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Mulheres que se arriscam por um risco: uma cartografia da pixação e graffiti feminino na cidade de Natal-RN.

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Academic year: 2021

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Curso de Licenciatura em Artes Visuais

Larissa Cristina Braz da Cruz

Natal 2018

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LARISSA CRISTINA BRAZ DA CRUZ

MULHERES QUE SE ARRISCAM POR UM RISCO:

uma cartografia da pixação e graffiti feminino na cidade de Natal-RN.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do título de Licenciada em Artes Visuais.

Orientadorx: Prof. Me. Artur Luiz de Souza Maciel

Natal 2018

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LARISSA CRISTINA BRAZ DA CRUZ

MULHERES QUE SE ARRISCAM POR UM RISCO:

uma cartografia da pixação e graffiti feminino na cidade do Natal-RN.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do título de Licenciada em Artes Visuais.

Banca Avaliadora:

Prof. Me. Artur Luiz de Souza Maciel DEART/UFRN

Prof. Dr. Alessandro Dozena DGE/UFRN

Profa. Dra. Bettina Rupp DEART/UFRN

Beatriz Rocha(Sheep) Artista Visual e Urbana

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a todxs pixadorxs e graffiteirxs, que estão na resistência, subvertendo e intervindo.

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AGRADECIMENTOS

O percurso percorrido para efetuar esse trabalho, contei com ajuda de pessoas que me deram força para poder construí-lo:

Agradeço a mainha, Maria Lélia, na qual foi uma das minhas maiores torcidas para a conclusão deste trabalho. As minhas outras mães, irmãs e amigas, Verônica e Luciana;

As meninas Carlaxs, Dévthy, Paulo e Michel que fazemos parte da ​Coletiva

Monstruosxs e continuamos nossa batalha diária pela desconstrução e igualdade gênero;

As mulheres que fizeram essa pesquisa possível, compartilhando suas vivências,

Aira, Aisha, Amar elo cura, Doce, Elafantxe, Flor, Sheep, Preta catão e V de vagina;

A todas as manas que conheci durante meu percurso, que estão nas ruas, se arriscando e riscando, mostrando que a rua é nossa também;

Agradeço as dissidentes de gênero por entender nossa sensibilidade e compartilhamos vivências, que não apareceram nesse trabalho mas que também existem e estão nas ruas;

Agradeço ao meu companheiro e parceiro, Bruno, por aguentar e me ajudar nesse processo;

Agradeço aos mexs manxs de vida, Jumos eToni, que fazem parte da Odé Crew, no qual fiz parte e compartilhamos muitas vivências!Salve;

Agradeço as manas Júlia Monteiro, Nene Surreal e Sheep, por serem grandes parceiras e referência eterna. Salve;

Como também a Preta Catão, que me ajudou e me apoiou em momentos difíceis, mostrando o empoderamento da minha voz e cor;

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E agradeço ao amigo da secretaria, Ycaro Dantas, por me ajudar nas burocracias burrocráticas.

E agradeço aos orixás e todas as energias que nos envolve, que nos ensinam, nos protege e nos faz crescer;

Homenageio também esse trabalho a minha bisavó Maria e minha vó Cicinha, e todxs indígenas, caboclxs e nativos, que existiu/existe e resiste. Salve a nossa ancestralidade, salve os tapuia!;

Agradeço também a todxs que encontrei com o pixo e o graffiti nesse percurso de resistência de vida, que só cresce. Salve a rua;

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RESUMO

Mulheres que se Arriscam por um Risco: uma cartografia da pixação e do graffiti na cidade do Natal-RN

​ , pesquisa sobre arte, tem como metodologia a documentação e

coleta fotográfica de trabalhos de artistas mulheres e entrevistas não estruturadas a fim de construir uma cartografia feminina das marcas encontradas na cidade de Natal. Colocando as mulheres como protagonistas, uma vez que a rua é marcada como um território que não pertence a elas. Partindo de pesquisa bibliográfica, abordo a pixação e o graffiti que geram marcas visíveis na cidade na contemporaneidade, sob a luz de Yi-Fu Tuan observando seus desdobramentos entre espaço e lugar, junto com Bouro e Downs. Partindo desses dados, dou início a construção de um mapa, focando em 9 mulheres, mostrando seus processos na rua, tags, trabalhos e vivências.

Palavras-chave:

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RESUMEN

Las mujeres que se arriesgan por un riesgo: una cartografía de la pixación y del graffiti en la ciudad de Natal-RN, investigación sobre arte, tiene como metodología la documentación y recolección fotográfica de trabajos de artistas mujeres y entrevistas no estructuradas a fin de construir una cartografía femenina de las marcas encontradas en la ciudad de Natal. Colocando a las mujeres como protagonistas, una vez que la calle está marcada como un territorio que no pertenece a ellas. A partir de la investigación bibliográfica, abordo la pixación y el graffiti que generan marcas visibles en la ciudad en la contemporaneidad, bajo la luz de Yi-Fu Tuan observando sus desdoblamientos entre espacio y lugar, junto con Bouro y Downs. A partir de esos datos, doy inicio la construcción de un mapa, enfocándose en 9 mujeres, mostrando sus procesos en la calle, tags, trabajos y vivencias.

palabras clave:

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01:​Graffiti de Doce (um dos mais conhecidos dela, não existe mais, foi apagado)

Figura 02: Mutirão para pintar o viaduto de Potilândia, (sem nenhum tipo de autorização).

Figura 03: ​Doce sendo abordada por policiais.

Figura 04:​ Graffiti em lugar não localizado, 2012. Foto: Doce Figura 05: ​“Tag” de Flor Lugar não localizado em Natal, 2007.

Figura 06: Foto de um evento de graffiti em Salvador-BA, no qual Flor e Doce representaram o Rio Grande do norte, em 2007.

Figura 07:​Flor pintando em 2007. Foto: Acervo Flor Figura 08:Tag Sheep, 2015. Foto: Larissa Cristina

Figura 09: ​Graffiti no bairro de Mirassol, 2015. Foto:Larissa Cristina Figura 10: ​Graffiti no bairro do Satélite, 2013. Foto: Arquivo Pessoal Figura 11:​ Graffiti em Felipe Camarão, 2015.Foto: Acervo Sheep

Figura 12:​Pixação em lugar não localizado em Natal, 2015.Foto: Acervo pessoal Figura 13: Uma das perguntas da prova para professor de artes/visuais da prefeitura do Natal em 2015. Retirada do site da Comperve.

Figura 14:​ Lugar não localizado. Foto: Acervo Amar Elo Cura Figura 15:​Pixação no Alecrim. Foto: Acervo Amar Elo Cura

Figura 16:​ Tag de frente, 2014, Vila de ponta Negra. Foto: Acervo Pessoal Figura 17:​ Tag Elafantxe, txoma! Foto: Acervo Pessoal

Figura 18:​Pela via costeira, 2015. Foto: Larissa Cristina

Figura 19:​Pixação em lugar não localizado em Natal, 2016. Foto: Elafantxe Figura 20:​Tag da Elafantxe no procon,Ribeira,2014. Foto: Portal no ar.

Figura 21:​ Manada próximo a Sam´ś Club para Mainha. Foto: Acervo Elafantxe Figura 22:​Pixo na Via Costeira, 2016. Foto: Larissa Cristina

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Figura 23:​Pixação na BR 101. Foto: Acervo Pessoal

Figura 24:​Tag V de vagina, próximo a UFRN. Foto: Larissa Cristina Figura 25:: Tag AISHA. Foto:Larissa Cristina

Figura 26:Tag Aira. Foto:Arquivo Pessoal Figura 27:​Tag NPS. Foto:Arquivo Pessoal Figura 28: ​Letreiro Aira.Foto: Arquivo Pessoal

Figura 29:​Letreiro estudos Aira. Fonte: Arquivo Pessoal Figura 30:​ Dedos tag, de Preta Catão. Foto: Acervo pessoal

Figura 31:​Do lado esquerdo Sheep e do lado direito Preta Catão. FOTO: Acervo Pessoal

Figura 32:​estudos dos robôs com seus dedos, em praia de Santa Rita. Foto: Acervo Pessoal

Figura 33:​FIGURA 33:Estudos de dedos, Tag. Foto: Acervo Pessoal Figura 34:​senhora na BR 101, 2016. Foto: Arquivo pessoal

Figura 35:​ Lambe- lambe no viaduto da UFRN. 2013.

Figura 36:​ Lambe - lambe masturbe-se, duravam menos de 24h.2013. Figura 37:​ Lambe - lambe na Av. Salgado Filho. 2014.

Figura 38: ​Graffiti meu, na FEME em Vitória - ES. Em 2016. Foto: Larissa Cristina Figura 39: ​ Graffiti no galpão abandonado na Roberto Freire. Foto: Sun

Figura 40: ​Graffiti censurado, 2016. Foto: Larissa Cristina Figura 41: ​Corpos espalhados.Foto: Larissa Cristina

Figura 42: ​Chega de feminicídio, praia dos artistas, 2018. Foto: Neurose Figura 43:​Trabalho censurado 2 meses depois. Foto: Acervo pessoal Figura 44:​ Corpo na estrada da Redinha Velha, 2017. Foto: Neurose

Figura 45: Corpos partilhadxs no mesmo local depois de censura de censura publicitária. Foto: Acervo Pessoal

Figura 46: ​Momento que uma ​mulher Pajé pinta meu rosto com os desenhos do “rabo de jacaré” na mediação da boca. Foto: Sheep

Figura 47:​Corpo com inscrições indígenas da tribo Huni - Kui, referente ao rabo de jacaré. Foto: Isma Stencil

Figura 48: Senhora do Atabaque, com pinturas referente ao olho da curica nos braços e rosto. Foto: Larissa Cristina

(11)

SUMÁRIO

Introdução ………..10

1. As manas no mapa ………..11

2. estamos na rua ……….14

2.1. arte como crime, crime como arte e as legitimações arte como crime crime como arte………...16

3. quem são elas, onde elas andam? ………...20

3.1. as manas: “a rua também é nossa!” ………..21

3.1.1. Doce ………....21

3.1.2. Flor ………...25

3.1.3. Sheep ………..29

3.1.4. Amar Elo Cura ………32

3.1.5. Elafantxe ……….36

3.1.6. V de Vagina ………42

3.1.7. Aisha ………...45

3.1.8. Aira ………..48

3.1.9. Preta Catão ……….52

4.Eu,Consuelo Oleusnoc - C.O ……….56

5. Espaço e visibilidade feminina na cidade de Natal ………….67

6. Projeto Pedagógico No Acre - Haux Haux ………...71

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INTRODUÇÃO

Escolhi falar da rua e de mulheres que se arriscam por um risco, por ser mulher e ser da rua. Intervenho, sinto a situação e as diferenças. Tanto no fazer, como os transeuntes (que observam), dos quais escutamos várias coisas, desde xingamentos a assédios. No meio do graffiti, não temos reconhecimento e, consequentemente, respeito. Já perdi as contas de quantos trabalhos meus já foram boicotados . Como Louzada fala em sua monografia “(...) apesar de se mostrar como1 movimento de subversão, questionando valores e problematizando questões sociopolíticas, o graffiti não se isenta da reprodução de opressões e hierarquias de gênero (LOUZADA, 2016, p.26.)”.

Há muitas mulheres intervindo nos espaços públicos e privados, elas estão na rua e nem as percebemos. Muitas vezes pensamos que são homens, como “Elafantxe” descreve a conversa que escutou no ônibus, onde falaram sobre sua tag, “esse bixo ai se garante, tá em todo lugar!”. Pelo fato de “se garantir” e estar em vários lugares, não poderia ser uma mulher, tem que ser um cara, um bixo ? Com2

1 Boicotado: ​Gíria utilizada para referenciar uma forma de p​unir alguém ou alguma coisa simplesmente

repudiando o mesmo.

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esse trabalho, espero visibilizá-las e protagonizar seus passos na cidade, seja pela pixação, como pelo graffiti.

Portanto, esse trabalho é muito importante para mim, como interventora de rua, como para as manas, que estão lá também na resistência. Principalmente, para o meio acadêmico conhecer e compreender o lado de quem está fazendo intervenções nas ruas, quebrando paradigmas e preconceitos.

No primeiro capítulo falo da presença feminina nas ruas, do porque deste trabalho. As metodologias que utilizo para poder executá-lo, assim como algumas das teorias como de Tuan, Downs,Seemann e Bouro. No segundo capítulo falo da questão histórica das intervenções nas paredes, levantando uma breve historiografia, com base em Gitahy, Souza, Lassala e algumas leis que incriminam a venda de spray para menores e ações de pixos. Logo depois falo um pouco da cena feminina e as mulheres que foco neste trabalho, no qual começou por ordem de entrevistas, falando como elas começaram, suas tags, seus silenciamentos e preconceitos por serem mulheres na cena, que ainda é muito dominada pelos homens. Termino com minha fala, de eu como mulher e interventora , mostrando um pouco do meu percurso e mapeamento de trampos pela cidade do Natal-RN.

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as manas no mapa

Como sou interventora de rua, para alguns grafiteira, resolvi fazer esse levantamento. Sou uma das poucas mulheres (em relação ao número de homens) e sempre tentava saber como, quando e quem começou a intervir nas paredes. Parece que as mulheres são logo esquecidas na nossa história, não só no graffiti, mas como em tudo, já que vivemos ainda numa sociedade em que o machismo é enraizado.

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A metodologia que utilizo neste trabalho, é vivenciada por meio de uma construção poética e sensível que é partilhada diariamente com todxs, pois é um trabalho que visa a visibilidade das intervenções urbanas. Um dos meios de concretizar e registro dessa efemeridade, foi por meio da fotografia e entrevistas com algumas das interventoras, que vêm os muros, como cadernos abertos.

Com o objetivo de colocar a mulher como protagonista em um cenário que invisibiliza e silencia, retrato vivências relatadas em depoimento, como forma de mostrar e afirmar a existência e resistência delas nas ruas. Eu, como mulher e interventora urbana, sinto a falta de documentos, notícias e representatividade feminina nos espaços, só que não há pelo fato de não falarem, e é como se não existisse. Esse trabalho é para mostrar a representatividade feminina que existe há um tempo e que pouco se sabe e se fala.

Com isso resolvi fazer uma cartografia dos meus graffitis pela cidade do Natal, mapeando e destacando os bairros onde se encontram-se. E mostrando o quanto essas intervenções dos graffitis e pixos pela cidade é importante não só como uma expressão, como também, uma forma de localização e deslocamento pela mesma.

A Cartografia, sem dúvida, representa uma linguagem importante para a Geografia, mas não deve ser vista com o rigor de uma gramática da língua portuguesa. No sentido convencional da Cartografia, tratamos os mapas como analogias, ou melhor, como meios de explanação, enquanto o mapa, quando visto como metáfora, pode representar um meio de expressão (DOWNS apud. SEEMANN, 2003,p.51)

São imagens que não vemos a olho nu, como observa Tuan (1979, p. 417), essas imagens são meros indicadores de uma realidade subjacente que não é diretamente acessível ao olho. É interessante a relação das intervenções nas paredes das ruas com o mapa, pois ambas são imagens que são difíceis de serem lidas e interpretadas.

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Bouro fala das expressões “olhar pensante” e “consciência visual”, e fala da dificuldade que temos de ler imagens, e que estamos perdendo a capacidade de ler , pensar por imagem e produzir imagem ligado ao contato direto com aquilo que é visto.

Por isso, é preciso saber observar, porque “saber produzir imagens verbais e visuais plenas de significação, descrições reveladoras de um envolvimento direto e concreto com a realidade [são] relatos que jamais poderiam ser produzidos por leitores de olhares rápidos e descompromissados” (BOURO, 2002, p. 49).

Com isso é perceptível na sociedade contemporânea, em que movimentar-se rápido a não percepção da cidade e seus elementos em sua totalidade. Para um pixo se destacar tem que repetir e repetir até ser visto, além do posicionamento geográfico que vai influenciar fundamentalmente em que ela vai estar, “levando-se em conta que os mapas diretamente servem para o desejo ou até a necessidade de visualizar processos do pensamento humano (MUEHRCKE, 1978, p.254)”.

O mapeamento da cidade está visualizado no pensamento imagético da pixadora, que já traça o percurso antes para poder concretizá-lo, normalmente as avenidas de grande movimento são visadas.

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.2

estamos na rua

As pinturas em paredes marcam nossa existência, desde os primatas. N ​a Pré - História, com pinturas nas pedras narrando combates e estratégias, como Celso Gitahy fala

a manifestação mais antiga, com certeza, foram os desenhos feitos nas paredes das cavernas. Aquela pinturas rupestres são os primeiros exemplos de graffiti que encontramos na história da arte (GITAHY, 1999, p.11).

Na antiguidade, na cidade de Pompéia por exemplo, o ato de intervir nas paredes era muito forte, com poesias e insatisfações políticas, de acordo com o historiador Holanda, 2009 , que foram catalogados mais de 15.000 graffitis e pixos. E que entre essas pixações, já havia a presença feminina nas intervenções, pois o período era de emancipação das mulheres.

A Idade Média também se destaca não só grandes murais, mas também pela presença da pixação, como Souza, 2007, que os padres pixavam os conventos rivais.

na época em que os inquisidores queimavam as bruxas cobrindo-as de piche, os padres pichavam as paredes dos conventos que eram rivais, ajudando a expor suas ideologias e criticar doutrinas contrárias, governantes , ditadores e todo tipo de pessoa ou instituição a quem se queria difamar (SOUZA, 2007, p. 10).

Depois da II Guerra Mundial, começaram as produções de materiais em aerosol. Entre os anos 60 e 70, percebe-se a presença de tinta spray, como na França, no muro de Berlim, destacando-se nos Estados Unidos, nos bairros periféricos de Nova York. O hip-hop, se espalhou, junto com a pixação em metrôs e

(17)

muros da cidade, seja por ​tags com suas ​Crews chegando a um desenho mais3 4 trabalhado. No começo o graffiti e a pixação, não se distinguia, essa distinção é brasileira

O graffiti inicialmente não se distinguia da pixação, pois sua origem tem base no que hoje consideramos pixação. O graffiti rico em cores, formas e desenhos é um processo posterior da evolução histórica desta arte. Na verdade, essa distinção entre graffiti e pixação é bem brasileira (SOUZA, 2015, p.23).

Segundo Souza, 2007, no Brasil, a pixação vem com a indignação diante a Ditadura Militar, de uma forma subversiva, pois a liberdade de expressão estava sendo censurada de todas maneiras:

durante os anos da ditadura militar, a prática fora utilizada como veículo de contestação do regime e era absolutamente intolerada, pois o direito à liberdade de expressão civil fora, de todas as formas, censurado (SOUZA, 2007, p.10).

Hoje, o graffiti tem espaço no mercado de arte e a pixação continua marginalizada e ilegal, pelo fato de ser transgressora, da sua subversão de estar nos espaços urbanos, sem precisar de autorização, nem aceitação de alguém. Com isso cria uma divisão entre graffiti e pixação, entre arte e vandalismo. As pixações de grandes cidades brasileirasatraem

Uma arte de rua, caracterizada por uma escrita estilizada do nome do pixador e do grupo que participa ( se participa de algum grupo), monocromática, quase sempre feita com spray preto.(...) o que constitui uma forma de apropriação da cidade. Para David Souza, a pixação é: “caracterizada pela veiculação através da paisagem urbana, por sua vocação clandestina e por seu aspecto estético com traços rápidos e apressados em tinta spray, cuja premissa é a divulgação através da repetição. (...) A pixação é usualmente associada a um discurso norteado pelas noções de vandalismo, delinquência, e poluição visual (SOUZA, 2007 p.19)”

3Tag - Assinatura de rua, utilizada por pixadores e grafiteiros 4​Crew - Grupo de interventores, que assinam a mesma Tag

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Já o graffiti, ele também na essência não é autorizado, é a pintura de um mural sem autorização, mas como requer mais tempo do que a pixação, muitas vezes mais de um dia, dependendo do que será feito. Por isso, que os grafiteiros costumam pedir autorização para pintar, principalmente em lugares que tem muito movimento. Assim como tem variações entre o graffiti e a pixação, como o ​xarpi ,5 bomb . Vale salientar que utilizo o termo “pixação” e não “pichação”, como Gustavo6 Lassala, diz que

justamente por concorrer com a comunicação de muitas, a pixação faz uso de processos de percepção e estimulação, diferencial e não tradicional, ela possui uma gramática própria.(LASSALA, 2010, p. 34).

.2.1

arte como crime, crime como arte e as legitimações

O graffiti em Natal, segundo Raniere e Dozena (2013) teve seu primeiro registro no começo dos anos 80, com Marcelus Bob. E a pixação, nos anos 90, com a formação das torcidas organizadas a Máfia Vermelha (América de Natal Futebol Clube) e Gang Alvinegra (ABC Futebol Clube). Já a presença feminina veio só no começo dos anos 2000, tanto no graffiti como na pixação.

A prática da pixação e do graffiti sem autorização como crime ambiental levando a detenção e multa, enquadradas na Lei n ​° 12.408, de 25 de maio de 2011, alterando o art. 65 da Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, no qual retira a prática do graffiti como crime e proíbe a venda de tintas do tipo aerossol para menores de 18 (dezoito) anos. Havendo uma maior fiscalização e controle nas vendas das tintas aerossol.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA ​Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1 o Esta Lei altera o ​art. 65 da Lei n​ o9.605, de 12 de fevereiro de

1998​, dispondo sobre a proibição de comercialização de tintas em

5Xarpi - Quando algumas assinaturas tem alguma letra invertida 6Bomb - Graffiti rápido e ilegal, muitas vezes com letras arredondadas

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embalagens do tipo aerossol a menores de 18 (dezoito) anos, e dá outras providências.

Art. 2 o Fica proibida a comercialização de tintas em embalagens do

tipo aerossol em todo o território nacional a menores de 18 (dezoito) anos.

Art. 3 o O material citado no art. 2 odesta Lei só poderá ser vendido a

maiores de 18 (dezoito) anos, mediante apresentação de documento de identidade. Parágrafo único. Toda nota fiscal lançada sobre a venda desse produto deve possuir identificação do comprador. Art. 4o As embalagens dos produtos citados no art. 2 o desta Lei

deverão conter, de forma legível e destacada, as expressões “PICHAÇÃO É CRIME ​(ART. 65 DA LEI Nº 9.605/98)​. PROIBIDA A VENDA A MENORES DE 18 ANOS.”

Art.5o independentemente de outras cominações legais, o

descumprimento do disposto nesta Lei sujeita o infrator às sanções previstas no art. 72 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.

Art. 6 o O art. 65 da Lei n o9.605, de 12 de fevereiro de 1998, passa a

vigorar com a seguinte redação:

“Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

§ 1 o Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em

virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa.

§ 2 o Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo

de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional.” (NR)

Art. 7 o Os fabricantes, importadores ou distribuidores dos produtos

terão um prazo de 180 (cento e oitenta) dias, após a regulamentação desta Lei, para fazer as alterações nas embalagens mencionadas no art. 2o​ desta Lei.

Art. 8 o Os produtos envasados dentro do prazo constante no art. 7 o

desta Lei poderão permanecer com seus rótulos sem as modificações aqui estabelecidas, podendo ser comercializados até o final do prazo de sua validade.

Art. 9o​ Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 25 de maio de 2011; 190o da Independência e 123o da República.

A tipificação das ações como crime, ocorrem no flagrante, pelos policiais. O graffiti e a pixação, tem como essência a rua, a marginalidade, considero que a

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polícia, em seu exercício de poder estabelece critérios de classificação e análise para produção do grafitti a partir de seu ponto de vista, a maior parte das vezes, arbitrário. Normalmente seus critérios são desconhecidos, pois muitas vezes há abuso de poder, humilhação e agressão. Banhos de tinta, comer a espuma dos rolinhos, só pelo prazer de ver a dor do outro, fazem parte de alguma práticas cruéis dos policiais. Ao mesmo tempo que para alguns grafiteiros/pixadores, pedir autorização como muitos dizem faz "perder a graça de tudo".

O tema é bastante controverso tendo em vista que graffiti é caracterizado

como arte e pixação é caracterizado como crime, mesmo entre os praticantes da arte na rua existem posicionamentos diversos sobre esta questão. Em minha experiência enquanto grafiteira, na rua verifico que os próprios interventores de rua criam barreiras classificatórias (de modo similar a polícia) muitas vezes condenando a pixação e defendendo só como "artista de rua", mas observo que a maioria começou com a pixação, ou, continua praticando pixaçãoe não assume​.

Como na invasão na Bienal Internacional de Arte de São Paulo em 2008, os pixadores invadiram e pixaram, pelo fato de serem silenciados (mesmo gritando nos muros das ruas) e marginalizados. Como forma de protesto, fizeram suas intervenções, já que a curadoria do evento tinha como proposta a abertura as intervenções urbanas. Questionaram e continuam a questionar arte de consumo de massas, que muitas perderam sua política para dar espaço apenas ao estético, ao discurso. Dois anos depois, em 2010, 3 dos 40 pixadores que subverteram pixando a 21ª Bienal, foram convidados para participar legalmente da 29ª ​Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Expuseram suas caligrafias, não pixadas (aos moldes das ruas), mas em papel como fazem ao se encontrar e na troca assinaturas.

Em Natal, existe uma delegacia especializada em receber os casos de pixação. Havendo uma perseguição maior aos interventorxs. Muitas vezes ignorando chamados mais importantes, como assaltos, violência contra mulher dentre outros, para cuidar de paredes. A Delegacia de Polícia de Candelária, tem se responsabilizado por todos atos de "vandalismo", na Zona Sul, Oeste, Leste, menos

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a Zona Norte. Soube de um caso com uma mana , que foi pega pixando, no centro7

da cidade, no qual ela nem terminou de fazer a ação, foi abordada e levada para esse comando, humilhada, espancada, além da pressão psicológica e o direito de imagem não respeitado.

(22)

.3

quem são elas, onde elas andam?

“respeita tio, que as mina tão no corre”

Sara Donato e Issa Paz

Nos estudo de intervenções urbanas, onde estou há cinco anos, me reconhecendo como integrante desse meio, da rua, vou conhecendo e reconhecendo as protagonistas das tags e graffitis, aos poucos vão saindo do anonimato e passo a reconhecê-las como mulheres, manas que se arriscam.Não tive contato com todas mulheres que fazem intervenções na cidade do Natal, pois não consegui conhecer todas, mas as reconheço nas paredes.

Flor, Bia Rocha, Amar Elo Cura, Elafantxe, V de Vagina, Aisha, Aira e Dani Catão. Mulheres que estão nos corre e elas foram escolhidas pelo fato de terem8 vários trabalhos e tags espalhadas pela cidade, muitas não só na Zona Sul, mas por toda cidade.

A precursora do graffiti em Natal, Doce, quando comecei as entrevistas, morava na África do Sul, mas em 2016 ela voltou para Natal e consegui entrevistá-la via e-mail. A ex-grafiteira, Flor, que desde 2012 não pinta e hoje mora em São Paulo, pela internet. Flor relata que no começo do graffiti feminino em Natal, pintava com Doce, em meados dos nos anos 2000. Eram as únicas mulheres que pintavam. Depois, antes de Flor ir para São Paulo-SP, Bia Rocha começa a espalhar seus trabalhos em 2010. Em seguida, mais mulheres começam a intervir na cidade em 2013/2014: Amar Elo Cura e Elafantxe, Aira, em 2015 Aisha e em 2017 com V de Vagina. Todas as informações foram obtidas a partir de entrevistas realizadas por

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redes sociais, em chats do Facebook, do Whatsapp, por conversas escritas e áudios, assim como por e-mail.

Os registros fotográficos foram realizados por mim ou por elas mesmas, que me enviaram e concordaram com a apresentação destes registros. Algumas fotos estão sem localização, já que foram apagadas e elas não recordam o lugar específico. Também nesse trabalho, não irei expor o nome de todas, apenas seu nome de rua, a tag. Muitas pediram para não revelar o nome verdadeiro, para muitas delas estar no anonimato é uma garantia de segurança e de “se boicotar”, como elas dizem.

Nas entrevistas - não estruturadas - elas falam dos percursos e percalços na rua, do que as motivaram a começar, quando elas começaram, qual a assinatura delas e quais dificuldades elas enfrentaram. tanto no movimento como na rua, e deixando-as mais abertas para conversarem o que quisessem e falarem de experiências que passaram pelo fato de serem mulheres e estarem na rua.

.3.1

as manas: “a rua também é nossa!”

Pelas pesquisas e entrevistas realizadas constatei que as mulheres na pixação, começaram a atuar em meados dos anos 2000, na cidade de Natal. Segundo as entrevistadas, a pioneira nas intervenções de paredes da cidade, é a artista "Doce", que começou a pintar com 14 anos, aprendendo e desenvolvendo suas técnicas, num espaço que é dominado por homens. Doce permanece na cidade até 2008, seguindo para África do Sul no qual seguiu suas atividades como pintora e ganhando seu espaço com seu traço.

.3.1.1 DOCE

Doce, segundo as entrevistadas e até mesmo o movimento feminino do graffiti, fala que foi a primeira mulher a grafitar na nossa cidade, por volta de 2005.

(24)

Foi uma das últimas a serem entrevistada, devido ter morado um bom tempo na África do Sul. Só consegui entrar em contato depois que ela voltou, entrevistei com algumas perguntas feitas pessoalmente e via e-mail.

Doce pintava com Flor, elas eram as únicas mulheres na cena local, por volta de 2005, ela afirma que não sofreu nenhum tipo de sexismo.

FIGURA 01: Graffiti de Doce (um dos mais conhecidos dela, não existe mais, foi apagado) Foto: Arquivo Pessoal

Eu nunca senti tanta diferença por ser mulher, comecei a pintar com a Flor, e na época éramos as únicas mulheres da cena local; mesmo assim não consigo lembrar tão fácil de alguma situação em que ser menina tenha causado algum preconceito ou desaprovação pelo resto do pessoal (DOCE, 13/10/16).

Ela diz também que antes era tudo “vandal”, escolhia o muro e já pintava sem nenhum tipo de autorização, que muitas vezes havia abordagem policial e até mesmo ficavam detidos na delegacia. E que antes não havia treta entre pixador e

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grafiteiro, muito pelo contrário, eram todos juntos e muitas vezes o pixador grafitava e vice e versa.

Eu comecei a fazer graffiti porque já adorava desenhar e pintar desde criança, então a ideia de pintar paredes nas ruas era perfeita; no começo era tudo ilegal, então era “vandal” mesmo, pegar umas tintas, escolher um muro e pintar sem qualquer autorização – o que muitas vezes acabava em simples abordagem policial ou horas na delegacia. Também tinha muitos amigos pixadores, e na época não tinha briga entre grafiteiros e pixadores. Também porque vários faziam ambas as coisas, então era muito bom sair com o grupo de amigos para pixar ou pintar (DOCE, 13/10/16).

FIGURA 02: Mutirão para pintar o viaduto de Potilândia, (sem nenhum tipo de autorização). Foto : Acervo Flor

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FIGURA 03: Doce sendo abordada por policiais. Foto: Acervo Flor

FIGURA 04: Graffiti em lugar não localizado, 2012. Foto: Acervo Doce

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E afirma que a convivência com os meninos do graffiti/pixo, era muito boa de início. Só depois que houve uma separação, não pelo fato de sexismo, mas sim pelo fato de conduta e caráter das pessoas.

Então de início tive um ótimo relacionamento com os grafiteiros, mas depois sempre surgem algumas diferenças de estilo ou conduta que acaba separando um pouco os lados, mas isso independe do sexo, e sim do caráter das pessoas.

.3.1.2 FLOR

Flor mora em São Paulo a seis anos. Começou a pintar em 2006, com Doce. Era menor de idade quando começou a pintar e já fazia vários ​trampos espalhados9

pela cidade. No início fazia uma bonequinha (a da foto abaixo), perguntei se seria a sua marca e ela fala que no começo sim, como se fosse um tipo de tag.

No começo era eu e Doce, eu fazia uma personagem, uma bonequinha. A gente demorava um ou dois dias inteiros para pintar, não dava pra fazer sem autorização. Então íamos em escolas falar com a diretora, batíamos na porta do povo para pedir para pintar, levava pasta com desenhos para tentar convencer, enfim… (Flor, 12/05/16).

Desde que saiu de Natal, não pintou mais, não deu mais vontade. E que havia várias dificuldades, que além de lugares autorizados, já que demoravam muito, as vezes nem acabava no mesmo dia, precisava de um lugar autorizado. A tinta era uma das dificuldades:

As dificuldades, era a falta de material, usávamos restos de tinta látex, sintética e nem sempre tinha spray, porque era caro e só tinha a Colorgin que era a melhor que tinha, pois não vendia tinta para graffiti mesmo, nem muito menos cap. Outra dificuldade era a falta de lugar autorizado, era difícil encontrar lugar com visibilidade e autorização. Quando pintávamos em escolas, a gente tinha que ter uma autorização por escrito, pintar no final de semana, porque os vizinhos chamavam a polícia, então tinha que ter prova.” (Flor,12/05/16).

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FIGURA 05: “Tag” de Flor Lugar não localizado em Natal, 2007. Foto: Acervo Pessoal

Na entrevista ela relata como pensava quando pintava e de como parou de pintar. E diz que não teve problemas com as pessoas do movimento (pessoas que fazem parte do cena do graffiti) , e que muito pelo contrário, era respeitada. E que no máximo o que havia era uma rivalidade:

pensava que ia ser grafiteira, ir para Amsterdam. Não sei direito porque parei de pintar, simplesmente não quis mais.. Mas, aí parei, não acompanho faz tempo o graffiti em Natal. Não sofri preconceito por ser mulher, pelo menos no hip hop, nos roles era de boa, porque quando a gente começou, tinha muita gente fazendo. Rolava meio que uma rivalidade talvez, tipo, as meninas fizeram a gente tem que fazer também, mas acho que éramos respeitadas, mas na rua por estranhos quando a gente pintava, acho que não. As pessoas achavam estranho, porque a gente, às vezes, lixava a parede, passava um mão toda de tinta, era um trabalho cansativo (Flor,12/05/16).

Flor foi uma das primeiras mulheres a pintar, na cidade do Natal, junto com Doce. Depois de conhecer Doce, ela começou a pintar e depois disso só pintavam juntas. Eram as únicas mulheres no movimento. E fala que foi Doce quem tomou a iniciativa de pintarem o viaduto em frente ao Arena das Dunas.

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Figura 06: Foto de um evento de graffiti em Salvador-BA, no qual ela e Doce representaram o Rio Grande do norte, em 2007.

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FIGURA 07: Flor pintando em 2007.

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.3.1.3 SHEEP

FIGURA 08: tag Sheep, 2015. Foto: Larissa Cristina

FIGURA 09: Graffiti no bairro de Mirassol, 2015.

Foto: Larissa Cristina

Grafiteira reconhecida na cidade, devido ao seu tempo de rua. Começou em 2010, não havia muitas mulheres na cena. As referências dela, na cidade, eram Doce, Flor e Sinhá, e destacando-se 2012 (pela quantidade de pixações que podiam ser vistas pela cidade)

A gente começa muito antes, neh quando criança neh na escola você já faz, mais assim mas assiduamente assim, foi em 2012 e comecei principalmente porque eu via outras expressões, principalmente na UFRN, porque foi exatamente nessa época então eu via muitos stencils neh que são desenhos rápidos. E isso foi o que influenciou mais, de você ver outras expressões e você de certo modo ver o que é que sai da pessoa, de mim e o que sairia de mim e foi assim que comecei (Sheep, 10/05/16).

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Ver as intervenções, a instigou mais, pois via no ato de intervir uma necessidade do ser humano e o graffiti como forma de mudar, questionar e desconstruir os espaços e possíveis ideias.

o motivo mesmo foi ver outras expressões e também desejar fazer próprio porque é uma necessidade essencial do ser humano, além de outros motivo é o que não falta, motivação não tem muito não(risos) (Sheep, 10/05/16).

Afirma que a falta de mulheres no movimento a incentivou ​, já que eram poucas, mas o número não a importava, o que levava em conta era a soma para o movimento feminino, criando diferença.

ah.. De homem tinha vários(risos), mas isso é o que dá mais vontade para a pessoa, porque você vê que só tinha três, que a pessoa pode contar em uma mão só, dá mais instiga, porque é uma coisa que pra mim eu me identifiquei logo (Sheep, 10/05/16).

FIGURA 10: Graffiti no bairro do Satélite, 2013. Foto: Arquivo Pessoal

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As dificuldades, exatamente assim de ser mulher eu acho que é somente a descrença do geral, assim de você ser capaz talvez de você fazer algo que também influencia, mas isso ae pra mim foi tranquilo, porque eu dava muito role mais com homens, mulheres mais hoje, porque eu só sacava a Doce! (Sheep,10/05/16).

FIGURA 11: Graffiti em Felipe Camarão, 2015.

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.3.1.4

AMAR ELO CURA

FIGURA 12: Pixação em lugar não localizado em Natal, 2015. Foto: Acervo pessoal

"Amar elo cura", mana do pixo, a entrevistei via Whatsapp, que começou a aparecer mais nas paredes e muros da cidade em 2013. Começou suas intervenções nas ruas e desde 2011 começou a estudar os graffitis e pixos de sua cidade onde residia, em Salvador – BA, aproximando-se do movimento e interagindo. E só quando foi apresentar um trabalho sobre arte de rua na Costa Rica, que fez seu primeiro pixo.

No começo pixava várias coisas, mandando salve aos mestres de capoeira, mestre de música. Essas foram minhas primeiras pixações, pixava também pixo de protesto, como a legalização da ganja10 que participava de um coletivo chamado Ganja Livre e Outros (amar elo cura, 20/05/16).

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Logo em seguida, depois de ter feito já uma familiarização do movimento em Salvador, mudou-se para Natal – RN, no qual espalhou muito sua antiga tag, que era uma mulher gorda, com seios e vagina exposta com o nome livre ao lado. E foi assim que começou seu processo criativo com o amar elo cura;

A formação da tag, foi em conjunto, inicialmente eu só pixava amar elo, só que um dia eu tava com Brisa e estávamos subindo a rua11 da Lagosta, de tanto eu contar a história do porque tinha surgido o amar elo, que tava relacionado a um carro, um fusca amarelo, que tinha um paquera, que nunca aconteceu nada entre a gente, foi só uma paquera platônica, e a partir disso que a gente se viu e ficamos na paquera só em olhares. E aí comecei a fazer terrorismo poético pesado na cidade inteira para esse boy. Aí ela ficou falando "ah amarelo cura, amarelo loucura", ai ela adicionou este cura que tem isso de loucura, do cura e ai depois disso começamos a viajar neh?!Amar elo cura,a o mar elo cura, a maré, daí várias ondas, várias deri variações... desde então, eu puuu.. terrorismo pesado mesmo na cidade inteira, foi uma boa ação. Fiquei um tempão pixando essa ideia aí, e tipo assim, ganhou bastante visibilidade na cidade porque, diferentemente da pixação, essa pixação ela, o leigo sobre a pixação ela consegue identificar, e como é uma frase poética, muita gente se identifica... (amar elo cura, 20/05/16).

Devido ao "terrorismo poético" na cidade inteira, ela fala que viu a repercussão boa, o amar elo cura apareceu até mesmo na prova da prefeitura do Natal, para professores de Artes Visuais de 2015.

FIGURA 13: Uma das perguntas da prova para professor de artes/visuais da prefeitura do Natal em 2015. Retirada do site da Comperve.

Depois dessa série de ​amar elo cura

​ , que foi pixado em vários estados do

Brasil, que rendeu mais de dois anos, e segundo a autora, fala que rende até hoje, ela começa com a série de mulheres negras, depois de um curso sobre protagonismo negro na História do Brasil, onde tinha várias histórias de mulheres negras, e aí que surge a "Adelina Charuteira", que foi uma informante no movimento

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de revolta, em prol da Abolição. E fala que a intenção era ficar um tempo com uma série como ela diz:

... porque realmente a onda da pixação, pelo menos a linguagem que to seguindo na pixação, que é de comunicação com o público da pixação e público leigo também, na sociedade no geral. Você tem que repetir mesmo, você só consegue ser vista, como as pessoa não tem olhar atento aos pixos, você só consegue ser vista se você tem uma repetição muito grande, que é a questão de que por você tá muitas vezes no ambiente que a pessoa em algum momento identifica, porque muitas vezes tem gente que nem identifica e vê apenas como um rabisco” (Amar elo cura, 20/05/16)

Amar elo cura afirma ter pixado muito sozinha, as vezes quando se reunia com outrxs pixadorxs é que acontecia de estar acompanhada. Mas era raras esses acontecimentos, já que na maioria das vezes ela faz suas missões de bicicleta. E fala em dois pontos muito importantes nas suas dificuldades.

Um era o fato de eu pixar, isso é algo que me identifica como uma população de rua, por ser um bagulho criminal né, de vandalismo, isso então a certo ponto eu me sentia mais segura por tá pixando, porque nos olhos de quem mora na rua, há uma certa identificação, diferente dos olhos de segurança, pêpa.. Andar na rua de noite, já um bagulho que dá medo assim, as vezes ta ligado?! mas é uma coisa que eu sempre enfrentei, porque sempre gostei de sair então tipo assim, por mais que a rua possa dar medo e a própria construção da mulher é uma construção que se diz que não pode sai de noite, não pode sair sozinha, tem que tá sempre acompanhada por um homem e blábláblá.. Isso pra mim nunca foi um empecilho.. (Amar elo cura, 20/05/16)

Por muito tempo ela permaneceu no anonimato, de ficar até mesmo o questionamento entre os pixadores, de "quem é que faz o Amar elo cura?!", e muitas pessoas pensavam que era crew.

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FIGURA 14: Lugar não localizado. Foto: Acervo Amar Elo Cura

FIGURA 15: Pixação no alecrim. 2015. Foto: Acervo Amar Elo Cura

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.3.1.5

ELAFANTXE

FIGURA 16: Tag de frente, 2014, Vila de ponta Negra.

Foto: Acervo Pessoal

FIGURA 17:Tag Elafantxe, txoma!. Foto: Acervo Pessoal

Com o famoso elefante que foi espalhado por todos os lugares pelas diversas ruas da nossa cidade, ela começou a pixar no final de 2012 e explodiu com manadas de elefantes em 2013, podendo ser visto pela cidade até hoje. No início, quando saía nas missões , intervinha com lambe-lambes e depois com a pixação. Teve várias12 tags, para poder chegar no elefante e escolheu o elefante porque é o animal que mais gostava, muitas vezes se via como um. Mas, passou a fazer mais elefantes

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quando sua amiga "Amua", que também pixava, falou da lembrança que o elefante a causava, se lembrava dela, foi quando percebeu que estava fazendo mais elefantes do que qualquer outra coisa.

Quando saia para pixar se não estivesse só, estava acompanhada com amigas que nem pixavam e afirma que era bem distante dos pixadores no geral, pois se sente mais à vontade no anonimato, que seu contato sempre foi mais com as meninas da cena (Elafantxe, 22/04/16).

As suas dificuldades, além da tinta spray, que é a mais utilizada devido a rapidez no risco (e ser muito cara), é o fato de ser mulher na rua (e na madruga). Outra barreiras era a polícia

adoro sair na madruga para pixar, principalmente quando é parede que eu já tinha sacado, estudado. Não tinha medo da rua a noite, tinha mais medo dos taxistas e da polícia sebosa, que sempre chega que nem uns bixos, e sempre falavam a mesma coisa "o que faz uma mulher essa hora na rua?! boa coisa não é!" além de tudo, da humilhação, ainda escutamos umas coisas bem sexistas e machistas, e foi aí que comecei a pixar também de dia, não tem hora ruim (Elafantxe, 22/04/16).

Ela fala também que não é só a polícia, são os taxistas que são os "espiões dos pêpa , os assédios que passa por ser mulher e tá só, mas fala: 13

podem até achar que ando só, mas Exu tá comigo, até porque estou no território dele, e é por isso que pixo muito Exu parede, Exu reina ou até mesmo Exu te ama(risos) (Elafantxe, 22/04/16).

Fala ainda que as tretas14 entre os interventores da cena, é uma das dificuldades, que as dificuldades geram greia e instiga mais, 15

é muito doido esse lance que os macho pixador falam de "a rua é de todos", é isso mesmo de todos no masculino porque quando chega uma guel, colocam banca. Como um cara que chegou em mim e falou que tava de saco cheio dos meus elefantes..(gargalhadas), falou que fui pixar nas área dele, daí pô.. a única coisa que pude dizer a ele foi, "meu irmão, se não tá gostando!, passe por cima, deixe sua tag ou sei lá passe latex, porque enquanto eu não tiver

13Espiões dos pêpa - Espiões da polícia 14treta - confusão

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abusada dos meus elefantes, vai rolar ainda muuuuuuitas manadas! (Elafantxe, 22/04/16).

Perguntei para ela se tem alguma referência querer estar nas ruas. Ela falou que sempre gostou de pixar, desde criança. E que sempre observou as paredes, e uma das referências mais fortes para ela é Sheep. Ela falou que todos os dias passava na cidade observando muros, entre 2010 e 2011, e via que havia uma ovelha bem grande nela. No qual se interessou e começou a perceber que tinha em outros lugares junto com desenhos

poxaa... pra mim Sheep foi o ponto, porque sempre passava por uma parede que tinha uma ovelha bem grande, e foi ai que comecei a perceber que não precisava ser só nomes ou letras para ser tag, poderia ser qualquer coisa até mesmo um desenho. E o mais legal de tudo que foi quando eu conheci ela, que eu já conhecia Bia, mas não como Sheep, e ai quando soube que era ela, poo...(gargalhadas), foi muito engraçado, e acho ela bem importante na história das intervenções feita por mulheres na nossa cidade, como na criação da minha tag (Elefante, 22/04/16).

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FIGURA 18: Pela via costeira, 2015. Foto: Larissa Cristina

FIGURA 19:Pixação em lugar não localizado em Natal, 2016.

Foto: Elafantxe

Por onde passava deixava, pelo menos, um elefante. Ela falou que além do Rio Grande do Norte há intervenções no Maranhão, percurso que fez numa viagem de carona. “Por onde eu passo deixo pelo menos um elefante, que é tipo um.. 'Olha, passei por aqui', já deixei elefante no Rio de Janeiro, Vitória, Jampa (João Pessoa), em várias cidades de Pernambuco, e no percurso saindo do Rio Grande do Norte a Maranhão. Tá rolandoo..!"

Durante a entrevista, ela pediu para continuar no anonimato, que seu nome não fosse exposto, pois aí perderia a graça, se fosse revelado quem era. Ela fala também da pixadora Gatinho, e fala que ela também é uma de suas referências, e na visão da pixação a Gatinho foi fundamental no cenário feminino, "ela tirou muita

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onda, tinha muitos e eu adorava, principalmente porque era uma mulher, e mesmo buxuda tava nas ruas, quem fecha é ela!".

Terminamos nossa conversa, ela me deixou uma frase muito bela: "o que não fazemos por um risco de vida!". Achei fantástico, essa frase com a ambiguidade presente, e que ela falou que já havia pixado "risco de vida", e sempre que chega em casa fala para si mesma "poxaa...mas um risco de vida vivo".

Quando entrevistei a pixadora, há mais de um ano, percebi que ela mudou sua tag. Para ela a tag está sempre em processo de evolução e agora ela tá assinando “Elafantxe”, se assumindo como “ela”, já para não ter a dúvida de ser um “bixo”, e que é uma mulher intervindo.

FIGURA 20:Tag da Elafantxe no procon,Ribeira,2014. Foto: Portal no ar.

Essa pixação rendeu um artigo no Portal no Ar, em 4 de dezembro de 2015, no qual falava: “ As pichações são as mais diversas. Vão desde letras e códigos indecifráveis até mesmo desenhos, frases de autoajuda ou poemas e figuras, sendo

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a mais curiosa, a representação de um elefante pintada na fachada do prédio do Procon, no bairro da Ribeira.”

Outra pixação que ficou bastante conhecida foi, o “para mainha”, que ficou por quase um ano, na BR, próximo ao Sam’s Club.

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Foto: Acervo Elafantxe

FIGURA 22: Pixo na Via Costeira, 2016. Foto: Larissa Cristina

.2.1.6

V DE VAGINA

FIGURA 23: Pixação na BR 101. Foto: Acervo Pessoal

Com aparição notória no final de 2016 e dominando as ruas em 2017, “V” fala que a tag “V de Vagina”, não é dela, que outras meninas já assinaram e que é uma tag mundial. Ela coloca muito em foco a cor vermelha. Todas as suas tags são em tinta vermelha, tanto de spray como de canetão , no qual ela mesma faz. 16

não digo que é minha tag porque tenho amigas que também já assinaram e vejo constantemente essa tag em vários outros lugares. Também não poderia dizer que é minha tag porque ✓agina é mais um símbolo de subversão dessa sociedade machista e misógina, é uma demarcação de que uma mulher está ali ocupando esse espaço. Nesse processo de assinar ✓agina, decido fazer predominantemente em vermelho levando também pra outras interpretações do nome ✓agina, onde também é aparece como ✓aginas Sangram. O que remete essa dualidade de morte e vida do sangue O sangue da mulher que escorre entre suas pernas

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lindamente renovando seu ciclo e a sociedade tenta higienizar; o sangue da mulher que é derramado pela violência institucionalizada quando tira o direito dela de abortar e de ter escolhas sobre seu corpo e sua vida; quando a mulher tem seu corpo invadido por outro sem permissão, esse outro que tem a certeza de ter posse sobre o corpo da mulher; quando as chantagens, as agressões, os estupros dentro de um relacionamento é considerado romanticamente parte do que dizem ser Amor; quando ao dar a luz, a mãe perde a sua vida ou a do filho por uma falha médica, por desumanização em um procedimento mecânico e invasivo; quando a mulher é violada, julgada e silenciada por ser simplesmente mulher.” (V DE VAGINA, 21/05/2017)

FIGURA 24: Tag V de vagina, próximo a UFRN. Foto: Larissa Cristina

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Ela coloca em foco nossa sensibilidade, quando enuncia que “vaginas sangram”, no qual é censurada por todos os meios sociais e até por nós mulheres mesmo. Além da autonomia dela de afirmação feminina.

Na questão da opressão nas ruas, ela diz não ter sofrido tanto, acha que devido ter pouco tempo de rua. E afirma que na maioria de seus riscos, são feitos sozinhas ou com outras mulheres que pixam também. Ainda salienta que quando os pixadores chamam para riscar , é porque quer algo em troca.17

Percebemos que o lance na rua pra nós mulheres ou é ir sozinha ou com as outras, porque nas raras vezes que pixador chama uma mina pra fazer os riscos é com intenção de ficar/trepar com ela, e nisso demonstra que eles não consideram seu risco e sim sua buceta.( VAGINA 21/05/2017)

Devido ter passado por muitos assédios e opressões, pelo fato de ser mulher e andar só na madrugada, a instigou a pixar e foi através da pixação que ela achou uma forma de subverter e dividir suas dores com outras mulheres. E que não existe hora para ocupar os espaços, seja pela manhã, tarde, noite e madrugada, vamos estar transitando pelos espaços.

Por gostar de andar á noite e na maioria das vezes sozinha, já passei por alguns perrengues que não envolviam ainda a pixação, fui percebendo o que, na visão dos homens, uma mulher na rua nas madrugadas não é mulher de respeito. Várias situações nas ruas e em festas fui assediada e abusada por isso. A partir disso, tudo foi me instigando a subverter tais situações através da pixação e foi com a pixação que percebi que eu não estava só, que outras mulheres também compartilham desse incômodo, dessa dor, desse medo e silêncio. Através da pixação fui reafirmando a força que temos e que enfrentamos todos os dias, nas ruas, no trabalho, nas universidades, em casa e nos relacionamentos. ✓agina está em muitas paredes, placas e ônibus na cidade de Natal, é uma pequena intervenção que contribui nessa imensa luta e resistência da mulher nessa babilônia, vamos ocupando de dia, de madrugada e em qualquer lugar com o nosso direito de estar no mundo!! (VAGINA 21/05/2017).

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.3.1.7

AISHA

Umas das manas que destacou-se na cena do pixo, estando em vários lugares da cidade. Teve seu primeiro contato em 2015 com sua tag “TFAN”, que foi o seu contato inicial na rua, mas que logo deixou a tag, para “Aisha”, nome de origem Árabe, que significa “estar viva” ou “está vivendo”, se identificando com o nome,vendo sentido para o que ela estava passando por momentos difíceis com a depressão.

A pixação veio para ela como uma terapia, já que ela absorveu o valor do nome, fazendo ela superar a depressão, e querer sair, e se ver nas ruas. Seu contato nas ruas veio devido seu companheiro que também pixa, e que sempre a incentivou.

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FIGURA 25: Tag AISHA Foto:Larissa Cristina

Entrevistei ela pessoalmente, uma conversa, “troca de ideia”, ela fala de como foi a vivência de mulher na rua acompanhada por outros homens.

“eu sempre saia com o meu companheiro, e muitas vezes estávamos acompanhados pelos amigos dele, e assim nunca aconteceu nada de eu ser agredida, nem de tirarem onda, não acontecia...era até meio perceptivo , porque você já deve ter passado por isso, também de “há que legal uma mina pixando”, tem esse role sabe?!...no momento que ta acontecendo eu sempre me sentia isso, no momento que tava acontecendo eu me sentia muito silenciada, ou muito deslocada, porque eu tava num rolê que eu não conhecia, fazendo um role que eu sabia que podia rodá e com vários outros homens, que embora que tivesse esse role de “ai que legal e tal..”mas tem essa coisa do silenciamento, como se eu tivesse fazendo uma coisa que não era minha, não ficava à vontade naquele ambiente. E também que a relação entre eles, era com o meu companheiro, que eles já se conheciam, então não havia esse diálogo deles para mim e nem de mim para eles.” (AISHA,13/04/2018)

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Como a mesma fala que pixava mais com os caras, e que quando pixava com as meninas era diferente, de sentir-se segura, em seu lugar e confortável de esta correndo um risco de vida.

“Eu ficava acanhada também porque eu tinha uma ideia de porque eu tava começando, não queria pegar espaço de ninguém e tal, tenho que ficar na minha e esperar, e enfim, acho que é também porque a gente é mulher e aprende a falar baixinho a ta no nosso canto, e eu não me colocava muito nos momentos, pixava, mas ficava com essa tensão dentro de mim.” (AISHA,13/04/2018)

Ela pixou até o final de 2017, e fala que parou pois já não via mas sentindo dela na rua, dos traumas, medos que veio com o pixo, mas que ficaram nela.

“ae fui parando, fui parando por causa disso, pois já não me fazia bem o role, sabe?!já não me completava. Acho muito massa, muito instigante, é muito foda, mas tava me adoecendo já, e ae to vivendo os estudos hoje, tentando ficar bem,!”(AISHA,13/04/2018)

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.3.1.8 AIRA

FIGURA 26: Tag Aira Foto:Arquivo Pessoal

Pixadora, atuante desde 2014 sem parar até hoje. Ultimamente é a pixadora que é encontrada em todas as zonas de Natal. Assina “Aira”, devido seunome ser Maria, e estava procurando uma tag, e resolver escrever ao contrário, ficando ​Airam,

​ tirou o

​m”

​ e ficou Aira.

“ Eu tava procurando saber como ia ser meu risco, então assinei meu nome de trás para, ae eu gostei do segundo nome, Maria, de trás para frente, que ficou “Airam”, ae resolvi tirar o “M”, ae ficou Aira, ae eu dei valor ao nome e desde então é Aira!” (Aira, 10/06/18) Começou nas ruas juntamente com uma crew, o “Crikas”, um grupo de mulheres que atuava na rua, justamente para mostrar que tem mulher na rua.

“Eu fazia parte do Crikas, que era um grupo só de meninas, e o Crikas surgiu para mostrar que a mulher tá na rua sim, pixando também. porque crikas, porque muitas mulheres são considerada

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crianças, inocentes na pixação, de não desenvolver na pixação. que não tem capacidade neh?! é o que muitos homens pensam, só que aí nóis veio para mostrar que a mulher tá na rua e tá pixando também. Eu segui em frente com o grupo e continuei pixando ​CKS18

até 2016, dois anos, ae o grupo acabou e eu continuei pixando. Pixando Aira e pixando cks, o Crikas, ae depois de um tempo conheci o Naipes, e me chamaram para fazer parte, aé agora sou

NPS ,

19 ae to desde 2014, sem parar. (Aira, 10/06/18)

Fala do preconceito que ela passa pelo fato de ser mulher e tá na rua, de que muitas vezes é cobrada em dobro por isso, pois não basta ter nomes em vários lugares, tem que ter no alto também.

FIGURA 27: Tag NPS Foto: Arquivo Pessoal

“Sobre preconceito na pixação por ser mulher, entre os que eu andei, não sofri tanto, mas entre os que não andei, já ouvi muitos comentários, de porque sou mulher, porque não tenho capacidade, porque uma mulher não sobe numa marquise só pixa em baixo, porque ela não pega predio só pega em baixo. Então essas coisas eu quis mostrar que a mulher ela tá na rua e ela pode fazer sim, ela pode fazer seu corre, pode pegar uma marquise, um beiral onde for, seja em baixo ou no alto, se ela tá na rua se ela ta mostrando que ela tá na rua, mostrando que é pixadora, ela pode pegar o pico onde ela quiser independente de comentários. Agora silenciada, eu nunca fui, nunca tentaram calar minha voz porque eu não dei brecha para que isso aconteça, sempre tive voz ativa, sempre questionei, e sempre coloquei os peito mesmo,para não deixar que isso aconteça”(Aira,10/06/18)

18 CRS - Crikas, crew que Aira asia parte. 19 NPS - Naipes, crew que Aira faz parte

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Atua nas ruas muitas vezes com os homens, e fala que se sente mais segura em andar com outras pessoas do que pixar só, pois sente-se vulnerável. Ela fala até que já teve que correr, pois estava sendo perseguida por um carro.

“A mulher quando tá na rua sofre muitos assédios, eu já fui perseguida por um carro, eu tava indo pixar e entrei numa rua escura e apareceu um carro e parou e tirou onda e colocou o carro para cima de mim e tive que correr e eu tava sozinha. Então quando a mulher é vista na madrugada ela é denominada neh?!puta num sei o que, já tem essa característica, porque é uma mulher sozinha na madrugada. E quando eu comecei eu andava sozinha, tinha um grupo de mulher, mas andava só também. É muito diferente quando a mulher sai para pixar com um grupo de homens de quando tá sozinha, a gente sofre menos assédio.”(Aira, 10/06/18)

FIGURA 28:Letreiro Aira Foto: Arquivo Pessoal

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FIGURA 29: Letreiro estudos Aira Fonte: Arquivo Pessoal

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.3.1.9

PRETA CATÃO

FIGURA 30: Dedos tag, de Preta Catão FOTO: Acervo pessoal

Interventora de rua desde 2012, nos estudo e experimentos nas ruas, tem sua tag dedos, vários dedos no qual ela explica o porquê dos dedos e o Catão.

“minha tag é um dedo, são os dedos, eu faço os dedos. eu gosto de dedos desde criança assim, ficava olhando meus próprios dedos assim, ficava viajando, queria fotografar, queria guardar, só que não tinha como guardar, ae eu desenhava para lembrar daquilo depois. ae fiquei pintando os dedos,uma vez achei de juntar vários pés mas nunca desenhei, mas desenhei só os dedos, parecia um pé,mas era só de dedos. E eu gosto, eu acho que dedo representa um bucado de coisa para mim, porque é com as mãos que eu faço as coisas, tudo que eu queria desde que criança, eu tinha que fazer, produzir com minhas próprias mãos, eu pirava nas mãos e os dedos surgiram.(Catão,11/06/18)

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E fala que em seu percurso nas ruas, não recorda de preconceito, mas da questão de espaço. Que os meninos sempre ficavam com os maiores espaços, e muitas vezes até delimitavam onde ia pintar.

“No graffiti, na rua, lembro da questão de espaço,de ser espremida, tipo, “ah vamos pintar, eu fico com essa parte e você fica com essa parte ai” e sempre ficava com um lugar péssimo. E desde 2012 que assino Dani Catão e atualmente assino Preta Catão”(Catão,11/06/18)

Preta catão coloca nas paredes muito a questão do mundo robótico, e fala que já que ela não vai viver essa era, ela desenha e coloca nas paredes.

FIGURA 31:

FIGURA 31: Do lado esquerdo Sheep e do lado direito Preta Catão FOTO: Acervo Pessoal

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FIGURA 32:

FIGURA 32: estudos dos robôs com seus dedos, em praia de Santa Rita Foto: Acervo Pessoal

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FIGURA 33:

FIGURA 33:Estudos de dedos, Tag. Foto: Acervo Pessoal

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Eu, Consuelo Oleusnoc - C.O

​ ​ FIGURA 34: senhora na BR 101, 2016. FOTO: Arquivo pessoal

Estou nas ruas como falei inicialmente, há cinco anos. Comecei com intervenção de lambe-lambe, em seguida comecei a riscar várias coisas. Só há um pouco de mais de três anos que comecei a pintar, grafitar. Abrindo uma porta que pra mim, foi e é fundamental no meu estilo de vida hoje, pois compreendo o que é você sair do seu local e enfrentar vários quilômetros, por uma paixão, pelo graffiti.

A Consuelo Oleusnoc surgiu de uma montação, uma personagem, na qual surgiu em 2015, e como tive bastante dificuldade com a questão de assinatura, já que tinha muitas e escolher uma era bem difícil. Então a Consuelo veio para me salvar, e ficou o “C.O”, sendo que o “O” é um símbolo, para muitos de ouro, mas na verdade é só um “o” mesmo, no qual retirei de um dos alfabetos da pixação.

Fiz vários contatos, principalmente de mulheres grafiteiras, já que a maioria dos encontro que fui de graffiti, eram femininos. Meu primeiro encontro foi no Cores

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Femininas Encontro Internacional de Graffiti e Hip Hop Feminino de Recife - PE, que aconteceu em outubro de 2015 e foi fundamental para mim, já que foi lá que assinei pela primeira vez como “C.O”. E foi lá, também, que me fortaleci e entendi o motivo destes encontro só de mulheres, pois precisamos destes momentos, de ouvir a outra, de fortalecer a outra e de incentivar a amiga. Agradeço as alianças que fiz desde esse encontro que são para a vida, como a ​Erê, que também trabalha com a20 questão da velhice, de senhoras sereias. Como também ​Nene Surreal , Mulher,21

negra, grafiteira e vovó, que coloca o empoderamento da mulher negra em seus graffitis, tendo mais ou menos 20 anos de estrada.

2016, tive o prazer de ir até vitória- ES para “FEME - Festival de Mulheres no Graffiti e no Hip Hop”, que também foi maravilhoso, pois já estava precisando dessa união. Fiz várias alianças, que também é para a vida toda, como as meninas da “Libre”, que foi quem organizou o evento.

Uma das maiores incentivadoras para mim grafitar, foi a ​Bia Rocha, a “Sheep”, que sempre me chamou para pintar, que muitas vezes até me deu material, então é uma das pessoas mais importantes para meu desenvolvimento de traços na rua, de querer me ver também.

Comecei a fazer intervenções de lambe-lambe, com a temática de desconstrução de gênero, com travestis e colocando a questão da mulher trans em destaque. Além do empoderamento do gozo feminino, foi uma das bandeiras que levanto até hoje, o “masturbe-se”, foi bastante importante até mesmo para o empoderamento do meu próprio corpo.

20Erê - Graffiteira de São Paulo-SP, residente em Manaus-AM 21 Nene Surreal - Uma das mais antigas graffiteiras, de Diadema - SP

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FIGURA 35: Lambe- lambe no viaduto da UFRN. 2013.

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FIGURA 37: Lambe - lambe na Av. Salgado Filho, 2014.

Em seguida comecei a fazer algumas pixações, com frases de apoio à mulher e referências a orixás, como “Salubá” que é uma saudação a orixá Nanã. E logo em seguida, comecei a pintar, fazendo meus desenhos próprios só que não assinava nada. E só quando eu achei minha assinatura, a minha tag em 2015, que comecei a assinar C.O.

Referências

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