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Multilateralismo versus Regionalismo: Impactos da Área de Livre Comércio das Américas sobre a Economia Brasileira

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Academic year: 2021

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Multilateralismo versus Regionalismo:

Impactos da Área de Livre Comércio das Américas sobre a Economia Brasileira

Danielle Sandi Pinheiro* Roberto Ellery Júnior**

RESUMO

Este trabalho analisa os potenciais impactos da formação de uma Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) sobre a economia brasileira vis a vis a opção de liberalização unilateral ao comércio internacional. Sob uma modelagem de equilíbrio geral computável, são analisados e comparados os efeitos setoriais e sobre o nível de bem-estar geral da economia a fim de avaliar os ganhos alternativos entre estas duas opções de política comercial. Os resultados sugerem que um maior grau de abertura comercial é diretamente proporcional a um nível de bem-estar mais elevado e que a opção brasileira por políticas comerciais que privilegiem o multilateralismo, por intermédio da liberalização unilateral do comércio internacional brasileiro a todos os parceiros indiscriminadamente, potencializa os ganhos sobre este nível de bem-estar da economia.

Palavras - chave: integração econômica, acordos comerciais, multilateralismo, equilíbrio geral, bem-estar.

ABSTRACT

This paper analyzes the potential impacts of the creation of the Free Trade Area of Americas (FTAA) on the Brazilian economy vis a vis the option of unilateral liberalization towards the foreign commerce. Under a computable general equilibrium model, the sectorial and the general welfare level of the economy effects are analyzed and compared in order to evaluate the alternative gains between these two options of trade policy. The results suggest that a higher degree of trade openness is directly proportional to a higher welfare level and that the Brazilian option for trade policies that privilege the multilateralism, with the mean of unilateral liberalization of the Brazilian foreign commerce toward all partners indiscriminately, raises the gains of this welfare level of the economy.

Keywords: economic integration, trade agreements, multilateralism, general equilibrium, welfare.

Classificação JEL: F13 – Commercial Policy; Protection; Promotion; Trade Negotiations; International Organizations. F15 – Economic Integration. F17 – Trade Forecasting and Simulation.

*

Doutora em economia, Departamento de Economia, Universidade de Brasília.

**

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Multilateralismo versus Regionalismo:

Impactos da Área de Livre Comércio das Américas sobre a Economia Brasileira

Danielle Sandi Pinheiro* Roberto Ellery Júnior**

1 Introdução

A proliferação de blocos econômicos que se observa no mundo atual tem demonstrado a tendência do comércio internacional. Acordos comerciais multilaterais estão cedendo lugar às negociações para a formação de blocos regionais de comércio. A opção pela formação de blocos econômicos em detrimento de acordos multilaterais de comércio vem suscitando indagações a respeito dos possíveis efeitos que acordos deste tipo podem trazer para o nível de bem-estar mundial.

Acredita-se atualmente que o regionalismo é não somente um complemento como também um meio de acelerar o processo comercial multilateral. De uma maneira geral, o regionalismo tem se mostrado atrativo para os países devido à perspectiva de acesso aos mercados no comércio regional e de aumento do poder de barganha no comércio internacional. Além disso, as incertezas com relação à liberalização do sistema comercial global, devido à lentidão no alcance de consensos nas negociações multilaterais no âmbito da Organização Mundial do comércio (OMC), têm motivado os países a se direcionarem para este fim.

Como conseqüência, o atual processo de formação de blocos regionais está sendo visto pelos países como um instrumento de garantia ao acesso futuro do mercado mundial, independentemente dos ganhos auferidos no passado nas rodadas multilaterais de liberalização comercial. Assim, uma diversificada teia de acordos preferenciais de integração econômica tem convivido lado a lado com o sistema multilateral de comércio, e um relevante ponto a ser investigado é a possibilidade deste sistema de acordos preferenciais superar os resultados, em termos de liberalização comercial, conquistados pela OMC.

Questiona-se, atualmente, a efetiva viabilidade da formação de acordos regionais de comércio

vis a vis a manutenção de um sistema multilateralista de comércio como forma de obter ganhos em

bem-estar para a economia global. A história nos conta que a política multilateralista viabilizada por intermédio das rodadas de negociações no âmbito do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e posteriormente, da OMC, propiciou uma expressiva liberalização comercial após a Segunda Guerra Mundial tendo nas reduções tarifárias multilaterais o seu principal instrumento. Entretanto, apesar deste grande avanço conquistado nas trocas internacionais no âmbito do GATT e, por conseguinte, da OMC, os acordos regionais comerciais estão dominando o cenário internacional em contraposição às negociações multilaterais de comércio. Esta questão tem sido objeto de muitas discussões teóricas e empíricas e um consenso ainda está longe de ser encontrado.

*

Doutora em economia, Departamento de Economia, Universidade de Brasília e ESAF.

**

(3)

Neste sentido, a visão de que os blocos regionais são uma alternativa à liberalização multilateral do comércio deve ser vista com cautela. Embora os acordos de integração econômica entre os países possam ser orientados para um regionalismo aberto que propicie uma harmonização dos objetivos do comércio regional com práticas de liberalização a países não membros, segundo recente relatório do Banco Mundial grande parte da liberalização comercial nos países em desenvolvimento ocorreu por meio de diminuições tarifárias unilaterais ao comércio.

De acordo com esse relatório do Banco Mundial1, dos 21 pontos percentuais reduzidos nas tarifas médias ponderadas dos países em desenvolvimento entre os anos de 1983 e 2003, as liberalizações unilaterais responderam por aproximadamente 66% desta redução. Além disso, as reduções tarifárias associadas aos acordos multilaterais no âmbito da Rodada do Uruguai participaram com mais 25% do total do desgravamento tarifário, enquanto que os acordos regionais de comércio ficaram com os 10% restantes. Dentro desta perspectiva, é interessante observar o caso do Brasil que, no decorrer do processo de liberalização da economia, associou reduções tarifárias unilaterais e multilaterais (negociadas no âmbito dos países membros da OMC) com estratégias de integração econômica.

A discussão teórica a respeito da viabilidade dos acordos regionais de comércio vis a vis o multilateralismo comercial é bastante ampla e, na prática, as diversas possibilidades de liberalização da economia fazem com que haja uma sobreposição destas estratégias comerciais. Neste sentido, o objetivo do presente estudo centraliza-se em avaliar, sob a ótica de um modelo de equilíbrio geral computável, os impactos da formação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) sobre a economia brasileira alternativamente à opção de liberalização unilateral do comércio internacional brasileiro a todos os parceiros indiscriminadamente. Neste contexto é importante destacar que a política de liberalização unilateral é condizente com a prática multilateralista preconizada pela OMC, uma vez que implica liberalizações comerciais praticadas deliberadamente pelo país sem a contrapartida de um acordo regional de integração econômica.

A próxima seção tem por objetivo apresentar uma breve revisão da literatura sobre integração econômica regional, assim como mostrar o vínculo existente entre essa problemática e a metodologia analítica aqui empregada. Na terceira seção o modelo teórico analítico efetivamente aplicado nesse trabalho é desenvolvido. Na quarta seção discorre-se a respeito da construção da base de dados. Na quinta seção são feitas análises da simulação de dois cenários de política comercial internacional. No primeiro cenário são apresentados os resultados de simulações nas quais o Brasil realiza uma liberalização unilateral da sua economia, enquanto que no segundo cenário analisam-se os resultados a respeito da integração na ALCA. Por fim, a última seção apresenta as conclusões e sugestões para novas pesquisas.

1

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2 A Integração Econômica Regional e o Multilateralismo Comercial

Segundo Bhagwati (1992) a evolução do comércio internacional após a Segunda Guerra Mundial pode ser caracterizada como um período de progressiva liberalização comercial, proporcionada pelas rodadas de negociações no âmbito do GATT, acompanhada de duas ondas de acordos regionais. A primeira onda ocorreu na década de 60 e teve no Mercado Comum Europeu a sua principal motivação para estender-se aos demais continentes, notadamente a Ásia, África e América Latina. No entanto, os Estados Unidos como nação hegemônica foram partidários de uma política multilateralista do comércio internacional, o que acabou por enfraquecer os movimentos de integração econômica, à exceção do europeu que continuou o seu processo.

A segunda onda de acordos regionais, chamada de novo regionalismo, ocorreu a partir da década de 80 e foi uma continuação da primeira no sentido de retomar a mesma discussão acerca dos efeitos sobre o bem-estar de antes. O principal motivo desta retomada do movimento de integração econômica foi a mudança da posição dos Estados Unidos que passaram a defender e praticar políticas de comércio internacional convertidas ao regionalismo.

Bhagwati (1992) argumenta que o ressurgimento do regionalismo como função da conversão dos Estados Unidos à prática de políticas comerciais que privilegiam os acordos preferenciais de comércio irá imprimir provavelmente uma trajetória duradoura a este processo, uma vez que os Estados Unidos encaram os acordos regionais como uma opção às negociações no âmbito da OMC. Uma das razões para a mudança de posição dos Estados Unidos seria a atual lentidão das rodadas de negociações na OMC em relação ao seu sucesso no passado.

Krugman (1992) aponta outras razões. A primeira consiste na dificuldade de condução das negociações ocasionada pelo aumento do número de países participantes. Além disso, a existência de restrições voluntárias à exportação e dos mecanismos anti-dumping entre outras formas de proteção administrada têm tornado as negociações multilaterais no âmbito da OMC mais complicadas do que eram no passado. Diferenças institucionais também configuram outro ponto de conflito entre os países implicando em negociações mais lentas e difíceis.

A relação entre os sistemas multilaterais e regionais de comércio tem sido debatida exaustivamente e, apesar da existência de uma grande tradição em estudos teóricos que enfatizam uma política de livre comércio como forma de aumentar o bem-estar dos países, a nova onda regionalista do comércio internacional, privilegiando liberalizações preferenciais, vem tomando força embasada em argumentos como o de Summers (1991). Esse autor defende que a integração econômica sob a forma de blocos regionais de comércio, ao implicar uma redução do número de partes negociadoras, acabaria por acelerar o processo de liberalização comercial global. Baldwin (1993) por sua vez elabora uma estrutura formal onde a expansão dos blocos de comércio induz os países a buscarem a parceria comercial por meio da integração econômica havendo uma tendência à liberalização comercial regional via efeito dominó.

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Em uma mesma corrente de pensamento, Krugman (1992) também argumenta que a capacidade de um bloco regional suportar uma solução cooperativa é superior em relação às políticas de negociações multilaterais que estão vivendo um período de decadência. Além disso, Ethier (1998) demonstra que a integração regional ao invés de ameaçar o liberalismo multilateral, seria uma conseqüência direta do sucesso passado das políticas multilateralistas e uma garantia adicional da sua sobrevivência.

Em uma corrente contrária, Bhagwati (1992) afirma que dependendo do tamanho do bloco econômico e do poder de determinados grupos de interesse, os países tenderão a voltar-se para interesses estritamente particulares do bloco tornando-se impermeáveis à liberalização comercial global. Bhagwati rebate os argumentos pró-regionalistas advertindo que no caso europeu foram necessárias quase quatro décadas para que o processo de integração se efetivasse. Além disso, no caso da agricultura, a União Européia acabou por englobar uma proteção generalizada. Evidencia-se, portanto, com os argumentos fornecidos por Bhagwati que os acordos regionais comerciais correm o risco de se tornarem protecionistas e discriminatórios.

Em uma mesma corrente teórica, Panagariya (1996,1998) argumenta juntamente com Bhagwati que os acordos regionais comerciais provavelmente acabam por reduzir o nível de bem-estar nos próprios países membros do acordo comercial, por impedir a liberalização multilateral. Em virtude do tratamento preferencial dado aos países membros do bloco, o desvio de comércio penaliza as demais nações com maior va ntagem comparativa que produzem a preços relativos mais baixos. Portanto, como resultado global, o desvio de comércio tenderá a superar a criação de comércio e o bem-estar terá uma queda inclusive nos países constituintes do acordo regional.

Ao enfocar os impactos do regionalismo sobre o multilateralismo comercial Bhagwati (1991) dá início a um extenso debate a respeito dos efeitos dos blocos de comércio em construção (building

blocks) vis a vis os efeitos dos blocos comerciais em tropeço (stumbling blocks). Neste sentido, os blocos

regionais seriam, ao contrário do pensamento dos demais autores anteriormente citados, stumbling blocks e teriam um efeito negativo pois atrapalhariam a liberalização comercial por impedir o funcionamento do sistema multilateral do comércio internacional.

A ampla disseminação e justaposição dos diversos tipos acordos comerciais pelo mundo é chamada por Bhagwati de “prato de espaguete” (spaguetti bowl) em alusão ao possível efeito desastroso sobre o sistema comercial global causado pela interpolação indiscriminada dos acordos regionais da forma como está ocorrendo ultimamente. Embora Wonnacott (1990,1996) chegue a conclusões semelhantes às de Bhagwati no que concerne aos efeitos anômalos sobre o comportamento dos fluxos comerciais, esse autor argumenta que, a despeito do regionalismo produzir um “prato de espaguete” desastroso e sem uma organização clara, alguns países estariam na realidade se tornando hubs (eixos) para diferentes redes de acordos regionais. Assim, os países spokes (periféricos) estariam ligados aos países hubs por meio dessas redes de acordos regionais. Em decorrência, haveria um novo tipo de

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ordenamento comercial internacional, no qual os países hubs teriam maior poder para estabelecer os termos e as condições de parceria comercial e os países spokes acabariam por desempenhar um papel secundário no comércio internacional, contrariando até mesmo o princípio das vantagens comparativas.

A partir dessas diferenças teóricas marcantes é possível ter uma noção do potencial do debate acerca da questão sobre o regionalismo e a formação de blocos econômicos. Após décadas de negociações comerciais resolvidas na OMC sob a égide do sistema multilateral de comércio, nos últimos tempos, a formação de acordos regionais de comércio tem demonstrado a predileção dos países por negociações que privilegiam interesses comerciais mais específicos. A década de noventa foi bastante prolífica no que se refere ao surgimento das iniciativas regionais de comércio e os primeiros anos deste novo milênio sugerem que esta tendência continue. O número de acordos regionais de integração econômica já implementados ou em fase de negociação cresceu exponencialmente assim como seu alcance geográfico.

O caráter intenso dessa tendência provavelmente acabará por apressar a decisão dos países que ainda não se envolveram neste tipo de política comercial. A despeito das rodadas multilaterais de liberalização comercial, a opção pela liberalização regional tem se tornado uma ferramenta de negociação comercial muito atrativa, embora seja uma opção do tipo second best em relação à prática de livre comércio viabilizada por intermédio do princípio da nação mais favorecida balizado pela OMC.

Por causa da natureza complexa dos acordos regionais comerciais e a interconexão entre uma série de variáveis econômicas, a modelagem de equilíbrio geral tem sido bastante útil para avaliar os efeitos da formação de blocos regionais nos diversos setores da economia. A maneira mais usada para implementação empírica das modelagens de equilíbrio geral ocorre por intermédio da construção de matrizes de contabilidade social. Estas matrizes registram as transações econômicas dos agentes de um país em um determinado período de tempo. A matriz de contabilidade nacional contabiliza as despesas e as receitas dos agentes econômicos do país representados genericamente pelas famílias, governo, firmas e resto do mundo, além dos fatores de produção empregados nas atividades produtivas.

Dessa forma, tendo como ponto de partida uma matriz de contabilidade social construída para o ano de 2002, este trabalho utiliza uma estrutura de equilíbrio geral computável para avaliar os impactos da formação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) sobre a economia brasileira vis a vis a opção de liberalização unilateral da economia brasileira. Busca-se com este procedimento avaliar os impactos de variações nas tarifas aduaneiras provocadas por esquemas alternativos de integração econômica internacional e liberalização comercial unilateral sobre a alocação dos recursos entre os setores econômicos e sobre o nível de bem-estar da economia brasileira em geral.

A mensuração dos efeitos sobre o nível de bem-estar é feita por intermédio do indicador de variação equivalente Hicksiana construído com a finalidade de avaliar os impactos macroeconômicos da variação da política tarifária de importações. Este indicador é uma das medidas de bem-estar mais comuns nos modelos de equilíbrio geral pelo fato de possuir fundamentos microeconômicos e ser,

(7)

portanto, derivado a partir de uma função de utilidade. O indicador de variação equivalente Hicksiana utilizado é baseado em Hosoe (2004) e é expresso por:

      =

i p i p i q i X q i UU p X UU UU X p ep p i ) ( min arg ) , ( (1) Onde: ) , (p UU ep q i = função de gastos, p i

X = consumo do i-ésimo bem,

q i

p = preço do i-ésimo bem, )

(Xip

UU = função utilidade na qual UU é um nível de utilidade dado.

Assim, o lado direito da função representa o gasto mínimo necessário para alcançar um dado nível de utilidade considerando-se os preços piq. Pelas características desta formulação, os níveis de

utilidade são apresentados em valores a partir da função de gastos e o indicador de variação equivalente hicksiana construído para comparar dois estados de equilíbrio é dado por:

) , ( ) , (p UU1 ep p UU0 ep EViqoiqo (2)

Convém ressaltar que os dois pontos de equilíbrio acima têm diferentes conjuntos de preços. Portanto, a fim de se obter uma fonte de comparação significativa, são construídos índices de preço de Laspeyres a fim de excluir os efeitos das variações destes preços.

3 O Modelo de Equilíbrio Geral

Tendo-se em vista o caráter abrangente das diversas modelagens de equilíbrio geral, optou-se por utilizar uma estrutura de equilíbrio geral construída a partir de Hosoe (2004) para avaliar os impactos da formação da ALCA vis a vis a opção de liberalização unilateral da economia brasileira. O uso desse modelo teórico se justifica pelo seu caráter geral o qual revelou-se perfeitamente prático e aplicável aos objetivos pretendidos nesse estudo.

Nesse sentido, o modelo aqui utilizado pertence à primeira geração de modelos computacionais, sendo, portanto, do tipo estático no qual são implementadas interações entre os diferentes setores da economia. Busca-se com este procedimento avaliar os impactos de políticas de reduções das tarifas de importação brasileiras sobre a alocação dos recursos entre os setores econômicos.

A maneira comumente utilizada para avaliar os impactos das políticas econômicas do governo sob uma modelagem de equilíbrio geral estática é a metodologia de análise estática comparativa. Nesse caso, o modelo é construído de forma que o equilíbrio obtido representa os dados observados na matriz de contabilidade nacional. Assim, as variações de política econômica do governo, expressas sob a forma de

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alterações nas tarifas aduaneiras, são simuladas recalculando-se, por conseguinte, um novo estado de equilíbrio a fim de mensurar o impacto de tal política.

O modelo de equilíbrio geral computável aqui apresentado considera uma economia nacional onde cada agente econômico, isto é, consumidores, produtores e governo realizam as mesmas atividades econômicas que os seus similares nos demais países do resto do mundo. Desse modo, a modelagem especifica que os consumidores compram bens e serviços dos produtores, fornecem fatores de produção em contrapartida e pagam impostos ao governo, além de pouparem parte da sua renda disponível. A estimação desse modelo é feita por intermédio do processo de calibração dos parâmetros. Assim, a partir dos dados da matriz de contabilidade social, este processo utiliza as formas funcionais representadas pelo sistema de equações simultâneas descrito a seguir para calcular os parâmetros do modelo.

A) Comportamento das Famílias:       =

d h h h d i i p i r FF S T p X α , ∀i (3) B) Produção Interna:

= h hj j j h j F b Y β , ∀j (4) j ij ij ax Z X = , ∀i, j (5) j j j ay Z Y = , ∀j (6) j h y j hj hj p r Y F =(β / ) , ∀h, j (7)

+ = i q i ij y j j s j ay p ax p p , ∀j (8) C) Comportamento do Governo: j s j j j p Z T =τ , ∀j (9)

+

− + = j j g m i j d q i i g i T T T S p X µ ( ) , ∀i (10)

= h h h d FF r d T τ (11) i m i i m i m p M T =τ , ∀i (12) D) Investimento: ) ( g f q i i v i S S S p X = λ + +ε , ∀i (13) E) Comércio Internacional: W e i e i p p =ε , ∀i (14) W m i m i p p =ε , ∀i (15)

+ =

i i i W m i f i W e i E S p M p (16)

(9)

F) Agregador de Armington: i i i i i i i i i mM d D Q =γ (δ η +δ η )1/η , ∀i (17) i m i i q i i i i Q p m p m M i i η η τ δ γ −     + = 1 / 1 ) 1 ( , ∀i (18) i d i q i i i i Q p p d D i i η η δ γ −     = 1 / 1 , ∀i (19)

G) Transformação da Produção Interna: i i i i i i i i i e E d D Z =θ (ξ φ +ξ φ )1/φ (20) i e i s i i i i i Z p p e E i i φ φξ τ θ −     + = 1 / 1 ) 1 ( , ∀i (21) i d i s i i i i i Z p p d D i i φ φξ τ θ −     + = 1 / 1 ) 1 ( , ∀i (22)

H) Condições de Equilíbrio de Mercado:

+ + + = j ij v i g i p i i X X X X Q , ∀i (23)

= j h hj FF F , ∀h (24)

I) Fechamento Macro e Poupança:

= h h hFF r ss S (25)

+

+ = j i d m i j g g T T T ss S ( ) (26)

A partir do sistema de equações simultâneas descrito acima há as seguintes variáveis endógenas: Yj,Fhj,Xij,Zi,Xig,Xiv,Ei,Mi,Qi,Di,Xip,rh,pyj,psj,piq,pie,pim,pid,ε,S,Sg,Td,Tim,Tj.2

4 A Matriz de Contabilidade Social

A matriz de contabilidade social é a base empírica dos modelos de equilíbrio geral. No caso do trabalho aqui desenvolvido, esta matriz é originada principalmente a partir dos dados oriundos das tabelas de recursos e usos (TRU) e das contas econômicas integradas (CEI), ambas publicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para a construção dessa matriz, também foram utilizados dados de comércio internacional provenientes da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e do Banco Central (BACEN) 3.

Convém salientar essa matriz provém de fontes cujos dados são compilados exclusivamente por institutos de pesquisa nacionais não recorrendo, portanto, a bases de dados estrangeiras, padronizadas

2

Vide em anexo a legenda da variáveis e parâmetros utilizados no modelo de equações simultâneas.

3

Os dados do comércio bilateral de bens são provenientes da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), enquanto que os dados sobre o comércio bilateral serviços foram obtidos junto ao Banco Central (BACEN)

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segundo uma metodologia de comparação internacional. Embora em certa medida isto limite o alcance da matriz e, por conseguinte, o poder preditivo do modelo empírico que fica restrito somente ao caso de um único país, por outro lado, confere um caráter mais condizente com a realidade brasileira. A matriz construída sob este critério possui a característica de ser genuinamente oriunda de dados gerados por fontes nacionais, inclusive no seu detalhamento referente ao comércio internacional e setores produtivos. Esta estrutura matricial é construída em acordância com o modelo teórico de equilíbrio geral e busca capturar a interdependência dos diversos agentes e mercados, além de abranger o total dos fluxos de renda e as transações econômicas. A estrutura representativa dessa matriz pode ser melhor visualizada no quadro 1, a seguir:

Quadro 1 - Representação da Matriz de Contabilidade Social Agregada4

AT CT TB FM GV S/I II TF RM Total AT 1 9 12 14 17 A CT 2 B TB 3 C FM 7 8 D GV 10 15 16 E S/I 11 13 18 F II 4 G TF 5 H RM 6 I Total A B C D E F G H I

Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados do IBGE, BACEN e SECEX.

Onde: 1 = consumo intermediário da TRU 10 = somatório dos impostos diretos aplicados sobre as famílias e firmas da CEI 2 = excedente operacional bruto da TRU 11 = somatório da poupança bruta das famílias e firmas da CEI

3 = salários da TRU 12 = consumo da administração pública da TRU 4 = impostos indiretos da TRU 13 = poupança bruta da administração pública da CEI

5 = impostos de importação da TRU 14 = formação bruta da capital fixo mais variação de estoques da TRU 6 = importações dos parceiros comerciais ponderadas pelos dados da TRU 15 = somatório de 4

7 = somatório de 2 16 = somatório de 5

8 = somatório de 3 17 = exportações dos parceiros comerciais ponderadas pelos dados da TRU 9 = consumo setorial das famílias da TRU 18 = saldo do BP a partir de dados do BACEN

Convém destacar que essas informações são organizadas de maneira que o somatório das receitas contabilizadas ao longo das linhas deverá se igualar ao total das despesas acumuladas nas colunas da matriz, pois os fluxos provenientes da atividade econômica devem ser entendidos como transferências de um agente para outro agente econômico. Portanto, conforme pôde ser visto na figura 1, os totais das colunas e linhas da matriz representativa são, respectivamente, os mesmos.

Assim, ao contabilizar as despesas e receitas dos agentes econômicos (representados genericamente pelas famílias, governo, firmas e resto do mundo) e os usos dos fatores de produção empregados na atividade produtiva, a matriz de contabilidade social constitui-se na base empírica cujas modelagens de equilíbrio geral são computadas. Assim, o nível de desagregação dos dados usados na construção desta matriz irá depender tanto do modelo teórico de equilíbrio geral quanto da disponibilidade de dados.

Nesse sentido, Shoven e Whalley (1992) destacam que o nível de desagregação a ser utilizado deve englobar quatro aspectos principais: ser suficiente para capturar os detalhes requeridos no estudo, limitar-se à disponibilidade de dados confiáveis, restringir-se às técnicas de solução disponíveis e ater-se

4

Significado das abreviaturas na matriz representativa: AT = atividades econômicas; CT = capital; TB = trabalho; FM = famílias; GV = governo; S/I = poupança/investimento; II = impostos indiretos; TF = tarifas; RM = resto do mundo.

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aos requisitos de factibilidade computacional. Por isso, os autores sugerem a construção de modelos pequenos, que possibilitem aumentar ou diminuir o nível de desagregação em razão dos objetivos da pesquisa e do aparecimento de novas informações.

No caso da modelagem pretendida nesse trabalho, o comércio internacional deverá ter um maior enfoque de forma que o agente econômico resto do mundo é segmentado por parceiros comerciais. Como um dos objetivos desse estudo está concentrado em avaliar os impactos do cenário de integração econômica do Brasil na ALCA, o nível de segmentação do resto do mundo é implementado a partir do detalhamento dos fluxos comerciais agregados entre o Brasil e os principais países pertencentes a este bloco econômico. Além disso, o comércio internacional global do Brasil também é considerado separadamente no cenário que contempla a opção de liberalização unilateral da economia brasileira.

Nesse contexto, o processo que possibilitou a inclusão dos dados de comércio internacional na matriz de contabilidade social também merece destaque. Uma vez que estes dados são originalmente fornecidos pela SECEX, sob a forma itens tarifários, a utilização destes dados demandou um esforço de compatibilização adicional. Este esforço se fez necessário porque os dados da matriz de contabilidade social devem espelhar o comércio internacional setorial do Brasil com os parceiros comerciais selecionados para análise.

Portanto, foi necessário que essa base estivesse computada em concordância com os setores produtivos tomados para estudo. Assim, uma vez que os dados da SECEX são disponibilizados originalmente sob a forma de itens tarifários da nomenclatura comum do Mercosul (NCM), para viabilizar sua inclusão final na matriz de contabilidade social, sob a formatação setorial, foi necessária a utilização de duas tabelas de compatibilização fornecidas pelo IBGE. A primeira destas tabelas busca compatibilizar os itens tarifários da NCM com a classificação das atividades econômicas (CNAE) e a outra relaciona as atividades da CNAE aos setores produtivos considerados pelo Sistema de Contas Nacionais (SCN), que é a base na qual a divisão setorial da matriz de contabilidade social foi assentada.

Embora em um primeiro momento se conclua que a utilização destas tabelas é direta e automática, uma vez que elas já estão compiladas, na prática este processo foi permeado por dificuldades inerentes à própria construção destas tabelas. Para superar problemas referentes à duplicidade de notações, ausência de códigos da NCM, erros ou ausência de digitação dos códigos da CNAE, entre outros problemas, foi necessário um trabalho árduo de inspeção e aud itoria nestas tabelas. Convém ressaltar que para atingir a agregação setorial do SCN foi preciso que aproximadamente 10.000 itens tarifários fossem auditados.

Portanto, após um extenso trabalho de formatação da base de dados5, o nível de desagregação conferido à matriz de contabilidade nacional foi compatível com a construção do modelo de equilíbrio geral de forma que este modelo teve nessa matriz sua base empírica para obtenção dos valores das

5

Quanto ao trabalho de formatação da base de dados e auditoria das tabelas de compatibilização do IBGE, gostaríamos de agradecer o suporte de programação de Marcello Sandi Pinheiro.

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variáveis e dos parâmetros, assim, como a sua solução de equilíbrio calculada por meio do processo de calibração. Em suma, a matriz de contabilidade social construída para o Brasil a fim de analisar os impactos da integração econômica foi baseada na disponibilidade de dados para o ano de 2002, sendo compatível com os objetivos do estudo. O nível de desagregação escolhido buscou explicitar o maior número possível de setores produtivos que estão sendo alvo das negociações comerciais nas quais o Brasil atualmente faz parte. O agente resto do mundo foi devidamente detalhado pelos principais países que estão envolvidos juntamente com o Brasil nas negociações para a formação da ALCA, obedecendo-se nesse caso a compatibilização com os setores produtivos.

Nesse caso, os países incluídos na matriz de contabilidade social no cenário de formação da ALCA são: Estados Unidos, Canadá, México, Argentina, Paraguai e Uruguai. No cenário que simula uma liberalização unilateral da economia brasileira, todos os parceiros comerciais estão agregados conjuntamente.6 Para o conjunto de simulações do modelo de equilíbrio geral, foi feita uma agregação das atividades produtivas do Sistema de Contas Nacionais (SCN) em 26 setores econômicos. Estas atividades econômicas contempladas nas simulações de equilíbrio geral são bastante abrangentes no que se refere aos principais interesses econômicos envolvidos nas negociações comerciais brasileiras.

Os fatores de produção incorporados ao modelo foram o capital e o trabalho. O governo foi incluído em sua esfera mais ampla, isto é, o governo federal o qual é o agente soberano na condução da política de comércio exterior do Brasil. Desta maneira, a matriz tem em sua base de dados as receitas e despesas do governo federal, das firmas e das famílias7. Por fim, convém ressaltar que esse sistema matricial quadrático da economia brasileira foi construído de maneira coesa e coerente com a disponibilidade de dados e os objetivos do estudo pretendido.

5 Simulação dos Cenários de Política Comercial Internacional

São implementados quatro tipos de painéis de variações na s tarifas aduaneiras em cada cenário. Em um primeiro painel, simulam- se reduções de cinqüenta por cento nas tarifas setoriais então vigentes. Em um segundo painel, todas as tarifas aduaneiras são zeradas e, no terceiro painel, são verificados os efeitos de tarifas zeradas somente nos setores com vantagens comparativas reveladas (VCR). Em última análise, o quarto painel de simulações visa avaliar os impactos de uma liberalização nos setores onde não há um padrão de vantagens comparativas8.

Nesse sentido, foi utilizado o índice de vantagens comparativas reveladas de Lafay (1990) o qual permite que se compare o desempenho comercial entre os setores da economia brasileira relativamente ao produto gerado na economia. Embora este índice não seja um indicador de competitividade, pois um crescimento na evolução temporal deste índice não implica necessariamente melhoria da competitividade internacional, sua fórmula permite que seja ponderado o comportamento

6

Convém frisar que para cada cenário foi construída uma matriz de contabilidade nacional.

7

Por hipótese, considerou-se que as famílias são proprietárias das firmas.

8

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conjunto dos fluxos bilaterais do comércio exterior brasileiro em termos dos setores produtivos selecionados9.

A fórmula usada para cálculo do índice de VCR aplicado neste trabalho é dada por:

(

) (

[

) (

)

]

(

)

[

X M X M X M X M

]

PIB VCR= iii + i / + − 1000 (27) Onde X e Xi são as exportações totais do país e do bem i, respectivamente, assim como M e

Mi denotam, respectivamente, as importações do país e do bem i. O PIB é uma medida de normalização e

se refere ao valor nominal correspondente ao mesmo ano no qual os dados de fluxos comerciais são considerados. O primeiro membro da expressão entre colchetes significa o saldo comercial efetivo por produto ou setor, enquanto o segundo membro representa o saldo neutro, isto é, o saldo que ocorreria caso a participação de cada produto/setor no saldo comercial total do país fosse igual a sua participação na corrente de comércio. Portanto, haverá vantagem ou desvantagem comparativa no produto ou setor se o sinal do índice de VCR for respectivamente positivo ou negativo, ou seja, caso este saldo efetivo seja maior ou menor do que o saldo neutro. A divisão pelo PIB irá normalizar os saldos efetivo e neutro10. A seguir, a tabela 1 mostra os valores do índice de VCR calculados para os 26 setores da economia considerados nesse trabalho no ano de 200211.

Tabela 1 - Vantagens Comparativas Reveladas

Setores 2002

Agropecuária 7,47

Minerais e Máquinas 0,04

Material elétrico -4,27

Equipamentos -6,87

Automóveis, caminhões e ônibus 3,59

Outros veículos e peças 1,48

Madeira e mobiliário 3,88 Papel e gráfica 2,09 Indústria da borracha -0,14 Elementos químicos -1,94 Refino de petróleo -5,64 Químicos diversos -5,60 Farmacêutica e perfumaria -4,15 Artigos de plástico -0,79 Indústria têxtil 0,32 Artigos de vestuário 0,16 Fabricação de calçados 4,27 Indústria do café 0,35

Beneficiamento de produtos vegetais 1,83

Abate de animais 5,67

Indústria de laticínios -0,48

Indústria de açúcar 3,89

Fabricação de óleos vegetais 5,18

Outros produtos alimentares 0,13

Indústrias diversas -1,50

Serviços -8,94

Fonte: Elaboração dos autores a partir de dados da SECEX, do Banco Mundial e do BACEN.

9

Diferentemente do índice de vantagens comparativas reveladas (VCR) desenvolvido pioneiramente por Balassa (1965), o índice de Lafay (1990) não possibilita a comparação da estrutura das exportações nacionais com a estrutura das exportações mundiais. Portanto, este índice de VCR não capta melhorias da economia em termos de competitividade internacional. O índice de VCR de Balassa é definido como: VCRB = (xij/Xj)/(xiw/Xw), onde xij são as exportações

do setor i do país j, Xj é o total das exportações do país j, xiw é a exportação mundial do setor i e Xw são as exportações mundiais totais. 10

O valor do PIB utilizado é dado pela renda nacional bruta (em dólares) calculada pelo Banco Mundial (World Development Indicators - 2003). Assim, como os valores dos fluxos de comércio provenientes da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior são também expressos em dólares não haverá no cálculo do índice de VCR inconvenientes com a conversão de medidas monetárias.

11

O setor denominado minerais e máquinas corresponde à agregação dos seguintes setores do sistema de contas nacionais do IBGE: extração mineral; extração de petróleo e gás; minerais não-metálicos; siderurgia; metalurgia dos não-ferrosos; outros metalúrgicos e máquinas e tratores.

(14)

5.1 O Cenário de Liberalização Unilateral da Economia Brasileira

Nesse cenário são avaliados os impactos de uma abertura generalizada da economia brasileira a todos os parceiros comerciais indiscriminadamente. Os resultados obtidos representam os efeitos da simulação de uma redução de cinqüenta por cento no nível geral das tarifas de importação em todos os 26 setores produtivos considerados. Na tabela 2, a seguir, estes efeitos setoriais são apresentados em termos de variação percentual12.

Tabela 2 - Liberalização Unilateral da Economia Brasileira Reduções das Tarifas Aduaneiras em 50%

Efeitos Setoriais (Variações Percentuais) Setores Colunas 1 2 3 4 5 6 7 Agropecuária 0,119 -3,040 0,533 -2,965 -3,643 -13,027 -0,496 Minerais e máquinas 0,540 1,072 0,956 1,224 0,516 5,247 0,250 Material elétrico 1,216 1,363 1,634 1,727 1,016 2,574 0,120 Equipamentos eletrônicos 1,488 1,921 1,908 2,096 1,382 3,271 1,028

Automóveis, caminhões e ônibus 0,787 0,698 1,204 0,948 0,242 2,066 1,142

Outros veículos e peças 1,013 1,084 1,431 1,493 0,783 2,361 1,104

Madeira e mobiliário 0,119 0,872 0,533 1,234 0,526 4,265 1,401 Papel e gráfica -0,020 0,066 0,394 0,365 -0,337 3,352 0,892 Indústria da borracha 0,497 1,432 0,913 1,568 0,858 5,312 0,059 Elementos químicos 0,373 0,074 0,789 0,159 -0,542 1,085 -0,296 Refino de petróleo -0,320 -1,711 0,093 -1,679 -2,367 -0,717 0,785 Químicos diversos 0,287 -1,212 0,702 -0,989 -1,682 -0,282 -1,616 Farmacêutica e perfumaria -0,179 -0,719 0,234 -0,465 -1,161 0,199 -0,089 Artigos de plástico 0,081 0,313 0,495 0,777 0,072 1,015 -0,359 Indústria têxtil 0,793 0,594 1,210 0,908 0,203 2,041 -1,063 Artigos de vestuário 0,143 -0,355 0,558 -0,079 -0,778 0,992 0,432 Fabricação de calçados 0,494 0,424 0,910 0,683 -0,021 1,605 1,459 Indústria do café -0,005 -7,638 0,409 -7,522 -8,169 -16,636 0,604

Beneficiamento de produtos vegetais -0,052 -3,782 0,362 -3,560 -4,235 -13,195 1,065

Abate de animais -0,145 -4,346 0,269 -4,118 -4,789 -13,483 1,216

Indústria de laticínios -0,247 -1,312 0,166 -1,102 -1,794 -10,231 0,714

Indústria de açúcar 0,034 -9,993 0,448 -9,867 -10,497 -19,230 0,318

Fabricação de óleos vegetais 0,296 -4,389 0,711 -4,325 -4,994 -9,499 -0,297 Outros produtos alimentares -0,286 -1,727 0,127 -1,375 -2,065 -10,722 -0,014

Indústrias diversas -0,222 0,168 0,191 0,818 0,113 0,925 0,172

Serviços 0,073 0,504 0,487 0,891 0,185 3,703 -13,130

Nota: as colunas se referem às seguintes variáveis endógenas: (1)=consumo das famílias, (2)=valor agregado, (3)=demanda por investimento; (4)=uso do capital, (5)= uso do trabalho, (6)= exportações totais, (7)= importações totais.

Os resultados setoriais nesta primeira simulação apontam para um aumento generalizado do nível de investimento, especialmente nos setores de equipamentos eletrônicos; outros veículos e peças; automóveis, caminhões e ônibus e na indústria têxtil. Embora na maioria dos setores o consumo privado também apresente uma expansão, há retrações inferiores a um por cento em nove dos 26 setores produtivos considerados na análise, conforme pode ser conferido na coluna 1 da tabela 2. O valor agregado setorial apresenta ganhos percentuais na maioria das atividades, embora existam perdas mais acentuadas na indústria do açúcar (-9,99%), na indústria do café (-7,63), na agropecuária (-3,04%) e nos setores de abate de animais (-4,34%) e beneficiamento de produtos vegetais (-3,78%), entre outros.

No que se refere ao uso dos fatores de produção (colunas 4 e 5), nota-se uma coincidência no sinal da variação do uso do capital e do trabalho. Assim, apesar das diferenças na magnitude da alteração percentual, em quase todos os setores as reduções ou aumentos no uso do capital são seguidas pela mesma tendência no uso do trabalho. As únicas exceções são dadas pelas indústrias de papel e gráfica;

12

Para efeitos de exposição dos resultados foram consideradas somente estas variáveis por serem consideradas mais pertinentes aos objetivos do estudo em questão.

(15)

elementos químicos e fabricação de calçados as quais apresentam variações negativas no uso do fator trabalho, diferentemente do uso do capital.

Em termos gerais, a liberalização unilateral da economia brasileira provoca variações positivas na corrente comercial setorial. Em 16 atividades produtivas ocorrem aumentos no nível das exportações enquanto que em 17 setores as importações são elevadas. Convém destacar que o incremento nas exportações é mais do que proporcional à elevação percentual das importações setoriais correspondentes. Contudo, convém notar que há expressivas reduções nas exportações de setores que possuem um padrão de vantagens comparativas como é o caso da indústria do café; beneficiamento de produtos vegetais; abate de animais; indústria do açúcar, entre outros.

Entretanto, há alguma ambigüidade nos resultados como é o caso do setor agropecuário que apresenta redução das suas exportações e importações, respectivamente de 13% e 0,5%. Os setores de químicos diversos; fabricação de óleos vegetais e outros produtos alimentares também têm este comportamento. Por outro lado, o setor de serviços; elementos químicos; artigos de plástico; a indústria têxtil e a indústria farmacêutica apresentam reduções nas importações e elevação das exportações neste tipo de liberalização comercial. O resultado sobre o nível de bem-estar geral da economia calculado pela variação equivalente Hicksiana em termos percentuais foi de 0,081%. Este indicador representa a variação no consumo relativamente ao consumo no estado de equilíbrio ou de benchmark. Portanto, verifica-se que a liberalização parcial de 50% nas tarifas aduaneiras implica um aumento no nível de bem-estar geral da economia brasileira.

Na tabela 3, a seguir, são apresentados os resultados obtidos a partir da simulação de tarifas zeradas em todos os setores produtivos. Este painel representa uma total abertura da economia brasileira ao comércio internacional.

Tabela 3 - Liberalização Unilateral da Economia Brasileira Tarifas Aduaneiras Zeradas

Efeitos Setoriais (Variações Percentuais) Setores Colunas 1 2 3 4 5 6 7 Agropecuária 0,183 -5,991 1,107 -5,848 -7,128 -25,147 -0,801 Minerais e máquinas 1,067 2,236 1,999 2,536 1,143 11,313 0,726 Material elétrico 2,433 2,763 3,378 3,485 2,079 5,345 0,253 Equipamentos eletrônicos 2,993 3,944 3,943 4,293 2,875 6,836 2,130

Automóveis, caminhões e ônibus 1,563 1,402 2,500 1,893 0,508 4,295 2,437

Outros veículos e peças 2,035 2,166 2,975 2,973 1,573 4,884 2,350

Madeira e mobiliário 0,218 1,919 1,142 2,634 1,239 9,312 3,053 Papel e gráfica -0,086 0,140 0,835 0,723 -0,646 7,220 1,941 Indústria da borracha 0,950 2,932 1,881 3,202 1,799 11,313 0,230 Elementos químicos 0,700 0,074 1,628 0,239 -1,123 2,202 -0,423 Refino de petróleo -0,745 -3,601 0,170 -3,540 -4,851 -1,555 1,617 Químicos diversos 0,507 -2,402 1,434 -1,973 -3,306 -0,475 -3,131 Farmacêutica e perfumaria -0,446 -1,550 0,472 -1,058 -2,403 0,368 -0,199 Artigos de plástico 0,083 0,609 1,006 1,519 0,139 2,095 -0,677 Indústria têxtil 1,553 1,197 2,489 1,814 0,431 4,243 -2,072 Artigos de vestuário 0,227 -0,801 1,151 -0,264 -1,620 2,022 0,903 Fabricação de calçados 0,984 0,868 1,915 1,377 -0,000 3,381 3,143 Indústria do café -0,137 -14,481 0,784 -14,272 -15,437 -30,916 1,328

Beneficiamento de produtos vegetais -0,196 -7,534 0,725 -7,118 -8,381 -25,462 2,187

Abate de animais -0,394 -8,612 0,525 -8,185 -9,433 -25,911 2,461

Indústria de laticínios -0,584 -2,781 0,333 -2,377 -3,704 -20,250 1,470

Indústria de açúcar -0,080 -18,545 0,841 -18,322 -19,704 -34,974 0,770

(16)

Outros produtos alimentares -0,671 -3,514 0,244 -2,839 -4,160 -21,020 -0,029

Indústrias diversas -0,484 0,349 0,433 1,622 0,241 2,039 0,433

Serviços 0,127 0,973 1,050 1,731 0,349 7,958 -24,037

Nota: as colunas se referem às seguintes variáveis endógenas: (1)=consumo das famílias, (2)=valor agregado, (3)=demanda por investimento, (4)=uso do capital, (5)= uso do trabalho, (6)= exportações totais, (7)= importações totais.

Verifica-se o mesmo padrão da simulação anterior no que se refere ao sinal das alterações percentuais entre as variáveis endógenas. Neste caso, as diferenças ocorrem em relação à magnitude dos resultados que têm seus valores percentuais aumentados. Portanto, pode-se concluir que o choque provocado pela abertura total da economia brasileira gera, em termos de sinal, os mesmos efeitos setoriais anteriormente analisados, porém com uma maior variação percentual. O indicador de variação equivalente Hicksiana calculado para esta segunda simulação teve um valor mais elevado (0,116%), indicando que um maior grau de abertura comercial é diretamente proporcional a um nível de bem-estar mais elevado.

Também foram realizadas simulações de liberalização tarifária levando em consideração o padrão de vantagens comparativas reveladas calculado anteriormente13. Portanto, em um primeiro momento, somente os setores que apresentaram vantagens comparativas reveladas tiveram suas tarifas de importação zeradas. Em um segundo momento, os setores que não possuem vantagens comparativas foram expostos à concorrência externa. Assim, na tabela 4 são expostos os efeitos da liberalização nos setores com vantagens comparativas reveladas (VCR). De forma análoga, na tabela 5, os resultados das simulações que levam em consideração a abertura comercial somente nos setores sem vantagens comparativas são apresentados.

Tabela 4 - Liberalização Unilateral da Economia Brasileira Tarifas Aduaneiras Zeradas nos Setores com VCR

Efeitos Setoriais (Variações Percentuais) Setores Colunas 1 2 3 4 5 6 7 Agropecuária 0,068 -1,045 0,138 -1,049 -1,020 -4,347 -0,965 Minerais e máquinas 1,190 2,538 1,261 2,531 2,561 5,180 -2,023 Material elétrico 0,376 0,081 0,446 0,066 0,095 0,837 0,511 Equipamentos eletrônicos 0,017 -0,283 0,087 -0,290 -0,260 0,162 -0,083

Automóveis, caminhões e ônibus 1,835 2,188 1,906 2,177 2,207 3,574 1,281

Outros veículos e peças 2,388 2,799 2,459 2,782 2,812 4,079 1,033

Madeira e mobiliário 0,313 0,685 0,384 0,670 0,700 2,252 0,243 Papel e gráfica 0,255 0,325 0,325 0,313 0,342 1,852 -0,125 Indústria da borracha 0,060 0,486 0,130 0,480 0,510 1,951 1,113 Elementos químicos 0,053 -0,350 0,123 -0,353 -0,324 0,044 0,838 Refino de petróleo 0,045 -1,291 0,115 -1,292 -1,263 -0,608 0,703 Químicos diversos -0,019 -0,405 0,051 -0,415 -0,385 -0,054 -0,017 Farmacêutica e perfumaria -0,073 -0,506 -0,003 -0,517 -0,488 -0,129 -0,088 Artigos de plástico -0,027 -0,053 0,043 -0,072 -0,043 0,293 0,330 Indústria têxtil 1,939 2,628 2,010 2,615 2,645 4,003 -2,523 Artigos de vestuário 0,831 0,636 0,902 0,624 0,654 1,877 0,558 Fabricação de calçados 0,730 1,083 0,800 1,072 1,101 1,615 0,699 Indústria do café 0,030 -3,091 0,100 -3,096 -3,068 -6,571 0,012

Beneficiamento de produtos vegetais 0,126 -1,348 0,197 -1,358 -1,329 -5,334 0,072

Abate de animais 0,005 -1,751 0,075 -1,761 -1,732 -5,400 0,331

Indústria de laticínios -0,069 -0,683 0,000 -0,691 -0,662 -4,188 0,248

Indústria de açúcar 0,155 -4,992 0,225 -4,997 -4,970 -9,653 0,059

Fabricação de óleos vegetais 0,312 -1,757 0,382 -1,760 -1,731 -4,020 -0,405

13

Na simulação da abertura comercial nos setores com vantagens comparativas reveladas (VCR) está implícita a hipótese de que nos setores onde não existem estas vantagens comparativas as tarifas vigentes são mantidas inalteradas. O mesmo raciocínio é válido para o caso da simulação de liberalização nos setores com desvantagens comparativas, ou seja, nos setores com VCR as alíquotas de importação não são alteradas.

(17)

Outros produtos alimentares 0,128 -0,569 0,198 -0,584 -0,555 -5,064 -0,066

Indústrias diversas -0,056 -0,068 0,013 -0,095 -0,065 0,352 0,133

Serviços 0,120 -0,147 0,190 -0,163 -0,134 1,286 4,270

Nota: as colunas se referem às seguintes variáveis endógenas: (1)=consumo das famílias, (2)=valor agregado, (3)=demanda por investimento, (4)=uso do capital, (5)= uso do trabalho, (6)= exportações totais, (7)= importações totais.

A liberalização total somente nas atividades que possuem VCR provoca resultados heterogêneos no que concerne ao comportamento dos fluxos comerciais setoriais. Por exemplo, observam-se reduções nas importações e aumento das exportações em setores sem um padrão de VCR como é o caso de equipamentos eletrônicos e a indústria de papel e gráfica. Por outro lado, na indústria têxtil (setor com VCR) há elevação de 4% nas exportações e redução de 2,52% nas importações. O setor agropecuário (detentor de um elevado padrão de VCR) apresenta reduções nas exportações e nas importações, respectivamente, de 4,34% e 0,96%. Entretanto, o setor de serviços, que possui os maiores níveis de desvantagens comparativas, apresenta elevações percentuais tanto nas exportações (1,28%) quanto nas importações (4,27%).

As variações no uso dos fatores de produção são negativas em 16 dos 26 setores considerados. Convém notar que estas variações têm magnitudes muito próximas entre si. Além disso, as variações no valor agregado setorial também coincidem em sinal com as variações no uso dos fatores. O consumo privado aumenta em todos os setores produtivos, à exceção da indústria de químicos diversos (-0,01%), produtos farmacêuticos e de perfumaria 0,07%), artigos de plástico 0,02%), indústria de latic ínios (-0,06%) e indústrias diversas (-0,05%). É interessante notar que estes setores não possuem VCR. Entretanto, a demanda por investimento apresenta variações percentuais positivas em todos os setores, à exceção da indústria farmacêutica e de perfumaria.

Em termos do efeito sobre nível de bem-estar geral da economia brasileira, a eliminação das tarifas de importação somente nos setores com vantagens comparativas provocou um aumento do indicador de variação equivalente Hicksiana relativamente às simulações anteriores. Neste sentido, o novo valor de 0,214% sugere que liberalizações do comércio internacional em setores onde já existam padrões de VCR geram efeitos superiores sobre o bem-estar geral relativamente aos dois painéis anteriores. Portanto, de acordo com estas simulações, a opção pela liberalização do comércio nos setores com melhor padrão de vantagens comparativas seria superior, em termos de bem-estar, à liberalização em todos os setores da economia. A seguir, na tabela 5, são expostos os resultados relativos aos efeitos da liberalização nos setores onde a economia brasileira não possui vantagens comparativas reveladas.

Tabela 5 - Liberalização Unilateral da Economia Brasileira Tarifas Aduaneiras Zeradas nos Setores sem VCR

Efeitos Setoriais (Variações Percentuais) Setores Colunas 1 2 3 4 5 6 7 Agropecuária 0,150 -4,765 0,902 -4,622 -5,904 -20,331 0,041 Minerais e máquinas -0,134 -0,388 0,615 -0,098 -1,441 5,112 2,421 Material elétrico 2,069 2,676 2,835 3,389 1,999 4,314 -0,341 Equipamentos eletrônicos 3,030 4,273 3,804 4,618 3,212 6,542 2,190

(18)

Outros veículos e peças -0,351 -0,584 0,397 0,192 -1,154 0,648 1,109 Madeira e mobiliário -0,078 1,054 0,672 1,754 0,387 6,185 2,518 Papel e gráfica -0,293 -0,187 0,456 0,388 -0,961 4,759 1,870 Indústria da borracha 0,940 2,390 1,698 2,654 1,275 8,644 -1,096 Elementos químicos 0,688 0,565 1,444 0,730 -0,624 2,156 -1,538 Refino de petróleo -0,673 -2,033 0,072 -1,972 -3,290 -0,774 0,833 Químicos diversos 0,605 -1,865 1,361 -1,439 -2,764 -0,393 -3,099 Farmacêutica e perfumaria -0,272 -0,881 0,476 -0,391 -1,730 0,542 -0,080 Artigos de plástico 0,207 0,706 0,959 1,606 0,241 1,746 -1,062 Indústria têxtil -0,361 -1,367 0,387 -0,772 -2,106 0,096 0,303 Artigos de vestuário -0,540 -1,301 0,206 -0,772 -2,106 0,103 0,282 Fabricação de calçados 0,242 -0,227 0,995 0,272 -1,076 1,556 2,173 Indústria do café -0,083 -11,362 0,667 -11,148 -12,342 -24,676 1,197

Beneficiamento de produtos vegetais -0,245 -5,917 0,504 -5,498 -6,769 -19,812 1,981

Abate de animais -0,308 -6,591 0,440 -6,161 -7,422 -20,251 2,022

Indústria de laticínios -0,420 -1,873 0,328 -1,469 -2,794 -15,471 1,133

Indústria de açúcar -0,118 -14,023 0,632 -13,790 -14,949 -26,799 0,592

Fabricação de óleos vegetais 0,244 -6,669 0,996 -6,547 -7,803 -14,169 -0,166 Outros produtos alimentares -0,693 -2,769 0,053 -2,097 -3,412 -15,582 0,039

Indústrias diversas -0,354 0,427 0,394 1,687 0,321 1,520 0,230

Serviços 0,020 1,083 0,771 1,834 0,465 5,988 -28,333

Nota: as colunas se referem às seguintes variáveis endógenas: (1)=consumo das famílias, (2)=valor agregado, (3)=demanda por investimento, (4)=uso do capital, (5)= uso do trabalho, (6)= exportações totais, (7)= importações t otais.

A elevação do padrão geral do investimento persiste neste último painel. Contudo, o consumo privado se torna negativo na maioria dos setores produtivos. O valor agregado setorial apresenta variações negativas mais expressivas em atividades produtivas com VCR como agropecuária e as indústrias do café e açúcar. Em relação ao painel de liberalização nos setores com VCR, as variações percentuais no uso dos fatores de produção não são mais homogêneas apresentando, inclusive, resultados fortemente negativos como é o caso das indústrias do café e do açúcar.

No que se refere ao comportamento do comércio internacional, há aumento nas exportações na maioria dos setores considerados. Entretanto, em setores com um elevado padrão de VCR como agropecuária; indústria do café; indústria do açúcar; beneficiamento de produtos vegetais; abate de animais, entre outros, ocorrem reduções percentuais expressivas, conforme pode ser conferido na coluna 6 da tabela 5.

A liberalização nos setores sem VCR provoca resultados diferenciados nas importações setoriais comparativamente ao painel mostrado na tabela 4. Nota-se, nesse caso, que o setor agropecuário aumenta suas importações em 0,04% e o setor de serviços apresenta reduções de 28,33% no volume de importações. Convém destacar que o setor de serviços não possui vantagens comparativas no comércio, assim como os setores de material elétrico; indústria da borracha; elementos químicos, entre outros, que também apresentaram reduções nas suas importações.

Em termos dos efeitos sobre o bem-estar da economia, o indicador de variação equivalente apresentou um resultado negativo (-0,056%). Este resultado é coerente com um painel no qual o país decide promover liberalização somente nos setores onde o desempenho comercial é fraco. Portanto, este caso extremo de liberalização da economia em setores com fraco desempenho do comércio internacional implica perdas expressivas para o nível de bem-estar geral do país. Além disso, a comparação dos resultados obtidos pelo indicador de variação equiva lente Hicksiana sugere que a opção por uma política comercial que privilegie o livre comércio internacional proporciona maiores ganhos para a economia brasileira como um todo. Neste sentido, é interesse notar que o maior valor deste indicador foi obtido no

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painel onde o país efetua a liberalização da economia somente nos setores que possuem um padrão de vantagens comparativas.

Esses resultados fornecem evidências que favorecem a prática de uma política multilateralista do comércio internacional, sob a forma de uma liberalização unilateral da economia aliada à abertura comercial prudente com relação aos setores nos quais o país ainda não possua um padrão de vantagens comparativas. Em síntese, este primeiro cenário de liberalização unilateral da economia brasileira traz conclusões muito heterogêneas a respeito dos efeitos setoriais. Enquanto o comportamento do indicador de bem-estar é coerente com a teoria econômica, os resultados nos diversos setores analisados parecem não obedecer um padrão teórico geral. Contudo, é importante salientar que a diversidade de resultados nestas simulações lança novas questões acerca dos efeitos obtidos em modelagens de equilíbrio geral anteriores.

5.2 A Área de Livre Comércio das Américas

Os impactos da formação de uma Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) na economia brasileira são simulados por meio da eliminação das tarifas das importações incidentes sobre Argentina, Paraguai, Uruguai, México, Canadá e EUA conjuntamente. De forma análoga ao cenário anterior, primeiramente são apresentados os resultados referentes a reduções de cinqüenta por cento nas tarifas de importação. Este cenário será chamado de ALCA light por visar somente uma liberalização parcial da economia brasileira ao comércio na região.

Tabela 6 - ALCA Light

Reduções das Tarifas Aduaneiras em 50% Efeitos Setoriais (Variações Percentuais) Setores Colunas 1 2 3 4 5 6 7 Agropecuária -0,230 -2,190 1,558 -2,106 -2,859 -25,878 0,647 Minerais e máquinas 0,761 0,682 2,565 0,849 0,073 12,092 -16,470

Material elét rico -0,719 -0,168 1,060 0,227 -0,544 2,506 0,641

Equipamentos eletrônicos -1,271 -0,632 0,498 -0,444 -1,210 1,841 0,034

Automóveis, caminhões e ônibus 0,634 1,065 2,436 1,341 0,561 3,695 -4,242

Outros veículos e peças -0,374 -0,197 1,410 0,247 -0,524 2,581 2,174

Madeira e mobiliário -0,729 -0,114 1,049 0,280 -0,491 9,155 3,196 Papel e gráfica -1,155 -1,407 0,615 -1,083 -1,845 7,047 2,129 Indústria da borracha -0,852 0,380 0,924 0,528 -0,245 8,799 2,091 Elementos químicos -0,291 -1,406 1,495 -1,314 -2,074 1,258 2,301 Refino de petróleo -1,638 -4,719 0,123 -4,686 -5,419 -2,251 2,005 Químicos diversos -1,207 -1,594 0,563 -1,350 -2,109 0,530 -0,138 Farmacêutica e perfumaria -1,876 -2,781 -0,119 -2,507 -3,258 -0,545 -0,523 Artigos de plástico -1,143 -0,327 0,628 0,181 -0,590 1,482 0,220 Indústria têxtil -0,594 -0,771 1,187 -0,430 -1,196 1,986 -0,003 Artigos de vestuário -1,410 -2,392 0,356 -2,094 -2,848 0,231 0,194 Fabricação de calçados 1,451 3,054 3,268 3,347 2,552 6,289 -7,135 Indústria do café 0,116 -2,098 1,909 -1,963 -2,718 -26,919 -69,115

Beneficiamento de produtos vegetais -1,132 -4,890 0,639 -4,649 -5,383 -27,794 2,989

Abate de animais -1,301 -3,880 0,467 -3,627 -4,369 -26,366 3,014

Indústria de laticínios -1,770 -4,592 -0,010 -4,368 -5,104 -24,963 1,167

Indústria de açúcar 0,034 -1,591 1,826 -1,439 -2,197 -26,736 -8,501

Fabricação de óleos vegetais -0,167 -1,278 1,622 -1,205 -1,965 -14,199 -1,858 Outros produtos alimentares -1,485 -3,158 0,280 -2,776 -3,524 -24,244 0,489

Indústrias diversas -0,464 0,319 1,319 0,996 0,219 3,328 0,742

Serviços -0,186 0,642 1,602 1,068 0,290 10,319 -13,295

Nota: as colunas se referem às seguintes variáveis endógenas: (1)=consumo das famílias, (2)=valor agregado, (3)=demanda por investimento, (4)=uso d o capital, (5)= uso do trabalho, (6)= exportações para a ALCA, (7)= importações oriundas da ALCA.

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A redução das tarifas de importação em 50% provoca variações positivas na demanda por investimento em quase todos os setores produtivos. Os setores de fabricação de calçados; minerais e máquinas; automóveis, caminhões e ônibus apresentam as maiores elevações percentuais, conforme pode ser conferido na coluna 3 da tabela 6. É interessante notar que o crescimento setorial mais expressivo das variáveis endógenas de valor agregado (coluna 2) e consumo das famílias (coluna 1) também ocorre nestas atividades produtivas onde a demanda por investimento é maior. Convém destacar, que esta correspondência não se verifica integralmente nos demais setores produtivos. Por exe mplo, na indústria de elementos químicos o crescimento de 1,49% na demanda por investimento não se faz acompanhar por aumentos percentuais nas variáveis de valor agregado e consumo privado.

Portanto, em termos gerais, observa-se uma retração do consumo privado em quase todas as atividades, assim como no valor agregado gerado em 20 dos 26 setores produtivos considerados. O uso do trabalho é predominantemente decrescente em 21 dos 26 setores produtivos, enquanto que o uso do capital sofre pequenas variações positivas em 10 destes setores comerciais. No que se refere ao comércio internacional14, registra-se, de maneira geral, um aumento das exportações em 16 setores econômicos. Contudo, é importante observar que são registradas quedas no montante exportado de indústrias com um excelente desempenho comercial como é caso da agropecuária, açúcar e café.

Pelo lado das importações, apesar da redução das tarifas aduaneiras, verificam-se variações negativas muito expressivas nas importações de café (69,11%). Os setores de minerais e máquinas; serviços e a indústria do açúcar também têm variações negativas de 16,47%, 13,29% e 8,50%, respectivamente. O valor calculado para o indicador percentual de variação equivalente Hicksiana é de -0,591%. Este resultado é um indicativo de que o nível de bem-estar geral da economia brasileira piora com a liberalização do comércio somente aos países membros da ALCA relativamente ao estado de equilíbrio anterior à integração econômica. Os efeitos da redução total de todas as tarifas aduane iras são apresentados na tabela 7, a seguir. Estas simulações são chamadas de “ALCA profunda” pois estabelecem uma liberalização plena da economia brasileira ao comércio com os demais países da região.

Tabela 7 - ALCA Profunda Tarifas Aduaneiras Zeradas

Efeitos Setoriais (Variações Percentuais) Setores Colunas 1 2 3 4 5 6 7 Agropecuária -0,575 -4,569 3,422 -4,396 -5,942 -47,581 1,884 Minerais e máquinas 1,503 1,390 5,583 1,745 0,099 27,801 -32,016 Material elétrico -1,754 -0,483 2,195 0,351 -1,272 5,309 1,349 Equipamentos eletrônicos -2,922 -1,467 0,980 -1,073 -2,673 3,878 0,013

Automóveis, caminhões e ônibus 1,195 2,195 5,263 2,785 1,123 7,956 -8,515

Outros veículos e peças -1,012 -0,607 2,968 0,329 -1,294 5,409 4,712

Madeira e mobiliário -1,651 -0,097 2,303 0,739 -0,891 21,024 7,117 Papel e gráfica -2,597 -3,052 1,319 -2,380 -3,958 15,753 4,632 Indústria da borracha -1,993 0,753 1,947 1,067 -0,567 19,707 4,687 Elementos químicos -0,769 -3,213 3,220 -3,022 -4,591 2,525 5,421 Refino de petróleo -3,690 -10,080 0,182 -10,013 -11,468 -5,028 4,101 14

Por hipótese, foram considerados os fluxos comerciais somente entre os países membros da ALCA. Portanto, os efeitos sobre as exportações e importações dizem respeito somente ao comércio do Brasil com os países membros deste bloco.

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