirmar que:

O Brasil, por força da influência norte-americana, adotou a república e a federação como forma de governo e de estado. Repetiu, o legislador constituinte de 1891, a fórmula vitoriosa da Constituição da Filadélfia, aprovada um século antes. A presença doutrinária da grande nação do norte, na primeira constituição republicana do Brasil, não se circunscreveu, porém, à república e ao estado federal, adotou-se, também, uma suprema corte e um Legislativo bicameral, este último corolário do sistema federativo.

Durante os trabalhos da Convenção da Filadélfia (a Constituição americana foi elaborada de maio a setembro de 1787) surgiu o temor de que os estados de maior população (N. Iorque, Pensilvânia) pudessem dominar o legislativo da futura nação. A solução para que tal não ocorresse residiu na adoção de um sistema bicameral, onde a eleição à Câmara dos Deputados tomaria por base a população de cada Estado e o Senado teria um número fixo de representantes por Estado, independente da sua população. Assim Rhode Island e Delaware, então dois dos menores estados em termos populacionais, elegeriam o mesmo número de Senadores que o Estado de Connecticut. Essa fórmula associada à exigência de que um projeto de lei para ser aprovado teria que passar pelas duas Casas propiciava aos estados pequenos a garantia de que não seriam esmagados pelos grandes. Essa obra jurídica perdura até hoje e se constitui talvez no mais importante alicerce da federação norte-americana.

Ora, essa realidade é a mesma no Brasil.

Vale mais uma vez citar

JOSÉ AFONSO DA SILVA

(2004:363), quando leciona que a

primeira Constituição do Brasil – a Constituição Imperial de 1824 – teve no campo teórico severa

influência da doutrina francesa, porém aplica um sistema parlamentar híbrido, “trocando o modelo

de Montesquieu pelo de Benjamin Constant”. Ao falar do Brasil República, acresce que

(20004:364-365):

Com o advento da República, o Brasil ingressou na segunda época constitucional de sua história. Mudou-se o eixo dos valores e princípios de organização formal do poder. Os novos influxos constitucionais deslocavam o Brasil constitucional da Europa para os Estados Unidos, das Constituições francesas para a Constituição norte-americana, de Montesquieu para Jefferson e Washington, da Assembléia Nacional para a Constituinte de Filadélfia e depois para a Suprema Corte de Marshall, e do pseudoparlamento inglês para o presidencialismo americano.

(…).

Durante cerca de 40 anos o Brasil republicano e constitucional perfilhou, exterior e formalmente, na doutrina um constitucionalismo de raízes norte-americanas com a fachada teórica quase perfeita do chamado Estado liberal de Direito.

(...).

Com a Constituição de 1934 chega-se à fase que mais de perto nos interessa, porquanto nela se insera a penetração de uma nova corrente de princípios, até então ignorados do direito constitucional positivo vigente no País. (…). O social aí assinalava a presença e a influência do modelo de Weimar numa variação substancial de orientação e de rumos para o constitucionalismo brasileiro.

Prossegue o mestre constitucionalista (2004:367-368) dizendo que nessa terceira época

constitucional brasileira – Constituições de 1934, 37 (a Polasca), 45, 67 e 88:

(…) colhe-se um profundo influxo do constitucionalismo alemão do século XX nas Constituições brasileiras; influxo que parte tanto da Constituição de Weimar como da Lei Fundamental, sobretudo da primeira, cuja atuação ocorreu de forma mais concentrada, direta e decisiva na caracterização dos rumos sociais do novo Estado constitucional brasileiro de 1934, ao passo que a segunda fez sentir sua atuação de modo menos direto, porém não menos eficaz, mormente em termos doutrinários.

(9)

(…).

Abrindo seus primeiros capítulos com a matéria dos direitos e garantias fundamentais, até nessa particularidade a Constituição brasileira de 1988 se avizinhou da Lei Fundamental de Bonn.

Mas não são esses unicamente os pontos de contacto da cultura jurídica brasileira com a tradição constitucional alemã.

Nos comentários à Constituição e nos compêndios de Direito Constitucional a familiaridade do Brasil com o pensamento jurídico da Alemanha é relevante, efetiva e inarredável.

DOUTRINA CITADA:

BASTOS, Celso Ribeiro - “Curso de Direito Constitucional”, São Paulo: Celso Bastos Editora,

2002.

CHIMENTI, Ricardo Cunha (e outros) - “Curso de Direito Constitucional”, São Paulo: Saraiva,

2004.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves - “Curso de Direito Constitucional”, 24ª ed. São Paulo:

Saraiva, 1997.

MENEZES, Geraldo Bezerra de - “O Direito do Trabalho e a Seguridade Social na

Constituição”, Rio de Janeiro: Pallas SA, 1976.

MORAES, Alexandre de - “Constituição do Brasil Interpretada – e legislação constitucional”,

São Paulo: Atlas, 2002.

PINHO, Rodrigo César Rebello - “Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais –

Sinopses Jurídicas, 17”, 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

RÁO, Vicente - “O Direito e a vida dos Direitos”, 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 8.1997.

RODRIGUES, Sílvio - “Direito Civil – Parte Geral”, 24ª ed., atualizada, São Paulo: Saraiva, 1994.

TEXTOS RECOMENDADOS COMO LEITURA COMPLEMENTAR:

PESSOA, Robertônio Santos - “Controle de constitucionalidade: jurídico-político ou

político-jurídico?”, (disponível em: < http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=2882) - TEXTO Nº 0016.

SILVEIRA, Cláudia Maria Toledo - “Cidadania”, (disponível em: < - www.jusnavigandi.com.br) - TEXTO Nº 0015.

SOUTO, João Carlos - “Composição da Câmara e equilíbrio federativo”, (disponível em: http:// www.joaocarlossouto.adv.br/doutrina3.html) – 1998 - TEXTO Nº 0028.

“Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia, de 16 de junho de 1776”- (disponível

em:<http://www.direitoshumanos.usp.br/documentos/historicos/declaracao_de_direitos_do_bom_p ovo.html ) - TEXTO Nº 0002.

“Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” - TEXTO Nº 0003.

“A história da declaração dos direitos do homem e do cidadão de 1789”, TEXTO Nº 0004.

“A Constituição dos Estados Unidos da América”, (disponível em:

<www.braziliantranslated.com/euacon01.htm) - TEXTO Nº 0029.

Osnabrück, Niedersachsen - Deutschland, atualizado em 26 de fevereiro de 2010 Profª LUCIA LUZ MEYER

meyer.lucia@gmail.com

Referências

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