• Nenhum resultado encontrado

Aula 06. Aula 06. Direito Internacional Público p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Vanessa Arns. Autor: Vanessa Brito Arns

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Aula 06. Aula 06. Direito Internacional Público p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Vanessa Arns. Autor: Vanessa Brito Arns"

Copied!
79
0
0

Texto

(1)

Aula 06

Direito Internacional Público p/ Carreira

Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof.

Vanessa Arns

Autor:

Vanessa Brito Arns

(2)

Sumário

Considerações Iniciais ... 2

Extradição. ... 3

1. Extradição: conceito e espécies. ... 3

2. Modalidades de Extradição ... 7

3. Requisitos ... 11

4. Limitações à extradição... 14

5. Deportação e expulsão. ... 16

6. Expulsão. ... 19

Legislação e Jurisprudência Destacadas ... 22

Resumo ... 47

Considerações Finais ... 62

Questões Comentadas ... 63 Vanessa Brito Arns

Aula 06

(3)

D

IREITO

I

NTERNACIONAL

P

ÚBLICO

C

ONSIDERAÇÕES

I

NICIAIS

Na aula de hoje vamos continuar os estudos da disciplina de Direito Internacional, com foco em Nacionalidade.

Vejamos os tópicos específicos do edital que serão abordados em aula:

Personalidade internacional. Estrangeiros. Vistos. Deportação. Expulsão. Extradição. Conceito. Fundamento jurídico

Estou à disposição se surgirem dúvidas! Boa aula!

Instagram: https://www.instagram.com/vanessa.arns Vanessa Brito Arns

Aula 06

(4)

E

XTRADIÇÃO

.

1.

E

XTRADIÇÃO

:

CONCEITO E ESPÉCIES

.

A extradição é uma forma de cooperação jurídica em matéria penal internacional na qual um determinado Estado requer o envio de um indivíduo para que seja julgado criminalmente ( a

chamada extradição instrutória) ou possa cumprir pena criminal ( a chamada extradição executória).

Para Francisco Rezek: “Extradição é a entrega, por um Estado a outro, e a pedido deste, de pessoa

que em seu território deva responder a processo penal ou cumprir pena.”

Conforme ensina Valério Mazzuoli, entre os institutos mais importantes relativos à retirada de estrangeiros do território nacional está seguramente o da extradição. Diferente dos demais institutos (como repatriação, deportação e expulsão), não há na extradição qualquer iniciativa das autoridades locais, já que deve ser sempre requerida por outra potência estrangeira.

Além disso, também diversamente daqueles institutos, deste processo extradicional participa a cúpula do Poder Judiciário do Estado requerido (no Brasil, o Supremo Tribunal Federal). Mazzuoli completa:

“Por fim, a extradição se insere na relação jurídica entre dois Estados soberanos (o que está a justificar, inclusive, o seu estudo na órbita do Direito Internacional Público) que pretendem cooperar entre si para a repressão internacional de delitos”).

Conforme já decidiu o STF, o instituto da Extradição não se confunde, contudo, com o da entrega – SURRENDER - (inclusive de nacionais) ao Tribunal Penal Internacional, previsto pelo art. 102 do Estatuto de Roma de 1998. Assim, extradição e entrega são institutos jurídicos distintos, tendo cada um deles aplicação para casos e situações diversas. Vejamos:

Vanessa Brito Arns Aula 06

(5)

Estatuto de Roma. Incorporação dessa convenção multilateral ao ordenamento jurídico interno brasileiro (Decreto 4.388/2002). Instituição do Tribunal Penal Internacional. Caráter supraestatal desse organismo judiciário. Incidência do princípio da complementaridade (ou da subsidiariedade) sobre o exercício, pelo Tribunal Penal Internacional, de sua jurisdição. Cooperação internacional e auxílio judiciário: obrigação geral que se impõe aos Estados-partes do Estatuto de Roma (art. 86). Pedido de detenção de chefe de Estado estrangeiro e de sua ulterior entrega ao Tribunal Penal Internacional, para ser julgado pela suposta prática de crimes contra a humanidade e de guerra. Solicitação formalmente dirigida, pelo Tribunal Penal Internacional, ao governo brasileiro. Distinção entre os institutos da entrega (surrender) e da extradição. Questão prejudicial pertinente ao reconhecimento, ou não, da competência originária do STF para examinar este pedido de cooperação internacional. Controvérsias jurídicas em torno da compatibilidade de determinadas cláusulas do Estatuto de Roma em face da Constituição do Brasil. O § 4º do art. 5º da Constituição, introduzido pela EC 45/2004: cláusula constitucional aberta destinada a legitimar, integralmente, o Estatuto de Roma? A experiência do direito comparado na busca da superação dos conflitos entre o Estatuto de Roma e as Constituições nacionais. A questão da imunidade de jurisdição do chefe de Estado em face do Tribunal Penal Internacional: irrelevância da qualidade oficial, segundo o Estatuto de Roma (art. 27). Magistério da doutrina. Alta relevância jurídico-constitucional de diversas questões suscitadas pela aplicação doméstica do Estatuto de Roma. Necessidade de prévia audiência da douta PGR.

[Pet 4.625, ementa do despacho proferido pelo min. Celso de Mello, no exercício da Presidência, em 17-7-2009, DJE de 4-8-2009 e Informativo 554.]

Encontramos o instituto da extradição na Constituição Federal em seu art. 5º,incisos LI e LII, com especial proteção aos brasileiros de uma possível extradição, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (a qualquer tempo.) Fica também protegido da extradição um estrangeiro que tenha cometido crime político ou de opinião.

Vanessa Brito Arns Aula 06

(6)

Vejamos:

Art. 5º, LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

LII – não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião

Brasileiro

Nato

Não pode serExtraditado!

Brasileiro

Naturalizado

Crime comum praticado antes da naturalização Comprovado envolvimento em tráfico de Entorpecentes

Estrangeiro

Pode ser extraditado, em regra

Não pode ser extraditado por crime político ou de

opinião. Vanessa Brito Arns

Aula 06

(7)

Professora, o que acontece com o brasileiro ou brasileira nata que perdeu a nacionalidade brasileira?

A perda da nacionalidade brasileira nata, em razão da aquisição voluntária de outra, é chamada pela doutrina de "perda-mudança" e dar-se-á por decreto declaratório do Presidente da República, após procedimento administrativo onde sejam assegurados contraditório e ampla defesa. A título de curiosidade, há discussão doutrinaria e jurisprudencial sobre a natureza da nacionalidade readquirida pelo brasileiro nato que a perdeu pela aquisição voluntária de outra.

Para Mazzuoli, ao se renaturalizar após perder a nacionalidade originária brasileira, o brasileiro nato passa a ser considerado naturalizado. Contudo, há julgado antigo do STF entendendo que, nestes casos, o brasileiro nato, ao readquirir sua nacionalidade, assim continua considerado (Extradição 441, 1986).

Vejamos a decisão trazida pelo informativo 859 do STF:

Se um brasileiro nato que mora nos EUA e possui o green card decidir adquirir a nacionalidade norte-americana, ele irá perder a nacionalidade brasileira. Não se pode afirmar que a presente situação se enquadre na exceção prevista na alínea “b” do inciso II do § 4º do art. 12 da CF/88. Isso porque, como ele já tinha o green card, não havia necessidade de ter adquirido a nacionalidade norte-americana como condição para permanência ou para o exercício de direitos civis. O estrangeiro titular de green card já pode morar e trabalhar livremente nos EUA. Dessa forma, conclui-se que a aquisição da cidadania americana ocorreu por livre e espontânea vontade. Vale ressaltar que, perdendo a nacionalidade, ele perde os direitos e garantias inerentes ao brasileiro nato. Assim, se cometer um crime nos EUA e fugir para o Brasil, poderá ser extraditado sem que isso configure ofensa ao art. 5º, LI, da CF/88. STF. 1ª Turma. MS 33864/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 19/4/2016 (Info 822). STF. 1ª Turma. Ext 1462/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 28/3/2017 (Info 859).

Vanessa Brito Arns Aula 06

(8)

Vejamos o comentário feito pelo Juiz Federal e Professor Márcio André Lopes, do Dizer o Direito: O STF deferiu o pedido de extradição formulado pelos EUA por considerar que estavam preenchidos os requisitos previstos na Lei nº 6.815/80 e no Tratado de Extradição firmado entre o Brasil e aquele país. O STF, contudo, exigiu que a entrega da extraditanda somente ocorresse após os EUA assumirem o compromisso formal de: a) não aplicar penas que sejam proibidas pelo direito brasileiro, em especial a de pena de morte ou prisão perpétua (art. 5º, XLVII, “a” e “b”, da CF/88); b) respeitar o tempo máximo de cumprimento de pena previsto no ordenamento jurídico brasileiro (30 anos, nos termos do art. 75 do CP; e c) detrair da pena ("descontar") o tempo que a extraditanda ficou presa no Brasil aguardando a extradição. Volto a repetir: Maria foi extraditada porque, antes da extradição, ela perdeu a condição de brasileira nata. Se ela não tivesse perdido, não poderia ser extraditada. Brasileiro nato não pode ser extraditado.

Ou seja: Brasileiro, titular de green card, que adquire nacionalidade norte-americana, perde a nacionalidade brasileira e pode ser extraditado pelo Brasil.

Qual a Natureza Jurídica da Extradição?

A extradição configura cooperação penal entre Estados para a repressão

internacional de crimes. Segundo Mazzuoli, Não se trata de pena, mas de medida de

cooperação internacional na repressão ao delito, que visa à boa administração da

justiça penal.

2.

M

ODALIDADES DE

E

XTRADIÇÃO

A extradição apresenta basicamente duas modalidades principais:

1. A extradição ativa - ocorre quando o nosso governo requer a outro país a extradição de criminoso foragido da justiça brasileira e a

2. A extradição passiva - que ocorre quando um país estrangeiro solicita ao Brasil a extradição de indivíduo de lá foragido que se encontra em nosso território).

Vanessa Brito Arns Aula 06

(9)

A Extradição Passiva deve ser sempre requerida (com o consequente pedido de entrega) por outro Estado estrangeiro, não havendo extradição espontânea ou ex officio.

Vejamos o que diz a lei de Migração sobre a Extradição Ativa:

Art. 88. Todo pedido que possa originar processo de extradição em face de Estado estrangeiro deverá ser encaminhado ao órgão competente do Poder Executivo diretamente pelo órgão do Poder Judiciário responsável pela decisão ou pelo processo penal que a fundamenta.

§ 1º Compete a órgão do Poder Executivo o papel de orientação, de informação e de avaliação dos elementos formais de admissibilidade dos processos preparatórios para encaminhamento ao Estado requerido.

§ 2º Compete aos órgãos do sistema de Justiça vinculados ao processo penal gerador de pedido de extradição a apresentação de todos os documentos, manifestações e demais elementos necessários para o processamento do pedido, inclusive suas traduções oficiais. § 3º O pedido deverá ser instruído com cópia autêntica ou com o original da sentença condenatória ou da decisão penal proferida, conterá indicações precisas sobre o local, a data, a natureza e as circunstâncias do fato criminoso e a identidade do extraditando e será acompanhado de cópia dos textos legais sobre o crime, a competência, a pena e a prescrição.

§ 4º O encaminhamento do pedido de extradição ao órgão competente do Poder Executivo confere autenticidade aos documentos.

Vejamos o que diz a lei de Migração sobre a Extradição Passiva

Art. 89. O pedido de extradição originado de Estado estrangeiro será recebido pelo órgão competente do Poder Executivo e, após exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, encaminhado à autoridade judiciária competente.

Parágrafo único. Não preenchidos os pressupostos referidos no caput , o pedido será arquivado mediante decisão fundamentada, sem prejuízo da possibilidade de renovação do pedido, devidamente instruído, uma vez superado o óbice apontado.

Temos, também, segundo a doutrina, as denominadas extradição instrutória (para fins de julgamento, ou seja, quando o processo está em curso no país de origem) e em Vanessa Brito Arns

Aula 06

(10)

extradição executória (quando a sua finalidade é fazer com que o extraditando cumpra a pena já imposta pelo Estado requerente).

Nos casos em que couber solicitação de extradição executória, dispõe a Lei de Migração que “a autoridade competente poderá solicitar ou autorizar a transferência de execução da pena, desde que observado o princípio do non bis in idem” (art. 100, caput)

Vejamos a chamada Extradição sem tratado.

Conforme vimos, a extradição se efetiva quando o governo requerente se fundamenta em tratado ou quando houver promessa de reciprocidade entre os Estados requerente e requerido. Não havendo tratado de extradição entre o Estado requerente e o Estado requerido, a concessão da extradição passa a subordinar-se, exclusivamente, às disposições da legislação interna, desde que o Estado requerente ofereça “promessa de reciprocidade” ao Estado requerido.

Segundo Valério Mazzuoli, “a promessa de reciprocidade nada mais é do que um acordo diplomático

(normalmente materializado em uma Nota Diplomática) estipulado entre os dois Estados para a entrega de determinado indiciado, sem as formalidades de um tratado internacional. “.

A Lei de Migração menciona a necessidade de “promessa de reciprocidade recebida por via diplomática” quando, na ausência de tratado, houver pedido de prisão cautelar do extraditando, que se dá em hipótese de urgência e com o objetivo de assegurar a executoriedade da medida extradicional (arts. 84, caput e § 2º).

Vejamos o art. 84, § 2º, da Lei:

“O pedido de prisão cautelar poderá ser transmitido à autoridade competente para extradição no Brasil por meio de canal estabelecido com o ponto focal da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) no País, devidamente instruído com a documentação comprobatória da existência de ordem de prisão proferida por Estado estrangeiro, e, em caso de ausência de tratado, com a promessa de reciprocidade recebida por via diplomática”.

A Seção Da Transferência da Execução da Pena a Lei menciona que, sem prejuízo do disposto no Código Penal, a transferência de execução da pena será possível quando, dentre outros requisitos,

“houver tratado ou promessa de reciprocidade” (art. 100, inc. V).

Da mesma forma, na Seção Da Transferência de Pessoa Condenada a Lei dispõe que tal medida

“poderá ser concedida quando o pedido se fundamentar em tratado ou houver promessa de reciprocidade” (art. 103, caput)

Vanessa Brito Arns Aula 06

(11)

O Regulamento da Lei de Migração, por sua vez, menciona em seu art. 266, parágrafo único que o pedido de extradição passiva “não impedirá a transferência temporária de pessoas sob custódia para

fins de auxílio jurídico mútuo, nos termos de tratado ou de promessa de reciprocidade de tratamento”; assim como ocorre na hipótese de extradição ativa (art. 278, parágrafo único).

Existe ainda a possibilidade da chamada Extradição monocrática.

A partir do julgamento da Questão de Ordem na Extradição nº 1476/DF, de 9 de maio de 2017, o STF passou a entender que, nos processos em que houver declaração de concordância espontânea do extraditando, com base em tratado internacional autorizativo e com a assistência de advogado ou defensor, poderá o Relator julgar monocraticamente o pleito extradicional.

Conforme ensina Mazzuoli, na ocasião, a 2ª Turma do STF, ao homologar a declaração voluntária de concordância com a extradição realizada por cidadão português, entendeu devesse delegar ao Relator designado a competência de, em casos tais, decidir monocraticamente os pleitos extradicionais.

Esse expediente, que se pode nominar de extradição monocrática, certamente facilita a extradição e melhor atende às expectativas do Estado requerente, quando voluntariamente o extraditando consente na sua efetiva entrega. Segundo a decisão do STF, porém, a extradição monocrática somente será possível (respeitados, evidentemente os demais requisitos da extradição, como a necessidade de dupla tipicidade e de dupla punibilidade) se houver tratado internacional entre os Estados em causa a autorizar a imediata entrega do extraditando, por meio de procedimento simplificado, quando o nacional estrangeiro manifeste sua inequívoca intenção de entregar-se ao Estado requerente, com assistência técnica de advogado ou defensor. Tal é o que prevê, v.ġ., o art. 19 da Convenção de Extradição entre os Estados Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, de 2005, em vigor no Brasil desde 2013, nestes termos: “O Estado requerido pode conceder a extradição se a pessoa reclamada, com a devida assistência jurídica e perante a autoridade judicial do Estado requerido, declarar a sua expressa anuência em ser entregue ao Estado requerente, depois de ter sido informada de seu direito a um procedimento formal de extradição e da proteção que tal direito encerra”.

A Lei de Migração, contudo, em dispositivo bastante similar ao que se acaba de transcrever, não exigiu deva haver tratado autorizando a entrega voluntária, senão apenas que assim declare expressamente o extraditando e que o mesmo seja assistido por advogado e seja advertido que tem direito ao processo judicial de extradição e à proteção que tal direito encerra (art. 87).

Vanessa Brito Arns Aula 06

(12)

3.

R

EQUISITOS

A efetivação de uma extradição decorre ou do previsto em tratado (geralmente bilateral) entre os dois Estados, ou de disposição do Direito interno do Estado de refúgio, quando a legislação deste aceita as chamadas promessas de reciprocidade

São condições básicas para a concessão da extradição, sem prejuízo de outras previstas em tratados: 1) ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse Estado;

2) estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou ter sido condenado pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a pena privativa de liberdade superior a dois anos (Lei de Migração, art. 83, incs. I e II; Regulamento, art. 263, incs. I e II).

Sem a presença de ambas as condições nenhum pleito extradicional poderá lograr êxito.

Conforme ensina André de Carvalho Ramos, o juízo de delibação na extradição passiva consiste em avaliação, pelo STF, de cumprimento formal dos requisitos constitucionais, convencionais e legais que autorizam a extradição.

Não visa verificar a culpa do extraditando, pois é um contencioso de legalidade no qual a defesa apontará eventuais ausências de requisitos essenciais no procedimento extradicional.

Nesse sentido, a Lei n. 13.445/2017 estabelece que a defesa do extraditando deve versar sobre (i) a identidade da pessoa reclamada, (ii) defeito de forma de documento apresentado ou (iii) ilegalidade (e também inconvencionalidade, caso prevista em tratado) da extradição (art. 91, § 1º). Também a defesa pode sustentar eventual violação de direitos do extraditando previstos na CF/88 ou em tratados de direitos humanos celebrados pelo Brasil.

Podemos dividir os requisitos essenciais para o deferimento pelo STF de uma extradição passiva em requisitos constitucionais e requisitos legais. Os requisitos constitucionais, conforme trazidos por André de Carvalho Ramos, são:

1) Não ser o extraditando brasileiro nato e, no caso de naturalizado, ter sido o crime cometido antes da naturalização ou, a qualquer momento, no caso de comprovado envolvimento em Vanessa Brito Arns

Aula 06

(13)

tráfico de entorpecente (princípio geral de inextraditabilidade do brasileiro, incluído o naturalizado).

Como a Constituição exige “comprovado envolvimento”, só se admite a extradição passiva executória de brasileiro naturalizado envolvido em tráfico de entorpecentes após a naturalização (que se encerra após a solene entrega do certificado de naturalização pelo Juiz Federal). Logo, o Estado Requerente deverá apresentar certidão de transito em julgado da condenação criminal para que a extradição seja deferida

2) Não for caso de crime político ou de opinião.

Segundo André de Carvalho Ramos, “a Constituição não define o que vem a ser crime político,

tendo o STF adotado a teoria mista para caracterizá-lo: é crime político aquele que é realizado com motivação e os objetivos políticos de um lado (elemento subjetivo), e, de outro, com a lesão real ou potencial a valores fundamentais da organização política do Estado (elemento objetivo). “

Como exemplo de reconhecimento de crime político está o caso de extraditando acusado de transmitir ao Iraque segredo do Estado Requerente (Alemanha), utilizável em projeto de desenvolvimento de armamento nuclear, tendo o STF indeferido a extradição (Ext 700, Rel. Min. Octavio Gallotti, julgamento em 4-3-1998, Plenário, DJ de 5-11-1999.)

Por outro lado, o STF não reconhece a excludente de crime político para casos de terrorismo, sejam atos cometidos por particulares, sejam atos perpetrados com o apoio oficial do próprio aparato governamental, no chamado terrorismo de Estado (Ext 855, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 26-8-2004, Plenário, DJ de 1º-7-2005).

A Lei n. 13.445/17 determina que o Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crime político o atentado contra chefe de Estado ou quaisquer autoridades, bem como crime contra a humanidade, crime de guerra, crime de genocídio e terrorismo (art. 82, § 4º). Também a mesma lei determina que a extradição ocorrerá quando o fato objeto do pedido de extradição constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal (art. 82, § 1º).

3) Ser respeitado o devido processo legal no Estado Requerente.

A observância do devido processo legal pelo Estado Requerente no julgamento do extraditando é requisito constitucional implícito, de acordo com o STF (Ext 633-9, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 28-8-1996, DJ de 6-4-2001), podendo ser extraído ainda da proibição legal de julgamento do extraditando por juízo de exceção.

4) Ser comutada a pena de morte ou de caráter perpétuo em pena privativa de liberdade não superior a 30 anos.

Vanessa Brito Arns Aula 06

(14)

A comutação da pena de caráter perpétuo foi considerada pelo STF como requisito implícito da CF/88 indispensável para que a extradição passiva possa ser deferida (Ext 855, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 26-8-2004, Plenário, DJ de 1º-7-2005). Atendendo essa posição do STF, a Lei 13.445/17 dispõe que o Estado estrangeiro requerente deve assumir o compromisso de comutar a (i) pena corporal, (ii) perpétua ou de (iii) morte em pena privativa de liberdade de, no máximo, cumprimento por 30 anos (art. 96, III).

Seguindo o Curso de Direitos Humanos de André de Carvalho Ramos, são os seguintes os principais requisitos legais previstos na Lei n. 13.445/17 e nos principais tratados de extradição:

1) Obediência e Prevalência dos Tratados.

A extradição será regida pelo tratado eventualmente firmado pelo Brasil e pelo Estado Requerendo, afastando-se a Lei n. 13.445, pois o tratado é lex specialis em relação à lei. 2) Reciprocidade na ausência de tratado.

A extradição só será autorizada pelo Brasil caso haja tratado ou, na sua ausência, caso haja promessa de reciprocidade pelo Estado Requerente (art. 84, § 2º , o qual deve ser utilizado como cláusula genérica de reciprocidade) assegurando que, na hipótese de o Brasil solicitar extradição em caso similar, o Estado estrangeiro a deferirá).

3) Especialidade.

O Estado Requerente deve se comprometer a só processar ou punir o extraditando pelo crime que estiver no pedido de extradição. Não pode também extraditar para outro Estado (extradição camuflada para terceiro).

4) Identidade ou dupla tipicidade e punibilidade (também chamado modelo do crime hipotético ou paralelismo).

Só cabe extradição caso a conduta cometida pelo extraditando for, hipoteticamente, crime no Estado Requerente e também no Brasil, sem qualquer caso de extinção da punibilidade de acordo com os dois ordenamentos jurídicos. Não se exige o mesmo tipo penal ou a mesma denominação: basta que o fato seja crime punível nos dois Estados.

5) Preferência da jurisdição nacional penal.

Não será concedida extradição caso o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando.

6) Proibição do ne bis in idem.

Não será concedida a extradição, caso o extraditando estiver a responder a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido. 7) Proibição de Juízo de Exceção.

Não se concede extradição caso o extraditando houver de responder, no Estado requerente, perante Tribunal ou Juízo de Exceção. Essa proibição legal é compatível com a exigência do “devido processo legal” no Estado requerente, que é requisito constitucional implícito, na visão do STF.

Vanessa Brito Arns Aula 06

(15)

8) Proibição de determinadas penas e de tratamento cruel, desumano e degradante.

Como já apontado acima, a Lei n. 13.445/2017 absorveu a jurisprudência atual do STF e determinou a necessidade de comutação da pena corporal, perpétua e de morte, que o extraditando poderia estar submetido pela lei do Estado requerente, bem como estipulou o limite máximo de 30 anos para o cumprimento da pena privativa de liberdade. Além disso, o Estado requerente não poderá submeter o extraditando a (i) tortura ou a (ii) outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. A fiscalização do cumprimento desses deveres do Estado requerente incumbe ao Estado brasileiro, nas suas relações diplomáticas.

9) Exigência de crime grave. Só será concedida extradição se a lei brasileira impuser, hipoteticamente, ao crime cometido pena de prisão igual ou superior a dois anos (não cabe extradição para ilícito cível ou contravenção penal).

4.

L

IMITAÇÕES À EXTRADIÇÃO

.

As chamadas limitações à extradição se confundem, muitas vezes, com seus requisitos.

O exame judiciário da extradição deve atender a determinados pressupostos, previstos na lei interna ou em tratados internacionais.

Um desses pressupostos diz respeito à nacionalidade do extraditando, sendo o Brasil um dos países que somente extraditam estrangeiros ou brasileiros naturalizados (nunca os brasileiros natos).

No caso dos brasileiros naturalizados, os motivos que ensejam a extradição são apenas (a) o crime cometido antes da naturalização e (b) o comprovado envolvimento no tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (em ambos os casos, a extradição independerá da perda da nacionalidade brasileira – Regulamento da Lei de Migração, art. 267, § 5º).

Conforme vimos, tais regras vêm disciplinadas no art. 5º, incs. LI e LII, da Constituição de 1988, que dispõem, respectivamente, que “nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei” (nesse último caso, independentemente de cronologia); e também que “não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião”.

De acordo com o art. 82, § 1º, da Lei de Migração, a extradição é somente vedada no caso de serem puramente políticos os atos imputados ao extraditando, não se excluindo a possibilidade da

Vanessa Brito Arns Aula 06

(16)

extradição se se tratar de infração comum da lei penal estrangeira, ou quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal.

O STF, no entanto, com a relatoria do Min. Marco Aurelio, decidiu de forma diferente:

Uma vez constatado o entrelaçamento de crimes de natureza política e comum, impõe indeferir a extradição.

[Ext 994, rel. min. Marco Aurélio, j. 14-12-2005, P, DJ de 4-8-2006.]

Segundo Mazzuoli:

“Para nós, contudo, tal exceção não pode ser admitida, por ser inconstitucional à luz do que dispõe a Carta Magna de 1988. Ora, o que o texto constitucional brasileiro protege é o crime político enquanto tal, não a lei penal comum estrangeira, que sobre ele não prevalece. É dizer, o delito de caráter político tem primazia sobre os crimes comuns, não o contrário. Assim, havendo conexão entre um delito político e um crime comum, o

problema se resolve em favor do primeiro, sob pena de violação do comando constitucional que impede a extradição em razão de crime político. Essa, inclusive, a

solução apontada pela maioria dos textos constitucionais contemporâneos.

Além dos casos da vedação da extradição de nacionais e de não nacionais por motivo de crime político ou de opinião, 245 a Lei de Migração elenca ainda outras hipóteses de vedação da extradição (art. 82, incs. II a IX), que ocorrerão quando:

a) o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente (requisito da dupla tipicidade ou dupla incriminação)

b) o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando; c) a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão igual ou inferior a 2 (dois) anos;

d) o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;

e) estiver extinta a punibilidade pela prescrição segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente (requisito da dupla punibilidade) 247 ;

Vanessa Brito Arns Aula 06

(17)

f) o extraditando tiver de responder pelo crime, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção; e

g) o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei nº 9.474/97, ou de asilo territorial. Ressalte-se, por fim, que o fato de o extraditando ter esposa ou filhos brasileiros não é óbice à concessão da extradição, como já decidiu o Supremo Tribunal Federal: “Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado casado com brasileira ou ter filho brasileiro” (Súmula 421)

Segundo Mazzuoli:

O problema da prisão perpétua e da pena de morte extradição diz respeito àqueles países que impõem pena de prisão perpétua (ou, até mesmo, pena de morte) para o crime ou crimes imputados ao extraditando. O Brasil poderia extraditar um estrangeiro para país que prevê pena de prisão perpétua, ou de morte, para o crime cometido pelo extraditando? A Constituição brasileira permite a pena de morte “em caso de guerra declarada” (art. 5º, inc. XLVII, alínea a), mas proíbe terminantemente as penas de caráter perpétuo (alínea b do mesmo inciso).

À égide do Estatuto do Estrangeiro, o STF não demonstrava preocupação em autorizar extradições

5.

D

EPORTAÇÃO E EXPULSÃO

.

A deportação consiste na retirada compulsória do estrangeiro do território nacional, fundamentada no fato de sua irregular entrada (geralmente tida como clandestina) ou permanência no país.

A deportação só tem lugar depois que o estrangeiro ingressou no país, não se confundindo com o impedimento de ingresso acima estudado, no qual o estrangeiro não chega a efetivamente entrar no território nacional, não passando da barreira policial da fronteira, porto ou aeroporto.

A permanência irregular no país quase sempre se dá por excesso de prazo, ou pelo exercício de trabalho remunerado, no caso dos turistas.

• No Brasil, o Departamento de Polícia Federal (por meio dos seus agentes policiais federais) tem competência para deportar estrangeiros com entrada ou permanência irregular no país Vanessa Brito Arns

Aula 06

(18)

(iniciativa local), sem envolvimento da cúpula do governo e independentemente de qualquer processo judicial. 1

• O procedimento instaurado pela Polícia Federal deverá conter o relato do fato motivador da medida e sua fundamentação legal, e determinará:

I – a juntada do comprovante da notificação pessoal do deportando prevista no art. 176 do Regulamento; e II – notificação, preferencialmente por meio eletrônico:

a) da repartição consular do país de origem do imigrante;

b) do defensor constituído do deportando, quando houver, para apresentação de defesa técnica no prazo de dez dias; e

c) da Defensoria Pública da União, na ausência de defensor constituído, para apresentação de defesa técnica no prazo de vinte dias (Regulamento, art. 188, § 1º)

A causa da deportação é o não cumprimento dos requisitos necessários para o ingresso regular ou para a permanência do estrangeiro no país.

Nos termos do art. 50, § 1º, da Lei de Migração, a deportação “será precedida de notificação pessoal

ao deportando, da qual constem, expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60 (sessenta) dias, podendo ser prorrogado, por igual período, por despacho fundamentado e mediante compromisso de a pessoa manter atualizadas suas informações domiciliares”.

• Tal notificação não impede a livre circulação da pessoa pelo território nacional, devendo o deportando apenas informar o seu domicílio e suas atividades (art. 50, § 2º).

• Vencido o prazo de 60 dias referido pelo art. 50, § 1º, sem que se regularize a situação migratória, a deportação poderá ser executada (art. 50, § 3º).

• A saída voluntária da pessoa notificada para deixar o país equivale ao cumprimento da notificação de deportação para todos os fins (art. 50, § 5º).

Nos termos da Lei de Migração não há mais a possibilidade de prisão da pessoa enquanto não efetivada a deportação. Isso significa que vencido o prazo de 60 dias sem que o deportando regularize sua situação migratória, a deportação poderá ser executada, sem que fique preso durante esse período (art. 50, §§ 1º e 3º).

• A deportação tem efeitos imediatos (automáticos), uma vez verificada a causa que a legitimou.

• Uma vez esgotado o prazo deve o Departamento da Polícia Federal proceder à imediata deportação do estrangeiro, para o país de sua nacionalidade ou de sua procedência

• Nada impedeque o deportado retorne posteriormente ao nosso país, desde que com sua documentação regularizada, uma vez que a medida não é punitiva, mas administrativa. Vanessa Brito Arns

Aula 06

(19)

É vedada a deportação de estrangeiros se esta implicar extradição não admitida pela legislação brasileira, segundo dispõe o art. 53 da Lei de Migração. Trata-se do caso em que o estrangeiro está sendo deportado para país em que foi processado (ou já se encontra condenado) por crime que, segundo a legislação brasileira, não autoriza a extradição.

Segundo Mazzuoli, o estrangeiro poderá invocar essa disposição legal a seu favor dentro do prazo

concedido para a sua saída do país; o pedido (assim como eventual habeas corpus) deve ser conhecido pelo Juízo Federal de primeira instância.

Também não se descarta a utilização, pelo estrangeiro, do instrumento do mandado de segurança como meio de controlar o ato administrativo e garantir direito líquido e certo seu. A deportação é sempre realizada individualmente, não se admitindo qualquer tipo de deportação coletiva (de pessoas ou grupos de pessoas).

Resumindo:

A deportação é a determinação de saída compulsória de estrangeiro que ingressou de modo irregular no território nacional ou que, apesar da entrada regular, sua estadia encontra-se irregular (v.g., expiração do prazo de permanência, desempenho de atividade vedada, como o trabalho etc.).

O estrangeiro é notificado e lhe é dado prazo para a saída do Brasil. Vencido o prazo de saída voluntária da pessoa notificada, a deportação poderá ser executada, de acordo com o art. 50, § 3º, da Lei n. 13.445/2017. Não é possível, de acordo com o art. 53 da Lei n. 13.445/2017, a deportação como substituto de extradição não admitida.

Assim, criminoso estrangeiro procurado pelo estado de sua nacionalidade, que ingressa de modo irregular em nosso território, deve ser submetido a processo de extradição, que prevalece sobre a deportação. Caso contrário, haveria o risco de violação da regra da vedação da deportação como sucedâneo da extradição proibida.

Conforme Accioly, “foi o que ocorreu, aparentemente, no caso noticiado em 2005 do criminoso norte-americano Jesse James Hollywood, que, do Rio de Janeiro, foi deportado pelo Brasil, com destino aos Estados Unidos, para ser submetido a eventual pena de morte. A extradição, no caso, só ocorreria se os Estados Unidos aceitassem o compromisso de comutar a pena capital em pena privativa de liberdade. Consequentemente, a deportação, como foi feita, violou o art. 63 da Lei n. 6.815/80, que hoje é reproduzido no art. 53 acima citado. “

As diferenças entre a deportação e a expulsão existem quanto à causa, quanto ao processo e ainda quanto aos efeitos. Neste último caso, vê-se que, na deportação, o estrangeiro pode reingressar no país, bastando que cumpra os requisitos legais ou previstos em tratado específico.

Vanessa Brito Arns Aula 06

(20)

Quando ocorrer expulsão, conforme veremos, para que seja possível a volta do indivíduo em questão ao território do estado, é necessário o cumprimento do prazo de impedimento de reingresso, que consta do ato administrativo de expulsão.

O prazo de impedimento de reingresso será proporcional à pena criminal aplicada e nunca será superior ao dobro do seu tempo.

6.

E

XPULSÃO

.

A expulsão é a medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado (Lei de Migração, art. 54, caput).

Com a expulsão, o Estado retira de seu território (impedindo que a este retorne por prazo determinado) o estrangeiro que cometeu crimes graves no país, atentando, portanto, contra dignidade nacional, a segurança e a tranquilidade do Estado, ainda que neste tenha ingressado regularmente.

Nos termos do art. 54, § 1º, da Lei de Migração, poderá dar causa à expulsão:

1. A condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de crime de genocídio, 2. Crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos

pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (inc. I), ou de

3. Crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional (inc. II).

A expulsão não é pena no sentido criminal, uma vez que o legislador brasileiro não a incluiu no elenco dessas medidas jurídico-penais. Ou seja, a expulsão não figura entre as penas principais e acessórias previstas nos arts. 32 a 52 do Código Penal, apesar de seus pressupostos autorizadores não prescindirem da configuração de um ilícito penal.

A expulsão é medida político-administrativa de salvaguarda da ordem pública e do interesse social decorrente do poder de polícia do Estado, sem qualquer intervenção do Poder Judiciário no que tange ao mérito da decisão.

Trata-se de medida administrativa discricionária e não de ato arbitrário do governo. A diferença é que, nesse último caso, não existem condições nem limites à atuação do Executivo, enquanto

Vanessa Brito Arns Aula 06

(21)

naquela (na medida discricionária) o governo está condicionado às hipóteses previstas em lei, sendo o seu ato irrestrito tão somente no que toca à conveniência e oportunidade da medida.

A discricionariedade é permissiva da medida, não estando o governo obrigado a procedê-la, mesmo nos casos em que todos os requisitos necessários à sua realização se façam presentes. Daí a redação do art. 54, § 1º, da Lei de Migração, segundo o qual “poderá dar causa à expulsão” a condenação relativa aos crimes que estabelece.

Cabe ao Ministro da Justiça e Segurança Pública resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, observado o disposto na Lei de Migração (art. 54, § 2º).

O Inquérito Policial de Expulsão será instaurado pela Polícia Federal, de ofício ou por determinação do Ministro da Justiça e Segurança Pública, de requisição ou de requerimento fundamentado em sentença, e terá como objetivo produzir relatório final sobre a pertinência ou não da medida de expulsão, com o levantamento de subsídios para a decisão, realizada pelo Ministro da Justiça e Segurança Pública, acerca (a) da existência de condição de inexpulsabilidade, (b) da existência de medidas de ressocialização, se houver execução de pena, e (c) da gravidade do ilícito penal cometido (Regulamento, art. 195, § 1º, incs. I a III.

Iniciado o processo de expulsão, o expulsando será notificado da sua instauração, além da data e do horário fixados para o seu interrogatório (Regulamento, art. 197).

Se o expulsando não for encontrado, a Polícia Federal dará publicidade à instauração do Inquérito Policial de Expulsão em seu sítio eletrônico e tal publicação será considerada como notificação para todos os atos do referido procedimento (art. 197, parágrafo único).

Na hipótese de expulsando preso fora das dependências da Polícia Federal, a sua presença na repartição policial será solicitada ao juízo de execuções penais, sem prejuízo da autorização para realização de qualificação e interrogatório no estabelecimento penitenciário (art. 198). O expulsando que, regularmente notificado, não se apresentar ao interrogatório será considerado revel e a sua defesa caberá à Defensoria Pública da União ou, em sua ausência, a defensor dativo (art. 199). Na hipótese de revelia e de o expulsando se encontrar em lugar incerto e não sabido, a Polícia Federal providenciará a qualificação indireta do expulsando (art. 199, parágrafo único).

A Lei de Migração destaca que o processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudica a progressão de regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro (art. 54, § 3º). Aduz, também, que o prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será Vanessa Brito Arns

Aula 06

(22)

proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo (art. 54, § 4º).

O estrangeiro expulso é encaminhado para qualquer país que o aceite, embora somente o seu Estado patrial tenha o dever de recebê-lo. Sendo apátrida o estrangeiro, o Estado deve encaminhá-lo para o país da nacionalidade perdida, podendo também encaminhá-encaminhá-lo para o país de onde anteriormente proveio. O que não pode o Estado fazer é enviá-lo para terceiro Estado onde esteja o estrangeiro sendo procurado pela prática de algum crime, como forma de vingança, o que se configuraria em flagrante arbitrariedade estatal.

Ao contrário da deportação, a expulsão não tem efeitos imediatos. Sua decretação (ou revogação) depende, no que toca à conveniência e oportunidade, de ato formal do Poder Executivo. O governo, portanto, não é obrigado a expulsar. Ele poderá fazê-lo, se assim entender necessário (conveniente ou oportuno), sendo certo que essa discricionariedade varia de governo a governo. É evidente, porém, que discricionariedade não é o mesmo que arbitrariedade; assim, não pode o governo expulsar sem causa definida em lei ou em violação das liberdades individuais garantidas pela Constituição ou por tratados internacionais.

Nos termos do art. 55, inc. II, da Lei de Migração, não se procederá à expulsão quando o expulsando:

• tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela;

• tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou legalmente;

• tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde então no país • ou d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 (dez) anos,

considerados a gravidade e o fundamento da expulsão.

Conforme vimos, não há deportação nem expulsão de cidadão brasileiro (nato ou naturalizado). A expulsão é medida reconhecidamente inaplicável aos nacionais de um Estado.

Segundo Mazzuoli,

“O banimento, que é pena excepcional, consistente no envio compulsório de brasileiro

para o exterior, foi felizmente abolido do nosso sistema jurídico pelo art. 5º, inc. XLVII, alínea d, da Constituição de 1988. Também não há o Brasil o desterro, que consiste no confinamento do nacional dentro do próprio território do Estado, o que não significa prisão, mas sim que se tem a cidade onde se está por ménage (é dizer, por morada obrigatória). Foi o que ocorreu com o ex-presidente Jânio Quadros, que, no ano de 1968, foi compelido pelo regime militar a restar confinado (desterrado) por 120 dias (no Hotel

Vanessa Brito Arns Aula 06

(23)

Santa Mônica, na cidade de Corumbá) no interior do que hoje é o Estado de Mato Grosso do Sul. “

No processo de expulsão são garantidos o contraditório e a ampla defesa (Lei de Migração, art. 58). Além disso, a Defensoria Pública da União será notificada da instauração do processo de expulsão, se não houver defensor constituído (§ 1º). Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo de 10 (dez) dias, a contar da notificação pessoal do expulsando (§ 2º).

L

EGISLAÇÃO E

J

URISPRUDÊNCIA

D

ESTACADAS

L

EGISLAÇÃO

Conforme vimos, encontramos o instituto da extradição na Constituição Federal em seu art. 5º,incisos LI e LII, com especial proteção aos brasileiros de uma possível extradição, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (a qualquer tempo.) Fica também protegido da extradição um estrangeiro que tenha cometido crime político ou de opinião.

Vejamos:

Art. 5º, LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

LII – não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião

Pela importância da Lei de Migração e por ser uma lei relativamente nova, vamos grifar seus principais aspectos:

Vanessa Brito Arns Aula 06

(24)

LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017.

Institui a Lei de Migração.

Seção III Do Asilado

Art. 27. O asilo político, que constitui ato discricionário do Estado, poderá ser diplomático ou territorial e será outorgado como instrumento de proteção à pessoa.

Parágrafo único. Regulamento disporá sobre as condições para a concessão e a manutenção de asilo. Art. 28. Não se concederá asilo a quem tenha cometido crime de genocídio, crime contra a

humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002 .

Art. 29. A saída do asilado do País sem prévia comunicação implica renúncia ao asilo.

Seção IV

Da Autorização de Residência

Art. 30. A residência poderá ser autorizada, mediante registro, ao imigrante, ao residente fronteiriço ou ao visitante que se enquadre em uma das seguintes hipóteses:

I - a residência tenha como finalidade: a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica; b) tratamento de saúde;

c) acolhida humanitária; d) estudo;

e) trabalho; f) férias-trabalho;

g) prática de atividade religiosa ou serviço voluntário;

h) realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou cultural;

i) reunião familiar; Vanessa Brito Arns Aula 06

(25)

II - a pessoa:

a) seja beneficiária de tratado em matéria de residência e livre circulação; b) seja detentora de oferta de trabalho;

c) já tenha possuído a nacionalidade brasileira e não deseje ou não reúna os requisitos para readquiri-la;

d) (VETADO);

e) seja beneficiária de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida;

f) seja menor nacional de outro país ou apátrida, desacompanhado ou abandonado, que se encontre nas fronteiras brasileiras ou em território nacional;

g) tenha sido vítima de tráfico de pessoas, de trabalho escravo ou de violação de direito agravada por sua condição migratória;

h) esteja em liberdade provisória ou em cumprimento de pena no Brasil; III - outras hipóteses definidas em regulamento.

§ 1º Não se concederá a autorização de residência a pessoa condenada criminalmente no Brasil ou no exterior por sentença transitada em julgado, desde que a conduta esteja tipificada na legislação penal brasileira, ressalvados os casos em que:

I - a conduta caracterize infração de menor potencial ofensivo; II - (VETADO); ou

III - a pessoa se enquadre nas hipóteses previstas nas alíneas “b”, “c” e “i” do inciso I e na alínea “a” do inciso II do caput deste artigo.

§ 2º O disposto no § 1º não obsta progressão de regime de cumprimento de pena, nos termos da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 , ficando a pessoa autorizada a trabalhar quando assim exigido pelo novo regime de cumprimento de pena.

§ 3º Nos procedimentos conducentes ao cancelamento de autorização de residência e no recurso contra a negativa de concessão de autorização de residência devem ser respeitados o contraditório e a ampla defesa.

Art. 31. Os prazos e o procedimento da autorização de residência de que trata o art. 30 serão dispostos em regulamento, observado o disposto nesta Lei.

Vanessa Brito Arns Aula 06

(26)

§ 1º Será facilitada a autorização de residência nas hipóteses das alíneas “a” e “e” do inciso I do art. 30 desta Lei, devendo a deliberação sobre a autorização ocorrer em prazo não superior a 60 (sessenta) dias, a contar de sua solicitação.

§ 2º Nova autorização de residência poderá ser concedida, nos termos do art. 30, mediante requerimento.

§ 3º O requerimento de nova autorização de residência após o vencimento do prazo da autorização anterior implicará aplicação da sanção prevista no inciso II do art. 109.

§ 4º O solicitante de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida fará jus a autorização provisória de residência até a obtenção de resposta ao seu pedido.

§ 5º Poderá ser concedida autorização de residência independentemente da situação migratória. Art. 32. Poderão ser cobradas taxas pela autorização de residência.

Art. 33. Regulamento disporá sobre a perda e o cancelamento da autorização de residência em razão de fraude ou de ocultação de condição impeditiva de concessão de visto, de ingresso ou de permanência no País, observado procedimento administrativo que garanta o contraditório e a ampla defesa.

Art. 34. Poderá ser negada autorização de residência com fundamento nas hipóteses previstas nos incisos I, II, III, IV e IX do art. 45.

Art. 35. A posse ou a propriedade de bem no Brasil não confere o direito de obter visto ou

autorização de residência em território nacional, sem prejuízo do disposto sobre visto para realização de investimento.

Art. 36. O visto de visita ou de cortesia poderá ser transformado em autorização de residência, mediante requerimento e registro, desde que satisfeitos os requisitos previstos em regulamento.

(...) Seção II

Do Impedimento de Ingresso

Art. 44. (VETADO).

Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual e mediante ato fundamentado, a pessoa:

I - anteriormente expulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem;

II - condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo ou por crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de

Vanessa Brito Arns Aula 06

(27)

Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro

de 2002 ;

III - condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de extradição segundo a lei brasileira;

IV - que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil perante organismo internacional;

V - que apresente documento de viagem que: a) não seja válido para o Brasil;

b) esteja com o prazo de validade vencido; ou c) esteja com rasura ou indício de falsificação;

VI - que não apresente documento de viagem ou documento de identidade, quando admitido; VII - cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou com o motivo alegado para a isenção de visto;

VIII - que tenha, comprovadamente, fraudado documentação ou prestado informação falsa por ocasião da solicitação de visto; ou

IX - que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal. Parágrafo único. Ninguém será impedido de ingressar no País por motivo de raça, religião,

nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política.

CAPÍTULO V

DAS MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA Seção I

Disposições Gerais

Art. 46. A aplicação deste Capítulo observará o disposto na Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997 , e nas disposições legais, tratados, instrumentos e mecanismos que tratem da proteção aos apátridas ou de outras situações humanitárias.

Art. 47. A repatriação, a deportação e a expulsão serão feitas para o país de nacionalidade ou de procedência do migrante ou do visitante, ou para outro que o aceite, em observância aos tratados dos quais o Brasil seja parte.

Vanessa Brito Arns Aula 06

(28)

Art. 48. Nos casos de deportação ou expulsão, o chefe da unidade da Polícia Federal poderá

representar perante o juízo federal, respeitados, nos procedimentos judiciais, os direitos à ampla defesa e ao devido processo legal.

Seção II Da Repatriação

Art. 49. A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade.

§ 1º Será feita imediata comunicação do ato fundamentado de repatriação à empresa transportadora e à autoridade consular do país de procedência ou de nacionalidade do migrante ou do visitante, ou a quem o representa.

§ 2º A Defensoria Pública da União será notificada, preferencialmente por via eletrônica, no caso do § 4º deste artigo ou quando a repatriação imediata não seja possível.

§ 3º Condições específicas de repatriação podem ser definidas por regulamento ou tratado, observados os princípios e as garantias previstos nesta Lei.

§ 4º Não será aplicada medida de repatriação à pessoa em situação de refúgio ou de apatridia, de fato ou de direito, ao menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou separado de sua família, exceto nos casos em que se demonstrar favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem, ou a quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer caso, medida de

devolução para país ou região que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da pessoa.

§ 5º (VETADO).

Seção III Da Deportação

Art. 50. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional.

§ 1º A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem,

expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60 (sessenta) dias, podendo ser prorrogado, por igual período, por despacho fundamentado e mediante compromisso de a pessoa manter atualizadas suas informações domiciliares.

§ 2º A notificação prevista no § 1º não impede a livre circulação em território nacional, devendo o deportando informar seu domicílio e suas atividades.

§ 3º Vencido o prazo do § 1º sem que se regularize a situação migratória, a deportação poderá ser executada.

Vanessa Brito Arns Aula 06

(29)

§ 4º A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações contratuais ou decorrentes da lei brasileira.

§ 5º A saída voluntária de pessoa notificada para deixar o País equivale ao cumprimento da notificação de deportação para todos os fins.

§ 6º O prazo previsto no § 1º poderá ser reduzido nos casos que se enquadrem no inciso IX do art. 45.

Art. 51. Os procedimentos conducentes à deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo.

§ 1º A Defensoria Pública da União deverá ser notificada, preferencialmente por meio eletrônico, para prestação de assistência ao deportando em todos os procedimentos administrativos de deportação.

§ 2º A ausência de manifestação da Defensoria Pública da União, desde que prévia e devidamente notificada, não impedirá a efetivação da medida de deportação.

Art. 52. Em se tratando de apátrida, o procedimento de deportação dependerá de prévia autorização da autoridade competente.

Art. 53. Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela legislação brasileira.

Seção IV Da Expulsão

Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado.

§ 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de:

I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002 ; ou

II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional.

§ 2º Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, observado o disposto nesta Lei.

§ 3º O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão de regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão de

Vanessa Brito Arns Aula 06

(30)

pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro.

§ 4º O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo.

Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:

I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira;

II - o expulsando:

a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela;

b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou legalmente;

c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde então no País;

d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 (dez) anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão; ou

e) (VETADO).

Art. 56. Regulamento definirá procedimentos para apresentação e processamento de pedidos de suspensão e de revogação dos efeitos das medidas de expulsão e de impedimento de ingresso e permanência em território nacional.

Art. 57. Regulamento disporá sobre condições especiais de autorização de residência para viabilizar medidas de ressocialização a migrante e a visitante em cumprimento de penas aplicadas ou executadas em território nacional.

Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa.

§ 1º A Defensoria Pública da União será notificada da instauração de processo de expulsão, se não houver defensor constituído.

§ 2º Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo de 10 (dez) dias, a contar da notificação pessoal do expulsando.

Art. 59. Será considerada regular a situação migratória do expulsando cujo processo esteja pendente de decisão, nas condições previstas no art. 55.

Art. 60. A existência de processo de expulsão não impede a saída voluntária do expulsando do País.

Vanessa Brito Arns Aula 06

(31)

Seção V Das Vedações

Art. 61. Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão coletivas.

Parágrafo único. Entende-se por repatriação, deportação ou expulsão coletiva aquela que não individualiza a situação migratória irregular de cada pessoa.

Art. 62. Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão de nenhum indivíduo quando subsistirem razões para acreditar que a medida poderá colocar em risco a vida ou a integridade pessoal.

CAPÍTULO VI

DA OPÇÃO DE NACIONALIDADE E DA NATURALIZAÇÃO

Seção I

Da Opção de Nacionalidade

Art. 63. O filho de pai ou de mãe brasileiro nascido no exterior e que não tenha sido registrado em repartição consular poderá, a qualquer tempo, promover ação de opção de nacionalidade.

Parágrafo único. O órgão de registro deve informar periodicamente à autoridade competente os dados relativos à opção de nacionalidade, conforme regulamento.

Seção II

Das Condições da Naturalização

Art. 64. A naturalização pode ser: I - ordinária;

II - extraordinária; III - especial; ou IV - provisória.

Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes condições: I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;

II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos;

III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e IV - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

Vanessa Brito Arns Aula 06

(32)

Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido para, no mínimo, 1 (um) ano se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições:

I - (VETADO);

II - ter filho brasileiro;

III - ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no momento de concessão da naturalização;

IV - (VETADO);

V - haver prestado ou poder prestar serviço relevante ao Brasil; ou

VI - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística.

Parágrafo único. O preenchimento das condições previstas nos incisos V e VI do caput será avaliado na forma disposta em regulamento.

Art. 67. A naturalização extraordinária será concedida a pessoa de qualquer nacionalidade fixada no Brasil há mais de 15 (quinze) anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeira a

nacionalidade brasileira.

Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma das seguintes situações:

I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou

II - seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil por mais de 10 (dez) anos ininterruptos.

Art. 69. São requisitos para a concessão da naturalização especial: I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;

II - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e III - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

Art. 70. A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado residência em território nacional antes de completar 10 (dez) anos de idade e deverá ser requerida por intermédio de seu representante legal.

Vanessa Brito Arns Aula 06

Referências

Documentos relacionados

A campanha Dia da Independência no Facebook criou perfis reais para alguns dos personagens que participaram da independência do país, como Dom Pedro I, Dom João VI,

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

De todas as publicações em periódicos internacionais, apenas uma tratava exclusivamente da análise física da acessibilidade (e foi desenvolvida por pesquisadores brasileiros,

correspondentes aos batimentos cardíacos, sendo considerado normal, em adulto, a média de 60 a 80 batimentos por minuto.. B) quatro fases: inspirações ruidosas, apnéia

Pode-se concluir que o óleo de eucalipto apresentou atividade antifúngica contra o Aspergillus niger na concentração de 340 µl, porém, todos os extratos testados não surtiram

Tabela 3- Número de casos prováveis de febre pelo vírus Zika e variação de porcentagem em relação ao número de casos notificados do ano anterior, até a Semana Epidemiológica

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

extensão da falência pode propiciar, além do alcance do patrimônio Ecco Nature Ambiental Ltda e West Side Shopping Center Ltda. Documento assinado digitalmente, conforme