FORTISSIMO Nº 21 — 2016
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– L O B O
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B A R T
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PRESTO VELOCE 10/11 11/11Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais e Itaú Personnalité apresentam
Nossos concertos são possíveis graças à Lei Rouanet e aos nossos patrocinadores. PRESTO
VELOCE 10/11
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No concerto desta noite recebemos, pela primeira vez com a Filarmônica, um dos músicos brasileiros mais importantes das últimas décadas. Violinista de grande envergadura e agora regente respeitado, Claudio Cruz foi um dos responsáveis pela consolidação da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo como uma das grandes ilhas de excelência no meio cultural brasileiro, tendo exercido a função de
spalla daquela orquestra por vários anos.
Hoje ele traz a sua experiência para Belo Horizonte, ao conduzir nossa Orquestra na belíssima Sinfonia nº 6 de Dvorák, assim como na última homenagem feita por Villa-Lobos ao gênio de Bach, a Bachianas Brasileiras nº 9.
João Carlos Ferreira, violista principal de nossa Orquestra, mostra seu talento e competência, ao interpretar um dos concertos mais importantes daquele instrumento, o Concerto para viola do húngaro Béla Bartók.
Uma noite de força, brilho e alegria compartilhada entre grandes músicos e nosso público.
FABIO MECHETTI
Diretor Artístico e Regente Titular
Caros amigos
e amigas,
F O T O: EUGÊNIO S Á VIO5 4
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esde 2008, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, sendo responsável pela implementação de um dos projetos mais bem-sucedidos no cenário musical brasileiro. Com seu trabalho, Mechetti posicionou a orquestra mineira nos cenários nacional e internacional e conquistou vários prêmios. Com ela, realizou turnês pelo Uruguai e Argentina e gravações para o selo Naxos. Natural de São Paulo, Fabio Mechetti serviu recentemente como Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia, tornando-se o primeiro regente brasileiro a ser titular de uma orquestra asiática. Depois de quatorze anos à frente da Orquestra Sinfônica de Jacksonville, Estados Unidos, atualmente é seu Regente Titular Emérito. Foitambém Regente Titular da Sinfônica de Syracuse e da Sinfônica de Spokane. Desta última é, agora, Regente Emérito.
Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego, foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a
Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais
de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York.
Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as orquestras sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Orquestra da Rádio e TV Espanhola em Madri, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, e a Orquestra
Sinfônica de Quebec, Canadá.
Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente fez sua estreia na Finlândia, dirigindo a Filarmônica de Tampere, e na Itália, dirigindo a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2016 estreou com a Filarmônica de Odense, na Dinamarca.
No Brasil, foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre e Brasília e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson, Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros. Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se
produções de Tosca, Turandot, Carmem,
Don Giovanni, Così fan tutte, La Bohème, Madame Butterfly, O barbeiro de Sevilha, La Traviata e Otello.
Fabio Mechetti recebeu títulos de mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.
F O T O: EUGÊNIO S Á VIO
FABIO MECHETTI
diretor artístico e regente titular
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Heitor VILLA-LOBOS
Bachianas Brasileiras nº 9
Prelúdio: Vagaroso e místico Fuga: Poco apressado
Béla BARTÓK
Concerto para viola, op. posth.
Moderato Adagio religioso
Allegro vivace
Antonín DVORÁK
Sinfonia nº 6 em Ré maior, op. 60
Allegro non tanto Adagio
Scherzo (Furiant) – Presto Finale
CLAUDIO CRUZ, regente convidado
JOÃO CARLOS FERREIRA, viola
PROGRAMA
INTERVALO
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Claudio Cruz iniciou-se na música com seu pai, o luthier João Cruz. Mais tarde, estudou com Erich Lehninger, Maria Vischnia (violino) e George Olivier Toni (Teoria e Regência). Foi premiado pela Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) e recebeu também os prêmios Carlos Gomes, Bravo e Grammy, entre outros. Atualmente, é regente titular e diretor musical da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo e diretor artístico da Oficina de Música de Curitiba-Música Erudita. Com a Orquestra Jovem participou do Festival MDR Musiksommer e Festival Young Euro Classic, na Alemanha; Festival Berlioz na França e Grachtenfestival na Holanda. Em 2015 realizou concertos no Lincoln Center, Nova York, e no Kennedy Center, Washington.
Claudio Cruz tem atuado como regente convidado em muitas orquestras, entre elas a Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Orquestra Sinfônica Brasileira, Petrobras Sinfônica, Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, sinfônicas de Porto Alegre, de Brasília e de Curitiba. Em outros países, regeu as orquestras de Câmara de Osaka e de Toulouse, Sinfônica de Avignon, Sinfonia Varsovia, Royal Northern Sinfonia, New Japan Philharmonic, HPAC Orchestra, Hiroshima Symphony, Vogtland Philharmonie e Jerusalem Symphony Orchestra, entre outras. Participou de diversos festivais de música no Brasil,
destacando-se a regência da Orquestra Acadêmica do Festival Internacional de Campos de Jordão em 2010 e 2011. Também esteve no Festival de Verão da Caríntia, Áustria, e no Festival Internacional de Música de Cartagena, Colômbia. Em sua discografia estão três CDs com a Orquestra de Câmara Villa-Lobos, um deles consagrado a obras de Edino Krieger. Com a Sinfônica de Ribeirão Preto gravou Beethoven e Mozart, aberturas de óperas e obras de Antônio Carlos Jobim com arranjos de Mario Adnet. Gravou Carlos Gomes com a Sinfônica de Campinas e Olivier Toni em CD do selo Sesc. O álbum gravado com a Northern Sinfonia (Avie), com obras de Elgar e Gál, foi indicado ao Grammy Awards. Em 2016 lançou o primeiro CD da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, com peças de Villa-Lobos, Guerra-Peixe e Shostakovich, e gravou o segundo álbum, com Berlioz e Tchaikovsky. Claudio Cruz foi diretor musical da Orquestra de Câmara Villa-Lobos, regente titular das sinfônicas de Ribeirão Preto e de Campinas. Atuou como diretor artístico e regente nas montagens das óperas Lo Schiavo e Don Giovanni em Campinas, Rigoletto e La Bohème em Ribeirão Preto. Violinista consagrado, foi spalla da Osesp entre 1990 e 2014. Na temporada 2016, Claudio Cruz realizou concertos nos Estados Unidos, Japão, Uruguai e com diversas
orquestras brasileiras. F O T O: JEFERSON C OL A C CIC O
CLAUDIO
CRUZ
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Violista principal da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde 2009, João Carlos Ferreira começou seus estudos de música aos oito anos de idade no Centro Cultural Pró-Música, em Juiz de Fora, MG. Depois de alguns anos junto aos professores Vítor Dutra, André Pires e ao maestro Nelson Nilo Hack, recebeu apoio da Lei Murilo Mendes da Prefeitura de Juiz de Fora e passou a fazer aulas no Rio de Janeiro com Bernardo Bessler. Em sua formação trabalhou com diversas orquestras jovens, apresentando-se em locais como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e atuando também como solista. Participou de masterclasses com diferentes professores, incluindo Marie Christine Springuel, Roberto Díaz, Luis Otávio Santos e Menahem Pressler. Em 2001, apresentou-se como membro da Orquestra Barroca do Festival Internacional de Juiz de Fora, um dos anos que teve a presença de Sigiswald Kuijken. Foi violinista da Orquestra Sinfônica Brasileira entre 2004 e 2008. Como membro do Quarteto Radamés Gnattali, fez turnê nos Estados Unidos, participou de estreias em bienais de música contemporânea e foi agraciado com o Prêmio Rumos Itaú Cultural. Gravou o CD Quatro Quadros de
Jan Zack, pelo selo Bachiana Brasileira, o
CD Quadro Brasil, pelo selo Rádio MEC, e o DVD Rumos Itaú Cultural 2007-2009. João Carlos já se apresentou junto à Orquestra Sinfônica do Espírito Santo e às orquestras das escolas de música
da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pela segunda vez, apresenta-se como solista com a Filarmônica de Minas Gerais. Atuou com Antonio Meneses em
Don Quixote de Richard Strauss,
em diferentes apresentações com a Filarmônica de Minas Gerais e Fabio Mechetti, e, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com a Orquestra Petrobras Sinfônica e Isaac Karabtchevsky.
Também em Don Quixote, atuou com Asier Polo e a Filarmônica de Minas Gerais e Fabio Mechetti. João Carlos tem se apresentado com outros grandes nomes do cenário brasileiro e internacional, como Roman Simovic, Claudio Cruz, Márcio Carneiro, Matias de Oliveira Pinto e o Quarteto Bessler.
Para o desenvolvimento do seu trabalho artístico e como entusiasta da música de câmara, atua como produtor musical e compositor. Tem participado como professor em diversos festivais, incluindo a Semana de Música de Câmara da Fundação de Educação Artística, o Festival de Maio, a Semana da Música de Ouro Branco e o Festival Artes Vertentes. Atualmente é diretor musical do Trio Villani, composto também por Jovana Trifunovic e Eduardo Swerts. O grupo foi contemplado no edital Natura Musical e acaba de lançar o CD Três Tons Brasileiros.
F O T O: EUGÊNIO S Á VIO
JOÃO CARLOS
FERREIRA
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Rio de Janeiro, Brasil, 1887 – 1959
Heitor
VILLA-LOBOS
13 INSTRUMENTAÇÃO Cordas. PARA OUVIRCD Complete Choros and Bachianas Brasileiras – São Paulo Symphony Orchestra – John Neschling, regente – BIS – 2009
PARA ASSISTIR
Orquestra Sinfônica do Youtube – Michael Tilson Thomas, regente Acesse: fil.mg/vbachianas9
PARA LER
Adhemar Nóbrega – As Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos – Museu Villa-Lobos – 1976
PARA VISITAR
museuvillalobos.org.br
“Não sou um folclorista. O folclore não domina meu pensamento. Minha música é como eu a sinto. Não saio à caça de temas com intenção de usá-los. Componho com o espírito de quem faz a própria música.” Villa-Lobos afirma, com essas palavras, sua diferença em relação às ideias de Mário de Andrade e dos compositores nacionalistas de sua geração, ocupados em criar uma música brasileira baseada no folclore. Personalidade
controvertida, Villa-Lobos é um dos mais importantes compositores das Américas no século XX. Sua força criativa e capacidade de trabalho possibilitaram-lhe realizar uma extensa e diversificada obra. Sua intimidade com o choro e outras manifestações musicais urbanas está presente em várias de suas obras, notadamente nos
Prelúdios e Estudos para violão solo e nos quatorze Choros para
formações instrumentais diversas. Apesar de compor uma música presa aos princípios da tonalidade clássica e de sua conhecida aversão ao atonalismo, seu pensamento não é linear. Frequentemente, sua música se afasta dos procedimentos tradicionais; ela é, antes, um painel de cores, melodias, ritmos e harmonias, recortados e colados com intuição e originalidade. Essa forma de pensar o aproxima de Debussy e, em particular, de Stravinsky.
Entre suas obras mais conhecidas estão as nove Bachianas Brasileiras, escritas entre 1930 e 1945 como uma homenagem a Bach. Villa-Lobos permaneceu ao longo de toda a vida próximo à obra de Bach, com quem dizia ter uma ligação espiritual, e realizou inúmeros arranjos de seus prelúdios e fugas para coro misto, conjuntos de violoncelos e também orquestra. Nas Bachianas, no entanto, não há citações diretas à obra do compositor alemão, mas sim uma constante utilização do contraponto e de procedimentos típicos do Barroco e do estilo bachiano, tais como o uso de melodias com motivos recortados em progressões.
Bachianas Brasileiras nº 9, na verdade um prelúdio e fuga para orquestra de cordas,
foi estreada por Eleazar de Carvalho, em novembro de 1948, regendo a Orquestra Sinfônica Brasileira. No
Prelúdio: Vagaroso e místico, a melodia
inicial, acompanhada por um pedal longo, antecipa o tema da fuga com ritmo modificado e valores aumentados. O caráter introdutório é claramente delineado ao longo desse movimento e, pouco a pouco, atinge uma textura mais densa, com utilização de registros extremos e maior volume sonoro. O tema da Fuga, apresentado nos violoncelos, utiliza um curioso compasso onze por
oito, o que acentua seu caráter rítmico. A
fuga, forma polifônica típica do Barroco, é tratada por Villa-Lobos de forma bastante livre. Esse movimento se caracteriza por três grandes seções. Na primeira o tema é exposto e imitado de forma constante em diferentes instrumentos. Segue-se um Divertimento em que o compositor desenvolve e transforma o tema inicial, dialogando com uma melodia nos violinos, uma espécie de segundo tema estruturado em progressões descendentes. Na última parte, o tema é reapresentado, e uma cerrada polifonia imitativa conduz paulatinamente à conclusão da obra.
BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 9 (1945)
15 min
RUBNER DE ABREU Professor da Fundação de Educação Artística, criador e diretor do grupo Oficina Música Viva.
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B
15Hungria, atual Romênia, 1881 – Estados Unidos, 1945
Béla
BARTÓK
INSTRUMENTAÇÃOPiccolo, 3 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 3 trompas, 3 trompetes, 2 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.
PARA OUVIR
CD Béla Bartók – Concerto for Orchestra; Viola concerto – Orquestra Sinfônica de Boston; Orquestra de Paris – Rafael Kubelik; Daniel Barenboim, regentes – Daniel Benyamini, viola – Deutsche Grammophon – 2009
PARA ASSISTIR
Orquestra Sinfônica Coreana (KSO) – Jongdeok Kim, regente – Hanna Lee, viola Acesse: fil.mg/bviola
PARA LER
David Cooper – Béla Bartók – Yale University Press – 2015
Em 1940, estando a Hungria sob o domínio nazista, Béla Bartók decide emigrar. Tendo tido o cuidado de enviar em primeiro lugar seus manuscritos, em outubro daquele ano ele chega aos Estados Unidos e se estabelece em Nova York. Aceita, nessa cidade, um convite para trabalhar na Columbia University, onde desenvolve um intenso trabalho de concertista e conferencista, além de dar sequência a seus trabalhos de investigação científica. No entanto, Bartók não encontra no ambiente norte-americano a situação propícia para compor. Embora já fosse conhecido, ali, como pianista, professor e pesquisador, suas obras ainda não haviam cativado o público estadunidense. Em 1942, seu estado não é dos melhores: sua situação financeira é deplorável e a saúde também se deteriora; dois anos mais tarde, é diagnosticado um estado terminal de leucemia. No entanto, são da fase final da vida do compositor algumas de suas obras mais importantes. Mesmo trabalhando com dificuldade, consegue terminar o Concerto para orquestra, encomendado por Serge Koussevitzky, conclui a sonata para violino solo, encomendada por Yehudi Menuhin e, por poucos compassos, não deixa completo o terceiro concerto para piano e orquestra, que dedica a sua mulher. No inverno de 1944, o respeitado violista William Primrose lhe encomenda um concerto para viola. Em julho de 1945 Bartók põe-se a trabalhar na partitura, da qual deixou apenas esboços. Destaca-se, porém, a parte da viola, que logrou finalizar. Após sua morte, Tibor Serly, violista de formação, compositor de certa habilidade, antigo aluno de Kodály e, depois, discípulo e grande amigo de Bartók, dedicou-se à conclusão da obra, completada em 1949. Em dezembro desse mesmo ano o Concerto para viola foi estreado pela Orquestra Sinfônica de Minneapolis, sob a regência de Antal Dorati, tendo Primrose como solista. É de se notar que a partitura foi revisada duas vezes depois disso. A primeira, em 1995, por Peter Bartók (filho de Béla Bartók) e
Paul Neubauer e a segunda, pelo violista húngaro Csaba Erdélyi. Além disso, há algumas discrepâncias no que concerne à orquestração da obra: os esboços de Bartók sugerem uma instrumentação relativamente modesta. A versão de Tibor Serly amplia muito essa instrumentação, acrescentando metais e percussão. A edição de Peter Bartók e Paul Neubauer sugere uma orquestra ainda maior. Independentemente disso, a relevante parte da viola não deixa dúvidas sobre a autoria da obra. Mas que não se o ouça desavisado! Não se trata aqui do Bartók pitoresco das Danças Romenas, mas de um compositor maduro, cuja gramática está perfeitamente consolidada, posto que, em parte, destilada de fontes folclóricas, que se entreouvem mais explicitamente no terceiro movimento. Dispensável dizer que ele explora sem reservas as potencialidades e os recursos do instrumento solista, além da bravura do executante, requisitos solicitados pelo próprio Primrose quando o encomendou ao compositor. O Concerto para viola é uma obra sem dúvida moderna, digna de ser incluída no rol das grandes obras do gênero produzidas no século XX.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.
CONCERTO PARA VIOLA, OP. POSTH.
16
D
17Boêmia, atual República Tcheca, 1841 – 1904
Antonín
DVORÁK
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INSTRUMENTAÇÃO Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.
PARA OUVIR
CD Dvořák – The symphonies – London Symphony Orchestra – István Kertész, regente – Decca – 1996
PARA ASSISTIR
Orquestra Sinfônica Nacional da Rai – Jakub Hrůša, regente | Acesse: fil.mg/dsinf6
PARA LER
John Clapham – Antonín Dvořák: musician and craftsman – St. Martin’s Press – 1966
Kurt Honolka – Dvořák – Haus Publishing – 2004
Duas obras de Dvorák haviam sido programadas para a temporada de 1879 da Orquestra Filarmônica de Viena: a Rapsódia Eslava nº 3, op. 45, e a Serenata para dez instrumentos de sopro, op. 44. Os músicos se encantaram com a Rapsódia desde o início, a ponto de Hans Richter, o regente titular, encomendar uma nova obra ao compositor para a temporada seguinte: uma sinfonia. Mas o público recebeu a Rapsódia com uma frieza sem precedentes, e as críticas que se seguiram ao concerto foram tão violentas que os membros da orquestra decidiram não executar a Serenata. Dvorák, entretanto, começou a trabalhar na composição da nova sinfonia. Os músicos recusaram-se, novamente, a executar outra obra sua, e a Sinfonia
nº 6 acabou tendo sua estreia não mais em Viena, mas em Praga,
no dia 25 de março de 1881, sob a regência de Adolf Cech. Não é de se estranhar a hesitação da orquestra vienense em programar repetidas obras de um compositor tcheco relativamente desconhecido. Naquela época, dos aproximadamente duzentos concertos anuais que aconteciam na cidade, menos de vinte eram concertos de orquestras ou coros profissionais. A Filarmônica de Viena apresentava apenas oito concertos por ano. Seus ingressos, a preços exorbitantes, eram destinados a um seleto grupo de pessoas endinheiradas. O grosso do repertório centrava-se nos compositores clássicos do final do século XVIII e início do XIX. Os grandes compositores alemães vivos (Wagner, Brahms e Bruckner) detinham, juntos, apenas doze por cento da programação, ou seja, aproximadamente duas obras de cada um por ano.
Além do mais, o público da Filarmônica, constituído basicamente de grandes industriais, banqueiros, oficiais graduados e altos funcionários públicos – as classes rica e média alta da cidade –, identificava-se fortemente com a ideologia liberal que pregava a superioridade cultural
alemã e a necessidade de se transmitir essa cultura aos outros povos do Império Austro-Húngaro. Os valores que estavam em jogo não eram raciais ou étnicos, mas apenas culturais. Se o sabor eslavo das obras de Dvorák foi capaz de causar certa excitação numa Alemanha tão confiante de si, já na Viena dos Habsburgo, numa época em que os austríacos ainda lutavam para impor sua supremacia cultural aos diversos povos do Império, qualquer exotismo vindo do leste era visto com forte oposição. E, curiosamente, a Sinfonia nº 6 talvez seja a mais vienense das sinfonias de Dvorák, por conter fortes referências às sinfonias de Beethoven e Brahms. Enquanto o primeiro movimento é repleto do encanto e da luminosidade tão presentes em sua obra, o segundo traz outra característica ímpar do compositor: a melancolia. Se Dvorák tentou esconder o típico sabor tcheco de sua música, compondo uma sinfonia ao gosto vienense, no Scherzo ele se trai e nos brinda com uma deliciosa dança camponesa de sua terra natal. O último movimento, doce, traz a delicada ambientação do início da Sinfonia nº 6 de Beethoven.
GUILHERME NASCIMENTO
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos
floridos não voam e Música menor.
P R O N T O S
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MÚSICA TAMBÉM FAZ A GENTE IR MAIS LONGE.
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F
O
T
O: ALEXANDRE
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Conselho
Administrativo
PRESIDENTE EMÉRITO Jacques Schwartzman PRESIDENTERoberto Mário Soares
CONSELHEIROS Angela Gutierrez Berenice Menegale Bruno Volpini Celina Szrvinsk Fernando de Almeida Ítalo Gaetani Marco Antônio Pepino Mauricio Freire Mauro Borges Octávio Elísio Paulo Brant Sérgio Pena
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Sala Minas
Gerais
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DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR
Fabio Mechetti
REGENTE ASSOCIADO Marcos ArakakiOrquestra
Filarmônica de
Minas Gerais
GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAISFernando Damata Pimentel
VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Antônio Andrade
SECRETÁRIO DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS
Angelo Oswaldo de Araújo Santos
SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO DE CULTURA DE MINAS GERAIS
João Batista Miguel
FORTISSIMO novembro nº 21 / 2016 ISSN 2357-7258 EDITORA Merrina Godinho Delgado EDIÇÃO DE TEXTO Berenice Menegale BARTÓK Representante exclusivo:
Boosey & Hawkes
* principal ** principal associado *** principal assistente
PRIMEIROS VIOLINOS
Anthony Flint – Spalla Rommel Fernandes –
Spalla Associado
Ara Harutyunyan –
Spalla Assistente
Ana Paula Schmidt Ana Zivkovic Arthur Vieira Terto Bojana Pantovic Dante Bertolino Hyu-Kyung Jung Joanna Bello Roberta Arruda Rodrigo Bustamante Rodrigo M. Braga Rodrigo de Oliveira SEGUNDOS VIOLINOS Frank Haemmer * Leonidas Cáceres *** Gideôni Loamir Jovana Trifunovic Luka Milanovic Martha de Moura Pacífico Matheus Braga Radmila Bocev Rodolfo Toffolo Tiago Ellwanger Valentina Gostilovitch VIOLAS
João Carlos Ferreira * Roberto Papi *** Flávia Motta Gerry Varona Gilberto Paganini Juan Díaz Katarzyna Druzd Luciano Gatelli Marcelo Nébias Nathan Medina VIOLONCELOS Philip Hansen * Felix Drake *** Camila Pacífico Camilla Ribeiro Eduardo Swerts Emilia Neves Lina Radovanovic Robson Fonseca William Neres CONTRABAIXOS Nilson Bellotto * André Geiger *** Marcelo Cunha Marcos Lemes Pablo Guiñez Rossini Parucci Walace Mariano FLAUTAS Cássia Lima * Renata Xavier *** Alexandre Braga Elena Suchkova OBOÉS Alexandre Barros * Israel Muniz Moisés Pena CLARINETES
Marcus Julius Lander * Jonatas Bueno *** Ney Franco Alexandre Silva FAGOTES Catherine Carignan * Victor Morais *** Andrew Huntriss Francisco Silva TROMPAS
Alma Maria Liebrecht * Evgueni Gerassimov *** Gustavo Garcia Trindade José Francisco dos Santos Lucas Filho Fabio Ogata TROMPETES Marlon Humphreys * Érico Fonseca ** Daniel Leal *** Tássio Furtado TROMBONES
Mark John Mulley * Diego Ribeiro ** Wagner Mayer *** Renato Lisboa TUBA Eleilton Cruz * TÍMPANOS Patricio Hernández Pradenas * PERCUSSÃO Rafael Alberto * Daniel Lemos *** Sérgio Aluotto Werner Silveira TECLADOS Ayumi Shigeta * GERENTE Jussan Fernandes INSPETORA Karolina Lima ASSISTENTE ADMINISTRATIVA Débora Vieira ARQUIVISTA
Ana Lúcia Kobayashi
ASSISTENTES Claudio Starlino Jônatas Reis SUPERVISOR DE MONTAGEM Rodrigo Castro MONTADORES André Barbosa Hélio Sardinha Jeferson Silva Klênio Carvalho Risbleiz Aguiar
Instituto Cultural Filarmônica
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PARA APRECIAR UM CONCERTO
CONCERTOS COMENTADOS
Agora você pode assistir a palestras sobre temas dos concertos das séries Allegro, Vivace, Presto e Veloce. Elas acontecem na Sala de Recepções, à esquerda do
foyer principal, das 19h30 às 20h, para
as primeiras 65 pessoas a chegar.
CUMPRIMENTOS
Após o concerto, caso queira
cumprimentar os músicos e convidados, dirija-se à Sala de Recepções.
ESTACIONAMENTO
Para seu conforto e segurança, a
Sala Minas Gerais possui estacionamento, e seu ingresso dá direito ao preço especial de R$ 15 para o período do concerto.
PONTUALIDADE
Uma vez iniciado um concerto, qualquer movimentação perturba a execução da obra. Seja pontual e respeite o fechamento das portas após o terceiro sinal. Se tiver que trocar de lugar ou sair antes do final da apresentação, aguarde o término de uma peça.
APARELHOS CELULARES
Confira e não se esqueça, por favor, de desligar o seu celular ou qualquer outro aparelho sonoro.
FOTOS E GRAVAÇÕES EM ÁUDIO E VÍDEO
Não são permitidas durante os concertos.
APLAUSOS
Aplauda apenas no final das obras. Veja no programa o número de movimentos de cada uma e fique de olho na atitude e gestos do regente.
CONVERSA
A experiência do concerto inclui o encontro com outras pessoas. Aproveite essa troca antes da apresentação e no seu intervalo, mas nunca converse ou faça comentários durante a execução das obras. Lembre-se de que o silêncio é o espaço da música.
CRIANÇAS
Caso esteja acompanhado por criança, escolha assentos próximos aos corredores. Assim, você consegue sair rapidamente se ela se sentir desconfortável.
COMIDAS E BEBIDAS
Seu consumo não é permitido no interior da sala de concertos.
TOSSE
Perturba a concentração dos músicos e da plateia. Tente controlá-la com a ajuda de um lenço ou pastilha.
0 PROGRAMA DE CONCERTOS
O Fortissimo é uma publicação indexada aos sistemas nacionais e internacionais de catalogação. Elaborado com a participação de especialistas, ele oferece uma
oportunidade a mais para se conhecer música. Desfrute da leitura e estudo. Mas, caso não precise dele após o concerto, por favor, devolva-o nas caixas receptoras para que possamos reaproveitá-lo. O Fortissimo também está disponível no formato digital em nosso site www.filarmonica.art.br.
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FILARMÔNICA ONLINE
CONCERTOS
novVeja detalhes em filarmonica.art.br/
concertos/agenda-de-concertos. 5 / nov, 18h
Rossini, Brahms
10 e 11 / nov, 20h30
Villa-Lobos, Bartók, Dvorák
20 / nov, 11h
Tema e variações — Haydn, Brahms, Elgar
24 e 25 / nov, 20h30
Webern, Mendelssohn, Wagner
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