Presidência da República Casa Civil
Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas
Coordenação – Geral de Documentação e Informação Coordenação de Biblioteca
A lavoura de São Paulo e o
desen-volvimento econômico do Brasil
(IMPROVISO NO PARQUE DA ÁGUA BRANCA, EM SÃO PAULO, AGRADECENDO O ALMOÇO OFERECIDO PELOS LAVRA-DORES PAULISTAS, A 22 DE DEZEMBRO
l
SUMARIO
Os agricultores de São Paulo demonstram descender dos antigos bandeirantes —' A lavoura paulista apre-senta características próprias no desenvolvimento do Brasil — O café e a sua importância numa fase eco-nômica do país — Os entrechoques da concorrência e a procura de novas fontes de riqueza — A indústria canavieira do Nordeste e o plantio paulista da cana de açúcar — A cultura algodoeira tradicional do Norte e a iniciativa vitoriosa de São Paulo — Novas respon-sabilidades que se impõem à lavoura paulista — A guerra e a atividade dos brasileiros — O exército da retaguarda e o seu dever — Necessidade de multiplicar a produção — Um ruralista e agrônomo no Governo de São Paulo.
SENHORES
Vejo aqui reunidos os agricultores de São Paulo ao lado dos representantes da administração estadual e dos prefeitos municipais, resumindo verdadeiramente as ati-vidades gerais do Estado.
Todos os que trabalham a terra desempenham pre-ponderante função econômica e social. O caso parti-cular de São Paulo exemplifica perfeitamente essa afir-mativa.
Transformados embora pelas influências de uma ci-vilização nova, os descendentes dos bandeirantes conti-nuam homens da terra, explorando-a no constante em-penho de uma mais completa apropriação das suas rique-zas. No ambiente rude em que atuaram os pioneiros das entradas souberam realizar, com o bacamarte e a espada, uma obra gigantesca, tal como fazem nos modernos tem-pos, com o arado e a enxada, os paulistas de tempera ban-deirante. Pela tenacidade dos esforços, pela coragem com que se lançam aos empreendimentos e pela orienta-ção técnica que imprimem ao trabalho, os lavradores
pau-listas conseguem superar todas as dificuldades.
Numa fase característica da nossa expansão eco-nômica o café chegou a ser a principal riqueza do país. As cambiais de exportação eram proporcionadas pela produção cafeeira, que figurava nas estatísticas com mais de 70%. Criação modelar da energia paulista o café constituiu por muito tempo o ponto de apoio da economia nacional.
Os entrechoques da concorrência e as perturbações de todos conhecidas, que seria inoportuno relembrar,
A NOVA POLÍTICA DO BRASIL
garam-nos a explorar novas fontes de riqueza. Tornava-se imperioso descobrir outra cultura de rendimento certo e vantajoso. Vimos desde logo as colinas paulistas se cobrirem de laranjais floridos, curando desalentos e refa-zendo fortunas. Durante muito tempo a indústria açu-carara foi a produção principal do Nordeste. Certo dia São Paulo resolveu plantar cana de açúcar. Os canaviais nordestinos definhavam depauperados pelo "mosaico". São Paulo importou cana imunizada de Java. Criava-se assim nova indústria, que do açúcar passou ao álcool e se expande nas destilarias, tão necessárias no momento em que nos falta combustível. O algodão era também uma cultura tradicional do Norte. São Paulo decidiu por sua vez cultivá-lo e o fez de tal maneira que suplantou as lavouras existentes. Com assistência técnica e sementes selecionadas obteve o que nos faltava: um tipo próprio de rendoso aproveitamento para transformação industrial. Eis alguns exemplos do que tem feito a lavoura de São Paulo. Não poderia, portanto, faltar-lhe o apoio go-vernamental. Contudo, à lavoura paulista impõem-se nes-ta hora outras responsabilidades e ela as aceines-ta resolunes-ta- resoluta-mente. Arrastados à guerra os brasileiros aprestam-se para a luta. Aqueles que não marcham para a frente de batalha formam o exército da retaguarda e precisam pro-ver as forças armadas de tudo quanto necessitam. Vós, lavradores, sabeis o que vos cumpre fazer. Multiplicai as colheitas. Todo aquele que, dispondo de um trato de terra e podendo cultivá-lo não o aproveita, entrava o es-forço de guerra, não procede como bom brasileiro e, mais do que isso, contribui para o encarecimento da vida; por-que, se não planta e não produz é obrigado a adquirir dos outros, tornando-se concorrente no consumo.
Entreguei a administração do Estado a um homem da vossa classe — um ruralista e agrônomo que tem a
l
A LAVOURA DE SÃO PAULO
vossa simpatia e a minha confiança. Trabalhador da terra, como vós empreendedor e entusiasta, será para to-dos um companheiro decidido e uma garantia de êxito no esforço comum.
Era o que tinha a dizer-vos. Continuai a produzir mais e melhor. Exercereis assim a vossa atividade no sentido mais útil, realizando ao mesmo tempo alto labor patriótico.