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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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Terceira Câmara Cível

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0005707-08.2009.8.19.0008

APELANTE: WHIRPOOL S.A. - BRASTEMP

APELADO: ISABEL DE OLIVEIRA SANTIAGO

Relator designado: Desembargador MARCELO LIMA BUHATEM

DIREITO DO CONSUMIDOR - RESCISÃO CONTRATUAL C/C DEVOLUÇÃO C/C DANOS MORAIS - LAVADORA QUE TERIA APRESENTADO DEFEITO CERCA DE 14 MESES APÓS A COMPRA – ALEGAÇÃO DE QUE O PROBLEMA TERIA OCORRIDO LOGO APÓS O DECURSO DOS PRAZOS DAS GARANTIAS DO FABRICANTE E DA GARANTIA CONTRATUAL E NA VIGÊNCIA DA GARANTIA ESTENDIDA CONTRATADA PELO CONSUMIDOR AO VENDEDOR –

DESPACHO QUE AFASTOU DA RELAÇÃO PROCESSUAL A SOCIEDADE EMPRESÁRIA QUE VENDEU O PRODUTO - PROCESSO QUE PROSSEGUIU SOMENTE EM FACE DO FABRICANTE – GARANTIA ESTENDIDA - SOLIDARIEDADE -

SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL - GARANTIA CONTRATUAL DE NOVE MESES QUE NÃO É CONTESTADA - GARANTIA LEGAL DE TRÊS MESES (BEM DURÁVEL) QUE SE CONFUNDE COM O PRAZO DECADENCIAL DE RECLAMAR SOBRE EVENTUAL DEFEITO DO PRODUTO – FORMA DE CONTAGEM DO PRAZO DA CHAMADA GARANTIA LEGAL - ENTENDIMENTO DA MAIORIA NO SENTIDO DE QUE ESTE PRAZO SÓ SE INICIA APÓS TODAS AS DEMAIS GARANTIAS (GARANTIAS CONTRATUAL DE 9 MESES E ESTENDIDA DE 12 MESES) – ENTENDIMENTO DE QUE SEQUER HAVIA INICIADO O PRAZO DA GARANTIA LEGAL QUE SE INICIA, IN CASU, 21 MESES APÓS A AQUISIÇÃO DO BEM DURÁVEL -

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REGRAS CONSUMERISTAS PROTETIVAS – ESPÍRITO PRIMEIRO DA LEI – INSTITUTOS QUE DEVEM SER INTERPRETADOS DE MANEIRA A DAR EFETIVIDADE AOS DIREITOS DO MAIS FRACO NA RELAÇÃO CONTRATUAL - CONSUMIDOR QUE TEVE, INCLUSIVE, O CUIDADO DE CONTRATAR GARANTIA ESTENDIDA - SENTENÇA QUE SE MANTÉM.

1. Apelação contra sentença de procedência parcial em demanda de rescisão contratual c/c devolução c/c danos morais, movida pela apelada em face da apelante.

2. A autora, ora apelada, alegou que, em 12/06/2007, adquiriu uma lavadora, no valor de R$ 1.199,00, parcelado em quinze vezes, sendo que as parcelas já foram devidamente quitadas, inclusive o seguro de garantia estendida. Que, em 30/10/2008, o produto

começou a apresentar defeitos, porém não

conseguiu lograr êxito ao entrar em contato com a parte ré. Requer a condenação da demandada à devolução do valor pago, bem como ao pagamento de danos morais.

3. Cinge-se a controvérsia recursal - proposta pela parte ré - à responsabilidade do fabricante por vício apresentado pelo produto fora do prazo de garantia contratual por ele oferecida e dentro do prazo de garantia estendida ofertada pelo comerciante. 4. Relação de consumo. Vício do produto. Art. 18, CDC. Responsabilidade solidária entre todos os integrantes da “cadeia de fornecimento”.

5. In casu, há dois prazos distintos: a) O prazo contratual estipulado pelo fabricante, ora recorrente, que sustenta ser de nove meses, sendo certo que alega que o aludido prazo somente se iniciaria após o término do prazo legal, que é de noventa dias, totalizando doze meses. b) O prazo de garantia estendida conferido pelo comerciante, que totaliza doze meses, e se inicia após o decurso do prazo da garantia dada pelo fabricante.

(3)

5.1 Consoante autorizada doutrina sobre o tema “A garantia contratual é voluntária, mas cria no consumidor expectativa de que está ‘garantido’; logo, não necessita usar a garantia legal, daí o prazo da garantia legal começar a correr após o fim da garantia contratual”.

6. Na hipótese versada - embora a fabricante/ré sustente que a sua garantia contratual se iniciava a contar do decurso do prazo da garantia legal - certo é que não trouxe aos autos o instrumento.

7. Logo, não se pode presumir que fossem estes os termos da garantia contratual, mas resta confessado que seu prazo seria de nove meses.

8. Contados nove meses da data da aquisição do produto, tem-se que a partir de então passou a vigorar a garantia estendida contratada pelo comerciante, cujo prazo consubstanciou-se em doze meses, a contar do fim da garantia do fabricante. Significa dizer, portanto, que sequer havia se iniciado o prazo para o exercício do direito potestativo do consumidor de reclamar pelo vício do produto adquirido.

9. Logo, verifica-se que a garantia legal sequer havia se iniciado quando da apresentação do vício no produto, aproximadamente um ano e quatro meses após a compra.

10. Assim, impõe-se a manutenção do julgado, uma vez que a responsabilidade do fabricante configurou-se antes mesmo de iniciado o prazo de garantia legal, afigurando-se solidária. Precedentes.

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A C Ó R D Ã O

VISTOS, relatados e discutidos estes autos da APELAÇÃO

CÍVEL N.º 0005707-08.2009.8.19.0008, em que é APELANTE WHIRPOLL S.A. e

APELADA ISABEL DE OLIVEIRA SANTIAGO.

ACORDAM os Desembargadores que compõem a

Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de

Janeiro, por maioria de votos, em NEGAR provimento ao recurso da ré.

RELATÓRIO

Trata-se de apelação contra sentença de procedência

parcial em demanda de rescisão contratual, cumulada com pedido de

devolução de quantia paga e danos morais, movida pela apelada em

face da apelante.

A autora, ora apelada, alegou, em síntese, que, em

12/06/2007, adquiriu uma lavadora da marca Brastemp, no valor de R$

1.199,00, parcelado em quinze vezes, sendo que as parcelas já foram

devidamente quitadas, inclusive o seguro de garantia estendida. Que,

em 30/10/2008, o produto começou a apresentar defeitos, porém não

conseguiu lograr êxito ao entrar em contato com a parte ré.

(5)

Por fim, requer a condenação da demandada à

devolução do valor de R$1.199,00, bem como ao pagamento de R$

13.950,00, a título de indenização por danos morais, além das demais

despesas processuais.

Audiência preliminar (art. 277 do CPC) às fls. 39/40,

restando frustrada a tentativa de conciliação.

A parte ré ofereceu sua contestação às fls. 41/52,

alegando, em síntese, que o defeito na prestação dos serviços ocorreu

sem o seu conhecimento, o que a torna isenta de qualquer

responsabilidade, máxime porque já decorrido o período de um ano,

considerando os noventas dias de garantia legal e os nove meses de

garantia contratual por ela ofertado. Refuta o pretenso dano moral,

tendo em vista que não restou comprovado nos autos qualquer dano

passível de indenização.

Saneador, às fls. fls. 75/76, determinando a inversão do

ônus da prova.

Sentença de procedência parcial constante de fls.

79/83, julgando procedente em parte o pedido, para condenar a parte

ré a pagar o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a título de danos morais,

acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação, e

correção monetária a partir da aludida decisão.

(6)

Julgou, a SENTENÇA, extinto o processo, sem exame do

mérito, relativamente aos pedidos de rescisão do contrato e devolução

da quantia paga pela autora a título de danos materiais, em razão da

ilegitimidade passiva da parte ré, com fulcro no artigo 267, VI do CPC.

Condenou-se a demandada a pagar às despesas processuais.

Recurso da ré às fls. 75/96, reproduzindo o que foi dito

na contestação.

O recurso é tempestivo, e se encontra regularmente

preparado.

Contrarrazões do réu às fls. 100/102.

É o relatório. Passo a decidir.

Conheço do recurso, já que tempestivo, e por estarem

satisfeitos os demais requisitos de admissibilidade.

Cinge-se à controvérsia recursal à responsabilidade do

fabricante por vício apresentado pelo produto fora do prazo de garantia

contratual por ele oferecida e dentro do prazo de garantia estendida

ofertada pelo comerciante.

(7)

DA SOLIDARIEDADE

De início, cumpre esclarecer que o fundamento da

sentença recorrida foi erigido no conceito de solidariedade do

fabricante, ora ré-recorrente, relativamente à garantia estendida

conferida pelo comerciante pelo fato de a demandada integrar a

chamada cadeia de consumo. Tal argumento poder-se-ia dizer

controvertido, na medida em que a obrigação decorre da lei ou do

contrato.

Na hipótese dos autos, o contrato de garantia

estendida foi celebrado entre o comerciante e o consumidor, e, assim,

não atingiria o fabricante, já que não teria ele feito parte da relação

contratual e, assim, a solidariedade não possuiria fundamento legal.

No entanto, não parece ser este o espírito do CDC ao

dispor, nos termos do parágrafo único do artigo 18º do CDC, que há

solidariedade entre todos os integrantes da cadeia produtiva que

prestam serviços e causam danos ao consumidor.

In casu, cuida-se de vício do produto, de modo que

todos os integrantes da “cadeia de fornecimento” respondem

solidariamente pelo defeito constatado.

(8)

É caso, pois, de aplicação do art. 18 do Código de

Proteção e Defesa do Consumidor, verbis:

Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as

indicações constantes do recipiente, da

embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária respeitada as variações decorrentes de sua

natureza, podendo o consumidor exigir a

substituição das partes viciadas.

Neste sentido, colaciona-se comentário doutrinário da

lavra dos doutrinadores,

Cláudia Lima Marques, Antônio Herman V. Benjamin

e Bruno Miragem. São Paulo: Editora Benjamin, 2006, 2ª ed. p.338) in (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor):

“No sistema do CDC respondem pelo vício do produto todos aqueles que ajudaram a colocá-lo no mercado, desde o fabricante (que elaborou o produto e o rótulo), o distribuidor, ao comerciante (que contratou com o consumidor). A cada um deles é imputada a responsabilidade pela garantia de qualidade-adequação do produto. Parece-nos em um primeiro estudo, uma solidariedade imperfeita, porque tem como fundamento a atividade de produção típica de cada um deles. É como se cada um deles a lei impusesse um dever

específico, respectivamente, de fabricação

(9)

adequados e com as informações devidas. O CDC adota, assim, uma imputação, ou, atribuição objetiva, pois todos são responsáveis solidários, responsáveis, porém, em última análise, por seu descumprimento do dever de qualidade, ao ajudar na introdução do bem viciado no mercado. A

legitimação passiva se amplia com a

responsabilidade solidária e com um dever de qualidade que ultrapassa os limites do vínculo contratual consumidor/fornecedor direto.”

Segue o seguinte exemplo jurisprudencial, in verbis:

0048340-29.2008.8.19.0021 (2009.001.18697) -

APELAÇÃO - DES. MALDONADO DE CARVALHO - Julgamento: 30/04/2009 - PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL - DIREITO DO CONSUMIDOR. COMPRA E VENDA DE APARELHO DE AR CONDICIONADO "PORTÁTIL" PELA INTERNET. FORNECEDOR. SERVIÇO DISPONIBILIZADO EM SITE PRÓPRIO. VÍCIO DE QUALIDADE. DANO MATERIAL. PRAZO DECADENCIAL. ART. 26, CDC. OCORRÊNCIA. DANO MORAL. DANO EXTRA REM. FATO DO PRODUTO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. ART. 27, CDC. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA EMPRESA

FABRICANTE DO PRODUTO E DA EMPRESA

VENDEDORA, PARTÍCIPE DA CADEIA COMERCIAL-PRODUTIVA. DANO MORAL CARACTERIZADO. VERBA REPARATÓRIA. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. Ainda que advenha do vício do produto, na relação de

consumo, o dano moral, quando também

ocorrente, converte-se em fato do produto, submetido, ao inverso do dano material, a prazo prescricional. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.

Ora, se há a chamada solidariedade legal, não vejo

como afastar o fabricante do produto da responsabilidade pelo defeito

ocorrido.

(10)

DOS PRAZOS E GARANTIAS

Por outro lado, como se não bastasse, in casu,

conforme se verá adiante, o fornecedor também esta obrigado a

reparar o dano, pois, ao contrário do que alega, há três prazos distintos

incidentes sobre a quaestio:

a) O prazo contratual, que o fabricante, ora recorrente,

sustenta ser de nove meses, conforme se verifica da contestação (fls.

42v), sendo certo que alega que o aludido prazo somente se iniciaria -

segundo disposição contratual - após o término do prazo legal, que é

de noventa dias, totalizando doze meses.

b) O prazo de garantia estendida que, consoante se

depreende de fls. 16, totaliza doze meses e se inicia após o decurso do

prazo da garantia dada pelo fabricante.

Sobre as garantias contratual e legal, para melhor

elucidar o tema, transcrevo o seguinte entendimento de Cláudia Lima

Marques (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, São Paulo,

RT, 2ª Edição, 2004, p. 687), ipsis litteris:

“A garantia contratual é voluntária, mas cria no consumidor expectativa de que está ‘garantido’; logo, não necessita usar a garantia legal, daí o prazo da garantia legal começa a correr após o fim da garantia contratual – v. neste sentido que só a negativa (inequívoca) do fornecedor em conceder voluntariamente a garantia do consumidor, segundo o art. 26, § 2º, I, faz iniciar o prazo decadencial do art. 26.”

(11)

Assim, o que se tem é a justa expectativa do

consumidor de postergação do início do prazo para o exercício da

“garantia legal”, em virtude da concessão pelo fornecedor da garantia

contratual.

Destaque-se que a terminologia “garantia legal” tem

sido utilizada pela doutrina e jurisprudência pátrias como sinônimo do

prazo decadencial previsto no art. 26 do CDC, podendo, assim, o

consumidor reclamar, no prazo de 90 dias, pelos vícios aparentes

tratando-se de fornecimento de serviço e produtos duráveis.

Assim, a garantia legal é aquela prevista no corpo da

norma protetiva de consumo, acima referida. Tal imposição impera sob

qualquer relação de consumo estabelecida pelas partes (consumidor

final/fornecedor) independentemente de previsão contratual. Esta

condição, por conseguinte, rechaça qualquer disposição prevista pelo

fornecedor, em caráter impositivo ou de adesão (art. 54 da Lei 8.078/90)

que reduza ou condicione a disposição normativa.

Na verdade, o que a lei garante é a adequação e

segurança do produto ou serviço, fixando prazo, que reputa

decadencial, para reclamar contra o descumprimento dessa garantia, o

qual, em se tratando de vício de adequação, está previsto no art. 26 do

CDC, sendo, como se viu, de 90 (noventa) ou 30 (trinta) dias, conforme

seja produto ou serviço durável ou não.

(12)

Vide exemplo jurisprudencial a seguir mencionado, in

verbis:

0162058-35.2006.8.19.0001 - APELACAO

DES. GABRIEL ZEFIRO - Julgamento: 31/03/2011 -

DECIMA TERCEIRA CAMARA CIVEL-APELAÇÕES

CÍVEIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. RITO ORDINÁRIO. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE TELEVISÃO. VÍCIO DO PRODUTO (ARTIGO 18 DO CDC). SENTENÇA DE

PROCEDÊNCIA. PRELIMINAR DE DECADÊNCIA

AFASTADA. EM SE TRATANDO DE VÍCIO DO PRODUTO, APLICA-SE A REGRA PREVISTA NO ARTIGO 26 DO CDC. PRAZO DECADENCIAL DE NOVENTA DIAS, POR SE TRATAR DE PRODUTO DURÁVEL. TENDO EM VISTA A EXISTÊNCIA DE GARANTIA LEGAL E CONTRATUAL, O TERMO A QUO DA CONTAGEM DO PRAZO DECADENCIAL É A DATA DO TÉRMINO DA GARANTIA CONTRATUAL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SOLIDÁRIA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. CABIMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. NEGADO SEGUIMENTO AOS RECURSOS EX VI DO ARTIGO 557 DO CPC. 2188107-43.2011.8.19.0021 - APELACAO DES. MARIA REGINA NOVA ALVES - Julgamento: 08/11/2011 - QUINTA CAMARA CIVEL

APELAÇÃO CÍVEL. RITO SUMÁRIO. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS

MATERIAIS E MORAIS. VÍCIO DO PRODUTO.

GARANTIA DE 12 MESES CONFERIDA PELO

FABRICANTE E AQUISIÇÃO DE GARANTIA ESTENDIDA DE 12 MESES JUNTO AO COMERCIANTE. SENTENÇA DE

EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO.

RECONHECIMENTO DA ILEGITIMIDADE PASSIVA

ARGUIDA PELAS RÉS. RECURSO. REFORMA QUE SE IMPÕE. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 50 DO CDC.

COMPLEMENTARIEDADE. DEFEITO APRESENTADO

DENTRO DO PRAZO DA GARANTIA CONTRATUAL. ADQUIRIDA JUNTO À FORNECEDORA APELADA.

(13)

SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO POR OUTRO SIMILAR OU

DE TECNOLOGIA SUPERIOR. DANO MORAL

CONFIGURADO. RECURSO CONHECIDO AO QUAL SE CONCEDE PROVIMENTO.

Outro não é o entendimento do colendo Superior

Tribunal de Justiça, consoante aresto a seguir colacionado, ipsis litteris:

CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE PELO FATO OU

VÍCIO DO PRODUTO. DISTINÇÃO. DIREITO DE

RECLAMAR. PRAZOS. VÍCIO DE ADEQUAÇÃO. PRAZO DECADENCIAL. DEFEITO DE SEGURANÇA. PRAZO PRESCRICIONAL. GARANTIA LEGAL E PRAZO DE RECLAMAÇÃO. DISTINÇÃO. GARANTIA CONTRATUAL. APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DOS PRAZOS DE RECLAMAÇÃO ATINENTES À GARANTIA LEGAL.

- No sistema do CDC, a responsabilidade pela qualidade biparte-se na exigência de adequação e segurança, segundo o que razoavelmente se pode esperar dos produtos e serviços. Nesse contexto, fixa, de um lado, a responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço, que compreende os defeitos de segurança; e de outro, a responsabilidade por vício do produto ou do serviço, que abrange os vícios por inadequação.

- Observada a classificação utilizada pelo CDC, um produto ou serviço apresentará vício de adequação sempre que não corresponder à legítima expectativa do consumidor quanto à sua utilização ou fruição, ou seja, quando a desconformidade do produto ou do serviço comprometer a sua prestabilidade.Outrossim, um produto ou serviço apresentará defeito de segurança quando, além de não corresponder à expectativa do consumidor, sua utilização ou fruição for capaz de adicionar riscos à sua incolumidade ou de terceiros.- O CDC apresenta duas regras distintas para regular o direito de reclamar, conforme se trate

(14)

Na primeira hipótese, os prazos para reclamação são decadenciais, nos termos do art. 26 do CDC, sendo de 30 (trinta) dias para produto ou serviço não durável e de 90 (noventa) dias para produto ou serviço durável. A pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou serviço vem regulada no art. 27 do CDC, prescrevendo em 05 (cinco) anos.

- A garantia legal é obrigatória, dela não podendo se esquivar o fornecedor. Paralelamente a ela, porém, pode o fornecedor oferecer uma garantia contratual, alargando o prazo ou o alcance da garantia legal. - A lei não fixa expressamente um prazo de garantia legal. O que há é prazo para reclamar contra o descumprimento dessa garantia, o qual, em se tratando de vício de adequação, está previsto no art. 26 do CDC, sendo de 90 (noventa) ou 30 (trinta) dias, conforme seja produto ou serviço durável ou não. - Diferentemente do que ocorre com a garantia legal contra vícios de adequação, cujos prazos de reclamação estão contidos no art. 26 do CDC, a lei não estabelece prazo de reclamação para a

garantia contratual. Nessas condições, uma

interpretação teleológica e sistemática do CDC permite integrar analogicamente a regra relativa à garantia contratual, estendendo-lhe os prazos de reclamação atinentes à garantia legal, ou seja, a partir do término da garantia contratual, o consumidor terá 30 (bens não duráveis) ou 90 (bens duráveis) dias para reclamar por vícios de adequação surgidos no decorrer do período desta garantia. Recurso especial conhecido e provido.

(REsp 967623/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/04/2009, DJe 29/06/2009).

Na hipótese versada - embora a ré sustente que a sua

garantia contratual se iniciava a partir do decurso do prazo da garantia

legal - certo é que não trouxe aos autos o instrumento contratual, a par

da inversão do ônus da prova, deferida às fls. 75/76.

(15)

Logo, não se pode presumir que fossem estes os termos

da garantia contratual, mas resta confessado que seu prazo seria de

nove meses.

Contados nove meses da data da aquisição do

produto, tem-se que a partir de então passou a vigorar a garantia

estendida contratada pelo comerciante, cujo prazo consubstanciou-se

em doze meses, a contar do fim da garantia contratual, como se

depreende do documento de fls. 16, sendo ainda certo que outro não

poderia ser o termo a quo de tal garantia estendida, por força de

expressa disposição normativa, in verbis:

MINISTÉRIO DA FAZENDA

CONSELHO NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS RESOLUÇÃO No 122, DE 2005.

Regulamenta a oferta de seguro de garantia estendida, quando da aquisição de bens ou durante a vigência de sua garantia original de fábrica. A SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS –SUSEP, no uso da atribuição que lhe confere o art. 34, inciso IX, do Decreto no 60.459, de 13 de março de l967, e considerando o inteiro teor do Processo CNSP no 10, de 7 de dezembro de 2004 - na origem, e SUSEP no 15414.002817/2004-60, de 27 de julho de 2004, torna público que o CONSELHO NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS – CNSP, em sessão ordinária realizada em 29 de abril de 2005, na forma do que estabelece o artigo 32, inciso II, do Decreto-lei no 73, de 21 de novembro de 1966, R E S O L V E U:

Art. 1o Regulamentar a oferta de seguro de garantia estendida, quando da aquisição de bens ou durante a vigência de sua garantia original de fábrica.

(16)

seguro de garantia estendida, nos termos da regulamentação em vigor.

Art. 2o O seguro de que trata esta Resolução tem como objetivo fornecer ao segurado a extensão e/ou complementação da garantia original de fábrica, estabelecida no contrato de compra e venda de bens, mediante o pagamento de prêmio. Parágrafo único. Para fins desta Resolução, define-se como:

I – segurado: o consumidor final;

II – estipulante: a empresa responsável pela comercialização ou fabricação dos bens;

III – extensão de garantia: contrato cuja vigência inicia-se após o término da garantia original de fábrica, podendo classificar-se em: (Inciso alterado pela Res. CNSP n. 146/06).

Com efeito, tomando por base o raciocínio traçado

pela doutrina e jurisprudência, verifica-se que a garantia legal sequer

havia se iniciado quando da apresentação do vício no produto,

aproximadamente um ano e quatro meses após a compra.

Significa dizer, portanto, que sequer havia se iniciado o

prazo para o exercício do direito potestativo do consumidor de reclamar

pelo vício do produto adquirido.

Assim, impõe-se a manutenção do julgado, uma vez

que a responsabilidade do fabricante configurou-se antes mesmo de

iniciado o prazo de garantia legal, afigurando-se solidária a

responsabilidade.

(17)

17

Nessa linha de raciocínio, é de se reconhecer a

responsabilidade civil da parte ré, devendo compensar a parte autora

pelos danos morais sofridos, ressaltando-se que, in casu, este se afigura

inequívoco, restando configurados os abalos emocionais e psicológicos

suportados, em decorrência da recalcitrância da parte ré.

Relativamente à verba a ser fixada, é de se dizer que o

valor deve se mostrar razoável e proporcional às angústias e danos

sofridos pela autora, levando-se em conta o caráter

punitivo-pedagógico da condenação, e sem permitir que a mesma gere um

enriquecimento indevido.

Nesse diapasão, tem-se por razoável a fixação da

verba em R$ 2.000,00 (dois mil reais).

Pelo exposto, vota-se no sentido de negar provimento

ao recurso.

Rio de Janeiro, 01 de fevereiro de 2012.

Desembargador MARCELO LIMA BUHATEM

Relator designado

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