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O Programa Educação pelo Trabalho para a Saúde - PET-Saúde/Prevenção do Câncer de Boca na Formação de Recursos Humanos: Autopercepção de Estudantes de Graduação

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O Programa Educação pelo Trabalho para a Saúde - PET-Saúde/Prevenção

do Câncer de Boca na Formação de Recursos Humanos: Autopercepção de

Estudantes de Graduação

Cecilia Kohl1, Sandy Lantz1, Christina Lindh1, Nádia do Lago Costa2 Maria do Carmo Matias Freire2 e Rejane Faria Ribeiro-Rotta2

1 Departamento de Diagnóstico Oral, Faculdade de Odontologia, Malmö, Suécia. cecilia.kohl@hotmail.com; christina.lindh@mah.se; sandy.lantzia@hotmail.com.

2 Programa de Pós-Graduação em Odontologia Universidade Federal de Goiás, Brasil. nadialago@hotmail.com; mcmfreire@yahoo.com.br; rejanefrr@gmail.com.

Resumo. O objetivo deste estudo foi investigar a percepção de estudantes de graduação acerca da sua

atuação no Programa Educação pelo Trabalho para a Saúde - PET-Saúde/Prevenção do Câncer de Boca, em uma universidade pública brasileira. Um estudo qualitativo foi realizado com dez estudantes da área de saúde da Universidade Federal de Goiás que participaram do PET-Saúde no período 2013-2015. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas individuais e analisados utilizando-se análise de conteúdo temática. A partir desta análise, quatro categorias foram estabelecidas: atitudes dos estudantes (em relação ao trabalho no PET-Saúde, à organização do programa, aos participantes do programa e aos pacientes), o trabalho no PET-Saúde, cenários de prática e demandas. Os estudantes apresentaram percepção positiva acerca da sua participação no PET-Saúde e da influência desta na sua formação profissional. Aspectos a serem aprimorados, referentes à organização do programa, também foram abordados.

Palavras-chave: Ensino na saúde; autopercepção; estudantes; câncer de boca; prevenção em saúde.

The Program for Education through Work for Health - PET-health/Oral Cancer Prevention and the Training of Human Resources: Self-Perception of Undergraduate Students

Abstract. The objective of this study was to investigate undergraduate students’ perception about their

work in the Program for Education through Work for Health - PET-Health/Oral Cancer Prevention in a Brazilian public university. A qualitative study was carried out with ten health students of the Federal University of Goias, Brazil, who participated in the PET-Health from 2013 to 2015. Data were collected through individual semi-structured interviews and analysed using thematic content analysis. Based on that, four categories were established: students' attitudes (regarding work in the PET-Health, the program organization, participants and patients), the work in the PET-Health, practice scenarios and demands. The students had a positive perception about their participation in the PET-Health and its influence on their professional training. Aspects to be improved regarding the organization of the program were also addressed.

Keywords: Health education; self-perception; students; oral cancer; health prevention.

1 Introdução

As mudanças socioeconômicas, epidemiológicas e demográficas ocorridas globalmente nas últimas décadas evidenciaram a necessidade de novas discussões e estratégias sobre os recursos humanos em saúde. Um aspecto fundamental neste contexto é a formação adequada dos futuros profissionais para atender às metas nacionais e globais de saúde (OMS, 2015). No Brasil, o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) foi instituído pelos Ministérios da Saúde e da Educação por meio da Portaria Interministerial MS/MEC nº. 1.802/08, com o objetivo de fomentar grupos de

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aprendizagem tutorial no âmbito da Estratégia Saúde da Família do Sistema Único de Saúde - SUS (Brasil, 2008). O PET-Saúde propõe ainda viabilizar programas de aperfeiçoamento e especialização em serviço dos profissionais da Saúde, bem como de iniciação ao trabalho, estágios e vivências dirigidos aos estudantes da área, por meio do pagamento de bolsas.

O referido programa é direcionado às Instituições de Educação Superior, abrangendo cursos de graduação da área da Saúde e Secretarias Municipais de Saúde. Em janeiro de 2009, tiveram início os primeiros grupos PET-Saúde, sendo cada um formado por 1 (um) tutor acadêmico, 30 (trinta) estudantes e 6 (seis) preceptores (profissionais dos serviços de saúde).

A Universidade Federal de Goiás (UFG) participou do PET-Saúde desde o seu início, com projetos contemplados em processos seletivos por meio de editais, tendo a participação de sete cursos na área da saúde. O mais recente é o Projeto PET-Saúde Redes de Atenção à Saúde, realizado no período 2013-2015, com a participação dos cursos de Medicina, Enfermagem, Odontologia, Nutrição e Farmácia. O objetivo geral deste projeto foi “Contribuir para o fortalecimento da Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas e a Rede de Urgência e Emergência por meio da integração entre a UFG e a Secretaria Municipal de Goiânia (SMS-Goiânia), articulando ações de promoção da integração ensino-serviço-comunidade e educação pelo trabalho por meio do fomento de grupos de aprendizagem tutorial no âmbito do desenvolvimento das redes de atenção à saúde.” (UFG/SMS, 2013, p.4).

As ações da Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas tiveram ênfase no câncer do colo do útero e na prevenção do câncer de boca. Para a sua realização, foram estruturados grupos tutoriais multidisciplinares de trabalho envolvendo docentes, discentes e profissionais de saúde da SMS de Goiânia e a comunidade.

O subprojeto relativo ao câncer de boca teve a tutoria de uma docente da Faculdade de Odontologia da UFG (FO-UFG), a participação de estudantes de graduação e a preceptoria de cirurgiões-dentistas da SMS. O objetivo foi realizar ações de promoção e prevenção em saúde na população vulnerável para o câncer de boca do município de Goiânia, com vistas à educação permanente em saúde e à otimização da acessibilidade ao tratamento. As ações foram desenvolvidas junto à SMS-Goiânia, em Distritos Sanitários de Saúde localizados nas regiões Sul e Leste, utilizando as seguintes estratégias: diagnóstico precoce das lesões potencialmente malignas ou malignas, matriciamento e rastreamento, apoiadas por um sistema de regulação/referência e contra-referência.

O PET-Saúde veio ao encontro da possibilidade de implementação da etapa piloto do projeto intitulado “Matriciamento e rastreamento do câncer de boca em Goiás” no município de Goiânia, que está ranqueada como a segunda capital de maior incidência de câncer no Brasil, estando o câncer de boca dentre os dez tumores de maior incidência (INCA, 2017).

Após quase uma década da implantação do PET, torna-se importante saber como se deram os processos de trabalho e se os objetivos do Programa foram alcançados. Diversos estudos com base na percepção de discentes participantes têm sido publicados, sendo a maioria das Regiões Sudeste e Sul (Caldas, Lopes, Mendonça, Figueiredo, Lonts, Ferreira, & Figueira, 2012; Freitas, Colomé, Carpes, Backes, & Beck, 2013; Pinto, Martins, Oliveira, Santos, Silva, Izidoro, Mendonça, & Lopes, 2013; Flores, Trindade, Loreto, Unfer, & Dall’Agnol, 2015; Madruga, L.M.S., Ribeiro, K.S.Q.S., Freitas, C.H.S.M., Pérez, I.A.B., Pessoa, T.R.R.F., & Brito, G.E.G., Senna, Gouvêa, & Moreira, 2016; Lourenço, Cordeiro, Capelli, Oliveira, Pontes, Almeida, & Barros, 2017). Considerando-se as desigualdades regionais e locais no país, a situação pode ser diferente entre as diversas localidades geográficas e instituições envolvidas. Ademais, é importante conhecer as ações realizadas pelos grupos tutoriais que abordaram a temática da prevenção do câncer de boca, em termos de vivências pelos estudantes da área. A questão norteadora do presente estudo foi: Como os estudantes que participaram de um programa de aprendizagem tutorial no âmbito da atenção básica do SUS percebem a experiência vivenciada no programa e as implicações desta para a sua formação?

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Assim, o objetivo do presente estudo foi investigar a percepção dos estudantes acerca da sua atuação no PET-Saúde/Prevenção do Câncer de Boca em uma universidade pública brasileira. Os resultados podem contribuir para as discussões que envolvem a avaliação do programa, buscando identificar aspectos positivos e aqueles que constituíram barreiras ou que necessitam de aprimoramento, na perspectiva dos estudantes.

2 Metodologia

2.1 Desenho do Estudo

Um estudo transversal descritivo-exploratório com abordagem qualitativa foi realizado (Minayo, 2014). A opção por este desenho deveu-se à natureza do objeto do estudo, que se refere às percepções dos indivíduos acerca de uma experiência acadêmica. Sem a preocupação de quantificar os aspectos estudados, a metodologia qualitativa possibilita que percepções, motivos e crenças sejam manifestadas pelos participantes, as quais podem contribuir para a compreensão destes aspectos.

2.2 População de Estudo

Os 12 estudantes de graduação da UFG que participaram do PET-Saúde Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas com ênfase na prevenção do câncer de boca no período 2013-2015 constituíram a população de estudo. Este grupo foi composto por estudantes de Odontologia (N=9), Medicina (N=2) e Enfermagem (N=1), os quais atuaram em cinco locais da SMS. O convite para a participação nesse estudo foi feito pela professora tutora da área de saúde bucal após a finalização da atuação dos estudantes no Programa.

2.3 Coleta dos Dados

Os dados foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada. Segundo Manzini (1990/1991), este tipo de entrevista tem como foco um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, e que podem ser complementadas por outras, referentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Esta modalidade pode possibilitar emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão limitadas a alternativas pré-determinadas. Desta forma, foi elaborado um roteiro pela equipe da presente pesquisa, com base em aspectos referentes à participação de estudantes de graduação da área da saúde em um programa governamental que visa diversificar os espaços de aprendizagem.

A coleta dos dados foi realizada de julho a agosto de 2015, em uma sala da FO-UFG. O entrevistador foi um estudante de Mestrado dessa instituição, sem envolvimento direto com o PET-Saúde. A entrevista foi individual e pré-agendada, e foi realizada por um auxiliar de pesquisa previamente treinado. Nenhum participante do programa além do estudante de graduação respondente esteve presente no momento das entrevistas, para evitar possíveis influências nas respostas. Não foi estabelecido limite de tempo para a realização de cada entrevista.

A entrevista consistiu de dez questões referentes à abordagem sobre a prevenção do câncer de boca no trabalho realizado pela equipe PET-Saúde; diferenças percebidas entre o trabalho no PET-Saúde e o que é realizado na universidade; diferenças entre os pacientes/indivíduos do PET-Saúde e os da universidade em relação às necessidades/demandas em saúde bucal; necessidade de mudança/melhoria na estrutura de trabalho da equipe local (da unidade de saúde) e do PET-Saúde como um todo; impacto das ações de educação em saúde bucal nos pacientes/indivíduos da

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comunidade; impacto do trabalho no PET-Saúde na prática clínica na universidade; impacto do trabalho no PET no futuro exercício da profissão; e diferença entre os estudantes que participaram do Programa e os que não participaram, em relação às habilidades adquiridas.

O número de participantes foi definido pela saturação/exaustão das respostas, ou seja, quando o pesquisador constatou que novas entrevistas não acrescentariam dados que pudessem contribuir para o desenvolvimento ou aprofundamento dos aspectos pesquisados.

Para gravar as entrevistas foi utilizado o gravador de voz de um computador com sistema operacional Windows (Microsoft Corporation, versão 10.1812.10043.0) e de um smart phone com sistema operacional iOS (Apple, Inc.), sem registrar os nomes dos respondentes. As gravações foram transcritas na língua portuguesa e posteriormente traduzidas para a língua inglesa, para possibilitar o entendimento pelas estudantes estrangeiras.

A etapa de coleta dos dados coincidiu com a atividade de intercâmbio de estudantes de graduação em Odontologia da Universidade de Malmö, Suécia (Projeto Minor Field Studies) na FO/UFG. Assim, duas estudantes suecas participaram como observadoras, sempre acompanhadas por pesquisadores brasileiros. O objetivo foi proporcionar às intercambistas a vivência da pesquisa qualitativa no contexto brasileiro, além de conhecer as atividades do PET-Saúde.

2.4 Análise dos Dados

Os conteúdos das entrevistas foram submetidos à Análise de Conteúdo Temática, segundo Bardin (2008). Duas pesquisadoras realizaram esta análise em três etapas: pré-análise, exploração do material e interpretação dos resultados. As pesquisadoras foram calibradas entre si comparando três entrevistas com anotações e discutindo as diferenças, semelhanças e significados do texto. Na pré-análise, realizaram leitura flutuante para identificação do corpus das entrevistas; em seguida, foram feitas leituras exaustivas para apreender as ideias principais e os significados gerais do material coletado. Na fase de exploração do material, as pesquisadoras procederam à codificação das unidades de análise temática baseada nos objetivos da pesquisa. O texto de cada entrevista foi recortado em unidades de registro (parágrafos), as palavras-chaves de cada foram identificadas, e foi feito um resumo de cada parágrafo para realizar a primeira categorização. As primeiras categorias foram agrupadas de acordo com temas correlatos, originando as categorias iniciais. Estas foram agrupadas tematicamente, originando as categorias intermediárias (subcategorias), as quais foram aglutinadas de acordo com a sua comunalidade, resultando nas categorias finais. Desta forma, foi realizada a categorização não apriorística do material para interpretação dos resultados, identificando a percepção dos estudantes acerca do trabalho no PET-Saúde. A última etapa foi a interpretação dos resultados, buscando captar os conteúdos expressos nas entrevistas, identificar semelhanças e diferenças entre as categorias que emergiram.

2.5 Aspectos Éticos

Foram seguidas as normas éticas para pesquisa em seres humanos estabelecidas na Declaração de Helsinque (1996) e pelo Conselho Nacional de Saúde (Resolução CNS 466/12), que regulamenta a pesquisa em seres humanos no Brasil. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFG. Os participantes foram convidados a participar voluntariamente e informados acerca do projeto e do seu direito de desistir a qualquer momento de participar da pesquisa, sem qualquer prejuízo. Todos os que concordaram assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

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3 Resultados

A partir da análise de conteúdo, quatro categorias foram estabelecidas: atitudes dos estudantes, o trabalho no PET-Saúde, cenários de prática e demandas. As categorias e respectivas subcategorias serão descritas a seguir.

3.1 Atitudes dos Estudantes

Esta categoria incluiu duas subcategorias: 1) Atitudes dos estudantes em relação ao trabalho no PET-Saúde e à organização do programa; 2) Atitudes dos estudantes entre si, e em relação aos pacientes e tutores

Atitudes dos Estudantes em Relação ao Trabalho no PET-Saúde e à Organização do Programa:

De acordo com alguns dos estudantes, o tema prevenção do câncer de boca tornou-se um assunto mais fácil de discutir depois de participar do programa. Eles também sentiram que tiveram a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre esta temática. No entanto, a maioria dos estudantes concordou que o conceito de PET-Saúde não estava claro antes de entrar no programa.

Para ser honesto, entramos no PET-Saúde sem saber o que era. Nós nos perdemos um pouco no começo. Nos primeiros meses, não tivemos muitos objetivos. Mas depois começamos a aprender mais sobre o programa, ficamos interessados nele e queríamos aprender mais sobre o câncer de boca.

Atitudes dos Estudantes Entre Si, e em Relação aos Pacientes e Tutores:

Uma opinião comum entre os estudantes era que os pacientes não estavam interessados nem na organização do PET-Saúde nem no trabalho preventivo. A percepção dos estudantes também foi de que o foco dos pacientes estava principalmente nos procedimentos de tratamento e nas mudanças visuais (estéticas) e melhorias que pudessem ser observadas em decorrência do tratamento.

[…] porque as pessoas, eu não vou generalizar, mas quase 100% delas, vão lá procurando atendimento médico ou qualquer outra coisa, ou apenas como acompanhante de um paciente, mas não para ver o dentista, para procurar atendimento odontológico.

Comumente discutido pelos estudantes foi a falta de engajamento entre alguns dos estudantes do PET-Saúde, cujo principal interesse era receber a bolsa proporcionada pelo programa, sem dar atenção ao trabalho dentro do mesmo. Além disso, consideraram que a carga de trabalho não é totalmente utilizada e muito tempo livre ocorre durante as horas programadas nas unidades de saúde.

[...] eles devem pedir mais dos estudantes, porque acho que é muito fácil.

3.2 O Trabalho no PET-Saúde

Esta categoria inclui as subcategorias: 1) Experiências adquiridas; 2) Prevenção do câncer de boca; e 3) Trabalho interdisciplinar

Experiências Adquiridas:

De acordo com os estudantes, suas experiências e seu nível de conhecimento aumentaram durante o período de atuação no PET-Saúde. Melhorias foram observadas em relação à sua interação social com os pacientes, sua maior confiança ao discutir o assunto prevenção do câncer de boca e aumento do nível de conhecimento sobre esta temática em comparação com os estudantes não envolvidos no programa. Além da experiência adquirida e do conhecimento, os estudantes também relataram desenvolvimento em nível pessoal.

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Eu acho que o PET-Saúde me ajudou mais do que ajudou os pacientes, porque abordou essa questão… pelo menos para mim… eu tenho medo da questão do câncer, certo?

Os estudantes acharam também que desenvolveram mais humildade e adquiriram habilidades sociais em situações com pacientes.

O que eu sempre achei é que o PET-Saúde te ajuda a pensar em outras pessoas, sabe? ... Você percebe que está lá e que vai passar informações para pessoas que nunca teriam essa informação se não estivessem lá, e que tal informação é importante para o futuro das pessoas, ajuda estas pessoas, ajuda a família a lembrar essa informação. Isso vale muito.

Prevenção do Câncer de Boca:

Os estudantes descreveram objetivamente seu trabalho para a prevenção do câncer de boca nas unidades de saúde, que consistiu de: 1) etapa informativa, onde eles tentaram alcançar os pacientes utilizando exemplos, por meio de palestras na sala de espera e durante as consultas clínicas 2) uso de um mural sobre câncer de boca como recurso educativo auxiliar nas salas de espera e ativamente entregando panfletos aos pacientes em espera para consultas. 3) oferta de exame clínico e orientação gratuitos sobre o câncer de boca, os fatores de risco e como fazer o auto-exame ou em outra pessoa.

[...] foi identificar pacientes que tinham lesões, também falando sobre câncer de boca, explicando sobre o câncer de boca aos pacientes, que às vezes não sabiam nada sobre isso. Eles não sabiam que o câncer poderia afetar a boca. Explicando sobre o auto-exame e a importância do diagnóstico precoce. E orientando os pacientes, que tinham interesse, para o auto-exame.

Trabalho Interdisciplinar:

Nas falas dos estudantes de odontologia emergiu a oportunidade de experimentar o trabalho interdisciplinar nas unidades de saúde, que não é realizado no âmbito da faculdade.

Pude observar a nutricionista e fazer comentários sobre odontologia. Se houvesse algum paciente acamado, que estivesse usando uma alimentação por sonda, eu poderia estudar a cena, observar se ela estava usando uma prótese e poderia orientá-la sobre como lidar com essa prótese, orientar a família […].

3.3 Cenários de Prática

Esta categoria foi dividida em duas subcategorias: 1) A faculdade e 2) As unidades de saúde. Os estudantes compararam os dois locais de trabalho e discutiram as vantagens e desvantagens dos dois locais.

A Faculdade:

A faculdade é, de acordo com a maioria dos estudantes, um “lugar rígido” quando se trata de cuidar dos pacientes. Alguns dos estudantes expressaram a dificuldade de encontrar tempo para ver o paciente inteiro devido à pressão de ser avaliado incessantemente por suas habilidades e desempenho em combinação com a pressão do tempo e a falta de tempo. Outro aspecto que muitos estudantes levantaram durante as entrevistas foi o sentimento de deficiência na educação que recebem na faculdade em relação ao câncer de boca e os fatores sociais relacionados.

Então, quando você vem aqui, você lembra um pouco disso. Você pára de se preocupar em ser avaliado. Eu vou fazer uma restauração e ser avaliado pela restauração aqui. Lá você pode prestar atenção em outras necessidades do paciente, verificar se tem alguma dúvida, falar mais com o paciente, mesmo sabendo que não está sendo avaliado sobre isso.

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Alguns estudantes afirmaram que os docentes que atuam no PET-Saúde têm alta competência e estão sinceramente engajados em seus projetos em conjunto com os estudantes. Este compromisso foi altamente apreciado entre os estudantes, pois o envolvimento do docentes inspira os estudantes a realizarem o seu melhor, o que aumenta ainda mais a sua motivação no estudo.

Uma opinião comum expressa por todos os estudantes foi que os pacientes atendidos na faculdade eram frequentemente bem informados sobre seus problemas dentários. Isso pode ser explicado pelo fato de estes pacientes serem encaminhados por diferentes unidades de saúde ou hospitais e já terem obtido informações relacionadas à sua condição e tratamentos.

As Unidades de Saúde:

Muitos estudantes expressaram como aspecto positivo o maior tempo para trabalhar com os pacientes nas unidades de saúde, em comparação com a faculdade. Com isso, sentiram que tiveram a oportunidade de conhecer os pacientes em um nível mais aprofundado, o que teve um efeito positivo no tratamento e no resultado final. Vários estudantes de odontologia sentiram que, após participar do PET-Saúde, suas atitudes em relação aos pacientes mudaram e evoluíram para uma abordagem mais holística, com maior foco nas condições de saúde e de vida em geral, não apenas na saúde bucal.

Uma constatação comum foi a percepção de que eles usavam termos técnicos com frequência na faculdade enquanto se comunicavam com os pacientes durante o tratamento. De acordo com os estudantes, é necessária uma abordagem diferente para alcançar plenamente os pacientes e ter um diálogo apropriado em que as mensagens e as recomendações possam ser adequadamente compreendidos.

[…] “mucosa bucal”, coisas assim. É muito técnico aqui. Então, quando você sai, não pode usar esses termos, porque os pacientes não o entenderão se você o fizer. "Oh, examine sua mucosa oral". Nós não podemos usar esses termos. Temos que usar uma linguagem mais acessível.

Alguns estudantes sentiram que os tutores muitas vezes não tinham engajamento quanto à orientação dos estudantes nas unidades de saúde como resultado de seu trabalho de rotina interferindo em seu trabalho tutorial. No entanto, outros estudantes perceberam a situação de forma diferente. Outra opinião foi que os tutores se dedicavam completamente ao seu trabalho e queriam compartilhar seus conhecimentos com os estudantes. Esses estudantes sentiram que tiveram a oportunidade de receber um conhecimento mais profundo sobre a odontologia em geral e também sobre o SUS em comparação ao tempo anterior à participação no PET-Saúde.

Agora, para os preceptores, percebo que, às vezes, não é falta de interesse, mas eles já têm seu trabalho a fazer.

3.4 Demandas

Os participantes revelaram algumas demandas e necessidades relacionadas a fatores que afetaram negativamente o processo de trabalho. Esta categoria foi dividida nas subcategorias: 1) Estrutura; 2) Embasamento; e 3) Ações de promoção de saúde.

Estrutura do PET-Saúde:

Um aspecto que foi repetidamente abordado pelos estudantes diz respeito a algumas deficiências estruturais no PET-Saúde em relação ao fluxo de trabalho organizado para os estudantes envolvidos no programa. Um problema vivenciado foi a falta de atividades para os estudantes nos períodos em que o número de pacientes era limitado e as ações preventivas não podiam ser realizadas. Sem quaisquer atividades alternativas para o envolvimento dos estudantes, o tempo gasto nas unidades

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de saúde poderia facilmente ser ocioso, uma vez que a carga de trabalho dependia totalmente da quantidade de pacientes que atendiam aos critérios para receber as orientações.

Então, às vezes, por exemplo, os alunos que estavam no [nome da unidade de saúde omitido por razões éticas] não viram muitos pacientes. Ficamos lá por horas sem fazer nada além de esperar. Às vezes dava uma orientação para alguns pacientes, mas não havia muita gente… Às vezes não tem muito o que fazer, fica ali sentada, esperando o tempo passar… acho que é isso que eu mudaria: promover mais atividades para estudantes.

Embasamento sobre o PET-Saúde:

Outro assunto discutido foi a falta de informação sobre o programa PET-Saúde ao entrar no projeto, mas também quando estavam em campo. Os estudantes descreveram a situação como desorganizada e desconcertante, pois não obtiveram nenhum esclarecimento sobre as suas tarefas e o que se esperava deles.

Eu acho que às vezes os estágios eram um pouco desorganizados ... porque no começo, um amigo e eu, ambos da faculdade de medicina, os que nunca tiveram contato com a área odontológica, tivemos dificuldade em entender como fazer as coisas porque era um mundo novo para nós. Então, sentimos falta de ter uma pequena orientação no começo [...]

Ações de Promoção de Saúde no PET-Saúde:

Um tema recorrente nas falas dos estudantes foi o pedido de ampliação das ações de promoção de saúde no PET-Saúde, com o objetivo de envolver mais indivíduos e esclarecer a população sobre o trabalho preventivo. O público alvo do programa tem sido os pacientes que já estão aguardando uma consulta, e que recebem palestras dos estudantes sobre o câncer de boca enquanto estão sentados na sala de espera nas unidades de saúde. Assim, alguns dos estudantes sugeriram uma ação de promoção ampliada, com reuniões organizadas na unidade com a participação de outras pessoas da comunidade. O uso de mídias sociais e banners também foi sugerido com a finalidade de alcançar uma quantidade maior de pessoas.

Acho que essa informação deve ir um pouco além do centro de saúde, sabe? Não só no centro de saúde. Por exemplo, chegamos lá e os pacientes que estavam lá foram os únicos que tiveram alguma orientação. Então eu acho que poderia ser promovido ações ou algo com cartazes, dizendo "Olha, naquele dia haverá uma apresentação" ou "Nesse dia nós estamos tomando um café da manhã" ou algo assim, para a população da região, para cobrir mais pessoas. Porque às vezes há pessoas que não vão ao centro de saúde e outras que não conhecem o centro de saúde, algumas não sabem sobre essas ações que estamos promovendo lá.

4 Discussão

A seleção do método qualitativo utilizando entrevistas semi-estruturadas proporcionou aos pesquisadores a possibilidade de explorar aspectos da participação de estudantes de graduação em um programa tutorial na área da saúde que não eram conhecidos. Por meio desta abordagem (Minayo, 2014; Manzini, 1990/1991), os participantes puderam descrever suas experiências e opiniões abertamente com suas próprias palavras. As entrevistas foram realizadas individualmente para permitir que a perspectiva dos participantes fosse revelada com mais segurança e naturalidade. O câncer de boca é classificado como o oitavo tipo de câncer mais prevalente em todo o mundo (INCA, 2017). É imprescindível, portanto, aumentar a conscientização sobre a importância da detecção precoce e tratamento da doença, bem como qualificar adequadamente os futuros profissionais de saúde para estas ações. Exames de rastreamento, consistindo em exame oral visual e palpação do pescoço, deveriam ser incorporados tanto no currículo odontológico quanto no médico

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como um treinamento necessário. Uma educação abrangente e precisa é importante tanto na graduação quanto na educação continuada, envolvendo os profissionais de saúde do SUS; e o PET-Saúde constitui uma estratégia útil neste processo (Brasil, 2008).

A percepção dos estudantes sobre sua participação no PET-Saúde relacionado a esta temática mostra que o programa mostrou aos estudantes a importância e a necessidade de ações frequentes para a prevenção do câncer de boca. Receber essa abordagem em um estágio inicial da sua formação é uma vantagem que pode estimular uma visão mais holística da assistência à saúde em seu processo de aprendizado. Isso pode influenciar a sua conduta frente a problemas relacionados à saúde em sua vida profissional. O envolvimento no programa também oferece a oportunidade de desenvolver habilidades clínicas, mas talvez mais importante, habilidades sociais relativas à interação com os pacientes. O contato precoce com a população fora do ambiente da faculdade implica em uma maior compreensão das reais necessidades da sociedade e como abordá-las.

No entanto, embora o PET-Saúde ofereça uma formação mais aprofundada e precisa em relação à prevenção do câncer de boca, o número de participantes é limitado, podendo resultar em desigualdades no conhecimento entre os estudantes. Assim, considera-se importante envolver mais estudantes nas experiências do programa. Essa questão pode levar a discussões adicionais sobre como otimizar a disseminação do conhecimento para os demais estudantes. Deve a educação aprofundada em relação à prevenção do câncer de boca ser centrada em projetos como o PET-Saúde ou em atividades dentro das próprias faculdades?

Não obstante os aspectos positivos destacados pelos estudantes entrevistados, com ênfase na possibilidade de abordagem diferenciada e mais humanizada dos pacientes, alguns problemas referentes ao trabalho no PET-Saúde emergiram e indicam a necessidade de uma melhor estruturação do programa. Resultados similares foram relatados em estudos anteriores sobre o Programa em outras regiões brasileiras (Caldas, Lopes, Mendonça, Figueiredo, Lonts, Ferreira, & Figueira, 2012; Freitas, Colomé, Carpes, Backes, & Beck, 2013; Pinto, Martins, Oliveira, Santos, Silva, Izidoro, Mendonça, & Lopes, 2013; Flores, Trindade, Loreto, Unfer, & Dall’Agnol, 2015; Madruga, L.M.S., Ribeiro, K.S.Q.S., Freitas, C.H.S.M., Pérez, I.A.B., Pessoa, T.R.R.F., & Brito, G.E.G., Senna, Gouvêa, & Moreira, 2016; Lourenço, Cordeiro, Capelli, Oliveira, Pontes, Almeida, & Barros, 2017). No presente estudo, fica evidente a necessidade de aprimorar o seu planejamento, proporcionando mais informações e esclarecimentos prévios acerca do papel não só dos estudantes, mas de toda a equipe envolvida e as estratégias a serem utilizadas no trabalho do PET-Saúde. A possibilidade de atuação não só dentro das unidades de saúde, mas na comunidade da área de abrangência destas, também foi sugerida pelos estudantes e deve ser considerada nas próximas edições do programa.

5 Conclusões

Os estudantes apresentaram percepção positiva acerca de sua participação no PET-Saúde/Prevenção do Câncer de Boca e da influência desta na sua formação profissional. Aspectos a serem aprimorados, referentes à organização do programa, também foram abordados. Os resultados sugerem também que o PET-Saúde pode contribuir para ampliar os conhecimentos e práticas dos estudantes em relação à prevenção do câncer de boca, além de fortalecer a interação entre ensino-serviço-comunidade.

Agradecimentos. As autoras agradecem à equipe auxiliar da pesquisa, aos estudantes que participaram do

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Referências

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Referências

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