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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ. Adriana Betes Heupa

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Academic year: 2021

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Adriana Betes Heupa

ANÁLISE DO RUÍDO DE IMPACTO NA AUDIÇÃO DE INTEGRANTES

DO BATALHÃO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS DA POLÍCIA MILITAR

DO PARANÁ: UMA PROPOSTA DE PREVENÇÃO

CURITIBA 2010

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Adriana Betes Heupa

ANÁLISE DO RUÍDO DE IMPACTO NA AUDIÇÃO DE INTEGRANTES

DO BATALHÃO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS DA POLÍCIA MILITAR

DO PARANÁ: UMA PROPOSTA DE PREVENÇÃO

Pesquisa realizada para aprovação e apreciação pela Banca Examinadora da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de mestre, apresentado ao Mestrado em Distúrbios da Comunicação.

Orientadora: Claudia Giglio de Oliveira Gonçalves

CURITIBA 2010

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TERMO DE APROVAÇÃO

Adriana Betes Heupa

ANÁLISE DO RUÍDO DE IMPACTO NA AUDIÇÃO DE INTEGRANTES

DO BATALHÃO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS DA POLÍCIA MILITAR

DO PARANÁ: UMA PROPOSTA DE PREVENÇÃO

Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Mestre em Distúrbios da Comunicação no Curso de Mestrado da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 15 de dezembro de 2010

Profa. Dra. Claudia Giglio de Oliveira Gonçalves

Prof. Dr. Herton Coifman

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DEDICATÓRIA

A minha querida família, base de toda minha vida, pelo apoio eterno em todas as minhas decisões.

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AGRADECIMENTOS

À professora Dra. Claudia Giglio de Oliveira Gonçalves, pela orientação e incentivo aos meus escritos. Auxiliando-me em cada passo da pesquisa, sempre com muita tranqüilidade e competência.

Ao professor Jair M. Marques pela contribuição estatística à minha pesquisa. A Engenheira Evelyn J. Albizu pelo grande apoio nas avaliações do ruído. À banca examinadora, Dra Adriana Bender Moreira de Lacerda e Dr Herton Coifman pelas opiniões, críticas e auxílios na escrita desta pesquisa.

Aos militares pesquisados, que foram os protagonistas desta pesquisa.

Aos comandantes, pela confiança e abertura de suas portas para esta pesquisa. Com um agradecimento especial ao Maj. Chehade, ex-comandante da CIA Choque da PMPR que me incentivou a dar continuidade a esta pesquisa.

Às minhas queridas colegas de mestrado, Fga. Diolen C. Barros Lobato e Enf. Gisele Lacerda Costa, que se tornaram grandes amigas nesta caminhada.

À Fga Ms. Milena Raquel Iantas que me incentivou a iniciar o mestrado, pela sua amizade há mais de dez anos, e que para sempre estará em minha vida.

Ao meu marido, Marcelo, que está comigo em todos os momentos da minha caminhada. Por se orgulhar de minhas conquistas, por ser sempre compreensivo, amigo, companheiro e com certeza um pai exemplar.

Ao meu filho, Henrique, ainda em meu ventre, que com sua existência me transmitiu maior serenidade em todas minhas escolhas e me deu a tranqüilidade necessária para continuar meus estudos.

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A minha mãe, Cristina, que além de me dar a vida, me deu todo o carinho e atenção que sempre precisei. Em todos os momentos de desespero me acolheu e acalmou meu coração e minha mente.

Ao meu pai, José Paulo, por ter ensinado a ser quem eu sou ao longo da minha vida, e sempre me incentivou em todas minhas decisões. E, como militar, mostrou-me a importância da Polícia, o meu profundo respeito e agradecimento.

A minha irmã, Ana Claudia, que por vezes teve que ouvir “coisas do mestrado” que particularmente não lhe interessavam. Mas estava lá me apoiando.

Aos meus sogros, primos, tios e avós pela compreensão de muitas vezes ter que me ausentar da família devido aos estudos.

As minhas grandes amigas Liliane, Caroline, Gisely e Kátia, pelo apoio em todas as horas.

Aos meus colegas e professores do curso de Naturoterapia, com quem aprendi que uma vida mais saudável é possível, e com isso mantive meus objetivos, não só para finalizar este estudo, mas sim tomá-lo como parte da minha caminhada.

Um agradecimento especial a Deus por iluminar minha vida com fé e esperança. Por sempre me dar forças nas horas em que mais preciso.

E finalmente às todas as pessoas que direta e indiretamente participaram da evolução desta pesquisa. Meus sinceros agradecimentos.

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“Seu nome é sacrifício. Por ofício desprezam a morte e o sofrimento físico. A beleza de suas ações é tão grande que os poetas não se cansam de celebrá-la Quando eles passam juntos, fazendo barulho, os corações mais cansados sentem estremecer alguma coisa dentro de si... E a gente conhece-os por militares”.

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RESUMO

A prática de tiro é uma atividade que expõe o militar ao ruído de impacto. Os efeitos deste tipo de ruído caracterizam-se pela perda auditiva sensorioneural, zumbido, sensação de ouvido tampado, aumento da frequência cardíaca, contração muscular, entre outros. Este é um importante problema de saúde na vida profissional militar, sendo necessária a implantação de um Programa de Preservação Auditiva, que visa identificar os riscos, monitorar a audição e elaborar medidas de prevenção e conscientização. O objetivo deste estudo foi analisar os efeitos do ruído de impacto na audição dos militares que fazem prática de tiro para a implantação de um Programa de Preservação Auditiva. Este foi um estudo de caso-controle, com 115 militares, sendo 65 do Batalhão de Operações Especiais (grupo exposto) e 50 de serviços administrativos da Policia Militar (grupo não-exposto). Inicialmente foi realizada a avaliação do ruído emitido pelas armas de fogo durante uma prática de tiro. Os participantes convidados assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, responderam a um questionário e realizaram testes de audiometria e emissões otoacústicas evocadas (transientes e produto de distorção). Como resultados, o nível de ruído avaliado ficou entre 118 e 133dB(C). No questionário, 78% dos militares do grupo exposto acreditam que o ruído pode causar perda auditiva, 96,9% referiram que a melhor forma de proteção contra o ruído intenso da arma de fogo é o uso de protetores auditivos e 92% deles sempre utilizam o protetor auditivo nos treinos. Porém, 32,3% nunca receberam orientação quanto ao uso correto dos protetores. Nos sintomas e queixas auditivas e extra-auditivas destacam-se o zumbido logo após a prática de tiro (23%) e perda temporária da audição (7,6%). No perfil auditivo, 25% do grupo exposto apresentou perda auditiva sugestiva de PAIR, sendo observada diferença significativa quando comparados ao grupo controle. As emissões otoacústicas transientes estiveram presentes bilateralmente em apenas 21,4% do grupo exposto, também com diferença estatisticamente significante em comparação ao grupo controle. Nas emissões otoacústicas por produto de distorção, apesar se não ocorrer diferença significativa entre os grupos, foi possível observar amplitudes mais baixas no grupo exposto ao ruído. Estes resultados mostram que o nível de ruído emitido pelas armas de fogo ultrapassa os limites estabelecidos pela NR15. E apesar dos militares terem o conhecimento da importância do uso dos protetores auditivos quando expostos ao ruído das armas, muitos nunca receberam orientação sobre o uso correto. Existem diferenças significativas na qualidade auditiva dos militares mais expostos ao ruído da arma de fogo quando comparados a militares de serviços administrativos. Conclui-se que nesta população há uma grande necessidade de se implantar um Programa de Preservação Auditiva com o objetivo não só de evitar as perdas auditivas como também de conscientizar estes militares quanto à importância do uso correto dos protetores auditivos e demais cuidados com a audição.

Palavras-chave: audição, militares, trauma acústico, perda auditiva provocada por ruído, saúde coletiva.

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ABSTRACT

The practice of shooting is an activity that exposes the military to impact noise. The effects of this type of noise is characterized by cochlear hearing loss, tinnitus, ear fullness, increased heart rate, muscle contraction, and others. This is an important health problem in military life that needs attention and the deployment of a Hearing Conservation Program, which aims to identify risks, to follow the health hearing and to develop measures of prevention and awareness. The aim of this study was to analyze the effects of noise impact on hearing of the military that practice shooting for the deployment of a Hearing Conservation Program. This was a case-control study with 115 military (65 military of the Special Operations Company (exposed group) and 50 military of administrative departments (unexposed group). Initially was conducted the evaluation of the noise emitted by the guns during a shooting practice. After this, the invited participants signed a consent form, answered a questionnaire and conducted tests of audiometry and evoked otoacoustic emissions (transient and distortion product). As a result, the noise level was measured between 118 and 133dB (C). In the questionnaire, 78% of the subjects in the exposed group answered that noise can cause hearing loss, 96.9% reported that the best way to protect against the intense noise of the firearm is the use of hearing protectors and 92% always use them hearing protectors in practice. However, 32,3% had never received guidance on the use of hearing protection. About aural and extra-aural effects, it was observed the tinnitus after target practice (23%) and temporary hearing loss (7.6%). At the hearing profile, 25% of the exposed group showed hearing loss suggestive of NIHL, a significant difference when compared to the control group. The otoacoustic emissions were present in both ears in only 21.4% of the exposed group, also with a statistically significant difference when compared with the control group. In Otoacoustic emissions distortion product, the difference was not significant between groups, but was observed lower height in the group exposed to noise. These results show that the level of noise emitted by firearms exceeds the limits established by NR15. And although the military had knowledge of the importance of using hearing protection when exposed to noise of weapons, many of them have never received guidance about the correct use. There are significant differences in the hearing quality of the military exposed to noise of the firearm when compared to military of administrative services. In conclusion, this population is a great require to implement a Hearing Conservation Program that the aim is not only to prevent hearing loss but also to awareness the military about the importance of the correct use of hearing protectors and maintain them hearing health.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Registros gráficos de ruídos... 20

Figura 2 - Box-plot para o grupo de expostos – OD... 64

Figura 3 - Box-plot para o grupo de expostos – OE... 64

Figura 4 - Box-plot para o grupo de não expostos – OD... 65

Figura 5 - Box-plot para o grupo de não expostos – OE... 65

LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Número máximo de impactos por hora... 22

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico1 - Comparação entre os limiares médios dos grupos com menos de 15 anos e 15 anos ou mais de tempo de serviço – OD... 58

Gráfico 2 - Comparação entre os limiares médios dos grupos com menos de 15 anos e 15 anos ou mais de tempo de serviço – OE... 58

Gráfico 3 - Comparação entre os resultados das Emissões Otoacústicas Transientes entre o grupo exposto e não exposto... 68

Gráfico 4 - Comparações entre as médias das amplitudes das EOADP (OD) de acordo com as freqüências, entre os grupos GE e GNE... 72

Gráfico 5 - Comparações entre as médias das amplitudes das EOADP(OE) de acordo com as freqüências, entre os grupos exposto (GE) e não exposto (GNE)... 72

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Nível de ruído das armas de fogo utilizadas pelos militares... 52

Tabela 2 - Uso de proteção auditiva durante prática de tiro pelo grupo exposto ao ruído... 54

Tabela 3 - Queixas e sintomas auditivos e extra-auditivos referidos pelo militares logo após a prática de tiro... 55

Tabela 4 - Uso de proteção auditiva durante a prática de tiro pelos militares expostos ao ruído de acordo com o tempo de serviço... 56

Tabela 5 - Comparação dos limiares entre o grupo exposto com menos de 15 anos e 15 anos ou mais de tempo de serviço... 57

Tabela 6 - Demonstrativo das atividades profissionais ruidosas anteriores à entrada na corporação e das atividades extra-ocupacionais ruidosas atuais, em ambos os grupos... 59

Tabela 7 - Comparação do conhecimento dos militares expostos e não-expostos sobre os efeitos do ruído... 60

Tabela 8 - Militares que referem o uso do protetor auricular como a melhor forma de se proteger contra ruídos intensos... 60

Tabela 9 - Queixas e sintomas auditivos e extra-auditivos referidos pelo grupo exposto e não-exposto... 61

Tabela 10 - Audiogramas dos Grupos Expostos e Não Expostos ao ruído da arma de fogo, segundo NR7 Anexo I... 62

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Tabela 11 - Audiogramas dos Grupos Expostos e Não Expostos ao ruído da arma de fogo, segundo NR7 Anexo I, excluindo-se os casos não sugestivos de PAIR ...

62

Tabela 12 - Comparação dos limiares entre os grupos de expostos (GE) e não expostos (GNE)... 63

Tabela 13 - Presença de reflexos acústicos ipsilaterais e contralaterais nos militares expostos ao ruído da arma de fogo... 66

Tabela 14 - Demonstrativo da presença dos Reflexos Acústicos no grupo exposto ao ruído com audição normal e sugestiva de PAIR... 67

Tabela 15- Resultados das emissões otoacústicas transiente entre os grupos expostos (GE) e não expostos (GNE)... 68

Tabela 16 - Comparação da presença de EOAT entre os grupos expostos (GE) e não expostos (GNE), em relação às orelhas... 69

Tabela 17 - EOAT no grupo exposto, entre os sujeitos com audiograma normal e com alteração sugestiva de PAIR... 69

Tabela 18 - Comparação da presença da EOAPD entre os grupos expostos (GE) e não expostos (GNE), por freqüências... 70

Tabela 19 - Comparação das amplitudes das EOAPD entre os grupos exposto (GE) e não exposto (GNE)... 71

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BOpe Batalhão de Operações Especiais COE Comando e Operações Especiais dB Decibel

dBNA Decibel nível de audição

dBNPS Decibel nível de pressão sonora

dB (C) Decibel medido com filtro de ponderação tipo C DP Desvio Padrão

EOA Emissões otoacústicas

EOAPD Emissões otoacústicas produtos de distorção EOAT Emissões otoacústicas transientes

EPI Equipamento de proteção individual GE Grupo exposto

GNE Grupo não exposto Hz Hertz

KHz Quilohertz

NIOSH National institute for occupational safety and health NPS Nível de pressão sonora

NRR Nível de redução de ruído OD Orelha direita

OE Orelha esquerda

PAIR Perda auditiva induzida por ruído

PAIRi Perda auditiva induzida por ruído de impacto PMPR Polícia Militar do Paraná

PPA Programa de preservação auditiva

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 16

2 RUÍDO: CARACTERÍSTICAS, EFEITOS NA SAÚDE E PREVENÇÃO AUDITIVA... 19 2.1 CARACTERIZAÇÃO DO RUÍDO... 19

2.2 EFEITOS DO RUÍDO... 23

2.3 DETECÇÃO PRECOCE DAS PERDAS AUDITIVAS... 26

2.4 AVALIAÇÃO AUDITIVA E PREVENÇÃO... 29

3 A SAÚDE DO POLICIAL MILITAR... 34

3.1 PROFISSÃO MILITAR... 34 3.2 SAÚDE DO POLICIAL... 39 4. OBJETIVOS... 43 4.1 OBJETIVO GERAL... 43 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 43 5 MATERIAL E MÉTODO... 44

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA... 44

5.2 PROCEDIMENTOS DO ESTUDO... 46 6 RESULTADOS... 6.1. NÍVEL DE RUÍDO... 6.2 CARACTERIZAÇÃO DOS GRUPOS...

6.2.1 Resultados do Grupo Exposto... 6.2.2 Resultados do Grupo exposto ao ruído e Grupo não-exposto... 6.2.3 Resultados da Avaliação Auditiva...

52 52 53 54 59 62

(16)

7 DISCUSSÃO... 8 CONCLUSÃO... 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 73 84 85 87 11 ANEXOS... 94

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1 INTRODUÇÃO

Alterações auditivas podem ser provocadas pela exposição a níveis de pressão sonora elevados, como o ruído em forte intensidade. O ruído pode ser classificado como: contínuo (com pequenas variações dos níveis de pressão sonora), intermitente (em que seu nível varia continuamente em valores acima de três decibéis) ou de impacto (que apresentam um pico de energia acústica com duração inferior a um segundo) (SANTOS e MATOS, 1999).

Quando a exposição for por ruídos contínuos e prolongada, pode gerar uma perda auditiva induzida por ruído (PAIR), e quando a exposição é forte e de curta duração, como um ruído de impacto, pode gerar também um trauma acústico (JERGER e JERGER, 1998; HUMES e BESS, 1998; NUDELMANN e cols, 2001).

A perda auditiva induzida por ruído (PAIR) é caracterizada por uma alteração dos limiares auditivos do tipo sensorioneural, decorrente da exposição prolongada ao ruído intenso, quase sempre bilateral, com padrões audiométricos semelhantes de ambos os lados (KERSHER, 2001). Já o trauma acústico, é o nome dado a uma lesão no ouvido causada por uma exposição única e breve a um ruído de grande intensidade, como o ruído proveniente de uma explosão, e seu sintomas principais são a perda auditiva súbita após a exposição, presença de zumbido e sensação de ouvido tampado (SANTOS e RUSSO, 2005).

O trauma acústico pode ser causado por sobrecarregar processos fisiológicos do sistema auditivo. A membrana timpânica pode romper-se e a cadeia ossicular pode ficar parcial ou completamente destruída (JERGER e JERGER, 1998). Níveis de ruído traumático afetam geralmente os limiares de 4000 Hz. Com a continuidade

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da exposição, a lesão estende-se para outras áreas adjacentes e a perda auditiva em 4000 Hz aumenta (GINSBERG, 2001).

Dentre as atividades prejudiciais que expõe o indivíduo ao ruído de impacto está a prática de tiro, comum na carreira militar. Segundo Ylikoski (1994), os militares, enquanto categoria profissional, representam uma população típica de pessoas expostas ao ruído de impacto, com algumas exposições ao ruído contínuo. Dependendo da atividade que desenvolvem ao longo de sua carreira, podem ficar expostos tanto a ruídos contínuos como rádio comunicador, banda de música, sirene de viaturas e ambulâncias, como ruídos de impacto das armas de fogo.

Estudos já verificaram a intensidade do ruído das armas de fogo. O estudo de Balatsouras e cols (2005) avaliou o nível de pressão sonora emitido pelas armas utilizadas por militares da Grécia, encontrando picos de 160,2dB (NPS) para o revólver 38 Magnum (arma mais utilizada na corporação). E no Brasil, Silva e Zuba (2008) avaliaram o nível de pressão sonora emitido pelas armas utilizadas por instrutores de tiro da Policia Militar da cidade de Montes Claros, encontrando um nível máximo de 108,9 dB (NPS).

Os efeitos auditivos causados pela exposição ao ruído da arma de fogo também estão presentes em diversas pesquisas. Konopka e cols (2005) estudaram 92 soldados do serviço militar da Polônia, com audiometria de altas freqüências e emissões otoacústicas transientes antes e depois do serviço militar, a fim de verificar os efeitos da prática de tiro na audição. Observaram que após a jornada de trabalho houve redução de 6dBNA do limiar auditivo nas freqüências de 10 e 12kHz, sendo registrada ainda uma redução na amplitude das emissões otoacústicas transientes, predominando as freqüências de 2, 3 e 4 kHz. Concluíram que o teste de Emissões

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Otoacústicas Evocadas é um método mais sensível que a audiometria para detectar lesões causadas pelo ruído.

Como a perda auditiva ocupacional é um importante problema de saúde da atualidade e afeta também os militares, existe, então, a necessidade da implantação de um Programa de Preservação Auditiva para esta população.

O objetivo de um Programa de Preservação Auditiva (PPA) é preservar a audição por meio da identificação dos riscos, monitoramento auditivo, medidas de prevenção contra o ruído e medidas educativas. O Programa evitará o impacto negativo do ruído sobre a qualidade de vida do militar exposto ao ruído, desenvolverá a conscientização sobre o problema, resultando em benefícios diretos para a corporação e para o próprio militar (FIORINI, 2001; GONÇALVES, 2004; BRAMATTI, 2008).

Assim, torna-se importante investigarmos a audição dos militares que fazem prática de tiro, bem como o conhecimento dos mesmos a respeito da sua própria audição, para que um Programa de Preservação Auditiva seja aplicado a esta população.

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2 RUÍDO: CARACTERÍSTICAS, EFEITOS NA SAÚDE e PREVENÇÃO AUDITIVA

2.1. CARACTERIZAÇÃO DO RUÍDO

O homem sempre viveu em um mundo sonoro e é submetido a sons dos mais variados tipos. Esses sons podem ser agradáveis ou desagradáveis. Porém, no mundo moderno, verifica-se um aumento das preocupações com os sons desagradáveis. (NEPOMUCENO, 1994).

Alguns conceitos a respeito dos sons são encontrados na literatura, conforme exposto a seguir.

Para Gerges (1992) o som é originado pela variação de pressão e velocidade das moléculas do meio em que se propaga. Assim, o som pode ser entendido como uma forma de energia transmitida a partir da colisão destas moléculas numa série de compressões e rarefações do meio que ele está se propagando.

Quando o som captado pelo ouvido humano é considerado desagradável e indesejável pode ser definido como ruído (SANTOS e MATOS, 1999).

Heneine (1999) coloca que o som é a propagação de energia mecânica no meio material através de movimentos ondulatórios longitudinais. O som é definido por seu comprimento de onda, velocidade e frequência. O comprimento de onda é a distância percorrida pelo som em um ciclo completo; velocidade é o espaço percorrido pelo som em uma unidade de tempo e frequência é o número de vezes que este fenômeno se repete. Então, a partir dessas três propriedades, o som percebido e que chega ao ouvido apresenta três características relacionadas aos ciclos: intensidade (que é o nível de energia sonora, medido pela amplitude de onda); altura (que são as freqüências do som emitido) e o timbre (definido como a qualidade sonora correspondente a somatória de freqüências harmônicas).

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Segundo Russo (1999), o ruído ocupacional é um sistema acústico que não resulta da sensação de uma série harmônica, mas sim de uma energia presente em todas as freqüências.

O ruído pode ser classificado segundo seu tipo (Norma ISO 2204/1973): 1) Ruído contínuo estacionário: com mínimas variações de intensidade. 2) Ruído contínuo não-estacionário: variações significativas de intensidade. 3) Ruído flutuante: com variação continua do nível de intensidade

4) Ruído intermitente: o nível de ruído cai ao valor de fundo por várias vezes e permanece por um tempo constante, acima do valor da ordem dos segundos.

5) Ruído de impacto ou impulsivo: apresenta-se em picos de energia acústica de duração inferior a um segundo e com intervalos superiores a um segundo.

Santos e Matos (1999) classificam o ruído por seu espectro de freqüência e variação de nível com o tempo e subdividem-no em três tipos: ruído contínuo, intermitente ou de impacto. Conforme está ilustrado na figura 1 a seguir.

Figura 1 - Registros gráficos de ruídos

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No que se refere aos ruídos de impacto, estes são causados a partir de um contato ou atrito mecânico de um corpo sobre o outro, formando ondas de impacto. Essas ondas de impacto podem se propagar por longas distâncias sem atenuação, devido aos valores elevados de velocidade e som (GERGES, 1992). É exatamente este processo que ocorre com as armas de fogo: atrito, explosão, alta velocidade e densidade, que acabam gerando o alto nível de ruído. Segundo Russo (1999), o ruído de impacto pode variar de 100 a 140dB(NPS) e está associado e tiros e explosões.

No ruído produzido pela arma de fogo ocorrem os fenômenos físicos de onda de choque e de barreira do som. Conforme Pauli e cols (1980), ao se supor um projétil que se movimenta no ar com velocidade superior à do som, ocorre o fenômeno da barreira do som, no qual o projétil provoca uma perturbação que causa uma enorme compressão de ar que é percebida como um violento estrondo. Ocorre ainda o fenômeno da onda de choque, no qual a concentração de energia é inferior à da barreira do som, ao ser atingido pela onda de choque, ouve-se um estampido seguido de um ruído resultante da vibração que o projétil impõe ao meio.

Diversos estudos têm avaliado o nível de ruído emitido pelas armas de fogo. Konopka e cols (2005) mediram o ruído emitido pelas diversas armas utilizadas por militares (como rifles, pistolas e explosivos) e encontraram a variação de La.eq = 108 a 119,8 dB (NPS) e de Lc peak= 151,8 a 156,2dB (NPS).

No Brasil, algumas pesquisas também avaliaram o nível de ruído emitido por armas de fogo. Zanin, Rubas e Celli (2006) avaliaram 23 militares do exército do Paraná e também o nível de ruído emitido pela arma mais utilizada, a pistola M975

Bereta, o nível encontrado foi de LAimax =115,4 dB(A). Neves e Mello (2007a)

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expostos durante o tiro de fuzil automático 7,62. Encontraram o nível máximo de 147,3 dB (C).

Estes estudos mostram que o nível de ruído das armas de fogo ultrapassa os limites estabelecidos pela Norma Regulamentadora n°.15 (NR15), no Anexo II, que coloca como limite de tolerância para ruído de impacto a intensidade de 130 dB (linear) ou 120 dB(C), com o medidor de pressão sonora em leitura rápida (fast) em nível “C” de compensação (BRASIL, 2006).

Regazzi (2010) coloca que para medir o ruído de impacto, o circuito de compensação do equipamento deverá estar preparado para efetuar a leitura com precisão dos níveis alcançados. Este tipo de ruído pode ser medido com um instrumento para resposta fast em circuito de compensação C, sendo esta uma alternativa, quando não se tem disponível um medidor de nível de pressão sonora operando em circuito linear e circuito de resposta para impacto.

A norma de Higiene Ocupacional da FUNDACENTRO de 2001 (NH0-01) recomenda que a avaliação do ruído de impacto seja baseada no limite de tempo permitido e número de impactos identificados. Nesta norma é apresentado um quadro com o número máximo de impactos em função do tempo de exposição permitido:

Quadro 1 – Número máximo de impactos por hora

NÍVEL DE RUÍDO dB (C) MÁXIMO DE IMPACTOS

120 50 121 40 122 30 123 25 124 20 125 15 126 12 127 10 acima de 127 0 Fonte: FUNDACENTRO, 2001

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Considerando que os militares estão expostos a este tipo de ruído, esta exposição pode ser um agravante na saúde geral desta população, com prejuízos auditivos e extra-auditivos, o que pode vir a comprometer a qualidade tanto de seu trabalho como da sua vida pessoal.

2.2 EFEITOS DO RUÍDO

Qualquer tipo de ruído, quando em excesso, é causador de efeitos na saúde do ser humano. Na literatura são descritos diversos efeitos auditivos e extra-auditivos.

Segundo Azevedo (1984)o ruído excessivo pode ter sobre as pessoas efeitos de três naturezas, que estão em relação de interdependência:

1) Fisiológica (como a perda da audição e alterações orgânicas),

2) Psicológica (como stress, irritação, desatenção, problemas de sono, etc.) e 3) Prejudiciais (como riscos de acidentes).

Portanto, é possível afirmar que o ruído afeta o bem estar físico e mental das pessoas sendo que, diariamente muitos trabalhadores são expostos a ele, inclusive os militares (FERNANDES e MORATA, 2002; KOMNISKI e WATZLAWICK, 2007)

O efeito do ruído de forte intensidade em uma pessoa depende das características físicas do ruído como amplitude, frequência e duração, e ainda da suscetibilidade individual da pessoa exposta a ele. Isto é, fatores agravantes podem tornar o individuo mais suscetível a adquirir a perda auditiva, como doenças metabólicas, antecedentes familiares com histórico de perda auditiva, uso de medicações ototóxicas, tabagismo e stress (GERGES, 1992 e BENTO, et al, 1998).

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Russo (1999) divide os efeitos auditivos do ruído em três categorias:

1) Mudança temporária de limiar: também chamada de fadiga auditiva, é a diminuição gradual da sensibilidade auditiva durante a exposição a um ruído continuo e intenso. Essa redução é temporária e volta ao normal após algum tempo de repouso acústico.

2) Mudança permanente de limiar: conhecida como perda auditiva induzida por ruído (PAIR). É decorrente de um acúmulo de exposição a ruído, normalmente exposições diárias que são repetidas constantemente, por um período de muitos anos. Desenvolve-se gradualmente em decorrência da exposição continua ao ruído.

3) Trauma acústico: são efeitos da exposição única a um ruído de grande intensidade proveniente principalmente de ruídos de impacto ou impulsivos, são considerados os mais nocivos ao ouvido humano por produzirem lesões mecânica irreversíveis na cóclea. A perda auditiva produzida pelo trauma acústico é de caráter sensorioneural com limiares auditivos piores entre as freqüências de 3000 a 6000Hz.

Nas exposições sem proteção auditiva adequada, em intensidade sonora de 120dB(NPS) ou mais, como rojões, discotecas, fones de ouvido, tiros, guerras e explosões, podem ocorrer lesões intensas no sistema auditivo como ruptura da membrana basilar, desorganização dos tecidos e das células ciliadas, ocorrendo uma perda auditiva sensorioneural imediata e permanente. Associado a perda de audição pode aparecer zumbido que permanece constante por algum tempo, com piora no silêncio. Em alguns casos, a perda auditiva pode apresentar alguma melhora após alguns dias, sem comprometimentos na audição social (BENTO, et al, 1998).

Bento e col. (1998) colocam que a orelha recebe sons confortáveis até 85dBNPS. Acima deste nível já aparece o desconforto e acima de 110dBNPS,

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torna-se doloroso. Se a intensidade sonora atingir 120dBNPS ou mais, produzirá lesões intensas, traduzindo-se por perda auditiva sensorioneural imediata e permanente. Níveis acima de 140dBNPS causam ruptura de tímpano e membrana basilar, e acima de 170dBNPS podem chegar a causar convulsões.

O trauma acústico pode ou não ser reversível, dependendo da sobrecarga pelos altos níveis de pressão sonora. O risco da exposição ao ruído de impacto está relacionado não só ao nível de ruído, como também à distribuição e duração das exposições do ruído durante a jornada de trabalho (BENTO, et al, 1998; SANTOS e MORATA, 1999).

O ruído de impacto pode provocar alterações fisiológicas e anatômicas no sistema auditivo. Os níveis de ruído que chegam ao ouvido médio e interno podem levar a perfuração da membrana timpânica, lesão na cadeia ossicular e ainda uma distensão dos tecidos do ouvido interno, como a ruptura e quebra do órgão de Corti, levando a perda auditiva que pode apresentar-se como unilateral ou bilateral, dependendo da exposição. Além destas alterações, as células ciliadas externas começam a desaparecer, logo depois as células nervosas correspondentes também se degeneram, expandindo a lesão na base espiral da cóclea (HUMES e BESS, 1998; KATZ, 2001; NUDEALMANN et al, 2001).

Além dos efeitos auditivos que os militares expostos ao ruído estão sujeitos a adquirir, existem ainda os efeitos extra-auditivos causados pelo ruído com alterações no organismo como um todo.

Griefahn (2000) divide as alterações não auditivas causadas pelo ruído em três efeitos:

1) Primário: efeitos que ocorrem durante o período de exposição ao ruído, como alteração da vigília e sintomas neurovegetativos.

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2) Secundários: efeitos mediados pelos primários, como a irritação e diminuição da concentração.

3) Terciários: efeitos a longo prazo, como o desenvolvimento de hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e digestivas.

Okamoto (1999) explica que a estimulação acústica pode provocar reações de alarme e defesa ou reações neurovegetativas. As reações de alarme são respostas rápidas para um barulho inesperado e as reações neurovegetativas são respostas mais lentas que persistem durante todo o estimulo sonoro.

Para o ruído de impacto, as reações mais esperadas são os efeitos primários e as reações de alarme, devido a sua característica de forte intensidade e curta duração. Okamoto (1999) cita como reações de alarme, o aumento da frequência cardíaca e respiratória, aumento da pressão arterial, vasoconstrição periférica, vasodilatação cerebral, aumento da secreção salivar, dilatação da pupila, contração muscular brusca e aumento da secreção de adrenalina e noroadrenalina.

Todos estes sintomas são considerados a base dos efeitos extra-auditivos decorrentes da exposição ao ruído que começam a aparecer antes mesmo da perda de audição. O nível de tolerância para se evitar estes sintomas é de no máximo 70dBA, muito inferior ao que se tem detectado nos ruídos de impacto (OKAMOTO, 1999).

2.3 DETECÇÃO PRECOCE DAS PERDAS AUDITIVAS

Para a identificação precoce das alterações auditivas induzidas pelo ruído, o teste das Emissões Otoacústicas (EOA) é um importante instrumento, pois como as células ciliadas externas da orelha interna são vulneráveis à agentes externos como

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o ruído, no teste de EOA pode-se detectar os primeiros sinais de alteração coclear (AZEVEDO, 2003).

O teste das Emissões Otoacústicas se destaca entre os exames auditivos por suas características de objetividade, rapidez e possibilidade de se detectar precocemente alterações auditivas cocleares decorrentes da exposição ao ruído antes mesmo de aparecerem na audiometria (AZEVEDO, 2003; MARQUES e COSTA, 2006). As Emissões Otoacústicas Transientes (EOAT) são obtidas através de um estimulo breve, do tipo click que é um transitório acústico de curta duração com faixa larga de freqüência. Essas emissões são registáveis em 98% dos indivíduos com audição normal. Já as Emissões Otoacústicas por Produto de Distorção (EOAPD) ocorrem em resposta a um estímulo acústico formado por dois tons, que estimulam a cóclea em regiões específicas, avaliando a sensitividade auditiva em freqüências especificas (LOPES FILHO e CARLOS, 1997 e AZEVEDO, 2003).

No Brasil, Fiorini e Fischer (2004) realizaram um estudo com sujeitos expostos e não-expostos ao ruído utilizando o teste de EOAT e concluíram que existe relação entre a exposição ao ruído ocupacional e as respostas alteradas no teste de EOA.

Marques e Costa (2006) avaliaram as EOAPD em trabalhadores expostos e não-expostos ao ruído ocupacional, todos com audiometria dentro dos padrões de normalidade. A ausência de respostas neste teste foi 12 vezes maior no grupo exposto do que no grupo não-exposto. Concluíram, assim, que a exposição ao ruído ocupacional pode provocar alterações no registro das EOAPD, mesmo em indivíduos com audiogramas normais, indicando este exame como um importante método no diagnóstico da PAIR.

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Souza (2009) fez um estudo comparativo com militares da Marinha do Brasil, sendo 60 deles expostos a ruídos ocupacionais e 60 não-expostos, utilizando os testes de EOAT e EOAPD para verificar as diferenças entre os grupos. Observou que o grupo de militares não-expostos ao ruído apresentou registros das EOAT e EOAPD com amplitudes maiores que o grupo exposto ao ruído.

Estudos internacionais também merecem destaque, como o de Attias e cols (2001) em Israel, que exploraram a aplicação das EOAT e EOAPD no diagnóstico da PAIR em militares. Compararam sujeitos expostos ao ruído, sujeitos com histórico de exposição ao ruído e com audiometria dentro dos padrões de normalidade, e sujeitos sem histórico de exposição a ruído e com exame audiométrico normal. Nestas comparações verificaram que existe uma clara associação entre o limiar auditivo e a amplitude das EOA, isto é, quanto pior o limiar auditivo, mais baixa era a amplitude das EOA. Devido ao teste ser sensível e objetivo, as EOA oferecem informações indispensáveis para o diagnóstico da PAIR e complementa a audiometria tanto no diagnóstico como na monitoração da função coclear que está exposta ao ruído.

Na Grécia, Balatsouras e cols (2005) estudaram o efeito do ruído de impacto nas EOAPD antes e depois da exposição ao ruído em militares que foram expostos ao ruído da arma de fogo sem o uso de proteção auditiva. Os resultados demonstraram uma redução na amplitude das EOAPD na faixa de 1000 a 8000Hz, sendo maior na faixa de 3000Hz. Concluíram que as EOA podem oferecer informações adicionais sobre a qualidade coclear e pode ser bem aplicada no monitoramento auditivo por ser um exame rápido, objetivo e de fácil realização.

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2.4 AVALIAÇÃO AUDITIVA E PREVENÇÃO

As pesquisas relacionadas a seguir estudaram questões relacionadas ao ruído de impacto, como seus efeitos na audição e na saúde e a prevenção destes efeitos.

Godoy (1991) pesquisou a audição de militares no inicio e término do Curso de Formação do Exército. Detectou alterações na audição em 24% dos alunos num intervalo de 20 meses, sendo predominantemente nos indivíduos que foram expostos a níveis de ruído superiores a 80 dB(NPS).

Weckl, Fantinel e Silva (2003) avaliaram 101 militares que fazem prática de tiro em uma corporação da Polícia Militar da Região Sul do Brasil. Encontraram 20,79% dos militares com perda auditiva sensorioneural, houve diferença estatisticamente significativa entre os sujeitos civis e militares, demonstrando que a perda auditiva sensorioneural é maior na população dos militares do que na população civil. Concluíram, ainda, que embora todos os militares façam instruções periódicas de tiro, uns realizam mais do que outros. Por isso, existe a necessidade de se definir metas educacionais, como um programa de conservação auditiva, enfocando principalmente o uso de protetor auricular.

Silva e cols (2004) avaliaram 97 militares do exército Brasileiro que trabalham expostos a níveis de pressão sonora elevados, em especial com as armas de fogo. Encontraram 38,1% com alterações audiométricas sugestivas de PAIR com predominância de perda auditiva unilateral. E 64,5% dos militares não utilizam adequadamente o protetor auditivo.

Santos e cols (2006) avaliaram 34 policias da Policia Militar de Minas Gerais, sendo 7 atiradores de elite, 7 que faziam prática anual de tiro e 20 militares de trânsito. Encontraram 28,5% (n=2) dos atiradores de elite com perda auditiva

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sugestiva de PAIR; 14,2% (n=1) com este tipo de perda auditiva nos militares que faziam prática anual de tiro e 5% (n=1) entre os militares de trânsito. Observaram que existe associação estatística (p<0,05) entre a exposição ao ruído ocupacional e a perda auditiva.

Zanin, Rubas e Celli (2006) examinaram 23 militares que trabalham em uma Organização Militar do Exército Brasileiro e verificaram que 53% dos militares avaliados apresentaram algum tipo de alteração auditiva coclear.

Korbes e cols (2009) realizaram uma pesquisa com 100 militares do Batalhão de Aviação do Exército de Manaus que trabalham expostos a ruídos militares e como sintomas auditivos e extra-auditivos encontraram 40% com queixa de cefaléia, 30% zumbido, 25% tontura e 42% com dificuldade de escutar.

Sousa, Fiorini e Guzman (2009) identificaram sintomas apresentados por 72 bombeiros da cidade de Santo André que trabalhavam expostos a ruídos de 67 a 82dBNPS. Encontraram queixas como: 20,8% irritabilidade, 14,5% com cefaléia, 14% com dificuldade em ouvir, 13,5% com alterações no sono, 10,5% com zumbido e 1,5% com tontura.

No Canadá, Pelausa e cols (1995) estudaram 134 militares nos primeiros anos de serviço, encontrou 11% dos indivíduos com perda auditiva e 8% com rebaixamento auditivo em freqüências altas (4 a 8KHz). Os resultados sugerem que um programa de conservação auditiva poderia minimizar os riscos para o desenvolvimento de uma perda de audição.

Em Singapura, Toh e cols (2002) avaliaram 818 soldados, encontraram 30 sujeitos com perda auditiva sensorioneural, mas apenas três sujeitos com queixas auditivas. Concluíram que como os militares estão expostos a altos níveis de pressão sonora, o treinamento com armas de fogo mostra que uma das causas de

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perda de audição é a exposição à arma de fogo. A partir disto, relevam a importância de se implantar um programa de prevenção de perda auditiva com audiometrias periódicas.

Observa-se que estes estudos recomendam ações preventivas. Porém existe uma dificuldade de se manter um Programa de Preservação Auditiva entre os militares. Pois nas operações militares, tanto de treino como em combate, a motivação para se usar o protetor auditivo é muito limitada, já que os militares acreditam que a proteção auditiva pode contribuir contra a sua segurança (HUMES, JOELLENBECK e DURCH, 2006 e SAUNDERS e GRIEST, 2009).

É consenso, portanto, entre os diversos pesquisadores, que existe relação entre o serviço militar e a perda de audição, sendo importante a implantação de um Programa de Preservação de Perdas Auditivas efetivo nesta população (PELAUSA et al, 1995; TOH et al, 2002; WECKL, FANTINEL e SILVA, 2003; SILVA et al, 2004; SANTOS et al, 2006 e ZANIN, RUBAS e CELLI, 2006).

A partir da caracterização dos riscos oferecidos no trabalho é possível prever e organizar um Programa de Preservação Auditiva. O objetivo do programa, segundo a NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health (1996), é a redução e/ou a eliminação da perda auditiva ocupacional. As recomendações mínimas para a implantação de um programa de preservação auditiva são a avaliação do risco auditivo, o gerenciamento audiométrico, as medidas de proteção, educação e motivação individual e coletiva, além da avaliação do programa. Estas recomendações são previstas também no Boletim nº.6 do Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva (1999).

Gonçalves (2009) aborda estas questões em três dimensões: o estudo e intervenção sobre o ambiente de trabalho (identificação dos riscos); a análise do

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perfil auditivo e condições de saúde dos trabalhadores (monitoramento audiométrico); e as ações educativas. Assim, a partir de medidas preventivas é possível manter os limiares auditivos dos militares e evitar o agravamento ou desencadeamento de perdas auditivas ocupacionais, evitando assim prejuízos futuros não só a saúde do militar como à corporação que faz parte.

A utilização de medidas de controle do ruído, coletivas ou individuais, como o uso de protetores auriculares nos estandes de tiro ainda não é uma prática comum nos meios militares. Isso é comprovado nos Estados Unidos, onde os primeiros Programas de Conservação Auditiva iniciaram na década de 70. Desde então vem sendo demonstrado através de testes audiométricos periódicos, que somente a audiometria não previne a perda de audição, mas auxilia na detecção de perdas auditivas temporárias ou definitivas relacionadas ao uso ou não de protetores auditivos. Nas operações militares, tanto de treino como em combate, a motivação para se usar o protetor auditivo é muito limitada (HUMES JOELLENBECK e DURCH, 2006).

Estudos na Inglaterra investigaram sobre o conhecimento dos soldados britânicos sobre a preservação auditiva. O autor observou que todos os soldados acreditavam que a audição poderia ser afetada pela exposição ao ruído em seu trabalho, mas muitos não tinham conhecimento da presença de uma política de conservação auditiva na corporação. Uma série de fatores também impedia a utilização adequada dos protetores auditivos, apesar de estarem cientes de sua eficácia. Os militares citaram dificuldades de comunicação, desconforto e impossibilidade de usá-los em certas circunstâncias. O autor do estudo concluiu que um Programa de Prevenção de Perdas Auditiva efetivo no Exército deve incorporar

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conhecimentos adequados, questões sociológicas e considerações econômicas (OKPALA, 2007).

De acordo com Saunders e Griest (2009), a exposição ao ruído na profissão militar está associada ao confronto armado, sendo esta exposição altamente prejudicial, pois as fontes de ruído não são previsíveis e os militares têm receio que a proteção auditiva possa colocar em risco sua segurança por diminuir os sinais de localização e distorcer a comunicação.

Humes, Joellenbeck e Durch (2006) colocam que o Comitê de PAIR e Zumbido Associado ao Serviço Militar dos EUA tem alertado aos profissionais responsáveis que os Programas de Conservação Auditiva no ambiente militar não são totalmente adequados na prevenção de perda auditiva dos militares. E para uma melhor avaliação é necessário um acompanhamento anual não só dos militares expostos ao ruído, como também dos programas implantados.

Existem poucos estudos que avaliam a efetividade dos Programas de Preservação Auditiva, mas os encontrados na literatura mostram achados positivos e importantes, como o aumento do conhecimento dos trabalhadores sobre a saúde auditiva (SAUNDERS e GRIEST, 2009; ALMEIDA, 2010).

Assim como o Programa de Preservação auditiva, os serviços audiológicos ainda constituem uma necessidade importante e crescente nas forças armadas. A audiologia, dentro do serviço militar, pode fornecer uma gama de serviços como ações de preservação da audição, triagens e avaliações audiológicas, reabilitação auditiva e a oportunidade de participar de atividades de pesquisa, principalmente nas áreas de preservação e reabilitação auditiva (HUMES e BESS, 1998).

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3 A SAÚDE DO POLICIAL MILITAR

3.1 PROFISSÃO MILITAR

A profissão militar inicia-se mediante concurso público e, após sua formação, o militar já está apto a exercer suas funções. Todos os militares devem seguir o Código Penal Militar, uma legislação especial para esta profissão, decretada como Lei nº 1001, em 21 de outubro de 1969. De acordo com a Constituição Federal, art.144 parágrafo 6, as polícias militares, corpo de bombeiros e policias civis são subordinadas aos governadores dos estados do Brasil e do Distrito Federal (EXÉRCITO, 2009). Sendo assim, cada Estado brasileiro tem sua própria policia estruturada.

A Polícia Militar do Paraná (PMPR) foi criada em 10 de agosto 1854, sendo denominada inicialmente como Companhia de Força Policial e, desde então, tem por função principal o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública no Estado do Paraná. Faz parte da Força Auxiliar e Reserva do Exército Brasileiro, e integra o Sistema de Segurança Pública e Defesa Social do Brasil. Seus integrantes são denominados Militares dos Estados, assim como os membros do Corpo de Bombeiros (PMPR, 2007).

Como características da profissão militar, a principal é conviver com o risco, seja no treinamento, na vida diária ou em guerra. Estes profissionais também estão sujeitos aos preceitos rígidos da disciplina e hierarquia, dedicação exclusiva, disponibilidade permanente, vigor físico, aprimoramento profissional constante, mesmo quando em inatividade o militar deve permanecer vinculado a sua profissão e prontos para servir a eventuais convocações e retorno ao serviço ativo, mesmo

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quando em reserva remunerada; além de restrições a direitos trabalhistas (EXÉRCITO, 2009).

Nos documentos oficiais do Exército (2009), o militar não usufrui de alguns direitos trabalhistas, de caráter universal, que são assegurados aos trabalhadores, dentre os quais se incluem: remuneração do trabalho noturno superior à do trabalho diurno, jornada de trabalho diário limitada a oito horas, obrigatoriedade de repouso semanal remunerado, e remuneração de serviço extraordinário, devido ao trabalho diário superior a oito horas diárias.

No concurso de inclusão na PMPR, após prova teórica e exame de escolaridade, estão incluídos os exames médicos, de aptidão física e psicológica. Nas escolas, o estudante militar executará, gradualmente, todas as atividades exigidas dos profissionais militares já formados, com o esforço necessário e os riscos decorrentes (PMPR, 2007). No edital de concurso público para o ingresso na Policia Militar do Paraná estão especificadas todas as condições de saúde para admissão na corporação, tanto para o ingresso de praças, que se formam soldados (edital nº.061/2009) como para o ingresso de oficiais que formam-se como aspirantes (edital nº.046/2009).

Após a formação, os militares são colocados nas diversas unidades militares do estado, de acordo com suas características e especialidades. Uma das unidades é o Batalhão de Operações Especiais (BOpe). Este Batalhão, inicialmente denominado Companhia da Polícia de Choque, que foi formada em 1976, como sendo a Primeira Companhia do Corpo de Operações Especiais, oficializada pelo Decreto n° 3.239, de 19 de Abril de 1977. Em 1988 a unidade foi remodelada e passou a executar policiamentos especializados, sendo assim subdividida em três unidades: Canil (responsável pelo treinamento de cães policiais e farejadores),

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Comandos e Operações Especiais (COE) e Rondas Ostensivas de Natureza Especial (RONE).

A RONE é uma tropa preparada para o combate à criminalidade violenta como roubos, seqüestro e tráfico de entorpecentes. Possuem viaturas de médio porte, armamentos e equipamentos específicos e uniformes camuflados. Esta subunidade tem a missão de controlar distúrbios civis, contra guerrilha urbana e rural, ocupação, defesa e retomada de pontos sensíveis. Atua nos locais onde há maior índice de criminalidade violenta. É um policiamento de alto risco, com operações como: batida policial, bloqueio, escoltas e cercos policiais eventos (CHOQUE – PMPR, 2009).

Já o COE constitui-se em um pequeno grupo de policiais especialmente treinados para situações que envolvam reféns, ocorrências com grupos fortemente armados, ou onde haja a necessidade de equipamentos e armas especiais. É um pelotão semelhante à SWAT (Special Weapons and Tactics) dos EUA, sendo necessário um período de treinamento e seleção. É constituído por equipes de negociação, assalto, atiradores e anti-bomba. A Equipe de negociação é constituída por psicólogos e militares com especialização na área, procura maneiras resolver a situação através do diálogo. A equipe de assalto localiza, identifica e neutraliza marginais armados, com ou sem reféns em seu poder, e realiza ações em edificações, veículos, ou campo aberto. A equipe de atiradores de precisão coleta informações, neutraliza marginais armados através do tiro seletivo, provê apoio de fogo e realiza ações anti-material. E a equipe anti-bombas localiza, remove e desativa artefatos explosivos de ordem delituosa, e realiza varreduras preventivas em locais ou eventos (CHOQUE – PMPR, 2009).

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No dia 27 de outubro de 2010 o governador do estado do Paraná assinou a elevação da Companhia de Choque da Polícia Militar do Paraná para Batalhão de Operações Especiais (BOpe), esta transformação prevê a expansão e criação de novas unidades na PM, neste caso serão criadas seis novas companhias dentro do BOpe, sendo as sub-unidades RONE, COE e Canil, transformadas em companhias dentro do Batalhão. E o número de militares integrantes deste novo batalhão, atualmente com 254 homens, deverá ser dobrado a partir do próximo ano (SANTOS, 2010).

No Brasil, quando os militares entram para a corporação, independente da unidade que servirão, devem cursar a disciplina de Tiro Policial, que os habilitará ao uso das armas de fogo. Inicialmente é definido ao militar o conceito de arma, considerado um instrumento concebido pelo poder criativo do homem que tem a finalidade de defesa ou ataque. Também são conceituados os tipos de arma, sistemas de ignição, funcionamento das armas e características de cada arma (SETUBAL, 2003). Além da teoria, fazem ainda uma carga horária de aula prática de tiro, que podem variar de acordo com cada curso ou cada Estado.

No curso de formação de oficiais militares no Estado do Paraná, no primeiro ano, cumprem 60 horas/aula da disciplina de armamento e 60 horas/aulas práticas de tiro policial, no segundo ano, cumprem 20 horas/aula da disciplina teórica e prática de explosivos e 50 horas/aula prática de tiro policial e no terceiro ano, cumprem 40 horas/aula da disciplina de táticas para confronto armados e 50 horas/aula práticas de tiro policial (PMPR, 2009).

Nas disciplinas de “Tiro Policial” ministradas nos diversos cursos da Policia Militar do Paraná, os instrutores de tiro são os responsáveis pela disciplina teórica e prática. Recentemente, foi publicado livro com algumas especificações abordadas

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nas disciplinas, como: o histórico das armas de fogo, regras de segurança, generalidades e tipos de armas, munições, explosivos e armas químicas, os acidentes com tiros, os equipamentos de proteção individual (equipamentos básicos, colete balístico, capacete, escudo e veículos) e equipamentos policiais (coldre, cinto, bastão, algemas, canivetes, etc.) (MACHADO, 2009).

No que se refere à segurança individual, uma das regras é sempre utilizar os equipamentos de proteção individual durante os treinamentos. Estes equipamentos são de uso obrigatório por todos que estiverem participando da instrução de tiro, tanto os alunos, como os auxiliares e os instrutores. Os equipamentos citados são: óculos de proteção, abafadores de ruído e coletes balísticos. Os não obrigatórios são luvas, joelheiras, cotoveleiras, capacete balístico e máscara contra gases (MACHADO, 2009).

No manual interno de armamento utilizado no curso de formação de oficiais militares da PMPR, Machado (2003) coloca algumas orientações para que a atenuação dos ruídos seja eficaz e confortável, orientando da seguinte forma:

A colocação, ajuste e tamanho dos protetores devem ser confortáveis, O uso conjunto com óculos ou outros equipamentos pode prejudicar a

vedação do abafador junto à face,

Habituar-se com o uso dos protetores, pois podem ser deslocados ou mal posicionados durante a instrução de tiro ou mesmo durante o movimento mandibular,

A deterioração do protetor é natural, ocorre enrijecimento das partes plásticas ou rachaduras,

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Os desgaste das almofadas dos protetores podem deixar o protetor mais frouxo, sendo necessárias freqüentes inspeções para prevenir a degradação da atenuação,

Os protetores devem ser utilizados durante toda a instrução.

Segundo Machado (2003), a utilização do protetor auditivo é muito importante, pois o policial precisa de sua audição perfeita devido aos perigos que o cotidiano profissional lhe oferece. Refere, também, que a conscientização entre os policiais necessita da quebra de alguns paradigmas criados no passado, onde era preconizado que o uso de proteção auditiva era um luxo e chagava a ser motivo de preconceito por razão deste comportamento mais zeloso.

3.2 SAÚDE DO POLICIAL

A história da medicina na Polícia Militar do Paraná vem de muito tempo. Durante mais de cem anos o atendimento em saúde aos policiais foi muito precário, pois não existia legislação que tratasse dessa necessidade e a PMPR não contava, em seus quadros, com médicos ou concursos próprios. O atendimento médico-hospitalar dos policiais militares era realizado por facultativos do Exército Brasileiro. (PMPR, 2007).

Souza e Minayo (2005) em estudos sobre a saúde dos policiais militares e civis do Rio de Janeiro, afirmam que os policiais, como trabalhadores, são desassistidos nas questões de sua saúde, e isto tem raízes históricas profundas, que se acirrou com a ditadura militar no Brasil. O campo de saúde do trabalhador não pode se omitir em pensar nas categorias que atuam na segurança pública, um dos segmentos mais vulneráveis aos acidentes e à morte no trabalho.

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Costa e cols (2007) afirmam que a profissão militar é uma atividade de alto risco, pois estes profissionais lidam com a violência, brutalidade e morte em seu cotidiano, estando entre os profissionais que mais sofrem de stress, não só devido às características de seu trabalho como também pela pressão que a sociedade impõe de competência e comprometimento.

Para Silva e Vieira (2008), a policia militar é uma organização complexa com feixes de interesses que são resistentes à mudança. As reflexões sobre a saúde do trabalho policial no Brasil ainda são bastante limitadas, e isso se deve ao fato da ditadura militar ter silenciado estas questões por muito tempo, e ainda ecoa até hoje. Para isso, no contexto dos militares estaduais, é preciso considerar tanto os aspectos de organização do trabalho quanto as situações de risco a que estes profissionais estão expostos, especialmente pelo aumento significativo da violência e da precarização do trabalho.

No Estado do Paraná, em 1953, foi aprovada a Lei nº 1943, que previa que o Estado deveria manter na Corporação um Serviço de Saúde destinado a proporcionar gratuitamente aos policiais militares e as pessoas de sua família, assistência médica e odontológica na forma regulamentar. E em 1958, foi inaugurado o Hospital da Polícia Militar que em parceria junto ao Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado do Paraná (IPE) conseguiu suprir o quadro reduzido de médicos militares na corporação. Já no final da década de 60, com a dificuldade econômica do Estado, os militares começaram a descontar o valor de cinco cruzeiros da época para ajudar a manter o hospital. E isso possibilitou a expansão da área física do Hospital. Também surge o Fundo de Saúde da Polícia Militar, que se destina ao financiamento de despesas hospitalares de integrantes da Corporação e de seus dependentes (PMPR, 2007).

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Atualmente, os militares continuam contribuindo mensalmente para manutenção do Hospital, além das verbas do Estado. O hospital está passando por uma grande reforma, onde além da melhoria física do hospital é previsto a entrada de novos profissionais da saúde tanto do quadro civil como militar (PMPR, 2007).

Apesar das leis na área da saúde específicas da polícia militar, após a entrada na corporação, os militares não possuem legislação ou normas que os obriguem a realizar exames periódicos. Apenas o fazem quando realizam cursos de atualizações, especializações ou pós-graduações que visam sua promoção. No edital do curso para entrada no COE (Comando e Operações Especiais), por exemplo, consta que um dos exames necessários para a admissão do militar no curso é a audiometria. Este exame, porém, não precisa ser feito pela corporação e pode ser realizado externamente pelo militar. Na maioria dos editais dos cursos e concursos exige-se sempre o exame audiométrico como um dos exames admissionais. Colocam que:

“(...)serão considerados aptos os candidatos que apresentarem perdas auditivas em qualquer ouvido até 20 decibéis, nas frequências de 500HZ e 1000HZ; 30 decibéis, na frequência de 2000HZ e 35 decibéis, nas frequências de

3000 a 8000HZ, por via aérea e óssea” (item n.14.1.12 do

edital n.061/09),

O edital não especifica o que é considerado perda auditiva ou quais são os limites de normalidade. A interpretação do texto fica a critério da junta médica que avalia o candidato. A junta médica não é composta por médico otorrinolaringologista, pois a corporação, na capital do Estado, ainda não possui um militar com esta especialidade.

Na Policia Militar, por não existir legislação destinada a saúde auditiva do militar e por sua característica de resistência à mudanças, ainda não foi desenvolvido nenhum programa semelhante. Cabe então aos pesquisadores e

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profissionais da área de saúde inserir este novo conceito na filosofia da corporação. Segundo Silva e Vieira (2008) toda intervenção que se pretenda realizar no âmbito da Polícia Militar, devem abranger propostas efetivas na organização e modernização do processo estrutural do trabalho, e ainda visar o melhoramento das condições dos equipamentos e instrumentos destinados a realização do trabalho policial. Não se pode esquecer que implementações desse porte exigem esforços que englobem políticas publicas voltadas para a diminuição da criminalidade, que a cada dia vem vitimando mais policiais. São esforços que quando aliados aos direitos humanos, poderão efetivar ações a favor da saúde mental no trabalho policial.

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4 OBJETIVO

4.1 OBJETIVO GERAL

Analisar os efeitos do ruído de impacto na audição dos militares que fazem prática de tiro para a implantação de um Programa de Preservação Auditiva.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Analisar o conhecimento que os policiais militares têm a respeito da audição e dos riscos à saúde pela exposição ao ruído do tiro.

- Traçar o perfil audiológico destes policiais.

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5 MATERIAL E MÉTODO

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA

Este é um estudo do tipo caso-controle realizado com policiais que pertencem ao atual Batalhão de Operações Especiais (BOpe), antiga Companhia de Choque da PMPR e militares de setores administrativos da Policia Militar do Paraná.

Os militares de setores administrativos compõem grande parte da Corporação da Policia Militar, sendo aproximadamente cinco mil militares distribuídos entre as unidades. O BOpe, atualmente, possui aproximadamente 250 integrantes, sendo 23 integrantes do Comando de Operações Especiais – COE.

O comando do BOpe liberou para a pesquisa um total de 65 militares (sendo 43 da unidade RONE e 22 da unidade COE). E para compor o grupo controle, participaram 50 militares voluntários que trabalham em setores administrativos da Corporação da Policia Militar. Somando-se assim 115 militares participantes, divididos da seguinte forma:

1) Grupo Exposto ao ruído - Batalhão de Operações Especiais: Todos fazem

prática regular de tiro. O treinamento de tiro varia conforme a unidade em que o militar trabalha. Dos 65 avaliados, 33,8% (22) trabalham na unidade COE e 66,4% (43) trabalham na unidade RONE. Os militares do COE fazem prática de tiro semanalmente ou quinzenalmente. E os militares da RONE fazem a prática e tiro uma vez por mês ou menos. A média de idade dos militares da RONE foi de 31,7 anos (de 23 a 43 anos) e os militares do COE a idade ficou na média de 33,2 anos (de 23 a 44 anos). Não houve diferença significativa entre estes dois grupos na variável idade (p=0,3227). Nas médias dos limiares auditivos, em todas as

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freqüências, também não houve diferença significativa, formando-se assim, com as duas unidades, o grupo exposto ao ruído da arma de fogo.

2) Grupo não-exposto ao ruído: Militares administrativos: Estes militares não

estão expostos ao ruído de arma de fogo a mais de doze meses. Todos já estiveram expostos ao ruído de impacto durante sua formação e eventualmente passam por treinamento militar, onde se incluem as aulas de tiro. A idade deste grupo variou de 23 a 46 anos, com média de 33,0 anos e o tempo de serviço variou de 1 a 24 anos, com média de 11,1 anos.

A carga horária de trabalho dos militares expostos ao ruído varia em forma de escala de serviço sendo a maioria (43%) em escala de 24 horas e folga de 48 horas (24x48h), os demais militares possuem algumas variações na escala por questões de escolha ou determinação da unidade, como escala de 12 horas de serviço por 24 horas de folga (12x24h) (34%), ou 8 horas diárias de expediente normal (23%).

A maioria dos militares não expostos realiza jornada semanal de 40 horas (46%), com expediente de 8 horas por dia, mas alguns também fazem 6 horas por dia (26%), e outros com serviço em escala de 24x48h (12%) e escala de 12x24h (4%).

A frequência de treinamento de tiro para os militares expostos ao ruído varia conforme a sub-unidade que o militar está colocado. Para os militares integrantes da RONE a prática de tiro acontece em média uma vez ao mês com duração aproximada de 4 horas. E para os militares do COE a prática acontece de uma a três vezes por semana com duração de 30 minutos a 4 horas, dependendo da atividade e do objetivo do treinamento.

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5.2 PROCEDIMENTOS DO ESTUDO

Inicialmente foi enviada uma carta ao comandante do Batalhão de Operações Especiais, juntamente com o projeto de pesquisa, solicitando autorização para o estudo (anexo I). Após autorização, foi agendada uma data para a avaliação dos níveis de ruído emitidos pelas armas de fogo utilizadas no Batalhão.

No dia da avaliação, um dos instrutores de tiro, apresentou as armas mais utilizadas pela corporação (pistola, revólver, espingarda, carabina, fuzil e bombas) para serem avaliadas. A medição foi realizada no próprio local onde os militares fazem o treinamento com armas de fogo, ao ar livre e na casa de pneus. Em stand de tiro não foi possível realizar a medição, pois este local estava em reforma na época da medição e não estava sendo usado para treinamentos.

A avaliação do ruído foi realizada com um medidor de nível de pressão sonora da marca Brüel & Kjaer, tipo 2230 e Calibrador marca Brüel & Kjaer. O equipamento operou no circuito linear e circuito de resposta para impacto. Com objetivo de comparação, operou-se o medidor também no circuito de resposta rápida (FAST) e circuito de compensação (C). As leituras foram realizadas com o equipamento próximo ao ouvido do atirador, coletadas por engenheiro com todas as armas utilizadas.

A amostragem para a avaliação do ruído foi realizada por apenas um militar do BOpe da unidade COE. O militar atirou duas vezes com cada arma, sendo cada tiro medido em um tipo de circuito do decibelímetro (linear/impacto e fast/C), com exceção do revólver .38, espingarda calibre 12 singular e granada GL307, que só tinham uma munição disponível no momento da avaliação, sendo medidas em apenas um dos circuitos.

Referências

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