Revista da FZVA.
MENTAGROPHYTES – RELATO DE CASO
DERMATOPHYTOSIS OF PIGS CAUSED BY TRICHOPHYTON
MENTAGROPHYTES – A CASE REPORT
Daniela Isabel Brayer Pereira1, Eliza Simone Viegas Sallis1, Christiane Duarte Pombo1, Cristiane Santin2, Alexandre Piccinini2, Cristina Braccini Colpo2.
RESUMO
Dermatofitoses são micoses superficiais que podem afetar uma grande variedade de animais, inclusive o homem, sendo considerada uma importante zoonose. Determinam lesões limitadas ao extrato queratinizado da pele e anexos. As espécies de dermatófitos zoofílicos causadores de doença em animais domésticos apresentam hospedeiros preferenciais. Porém, em algumas situações podem infectar outras espécies. Em suínos, as dermatofitoses são raras e quando ocorrem, normalmente são causadas por Microsporum nanum. Relata-se neste trabalho um caso de dermafitose suína causada por Trichophyton mentagrophytes
Palavras – chave: dermatofitose, suíno, Trichophyton mentagrophytes ABSTRACT
The dermatophytosis are superficial mycoses that can affect a great variety of animals, also the man, considered an important zoonosis. They determine injuries limited to the keratinized stratum of the skin and annexes. The species of zoophilics dermatophytes causing of illness in domestical animals present preferential hosts. However, in some situations other species can infecctions. In swines, dermatophyotsis are rare and when they occur, normally they are caused by Microsporum nanum. A swine case of dermatophytosis is told in this work caused by Trichophyton mentagrophytes
Key words: dermatophytosis, pigs, Trichophyton mentagrophytes
1 Prof. Dpto. Med. Vet. FZVA – PUCRS – Campus Uruguaiana. daniela@pucrs.campus2.br. 2
INTRODUÇÃO
A dermatofitose é uma doença fúngica cutânea de caráter contagioso
causada por um grupo homogêneo de fungos patogênicos chamados dermatófitos, os quais apresentam marcada afinidade pela
queratina afetando, portanto, pêlos, unhas, cascos, penas e células queratinizadas da
pele (JUNGERMAN &
SCHWARTZMAN, 1972; FERREIRO, 2000; OYEKA, 2000; PEREIRA & MEIRELES, 2001). Os dermatófitos são classificados em três gêneros:
Epidermophyton, Microsporum e
Trichophyton, que incluem cerca de 40
espécies, das quais somente algumas, pertencentes aos gêneros Microsporum e
Trichophyton são usualmente as causas de
dermatofitose em animais domésticos. Podem ser divididos em três grupos ecológicos, conforme seu habitat e/ou hospedeiros naturais, em antropofílicos (humanos), zoofílicos (animais) e geofílicos (solo) (CABAÑES, 2000). Infectam várias espécies animais, determinando de modo geral, lesões secas, arredondadas e, comumente, não pruriginosas que se distribuem focalmente na superfície cutânea, sem causar transtornos gerais aos animais afetados (PEREIRA & MEIRELES, 2001; SOBESTIANSKY et
al., 2001). Os animais servem como
reservatórios de dermatófitos zoofílicos e suas infecções têm considerável importância zoonótica (CABAÑES, 2000; BARANOVÁ, 2003). Dermatófitos zoofílicos como Microsporum canis, Trichophyton verrucosum e Trichophyton mentagrophytes constituem importantes
agentes de dermatofitose ou tinhas em humanos no mundo (CABAÑES, 2000; TAKAHASHI, 2003). As espécies de dermatófitos zoofílicos apresentam determinada distribuição entre os animais, sendo o Microsporum canis mais freqüentemente observado em cães e gatos,
Trichophyton verrucosum em bovinos, Trichophyton mentagrophytes e
Trichophyton equinum var. autotrophycum
em eqüinos (CABAÑES, 2000; PEREIRA & MEIRELES, 2001). Em suínos, embora a doença seja de pouca freqüência, há relatos da ocorrência de M. canis, M. nanum, T.
mentagrophytes, T. rubrum, T. tonsurans e T. verrucosum (CABO et al., 1988;
CABAÑES, 2000; SOBESTIANSKY et al., 2001), embora M. nanum seja o dermatófito mais freqüentemente isolado destes animais (JUNGERMAN & SCHWARTZMAN, 1972; CABO et al., 1988; SOBESTIANSKY et al., 2001).
Relata-se, nesta comunicação, a ocorrência de dermatofitose suína em matrizes e leitões de uma suinocultura localizada no oeste do Rio Grande do Sul.
DESCRIÇÃO DO CASO
Em uma suinocultura, localizada na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, com 40 matrizes da raça Landrace e Large White, foram observadas lesões em oito fêmeas com idades que variavam de três a
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idade. As lesões das matrizes estavam localizadas no tronco, porção lateral do abdômen, lateral da coxa e dorso das orelhas. Eram bem delimitadas, secas, crostosas, circulares e a coloração variava de avermelhada a amarronzada (FIG. 1). Nos leitões observaram-se lesões dorsalmente no tórax, apresentando as mesmas características clínicas daquelas observadas nas matrizes.
FIGURA 1: Lesões circunscritas e amarronzadas
localizadas na região escapular direita de uma matriz.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Amostras foram coletadas das bordas das lesões, por meio de raspado, utilizando-se lâmina de bisturi esterilizada. O material foi acondicionado em placas de petri e enviado ao laboratório de microbiologia para processamento. Desse material, realizou-se o exame direto utilizando hidróxido de potássio (20%) como clarificador e cultivo em meio agar Mycosel incubado a temperatura ambiente por 15 dias. Do cultivo obtido realizou-se
exame direto com lactofenol azul de algodão para observação da micromorfologia do fungo. O exame direto observado em microscopia óptica em aumento de 40 vezes, demonstrou a presença de conídios e hifas de dermatófito parasitando as crostas. O material semeado em agar seletivo, após 10 dias de incubação, apresentou o crescimento de colônias planas, de aspecto granular, verso de coloração branca e reverso com pigmento avermelhado. Na observação microscópica da colônia em lactofenol azul de algodão, observou-se a presença de hifas septadas, espiraladas, numerosos microconídios agrupados em cachos e poucos macroconídios (FIG. 2). As características macro e micromorfológicas do dermatófito permitiram caracterizar o fungo isolado como Trichophyton mentagrophytes.
FIGURA 2: T. mentagrophytes: Microconídeos
agrupados em cachos (seta abaixo) e poucos macroconídeos (seta acima). Exame direto com lactofenol azul de algodão (40X).
DISCUSSÃO
Estudando-se as dermatofitoses dos animais domésticos, observa-se que a doença em suínos é menos freqüentemente observada e relatada do que em caninos, felinos e bovinos. Embora várias espécies de dermatófitos sejam descritas como causadoras da doença em suínos, M. nanum é o principal responsável pela enfermidade nesta espécie animal (JUNGERMAN & SCHWARTZMAN, 1972, CABO et al.,
1988; CABAÑES, 2000;
SOBESTIANSKY et al., 2001). Entretanto, CABO et al. (1988), descreveram dois surtos de dermatofitose em suínos causados por Trichophyton mentagrophytes afetando leitões lactentes. Trichophyton mentagrophytes é um dermatófito zoofílico,
que pode infectar um grande número de animais e inclusive o homem (LACAZ et
al., 1998, FERREIRO, 2000; OYEKA,
2000). Alguns autores destacam os roedores como portadores naturais do Trichophyton
mentagrophytes, sendo este, o principal
agente de surtos de dermatofitose observado em cobaios (FISCHMAN & PORTUGAL, 1971), coelhos e lagomorfos (PESSOA, 2004). OYEKA (2000) cita o isolamento de Trichophyton mentagrophytes do solo em muitos países,
como Índia e Itália e POMBO (2003) ao estudar a presença de fungos queratinofílicos no solo em propriedades
rurais do Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul, recuperou Trichophyton mentagrophytes dos solos estudados. A
contaminação dos animais pode ocorrer pelo contato direto com animais doentes ou portadores ou pelo contato indireto com materiais ou solo contaminado com artroconídeos do fungo. O contato de um animal com uma fonte de infecção, associado a fatores predisponentes como superpopulação, deficiência nutricional, idade, doenças concomitantes, imunossupressão, parasitismo, maceração da pele e estresse favorecem ao aparecimento da enfermidade (FERREIRO, 2000; PEREIRA & MEIRELES, 2001). As fêmeas afetadas neste relato estavam na maternidade da suinocultura, em lactação e a temperatura e umidade local eram elevadas, contribuindo estes fatores ao surgindo da enfermidade, juntamente com a presença do fungo no ambiente. Segundo SOBESTIANSKY et al. (2001) em uma suinocultura, de modo geral, apenas poucos animais são afetados, porém é possível que a doença se difunda amplamente, atingindo grande número de animais. A localização das lesões e as características clínicas foram semelhantes às descritas por CABO et al. (1988) e SOBESTIANSKY et al. (2001). Embora a doença em suínos não implique em perdas na produtividade, o contato do homem com estes animais pode vir a ser
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esta espécie de dermatófito pode causar a doença em humanos.
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