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O efeito protetor da corresidência multigeracional para mães adolescentes na América Latina

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1 O efeito protetor da corresidência multigeracional para mães adolescentes na

América Latina

Jordana C. Jesus1, Simone Wajnman2 e Cassio M. Turra3

1 1,2,3

Departamento de Demografia, Cedeplar, UFMG, Brasil

2Trabalho apresentado no VII Congreso de la Asociación LatinoAmericana de Población e XX Encontro

Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Foz do Iguaçu/PR – Brasil, de 17 a 22 de outubro de 2016

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2 Introdução

A literatura sobre famílias postula que o desenvolvimento econômico enfraquece os laços familiares e reduz a prevalência de famílias estendidas (Goode, 1963). No entanto, há cada vez mais evidências de um ressurgimento de famílias multigeracionais ao longo das últimas décadas. Em vários países de renda alta, tem sido observado um aumento no percentual de famílias multigeracionais, em que os filhos e os netos vivem com uma geração mais velha que tende a oferecer suporte às gerações mais jovens (Bryson & Casper, 1999, Takagi & Silverstein, 2006, Pew Center, 2010). Em países com renda média e baixa, há evidências ainda mais fortes de uma associação positiva entre o desenvolvimento socioeconômico e a prevalência de famílias multigeracionais chefiadas pela geração mais velha (Ruglles & Hegeness, 2008). No entanto, há um outro tipo de famílias multigeracionais, composto por mães solteiras que vivem com seus pais, que é geralmente associado ao baixo nível socioeconômico e que também se tornou mais prevalente nos países em estágios menos avançados de desenvolvimento (Kennedy & Ruggles, 2012; Esteve, Lesthaghe & Garcia-romano, 2013). A principal força por trás dessa tendência são os níveis persistentemente altos de fecundidade entre as adolescentes.

Este é o caso de vários países da América Latina (AL), onde as taxas de fecundidade total diminuíram rapidamente nos últimos quarenta anos (em média, de 5,1 em 1970 para 2,2 em 2010), mas as TEF entre mulheres com idades entre 15 a 19 anos mantiveram-se elevadas. Alguns países experimentaram até mesmo aumento no número médio de filhos tidos por adolescentes (Rodriguez-Vignoli, 2003; Wong & Bonifácio, 2009). De acordo com sistema de monitoramento das Metas de Desenvolvimento do Milênio, a fecundidade adolescente na AL é a segunda mais alta no mundo, atrás apenas da África Subsaariana.

Entre os determinantes das elevadas taxas de fecundidade adolescente na AL está o acesso insuficiente à saúde sexual e reprodutiva. As adolescentes se beneficiaram menos dos programas de planejamento familiar em relação às mulheres adultas na região (Yinger et al 1992; Juarez et al 2010; Bearinger et al 2007). Além disso, as jovens com baixos níveis de instrução e baixo status socioeconômico muitas vezes experimentam pouca motivação para controlar sua fecundidade, resultando nessas elevadas taxas de gravidez precoce (Alan Guttmacher Institute, 1996).

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As consequências negativas a longo prazo de gravidez e maternidade na adolescência para as mulheres e seus filhos têm sido muito discutidas (por exemplo, Herman, 1991; Ermisch de 2003, Chevalier & Viitanen, 2003; Urdinola & Ospino, 2014). A lista inclui uma infinidade de efeitos sobre o nível de escolaridade, a inserção no mercado de trabalho, a probabilidade de casar e ter arranjos familiares tradicionais e os riscos relacionados com a saúde. Especificamente no caso dos efeitos prejudiciais em termos educacionais, vale mencionar a maior probabilidade de mães adolescentes deixarem de frequentar a escola por causa de atividades de assistência aos filhos ou a falta de perspectivas de carreira (Novellino, 2011). Por outro lado, algumas pesquisas apontam um efeito positivo sobre a inserção no mercado de trabalho, já que as mães adolescentes enfrentam uma pressão extra para encontrar um emprego para sustentarem financeiramente a si próprias e seus filhos (Urdinola & Uspino, 2014).

Neste artigo examinamos uma dimensão importante da associação entre essas duas principais tendências na América Latina, ou seja, como as famílias multigeracionais estão relacionadas a melhores resultados de educação/emprego entre mães adolescentes. Foi escolhido um conjunto de países da América Latina que têm sido caracterizados com uma fecundidade persistentemente elevada entre as adolescentes desde o início dos anos 1990 (Rodriguez-Vignoli, 2003; Wong & Bonifácio, 2009). A lista inclui Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, México, Peru e Venezuela.

Como se pode observar na Tabela 1, entre os países selecionados existe grande diversidade de indicadores sociodemográficos, como nível de fecundidade, mortalidade, grau de urbanização e renda. O Brasil e a Colômbia apresentavam os menores níveis de fecundidade, enquanto Equador e Peru, os maiores. O Peru apresentou proporcionalmente a maior queda de Mortalidade Infantil no período, entretanto, ainda apresentava o maior indicador dentre os países. Os níveis de urbanização em 2000 variaram entre 60% no Equador e 89% na Argentina. Com relação à pobreza, alguns deles apesentaram piora no indicador, como é o caso da Argentina, Peru e Venezuela. Em 2000, o país que entre eles possuía o menor percentual de população urbana vivendo abaixo da linha de pobreza era o México, com 32,2%.

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4 Tabela 1 – Alguns indicadores sociodemográficos, países selecionados da América

Latina

Fonte: The World Bank Group (2016); Cepal (2006)

Nota: TFT – Taxa de Fecundidade Total; e0 – Expectativa de vida ao nascer, ambos sexos; TMI – Taxa de Mortalidade Infantil; % Pop urbana – percentual da população residente em áreas urbanas; % Pop abaixo linha pobreza (1) – percentual da população abaixo da linha da pobreza nas áreas urbanas

a

informação disponível para a população total

Métodos

Os dados dos censos demográficos dos países escolhidos foram obtidos no IPUMS. Como os anos censitários não são exatamente os mesmos entre os países, foram analisados os dados para dois períodos mais amplos: início de 1990 (1990-1993) e meados de 2000 (2000-2007).

Definimos mães adolescentes (MAs) como sendo as mulheres com idades entre 15 e 19 anos que vivem com pelo menos um filho sobrevivente no domicílio. O objetivo é medir a associação entre a corresidência multigeracional e as atividades de emprego/educação entre MAs, como uma forma de examinar o efeito protetor das avós para estas jovens mães em suas vidas pré-idade adulta. Definimos domicílios multigeracionais como aqueles compostos por pelo menos um filho de uma adolescente, a mãe adolescente e sua mãe, independentemente da presença de outros membros da família. As atividades de emprego/educação são medidas em quatro categorias: MAs que trabalham, estudam, fazem ambas atividades ou nenhuma. Esta última categoria, de adolescentes que não trabalham e nem estudam, tem sido nomeada na literatura de Geração “nem-nem”4.

Foram utilizados modelos de regressão logística multinomial para estimar a probabilidade das MAs ocuparem cada uma destas quatro categorias condicionadas à presença de suas mães nos domicílios, durante os dois períodos de observação

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Ver: LAMEIRAS, 2013; SIQUEIRA, 2015.

% Pop abaixo linha pobreza(1)

1990 2000 1990 2000 1990 2000 1990 2000 1990 2002 Argentina 3,0 2,6 72 74 24 18 87 89 21,2 41,5 Brasil 2,8 2,4 65 70 51 28 74 81 41,8 35,3 Colômbia 3,0 2,4 68 71 29 21 68 72 52,7 50,6 Equador 3,8 3,0 69 73 44 28 55 60 62,1 49,0 México 3,5 2,7 71 74 37 22 71 75 42,1 32,2 Peru 3,8 2,9 66 71 56 30 96 73 33,7 43,1 Venezuela 3,4 2,8 70 72 25 19 84 88 39,8a 48,6a

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1993 e 2000-2007). A fim de evitar efeitos de confundimento, controlamos os modelos pela idade das MAs, o número de filhos das MAs no domicílio, a presença do cônjuge das MAs no domicílio e o status socioeconômico do domicílio, utilizando-se como proxy o nível de escolaridade do responsável.

Resultados

A Figura 1 mostra o percentual de adolescentes que corresidem com pelo menos um filho, nos sete países latino-americanos selecionados. Na década de 1990, a proporção de MAs variou entre 7,3% no México e 11,8% na Venezuela, o que confirma a presença elevada de mães adolescentes na região. Na década seguinte, a proporção de MAs aumentou em todos os países, particularmente no México (43%), Colômbia (25%), Brasil (15%) e Peru (10%). Na Colômbia e no Brasil, a proporção de MAs atingiu valores acima de 13%, refletindo os altos níveis de fecundidade em idades de 15 a 19 destes países.

Figure 1 – Proporção (%) de adolescentes de 15 a 19 que são mães e vivem com pelo menos um filho no domicílio. Países latino-americanos selecionados: 1990-1993 e

2000-2007

Fonte: IPUMS-Internacional

Nota: Os anos censitários são: Argentina (1991 e 2001), Brasil (1991 e 2000), Colômbia (1993 e 2005), Equador (1990 e 2001), México (1990 e 2000), Peru (1993 e 2007) e Venezuela (1990 e 2000).

O interesse é comparar MAs que corresidem com suas mães com aquelas que não o fazem. A Figura 2 indica a proporção de MAs que vivem com pelo menos um filho e que corresidem com suas mães. Não é de surpreender, considerando as baixas idades dessas mães jovens, que cerca de um quinto delas, na década de 1990, e um

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terço, na década de 2000, corresidiam com suas mães. Vale ressaltar o substancial aumento na proporção de mães adolescentes que vivem em domicílios multigeracionais na Argentina, que quase duplicou entre 1991 e 2001 (de 21 para 40%), provavelmente como consequência da crise econômica que atingiu o país até o final da década de 1990. Outros países também observaram um aumento significativo nas proporções ao longo do período de dez anos, incluindo o México (13,7-22%) e Equador (15,9-22,8%).

Figura 2 - Proporção (%) de mães adolescentes que vivem com pelo menos um filho e que corresidem com suas mães. Países latino-americanos selecionados:

1990-1993 e 2000-2007

Fonte: IPUMS-International

Nota: Os anos censitários são: Argentina (1991 e 2001), Brasil (1991 e 2000), Colômbia (1993 e 2005), Equador (1990 e 2001), México (1990 e 2000), Peru (1993 e 2007) e Venezuela (1990 e 2000).

A Figura 3 apresenta a proporção de adolescentes por tipo de domicílio, levando em consideração apenas cônjuge e mãe. No período analisado, em todos os países houve uma diminuição no percentual de MAs que corresidiam apenas com seu cônjuge em detrimento de um aumento no percentual de MAs em domicílios multigeracionais, ou seja, domicílios em que suas mães estão presentes, independente da presença de cônjuge.

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7 Figura 3 – Proporção (%) das adolescentes mães que corresidem com pelo menos

um filho e que corresidem com mãe e/ou cônjuge.Países latino-americanos selecionados: 1990-1993 e 2000-2007

A Tabela 2 resume a distribuição das alternativas de trabalho/estudo entre MAs quando suas mães estão ausentes ou quando corresidem no domicílio. Em todos os países e em ambos os períodos de observação, há uma proporção alarmante de mães jovens fora da escola. Apesar das elevadas taxas atuais de frequência no ensino médio nestes países, a maioria das mães adolescentes não está estudando. No entanto, há uma clara associação positiva entre a presença das mães no domicílio e melhores resultados para as mães adolescentes, incluindo taxas mais altas de frequência escolar e menores taxas de adolescentes não estudam nem trabalham.

Tabela 2: Distribuição (%) de mães adolescentes que vivem com filho por atividades de educação/emprego e a presença de suas mães nos domicílios. Países

latino-americanos selecionados: 1990-1993 e 2000-2007 (continua)

País Atividades de educação/emprego 1990-1993 2000-2007 Mãe ausente no domicílio Mãe presente no domicílio Mãe ausente no domicílio Mãe presente no domicílio Argentina Só trabalha 18.49 26.59 8.16 9.43 Só estuda 4.04 10.95 8.80 24.42 Trabalha e estuda 0.85 3.22 0.83 1.93

Nem trabalha e nem estuda 76.63 59.24 82.21 64.23

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8 Tabela 2: Distribuição (%) de mães adolescentes que vivem com filho por atividades de educação/emprego e a presença de suas mães nos domicílios. Países

latino-americanos selecionados: 1990-1993 e 2000-2007 (fim)

País Atividades de educação/emprego 1990-1993 2000-2007 Mãe ausente no domicílio Mãe presente no domicílio Mãe ausente no domicílio Mãe presente no domicílio Argentina Só trabalha 18.49 26.59 8.16 9.43 Só estuda 4.04 10.95 8.80 24.42 Trabalha e estuda 0.85 3.22 0.83 1.93

Nem trabalha e nem estuda 76.63 59.24 82.21 64.23

Total 100.00 100.00 100.00 100.00

Brasil

Só trabalha 12.93 26.50 14.34 16.89

Só estuda 3.73 9.65 11.43 24.57

Trabalha e estuda 0.69 3.59 2.52 7.28

Nem trabalha e nem estuda 82.65 60.26 71.71 51.26

Total 100.00 100.00 100.00 100.00

Colômbia

Só trabalha 12.22 17.25 9.57 14.02

Só estuda 6.20 15.95 8.66 19.27

Trabalha e estuda 1.02 2.08 1.15 2.33

Nem trabalha e nem estuda 80.56 64.71 80.63 64.38

Total 100.00 100.00 100.00 100.00

Equador

Só trabalha 14.21 16.13 15.82 22.58

Só estuda 8.06 17.15 7.89 12.73

Trabalha e estuda 1.06 2.38 1.13 2.25

Nem trabalha e nem estuda 76.66 64.35 75.16 62.45

Total 100.00 100.00 100.00 100.00

México

Só trabalha 4.93 21.79 11.61 28.18

Só estuda 2.45 5.76 1.96 6.89

Trabalha e estuda 0.22 1.11 0.37 2.12

Nem trabalha e nem estuda 92.40 71.34 86.06 62.80

Total 100.00 100.00 100.00 100.00

Peru

Só trabalha 14.19 16.32 16.94 18.33

Só estuda 6.75 12.66 7.32 14.66

Trabalha e estuda 1.01 1.12 1.57 2.80

Nem trabalha e nem estuda 78.05 69.90 74.16 64.21

Total 100.00 100.00 100.00 100.00

Venezuela

Só trabalha 8.14 13.50 9.40 13.15

Só estuda 6.91 12.76 8.66 19.56

Trabalha e estuda 1.14 2.39 1.27 2.56

Nem trabalha e nem estuda 83.80 71.35 80.66 64.73

Total 100.00 100.00 100.00 100.00 Fonte: IPUMS-International

Nota: Os anos censitários são: Argentina (1991 e 2001), Brasil (1991 e 2000), Colômbia (1993 e 2005), Equador (1990 e 2001), México (1990 e 2000), Peru (1993 e 2007) e Venezuela (1990 e 2000).

Modelamos a probabilidade de MAs realizarem cada uma das quatro alternativas de estudar/trabalhar condicionadas à presença de mãe, cônjuge ou ambos no domicílio, durante os dois períodos de observação (1990-1993 e 2000-2007). Como variáveis de

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controle, incluímos nos modelos a idade da adolescente, o número de filhos e a presença do cônjuge da adolescente e o nível de escolaridade do responsável pelo domicílio. As Figuras 4 a 6 mostram os coeficientes da regressão logística para as variáveis explicativas de presença da mãe, presença do cônjuge ou presença de ambos para cada categoria alternativa da variável de estudo/trabalho, tendo como categoria de referência a situação de “não trabalha e nem estuda”.

Os coeficientes da regressão mostram um padrão de melhorias estatisticamente significativas na probabilidade de estar apenas estudando quando as mães adolescentes têm suas mães vivendo no mesmo domicílio (Figura 4). Em alguns países, como o Brasil, Argentina e México, a presença de mães das MAs também aumenta a probabilidade de fazer as duas coisas (trabalho e estudo), especialmente na década de 2000.

Figura 4: Coeficientes estimados a partir dos modelos logísticos multinomiais para a variável explicativa presença da mãe para cada categoria de atividade de

emprego/educação.

Categoria de referência: nem trabalha e nem estuda

1990-1993 2000-2007

Fonte: IPUMS-International

Nota: Os anos censitários são: Argentina (1991 e 2001), Brasil (1991 e 2000), Colômbia (1993 e 2005), Equador (1990 e 2001), México (1990 e 2000), Peru (1993 e 2007) e Venezuela (1990 e 2000). Todos os coeficientes apresentados possuem p-valor<0,05.

Os coeficientes da regressão para a variável explicativa presença de cônjuge caminham em sentido contrário. A presença do cônjuge da MA diminui as chances de -3,50 -2,50 -1,50 -0,50 0,50 1,50 2,50 3,50 AR BR CO EC ME PE VE

Só estuda Só trabalha Estuda e trabalha

-3,50 -2,50 -1,50 -0,50 0,50 1,50 2,50 3,50 AR BR CO EC ME PE VE

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que ela trabalhe e/ou estude. Nesse caso, podemos dizer que a presença do cônjuge no domicílio esteve associada a maiores chances de que a adolescente pertencesse ao grupo de “nem-nem”, ou seja, maiores chances de que ela nem estudasse e nem trabalhasse. Esse resultado foi observado para todos os países analisados e nos dois períodos estudados, merecendo destaque os coeficientes encontrados para o caso do México, onde a presença do cônjuge atuou de forma ainda mais forte na redução das chances de que a MA estude ou trabalhe.

Figura 5: Coeficientes estimados a partir dos modelos logísticos multinomiais para a variável explicativa presença do cônjuge para cada categoria de atividade de

emprego/educação.

Categoria de referência: nem trabalha e nem estuda

1990-1993 2000-2007

Fonte: IPUMS-International

Nota: Os anos censitários são: Argentina (1991 e 2001), Brasil (1991 e 2000), Colômbia (1993 e 2005), Equador (1990 e 2001), México (1990 e 2000), Peru (1993 e 2007) e Venezuela (1990 e 2000). Todos os coeficientes apresentados possuem p-valor<0,05.

A presença combinada de mãe e cônjuge significam chances maiores de que as adolescentes mães estudem e trabalhem, em relação à categoria de referência nem trabalhar e nem estudar. Esse tipo de arranjo também favorece as demais ocupações, como apenas trabalhar ou apenas estudar.

-3,50 -2,50 -1,50 -0,50 0,50 1,50 2,50 3,50 AR BR CO EC ME PE VE

Só estuda Só trabalha Estuda e trabalha

-3,50 -2,50 -1,50 -0,50 0,50 1,50 2,50 3,50 AR BR CO EC ME PE VE

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Figura 5: Coeficientes estimados a partir dos modelos logísticos multinomiais para a variável explicativa presença simultânea de mãe e cônjuge para cada categoria de

atividade de emprego/educação.

Categoria de referência: nem trabalha e nem estuda

1990-1993 2000-2007

Fonte: IPUMS-International

Nota: Os anos censitários são: Argentina (1991 e 2001), Brasil (1991 e 2000), Colômbia (1993 e 2005), Equador (1990 e 2001), México (1990 e 2000), Peru (1993 e 2007) e Venezuela (1990 e 2000).

Todos os coeficientes apresentados possuem p-valor<0,05.

Discussão

A literatura tem apresentado evidências de um aumento de arranjos multigeracionais na América Latina. Uma das forças motrizes desta mudança é justamente o aumento da proporção de mães solteiras, que continuam vivendo com seus pais depois de terem seus próprios filhos. Essa tendência está associada com níveis persistentemente elevados de fecundidade entre as adolescentes nas últimas duas décadas. Mesmo com as significativas mudanças sociais e econômicas experimentadas na região, como o aumento na urbanização, expansão dos sistemas de ensino básico e maior participação feminina no mercado de trabalho, a fecundidade entre as adolescentes ainda persistiu alta e a idade ao primeiro filho e à primeira união mantiveram-se baixas (ECLAC 2014; Cavenaghi e Rodriguez 2014; Esteve et al 2013).

Um aspecto particularmente importante da gravidez precoce está relacionado à conclusão de níveis mais elevados de ensino. Existe uma maior probabilidade de que

-3,50 -2,50 -1,50 -0,50 0,50 1,50 2,50 3,50 AR BR CO EC ME PE VE

Só estuda Só trabalha Estuda e trabalha

-3,50 -2,50 -1,50 -0,50 0,50 1,50 2,50 3,50 AR BR CO EC ME PE VE

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mães adolescentes deixem a escola por causa de atividades de assistência ao filho(s) ou a falta de perspectivas na carreira. Neste trabalho, demonstrou-se que as adolescentes mães que corresidem com suas próprias mães tem chances mais elevadas de continuarem estudando mesmo com a maternidade. Assim, o aumento da corresidência das mães adolescentes com suas próprias mães amenizou os efeitos deletérios da gravidez precoce na trajetória educacional. As consequências da elevada fecundidade na adolescência na AL poderiam ter sido ainda piores se não houvesse essa expressiva proporção de adolescentes mães em domicílios multigeracionais.

Apesar do efeito protetor que a corresidência multigeracional pode trazer às mães adolescentes, ele também reafirma os diferencias de gênero em relação ao cuidado dos filhos. Os melhores resultados educacionais e de inserção no mercado de trabalho emergem quando as adolescentes criam seus filhos perto de suas mães. As adolescentes que corresidem apenas com seu cônjuge tem maiores chances de não estarem nem estudando e nem trabalhando, certamente devido ao fato de que é sobre elas que recai todo o encargo do trabalho doméstico, limitando assim a sua autonomia e oportunidades futuras. Além disso, deve-se considerar a instabilidade das relações maritais estabelecidas na adolescência, que podem, muitas vezes, acabar desfeitas em poucos anos. O resultado disso são mulheres jovens que deixaram de estudar e também não estavam inseridas no mercado de trabalho, gerando uma situação de possível vulnerabilidade tanto para a jovem quanto para os filhos.

Por fim, ressalta-se novamente a necessidade de revisão dos serviços de saúde sexual e reprodutiva na região. A maternidade precoce, mesmo que amparada pelas avós, ainda gera desafios importantes, como a reprodução intergeracional da pobreza, já que as maiores chances de que gravidez estão entre as adolescentes de famílias de baixo status socioeconômico (Rodríguez, 2013).

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13 REFERÊNCIAS

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