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Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução

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Academic year: 2021

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(1)

______________________________________________________________________ PN 2478.02-5; Ap.: TC Porto, 2º J.;

Ap.e1: Construções Pragosa, S.A., Apartado 46, 2440-901 Batalha;

Ap.a2: Instromet Portugal, Controlo e Regulação de Gás, Lda., Rua Manuel Pinto de Azevedo, 706, 4100-320 Porto.

______________________________________________________________________

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

I. Introdução

(a) A Ap.e discorda de ter sido condenada ao pagamento de uma indemnização (a acertar em execução de sentença) pelos prejuízos que determinou à Ap.a pela desistência da obra, traduzidos no valor dos materiais encomendados por esta última com vista à realização da encomenda e nos gastos com os trabalhadores.

(b) Da sentença:

(1) A desistência do contrato é uma situação sui generis, entre a revogação

e a denúncia, exprime-se por uma declaração negocial (que pode ser expressa ou tácita) e traduz-se numa rescisão unilateral do contrato de empreitada3;

(2) Mas, de acordo com o art. 1229º CC, a [Ap.a] tem direito a receber da [Ap.e] o valor dos gastos e trabalho que suportou com o início da obra;

1

Adv.: Dr. Teófilo Araújo dos Santos, Rua de Alcobaça, 9, 1, Leiria.

2

Adv.: Dr.ª Catarina Pinto Resende, Rua do Campo Alegre, 1306 4º, sala s/409, 4150-174 Porto.

3

Cit. Ac. RL, 98.02.26, internet, base de dados DGSI: a desistência da obra pelo dono desta, prevista no

art. 1129º CC, é uma figura sui generis, que não corresponde à revogação, à resolução unilateral ou à denúncia do contrato, antes consistindo num instituto que confere ao dono da obra a possibilidade de não prosseguir com a empreitada, interrompendo a sua execução para o futuro, motivado nas mais variadas causas, prosseguindo eventualmente a obra com outro empreiteiro, ou até por administração directa, mas sem prejuízo do 1º empreiteiro.

(2)

(3) Neste âmbito estão incluídos os gastos que teve com o material que

encomendou, independentemente de o mesmo ser ou não de uso exclusivo para outras obras, bem como o preço da mão-de-obra;

(4) E o empreiteiro é indemnizado pelo interesse contratual positivo,

constituída uma obrigação de ressarcir como consequência da responsabilidade por factos ilícitos;

(5) Da matéria de facto resulta que este teve gastos com alguns materiais

que encomendou e com dois soldadores, porém não quantificados, sabendo-se apenas que encomendou esses materiais e que contratou os dois trabalhadores para a execução da obra: será relegada para execução de sentença a determinação do montante indemnizatório a que a [Ap.a] tem direito4;

(6) À quantia a atribuir em execução de sentença acrescem juros moratórios

desde a data da citação5;

(7) Mesmo que as partes não tivessem celebrado um contrato, mas

estivessem apenas no âmbito de negociações preliminares..., sempre a [Ap.e] teria que indemnizar a [Ap.a], atentos os princípios da responsabilidade pré-contratual, e no âmbito dos princípios da boa fé (pelo interesse contratual negativo, de acordo com a jurisprudência maioritária6.

II. Matéria assente:

(1) A Ap.a é uma sociedade por quotas que se dedica ao comércio, importação de equipamentos de gás, estudos e projectos;

4

Cit. Ac. RP, 96.01.22, base de dados DGSI: I. A desistência pelo dono da obra da empreitada

contratada fá-lo incorrer no dever de indemnizar consagrado no art. 1229º CC (danos emergentes e lucros cessantes do empreiteiro); mas, não tendo a parte executada da obra sido realizada devidamente, ao valor da indemnização deve ser deduzido um montante correspondente à desvalorização sofrida em relação ao que foi contratado; II. Na falta de elementos para liquidar tal desvalorização, a liquidação da indemnização a favor do empreiteiro deve ser relegada para a execução de sentença;

Ac. STJ, 88.12.02: O dono da obra, que interrompe unilateralmente a actividade do empreiteiro,

passando a executá-la ele próprio, põe termo ao prosseguimento da empreitada, desistência esta que é legalmente permitida, contando que aquele indemnize o empreiteiro dos seus gastos e trabalho, e do proveito que poderia tirar da obra, art. 1229º CC;

Ac STJ, 02.03.19, base de dados DGSI; Ac RC, 01.12.04: I. ... VIII. O dono da obra pode livremente

desistir da empreitada, sem formalidade especial, devendo entender-se como desistência a declaração feita por ele ao empreiteiro para ali (no local da obra) não voltar com o fim de concluir os trabalhos, pois não lho permitiria; IX. Se não houver justificação para o dono da obra fazer terminar os trabalhos acordados antes de concluída a obra, responderá o mesmo pelos gastos e trabalhos de empreiteiro, e pelo proveito que este poderia dela retirar.

5

(3)

(2) No exercício da sua actividade, a Ap.e fez-lhe uma encomenda de um posto de regulação e medida de 3ª classe (p.r.m.), através de nota de encomenda7; (3) Foi esta aceite pela Ap.a;

(4) Logo confirmou o preço dos produtos encomendados; (5) E apresentou os respectivos desenhos técnicos;

(6) Depois, iniciou a execução nos precisos termos que lhe foram solicitados; (7) Em 01.04.11, dia em que a encomenda já estava a ser levada a cabo, a Ap.e enviou um fax à Ap.a onde lhe comunicou o cancelamento da nota de encomenda, sem qualquer justificação;

(8) A Ap.a não aceitou, uma vez que já tinha executado uma parte da obra, de acordo com a encomenda da Ap.e;

(9) E ainda nesse mesmo dia comunicou-lhe por fax isso mesmo; (10) tratava-se de algum material que fora fabricado em exclusivo;

(11) E que não pôde servir para outro destino, vistas as dimensões específicas; (12) A Ap.a para execução da obra encomendou também outro material, nomeadamente, aço, filtros, redutores, armário; contratou pelo menos dois soldadores;

(13) A Ap.e solicitou um orçamento à Ap.a, para a instalação do gás na sua Central de Ferraria, Porto de Mós;

(14) Até hoje, a Ap.a não enviou à Ap.e qualquer factura;

(15) A Ap.e solicitou à Ap.a, 01.03.15, um orçamento para construção de um p.r.m. com duas linhas e um regulador de acção directa por linha, com as características documentadas;

(16) Em resposta a esse pedido de orçamento, a Ap.a enviou à Ap.e a proposta de fornecimento do p.r.m., de ref. 0225/f/01, em 01.03.19;

(17) Recebida a proposta, a Ap.e, na pessoa do seu colaborador José Rocha, que subscreveu o pedido de orçamento, contactou a Ap.a, 01.03.23, solicitando uma redução do preço e o rápido fornecimento, alegando urgência;

(18) Tudo o que foi aceite pela Ap.a, e comunicado à Ap.e nesse mesmo dia;

6

Cit. Ac. STJ, 01.05.10, CJ/STJ (2001), II/71; Ac. RL, 01.07.08, CJ (2001), IV/77; Ac. RL, 98.10.29, CJ (1998), IV/133.

7

Documento 2, fls. 6: Nota de encomenda nº 0041; data: 01.03.29; identificação do fornecedor:

..Instromet Portugal, Lda; ...uma estação de regulação 1000 N m3/hora, 2 linhas, [Pte] 1 400 000$00; um acréscimo de custo para controlo radiográfico a 100% das soldaduras, [Pte] 180 000$00; um armário em aço inox de dimensões apropriadas, [Pte] 303 800$00; garantia dos trabalhos, sim; modo de entrega v/viatura; condições de pagamento: 3% p.p.; (a)...Pragosa.

(4)

(19) Na sequência do acordo entre a Ap.a e a Ap.e, quer quanto ao preço, quer quanto ao prazo de execução do p.r.m., esta remeteu àquela, 01.03.29, a nota de encomenda nº 0041, referida em (2);

(20) Recebida a nota de encomenda, e adjudicado o fabrico do p.r.m., a Ap.a elaborou de imediato os desenhos técnicos, que enviou à Ap.e no dia 30.03, para aprovação;

(21) Entretanto, a Ap.a elabora e envia ao cliente, para aprovação, o desenho técnico como meio de garantia de que o equipamento a produzir (p.r.m.) está conforme às especificações técnicas da concessionária de gás (Lusitâniagás), e para indicar as dimensões gerais e particulares do p.r.m.

III. Cls/Alegações:

(a) Tendo em conta os depoimentos das testemunhas8, e as respostas aos quesitos, facilmente se conclui que há grandes contradições, nomeadamente acerca da aprovação dos projectos e desenhos;

(b) Ficou provado que o equipamento apenas devia ser executado após a aprovação dos projectos e desenhos pela Ap.e, e ainda por uma entidade competente;

(c) E ficou provado também que a Ap.a podia, se tivesse adquirido os materiais, vender ou utilizar os mesmos em outros equipamentos, e que nem sequer enviou à Ap.e qualquer factura;

(d) Mais: embora se possa entender que as partes celebraram um contrato de empreitada, a Ap.a nem sequer pede, aqui, o cumprimento de qualquer contrato, muito menos o de empreitada, mas apenas indemnização pelo material e mão de obra que aplicou no equipamento;

(e) Há assim uma grande contradição entre a causa de pedir e o pedido; (f) Deve por conseguinte ser revogada a sentença de 1ª instância, para ser julgado improcedente o pedido.

IV. Contra-alegações:

8

Vd. anexo 1, transcrição dos depoimentos do Eng. Fernando Antunes (cassete nº2, lado A, voltas 138/525) e de José Rocha Lourenço, encarregado de armazém (cassete 2, lado A, voltas 529/572; lado B. voltas 572/713).

(5)

(a) Face ao disposto no art. 690/1.2 CPC, o presente recurso versa unicamente sobre a matéria de facto, e não também sobre a matéria de direito; (b) Deste modo, a conclusão relativa à pretensa contraditoriedade entre a causa de pedir e o pedido é irrelevante: a mesma nem sequer foi suscitada no tribunal recorrido, na contestação, nem a ela foi feita qualquer referência, aliás, no corpo das alegações;

(c) Por outro lado, a Ap.e não conseguiu demonstrar as pretensas

contradições entre os depoimentos das duas testemunhas que transcreve e a

resposta aos quesitos, pelas seguintes razões:

(1) parte dessa matéria resultou provada por confissão do seu próprio legal representante9, que assim infirma os depoimentos transcritos;

(2) o próprio depoimento da testemunha José Rocha Lourenço, transcrito pela Ap.e, confirma parte desses factos, e designadamente a entrega dos desenhos em causa;

(3) Os depoimentos das testemunhas da Ap.a10 que alicerçaram a convicção do tribunal, conjugados com os documentos juntos, infirmam as conclusões da Ap.e;

(d) E não tendo a Ap.e posto em causa determinados pontos da matéria de facto essenciais, não pode o tribunal ad quem extrair a conclusão de que o equipamento apenas devesse ser executado após a aprovação dos desenhos por parte da Ap.e ou de outra entidade, pela simples análise dos depoimentos transcritos pela Ap.e, visto que essas testemunhas não se referiram a esse facto; (e) Mas também nesta parte, os mesmos testemunhos são confirmados pelos depoimentos das testemunhas da Ap.a, já referidos;

(f) Ainda assim, como bem resulta da sentença recorrida, a obrigação de indemnizar o empreiteiro, no caso de desistência do dono da obra, abrange os gastos e trabalho com a realização dessa mesma, incluindo o material

9

Cassete nº1, lado A, voltas 0015/1337.

Transcrição na acta: ...o depoente declarou que a A. apresentou os desenhos técnicos, os quais não foram

(6)

encomendado (independentemente de ser ou não de uso exclusivo para outras

obras) e a despesa em mão de obra, atento o teor do art. 1229 CC;

(g) Ora, a Ap.a fez prova dos seus prejuízos: incumbe à Ap.e a obrigação de indemnizar... e as testemunhas, cujos depoimentos foram transcritos, nem sequer se pronunciaram sobre estes concretos pontos da matéria de facto, ao invés do que sucedeu com as testemunhas da Ap.a, referidas;

(h) E é óbvio que a Ap.a não poderia pedir o cumprimento de um contrato que a Ap.e já havia feito cessar, através do cancelamento da encomenda;

(i) Depois, a factura teria sido enviada pela Ap.e à Ap.a, apenas no caso de a encomenda ter sido executada globalmente, e para pagamento do respectivo preço;

(j) No entanto, o que está em causa não é o pagamento do preço do produto encomendado, mas o pagamento de uma indemnização pelos prejuízos sofridos com a desistência do contrato;

(k) Deve portanto ser confirmada inteiramente a sentença recorrida.

V. Recurso: pronto para julgamento.

VI. Sequência:

(a) Atenta a crítica à matéria provada que a recorrente apresentou nas Alegações, não é de todo certo, como pretende a Ap.a, nada terem dito de interesse as testemunhas cujos depoimentos foram transcritos. Têm é de ser cotejados com a carta que a Ap.a enviou à Ap.e, a qual versa justamente sobre o tema da essencialidade da aprovação dos desenhos do maquinismo objecto da empreitada. Ora, diz a carta, datada de 01.03.30:

...Vimos por este modo [enviar] o desenho técnico por V. adjudicado (com a n. ref. 1517/IP/01); agradecemos eu nos reenviem, com a maior brevidade possível, um dos originais, devidamente assinado e carimbado pela V. empresa, como prova de aceitação do desenho...

10

Paulo Ramalho cassete nº1, lado B, voltas 0119/2328; 2329/2548; Manuel Pereira cassete nº1, lado B, voltas 2329/2548 e cassete nº 2 lado A, voltas 0011/1021; Fernando Lima Antunes, cassete 2, lado A, voltas 1022/2457.

(7)

(b) Assim, porque os depoimentos foram claros no sentido de não ter havido aprovação dos desenhos, muito embora o bloqueio não tenha tido origem em erro ou desadequação, mas ao conhecimento das circunstâncias gerais determinantes da inutilidade da obra, parece não poder dar-se como assente, em face da redacção da carta, que a Ap.a estivesse autorizada a continuar a obra a partir da data da missiva, i.é, 01.03.30.

(c) Neste sentido decidem alterar a resposta ao quesito que se refere ao último dos factos assentes, passando a ser assim:

entretanto, a Ap.a elaborou e enviou ao cliente, para aprovação, o desenho técnico como meio de garantia de que o equipamento a produzir (p.r.m.) seria construído de acordo com as especificações técnicas da concessionária de gás (Lusitâniagás), e também para indicar as dimensões gerais e particulares do p.r.m.

(d) Desta sorte, retira-se dos factos que muito embora a encomenda se tratasse da requisição de obra firme, só a partir de uma determinada fase (aprovação dos desenhos) poderia a empreiteira atingir a velocidade de cruzeiro, e desenvolver os trabalhos dependentes desses mesmos desenhos.

(e) Contudo, nada obsta a que a obrigação de ressarcir, fundada na desistência da obra, tenha de cobrir as despesas de material (porventura compensadas no benefício de obras seguintes) e trabalho realizadas até então, estas que encontram causa na nota de encomenda em si mesma, como aprovação genérica do plano de construção do maquinismo. E por isso mesmo, as conclusões do recurso procedem em grande parte: a indemnização a liquidar em execução de sentença é devida apenas pelo aprovisionamento e disposição dos materiais construtivos, ocorrida entre 01.03.29 e o dia seguinte. Não pelo iniciar da obra de acordo com os desenhos, afinal não aprovados, condição negativa ao procedimento.

(8)

(f) Tudo visto, e o art. 1229 CC, decidem alterar a sentença recorrida no sentido de o dispositivo da decisão conter a reserva atrás enunciada.

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