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Relatório XVI
Informação da atividade eruptiva da ilha do Fogo
de 26 a 29 de Dezembro
GEOQUÍMICA (GASES)
Na actual fase de actividade vulcânica com um processo eruptivo em curso e com a presença de uma pluma vulcânica, o objetivo do programa geoquímico do Observatório Vulcanológico de Cabo Verde (OVCV) é monitorizar a emissão do dióxido de enxofre (SO2) associado à pluma vulcânica.
Os resultados obtidos nos dias 26 a 29 de dezembro reflectem uma taxa de emissão de dióxido de enxofre (SO2) para a atmosfera através de plumas vulcânicas na consequência
da atividade eruptiva alcançando um valor de 2.778 a 4900 toneladas diárias (tabela 1). O conhecimento sobre a taxa de emissão de gases vulcânicos reflete o número, profundidade e conteúdo de magma volátil existente dentro de um sistema vulcânico é uma importante ferramenta de monitoramento para elucidar as mudanças na atividade vulcânica. Estas medidas estão a ser obtidas mediante o uso de sensores ópticos remotos tipo miniDOAS de Instituto Vulcanológico de Canárias (INVOLCAN) em posição móvel terrestre (montado num carro). Para calcular estes valores necessita-se ainda de dados de valores de velocidade e direcção do vento para a ilha do Fogo proporcionados pelo Centro VAAC Toulouse.
A composição química dos gases vulcânicos é controlado pelo conteúdo de voláteis no magma e as condições do processo de desgaseificação, e seu conhecimento é um indicador importante para avaliar o processo magmático no subsolo e as condições de desgaseificação, ambas de grande ajuda para a monitorização da atividade vulcânica. Os efeitos do dióxido de enxofre (SO2) nas pessoas e o ambiente variam muito,
dependendo (1) da quantidade de dióxido de enxofre (SO2) que um vulcão emite para a
atmosfera; (2) se o dióxido de enxofre (SO2) é injectado na troposfera ou estratosfera; e
(3) se o sistema de ventos regionais desempenha um papel importante na dispersão de dióxido de enxofre (SO2). O Dióxido de enxofre (SO2) é um gás incolor com um odor
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pungente que irrita a pele e os tecidos e membranas mucosas dos olhos, nariz e garganta. O dióxido de enxofre (SO2) afeta principalmente o sistema respiratório superior e
brônquios. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma concentração não superior a 0,5 ppm por 24 horas para a exposição máxima. Uma concentração de 6,12 ppm pode causar irritação imediata do nariz e da garganta; 20 ppm pode causar irritação nos olhos e 10.000 ppm pode irritar a pele húmida em minutos.
Tabela 1- Taxas de Emissão de SO2.
Dias Emissão de SO2 (toneladas/dia)
Distâncias percorridas pelo carro nas medições
Locais de medição de SO2
26/12 1.281 25 km Bernardo Gomes a Atalaia
27/12 492 12 km Penteada a Figueira Pavão
28/12 1.769 15 km Santo António a Fonte Aleixo
29/12 4.442 15 km São Jorge a Patim
Obs: Pequenas (< 200 toneladas diárias), moderadas (200-1000 toneladas diárias) e grandes (>1000 toneladas diárias). Estas duas últimas são típicas da desgasificação directa do magma.
GEOLOGIA/VULCANOLOGIA
No dia 26 de Dezembro, na Chã das Caldeiras (8h30) observou-se o cone eruptivo que continuava a registar emissão mista dos gases e cinzas, formando uma coluna de 400-500 m de altura e com direcção norte. Não se verificou nenhuma explosão seguida de estrondos nem efusão visível de lavas. Na base do cone eruptivo não se verifica aspecto de fumaças a sair do cone vulcânico que alimenta através de um canal, as frentes no Ilhéu de Losna (figura 1).
3 Figura 1. Cone eruptivo apresenta emissão de gases e cinzas (8h30).
Das observações feitas anteriormente, onde se notava por câmara térmica uma actividade intensificada em direcção a Ilhéu de Losna (das 19h-20h de 25-12-2014), nota-se hoje uma acalmaria da actividade até as 15h00, sem avanço considerável das lavas entre o Monte Beco e Monte Saia.
Em Ilhéu de Losna, as frentes ativas a sul encontram-se praticamente paradas, com reduzida velocidade na ordem de 1m/12h.
A frente de lava (frente da adega Sodade) que se dirige à casa da senhora Matilde, encontra-se praticamente parada. As lavas contornaram o pátio da casa e destruíram o campo de cultivo à frente da casa (figura 2a). Surgiu outra frente atrás da mesma casa, deslocando-se para dentro de um vale, e por encontrar um obstáculo aumentou de espessura na ordem de 1,5-2m de altura (figura 2b).
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(a) (b)
Figura 2. Frente que contornou a casa Matilde (a); outra frente ativa atrás da casa em direcção a um vale (b).
A única frente activa, encontra-se a norte do Ilhéu de Losna e a menos de 20m da última casa. As lavas estão a contornar as lavas antigas, enchendo os vales e fazendo o seu percurso em direcção aos campos de cultivo (figura 3).
Figura3. Lavas ativas a norte do Ilhéu de Losna e a contornar as lavas de 1995 (9:00).
Grande parte dos terrenos foi destruída e um valor incalculável de prejuízo aos camponeses que diariamente tentam salvar alguns desses produtos agrícolas.
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No dia 27 de Dezembro, na Chã das Caldeiras (06h00min) à entrada, observou-se o seguinte cenário: O cone eruptivo continuava a emitir gases, formando uma coluna de 200-300m de altura e deslocação para norte e em direcção ao solo de Chã das Caldeiras. Não se verificou nenhuma explosão seguida de estrondos nem a efusão visível de lavas. Na base do cone eruptivo verificou-se a saída de gases do cone que alimenta através de um canal as frentes no ilhéu de Losna (figuras 4a, 4b).
(a) (b)
Figura 4. Emissão de gases a partir do cone eruptivo. 6h00 (a) sem nenhum sinal de incandescência e 11h00 (b) sem estrondos e efusão visível de lavas.
Relativamente às observações feitas no período das 19h-21h, constatou-se por câmara térmica um decréscimo da temperatura latente do cone eruptivo onde as lavas superficiais encontram-se abaixo dos 120ºC (figura 5). As frentes ativas entre o Monte Beco e Monte Saia mantinham-se ativas e dirigiam-se para o Ilhéu de Losna.
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Em Ilhéu de Losna (06:20), as frentes ativas a sul do Ilhéu de Losna (frente da adega Sodade) que se dirigiram à casa da senhora Matilde, encontram-se praticamente estagnadas. As lavas contornaram o pátio da casa, sem estragos maiores. Não se notou nenhum movimento ou distância percorrida bem como um decréscimo da temperatura latente podendo-se considerar que essa frente esteja parcialmente ou totalmente inactiva (figuras 6ª,6b).
(a) (b)
Figura 6. Frente praticamente inativa. Frente da casa Matilde (a) 26/12 e (b) 27/12.
Na parte central ramificou-se uma frente ativa que vem destruindo a estrada. Apresenta temperatura superior a 500ºC e de estado muito fluido, que se dirige para um campo de cultivo de mandioca.
A norte do Ilhéu de Losna e em menos de 6h as lavas deslocaram-se cerca de 20-30 m, tendo esta ultrapassado e contornado a última casa. As lavas continuam fluidas nessa área e a uma velocidade média de 2m/h (figura 7).
7 Figura 7. Frente ativa a norte: última casa em Ilhéu de Losna (Chã das Caldeiras).
Em Portela e Bangaeira as frentes estão inativas e praticamente estagnadas. Não se verificou nenhum movimento ou deslocamento destas nos últimos quatro dias.
Nos dias 28 e 29 registou-se a emissão contínua e mista dos gases, de cor branca característica, formando uma coluna de 300-500 m de altura e com direcção norte. Não se verificou nenhuma explosão seguida de estrondos nem efusão visível de lavas nesses dois dias. (figuras 8a, 8b).
(a) (b)
Figura 8. Emissão de gases a partir do cone principal nos dias 28 (a) a partir do Monte Beco e nos dias 29 (b) a partir da entrada do Parque.
Não se verificou nenhuma incandescência, nem a emissão visível da fonte que se situa na base do novo cone vulcânico, fonte que alimenta as frentes em Ilhéu de Losna.
A monitorização da temperatura do novo cone vulcânico é registada por câmara térmica, tendo se verificado um abaixamento gradual de temperatura entre os dois dias (figura 9).
8 Figura 9: imagens por câmara térmica.
As frentes ativas a sul do Ilhéu de Losna (frente da adega Sodade), que se dirigiram em à casa da senhora Matilde, encontram-se estagnadas. As lavas contornaram o pátio da casa sem estragos. Sem ter-se notado também nenhum movimento ou distância percorrida bem como um decréscimo da temperatura latente, podendo ainda considerar-se que essa frente esteja parcialmente ou totalmente inactiva (figura 10).
Figura 10. Frente parada a sul do Ilhéu, (a) casa Matilde; (b) imagem câmara térmica da frente que há quatro dias se encontrava parada.
A frente ativa a norte do Ilhéu de Losna dava sinal de abrandamento e movia-se a uma velocidade reduzida, e em dois dias tinha-se deslocado cerca de 10-15m. Apenas deslocou-se por cima das lavas de 1995, encontrando assim obstáculos que impediram a frente de lavas avançar sobre os campos de cultivo (figura 11).
9 Figura 11. Movimento da escoada de lavas por cima das de 1995.
Em Portela e Bangaeira as frentes estão inativas e estagnadas. Não se verificou nenhum movimento ou deslocamento destas na última semana.