• Nenhum resultado encontrado

Matéria: literatura Assunto: modernismo - cecília meireles Prof. IBIRÁ

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Matéria: literatura Assunto: modernismo - cecília meireles Prof. IBIRÁ"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Matéria: literatura

Assunto: modernismo - cecília meireles

Prof. IBIRÁ

(2)

CECÍLIA MEIRELES (1901-1964)

Obras: Viagem (1939), Vaga música (1942), Mar absoluto (1945), Doze noturnos de Holanda (1952), O Romanceiro da Inconfidência (1953), Metal Rosicler (1960) e Crônica trovada da cidade de São Sebastião (1964)

Vida: Nasceu na cidade do Rio de Janeiro e muito cedo ficou órfã de pai e mãe, sendo educada pela avó materna. Formou-se na Escola Normal, tornando-se professora. Em 1922, casou-se com o artista plástico português Fernando Dias com quem teve três filhas e do qual enviuvou em 1935. Casou-se novamente em 1940. Cecília Meireles teve intensa atividade profissional se levarmos em conta as limitações profissionais que as mulheres sofriam no país. Além de educadora e grande poetisa, foi jornalista e tradutora. Criou a primeira biblioteca infantil no país, fez pesquisas folclóricas e lecionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas, USA. Faleceu no Rio de Janeiro, aos sessenta e três anos, após longa enfermidade. Cecília Meireles começou a sua carreira junto ao grupo Festa – grupo literário católico, anti-modernista e conservador que surgiu em fins dos anos 20, no Rio de Janeiro – e isto sempre representou uma força tradicional em sua poesia que apresenta algumas características básicas: • forte herança simbolista;

• espiritualidade melancólica;

• temática da perda amorosa associada à ideia de solidão; • temática da fugacidade da existência;

• imagens sensoriais (domínio das impressões). Exemplo disso é o poema Motivo:

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa

Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmã das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço,

- não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.

A poética de Cecília Meireles, no entanto, não é anacrônica. Apesar das influências passadistas, os seus versos situam-se além das escolas do século XIX, não se enquadrando em qualquer conceito muito rígido. São versos delicados, intimistas, subjetivos. O crítico Otto Maria Carpeaux delimitou assim esta obra tão pessoal:

“a poesia de Cecília Meireles embora pertencendo a nós o e ao nosso mundo, é uma poesia de perfeição atemporal”.

(3)

Literatura – Prof. Ibirá Costa

www.enemquiz.com.br 3

A LINGUAGEM

No plano estilístico - ao contrário do coloquialismo dos poetas modernos - há em sua obra uma tendência à linguagem elevada, sempre carregada de musicalidade. A música, algumas vezes, parece ser mais importante que o próprio sentido dos versos. Também a exemplo dos simbolistas, as palavras para a autora mais sugerem do que descrevem. Daí a força das impressões sensoriais em seus poemas: imagens visuais e auditivas sucedem-se a todo momento:

O rumor de suas penas era um rumor de fontes brancas em tardes morenas.

Ressalte-se que certas palavras que aparecem continuamente em seus versos, tais como música, areia, espuma, lua e vento, acabam, por sua repetição obsessiva, adquirindo uma dimensão metafórica. Simbolizam o efêmero, aquilo que passa (em geral, os sentimentos do eu lírico). Opõem-se, por exemplo, à palavra mar, que é a grande metáfora daquilo que permanece (em geral, o sofrimento).

A TEMÁTICA

Igualmente no plano dos assuntos, a poesia de Cecília Meireles revela ligações com várias estéticas tradicionais, especialmente o Simbolismo. Entre os seus motivos dominantes figuram: • registro de estados de ânimo vagos e quase incorpóreos. Neles predomina uma difusa

melancolia e uma noção de perda amorosa, abandono e solidão;

• Uma aguda consciência da passagem do tempo, da brevidade enganosa de todas as coisas, sobremodo dos sentimentos.

A atmosfera de dor existencial que emana dos poemas de Cecília Meireles é centrada na percepção de que tudo passa e de que o fluir do tempo dissolve as ilusões e os amores, o corpo e mesmo a memória. Um exemplo desta visão sofrida é Retrato:

Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios,

nem o lábio tão amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra.

Eu não dei por conta esta mudança, tão simples, tão certa e fácil:

Em que espelho ficou perdida a minha face?

(4)

O crítico Flávio Loureiro Chaves anotou que a poesia de Cecília Meireles vive “engolfada na torrente do tempo”, em meio a uma grande angústia, imersa num “deserto opaco”, sem passado e sem futuro. “Não há passado / nem há futuro. / Tudo que abarco / se faz presente” - diz a poeta. Sua experiência é, portanto, uma experiência do vazio, já que ela não encontra possibilidade de comunicação com o mundo circundante.

ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA

A experiência poética mais significativa de Cecília Meireles - e uma das obras-primas de toda a literatura brasileira - é o “Romanceiro da Inconfidência”. Para escrevê-lo, pesquisou durante quatro anos os elementos históricos da sedição mineira. No entanto, a obra tem uma abran-gência muito maior, registrando toda a civilização do ouro, no século XVIII, conforme nos expli-ca a própria autora:

Era uma história feita de coisas eternas e irredutíveis: ouro, amor, liberdade, traições. Mas por-que todos esses grandiosos acontecimentos já vinham preparados de tempos mais antigos, e foram o desfecho de um passado minuciosamente construído - era preciso iluminar esses cami-nhos anteriores, seguir o rastro do ouro que vai, a princípio como o fio de um colar, ligando ce-nas e personagens, até transformar-se em pesada cadeia que prende e imobiliza num destino doloroso.

Ao mesmo tempo, Cecília encontrou numa expressão poética específica do passado ibérico a saída técnica para dar maior autenticidade e força evocativa ao episódio: o romanceiro.

O romanceiro é formado por um conjunto de romances (Não confundir com o romance,

gê-nero narrativo em prosa, que vigora até os nossos dias), poemas curtos de caráter narrativo

ou lírico, destinados ao canto e transmitidos oralmente por trovadores e que permaneceram na memória coletiva popular. Seus autores, em regra geral, ficaram anônimos. Os romanceiros eram conhecidos na Espanha e em Portugal desde o século XV e tinham várias funções: infor-mação, diversão, doutrinamento político e religioso. Parece também que o canto de certos ro-mances servia de estímulo ao trabalho agrícola.

Segundo Norma Goldstein a composição do romanceiro pode ser comparada a de uma rosá-cea, pois “cada romance corresponderia a uma pétala, unidade válida por si mesma e, simul-taneamente, parte de um conjunto”. Ou seja, cada romance pode ter relativa autonomia em relação aos anteriores, mas deve se ater ao tema central da obra. Ainda na questão formal, os romances apresentam um ritmo mais ou menos regular, com o domínio da rima assonante e o recurso do estribilho para facilitar a memorização.

Ao valer-se dessa espécie literária arcaica, Cecília Meireles como que deu aos fatos históricos narrados uma aura lírica que parece vir do próprio século XVIII, mesclando admiravelmente a crônica dramática de uma época à tradição literária popular e à invenção poética, conforme se pode ver neste fragmento do Romance XXI ou das Idéias:

A vastidão desses campos A alta muralha das serras As lavras inchadas de ouro

(5)

Literatura – Prof. Ibirá Costa

www.enemquiz.com.br 5

Toda revirada, a terra Capitães, governadores, padres, intendentes, poetas Carros, liteiras douradas, cavalos de crina aberta

A água a transbordar das fontes Altares cheios de velas

Cavalhadas, Luminárias Sinos. Procissões. Promessas. Anjos e santos nascendo em mãos de gangrena e lepra. Finas músicas broslando* as alfaias* das capelas Todos os sonhos barrocos deslizando pelas pedras Pátios de seixos. Escadas Boticas. Pontes. Conversas Gente que chega e que passa E as idéias

Amplas casas. Longos muros Vida de sombras inquietas Pelos cantos das alcovas, histerias de donzelas Lamparinas, oratórios, bálsamos, pílulas, rezas Orgulhosos sobrenomes Intrincada parentela No batuque das mulatas, a prosápia * degenera: pelas portas dos fidalgos, na lã das noites secretas, meninos recém-nascidos como mendigos esperam Bastardias. Desavenças Emboscadas pela treva Sesmarias. Salteadores Emaranhadas invejas O clero. A nobreza. O povo E as idéias. (...)

Doces invenções da Arcádia! Delicada primavera:

pastoras, sonetos, liras, -- entre as ameaças austeras que uns protelam e outros negam. Casamentos impossíveis.

Calúnias. Sátiras. Essa paixão da mediocridade

(6)

que na sombra se exaspera. E os versos de asas douradas, que amor trazem e amor levam... Anarda. Nise. Marília...

As verdades e as quimeras. Outras leis, outras pessoas. Novo mundo que começa. Nova raça. Outro destino. Plano de melhores eras. E os inimigos atentos,

que, de olhos sinistros, velam. E os aleives. E as denúncias. E as idéias.

Aleives: perfídias, traições;

Almocrafes: enxadas usadas na mineração; Alfaia: paramentos de igreja;

Broslando: ornamentando Prosápia: linhagem.

Poesia mais objetiva e verdadeira obra-prima da autora, este poema histórico composto por 85 romances – tipo de poesia narrativa de origem medieval portuguesa – nos oferece simultaneamente uma visão histórica de notável impacto dramático e lírico, conforme podemos verificar neste Romance de Tiradentes:

Os militares, o clero, os meirinhos, os fidalgos que o conheciam das ruas, das igrejas e do teatro, das lojas dos mercadores e até da sala do paço, e as donas mais donzelas que nunca o tinham mirado, os meninos e os ciganos, as mulatas e os escravos, os cirurgiões e algebristas, leprosos e encarangados, e aqueles que foram doentes e que ele havia curado agora estão vendo de longe,

ESTRUTURA DO POEMA

A obra é constituída de 85 romances, intercalados por uma Fala inicial, uma Fala à antiga Vila Rica, uma Fala aos pusilânimes, uma Fala à comarca do Rio das Mortes e pela Fala aos

(7)

Literatura – Prof. Ibirá Costa

www.enemquiz.com.br 7

Um dos romances mais admirados é o XXXIV ou de “Joaquim Silvério”:

Melhor negócio que Judas fazes tu, Joaquim Silvério: que ele traiu Jesus Cristo, tu trais um simples Alferes. Recebeu trinta dinheiros... - e tu muitas coisas pedes: pensão para toda a vida, perdão para quanto deves, comenda para o pescoço, honras, glórias, privilégios. E andas tão bem na cobrança que quase tudo recebes! Melhor negócio que Judas fazes tu, Joaquim Silvério! Pois ele encontra remorso, coisa que não te acomete. Ele topa uma figueira, tu calmamente envelheces, orgulhoso e impenitente com teus sombrios mistérios. (Pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde:

(8)

Bibliografia de Literatura

BOSI, Alfredo – História Concisa da Literatura Brasileira, 40.ª ed., S. Paulo, Cultrix, 2002.

CANDIDO, Antonio – Formação da Literatura Brasileira, 7.ª ed., 2 vols., Belo Horizonte / Rio de Janeiro, Itatiaia, 1993.

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. Momentos decisivos. 10ª ed. Rio de Ja-neiro: Ouro sobre Azul, 2006.

CARPEAUX, Otto Maria – Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira, nova ed., Rio de Janeiro, Ed. do Ouro, 1979.

CASTRO, Sílvio – História da Literatura Brasileira, 3 vols., Lisboa, Publicações Alfa, 1999. COUTINHO, Afrânio – A Literatura no Brasil, 5ª ed.,6 vols., S. Paulo, Global, 1999.

GONZAGA, Sergius – Curso de Literatura Brasileira, 1ª ed, Porto Alegre, Leitura XXI, 2004. JUNQUEIRA, Ivan – Escolas Literárias no Brasil, Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Le-tras,2004.

MOISÉS, Massaud – História da Literatura Brasileira, 3 vols., S. Paulo, Cultrix, 2001.

MOISÉS, Massaud – A Literatura Brasileira Através dos Textos, 19.ª ed., S. Paulo, Cultrix, 1996. NICOLA, José de – Painel da Literatura em Língua Portuguesa, 2ª ed, S. Paulo, Scipione, 2011. PICCHIO, Luciana Stegagno – História da Literatura Brasileira, 2ª ed., Rio de Janeiro, Lacerda Editores, 2004.

PROENÇA, Domício – Estilos de Época na Literatura, 5.ª ed., S. Paulo, Ática, 1978.

VERÍSSIMO, José – História da Literatura Brasileira: de Bento Teixeira (1601) a Machado de Assis (1908), 7ª ed., Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.

Bibliografia de Música e Artes Plásticas

ACQUARONE, Francisco. Mestres da Pintura no Brasil, Editora Paulo Azevedo, Rio de Janeiro, s/d.

BARDI, Pietro Maria. História da Arte Brasileira, Editora Melhoramentos, São Paulo, 1975. CASTRO, Sílvio Rangel de. A Arte no Brasil: Pintura e Escultura, Leite Ribeiro, Rio de Janeiro, 1922.

DAMASCENO, Athos. Artes Plásticas no Rio Grande do Sul, Editora Globo, Porto Alegre, 1971. SEVERIANO, Jairo – Uma História da Música Popular Brasileira, 3ª Ed., Editora 34, 2013.

Referências

Documentos relacionados

Eu não tinha estas mãos sem força, Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: – Em que espelho ficou perdida a minha face. (Retrato -

Os corredores logísticos mais utilizados no escoamento da produção paraguaia são: Ciudad del Este – Paranaguá (rodoviário), Ciudad del Este - São Francisco do Sul

De seguida apresentam-se exemplos de actividades de investigação que incidem sobre três temas particularmente importantes. Muitas outras poderiam ser propostas, e incidindo

Como principais conclusões deste trabalho, ficou demostrado que, a aplicação do modelo CAF, proporciona um conjunto de instrumentos muito úteis, para o desenvolvimento de

Physis: Revista de Saúde Coletiva 4 Psicologia na atenção básica à saúde: demanda, território e integralidade 2011 Jimenez Psicologia & Sociedade 5 A atuação dos

Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi desenvolver e validar uma metodologia analítica empregando a espectrofotometria na região do ultravioleta (UV) para determinação

Desta forma, faz-se extremamente necessária e urgente a elaboração de uma lista de espécies ameaçadas para o Mato Grosso do Sul, através de ampla consulta e participação

Computador “B” em destino.dom Computador “A” em origem.dom Entre  computadores   sempre  on-­‐line   Remetente Editor de Mensagem Agente de Transporte