SEGREGAÇÃO ESPACIAL E ACESSIBILIDADE: UMA
CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL EM CAMPOS DO JORDÃO-SP
Juliana da Camara Abitante
Josiane Palma Lima
SEGREGAÇÃO ESPACIAL E ACESSIBILIDADE: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM CAMPOS DO JORDÃO-SP
Juliana da Camara Abitante Josiane Palma Lima
Universidade Federal de Itajubá
RESUMO
A disposição das pessoas sobre o espaço estabelece diferentes acessibilidades às ofertas da cidade. Isto pressupõe a compreensão da ocupação urbana territorial do município no decorrer do tempo. O objetivo da dissertação em andamento é avaliar a influência da segregação espacial decorrente ocupação urbana sobre a acessibilidade territorial, sob a ótica da mobilidade urbana sustentável. Este projeto se desenvolverá evidenciando a relação da segregação urbana espacial, com a acessibilidade na cidade de Campos do Jordão – SP. Considerando os aspectos físicos do território, por meio de uma plataforma de Sistema de Informação Geográfica, este trabalho propõe criar cenários, traçando um panorama atual da cidade e definir índices de acessibilidade para diferentes bairros, relacionar o indicador à segregação espacial existente e verificar a situação de acessibilidade dos moradores em relação aos serviços. A acessibilidade como um indicador de qualidade de vida, pode ser gerenciada de modo a possibilitar um desenvolvimento urbano sustentável.
1 INTRODUÇÃO
A mobilidade das cidades torna-se cada vez mais um problema crítico. Incluir toda a população à evolução social de uma comunidade implica na inclusão do direito de se locomover. Segundo o Ministério das Cidades (2006), a equiparação de oportunidades é um processo, no qual, o sistema geral da sociedade, moradia e transporte, serviços sociais e de saúde, educação e trabalho, vida cultural e social, inclusive desportivas e de lazer, torna-se acessível a todos.
A presente pesquisa expõe reflexões sobre o desenvolvimento sustentável e a mobilidade urbana. A mobilidade nas cidades deve proporcionar aos indivíduos o acesso aos serviços públicos e às funções sociais. A acessibilidade é também influenciada pela relação da posição espacial da habitação em relação às oportunidades, este posicionamento foi consequência da divisão na propriedade do solo. A importância de evidenciar este quadro é para que o contínuo desenvolvimento urbano possa ser revertido e direcionado para uma forma mais igualitária e por consequência ter melhores maneiras de produção do espaço. A localização espacial e as condições financeiras não devem ser dificultadores das funções sociais e de deslocamento, mas as oportunidades devem ser equiparadas nos diferentes locais. Neste cenário, a segregação socioespacial e a fragmentação urbana de Campos do Jordão, podem ser fatores que interferem na acessibilidade de seus moradores às diversas oportunidades do espaço público, bem como podem contribuir para o desenvolvimento sustentável do município.
1.1. Objetivo do Trabalho
O objetivo geral deste trabalho é avaliar a influencia da segregação espacial da ocupação urbana sobre a acessibilidade territorial, sob a ótica da mobilidade urbana sustentável. O trabalho tem como escopo um estudo de caso no município de Campos do Jordão – SP., considerando suas características geomorfológicas, morfologia urbana e processos históricos de uso e ocupação do solo. Tem como objetivos específicos:
• Investigar os aspectos históricos que contribuíram para o crescimento e ocupação urbana, crescimento demográfico e segregação espacial existente por meio de estudo documental e geração de mapas;
• Avaliar a acessibilidade territorial, considerando o deslocamento a equipamentos públicos, aspectos do relevo e os modos de transporte com o auxílio de um Sistema de Informação Geográfica (SIG);
• Analisar a influência da segregação espacial na acessibilidade, com o cruzamento de informações documentais e de mapas e cenários gerados no SIG.
2 METODOLOGIA COM REVISÃO PRELIMINAR DA LITERATURA
O estudo da disposição urbana vai ao encontro às influências que compõem o processo de distribuição da sociedade no espaço, compreender o processo histórico de ocupação do solo, a evolução da legislação, processos sócios econômicos, restrições ambientais e ocupações ilegais. A segregação urbana ocorre pelo preço da terra, que determina qual é a camada social possui a condição de ocupá-la. O solo mais dispendioso é aquele provido de aplicações de capitais públicos, os quais produzem uma maior valorização fundiária, logo excluem camadas sociais mais baixas. Esta regulação financeira é dada pelo mercado imobiliário, que é alimentado pela dinâmica urbana de investimentos criando locais de vetores de desenvolvimentos e outros locais são relegados ao laissez-faire e fazem parte do mercado informal (Maricato, 2001). A lógica do mercado transformou a cidade em grupos de conjuntos, os bairros. Para a articulação dos bairros aos serviços, ao trabalho, ao consumo, é necessária a circulação. A segregação espacial atua por meio das facilidades ou dificuldades de locomoção no espaço (Villaça, 2012). Portanto, a segregação é maior ou menor em função de sua acessibilidade.
Por outro lado, a acessibilidade urbana é estabelecida pela relação entre o transporte, o uso do solo e habilidades individuais, é a transposição de uma separação espacial, tomando parte do sistema de transporte (Raia, 2000). A análise da acessibilidade enquadra-se no âmbito da análise espacial, o que pode ser facilitado por um Sistema de informação Geográfica, como plataforma de simulação do terreno e da realidade envolvida. Segundo Câmara et al. (2014), o geoprocessamento por meio do SIG utiliza técnicas matemáticas e computacionais para tratamento da informação geográfica. Os modelos, índices e métodos para avaliar a acessibilidade têm como base e aprofundam o trabalho de Ingram (1971), que desenvolveu um índice de acessibilidade permitindo identificar a acessibilidade de toda uma região e fazer uma comparação entre regiões.
É de interesse para este trabalho o método de avaliação multicriterial da acessibilidade proposto por Rodrigues et al. (2004). O método consiste em procedimentos que permitem avaliar e combinar diversos critérios (tais como distância, relevo, vazios urbanos, serviços de transporte coletivo, etc.), sendo adequado para analisar a acessibilidade à determinada área ou região rural ou urbana, que envolvem múltiplos fatores a serem considerados. A acessibilidade pode ser avaliada de várias maneiras, em função do propósito que se pretende atingir. Podem ser considerados três níveis de relacionamento entre as variáveis associadas às atividades e ao sistema de transporte na determinação de índices de acessibilidade (Rosado e Ulisséa Neto, 1999; Tobias et al., 2012): i. Interação espacial, cuja magnitude evidencia-se pelo número de viagens realizadas; ii. Acessibilidade, cujo índice reflete um potencial de interação espacial e iii. Mobilidade, cuja medida traduz o grau de impedância ao deslocamento.
A avaliação da acessibilidade combina aspectos de transporte e uso do solo e utiliza-se das etapas, utilizadas pela metodologia multicriterial: identificação dos atributos necessários para se avaliar a acessibilidade, atribuição de um peso a cada atributo permite quantificar a
importância relativa de cada um, normalização e combinação dos critérios (atributos) para se obter o índice de acessibilidade em cada área avaliada do território em estudo.
O trabalho utiliza uma abordagem qualitativa de avaliação da acessibilidade e da relação com a segregação espacial por meio de um estudo de caso no município de Campos do Jordão - SP. A metodologia segue a sequência do fluxograma apresentado na figura 1.
Investigação de aspectos históricos de crescimento
Levantamento documental
Avaliação multicritério da acessibilidade territorial
Definição e ponderação dos fatores
Geração de mapas de expansão urbana
Cálculo do índice de Acessibilidade
Segregação socio-espacial X
Acessibilidade em Campos do Jordão Estudo bibliográfico da Segregação
espacial como fator de desenvolvimento urbano sustentável
Análise espacial dos dados com uso do SIG
Geração de mapas de acessibilidade
Figura 1: Fluxograma da metodologia
3 OBJETO DE ESTUDO
A cidade de Campos do Jordão – SP., objeto de estudo deste trabalho, está localizada na serra da Mantiqueira, à 173 km da cidade de São Paulo, à 350 km do Rio de Janeiro e a 500 km de Belo Horizonte. A cidade fica à altitude de 1.628 metros, sendo, portanto, o mais alto município brasileiro, considerando a altitude da sede. De acordo com Emplasa (2013), o
município possui área total de 290,52 km², com taxa de urbanização de 99,4%, com 47.789 habitantes e densidade de 164,49 hab/km².
No final do século XIX, o município era procurado como local ideal para o tratamento da tuberculose. Neste período houve construções de vários sanatórios e a ocupação urbana possuía preocupações higienistas (Paulo Filho, 1986). Já na primeira metade do século XX, a intencionalidade do desenvolvimento urbano focava a expansão sanatorial conciliada com o turismo. As orientações voltaram-se ao crescimento da cidade, com baixa densidade habitacional, ocupação territorial de forma dispersa, o espraiamento do tecido urbano e a setorização e segregação espacial de classes sociais, definindo bairros para a população residente e turista. Por volta de 1936, foram iniciados os trabalhos da abertura da atual rodovia SP-50, que interliga São José dos Campos a Campos do Jordão. A construção desta rodovia incentivou o ciclo do turismo, consequentemente, a estrutura hoteleira começou a se instalar na cidade. As centralidades da cidade foram distribuídas ao longo do eixo articulador, funcionando como um cruzamento linear, uma sequência de nós das malhas secundárias, definido pelos bairros Abernéssia, Jaguaribe e Capivari, os principais locais de troca de bens, consumo e serviços. Os outros bairros da cidade são ramais desta espinha dorsal que
condiciona e articula as ramificações de expansão urbana horizontal do município. Os serviços não encontrados nos dos bairros, fazem com que os moradores necessitem atingir este eixo para ter acesso aos serviços, como bancos, prefeitura, fórum, mercados, etc. Por fim, os aspectos físicos da natureza nortearam a ocupação da cidade, formando um eixo estruturante de mobilidade urbana, originando um traçado urbano linear, no qual foram implantadas a ferrovia e as principais vias de acesso.
4 RESULTADOS ESPERADOS
Considerando aspectos físicos do território, sobre uma plataforma de Sistema de Informação Geográfica, pretende-se criar um cenário do panorama atual da cidade e definir índices de acessibilidade para diferentes bairros. O trabalho permitirá relacionar os índices à segregação espacial existente e verificar a situação de acessibilidade dos moradores em relação aos serviços. A acessibilidade como um indicador de qualidade de vida, pode ser gerenciada de modo a propiciar ações políticas para o desenvolvimento urbano sustentável.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), à FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) e a CAPES pelo apoio financeiro concedido aos projetos que subsidiaram o desenvolvimento deste trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Câmara, G.; C. Davis e A.M.V. Monteiro (2014) Introdução à Ciência da Geoinformação. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/introd/> Acesso em: 17de junho . 2014.
EMPLASA - Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA (2013) Relatório de Caracterização das
Unidade de Informação Territorializadas – UITs. Município de Campos do Jordão. Relatório 7. Disponível
em: <http://www.uitgeo.sp.gov.br/Vale/CAMPOS%20DO%20JORD%C3%83O.pdf. > Acesso em: 07 de maio de 2014.
Ingram, D.R. (1971) The Concept of Accessibility: a search for an operational form. Regional Studies, 5(2), 101-107.
Maricato, E. (2002) Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. (2ª ed.) Editora Vozes, Petrópolis. Ministério das Cidades (2013) Brasil acessível programa brasileiro de acessibilidade urbana. Secretaria
Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana. 2006. Disponível em: <http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSEMOB/Biblioteca/BrasilAcessivelCaderno02.pdf>. Acesso em: 24 de outubro de 2013.
Paulo Filho, P. (1986) História de Campos do Jordão. Editora Santuário. Aparecida.
Raia Junior, A. A. (2000) Acessibilidade e Mobilidade na Estimativa de um Índice De Potencial de Viagens
Utilizando Redes Neurais Artificiais e Sistemas de Informações Geográficas. Tese (Doutorado em
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Rodrigues, D. S.; Mendes, J. F. G.; Lima, J. P.; Ramos, R. A. R. (2004) Uma Abordagem Multicritério para Avaliação da Acessibilidade. In: MENDES, J. F. G.; SILVA, A. N. R.; SOUZA, L. C. L.; RAMOS, R. A. R.. (Org.). Contribuições para o Desenvolvimento Sustentável em Cidades Portuguesas e Brasileiras. 1ed.Coimbra, Portugal: Almedina, 2004, v. 1, p. 98-117.
Rosado, M. C., Ulissea, N.I. (1999) Determinação de índices de acessibilidade a serviços de educação
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Tobias, M. S. G.; Ramos, R. A. R.; Rodrigues, D. S. (2012) Avaliação em Ambiente SIG da Acessibilidade
Global Regional na Amazônia: aplicação no Baixo Amazonas - Brazil. In: Congresso Luso-Brasileira de Planejamento Urbano Regional Integrado e Sustentável, 2012, Brasília. Pluris 2012. Brasília: UnB, 2012. Villaça, F. (2012) Reflexões sobre as cidades brasileiras. Studio Nobel. São Paulo.
Juliana da Camara Abitante (jcabitante@gmail.com) Josiane Palma Lima ( jplima@unifei.edu.br)