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Investigação na Enfermagem: o Interacionismo Simbólico na Teoria Fundamentada em Dados construindo evidências qualitativas na prática clínica

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Academic year: 2021

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Investigação na Enfermagem: o Interacionismo Simbólico na Teoria

Fundamentada em Dados construindo evidências qualitativas na prática

clínica

Maria da Graça Oliveira Crossetti1, Marta Georgina Oliveira de Góes2, Carolina Giordani3 e Bárbara Potzik4 1Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica, Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,

Brasil. mgcrossetti@gmail.com;

2 Unidade de Diagnóstico e Tratamento Cardiovascular, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Brasil. mgogoes@gmail.com;

3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. carol.giordani@gmail.com;

4 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil.barbarapotzik@hotmail.com

Resumo. O desenvolvimento da investigação em Enfermagem se expressa pelo avanço do conhecimento das tecnologias em saúde, em atenção às necessidades específicas da população em diferentes dimensões e contextos. A aplicação do referencial do Interacionismo simbólico e do método da Teoria Fundamentada em Dados considera a aproximação dos princípios que os estruturam com a natureza do fenômeno em estudo na enfermagem. Neste contexto se objetiva apresentar o Interacionismo Simbólico como referencial teórico na Teoria Fundamentada em Dados para a investigação na Enfermagem e construção de evidências qualitativas na prática clínica. A construção do conhecimento na enfermagem, a partir da sua prática clínica, encontra no Interacionismo Simbólico e na Teoria Fundamentada em Dados referenciais que embasam a importância da interação humana na construção das relações de cuidado.

Palavras-chave: Interacionismo simbólico; Pesquisa qualitativa; Enfermagem; Teoria fundamentada em dados

Nursing Research: Symbolic Interactionism in Grounded Theory Building Qualitative Evidence in Clinical Practice

Abstract. The development of nursing research is expressed through the advancement of knowledge of health technologies, in response to the specific needs of the population in different dimensions and contexts. The application of the symbolic Interactionism referential and the method Grounded Theory considers the approximation of the principles that structure them with the nature of the phenomenon under study in nursing. In this context, the aim is to present Symbolic Interactionism as a theoretical reference in the Grounded Theory for research in Nursing and construction of qualitative evidence in clinical practice. The construction of knowledge in nursing, based on the clinical practice, finds in Symbolic Interactionism and in the Grounde Theory that support the importance of human interaction in the construction of care relationships.

Keywords: Symbolic Interactionism; Grounded theory; Qualitative research; Nursing

1 Introdução

O desenvolvimento da investigação em Enfermagem se expressa pelo avanço do conhecimento das tecnologias em saúde, em atenção às necessidades específicas da população em diferentes dimensões e contextos. Condição que tem exigido dos pesquisadores em saúde e, em específico do enfermeiro desenvolver e/ou se apropriar de referenciais teóricos, filosóficos e metodológicos que orientem a busca de evidências clínicas qualitativas no cotidiano da prática profissional. Neste contexto, destacam-se a aplicação do referencial do Interacionismo Simbólico (IS) e do método da Teoria Fundamentada em Dados (TFD) considerando a aproximação dos princípios que os estruturam com a natureza do fenômeno em estudo na enfermagem. O IS, segundo Lopes e Jorge, (2005), se adequa como referencial teórico para a Enfermagem em razão do contínuo relacionamento humano, que acontece entre pacientes e a equipe de enfermagem, a qual necessita do processo interativo

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para o exercício pleno de seu ofício. Este estudo de abordagem teórico-reflexiva teve como objetivo apresentar o Interacionismo Simbólico como referencial teórico na TFD para a investigação na Enfermagem e a construção de evidências qualitativas na prática clínica.

1.1 Interacionismo simbólico

O Interacionismo Simbólico de acordo com Jeon

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(2004) teve seus fundamentos estabelecidos no início dos anos 1900 por George Herbert Mead, um psicólogo social da escola sociológica de Chicago, o qual foi influenciado pelo pragmatismo americano. Pragmáticos sustentam que os seres humanos passam por um processo contínuo de adaptação em um mundo social em constante mudança e que a existência de uma mente por meio da qual uma situação é contemplada torna viável este processo. O IS avançou e recebeu este nome por outro sociólogo da Universidade de Chicago, Herbert Blumer, que seguiu o trabalho de Mead ao consolidá-lo como uma abordagem de pesquisa. A contribuição de Mead foi principalmente filosófica; enquanto que Blumer esteve mais preocupado com a interação simbólica como teoria sociológica e abordagem de pesquisa (Jeon, 2004). Para Blumer, (1969), o Interacionismo Simbólico não é uma doutrina filosófica, mas uma perspectiva da ciência social empírica, cuja abordagem foi projetada para produzir conhecimento comprovável da vida dos seres humanos em grupo e da conduta humana. Para o Interacionismo Simbólico, importa o significado, a interação social dinâmica entre os seres humanos mediados pela sociedade. Segundo Pons, (2010), a premissa básica do Interacionismo é a de que o comportamento humano está conectado com o significado dos objetos; este significado atribuído pelo sujeito vai depender da sua interação social com outros sujeitos no seu ambiente e, em última instância, dos significados aprendidos em sua experiência social interativa. O IS, conforme Blumer (1969) está baseado em três premissas. Na primeira, o ser humano age em relação a tudo que compõe o mundo ao seu redor a partir dos significados por ele atribuídos. Na segunda premissa, estes significados são derivados, ou surgem da interação social que têm com os semelhantes. Na terceira, os significados podem ser modificados pelo ser humano por meio de um processo interpretativo ao interagir com tudo o que compõe o mundo ao seu redor. É fundamentado em ideias básicas as quais descrevem a natureza dos seguintes temas: grupos humanos, objetos, ser humano, ação humana. Ainda são relevantes os conceitos de símbolo, self, mente, assumir o papel do outro, linguagem, interação social.

1.2 A Teoria Fundamentada em Dados

A Teoria Fundamentada em Dados foi desenvolvida por Barney G. Glaser e Anselm Strauss durante suas pesquisas sobre o processo de morte em hospitais e apresentada no livro The Discovery of Grounded Theory, em 1967, onde os autores articularam as estratégias e defenderam o desenvolvimento de teorias a partir da pesquisa baseada em dados, em vez da dedução de hipóteses analisáveis a partir de teorias existentes (Charmaz, 2005, 2006, 2009).

A consolidação do método, segundo Charmaz (2009), prosseguiu com os estudos de Strauss e Juliet Corbin ao incluir a verificação e o desenvolvimento de novos procedimentos técnicos em oposição aos métodos comparativos. Glaser, de acordo com Charmaz (2006, 2009) permaneceu com o princípio inicial do método, a TFD enquanto método de descoberta, enfatizando que as categorias surgem a partir dos dados, baseada no empirismo objetivo e restrito em um processo social básico. O referencial teórico na TFD é utilizado para explicar a sua lógica e orientação conceitual, destacar as ideias principais, reconhecer os estudos anteriores, situar a nova teoria em relação a estes estudos e justificar o significado dos conceitos elaborados pelo pesquisador.

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1.3 Aplicação do Interacionismo Simbólico na Teoria Fundamentada em Dados

O Interacionismo Simbólico na Teoria Fundamentada em Dados, segundo Charmaz (2009) é a resultante da influência da escola sociológica de Chicago sobre Anselm Strauss, a qual via os seres humanos como agentes ativos em suas vidas e ao seu redor, e que não são passivos às forças sociais que os envolvem. Strauss trouxe para TFD as noções da atividade humana, dos processos emergentes, das significações sociais e subjetivas, das técnicas e soluções de problemas e do estudo integral da ação. Em sua perspectiva teórica, o IS entende a sociedade, a realidade e o indivíduo como estabelecidos por meio da interação e, desse modo, conta com a linguagem e a comunicação. Esse ponto de vista pressupõe que a interação é fundamentalmente dinâmica e interpretativa, e trata-se de como as pessoas criam, representam e alteram os significados e ações. A TFD construtivista em uma perspectiva interacionista simbólica proporciona uma imagem interpretativa do mundo estudado e não uma reprodução fiel deste (Charmaz, 2006, 2009).

Carvalho, Silva, Oliveira e Camargo (2007) salientaram que o Interacionismo Simbólico nos estudos da Enfermagem permite o entendimento das respostas humanas por desvelar os significados que o indivíduo atribui às situações vividas, valoriza a linguagem do discurso, como também a linguagem simbólica a partir de seu comportamento.

A TFD construtivista propõe as seguintes etapas de codificação: inicial, focalizada, axial e teórica. Para Charmaz, (2005, 2006, 2009), na codificação inicial, o pesquisador deve ater-se aos dados utilizando palavras que remetam a ação, por isso é recomendada a utilização do tempo verbal no gerúndio para reforçar a ideia de construção.

Durante as entrevista é relevante atentar para linguagem a qual é um símbolo usual no expor e particularizar o que se observa, pensa ou imagina para aludir ou exibir a realidade social. O uso da palavra nos diálogos e outros símbolos, como gestos, condutas, ações, têm significados sociais, que são estabelecidos nas interações e que apenas tornam-se símbolo quando adquirem sentido para quem os utiliza (Mead, 1967, Blumer, 1969, Carvalho, Silva, Oliveira & Camargo 2007). A redação dos memorandos ou memos é uma etapa intermediária essencial entre a coleta de dados e a redação dos achados de pesquisa. Estes registram as impressões e conexões do pesquisador ao mesmo tempo em que sinalizam para direções a serem investigadas ou aprofundadas (Charmaz, 2009). O referencial teórico permeia a pesquisa desde a coleta de dados na observação cuidadosa dos participantes até as impressões do pesquisador registradas nos memos após as entrevistas (Crossetti, Goes & Brum, 2016).

Na codificação focalizada, utiliza-se os códigos anteriores mais importantes para analisar grande quantidade de dados e selecionar os que possibilitem uma compreensão analítica do fenômeno em estudo. Identificam-se quais dentre as ideias básicas do IS: grupos humanos, objetos, ser humano, ação humana. E os conceitos de símbolo, self, mente, assumir o papel do outro, linguagem, interação social são preponderantes na compreensão do fenômeno estudado (Charmaz, 2006, 2009, Goes, 2016). Na codificação axial, são especificadas as propriedades e dimensões de uma categoria; nesta etapa, busca-se a compreensão das condições, circunstâncias ou situações que estruturam o fenômeno em estudo, ações e/ou respostas dos indivíduos frente às circunstâncias e às consequências que são os efeitos das ações ou interações identificadas anteriormente (Charmaz, 2006, 2009).

Na codificação teórica, são especificadas as relações possíveis entre as categorias desenvolvidas nas etapas anteriores possibilitando identificar a categoria central, e integrar e delimitar a abrangência da teoria em atenção ao objetivo da TFD. As ideias do IS permeiam toda essa construção teórica, sendo que o pesquisador é sujeito ativo neste processo (Goes, 2016).

A TFD na enfermagem propicia um caminho para compreender o processo da interação social dentro da profissão e o modo como os enfermeiros gerenciam as situações que enfrentam na prática

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(Andersen, Inoue & Walsh, 2012). Condição que se constata nos estudos desenvolvidos por Goes, (2016) e Brum, (2017).

A aplicação do Interacionismo Simbólico com a TFD possibilitou a construção do modelo de cuidado espiritual para os pacientes e familiares no enfrentamento das situações de adoecimento. Essa construção se deu pela história, crenças, valores e práticas das enfermeiras e técnicas de enfermagem originando uma compreensão e interpretação conceitual sobre o tema da espiritualidade como constructo no ressignificar o adoecimento, contribuindo para o estabelecimento de evidências qualitativas na prática clínica de enfermagem (Goes, 2016). Ao desenvolver um modelo teórico de cuidado espiritual Brum (2017) demonstrou que o diálogo sobre a saúde/doença se inicia no processo de transição da adolescência para vida adulta dos adolescentes com hiv/aids. Este modelo ao considerar a espiritualidade, permite ao enfermeiro, possibilitar a (re)abertura do adolescente para o cuidado com sua própria saúde e como (co)responsável pela sua recuperação e/ou manutenção da sua condição clínica, premissas que refletem a importância de se fundamentar a interação entre os sujeitos do cuidado.

2 Considerações finais

A construção do conhecimento na Enfermagem encontra no Interacionismo Simbólico e na Teoria Fundamentada em Dados referenciais que embasam a importância da interação humana na construção das relações de cuidado. Estes referenciais possibilitam que os achados demonstrem a realidade sob diversos olhares, os quais em conjunto irão revelar os diferentes aspectos de um dado contexto social. Na Enfermagem, esta associação concebe a representação de um fenômeno estudado, dos sujeitos e do contexto de cuidado. O indivíduo que está vivenciando o adoecimento está a exigir outras formas de intervenções que atendam a sua integralidade e que sejam oriundas de evidências qualitativas na prática clínica.

Referências

Andersen, P., Inoue, K. & Walsh K. (2012). An animated model for facilitating understanding of Grounded Theory and the processes used to generate substantive theory. J Res Nurs., , 18(8), p. 734-743.

Blumer, H. (1969). Symbolic interactionism: perspective and method. Berkeley: University of California Press.

Brum, C.N.(2017). Modelo Teórico De Cuidado Espiritual Ao Adolescente Vivendo Com Hiv/Aids Na Transição Para A Vida Adulta (Tese de doutoramento). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Brasil.

Carvalho, L. S., Silva, C. A., Oliveira, A. C. P. & Camargo, C. L. ( 2007). Interacionismo simbólico e enfermagem pediátrica. R. Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 119-124,.

Charmaz, K. (2009). A construção da teoria fundamentada: guia prático para análise qualitativa. Porto Alegre: Artmed.

Charmaz, K. (2005).Grounded theory in the 21st century: applications for advancing social justice studies In

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Charmaz, K. (2006).Constructing grounded theory: a practical guide through qualitative analysis. London: Sage, e-book Kindle.

Crossetti, M. O., Goes, M. G., & de Brum, C. N. (2016). Application of Constructivist Grounded Theory in Nursing

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Favero, L.; Wall, M. L. & Lacerda, M. R. (2013). Diferenças conceituais em termos utilizados na produção científica da enfermagem brasileira. Texto Contexto Enfermagem, 22( 2), 534-542. Goes, M.G.O. (2016). Ressignificando o adoecimento: modelo de cuidado espiritual. (Tese de

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Jeon. Y.H. (2004).The application of grounded theory and symbolic interactionism. Scandinavian Journal Caring Science, 18(3), p. 249-256.

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Mead, G.H. (2009 ). Mind, self, and society: from the standpoint of a social behaviorist: Chicago: University of Chicago Press, 9. Works of George Herbert Mead, v. 1. eBook Kindle

Pons, X.D. (2010). La aportación a la psicología social del interaccionismo simbólico: una revisión histórica. Edupsikhé: Revista Psicologia. Psicopedagogia. 9(1), p. 23-4

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