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HISTÓRIA E LITERATURA EM MIA COUTO

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Academic year: 2021

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HISTÓRIA E LITERATURA EM MIA COUTO

Marcia Oliveira de França1; Maria Perla Araujo Morais2;

RESUMO

A presente pesquisa teve o objetivo de analisar, as três obras do autor moçambicano Mia couto: Terra Sonâmbula; Venenos de Deus Remédios do diabo e o Outro pé da Sereia. No presente estudo foi feito uma análise sempre comparando as três obras, para melhor entendimento do contexto histórico encontrado nas leituras feitas no decorrer do estudo. Um dos fatos mais curiosos foi a mudança de tempo cronológico que ocorria as historias. Mostrando o tempo real do acontecimento, levando o leitor a penetrar no que esta sendo contado. Trabalhando com referencial em dados históricos, para comprovar os fatos. Foi estudado o que esta na historia, real e a visão do moçambicano Mia Couto mostrando uma versão que pode ter acontecido, e no decorrer das obras isso é provado, com relatos de quem viveu todos os sofrimentos que são os próprios moçambicanos. Mostrando as tribos correndo da guerra, pessoas definhando numa cama, sem sonhos de voltar a viver ou pessoas com a crença no não real. Outro fato muito visto nos três livros foi à fuga da realidade. Indo para os sonhos, que e um lugar que tudo pode, onde todos têm a mesma possibilidade de ser feliz. Tentado fugir do pesadelo da guerra e dos massacres. E a invenção de muitas palavras de ramo tribais, forma de mostrar a oralidade da fala quase não entendida pelos colonizadores, como se os moçambicanos quisessem se proteger de algo que nem eles sabiam o real o que eram.

Palavras-chave: moçambique; história; sonhos.

INTRODUÇÃO

Quer seja por motivos políticos, econômicos ou sociais, a África é um espaço que aciona intrigantes pesquisas, dado a sua complexidade cultural. No ambiente escolar brasileiro, ratifica esse interesse a Lei no. 10.639 de 2003, que institui o “(...)

1 Aluna do curso de Letras; Campus de Porto Nacional; e-mail: marcia_the_cat@hotmail.com

“PIBIC/CNPq”

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estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinente à História do Brasil.” (BRASIL, 2003).

A História e Literatura Brasileira hoje querem rever, resgatar e entender essa história do continente africano na formação do Brasil. A revisão e a inclusão de vozes dissonantes na narrativa da História oficial são questões próprias do pós-moderno: “O pós-moderno é (...) o campo de forças em que vários tipos bem diferentes de impulso cultural – o que Raymond Williams chamou, certeiramente, de formas „residuais‟ e „emergentes‟ de produção cultural – têm que encontrar seu caminho.” (JAMESON, 2004, p.31)

Marcados profundamente pelo contato com a cultura portuguesa, os países africanos de Língua Portuguesa articulam uma complexa identidade. Vários escritores africanos fazem desse contato e de seus desdobramentos matéria literária, numa tentativa de se entender a trocas culturais que instituem a identidade desses países. Sobre o escritor moçambicano Mia Couto, Jane Tutikian observa: “Na obra de Mia Couto (...) a representação mítica gera afirmação de uma identidade cultural que transgride uma identidade racional, a européia, imposta pelo colonialismo.” (TUTIKIAN, 2006, p.60)

Pretendemos estudar três obras de Mia Couto: Terra Sonâmbula; Venenos

de Deus, Remédios do Diabo e O outro pé da sereia. Esses romances têm em comum o

fato de retomarem momentos específicos da recente história moçambicana. Trabalham com dados históricos, factuais que devem ser analisados para observarmos não apenas o que foi, mas o que poderia ter sido.

A memória do passado colonial retorna com certo estranhamento nos romances contemporâneos. Em Mia Couto, Moçambique, espaço onde se passa os romances desse escritor, sempre é retratado como um lugar estruturado a partir de um diálogo tenso entre culturas.

Portanto não há como não reconhecer a recente história de Moçambique, bem como seu passado de colônia portuguesa nas obras desse moçambicano. Mas, igualmente, não podemos deixar de observar a transformação poética e literária a que

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essa mesma história se submete nas mãos desse escritor. Mia Couto cria tempos e espaços onde tempos e espaços estão dilacerados e silenciados.

MATERIAL E MÉTODOS

Dada a natureza de nossa pesquisa, pretendemos realizar uma pesquisa bibliográfica que abordará textos que transitam nas áreas de História, Sociologia, Filosofia, Antropologia e Literatura. Em alguns momentos, utilizaremos o método comparativo, principalmente quando estivermos lidando com os dados factuais e as suas releituras ficcionais pelo escritor moçambicano.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em Terra Sonâmbula, explora-se a escuridão, as cores pesadas, formadas pela tristeza de muitos. Os moçambicanos acostumaram a viver no meio das cinzas, um lugar tão áspero que o sonho encontrado em um caderno, mantém viva a esperança de um menino que busca sobreviver. E é esses sonhos que fazem a estrada se mover durante a noite. Muidinga acredita que a terra sempre está em movimento.

No livro, há uma reflexão sobre as várias faces dos seres humanos. Ida e volta sobre o tempo e os sonhos dos moçambicanos. O livro nos remete a um presente onde perambulam um idoso e uma criança, mas constantemente remete-nos ao passado em que se conta a historia e sua procura pelo filho de Farida.

. Muidinga mostra um pensamento sobre a identidade cultural e nacional dos moçambicanos. Um Moçambique devastado pela guerra civil, o menino Muindiga e seu companheiro Tuahir, caminham fugindo da guerra, procurando encontrar suas relações sociais e sua família. Os dois fortaleciam um ao outro, Tuahir lhe ensinou tudo; falar, andar e até a pensar.

Há duas histórias sendo contadas paralelamente, Kindzu e Muidinga dois protagonistas retratando o sofrimento de todo um povo. Kindzu deixou cadernos que Muindinga encontra e lendo esses cadernos ele e o senhor Tuahir vão andando a sonhando com um mundo diferente e é ai que tudo aconteceu.

O português Romão Pinto representa os portugueses, no território moçambicano. Que mostra sua força se aproveitando da fraqueza de Farida, menina que

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carregava o peso da maldição, pois era filha gêmea. Para o povo moçambicano esse fato era horrível e uma das gêmeas tinha que ser morta. Morando com o casal de portugueses Farida ficou grávida do Romão Pinto e por medo fugiu da casa dos dois, e assim foi obrigada a entregar seu filho para a adoção.

Nossa pesquisa consistia em ler três romances de Mia Couto, Terra

Sonâmbula; Venenos de Deus, Remédios do Diabo e O outro pé da sereia, à luz do

recorte histórico que o escritor moçambicano retrata nessas narrativas. Queríamos notar principalmente como era retomada a narrativa colonial pelo olhar pós-colonial e moçambicano de Mia Couto.

Notamos que os três textos são muito ricos, quanto à análise do encontro entre portugueses e moçambicanos. Mia Couto procurar lançar um olhar questionador e crítico sobre o passado e as consequências desse encontro na história e sociedades moçambicanas.

Um dos fatos mais curiosos nos textos foi a construção dos romances seguindo a instauração de um tempo duplo na narrativa. Com frequência, encontramos um tempo passado, dialogando com um tempo presente, de modo que os dois tempos se entrecruzavam em algum momento da narrativa. Tal procedimento literário significaria a ânsia de resgatar um passado à beira de um esquecimento, mas um passado fundamental e sem o qual não há presente. Outras vezes, notamos o tempo do colonizador se confrontando com o tempo do colonizado. Em um dado momento da narrativa, os dois tempos se juntam, pelo amor de uma mulher (Deolinda), e saem ambos transformados.

Quanto aos aspectos históricos pesquisados, são informações sem as quais não é possível entender os textos. Assim, mais do que um tema de pesquisa, é uma questão crucial para quem quer ler e interpretar os romances de Mia Couto. Mas, nas narrativas, não se trata de ver o retrato da história, mas sim sua recriação pela Literatura. A História é recontada e potencializada pela Literatura de Mia Couto.

Os textos ainda mostram a riqueza da cultura moçambicana com seus mitos, narrativas e costumes, a utilização singular de uma Língua Portuguesa e principalmente a exploração do sonho, como lugar de uma esperança de dias melhores. A fuga da realidade nos romances serviu para a estrada continuar caminhando, em

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outros momentos serviu para observar que o mundo é muito maior do que um pensamento pragmático pode querer reduzí-lo.

Com isso, percebemos que Mia Couto não quer recriar a história como os relatos históricos o fazem; ele, pelo contrário, quer potencializar esse passado, mostrar que esse passado também é um labirinto de vozes e de sonhos. Assim, à avalanche homogeneizadora do colonização, Mia Couto elege como fio principal de suas narrativas as pequenas histórias, as histórias daqueles que passavam pelo processo contraditório de renegar suas raízes e culturas em prol da cultura do outro.

LITERATURA CITADA

COUTO, Mia. O outro pé da sereia. São Paulo, Companhia das Letras, 2006

_________. Terra Sonâmbula. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.

_________. Venenos de Deus, remédios do Diabo. São Paulo, companhia das Letras, 2008.

BRASIL. Lei no. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática 'História e Cultura Afro-Brasileira', e dá outras providências. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm. Acesso em: 4 de setembro de 2009.

JAMESON, Fredric. Pós-modernismo; a lógica cultural do capitalismo tardio. Trad. Maria Elisa Cevasco. São Paulo, Ática, 2004.

AGRADECIMENTOS

"O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Brasil"

Referências

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