• Nenhum resultado encontrado

APRECIAÇÃO da CONCORDATA e ACORDO MISSIONÁRIO com a SANTA SÉ

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "APRECIAÇÃO da CONCORDATA e ACORDO MISSIONÁRIO com a SANTA SÉ"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

MISSIONÁRIO com a SANTA SÉ

ABEL VARZIM da CUNHA e SILVA Deputado à ASSEMBLEIA NACIONAL

II Legislatura (1938 / 1942) 3.ª Sessão Legislativa e Sessões extraordinárias

◄◄◄►►►

Sessão Extraordinária de 25 de Maio de 1940

ASSEMBLEIA NACIONAL

D

IÁRIO DAS

S

ESSÕES – n.º 89 de 27 de Maio de 1940

na página 70

O Sr. Presidente: - Esta sessão extraordinária da Assembleia Nacional foi convocada, nos termos do decreto n.º 30:458, para apreciar a Concordata e o Acordo Missionário celebrados com a Santa Sé.

Vai usar da palavra, como é seu direito, o Sr. Presidente do Conselho.

«Tendo ocupado a tribuna, S. Ex.ª o Sr. Presidente do Conselho, novamente muito aplaudido pela numerosa assistência, proferiu o seguinte discurso:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE: SENHORES DEPUTADOS:

Hoje serei breve, mas entendi que não devia faltar. Se, não obstante o momento impor preferência a preocupações de ordem bem diversa, nos reunimos para

(2)

«141» - Intervenção do Deputado Abel Varzim – Assembleia Nacional – DIÁRIO DAS SESSÕES – N.º 89, 27 de Maio de 1940

ocupar-nos dos recentes acordos com Roma, isso quere dizer não termos cedido à hipnose da tragédia e não haverem os acontecimentos interrompido nem o esforço de reconstrução nem os trabalhos da paz. Mas eu serei breve e, deixando de lado o mundo de cousas que poderiam dizer-se, referir-me-ei apenas, por mais consentâneo com a minha posição, aos princípios fundamentais da Concordata em relação com a política nacional.»...

na página 81

O Sr. Abel Varzim: - Sr. Presidente: depois da brilhante exposição histórica feita à imprensa por S. Ex.ª o Sr. Presidente do Conselho, entendo não ser necessário ocupar esta Assembleia com datas e factos que prepararam a Concordata.

Em todo o caso, Sr. Presidente, uma vista de relance sobre a posição histórica do problema não será de todo descabida, sabendo que as incompreensões do presente se filiam muitas vezes no desconhecimento do passado.

A questão dos dois poderes – civil e eclesiástico – salvo no povo judeu, nunca foi posta antes de Cristo. Quem retinha o poder sobre os indivíduos retinha-o totalitariamente.

Com a fundação da sociedade religiosa cristã para governar os indivíduos nos domínios da consciência, pôs-se pela primeira vez, o problema em toda a sua agudeza.

O império romano pagão decreta leis de excepção contra a Igreja porque acusa os cristãos de crime de lesa-majestade, por não obedecerem estes à autoridade religiosa do imperador.

O édito de Milão, no ano 303, publicado pelo imperador Constantino, concede já à Igreja autoridade religiosa, reconhecendo assim a distinção entre os dois poderes

Nos últimos tempos do império romano a situação modifica-se algum tanto. No Império do Oriente, o imperador, embora reconheça a autoridade da Igreja, entende que a sua autoridade é superior e não consente que a Igreja publique medidas sem o seu consentimento: é o regime do césaro-pupismo. No Império do Ocidente é reconhecida a autoridades dos dois poderes, mas o Papa

(3)

«141» - Intervenção do Deputado Abel Varzim – Assembleia Nacional – DIÁRIO DAS SESSÕES – N.º 89, 27 de Maio de 1940

declara a sua superioridade, pois diante de Deus é responsável pela própria pessoa do imperador.

No reino dos francos, os merovíngios manifestam a tendência de tomar para si uma parte das atribuições da Igreja e Carlos Magno consegue submeter ao Estado a Igreja a qual aceita esta submissão porque o imperador a defende por toda a parte. Os seus sucessores, porém, abusam destas concessões e querem sobre a Igreja exercer rigorosa tutela. O princípio da liberdade da Igreja tomará, por isso, a dianteira das preocupações religiosas. A tese de Santo Agostinho, que defende a unidade de poderes, vai dominar durante a Idade Média. Mas, como esta unidade religiosa só era possível pelo domínio de um poder sobre o outro, a Igreja reclama a superioridade e obtém-na, no século XIII, com Inocêncio III. A época esplendorosa desta autoridade política do Soberano Pontífice é marcada pela luta entre Bonifácio VIII e Filipe O Belo, e a história está cheia de benemerências desta situação jurídica, reclamada aliás pelo condicionalismo da época.

Vem depois o declínio do poder político da Igreja, poder que ainda exerce na divisão das possessões portuguesas e espanholas. Mas a destituição de Henrique VIII e os protestos contra os tratados de Westfália já não produzem efeito.

Os príncipes esforçar-se-ão por se libertar do poder da Igreja e marcar sobre o poder espiritual a sua superioridade.

O protestantismo provoca a rotura da unidade do mundo cristão. Mas embora Lutero defendesse ardentemente o princípio do dualismo de poderes, os príncipes protestantes apoderam-se, de facto, da autoridade religiosa e negam praticamente a distinção entre a Igreja e o Estado.

O liberalismo político – nascido do racionalismo – defendendo a soberania popular, nega a existência de qualquer outro poder superior e pretende submeter a Igreja ao Estado e aniquilá-la, para ficar apenas o povo, único soberano, embora, em nome dos princípios da liberdade, reconheça aos indivíduos o direito de terem uma religião.

Como a tendência para a submissão da Igreja encontrou fortes reacções, caminharam os Estados para o regime de separação hostil, como termo intermédio para a supressão da autoridade religiosa.

(4)

«141» - Intervenção do Deputado Abel Varzim – Assembleia Nacional – DIÁRIO DAS SESSÕES – N.º 89, 27 de Maio de 1940

O socialismo, partindo do materialismo histórico, não reconhece na Igreja senão uma manifestação da infra-estrutura económica – manifestação que tende a desaparecer com a evolução da técnica da produção.

Foi neste ambiente geral de ideias que o Estado Português de 1910 decretou a separação hostil, com o firme propósito de suprimir a autoridade de Igreja. Mas o movimento de supremacia do poder civil pelo aniquilamento do poder religioso tinha feito a sua época nos países não dominados pelo marxismo; e os Estados, depois da guerra de 1914-1918, reagem e realizam concordatas com a Santa Sé para delimitarem as esferas de acção de cada um dos poderes.

Sendo uma autoridade incontestável – mesmo para os não crentes – a existência da Igreja e o aumento sempre crescente do número de fiéis por todo o mundo, a única atitude razoável e o único regime sensato será o de acordo mútuo entre os dois poderes para que se completem, se auxiliem e, deixadas de parte lutas prejudiciais, sobretudo ao Estado, realizem obra de paz e de progresso.

Bastaria esta simples consideração para que déssemos ao Governo Português os nossos aplausos mais calorosos, não só por ter realizado este entendimento prestigioso para si próprio, mas também por ter tido a inteligência suficiente para se enquadrar no movimento actual, tendente a reconhecer os direitos das consciências e dos princípios morais em crise e que só a Igreja tem força suficiente para defender e fazer finalmente respeitar.

Mas a Concordata, Sr. Presidente, não é uma inovação nas situações internas que vem criar. Tudo o que ela fixou, ou quase tudo, já estava determinado ou esboçado na nossa legislação, e estava-o já certamente nos nossos costumes.

O próprio reconhecimento da indissolubilidade do matrimónio católico, que a tantos pareceu arrojada temeridade, mais não é que o reconhecimento jurídico de um facto real: um católico não se divorcia. No dia em que o tenha feito por culpa própria repudiou uma das verdades fundamentais da sua fé e já não pode ser enumerado entre os católicos fiéis. Ao receber voluntariamente o sacramento do matrimónio repudia publicamente o divórcio e reclama por esse mesmo facto que o Estado lhe reconheça esse repúdio e respeite os direitos da sua consciência.

(5)

«141» - Intervenção do Deputado Abel Varzim – Assembleia Nacional – DIÁRIO DAS SESSÕES – N.º 89, 27 de Maio de 1940

A situação existente até agora era socialmente perigosa porque desacreditava o Estado e indisciplinava os indivíduos. O Estado afirmava que o único casamento legítimo era o casamento realizado perante o oficial do registo civil. Mas quase 80 por cento dos casamentos é feito perante a Igreja, e estes 80 por cento de portugueses não reconhecem a validade do casamento civil, considerando-o ilegítimo. E sendo certo, segundo confessa o Anuário Demográfico, publicado pelo Instituto Nacional de Estatística e referente ao ano de 1937, «o aumento progressivo do número de casamentos, religiosos», verifica-se que um número sempre crescente de portugueses descria da tese do Estado, provocando assim o seu desprestígio.

Reconhecendo a validade do casamento religioso e a sua, indissolubilidade, acabou o Estado com uma situação desprimorosa para ele próprio, satisfez a consciência católica da Nação e entrou, mais uma vez, na política da verdade, mais do que nunca necessária hoje, num mundo que começa a prestar culto à força da mentira.

Não quero demorar a Assembleia com considerações desnecessárias. O País deve alegrar-se com a realização da Concordata e a Assembleia Nacional deve dar-lhe todo o seu apoio.

Por mim, como português e como sacerdote, alegro-me sinceramente. E minha alegria sobe de ponto ao lembrar-me que a Igreja foi generosa e grande renunciando aos bens que legitimamente lhe pertenciam e violentamente lhe foram arrancados, ao ver com que nobreza de animo não pediu nem um ceitil ao Estado para realizar a sua obra de pacificação dos espíritos e das consciências a bem da Nação.

Eu sinto-me orgulhoso, Sr. Presidente, ao afirmar nesta tribuna a glória dos milhares dos meus irmãos no sacerdócio que, por esse Portugal além, nas mais remotas aldeias, servem a Pátria com dedicação e heroísmo, matando a fome dos corpos e a fome das almas, criando, com o seu esforço quotidiano e obscuro, a estabilidade da Pátria pela estabilidade das famílias e da disciplina, sem pedirem ao Estado nada daquilo que para muitos deles seria necessário para não passarem fome.

O clero português, pela Concordata agora assinada, renuncia também a qualquer paga individual do seu sacrifício a bem da Nação.

(6)

«141» - Intervenção do Deputado Abel Varzim – Assembleia Nacional – DIÁRIO DAS SESSÕES – N.º 89, 27 de Maio de 1940

Tendo renunciado a favor do Estado a tudo o que possa significar bem-estar ou paga material, a Igreja tem o direito de reclamar que lhe reconheçam, ao menos, a grandeza da sua obra. E o melhor reconhecimento é a compreensão da Concordata, na qual o Estado lhe garante a liberdade de continuar, a exemplo do seu chefe, espalhando o bem sobre a terra.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem muito bem!

Palmas nas galerias.

Referências

Documentos relacionados

Foi evidenciado que o posto mantém uma sistemática preventiva para não contaminar o solo e as águas subterrâneas, por meio da avaliação trimestral do solo e do

b) Execução dos serviços em período a ser combinado com equipe técnica. c) Orientação para alocação do equipamento no local de instalação. d) Serviço de ligação das

Tautologia – Quando uma proposição sempre é verdadeira, o que acarreta que toda sua coluna na tabela- verdade possui somente valores Verdadeiros. Contradição – Oposto à

O candidato deverá apresentar impreterivelmente até o dia 31 de maio um currículo vitae atualizado e devidamente documentado, além de uma carta- justificativa (ver anexo

Finally,  we  can  conclude  several  findings  from  our  research.  First,  productivity  is  the  most  important  determinant  for  internationalization  that 

O desenvolvimento experimental consistiu na determinação dos hormônios naturais estrona (E1), 17β-estradiol (E2), estriol (E3), do hormônio sintético 17α-etinilestradiol

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença