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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Fls. __________

Processo PGT/CCR/PP/Nº 17170/2013 Câmara de Coordenação e Revisão

Origem: PRT 13ª Região.

Interessados: 1. TRT 13ª Região

2. Construtora Marquise S/A

Assunto: Meio Ambiente do Trabalho. 01.01.01. 01.01.08 – 01.01.12 – 01.01.14. – Temas Gerais. 09.07. – 09.09.04

Membro Oficiante: Dr.ª Maria Edlene Lins Felizardo

Membro Recorrente: Dr. Márcio Roberto de Freitas Evangelista

DENÚNCIA DO TRT. RECURSO ADMINISTRATIVO DO PROCURADOR REGIONAL. ENFERMIDADE DEGENERATIVA. AGRAVAMENTO. NEXO DE CAUSALIDADE COM O SERVIÇO.

RECONHECIMENTO JUDICIAL. DOENÇA OCUPACIONAL.

CONCAUSA. CONDUTA OMISSIVA DO EMPREGADOR.

INSUFICIÊNCIA DA APRESENTAÇÃO DO PPRA E DO PCMSO. AMPLIAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO. CUMPRIMENTO INTEGRAL DAS NORMAS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO. TUTELA COLETIVA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO.

PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. CONSTRUÇÃO CIVIL.

DIRETRIZES DA CODEMAT. REJEIÇÃO DO ARQUIVAMENTO. 1. No julgamento do Recurso Ordinário, o TRT da 13ª Região reconheceu o nexo de causalidade entre a atividade exercida na empresa e as enfermidades sofridas pelo Reclamante (epicondilite lateral do cotovelo e a tendinite calcificante do ombro), porquanto essas afecções são equiparadas a acidente de trabalho, segundo classificação disposta no Decreto 3.048/1999 (anexo I, lista “b”, Grupo XIII), relacionando-se com a rotina do serviço prestado à Construtora Civil. O Relator do processo desacreditou o laudo da perícia técnica em sentido contrário, sob o fundamento de que o trabalho executado agravou as moléstias degenerativas preexistentes do obreiro, por omissão do empregador na adoção de programa de prevenção de riscos ambientais. Consignou, ainda, que não era a primeira vez que o TRT desconsiderava a opinião do mesmo perito. Por fim, deferiu o pedido de envio de peças dos autos ao MPT formulado pelo Procurador Regional do Trabalho presente à Sessão de Julgamento, que deu origem ao Procedimento Preparatório em exame, arquivado pela PRT da 13ª Região logo após a Empresa Denunciada haver apresentado esclarecimentos e documentação.

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2. Certo que o art. 20, § 1ª, da Lei 8.213/1991, ressalva que doença degenerativa não é considerada doença do trabalho. Todavia, caracteriza-se o liame epidemiológico quando as funções laborativas contribuem para o agravamento da patologia degenerativa de que o empregado já era portador, como concausa, a teor do art. 21, I, do mesmo diploma, segundo a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho. 3. Configurada a doença ocupacional, resultante de comportamento negligente do empregador, e esvaziado o valor probatório da perícia que negava a responsabilidade da empresa, torna-se inaceitável a conclusão pela ausência de irregularidades, com base nos documentos concernentes ao Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e ao Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), que não dão garantias sobre a efetiva adoção das ações e medidas de medicina e segurança do trabalho ali contempladas.

4. Curial que o MPT proceda à ampla investigação da empresa denunciada pelo descaso com a higidez física de um de seus trabalhadores, certificando o cumprimento integral das normas relativas ao meio ambiente laboral seguro e equilibrado, para a tutela coletiva dos empregados atuais e futuros, à luz do princípio da precaução, sobretudo por tratar-se de construção civil, ramo econômico que notoriamente expõe os trabalhadores a riscos acentuados de danos à saúde e à vida. Aplicação à hipótese das diretrizes inscritas nas Orientações 1 e 4 da CODEMAT.

5. Recurso Administrativo do Procurador Regional conhecido e provido, rejeitando-se a promoção de arquivamento, não esgotadas as diligências devidas pela Unidade de origem.

Relatório

A PRT da 13ª Região instaurou Procedimento Preparatório em face de Construtora Marquise S/A para averiguação da virtual irregularidade do meio ambiente de trabalho, a partir de Representação do TRT da 13ª Região, encaminhada por solicitação do Dr. Márcio Roberto de Freitas Evangelista, Procurador Regional do Trabalho presente à Sessão de Julgamento em que foi dado provimento ao Recurso Ordinário do Reclamante, para reforma da sentença na Reclamação Trabalhista 00863.00-16.2011.5.13.0026, reconhecendo-se o nexo de causalidade da enfermidade no ombro e na coluna do trabalhador com a atividade exercida na empresa (mensagem eletrônica e peças do processo - fls. 04/22).

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Todavia, a Dr.ª Maria Edlene Lins Felizardo, Procuradora do Trabalho designada para a condução das investigações no âmbito da PRT da 13ª Região, promoveu o arquivamento do Procedimento Preparatório, com base nos esclarecimentos e documentos da própria Empresa Denunciada, concluindo que houve a adequada implementação e atualização do PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional e do PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (fls. 207/208).

O Procurador Regional, Dr. Márcio Evangelista, apresentou Recurso Administrativo, inconformado com o arquivamento da Representação deduzida pelo TRT da 13ª Região a seu pedido, sob o argumento de que simples juntada de documentação relativa ao PCMSO e ao PPRA não demonstraria que a Investigada, de fato, implementou as medidas previstas nesses programas, sendo necessária, no mínimo, a realização de inspeção por Analista Pericial do MPT na Empresa Denunciada para verificar a efetiva adequação do meio ambiente de trabalho aos ditames legais e regulamentares (fls. 212/214).

A ilustre Procuradora Oficiante ofertou contrarrazões, em que acrescentou a circunstância de o laudo da perícia técnica produzida na Reclamação Trabalhista 00863.00-16.2011.5.13.0026 haver negado o nexo causal entre a doença do Reclamante e a atividade desempenhada na empresa. Daí porque vislumbrou poucos benefícios da mobilização da estrutura onerosa do MPT nesse caso. Por fim, advertiu que a decisão sobre as diligências empreendidas pelo Ministério Público cabe exclusivamente ao Membro que preside o procedimento, pena de violação ao princípio da independência funcional (fls. 216/218).

É o Relatório. Admissibilidade

Conheço do Recurso Administrativo (fls. 212/214), porque atendido o prazo de 10 (dez) dias previsto no artigo 10-A da Resolução 69/2007 do CSMPT (fls. 209/conclusão e 212/protocolo).

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Fundamentação

No julgamento do Recurso Ordinário (Processo 00863.00-16.2011.5.13.0026), a Egrégia 2ª Turma da 13ª Região reconheceu o nexo de causalidade entre a atividade exercida na empresa e as enfermidades sofridas pelo Reclamante (epicondilite lateral do cotovelo e a tendinite calcificante do ombro), porquanto essas afecções são equiparadas a acidente de trabalho, segundo classificação do Decreto 3.048/1999 (anexo I, lista “b”, Grupo XIII), relacionando-se com a rotina do serviço prestado à Construtora Marquise S/A (Certidão de fls. 21/22).

O Relator do processo, Desembargador Eduardo Sérgio de Almeida, desacreditou o laudo da perícia técnica em sentido contrário, sob o fundamento de que o trabalho executado agravou as moléstias degenerativas preexistentes do obreiro, por omissão do empregador na adoção de programa de prevenção de riscos ambientais.

Consignou, ainda, que não era a primeira vez que o colegiado desconsiderava a opinião do mesmo perito, Sr. Ricardo Ramos Chrcanovic, razão pela qual deferiu o pedido de envio de peças dos autos ao MPT formulado pelo Procurador Regional do Trabalho presente à Sessão de Julgamento, Dr. Márcio Roberto de Freitas Evangelista, que ora recorre contra a promoção de arquivamento, com absoluta propriedade, data venia.

Certo que o art. 20 § 1ª, da Lei 8.213/1991, ressalva que doença degenerativa não é considerada doença do trabalho. Todavia, caracteriza-se o liame epidemiológico quando as funções laborativas contribuem para o agravamento da patologia degenerativa de que o empregado já era portador, como concausa, a teor do art. 21, I, do mesmo diploma legal:

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:

I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;

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Essa interpretação sistemática é adotada pela jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, consoante ilustram os seguintes precedentes:

RECURSO DE REVISTA - PROCESSO ELETRÔNICO - DANOS MORAIS. ACIDENTE DE TRABALHO. CONFIGURAÇÃO. Esta Corte vem reconhecendo o nexo de causalidade entre a doença degenerativa e o trabalho desenvolvido, quando este contribui para o agravamento da enfermidade, atribuindo ao empregador a culpa presumida pela negligência ou omissão na adoção de medidas de saúde e segurança do trabalho. Ademais, quanto ao preenchimento dos requisitos configuradores da responsabilidade civil, a pretensão recursal encontra óbice na Súmula 126 do TST. Recurso de Revista não conhecido.

(Processo: RR - 104200-55.2011.5.17.0008 Data de Julgamento: 04/12/2013, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/12/2013).

RECURSO DE REVISTA. TRABALHADOR PORTUÁRIO AVULSO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. DOENÇA OCUPACIONAL. CONCAUSA. RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR CONFIGURADA. O pleito de indenização por dano moral e material resultante de acidente do trabalho e/ou doença profissional ou ocupacional supõe a presença de três requisitos: a) ocorrência do fato deflagrador do dano ou do próprio dano, que se constata pelo fato da doença ou do acidente, os quais, por si sós, agridem o patrimônio moral e emocional da pessoa trabalhadora (nesse sentido, o dano moral, em tais casos, verifica-se in re ipsa); b) nexo causal, que se evidencia pela circunstância de o malefício ter ocorrido em face das circunstâncias laborativas; c) culpa empresarial, a qual se presume em face das circunstâncias ambientais adversas que deram origem ao malefício (excluídas as hipóteses de responsabilidade objetiva, em que é prescindível a prova da conduta culposa patronal). A regra geral do ordenamento jurídico, no tocante à responsabilidade civil do autor do dano, mantém-se com a noção da responsabilidade subjetiva (arts. 186 e 927, caput, CC). Contudo, tratando-se de atividade empresarial, ou de dinâmica laborativa (independentemente da atividade da empresa), fixadoras de risco para os trabalhadores envolvidos, desponta a exceção ressaltada pelo parágrafo único do art. 927 do Código Civil, tornando objetiva a responsabilidade empresarial por danos acidentários (responsabilidade em face do risco). Na hipótese, o Regional excluiu a condenação fixada na sentença ante a compreensão de que o autor possui uma doença degenerativa da coluna lombar e cervical. Contudo, consta do acórdão que, embora o autor sempre tenha exercido atividades que demandavam o uso de força física, no trabalho de portuário,

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as atividades com sobrecarga lombar e cervical desempenhadas pelo autor na Reclamada desde 1996 foram consideradas, pela perícia, como agentes concausais, ou seja, um dos fatores que implicaram o agravamento das moléstias, que culminaram em sua aposentadoria por invalidez em dezembro/2008. Nota-se que o Tribunal de origem desconsiderou a concausa existente. Desde a edição do Decreto 7.036/44, o ordenamento jurídico pátrio admite a teoria da concausa prevista, expressamente, na atual legislação, art. 21, I, da Lei 8.213/91. Assim, se as condições de trabalho a que se submetia o trabalhador, ou uma circunstância específica, embora não tenham sido a causa única, contribuíram diretamente para a redução ou perda da sua capacidade laborativa, ou produziram lesão que exija atenção médica para a sua recuperação, deve-lhe ser assegurada a indenização pelos danos sofridos. Importante registrar que a função normalmente desenvolvida pelo Autor implica maior exposição a risco do que a inerente aos demais membros da coletividade, por força do seu contrato de trabalho, devendo ser reconhecida a responsabilidade objetiva (arts. 7º, caput, da CF e 927, parágrafo único, do CC). Recurso de revista conhecido e provido, em parte. (Processo: RR - 404285-45.2009.5.12.0050 Data de Julgamento: 11/12/2013, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 13/12/2013).

Configurada a doença ocupacional, resultante de comportamento negligente do empregador, e esvaziado o valor probatório da perícia que negava a responsabilidade da empresa, torna-se inaceitável a conclusão pela ausência de irregularidades, com base nos documentos concernentes ao Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e ao Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), que não dão garantias sobre a efetiva adoção das ações e medidas de medicina e segurança do trabalho ali contempladas.

Curial que o MPT proceda à ampla investigação da empresa denunciada pelo descaso com a higidez física de um de seus trabalhadores, certificando o cumprimento integral das normas relativas ao meio ambiente laboral seguro e equilibrado, para a tutela coletiva dos empregados atuais e futuros, à luz do princípio da precaução, sobretudo por tratar-se de construção civil, ramo econômico que notoriamente expõe os trabalhadores a riscos acentuados de danos à saúde e à vida.

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Aplicam-se à hipótese as diretrizes inscritas nas Orientações 1 e 4 da CODEMAT:

1) MEIO AMBIENTE DO TRABALHO. AMPLIAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO.

É recomendável a ampliação da investigação de denúncia específica de uma ou mais irregularidades de segurança e medicina do trabalho, quando verificado o descumprimento de outras normas relativas ao meio ambiente laboral. (Destaque Acrescido ao Original).

4) ACIDENTE DE TRABALHO. AÇÕES INDENIZATÓRIAS INDIVIDUAIS.

Nas denúncias acerca de acidentes de trabalho haverá instauração de procedimento investigatório sob o aspecto coletivo e, para fins de indenização individual decorrente do acidente, o trabalhador deverá ser orientado a procurar o sindicato profissional, a Defensoria Pública ou advogado particular. (Destaque Acrescido ao Original).

Dou provimento ao Recurso Administrativo, porque não esgotadas as diligências devidas pela Unidade de origem.

Voto: de acordo com a fundamentação acima articulada, voto pelo conhecimento e provimento do Recurso Administrativo, rejeitando, por conseguinte, a promoção de arquivamento, com a determinação de devolução dos autos à PRT da 13ª Região, para que promova inspeção na empresa ou obra, por meio da própria serventia ou mediante requisição à fiscalização do trabalho, diligência necessária à verificação sobre a efetiva e adequada adoção das ações e medidas estabelecidas no PPRA e no PCMSO.

20 janeiro

24 janeiro 2014.

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