Terceira Câmara Cível
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0005707-08.2009.8.19.0008
APELANTE: WHIRPOOL S.A. - BRASTEMP
APELADO: ISABEL DE OLIVEIRA SANTIAGO
Relator designado: Desembargador MARCELO LIMA BUHATEM
DIREITO DO CONSUMIDOR - RESCISÃO CONTRATUAL C/C DEVOLUÇÃO C/C DANOS MORAIS - LAVADORA QUE TERIA APRESENTADO DEFEITO CERCA DE 14 MESES APÓS A COMPRA – ALEGAÇÃO DE QUE O PROBLEMA TERIA OCORRIDO LOGO APÓS O DECURSO DOS PRAZOS DAS GARANTIAS DO FABRICANTE E DA GARANTIA CONTRATUAL E NA VIGÊNCIA DA GARANTIA ESTENDIDA CONTRATADA PELO CONSUMIDOR AO VENDEDOR –
DESPACHO QUE AFASTOU DA RELAÇÃO PROCESSUAL A SOCIEDADE EMPRESÁRIA QUE VENDEU O PRODUTO - PROCESSO QUE PROSSEGUIU SOMENTE EM FACE DO FABRICANTE – GARANTIA ESTENDIDA - SOLIDARIEDADE -
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL - GARANTIA CONTRATUAL DE NOVE MESES QUE NÃO É CONTESTADA - GARANTIA LEGAL DE TRÊS MESES (BEM DURÁVEL) QUE SE CONFUNDE COM O PRAZO DECADENCIAL DE RECLAMAR SOBRE EVENTUAL DEFEITO DO PRODUTO – FORMA DE CONTAGEM DO PRAZO DA CHAMADA GARANTIA LEGAL - ENTENDIMENTO DA MAIORIA NO SENTIDO DE QUE ESTE PRAZO SÓ SE INICIA APÓS TODAS AS DEMAIS GARANTIAS (GARANTIAS CONTRATUAL DE 9 MESES E ESTENDIDA DE 12 MESES) – ENTENDIMENTO DE QUE SEQUER HAVIA INICIADO O PRAZO DA GARANTIA LEGAL QUE SE INICIA, IN CASU, 21 MESES APÓS A AQUISIÇÃO DO BEM DURÁVEL -
REGRAS CONSUMERISTAS PROTETIVAS – ESPÍRITO PRIMEIRO DA LEI – INSTITUTOS QUE DEVEM SER INTERPRETADOS DE MANEIRA A DAR EFETIVIDADE AOS DIREITOS DO MAIS FRACO NA RELAÇÃO CONTRATUAL - CONSUMIDOR QUE TEVE, INCLUSIVE, O CUIDADO DE CONTRATAR GARANTIA ESTENDIDA - SENTENÇA QUE SE MANTÉM.
1. Apelação contra sentença de procedência parcial em demanda de rescisão contratual c/c devolução c/c danos morais, movida pela apelada em face da apelante.
2. A autora, ora apelada, alegou que, em 12/06/2007, adquiriu uma lavadora, no valor de R$ 1.199,00, parcelado em quinze vezes, sendo que as parcelas já foram devidamente quitadas, inclusive o seguro de garantia estendida. Que, em 30/10/2008, o produto
começou a apresentar defeitos, porém não
conseguiu lograr êxito ao entrar em contato com a parte ré. Requer a condenação da demandada à devolução do valor pago, bem como ao pagamento de danos morais.
3. Cinge-se a controvérsia recursal - proposta pela parte ré - à responsabilidade do fabricante por vício apresentado pelo produto fora do prazo de garantia contratual por ele oferecida e dentro do prazo de garantia estendida ofertada pelo comerciante. 4. Relação de consumo. Vício do produto. Art. 18, CDC. Responsabilidade solidária entre todos os integrantes da “cadeia de fornecimento”.
5. In casu, há dois prazos distintos: a) O prazo contratual estipulado pelo fabricante, ora recorrente, que sustenta ser de nove meses, sendo certo que alega que o aludido prazo somente se iniciaria após o término do prazo legal, que é de noventa dias, totalizando doze meses. b) O prazo de garantia estendida conferido pelo comerciante, que totaliza doze meses, e se inicia após o decurso do prazo da garantia dada pelo fabricante.
5.1 Consoante autorizada doutrina sobre o tema “A garantia contratual é voluntária, mas cria no consumidor expectativa de que está ‘garantido’; logo, não necessita usar a garantia legal, daí o prazo da garantia legal começar a correr após o fim da garantia contratual”.
6. Na hipótese versada - embora a fabricante/ré sustente que a sua garantia contratual se iniciava a contar do decurso do prazo da garantia legal - certo é que não trouxe aos autos o instrumento.
7. Logo, não se pode presumir que fossem estes os termos da garantia contratual, mas resta confessado que seu prazo seria de nove meses.
8. Contados nove meses da data da aquisição do produto, tem-se que a partir de então passou a vigorar a garantia estendida contratada pelo comerciante, cujo prazo consubstanciou-se em doze meses, a contar do fim da garantia do fabricante. Significa dizer, portanto, que sequer havia se iniciado o prazo para o exercício do direito potestativo do consumidor de reclamar pelo vício do produto adquirido.
9. Logo, verifica-se que a garantia legal sequer havia se iniciado quando da apresentação do vício no produto, aproximadamente um ano e quatro meses após a compra.
10. Assim, impõe-se a manutenção do julgado, uma vez que a responsabilidade do fabricante configurou-se antes mesmo de iniciado o prazo de garantia legal, afigurando-se solidária. Precedentes.
A C Ó R D Ã O
VISTOS, relatados e discutidos estes autos da APELAÇÃO
CÍVEL N.º 0005707-08.2009.8.19.0008, em que é APELANTE WHIRPOLL S.A. e
APELADA ISABEL DE OLIVEIRA SANTIAGO.
ACORDAM os Desembargadores que compõem a
Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, por maioria de votos, em NEGAR provimento ao recurso da ré.
RELATÓRIO
Trata-se de apelação contra sentença de procedência
parcial em demanda de rescisão contratual, cumulada com pedido de
devolução de quantia paga e danos morais, movida pela apelada em
face da apelante.
A autora, ora apelada, alegou, em síntese, que, em
12/06/2007, adquiriu uma lavadora da marca Brastemp, no valor de R$
1.199,00, parcelado em quinze vezes, sendo que as parcelas já foram
devidamente quitadas, inclusive o seguro de garantia estendida. Que,
em 30/10/2008, o produto começou a apresentar defeitos, porém não
conseguiu lograr êxito ao entrar em contato com a parte ré.
Por fim, requer a condenação da demandada à
devolução do valor de R$1.199,00, bem como ao pagamento de R$
13.950,00, a título de indenização por danos morais, além das demais
despesas processuais.
Audiência preliminar (art. 277 do CPC) às fls. 39/40,
restando frustrada a tentativa de conciliação.
A parte ré ofereceu sua contestação às fls. 41/52,
alegando, em síntese, que o defeito na prestação dos serviços ocorreu
sem o seu conhecimento, o que a torna isenta de qualquer
responsabilidade, máxime porque já decorrido o período de um ano,
considerando os noventas dias de garantia legal e os nove meses de
garantia contratual por ela ofertado. Refuta o pretenso dano moral,
tendo em vista que não restou comprovado nos autos qualquer dano
passível de indenização.
Saneador, às fls. fls. 75/76, determinando a inversão do
ônus da prova.
Sentença de procedência parcial constante de fls.
79/83, julgando procedente em parte o pedido, para condenar a parte
ré a pagar o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a título de danos morais,
acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação, e
correção monetária a partir da aludida decisão.
Julgou, a SENTENÇA, extinto o processo, sem exame do
mérito, relativamente aos pedidos de rescisão do contrato e devolução
da quantia paga pela autora a título de danos materiais, em razão da
ilegitimidade passiva da parte ré, com fulcro no artigo 267, VI do CPC.
Condenou-se a demandada a pagar às despesas processuais.
Recurso da ré às fls. 75/96, reproduzindo o que foi dito
na contestação.
O recurso é tempestivo, e se encontra regularmente
preparado.
Contrarrazões do réu às fls. 100/102.
É o relatório. Passo a decidir.
Conheço do recurso, já que tempestivo, e por estarem
satisfeitos os demais requisitos de admissibilidade.
Cinge-se à controvérsia recursal à responsabilidade do
fabricante por vício apresentado pelo produto fora do prazo de garantia
contratual por ele oferecida e dentro do prazo de garantia estendida
ofertada pelo comerciante.
DA SOLIDARIEDADE
De início, cumpre esclarecer que o fundamento da
sentença recorrida foi erigido no conceito de solidariedade do
fabricante, ora ré-recorrente, relativamente à garantia estendida
conferida pelo comerciante pelo fato de a demandada integrar a
chamada cadeia de consumo. Tal argumento poder-se-ia dizer
controvertido, na medida em que a obrigação decorre da lei ou do
contrato.
Na hipótese dos autos, o contrato de garantia
estendida foi celebrado entre o comerciante e o consumidor, e, assim,
não atingiria o fabricante, já que não teria ele feito parte da relação
contratual e, assim, a solidariedade não possuiria fundamento legal.
No entanto, não parece ser este o espírito do CDC ao
dispor, nos termos do parágrafo único do artigo 18º do CDC, que há
solidariedade entre todos os integrantes da cadeia produtiva que
prestam serviços e causam danos ao consumidor.
In casu, cuida-se de vício do produto, de modo que
todos os integrantes da “cadeia de fornecimento” respondem
solidariamente pelo defeito constatado.
É caso, pois, de aplicação do art. 18 do Código de
Proteção e Defesa do Consumidor, verbis:
Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as
indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária respeitada as variações decorrentes de sua
natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas.
Neste sentido, colaciona-se comentário doutrinário da
lavra dos doutrinadores,
Cláudia Lima Marques, Antônio Herman V. Benjamine Bruno Miragem. São Paulo: Editora Benjamin, 2006, 2ª ed. p.338) in (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor):
“No sistema do CDC respondem pelo vício do produto todos aqueles que ajudaram a colocá-lo no mercado, desde o fabricante (que elaborou o produto e o rótulo), o distribuidor, ao comerciante (que contratou com o consumidor). A cada um deles é imputada a responsabilidade pela garantia de qualidade-adequação do produto. Parece-nos em um primeiro estudo, uma solidariedade imperfeita, porque tem como fundamento a atividade de produção típica de cada um deles. É como se cada um deles a lei impusesse um dever
específico, respectivamente, de fabricação
adequados e com as informações devidas. O CDC adota, assim, uma imputação, ou, atribuição objetiva, pois todos são responsáveis solidários, responsáveis, porém, em última análise, por seu descumprimento do dever de qualidade, ao ajudar na introdução do bem viciado no mercado. A
legitimação passiva se amplia com a
responsabilidade solidária e com um dever de qualidade que ultrapassa os limites do vínculo contratual consumidor/fornecedor direto.”
Segue o seguinte exemplo jurisprudencial, in verbis:
0048340-29.2008.8.19.0021 (2009.001.18697) -
APELAÇÃO - DES. MALDONADO DE CARVALHO - Julgamento: 30/04/2009 - PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL - DIREITO DO CONSUMIDOR. COMPRA E VENDA DE APARELHO DE AR CONDICIONADO "PORTÁTIL" PELA INTERNET. FORNECEDOR. SERVIÇO DISPONIBILIZADO EM SITE PRÓPRIO. VÍCIO DE QUALIDADE. DANO MATERIAL. PRAZO DECADENCIAL. ART. 26, CDC. OCORRÊNCIA. DANO MORAL. DANO EXTRA REM. FATO DO PRODUTO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. ART. 27, CDC. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA EMPRESA
FABRICANTE DO PRODUTO E DA EMPRESA
VENDEDORA, PARTÍCIPE DA CADEIA COMERCIAL-PRODUTIVA. DANO MORAL CARACTERIZADO. VERBA REPARATÓRIA. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. Ainda que advenha do vício do produto, na relação de
consumo, o dano moral, quando também
ocorrente, converte-se em fato do produto, submetido, ao inverso do dano material, a prazo prescricional. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.
Ora, se há a chamada solidariedade legal, não vejo
como afastar o fabricante do produto da responsabilidade pelo defeito
ocorrido.
DOS PRAZOS E GARANTIAS
Por outro lado, como se não bastasse, in casu,
conforme se verá adiante, o fornecedor também esta obrigado a
reparar o dano, pois, ao contrário do que alega, há três prazos distintos
incidentes sobre a quaestio:
a) O prazo contratual, que o fabricante, ora recorrente,
sustenta ser de nove meses, conforme se verifica da contestação (fls.
42v), sendo certo que alega que o aludido prazo somente se iniciaria -
segundo disposição contratual - após o término do prazo legal, que é
de noventa dias, totalizando doze meses.
b) O prazo de garantia estendida que, consoante se
depreende de fls. 16, totaliza doze meses e se inicia após o decurso do
prazo da garantia dada pelo fabricante.
Sobre as garantias contratual e legal, para melhor
elucidar o tema, transcrevo o seguinte entendimento de Cláudia Lima
Marques (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, São Paulo,
RT, 2ª Edição, 2004, p. 687), ipsis litteris:
“A garantia contratual é voluntária, mas cria no consumidor expectativa de que está ‘garantido’; logo, não necessita usar a garantia legal, daí o prazo da garantia legal começa a correr após o fim da garantia contratual – v. neste sentido que só a negativa (inequívoca) do fornecedor em conceder voluntariamente a garantia do consumidor, segundo o art. 26, § 2º, I, faz iniciar o prazo decadencial do art. 26.”
Assim, o que se tem é a justa expectativa do
consumidor de postergação do início do prazo para o exercício da
“garantia legal”, em virtude da concessão pelo fornecedor da garantia
contratual.
Destaque-se que a terminologia “garantia legal” tem
sido utilizada pela doutrina e jurisprudência pátrias como sinônimo do
prazo decadencial previsto no art. 26 do CDC, podendo, assim, o
consumidor reclamar, no prazo de 90 dias, pelos vícios aparentes
tratando-se de fornecimento de serviço e produtos duráveis.
Assim, a garantia legal é aquela prevista no corpo da
norma protetiva de consumo, acima referida. Tal imposição impera sob
qualquer relação de consumo estabelecida pelas partes (consumidor
final/fornecedor) independentemente de previsão contratual. Esta
condição, por conseguinte, rechaça qualquer disposição prevista pelo
fornecedor, em caráter impositivo ou de adesão (art. 54 da Lei 8.078/90)
que reduza ou condicione a disposição normativa.
Na verdade, o que a lei garante é a adequação e
segurança do produto ou serviço, fixando prazo, que reputa
decadencial, para reclamar contra o descumprimento dessa garantia, o
qual, em se tratando de vício de adequação, está previsto no art. 26 do
CDC, sendo, como se viu, de 90 (noventa) ou 30 (trinta) dias, conforme
seja produto ou serviço durável ou não.
Vide exemplo jurisprudencial a seguir mencionado, in
verbis:
0162058-35.2006.8.19.0001 - APELACAO
DES. GABRIEL ZEFIRO - Julgamento: 31/03/2011 -
DECIMA TERCEIRA CAMARA CIVEL-APELAÇÕES
CÍVEIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. RITO ORDINÁRIO. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE TELEVISÃO. VÍCIO DO PRODUTO (ARTIGO 18 DO CDC). SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. PRELIMINAR DE DECADÊNCIA
AFASTADA. EM SE TRATANDO DE VÍCIO DO PRODUTO, APLICA-SE A REGRA PREVISTA NO ARTIGO 26 DO CDC. PRAZO DECADENCIAL DE NOVENTA DIAS, POR SE TRATAR DE PRODUTO DURÁVEL. TENDO EM VISTA A EXISTÊNCIA DE GARANTIA LEGAL E CONTRATUAL, O TERMO A QUO DA CONTAGEM DO PRAZO DECADENCIAL É A DATA DO TÉRMINO DA GARANTIA CONTRATUAL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SOLIDÁRIA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. CABIMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. NEGADO SEGUIMENTO AOS RECURSOS EX VI DO ARTIGO 557 DO CPC. 2188107-43.2011.8.19.0021 - APELACAO DES. MARIA REGINA NOVA ALVES - Julgamento: 08/11/2011 - QUINTA CAMARA CIVEL
APELAÇÃO CÍVEL. RITO SUMÁRIO. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. VÍCIO DO PRODUTO.
GARANTIA DE 12 MESES CONFERIDA PELO
FABRICANTE E AQUISIÇÃO DE GARANTIA ESTENDIDA DE 12 MESES JUNTO AO COMERCIANTE. SENTENÇA DE
EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO.
RECONHECIMENTO DA ILEGITIMIDADE PASSIVA
ARGUIDA PELAS RÉS. RECURSO. REFORMA QUE SE IMPÕE. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 50 DO CDC.
COMPLEMENTARIEDADE. DEFEITO APRESENTADO
DENTRO DO PRAZO DA GARANTIA CONTRATUAL. ADQUIRIDA JUNTO À FORNECEDORA APELADA.
SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO POR OUTRO SIMILAR OU
DE TECNOLOGIA SUPERIOR. DANO MORAL
CONFIGURADO. RECURSO CONHECIDO AO QUAL SE CONCEDE PROVIMENTO.
Outro não é o entendimento do colendo Superior
Tribunal de Justiça, consoante aresto a seguir colacionado, ipsis litteris:
CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE PELO FATO OU
VÍCIO DO PRODUTO. DISTINÇÃO. DIREITO DE
RECLAMAR. PRAZOS. VÍCIO DE ADEQUAÇÃO. PRAZO DECADENCIAL. DEFEITO DE SEGURANÇA. PRAZO PRESCRICIONAL. GARANTIA LEGAL E PRAZO DE RECLAMAÇÃO. DISTINÇÃO. GARANTIA CONTRATUAL. APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DOS PRAZOS DE RECLAMAÇÃO ATINENTES À GARANTIA LEGAL.
- No sistema do CDC, a responsabilidade pela qualidade biparte-se na exigência de adequação e segurança, segundo o que razoavelmente se pode esperar dos produtos e serviços. Nesse contexto, fixa, de um lado, a responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço, que compreende os defeitos de segurança; e de outro, a responsabilidade por vício do produto ou do serviço, que abrange os vícios por inadequação.
- Observada a classificação utilizada pelo CDC, um produto ou serviço apresentará vício de adequação sempre que não corresponder à legítima expectativa do consumidor quanto à sua utilização ou fruição, ou seja, quando a desconformidade do produto ou do serviço comprometer a sua prestabilidade.Outrossim, um produto ou serviço apresentará defeito de segurança quando, além de não corresponder à expectativa do consumidor, sua utilização ou fruição for capaz de adicionar riscos à sua incolumidade ou de terceiros.- O CDC apresenta duas regras distintas para regular o direito de reclamar, conforme se trate
Na primeira hipótese, os prazos para reclamação são decadenciais, nos termos do art. 26 do CDC, sendo de 30 (trinta) dias para produto ou serviço não durável e de 90 (noventa) dias para produto ou serviço durável. A pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou serviço vem regulada no art. 27 do CDC, prescrevendo em 05 (cinco) anos.
- A garantia legal é obrigatória, dela não podendo se esquivar o fornecedor. Paralelamente a ela, porém, pode o fornecedor oferecer uma garantia contratual, alargando o prazo ou o alcance da garantia legal. - A lei não fixa expressamente um prazo de garantia legal. O que há é prazo para reclamar contra o descumprimento dessa garantia, o qual, em se tratando de vício de adequação, está previsto no art. 26 do CDC, sendo de 90 (noventa) ou 30 (trinta) dias, conforme seja produto ou serviço durável ou não. - Diferentemente do que ocorre com a garantia legal contra vícios de adequação, cujos prazos de reclamação estão contidos no art. 26 do CDC, a lei não estabelece prazo de reclamação para a
garantia contratual. Nessas condições, uma
interpretação teleológica e sistemática do CDC permite integrar analogicamente a regra relativa à garantia contratual, estendendo-lhe os prazos de reclamação atinentes à garantia legal, ou seja, a partir do término da garantia contratual, o consumidor terá 30 (bens não duráveis) ou 90 (bens duráveis) dias para reclamar por vícios de adequação surgidos no decorrer do período desta garantia. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 967623/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/04/2009, DJe 29/06/2009).
Na hipótese versada - embora a ré sustente que a sua
garantia contratual se iniciava a partir do decurso do prazo da garantia
legal - certo é que não trouxe aos autos o instrumento contratual, a par
da inversão do ônus da prova, deferida às fls. 75/76.
Logo, não se pode presumir que fossem estes os termos
da garantia contratual, mas resta confessado que seu prazo seria de
nove meses.
Contados nove meses da data da aquisição do
produto, tem-se que a partir de então passou a vigorar a garantia
estendida contratada pelo comerciante, cujo prazo consubstanciou-se
em doze meses, a contar do fim da garantia contratual, como se
depreende do documento de fls. 16, sendo ainda certo que outro não
poderia ser o termo a quo de tal garantia estendida, por força de
expressa disposição normativa, in verbis:
MINISTÉRIO DA FAZENDA
CONSELHO NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS RESOLUÇÃO No 122, DE 2005.
Regulamenta a oferta de seguro de garantia estendida, quando da aquisição de bens ou durante a vigência de sua garantia original de fábrica. A SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS –SUSEP, no uso da atribuição que lhe confere o art. 34, inciso IX, do Decreto no 60.459, de 13 de março de l967, e considerando o inteiro teor do Processo CNSP no 10, de 7 de dezembro de 2004 - na origem, e SUSEP no 15414.002817/2004-60, de 27 de julho de 2004, torna público que o CONSELHO NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS – CNSP, em sessão ordinária realizada em 29 de abril de 2005, na forma do que estabelece o artigo 32, inciso II, do Decreto-lei no 73, de 21 de novembro de 1966, R E S O L V E U:
Art. 1o Regulamentar a oferta de seguro de garantia estendida, quando da aquisição de bens ou durante a vigência de sua garantia original de fábrica.
seguro de garantia estendida, nos termos da regulamentação em vigor.
Art. 2o O seguro de que trata esta Resolução tem como objetivo fornecer ao segurado a extensão e/ou complementação da garantia original de fábrica, estabelecida no contrato de compra e venda de bens, mediante o pagamento de prêmio. Parágrafo único. Para fins desta Resolução, define-se como:
I – segurado: o consumidor final;
II – estipulante: a empresa responsável pela comercialização ou fabricação dos bens;
III – extensão de garantia: contrato cuja vigência inicia-se após o término da garantia original de fábrica, podendo classificar-se em: (Inciso alterado pela Res. CNSP n. 146/06).