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Perfil de famílias de adolescentes em conflito com a lei atendidas nos núcleos de medida socioeducativa

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Perfil de famílias de adolescentes em conflito com a lei

atendidas nos núcleos de medida socioeducativa

Resumo

O presente estudo objetivou descrever as características das famílias e dos adolescentes que se encontram em conflito com a lei. A amostra foi composta por trinta famílias de adolescentes que cumprem medida socioeducativa, trinta famílias de adolescentes que não têm filhos cumprindo medida e doze profissionais que atendem essas famílias nos Núcleos de Medida Socioeducativa, localizados em bairros da Zona Leste e Sul do município de São Paulo. A metodologia utilizada constou de um questionário e o Inventário de Estilos Parentais para as famílias e um questionário para os profissionais. Verificaram-se as características das famílias do grupo de estudo e controle e o perfil do profissional que as atende. Os resultados apontaram para alguns fatores de risco que podem ter influenciado na vida do adolescente: trajetória escolar, participação da família no desenvolvimento do filho e estilos parentais que contribuem para o aparecimento e manutenção de comportamentos antissociais. No que se refere ao trabalho com famílias notou-se a necessidade de compreender o seu funcionamento para a construção de um trabalho que atenda as suas necessidades, visto que muitas famílias não identificam que precisam de ajuda e os profissionais não contam com respaldo técnico, necessitando de aprimoramento.

Palavras-chave: Família. Relações familiares. Adolescente institucionalizado.

Elaine Oliveira Toledo 1 Jônatas Bussador do Amaral2 Carolina Nunes França3 Yara Juliano4

1 Mestrado em Saúde Materno Infantil,

Programa de pós graduação em Ciências Médicas, Universidade Santo Amaro. Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde Universidade de Santo Amaro - UNISA.

2 Doutorado em Ciências: Biologia

Celular e Tecidual, Universidade de São Paulo. Setor de Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular, Universidade Federal de São Paulo. Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde Universidade de Santo Amaro – UNISA.

3 Doutorado em Ciências: Cardiologia,

Universidade Federal de São Paulo. Setor de Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular, Universidade Federal de São Paulo. Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde Universidade de Santo Amaro – UNISA.

4 Doutorado em Distúrbios da

Comunicação Humana, Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde Universidade de Santo Amaro – UNISA.

Correspondência para Jônatas B. do Amaral: amaraljb@gmail.com To led o e t al. K.D .M. K ?? ?? ?? ?l

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Profile of young offenders’ families attended in the

centres of young sentences

Abstract

This study aimed to describe the characteristics of families and adolescents who are in conflict with the law. The sample consisted of thirty families of teenagers who abide by social, thirty families of teens who do not have children serving it and twelve professionals who serve these families in the Nucleus of Socioeducational Measure located in neighborhoods of South and East Zone of Sao Paulo. The methodology consisted of a questionnaire and the Parenting Styles Inventory for families and a questionnaire for professionals. It was analyzed the characteristics of the families of the both groups and the profile of the professional that serves them. The results point to some risk factors that may have influenced the lives of the adolescents: school life, family participation in child development and parenting styles those contribute to the onset and maintenance of antisocial behavior. With regard to working with families, it was recognized the need to understand the management of it for the construction to a proposal that answer to your needs, since many families do not identify that they need help and they do not have technical support, needing improvement.

Keywords: Family. Family relations. Institutionalized adolescents.

INTRODUÇÃO

São muitos os fatores que desencadeiam comportamentos antissociais em adolescentes, tais como: quadros patológicos, necessidades socioeconômicas, problemas familiares, conflitos sociais, violência intrafamiliar e extrafamiliar. Os aspectos vulneráveis nos quais eles estão inseridos são vários, o que tornam necessárias intervenções imediatas para diminuir os fatores que têm levado o adolescente à violência. Ao se analisar a situação das crianças e adolescentes em conflito com a lei, deve-se atentar pela responsabilidade dos adultos dos governos e dos governantes (PINHEIRO, 2011).

É importante salientar que o jovem autor de ato infracional (conduta descrita como crime ou contravenção penal) é assistido pelo Sistema

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Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e a Portaria Interministerial nº 1426 de 14/06/2004, os quais estabelecem as diretrizes para a ação socioeducativa que buscam possibilitar uma formação cidadã, mediante reintegração social e fortalecimento dos vínculos familiares evitando, com isto, a reincidência (SALUM, 2012).

Existem vários tipos de medidas socioeducativas e a adoção delas é dada pela autoridade competente que considera a gravidade do delito, suas circunstâncias e as características do adolescente. O adolescente em conflito com a lei pode ser inserido em vários tipos de medidas socioeducativas: prestação de serviço à comunidade (PSC), liberdade assistida (LA), semiliberdade e internação. Diante de delito grave ou descumprimento de medida, o adolescente pode ser privado de liberdade (artigo 121 do ECA) (BRASIL, 1990) por um período para poder ressignificar sua vida. Porém, ao ser desinternado, na maioria das vezes, retorna para o mesmo contexto que contribuiu para que condutas antissociais fossem manifestadas. Existem várias ações que tentam minimizá-las, sendo elas: educativas, punitivas e protetivas. Porém, os alcances ainda se apresentam em número pouco comovente, isto é, observa-se o aumento do número de adolescentes em conflito com a lei, mesmo com as diversas tentativas de atendimento ao adolescente e sua família (ACOSTA e VITALE, 2008).

Ao verificar pesquisas realizadas (ASSIS, 1999; FEIJÓ e ASSIS, 2004; SPAGNOL, 2005; LIMA ALCÂNTARA et al, 2006) com adolescentes, autores de atos infracionais, observam-se vários dados importantes que auxiliam na compreensão deste fenômeno. Porém, neste trabalho foi dado enfoque aos aspectos ligados ao contexto familiar, pensando ser ele um pilar fundamental no desenvolvimento da saúde integral dos indivíduos.

O poder judiciário e a equipe que acompanha o adolescente durante a execução da medida socioeducativa têm solicitado ajuda a várias instâncias como as instituições que atendem os adolescentes no meio aberto e na internação e aos setores sociais (Centro de Referência de

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Assistência Social, Centro de Referência Especializado de Assistência Social, Programa de Proteção a Criança e Adolescentes Ameaçados de Morte) para que possam oferecer melhores condições ao mesmo. Uma das medidas adotadas tem sido o encaminhamento das famílias para grupos de apoio, com o objetivo de obterem maiores recursos para auxiliar, orientar e acompanhar seus filhos, acreditando assim, que esse recurso seja uma forma de auxiliar o adolescente na sua reinserção (ou inserção) social.

O núcleo familiar contribui diretamente para o desenvolvimento da personalidade de um indivíduo. É um espaço no qual se disponibiliza amor gratuito e incondicional (ITABORAÍ, 2005). Porém, mesmo existindo há algum tempo esse saber vive-se numa sociedade atolada em problemas que provocam desequilíbrios e patologias na qual, muitas vezes, o que deveria ser visto como algo que protege, acaba se tornando um fator de vulnerabilidade.

Lima Alcântara et al., 2006 revelam que programas de assistência às famílias têm maiores chances de ajudar as equipes que trabalham com esses adolescentes e os próprios, na formulação de um projeto de vida, dando sentido a sua existência e respeito para si e para os demais. A família é a principal instituição para assegurar o comportamento normalizador, isto é, inserir a criança e adolescente no meio social, através do afeto, da cultura e do relacionamento familiar; é também, paradoxalmente, um fator que pode encaminhar o adolescente para a delinquência (FEIJÓ e ASSIS, 2004; ZAPPE e DIAS, 2012).

Pensando nestes encaminhamentos realizados por vários setores fica o questionamento sobre os atendimentos oferecidos às famílias que vivenciam situações de vulnerabilidade, disponibilizadas por vários tipos de instituições. Existe algum estudo, nessas instituições, que subsidia suas ações? Qual o comprometimento e adesão dessas famílias nos programas que lhes são oferecidos? E esses programas, atendem as necessidades das famílias?

Um trabalho efetivo com essas famílias pode ser uma ferramenta importante na prevenção ou tratamento das questões que envolvem

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violência e saúde. Desta forma, parece pertinente conhecer características de famílias de adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, objetivo deste estudo.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

A amostra foi composta por 30 famílias de adolescentes que cumprem medida socioeducativa (grupo de Estudo), 30 famílias de adolescentes que não tiveram seus filhos envolvidos no meio deletivo (grupo Controle) e 12 profissionais que atendem essas famílias nos núcleos de medida socioeducativa. Foi realizado um estudo comparativo entre as famílias, seguindo o modelo seccional (período de janeiro a junho de 2011), observacional e survey.

Ambos os grupos de adolescentes concordaram com o termo de consentimento livre e esclarecido e ao questionário e Inventário de Estilos Parentais. No grupo de Estudo, os instrumentos foram aplicados pelos profissionais que acompanham as famílias nos Núcleos de Medida Socioeducativa (Jardim Ângela, Grajaú, Jardim Satélite, Vila Formosa e São Matheus). Já no grupo controle, estes instrumentos foram aplicados em escolas, igrejas e ONGs concentradas na zona Sul e Leste do município de São Paulo. Os profissionais que trabalhavam nos núcleos foram submetidos aos mesmos procedimentos.

Para a análise dos resultados aplicou-se o teste do quiquadrado e o Teste Exato de Fisher para estudar possíveis associações entre as variáveis estudadas. O nível de significância foi fixado em 0,05 ou 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Família

Em ambos os grupos de adolescentes estudados, as mães são a figura predominante no que se refere ao cuidado (80% no grupo de Estudo e 63,3% no grupo controle). Somado a isso, a participação da figura

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paterna no grupo Controle foi de 23,4% (contra 10% no grupo em Estudo). Estes dados reforçam a imagem que os adolescentes têm da figura materna como alguém insubstituível, que não desiste de cuidar e de sofrer por eles. Muitas vezes a mãe é o maior alvo de gratidão e compaixão (BOTARELLI, 2011). Quanto à figura paterna, nota-se uma baixa participação dos mesmos na vida do filho (JOST, 2010).

Enquanto no grupo de Estudo a maioria das famílias têm mães que trabalham fora (33,3% contra 22,6% no Controle), no grupo Controle a predominância foi de ambos (pai e mãe- 48,4% contra 15,2% do grupo de Estudo). Famílias monoparentais chefiadas por mulheres podem gerar problemas no desenvolvimento infantil devido a dificuldades de prover financeiramente a casa e cuidar dos filhos, aliada a uma rede de apoio ineficaz (ausência de apoio do parceiro, falta de recursos na comunidade como creches, por exemplo) (GALLO e WILLIAMS, 2005). Sobre o número de filhos, as famílias numerosas (3 filhos ou mais) foram mais predominantes no grupo de Estudo (65,5% contra 40% do grupo Controle). Ambas as situações acima podem interferir nas relações estabelecidas entre pais e filhos como, por exemplo, administração de tempo para cuidar, acompanhamento escolar, participação nas atividades que o filho está inserido e disponibilidade de recursos.

Os adolescentes dos dois grupos tiveram como cuidadores principais durante a infância, algum parente. No grupo de Estudo predominam as genitoras (38,7%) como principal cuidadora e no grupo Controle os avós (39,4%), seguidos pela genitora (30,3%). Na pesquisa realizada por Feijó e Assis (Feijó e Assis, 2004) os resultados apresentados foram diferentes. Os adolescentes que cumpriam medida socioeducativa referiam que não tiveram os cuidados das genitoras, pois estas precisavam trabalhar, eram as únicas provedoras do lar. Esta diferença na percepção pode estar relacionada com a fonte das informações, uma se tratava dos próprios adolescentes fornecendo dados e nesta pesquisa os dados foram fornecidos pelos responsáveis, indicando a percepção que os mesmos têm no cuidado com os filhos.

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A reprovação escolar, um aspecto que pode gerar vulnerabilidade no adolescente, também se mostrou presente neste trabalho. Dentro do grupo de Estudo apenas 17,2% nunca reprovaram contra 73,4% do grupo Controle. Observa-se que mais de 80,0% dos adolescentes do grupo de Estudo apresentaram reprovação escolar, sendo que a maioria por desmotivação (63,3%). No grupo Controle o índice de desmotivação representa 10,0%. Tal característica, semelhante ao descrito em outros trabalhos (FEIJÓ e ASSIS, 2004; CARVALHO e GOMIDE, 2005; GALLO e WILLIAMS, 2005), leva a pensar sobre a importância desses indicadores para a realização de diagnóstico e intervenção.

Sobre a evasão escolar, no grupo de Estudo 60,0% da amostra já vivenciou esta situação contra apenas 3,3% do grupo Controle. A evasão escolar está relacionada com a ineficácia dos métodos de ensino e exclusões sociais entre colegas e professores (GALLO e WILLIAMS, 2005). O tempo ocioso e a identificação com os pares desviantes pode facilitar a inclusão do adolescente no meio delitivo (CARVALHO e GOMIDE, 2005). Além disso, um histórico infracional pode comprometer a trajetória escolar, podendo apresentar dificuldades de aprendizagem, desmotivação e excesso de faltas. A escola e a família deveriam criar estratégias para trabalhar com os fatores que provocam desinteresse, pois é crescente o número de evasões, podendo desencadear a inserção no meio delitivo como forma de reconhecimento e poder. Além disso, um adolescente em conflito com lei muitas vezes não se encontram em um sistema educacional devido à resistência em de algumas instituições em recebê-los (LACERDA e JIMENEZ, 2013).

Nas situações onde os filhos apresentam problemas na escola, tanto no grupo de Estudo como no grupo Controle, as famílias buscavam formas para auxilia-los. Entretanto, em ambos os grupos alguns alunos não obtiveram melhoras com as providências adotadas (48% grupo do Estudo e 4,3% no grupo Controle). Esse fato pode estar relacionado com a fase da adolescência, na qual é comum o comportamento de

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questionar, reivindicar e testar os limites impostos. Essa maneira de agir é identificada como uma forma de buscar seus próprios valores e formar sua identidade (ACOSTA e VITALE, 2008). O ato infracional na adolescência pode ser uma experiência de busca de sentido e de limite, da mesma maneira que pode ser um equivalente depressivo, uma maneira de mascarar a depressão decorrente de abandono afetivo, emocional e familiar (TRINDADE, 2002).

A relação com a figura materna também é um fator importante a ser considerado, pois algumas mães possuem dificuldades em lidar com seu filho, de forma a conhecê-lo. É recorrente o discurso de que ele é bom e carinhoso e há surpresa diante do comportamento infrator. Percebe-se que inicialmente há certa negação do problema dos jovens apesar de evidente sinalização. Essa negação pode ser exemplificada pelo não reconhecimento desses sinais que indicariam que os adolescentes se encontram em risco, como por exemplo, o envolvimento em brigas, o uso de drogas ou ausência de diálogo com a família (DIAS, ARPINI et

al., 2011). Cabe ao ambiente e as pessoas que convivem com ele

entender essas manifestações e auxiliá-lo no seu desenvolvimento. Nos estudos sobre adolescente em conflito com a lei, observa-se uma supervisão inconsistente e disciplina relaxada que pode estar relacionada com a falência de recursos por parte dos responsáveis que afeta o estilo parental estabelecido.

Dentre as ações sugeridas pelos responsáveis visando à melhoria do rendimento escolar (diálogo, conversas e estabelecimento de castigos, por exemplo), chamou atenção o fato de a violência intrafamiliar ter sido pouco mencionada. Tal característica pode estar ligada a percepção que os responsáveis têm sobre a violência, não a identificando como algo negativo e sim como natural e inevitável.

Núcleos de medida socioeducativa

No grupo que está cumprindo medidas socioeducativas, foi observado que 50% dos responsáveis só souberam do envolvimento do filho quando este foi levado para a delegacia. Tal fato nos leva a pensar como

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está organizado o funcionamento familiar, pois não foi identificado nenhum comportamento de risco no filho antes do boletim de ocorrência. Muitas vezes os responsáveis (principalmente a mãe) têm dificuldades de identificar os traços de personalidade do filho, vendo-o como um adolescente completamente diferente do que se apresenta no meio social.

Das 30 famílias que participaram da pesquisa, 96,7% dos adolescentes estavam cumprindo medida socioeducativa pela primeira vez, estando apenas 1 adolescente cumprindo estas medidas pela segunda vez. A ação da família e dos núcleos que acompanham os adolescentes é fundamental no processo de significação do ato infracional podendo agir de forma eficaz em fatores associados à vulnerabilidade nos quais o adolescente está inserido.

Dos responsáveis que participam dos Núcleos de Medida Socioeducativa com seus filhos, 83,4% acredita que a medida estipulada pelo Poder Judiciário é uma oportunidade para o filho mudar de vida. Como muitas famílias encontram dificuldades no estabelecimento de regras, de vínculos com os filhos, veem na medida uma possibilidade de aproximação e às vezes de mudança, pois a situação de medo que o filho passou pode ser considerada positiva, evitando que o mesmo se envolva novamente em situações de risco. Também se pode perceber que algumas famílias ficam mais tranquilas quando os filhos estão sob a tutela do Estado, sentem-se incapazes de proteger e cuidar dos filhos quando estes não estão sob seus cuidados. Dias et al descrevem que apesar do sofrimento inicial em decorrência da notícia da internação, sob o ponto de vista dos responsáveis, a passagem dos adolescentes pelas instituições é proveitosa e os jovens melhoraram a aprendizagem e o relacionamento tanto na família quanto na sociedade (DIAS, ARPINI et al., 2011). A presença da família é muito importante para os adolescentes, pois muitos só estão cumprindo as medidas socioeducativas para não causarem mais sofrimentos às suas mães (SOUZA e COSTA, 2012).

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A maioria dos núcleos de medida socioeducativa promove mensalmente reuniões temáticas dirigidas às famílias. Nesta amostra, 73,4% dos responsáveis já tinham participado de até 5 encontros, 13,3% de 6 à 10 encontros, 3,3% mais de 10 encontros. As famílias que chegam ao grupo coordenado pelos Núcleos de Medida Socioeducativa são na maioria das vezes encaminhadas por profissionais que atendem seus filhos (53,2%). São vários os fatores que levam essas famílias a participar de um programa, uma porcentagem muito pequena (6,7%) participa voluntariamente, isto é, busca o programa por acreditar que ele pode ajudar a sua família. A maioria está participando por orientação ou determinação judicial; a sua não participação pode prolongar à medida que filho está cumprindo. A participação involuntária afeta o comprometimento, o envolvimento e a busca por ajuda. Assim, 96,7% das famílias acreditam que o grupo poderá ajudá-la, mesmo participando por orientação ou determinação judicial. Ao chegarem ao grupo, as famílias percebem que contribuições poderão surgir e que estas poderão auxiliá-los no manejo com o filho, além de se sentirem acolhidos, visto estarem passando por momentos difíceis na dinâmica intrafamiliar. A maior parte das famílias tem boa avaliação do trabalho oferecido pelo núcleo, sente que os atendimentos de grupo auxiliam muito, pois podem receber apoio de profissionais (36,4% das famílias) no momento em que muitas vezes se encontram fragilizados, 45,5% reconhece a importância do trabalho de grupo, pois a troca de experiências com pessoas que estão passando pela mesma situação, auxilia, fortalece, ampara e orienta. Apenas 15,1% utiliza esse espaço simplesmente para poder ajudar na desinternação ou finalização da medida socioeducativa, o que faz com que o aproveitamento possa ser inferior, pois não mostram a mesma disponibilidade que os outros. A melhora das relações familiares, principalmente em relação a oferecer apoio e atenção ao jovem, talvez seja decorrente do fato da própria família ter se organizado um pouco melhor. Muitas vezes tal fato é um desdobramento de ações, apoio e orientação dos profissionais da instituição que acolhem o adolescente (DIAS, ARPINI et al., 2011).

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Os profissionais do núcleo

Dos profissionais que realizam o trabalho com famílias, 83,3% não fizeram nenhum curso específico e 16,7% fizeram. A maioria dos profissionais não teve uma preparação específica, atuando somente com base nos conhecimentos adquiridos durante a graduação ou em trabalhos elaborados por pesquisadores de diversas áreas. Dos profissionais pesquisados, apenas 16,7% fizeram cursos sobre família e ressaltam que essa formação auxiliou na realização do trabalho. A universidade, os grupos reflexivos, as supervisões podem e devem atuar como suporte no desenvolvimento do trabalho destes profissionais. Cabe ressaltar que estes espaços não devem servir como multiplicadores de manuais, pois a discussão e reflexão são uma das formas de assegurar a responsabilidade dos mesmos diante de suas escolhas (SILVA, 2009).

Quase todos os programas de atendimento realizados nos núcleos são apoiados em um projeto (75%), o que direciona as ações dos profissionais. Apenas 16,7% dos profissionais disseram que não tinha um projeto que embasasse o trabalho realizado. Nota-se que o treinamento e supervisão desses trabalhos são deficitários. Durante a coleta dos dados, observou-se que os profissionais trabalham sozinhos com as famílias, muitas vezes na tentativa e erro, o que pode comprometer o alcance dos objetivos.

Os atendimentos com as famílias acontecem mensalmente e neles são abordados muitos assuntos como, por exemplo, o relacionamento familiar (20,3%), manejo com o filho, violência e atos infracionais (16,7%) e obediência (11,1%). Os grupos são abertos e cada encontro tem um tema pré-definido, incluindo atividades reflexivas, exibição e discussão de filmes. Trabalhar com famílias é possibilitar a construção do seu próprio discurso, apoiado nas características de cada sujeito, com sua história e percepção, e não em um padrão estipulado por aquele que coordena o grupo, que apoia suas ideias em estudos realizados (ACOSTA e VITALE, 2008).

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Na percepção dos profissionais, 58,3% relatam que a participação da família nos grupos se dá de forma regular, 33,4% apresenta boa participação e 8,3% se envolve totalmente com o atendimento. Nota-se que mais de 50% das famílias não se envolvem de forma efetiva, o que leva a pensar sobre a organização desses encontros e disponibilidades dessas famílias para refletir e transformar as relações estabelecidas. Alguns profissionais justificaram esses resultados com a percepção que têm das famílias: “eu não vou participar do grupo porque o delito foi cometido pelo meu filho e não pela minha família”; “ele já tem idade para se responsabilizar por aquilo que está fazendo, já que não cumpre as minhas orientações, não obedece”; não acredito que ele vai mudar, já falou isso outras vezes e nada aconteceu, estou cansada de ir a delegacia, de deixar as minhas coisas para ficar atrás dele”.

A equipe que atende famílias de adolescentes em conflito com a lei identifica os seguintes temas durante os atendimentos (em ordem de maior frequência): abuso de substâncias psicoativas, violência intrafamiliar, descompromisso familiar, problemas socioeconômicos, meio delitivo, relação com os filhos e apatia. Observa-se um cenário que necessita urgentemente de ações que promovam o enfrentamento dos diversos problemas vividos pelos jovens, famílias e sociedade como um todo. As ações não podem se apoiar apenas no assistencialismo ou na emergência, pois se observa uma descontinuidade das mesmas (ACOSTA e VITALE, 2008).

A observação, escuta, aperfeiçoamento e supervisão auxiliam na realização de diagnóstico e intervenção. As ações devem ser contínuas, agir apenas no assistencialismo sem estimular uma postura ativa das famílias não solucionará o problema crônico que observamos no cenário do adolescente autor de ato infracional. Não existe fórmula pronta, existe a necessidade de avaliar o real contexto para que a ação possa atingir os objetivos finais. É preciso prepara-los para uma inserção diferenciada no meio social, não basta punir (FRANCISCHINI e CAMPOS, 2005).

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Inventário de Estilos Parentais (IEP)

A Tabela abaixo apresenta os percentuais do Inventário de Estilo Parental utilizado com os cuidadores dos adolescentes tanto do grupo de Estudo como do grupo Controle.

Tabela 1: Práticas educativas dos cuidadores avaliados pelo Inventário de Estilos Parentais (IEP).

Percentuais do IEP Grupo de Estudo F % Grupo Controle F % De 80 a 99 De 55 a 75 De 30 a 50 De 1 a 25 4 13,3 3 10,0 7 23,3 16 53,4 7 23,3 5 16,7 7 23,3 11 36,7 TOTAL 30 100,0 30 100,0

80 a 99 – Estilo Parental ótimo; 55 a 75 – Estilo Parental regular – acima da média; 30 a 50 – Estilo Parental regular – abaixo da média; 1 a 25 – Estilo Parental de risco

Observa-se que no grupo de Estudo 53,4% das famílias adotam um estilo parental de risco, no qual predominam práticas negativas em detrimento das positivas; 23,3% apresentam práticas consideradas boas, porém abaixo da média; 10,0% referem-se a um estilo parental bom, acima da média; e 13,3% indicam um estilo parental ótimo, marcado por práticas positivas e ausência de práticas negativas.

Com base nestes dados é possível afirmar que 53,4% dos adolescentes que apresentaram comportamentos antissociais foram influenciados pela dinâmica familiar, isto é, a família é considerada um fator de risco. Existem ainda 23,3% das famílias que adotam práticas pró-sociais, mas também apresentam práticas antissociais, o que as coloca numa situação de alerta. Sendo assim, 76,6% das famílias podem estar contribuindo para o aparecimento e manutenção dos comportamentos antissociais dos filhos, necessitando de intervenções sistematizadas. Estes dados já foram apontados em pesquisas realizadas anteriormente, a maioria das

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famílias de adolescentes em conflito com a lei apresentava índices negativos no IEP (CARVALHO e GOMIDE, 2005).

No grupo controle, 36,7% das famílias apresentam estilos parentais de risco; 23,3% apresentam práticas boas, mas abaixo da média; 16,7% têm uma relação com o filho considerada boa, predominando as atitudes pró-sociais e 23,3% apresentam estilo parental ótimo. Nota-se que no grupo Controle o índice de práticas antissociais é mais baixo do que no grupo de Estudo, porém, existe uma parcela das famílias que adota estilos parentais de risco, mas seus filhos não apresentaram comportamentos antissociais, o que leva a pensar que outros fatores podem ter agido de forma protetiva, como por exemplo: número de filhos, cuidadores, arranjos familiares, escola, comunidade, traços de personalidade, entre outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho com família é uma ferramenta fundamental para conseguir minimizar os efeitos negativos e potencializar os efeitos positivos dessa instituição fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Considerando que a história da família não é linear, nem homogênea, entende-se que definir um modelo ideal de educar é no mínimo incompatível com a visão sistêmica do mundo atual. Porém, a literatura cientifica pode fornecer diretrizes que orientem o educar de pais e filhos, facilitando a relação afetiva entre eles. Acreditar que os relacionamentos devem ser, o tempo todo, construídos, negociados e repensados abre espaço para a família real, e não ideal (CUNHA, GUIMARÃES et al., 2008). Espera-se assim que este trabalho possa despertar novas reflexões subsidiando as ações dos profissionais que estão direta ou indiretamente ligados ao ambiente dos núcleos de medidas socioeducativas.

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Referências

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