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TREINAMENTO AUDITIVO COMPUTADORIZADO: EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO VERBAL E NÃO VERBAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM HISTÓRICO DE OTITE MÉDIA

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Academic year: 2021

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TREINAMENTO AUDITIVO COMPUTADORIZADO: EFEITOS DA

ESTIMULAÇÃO VERBAL E NÃO VERBAL EM CRIANÇAS E

ADOLESCENTES COM HISTÓRICO DE OTITE MÉDIA

Donadon, Caroline1; Sanfins, Milaine Dominici2; Borges, Letícia Reis3; Colella-Santos, Maria Francisca3

(1) Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, caroldonadon.fono@gmail.com. (2) Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, leticiarborges@yahoo.com.br. (3) Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade

Estadual de Campinas, mfcolella@fcm.unicamp.br.

RESUMO

A otite média (OM) tem sido considerada uma das principais causas do transtorno do processamento auditivo central e pode ter um efeito negativo nas vias auditivas centrais. O treinamento auditivo é uma ferramenta importante para a reabilitação de déficits auditivos. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do treinamento auditivo computadorizado e do treinamento audiovisual em crianças e adolescentes com história de otite média secretora. Os indivíduos com idades entre 8 e 16 anos foram divididos em dois grupos: grupo de treinamento auditivo (GTA) - formado por 20 sujeitos que foram estimulados por um programa de treinamento auditivo; e grupo de treinamento audiovisual (GTAV) - constituído por quatro indivíduos que realizaram um programa de treinamento audiovisual. Ambas as intervenções consistiram em 8 sessões, uma vez por semana, durante 45 minutos. Todos os participantes foram submetidos à avaliação audiológica completa e uma bateria de testes comportamentais do processamento auditivo central. A análise foi realizada a partir dos resultados da avaliação comportamental do processamento auditivo central inicial e após as intervenções auditivas e audiovisuais, obtendo os seguintes achados: o GTA apresentou diferença estatisticamente significante para as médias de resposta nos testes que avaliaram as habilidades de integração biauricular (<0,0001), ordenação temporal (<0,001), resolução temporal (<0,001) e figura-fundo (<0,0001). O GTAV apresentou melhores resultados para todos os testes comportamentais realizados, com destaque para os testes de padrão de frequência e Gaps in Noise. Comparando o desempenho pós intervenção de ambos os grupos, notou-se um desempenho médio superior no teste SSI para o GTAV. Os achados do presente estudo destacam os benefícios de ambas as intervenções nas habilidades auditivas avaliadas, tanto para o grupo submetidos ao programa de treinamento auditivo quanto para o submetido ao programa de treinamento audiovisual.

Palavras-chave: audição, treinamento, processamento auditivo

ABSTRACT

Otitis media (OM) has been considered a major cause of central auditory processing disorder and may have a negative effect on auditory pathway as well as on the central auditory areas. Auditory training is an important tool for rehabilitation for auditory deficits. The aim of this study was to evaluate the effects of computerized auditory training and audiovisual training in children and adolescents with a history of secretory otitis media. Subjects aged to 8-16 years were divided into two groups: auditory training group (ATG) – formed by 20 subjects who were stimulated by an auditory training program; and audiovisual training group (AVTG) – constituted by four individuals who realized an audiovisual training program. Both interventions consisted in 8 sessions, once a week, during 45 minutes. All children undergone complete audiological assessment and auditory processing test battery. The analysis were performed from the results of the behavioral evaluation of central auditory processing before and after the

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computerized auditory training, obtaining the following findings: ATG presented a statistically significant difference for the means of response in the tests that evaluated binaural integration (<0. 0001), temporal ordering (<0.001), temporal resolution (<0.001) and figure ground (<0.0001). The group that performed the computerized audiovisual training showed better results for all the behavioral tests performed. Comparing the post-intervention performance of both groups, a higher average performance was noted in the SSI test for AVTG. These findings highlight benefits in the auditory abilities assessed both for auditory training and for audiovisual training.

Keywords: hearing, training, auditory processing

1. INTRODUÇÃO

A fala e a linguagem desempenham um papel essencial na organização perceptual, na recepção e estruturação das informações, na aprendizagem e nas interações sociais do ser humano. Para o desenvolvimento da fala e linguagem é necessário um sistema auditivo íntegro, capaz de realizar habilidades de detecção do som, atenção, discriminação, localização e memória, levando à compreensão das mensagens sonoras. Interrupções nesta sequência de desenvolvimento levarão a prejuízos funcionais importantes na fala, linguagem, além do desenvolvimento cognitivo e social.

Algumas patologias presentes na primeira infância podem afetar a afetar a transmissão dos sinais sonoros até a cóclea, dentre elas destaca-se a otite média (OM). Esta é originada de uma inflamação na orelha média frequentemente associada ao acúmulo de fluido infectado ou não [1]. A OM é considerada uma das causas mais comuns de atendimento médico na infância [2], 50% das crianças com um ano de idade apresenta, pelo menos, um episódio de OM, enquanto que, pelo menos, 2/3 de todas as crianças apresentam um episódio de otite média secretora (OMS) nos seus primeiros cinco anos de vida, podendo resultar em uma perda auditiva condutiva de até 40dB [3,4]. A perda auditiva oriunda da OM, em sua grande maioria, é condutiva e origina uma privação auditiva temporária.

O caráter flutuante da perda auditiva nos casos de OM acarreta uma estimulação sonora inconsistente do sistema nervoso auditivo central (SNAC), distorcendo a percepção sonora e podendo causar experiências sensoriais inadequadas, podendo resultar em mudanças de longo-prazo na função, estrutura e conectividade neural, além de estarem associadas a uma série de dificuldades sensoriais e cognitivas [5,6]. Este fato pode comprometer a maturação do sistema auditivo e suas estruturas ao longo de toda a via auditiva [7,8] uma vez que o processamento do sinal acústico é dependente de input sensorial adequado.

A OM pode provocar um efeito difuso nas habilidades cognitivas e linguísticas, afetando tanto a fala quanto a percepção dos fonemas. Este quadro infeccioso relaciona-se, assim, com o baixo desempenho escolar e com as alterações nas habilidades auditivas, de fala e escrita, além de comprometer as habilidades de processamento auditivo (2-4). Crianças em idade escolar com histórico de otite média podem apresentar déficit fonológico e prejuízos na compreensão de estímulos de fala, ocasionando dificuldade para identificar os sons de fala no processo comunicativo [5, 6].

Visando minimizar os efeitos da OM no desenvolvimento da linguagem, a cirurgia de miringotomia, com inserção de tubo de ventilação, firmou-se como uma forma de restituir a

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audição e drenar o líquido acumulado na orelha média. Porém, apenas a intervenção cirúrgica nos quadros de OM pode não ser o suficiente para garantir uma estimulação adequada do SNAC, pois além da integridade orgânica, a interação entre a criança e o ambiente (pais, familiares, escola) é necessária para garantir um desenvolvimento ideal nos aspectos cognitivos e de linguagem [11].

Já é bem documentada a relação entre os efeitos da OM no desenvolvimento da linguagem oral e do aprendizado [12]. Desta forma, uma avaliação do funcionamento do processamento auditivo central, é recomendada. Estudos realizados com a bateria comportamental do processamento auditivo comprovaram estas alterações, evidenciando pior desempenho das crianças com OM nas habilidades de resolução temporal auditiva e de figura-fundo auditiva (7). Uma vez verificada, por meio da bateria comportamental do processamento auditivo central a inabilidade do sistema nervoso auditivo central, a dificuldade em lidar com a informação auditiva, seja ela verbal ou não verbal [13], caracteriza-se como transtorno do processamento auditivo central (TPAC). O método mais utilizado para reabilitação dos pacientes com TPAC é o treinamento auditivo (TA).

O TA vem sendo reportado com método importante e efetivo, baseado em um conjunto de condições acústicas e/ou tarefas que são projetadas para ativar o sistema auditivo. Entretanto, sabe-se que o córtex cerebral tem características multi modais e integrativas [14], podendo se beneficiar por estimulações multi sensoriais. Os benefícios do processamento multissensorial podem afetar uma gama de habilidades, bem como efeitos de aprendizagem no processamento do estímulo, partindo deste pressuposto, as estratégias de treinamento audiovisual podem melhorar o desempenho perceptivo nas modalidades auditivas.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral: Analisar os efeitos dos programas de treinamento auditivo e do

treinamento audiovisual no processamento auditivo central em crianças com histórico de otite média bilateral.

2.2. Objetivos específicos:

- Verificar as mudanças nas habilidades auditivas do PAC utilizando testes comportamentais após o treinamento auditivo

- Verificar a ocorrência de melhorias após o treinamento audiovisual através dos testes comportamentais do processamento auditivo central.

3. MÉTODOS

O presente estudo foi experimental, prospectivo de corte transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade, sob protocolo de número 889074. A coleta de dados foi realizada nos Laboratórios de Audiologia da Universidade.

Participaram deste estudo, 24 escolares, sendo 16 do sexo feminino e 8 do sexo masculino, de faixa etária entre oito e 16 anos. Para serem incluídos no estudo, os sujeitos deveriam apresentar

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histórico de otite média com efusão em ambas as orelhas e ter realizado cirurgia para colocação de tubos de ventilação bilateral. Como histórico de otite média considerou-se três episódios de OM com efusão bilateral e a realização de apenas uma cirurgia para colocação de tubo de ventilação em ambas as orelhas, simultaneamente, nos primeiros 5 anos de vida. Os episódios de OM foram definidos como presença de perda auditiva condutiva [15] associados a timpanograma plano (tipo B) bilateral [16].

No momento da avaliação, para o presente estudo, os sujeitos apresentaram otoscopia normal (membranas timpânicas visualizadas); limiares tonais por via aérea normais [15]; timpanograma com curva tipo A [16] em ambas as orelhas; ausência bilateral de tubo de ventilação; e nenhum episódio de OM por um período de 12 meses retroativos. Foram excluídos da pesquisa os indivíduos com história de doença médica ou neurológica crônica, transtorno invasivo do desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e / ou de linguagem.

Os sujeitos foram divididos em dois grupos:

- Grupo Treinamento Auditivo (GTA): foi constituído inicialmente por 23 sujeitos, onde três indivíduos não cumpriram as 8 sessões propostas, sendo excluídos. Logo o GTA foi composto por 20 sujeitos (14 do sexo feminino e 6 do sexo masculino) diagnosticadas com transtorno do processamento auditivo central que realizaram um programa de TA.

- Grupo Treinamento Audiovisual (GTAV): foi formado inicialmente por 14 sujeitos, dos quais 7 foram excluídos no decorrer da pesquisa por passarem a atender os critérios de exclusão e 3 participantes não concluíram o programa proposto. Sendo assim, 4 sujeitos (2 do sexo feminino e 2 do sexo masculino) diagnosticados com transtorno do processamento auditivo central realizaram o programa de TAV.

A avaliação auditiva seguiu as seguintes etapas:

3.1. Anamnese: realizada com os pais ou responsáveis para obtenção de dados de identificação

como nome, endereço, idade, escolaridade, data de nascimento, passado otológico e desempenho escolar.

3.2. Avaliação audiológica básica

3.2.1. Audiometria tonal liminar: antes desta avaliação, foi realizada a inspeção do meato

acústico externo, confirmando a ausência de obstrução. Foram pesquisados os limiares auditivos por via aérea nas frequências de 250, 500, 1000, 2000, 3000, 4000, 6000 e 8000 Hz. Foi considerado limiar auditivo normal até 15dB, segundo a classificação de Northern e Downs [15].

3.2.2. Logoaudiometria: composta pelo Limiar de Reconhecimento de Fala (LRF) - foi

realizada uma lista de dissílabos e adotada como resultado final a intensidade em que o participante acertava 50% das palavras apresentadas; e pelo Índice de Reconhecimento de Fala (IRF) – o teste foi realizado a 40dB acima do limiar tonal da média de 500, 1000 e 2000Hz para realização do teste com uma lista de palavras monossilábicas e considerado respostas normais uma porcentagem de acertos entre 88 a 100%.

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3.2.3. Imitanciometria (timpanometria e pesquisa dos reflexos acústicos):

A timpanometria foi realizada com o tom de 226Hz. Os reflexos acústicos ipsilateral e contralateral foram pesquisados nas frequências sonoras de 500, 1000, 2000 e 4000Hz. Foram incluídos sujeitos que apresentaram pico de máxima compliância ao redor da pressão atmosférica de 0 daPa, volume equivalente de 0,3 a 1,3ml de acordo com a proposta de Jerger [16].

A avaliação audiológica básica foi realizada em cabina acústica por meio de um audiômetro modelo AC40 da marca Interacoustics e fones modelo TDH 39P. A imitanciometria foi realizada utilizando-se imitanciômetro 235h da marca Interacoustics. Todos os equipamentos foram calibrados de acordo com as normas ISO-389 e IEC-645. Para os sujeitos que apresentaram respostas normais na avaliação audiológica básica, foi dado início à avaliação eletrofisiológica da audição

3.3. Avaliação do Processamento Auditivo Central

A avaliação comportamental do PAC foi composta pelos testes Dicótico de Dígitos, Gaps in Noise, Teste de Identificação de Sentenças Sintéticas com Mensagem Competitiva Ipsilateral e Teste de Padrão de Frequência. Os testes auditivos foram realizados em cabina acústica por meio do audiômetro AC40 acoplado a um computador e a ordem de aplicação dos testes foi aleatória.

3.3.1. Teste Dicótico de Dígitos (DD): avalia a habilidade de figura-fundo para sons verbais,

por meio da tarefa de integração biauricular. Para realização do teste, foi utilizada uma lista constituída por 80 dígitos que representam dissílabos na língua portuguesa (quatro, cinco, sete, oito e nove). A avaliação foi realizada com estímulos com 50dBNS (ambas as orelhas) [17]. Os participantes foram orientados a repetir os todos os dígitos apresentados independentemente da ordem.

3.3.2. Gaps in Noise (GIN): o objetivo do teste é avaliar a habilidade auditiva de resolução

temporal. O teste consiste em uma série de seguimentos de 6 segundos de ruído de banda larga com 0 a 3 intervalos embutidos dentro de cada seguimento. Os intervalos variam em duração de 2 a 20ms. As crianças foram instruídas a identificar os intervalos de silêncio inseridos nos estímulos de ruído branco em diferentes posições e durações. O limiar de detecção de intervalo foi considerado o menor intervalo percebido pelo indivíduo em pelo menos 4 das seis apresentações. O teste foi aplicado na condição monoaural em intensidade de 50dBNS [18].

3.3.3. Teste de Identificação de Sentenças Sintéticas com Mensagem Competitiva Ipsilateral (SSI): avalia a habilidade de figura-fundo. Para realização do teste são apresentadas

dez sentenças sintéticas com a presença de mensagem competitiva (história), na mesma orelha. O participante foi orientado a apontar a sentença ouvida que estava escrita (frases) em um quadro. Utilizou-se a intensidade de 40dBNS e analisou-se apenas a relação sinal/ruído -15 [17].

3.3.4. Teste de Padrão de Frequência (TPF): avalia a habilidade de ordenação temporal e

consiste na apresentação de tons graves (880 Hz) e agudos (1122 Hz) com duração de 150 ms e intervalos entre os tons de 200 ms. Foram apresentados 30 estímulos de forma monoaural para cada orelha numa intensidade de 50 dBNS [19]. Os participantes tinham que ouvir os três sons consecutivos que variavam em tom e em seguida nomear a sequência ouvida.

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3.4. Intervenção

Os sujeitos participantes da pesquisa foram selecionados para cada um dos três grupos de intervenção de maneira aleatória. Não foi informado aos sujeitos ou responsáveis que haveriam outros tipos de estimulação além da qual ele foi exposto. Após 8 semanas, todas as crianças foram reavaliadas seguindo o mesmo protocolo de testes da avaliação inicial, independente da intervenção realizada.

3.4.1. Programa de Treinamento Auditivo (TA)

O programa de TA teve duração de 8 sessões de 45 minutos cada, realizadas uma vez por semana. Foram apresentados somente estímulos auditivos a um nível de intensidade confortável ao paciente. Nenhuma outra estimulação e/ou pista de qualquer natureza foi apresentada. O protocolo de treinamento foi fechado, independente das habilidades auditivas alteradas na avaliação. A escolha das atividades ocorreu por meio de áudios e tarefas variadas, disponíveis em um website [26], via fones de ouvido, em um ambiente acusticamente controlado (cabina acústica), com objetivo de estimular as habilidades auditivas de figura-fundo, resolução temporal, ordenação temporal e integração biauricular. As tarefas foram apresentadas de forma sistemática e graduada de acordo com o nível de dificuldade.

3.4.2. Programa de Treinamento Audiovisual (TAV)

O programa de TAV foi realizado de maneira análoga ao treinamento auditivo. Os participantes o completaram durante oito semanas consecutivas, com sessões realizadas uma vez por semana com duração de 45 minutos cada. O protocolo de estimulação audiovisual foi elaborado utilizando-se tarefas variadas, que uniam estimulação auditiva e visual realizadas de maneira concomitante, disponíveis em um website [26], via notebook 15” e fones de ouvido em um ambiente acusticamente controlado (cabina acústica). O notebook foi posicionado a frente do sujeito dentro da cabina acústica. O programa foi fechado, igual para todos os participantes independente das habilidades alteradas na avaliação. As habilidades de figura-fundo (auditiva e visual), resolução temporal, ordenação temporal, integração biauricular, percepção e discriminação de formas e tamanhos, memória visual, memória operacional e atenção foram estimuladas. As tarefas foram apresentadas de forma sistemática e graduada de acordo com o nível de dificuldade.

4. ANÁLISE ESTATÍSTICA

De forma a analisar os grupos, foram realizadas análises intra grupo. As medidas descritivas (média, mediana e desvio padrão) foram feitas e apresentadas por meio de tabelas. Para a análise do PAC, os modelos lineares generalizados com distribuição Binomial (para modelar a proporção de acerto e erro), em que o efeito de grupo foi verificado através de um teste chi-quadrado. O lado foi incluído como efeito fixo, como também a sua interação com o tempo (antes e após tratamento) em ambos estudos visual e auditivo. O nível de significância considerado para esse estudo foi de 0,05, destacado nas tabelas com negrito. Quando o efeito de interação entre lado e tempo foi considerado significativo, isto é, p<0,05, as orelhas foram analisadas separadamente.

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5. RESULTADOS

5.1.Caracterização da amostra

A amostra foi constituída por 24 participantes, na faixa etária de 8 a 14 anos. A Tabela 1 apresenta as características sobre sexo e idade dos sujeitos dos dois grupos avaliados.

Tabela 1. Caracterização da amostra, considerando-se o sexo e a idade.

GTA (n=20) GTAV (n=4)

Sexo masculino (%) 70 50

Sexo feminino (%) 30 50

Idade (média±dp) 10,65±1,56 11±1,82

GTA: Grupo Treinamento Auditivo; GTAV: Grupo Treinamento Audiovisual; DP: Desvio Padrão.

5.2. Efeito do Treinamento Auditivo nos testes de Processamento Auditivo Central

Para verificar o efeito do TA (Tabela 2), as respostas dos sujeitos foram comparadas antes e depois da intervenção.

Tabela 2. Valores de média, mediana, desvio padrão e p-valor da comparação do resultado da avaliação comportamental obtida pelo grupo TA nos momentos pré e pós intervenção.

Teste Pré Pós p-valor

min máx média DP min máx média DP

TA DD (%) OD 78.00 100 96.00 5.52 95.00 100 99.45 1.27 <0,0001* OE 70.00 100 92.75 8.21 90.00 100 98.45 2.70 <0,001* TPF (%) OD 16.00 80.00 39.25 18.85 40.00 100 69.25 20.03 <0,001* OE 20.00 93.00 47.35 21.17 40.00 100 71.20 18.55 <0,001* GIN (ms) 4.00 8.00 6.55 1.39 4.00 6.00 4.75 0.81 <0,001* SSI (%) 20.00 100 56.5 18.88 50.00 100 77.25 16.64 <0,0001* TA: Treinamento Auditivo; DD: Dicótico de Dígitos; TPF: Teste de Padrão de Frequência; GIN: Gaps in Noise;

SSI: Teste de Identificação de Sentenças Sintéticas; DP: Desvio Padrão; OD: Orelha Direita; OE: Orelha Esquerda; ms: Milissegundos; min: Mínimo; máx: Máximo; * p-valor <0,05.

5.3. Efeito do Treinamento Audiovisual nos testes de Processamento Auditivo Central

Para o grupo treinamento audiovisual (GTAV), não foi possível realizar análise estatística (Tabela 3), devido ao n da amostra, por isso optou-se pela análise descritiva dos achados.

Tabela 3. Valores de média, mediana, desvio padrão e p-valor da comparação do resultado da avaliação comportamental obtida pelo GTAV nos momentos pré e pós intervenção.

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Teste Pré Pós

min máx média DP min máx média DP

TAV

DD (%) 87 100 97,37 4,59 95 100 98,62 1,99

TPF (%) 23 60 45,12 14,87 60 90 69,12 10,02

GIN (ms) 5 10 7,5 2,67 3 8 4,75 2,18

SSI (%) 60 100 83,75 16,85 80 100 90 7,55

TAV: Treinamento Audiovisual; DD: Dicótico de Dígitos; TPF: Teste de Padrão de Frequência; GIN: Gaps in Noise; SSI: Teste de Identificação de Sentenças Sintéticas; DP: Desvio Padrão; ms: Milissegundos; min:

Mínimo; máx: Máximo.

6. DISCUSSÃO

Ao analisarmos os resultados dos programas de treinamento auditivo e audiovisual, enquanto experiência, notou-se um maior envolvimento dos sujeitos que participaram do programa audiovisual. Atribuímos ao fato de que nesta estimulação a participação do avaliador foi mais restrita, pois os participantes além de verbalizarem as respostas, tinham a possibilidade de interagir com as tarefas apresentadas no computador e assinalavam suas respostas nas atividades propostas. Enquanto o GTA recebia apenas as possibilidades de resposta apresentadas pelo avaliador oralmente e ao escolher deveria verbaliza-la. Nenhum tipo de estímulo foi apresentado além do auditivo, impossibilitando a interação com as tarefas do programa.

Os resultados da avaliação inicial do GTA mostram alterações nas habilidades de integração biauricular, ordenação temporal, resolução temporal e figura-fundo. Os resultados do presente estudo identificaram que o treinamento auditivo proporcionou diferença estatisticamente significante para todos os testes comportamentais ao comparar as avaliações antes e depois, destacando o melhor ganho de desempenho pós intervenção nos testes de ordenação temporal, resolução temporal e figura-fundo. Esse achado corrobora a literatura, apoiando que o treinamento auditivo introduziu mudanças no sistema nervosos auditivo central, possibilitando experiências apropriadas, e moldando os circuitos neuronais existentes por meio da plasticidade, refletindo na melhora da avaliação comportamental [20].

A avaliação das respostas iniciais do GTAV apresentou desempenhos médios abaixo nos níveis de normalidade para os testes TPF e GIN. Já a avaliação pós treinamento audiovisual apresentou ganhos em todos os testes realizados, com melhoria significativa na performance dos testes TPF e GIN, que avaliam o processamento temporal representado pelas habilidades de ordenação e resolução temporal. Sabe-se que os estímulos visuais se integram aos estímulos auditivos em uma ampla gama de condições de escuta, como nos déficits de processamento temporal. Devido a ampla conectividade multissensorial do córtex, todas as operações corticais são potencialmente multi sensíveis, logo a estimulação proporcionada pelo TAV pode ter proporcionado uma reorientação top-down nestes indivíduos. Além disso, a informação visual associada pode promover um forte feedback positivo que facilita a decodificação do estimulo auditivo pois o córtex auditivo primário pode reter memorias de longo prazo sobre o significado dos sons [21].

No que diz respeito a performance pós intervenção dos GTA e GTAV observou-se valores médios de resposta semelhantes para todos os testes comportamentais, entretanto no teste SSI houve um desempenho médio superior para o GTAV. Este achado evidencia a vantagem do

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TAV para melhorar a identificação de fala com mensagem competitiva. O resultado encontrado no GTAV pós intervenção pode se relacionar com a presença de uma rede neural comum para a memória visual e auditiva, e para o processamento auditivo e visual da palavra, respectivamente, envolvendo as regiões frontal inferior esquerda, pré-frontal anterior, área motora suplementar anterior, córtex parietal superior e posterior e o cerebelo [24,25]. Além disso, estudos [22,23] têm demonstrado que o treinamento audiovisual pode melhorar o aprendizado e pode aumentar a performance as modalidades auditivas ou visuais.

7. CONCLUSÃO

Os achados do presente estudo destacam a eficiência do treinamento auditivo para melhorar as habilidades de ordenação temporal, resolução temporal e figura-fundo dos indivíduos com histórico de otite média bilateral. Além disso, o treinamento audiovisual melhorou o desempenho nos testes Dicótico de Dígitos, Padrão de Frequência, Gaps in Noise e Identificação de Sentenças Sintéticas. O presente estudo demonstrou que o treinamento audiovisual trouxe maiores ganhos no teste de Identificação de Sentenças Sintéticas quando comparado ao programa auditivo. No entanto, outras análises entre o treinamento auditivo e audiovisual observando os resultados nos testes comportamentais ampliando o tamanho amostral se fazem necessárias em estudos futuros.

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