O Ensino e a Investigação na
Região Norte de Portugal
Alberto Amaral1. Uma breve caracterização de Portugal
Em 1974, uma revolução permitiu com êxito derrubar o regime ditatorial que governou Portugal, durante mais de meio século, deixando o País numa situação social, económica e educativa que o colocava na cauda dos países da Europa Ocidental. A implementação subsequente de um regime democrático veio a permitir que Portugal se tornasse um membro da União Europeia em 1986, em conjunto com a Espanha. Portugal tem uma população de 10,4 milhões de habitantes (112,4 habitantes/km2), e os indicadores de bem‐estar mostram um progresso estável
depois da revolução de 1974 (Tabela 1). Tabela 1 – Indicadores de bem‐estar 1980 1990 2002 Esperança de vida média 71,5 74,1 77,3 Mortalidade infantil (mortes/1000 nascimentos) 21,8 21,8 5,0 Médicos/100 000 habitantes 196,9 196,9 324,0 Idade média da mulher com o 1.º nascimento 23,6 24,7 27 Alunos matriculados no ensino superior 106 316* 187 193 400 831 Taxa de escolarização – ensino secundário ‐ 8,4% 13,0% Taxa de escolarização – ensino superior ‐ 6,6% 11,4% Famílias com computadores (%) ‐ 11** 28 Subscritores de telemóveis ‐ 340 845** 8 530 410 * 1985 **1995 Em Portugal, a população activa total (2004, primeiros três trimestres) era de 5.475.800 (2.954100 homens e 2,521,700 mulheres), com uma taxa de actividade igual a 52,2% (58,1% para homens 46,6% para mulheres), em geral com uma baixa taxa de escolarização (Tabela 2):
Tabela 2 – População activa (%) por faixa etária e nível de qualificação
Faixa etária
Ano Nenhuma 1º ciclo básicoa 2nº ciclo básicob 3º ciclo básicoc Secundáriad Ensino Superior 1998 10,1 34,6 19,2 16,7 12,4 7,1 16‐64 2004e 5,7 29,3 19,3 19,3 15,6 10,8 1998 2,2 7,5 29,2 36,2 22,2 2,8 15‐24 2004e 1,0 3,5 20,7 42,5 28,4 3,9 1998 4,7 33,1 24,4 13,8 13,7 10,2 24‐44 2004e 3,2 20,0 26,7 16,9 17,4 15,7 1998 21,9 54,2 6.,2 7,4 4,4 6,0 45‐64 2004e 11,2 54,7 9,2 10,2 6,4 8,3 Fonte: INE, “Inquérito ao Emprego” a – 4 anos de escolarização b – 6 anos c – 9 anos d – 12 anos e – Primeiros três trimestres
diminuição acentuada da taxa de natalidade, como o mostram os dados dos últimos censos (Tabela 3). Estas alterações traduzem‐se por uma diminuição do número potencial de jovens em idade escolar, diminuição que tem continuado nos anos mais recentes. Tabela 3 – População por faixas etárias (Portugal Continental) – 1991 e 2001 1991 2001 Variação (%) Diferença (Absoluta) 6 – 9 anos 494 495 406 428 ‐18 ‐88 067 10 ‐ 11 anos 277 757 213 368 ‐23 ‐64 389 12 ‐ 14 anos 457 871 330 128 ‐28 ‐127 743 15 ‐ 17 anos 484 535 372 523 ‐23 ‐112 012 Total: 6 – 17 anos 1 714 658 1 322 447 ‐23 ‐392 211 População total 9 375 926 9 869 343 5 493 417 Fontes: XIII e XIV censos da população, INE A diminuição da população jovem tem‐se reflectido na diminuição do número de alunos no ensino, o que pode verificar‐se na Tabela 4 em relação ao ensino secundário.
Tabela 4 – Número de alunos no ensino secundário (total de Portugal)
Ano Público Privado Total
1990/91 318 239 29 672 347 911 1991/92 360 924 40 339 401 263 1992/93 367 083 48 778 415 861 1993/94 385 348 52 952 438 300 1994/95 400 102 57 092 457 194 1995/96 416 309 60 912 477 221 1996/97 398 166 60 066 458 232 1997/98 382 261 60 522 442 783 1998/99 362 143 58 862 421 005 1999/00 354 832 62 873 417 705 2000/01 344 135 69 613 413 748 2001/02 326 045 71 487 397 532 2002/03 316 848 68 741 385 589 2003/04* 283 678 62 314 345 992 * Apenas para o Continente Fonte: Ministério da Educação, GIASE, 2005
Em termos de regiões deve acentuar‐se que a Região Norte é aquela que tem a maior percentagem de jovens no intervalo dos 0‐24 anos, como se mostra na Tabela seguinte.
Tabela 5 – Distribuição da população de Portugal por regiões (2008)
0‐14 15‐24 25‐64 >65 Total jovens 0‐24 % total
Norte 584 267 458 624 2 122 116 580 432 3 745 439 39,07% Centro 332 022 265 300 1 297 336 488 626 2 383 284 22,38% Lisboa 450 197 287 503 1 594 978 486 755 2 819 433 27,64% Alentejo 100 686 78 820 403 494 174 069 757 069 6,72% Algarve 66 190 45 742 236 383 81 769 430 084 4,19% Total 1 533 362 1 135 989 5 654 307 1 811 651 10 135 309 100,00% Estatísticas, INE (2009)
Portugal tinha um PIB (preços correntes) igual a 135.078 milhões de Euros (2004) e um PIB per capita (ppp) igual a 16.370 Euros (2004). Infelizmente, o desempenho económico nos anos mais recentes começou a apresentar uma evolução negativa, o que resultou, em parte, das dificuldades crescentes de uma economia baseada em níveis baixos de salários e de conhecimentos num mundo progressivamente mais globalizado (tabelas 6 e 7). Esta estrutura produtiva teve, também, consequências muito negativas sobre o sistema de ensino, uma vez que a possibilidade de obter emprego com um baixo nível de qualificações incentivou a saída precoce dos jovens do sistema de ensino. De facto, nos últimos anos, milhares de jovens completaram os 16 anos (ano limite da escolaridade obrigatória) sem completarem a escolaridade básica, e um número significativo de jovens com menos de 24 anos abandonaram o ensino secundário sem o completar. Tabela 6 – Indicadores económicos, Portugal PIB Real Taxa de variação (%) Diferença para EU (p.p.) Produtividade do trabalho (ppp; EU = 100) Taxa de inflação (%) 2002 0,4 ‐0,6 62,4 3,6 2003 ‐1,1 ‐2,0 59,8 3,3 2004 1,0 ‐1,4 59,0 2,4 2005a 0,8 ‐1,2 58,4 2,7 Fontes: INE, Eurostat, Comissão Europeia, Banco de Portugal, Ministério das Finanças a – Estimativa, Ministério das Finanças, Programa de Estabilidade e Crescimento 2005
Tabela 7 – PIB per capita
PIB per capita, preços correntes PIB per capita, preços correntes
(in ppp)
EUR UE15 = 100 EUR UE15 = 100
1998 9 907 48,7 13 922 68,5 1999 10 620 49,8 14 979 70,2 2000 11 300 49,9 15 953 70,4 2001 11 931 51,1 16 481 70,6 2002 12 495 51,9 17 048 70,9 2003 12 536 51,6 16 727 68,8 Fonte: Comissão Europeia, base de dados AMECO, Abril 2004; ppp – paridade do poder de compra
Apesar dos progressos verificados nos últimos anos, continua a haver um número significativo de jovens que todos os anos entram em segmentos do mercado de trabalho que empregam trabalhadores com pouca formação, os quais dificilmente regressam ao sistema de ensino para completar a escolarização secundária, em parte porque a educação disponível visa, no essencial, criar um caminho de acesso para o ensino superior, havendo menos de 30% de cursos com carácter vocacional ou tecnológico1. A Tabela 8 mostra que, em 2001, o problema da
taxa de abandono no ensino básico2 tinha deixado de ser significativo, mas as saídas
antecipadas3 e as saídas precoces4 ainda eram um problema grave.
Tabela 8 – Taxas de abandono, saídas antecipadas e saídas precoces (%) 1991 2001 Taxas de abandono 13 3 Saídas antecipadas 54 25 Saídas precoces 64 45 Fonte: INE, Censo Geral da População, 1991 e 2001
1 Este problema foi alvo de algumas medidas recentes do governo com a criação do chamado programa de “Últimas oportunidades” que visa dar uma nova oportunidade aos alunos que abandonaram o sistema de ensino sem terem completado a sua formação. 2 Taxa de abandono (%) – alunos na idade de ensino obrigatório (6‐15 anos) que deixam o sistema educativo sem completarem a escolaridade básica (9 years), por cada 100 pessoas nessa faixa de idades. 3 Saída antecipada (%) – alunos na faixa etária dos 18‐24 anos que deixaram o sistema educativo sem completarem a escolaridade obrigatória, por cada 100 pessoas nessa faixa de idades. 4 Saída precoce (%) – alunos na faixa etária dos 18‐24 anos que deixaram o sistema educativo sem completarem o ensino secundário (12 anos), por cada 100 pessoas nessa faixa de idades.
No entanto, apesar de todos os esforços, as taxas de retenção5 têm mantido um
valor demasiado elevado, sendo superior ou próxima de 35% na década de 1995 a 2004 (Tabela 9), apenas se notando algum abrandamento nos últimos anos. A maior percentagem de retenção e desistências verifica‐se no fim de cada ciclo e, em especial, no 10º ano que marca a transição da educação básica para a educação secundária, e no 12º ano que marca a conclusão do ensino secundário. Um dos mais importantes aspectos negativos do sistema educativo português é a elevada taxa de retenção do ensino secundário, em que Portugal continua na cauda da Europa. Tabela 9 – Evolução das taxas de retenção e desistência 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 Ensino básico 15,5 13,9 13,3 12,7 13,0 14,0 13,2 12,2 12,2 11,4 10,8 8,3 Ens. secundário 36,6 36,0 36,7 37,8 40,2 38,3 34,2 34,7 33,0 31,7 25,9 22,4 Fonte: Ministério da Educação, GIASE, Estatísticas da Educação A deterioração da situação económica reflectiu‐se negativamente sobre a taxa de desemprego (Tabela 10) e alguns sectores tradicionais da actividade económica, como as indústrias têxtil e do calçado, foram fortemente afectadas pela competição crescente das economias emergentes. Como está referido em vários documentos da OCDE, a falta de qualificações da população é um dos factores que mais contribui para a baixa produtividade quando comparada com outros países da OCDE. Tabela 10 – Indicadores do mercado de trabalho 2003 2004 2005 Taxas de variação homóloga (%) Salários implícitos em contratos colectivos 2,9 2,9 2,7 Índice do custo de trabalho1 3,0 1,6 3,5 Emprego total ‐0,4 0,1 ‐0,3 Taxa de desemprego (%)2 6,3 6,7 7,5 Taxa de actividade (15‐64 anos) (%)3 72,8 72,9 73,1 Fontes: INE, Ministério do Trabalho e Segurança Social e Ministério das Finanças 1 – Sem a Administração Pública; 2 – População desempregada/População activa; 3 – População activa (15‐64 anos)/População total (15‐64 anos) 5 Em Portugal, a “taxa de retenção” tem um significado muito diferente do utilizado na literatura internacional, por exemplo nos países anglo‐saxónicos. Em Portugal “retenção” tem uma conotação negativa, por estar associada ao aluno que fica retido, que não passa de ano, em geral por não atingir os mínimos para passar. Nos países anglo‐saxónicos “retenção” tem uma conotação positiva, ligada à manutenção do aluno numa escola ou sistema, evitando que ele saia.
Podemos dizer que passadas mais de três décadas sobre a revolução de 1974 Portugal está, ainda, a pagar um preço elevado pelo longo período de ditadura. Apesar dos esforços desenvolvidos nas últimas décadas continua a verificar‐se uma fraca taxa de escolarização geral da população (Tabela 11) que se reflecte na falta de flexibilidade e de adaptação da força de trabalho. Portugal apresenta uma percentagem da população dos 25‐64 anos tendo pelo menos educação secundária que é cerca de 1/3 média dos países da OCDE.
O facto de Portugal ter, durante décadas, prosseguido uma estratégia de desenvolvimento baseada em mão‐de‐obra intensiva com baixa qualificação e baixos salários facilitava a obtenção de emprego sem necessidade de qualificação e contribuiu para manter esta situação de baixa taxa de escolarização pela qual o Pais está a pagar um preço elevado. Tabela 11 – Qualificação académica da população (25‐64 anos), 2001 Sem qualificação académica 11% 4 anos de escolarização 36% 6 anos de escolarização 15% 9 anos de escolarização 13% Ensino secundário (12 anos de escolarização) 13% Ensino terciário 11% Outros 1% Fonte: Censo da população, 2001, INE
No entanto, deve reconhecer‐se que os esforços para resolver esta situação criaram uma dualidade na sociedade portuguesa. Assim, se a escolarização média da população 25‐64 anos é muito baixa, a escolarização dos jovens na faixa etária 20‐25 anos e com formação secundária está entre as da Holanda e da Alemanha e é superior à de países como a Noruega, Bélgica, Dinamarca, Canadá, Austrália, UK, etc. O aumento da qualificação da população jovem de Portugal resultou do desenvolvimento muito rápido do ensino superior que cresceu de um sistema elitista com cerca de 30.000 alunos antes da revolução de 1974 para mais de 400.000 alunos no final do século anterior e permitiu atingir taxas de participação aceitáveis para um país Europeu.
Este crescimento muito rápido trouxe problemas, não só ao nível da qualidade mas, também, em termos do desenvolvimento de actividades de R&D para acompanhar o desenvolvimento do ensino superior. E a dualidade anteriormente referida manifesta‐se, igualmente, quando se confrontam os níveis ainda modestos de investimento em R&D com os ritmos do seu crescimento. Por exemplo, entre 1995 e 2000, a despesa em R&D cresceu a 10% ao ano em Portugal e apenas a 3% ao ano na União Europeia. Também em termos de publicações científicas, Portugal passou de 248 publicações por milhão de habitantes em 1999 para 406 publicações por milhão de habitantes, o que corresponde a um crescimento médio anual de 16%, a comparar com a média Europeia de apenas 3%.
Esta dualidade não significa que os problemas criados pelo longo período de ditadura estejam em vias de resolução, uma vez que, apesar de todos os progressos, ainda se verificam problemas estruturais que urge resolver. Por exemplo, as taxas de retenção no ensino básico ainda estão uma ordem de grandeza acima dos valores médios Europeus (Ferreira e Rosa, 2003) e as taxas de abandono do 10º ao 12º ano de escolarização são, ainda, demasiado elevadas, mantendo‐se a coexistência de uma população jovem bem escolarizada com uma população activa (20‐34 anos) com uma significativa falta de qualificações.
Tabela 12 – Taxas de abandono no ensino secundário (2005) em países Europeus UE15 B DK D* EL E F IRL I L NL A Pt FIN S UK
Total 17% 13.% 9% 12.% 13% 31%b 13% 12%p 22% 13%p 14% 9% 39% 9%p 9%p 14%p
Mulheres 15% 11% 8% 12% 9% 25%b 11% 10%p 18% 13%p 11% 9% 30% 7%p 8%p 13%p
Homens 19% 15% 9% 12% 18% 36%b 15% 15%p 26% 13%p 16% 10% 47% 11%p 9%p 15%p
Fonte: EUROSTAT (http://europa.eu.int/comm/eurostat). B – quebra na série p – valor provisório
Portugal caracteriza‐se, ainda, por uma excessiva centralização administrativa, sendo um dos raros países Europeus onde não existem regiões administrativas com poder real. Uma das consequências deste facto é a concentração do poder de decisão e dos recursos na capital, com evidente prejuízo das regiões em termos de recursos, quer para o ensino, quer para a investigação, matéria que iremos desenvolver de seguida.
2. O ensino no norte de Portugal
Vimos que o sistema de ensino em Portugal apresenta, ainda, sérios problemas e, apesar de todos os esforços, os indicadores educativos colocam o país numa situação pouco invejável em comparações internacionais, nomeadamente dentro da Europa. Infelizmente, verifica‐se que quando se comparam as regiões6 de Portugal, a
Região Norte é a que mostra os indicadores mais desfavoráveis, nela se concentrando grande parte de uma indústria baseada em mão‐de‐obra intensiva, com baixas exigências de qualificações e baixos salários.
A educação pré‐escolar tem sido utilizada como um instrumento para diminuir as desigualdades sociais o que justifica os esforços de sucessivos governos para aumentar a sua frequência (Tabela 13). A Tabela seguinte mostra a distribuição por regiões, mostrando que a Região Norte apresenta o maior número de alunos, como seria de esperar devido à concentração de população jovem, sendo de destacar a posição relativamente modesta da Região de Lisboa. Tabela 13 – Taxa de participação no pré‐escolar 1985/86 1990/91 1995/96 2003/04 30 51 58 77 Fonte: Ministério da Educação, GIASE, Estatísticas da Educação. Tabela 14 – Distribuição de idades dos alunos do pré‐escolar, 2003‐04
3 years 4 years 5 years ≥ 6 years Total
North 15 155 22 685 25 106 378 63 324 Centre 11 249 14 277 14 669 410 40 605 Lisbon 9 955 14 432 14 330 346 39 063 Alentejo 2 990 3 867 4 030 215 11 102 Algarve 1 437 2 390 2 363 77 6 267 Azores 917 1 804 2 828 387 5 936 Madeira 1 748 2 534 3 121 158 7 561 Total 43 451 61 989 66 447 1 971 173 858 Fonte: Ministério da Educação, GIASE, Estatísticas de Educação. 6 Relembra‐se que em Portugal as regiões não têm qualquer tipo de autonomia, estando o poder político e administrativo muito concentrado na capital, Lisboa.
A Tabela 15 mostra que os indicadores para a Região Norte são claramente os piores de Portugal continental, o que explica as dificuldades presentes de desenvolvimento da região. Em particular, nota‐se a grande diferença de todas as regiões para a Região de Lisboa, consequência de uma estrutura político‐ administrativa que concentra poderes e recursos na capital.
Tabela 15 – Indicadores educativos de Portugal continental e regiões
Região não superior Alunos no
Alunos no ensino superior Taxa de escolarização no superior Taxa de escolarização no secundário Retenções e desistências Licenciados Norte 652 211 116 950 9,9 23,2 40,6 17 278 Centro 390 859 81 483 10,2 25,6 34,5 16 154 Lisboa 449 560 145 269 20,1 40,8 30,0 21 126 Alentejo 118 561 20 060 9,8 26,1 39,0 4 429 Algarve 71 817 10 615 13,9 32,6 37,3 2 040 Fonte: Ministério da Educação, GIASE, Estatísticas de Educação.
Nas Tabelas 16 e 17 apresentam‐se os dados estatísticos para o ensino não superior e para as diversas regiões de Portugal continental. Como era de esperar, a Região Norte é a que apresenta frequências e número de conclusões mais elevados, devido à sua maior população em idade escolar, embora esse facto não deva fazer esquecer que uma análise mais fina, em termos de indicadores educativos, acaba por colocar a região na cauda do país. Tabela 16 – Frequência e conclusões do ensino básico (1.ª a 9.ª classes), 2006/07 (Continente) Frequência Região
1.º ciclo 2.º ciclo 3.º ciclo Total Conclusões
Norte 183 781 95 924 151 636 430 841 42 223 Centro 102 837 53 010 85 273 241 120 26 552 Lisboa 131 116 65 407 98 414 294 937 26 418 Alentejo 31 829 15 968 24 068 72 765 7 317 Algarve 20 268 10 390 15 687 46 345 4 433 Total 469 831 240 199 375 978 1 086 008 106 943 Fonte: Ministério da Educação, GIASE, Estatísticas de Educação.
2006/07 (Continente) Frequência Região Ensino regular Ensino artístico regular Cursos
profissionais Cursos CEF recorrente Ensino
Ensino artístico recorrente Total Conclusões Norte 84 594 729 17 192 1 016 19 391 96 123 113 20 553 Centro 54 148 11 449 1 398 13 280 80 275 13 624 Lisboa 62 087 1 109 10 788 1 092 20 493 95 95 796 14 904 Alentejo 14 207 4 380 363 4 136 23 086 4 284 Algarve 10 153 657 1 029 2 820 14 659 3 051 Total 225 189 1 838 44 466 4 898 60 120 192 336 929 56 416 Fonte: Ministério da Educação, GIASE, Estatísticas de Educação.
Analisa‐se, em seguida, a situação no ensino superior, baseada nas vagas de acesso ao ensino superior existentes em cada região (NUTS II) e na sua distribuição por unidades populacionais (vagas por 1.000 habitantes). A Figura 1 apresenta a distribuição global de vagas (público e privado, universidades e politécnicos) mostrando que a média do país é de 9,09 vagas por 1.000 habitantes e que a Região de Lisboa e Vale do Tejo está claramente acima dessa média (11,84), com todas as outras regiões abaixo da média, em particular as regiões Norte e Centro, havendo ainda pequenos valores para as ilhas dos Açores e da Madeira, como seria de esperar devido ao estabelecimento tardio do ensino superior nas ilhas. Figura 1 – Distribuição regional das vagas totais para acesso (2005‐06) Fonte: OCES, 2005 5,18 6,88 7,22 11,84 7,38 2,52 2,97 8,09 0 2 4 6 8 10 12 V acancies/1,000 inhabitants
Alentejo Algarve Centre Lisbon
VT North Azores Madeira Total
As Figuras 2 e 3 apresentam a distribuição regional das vagas, mas separando as instituições públicas das privadas. Pode verificar‐se (Figura 2) que para o sector público a Região Centro é a mais favorecida, seguida de perto pela Região de Lisboa e Vale do Tejo, ambas acima da média nacional. O Alentejo e o Algarve estão ligeiramente abaixo da média nacional, enquanto que a Região Norte está claramente abaixo da média nacional.
Figura 2 – Distribuição regional das vagas do ensino público para acesso (2005‐06)
Fonte: OCES, 2005
Quanto ao sector privado (Figura 3) verifica‐se que a distribuição regional é muito menos equilibrada, havendo duas regiões, Lisboa e Vale do Tejo e Norte, acima da média, marcadamente a primeira região e apenas marginalmente a segunda. Na verdade, o indicador para Lisboa e Vale do Tejo quase duplica a média nacional (183%), enquanto que a Região Norte está apenas 7% acima da média nacional. Todos as outras regiões estão substancialmente abaixo da média nacional. Pode, portanto, concluir‐se que a posição muito favorável da Região de Lisboa e Vale do Tejo se deve parcialmente à distribuição da oferta do ensino superior público mas, principalmente, à distribuição muito desequilibrada do sector privado que concentra uma grande proporção das suas vagas nesta região. É também interessante notar a presença quase negligenciável do sector privado no Alentejo e na Ilha da Madeira, estando totalmente ausente do arquipélago dos Açores. 4,37 4,39 5,72 5,40 3,61 2,52 2,26 4,58 0 1 2 3 4 5 6 V acancies/1,000 inhabitants
Alentejo Algarve Centre Lisbon VT
North Azores Madeira Total
Figura 3 – Distribuição regional das vagas do ensino privado (2005‐06).
Fonte: OCES, 2005
Faz‐se, em seguida, uma separação entre as vagas do ensino universitário e as vagas do ensino politécnico. Pode verificar‐se que o ensino politécnico (Figura 5) está distribuído no continente de forma mais homogénea do que o universitário (Figura 4), com apenas a região centro ligeiramente acima da média. Pelo contrário, o ensino universitário está distribuído de forma menos homogénea, favorecendo claramente a Região de Lisboa e Vale do Tejo, que apresenta um indicador cerca do dobro da média nacional. Figura 4 – Distribuição regional das vagas do universitário para acesso (2005‐06) Fonte: OCES, 2005 0,81 2,44 1,50 3,77 0,00 0,71 3,51 0 1 2 3 4 5 6 V acancies/1,000 inhabitants
Alentejo Algarve Centre Lisbon
VT
North Azores Madeira Total
Region 2,05 3,68 3,42 8,63 4,14 2,13 2,13 4,86 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 V acancies/1,000 inhabitants
Alentejo Algarve Centre Lisbon VT
North Azores Madeira Total
Pode, portanto, concluir‐se que o desequilíbrio da distribuição da oferta do ensino superior em Portugal é, no essencial, devido ao desequilíbrio da distribuição do ensino privado em relação ao público, e do ensino universitário em comparação com o ensino politécnico. Figura 5 – Distribuição regional das vagas do politécnico para acesso (2005‐06) Fonte: OCES, 2005 Quando se diminui a dimensão da unidade de análise, do nível da região para o nível do distrito, (Figura 6), torna‐se evidente que a maioria da oferta do ensino superior se concentra em torno das duas áreas metropolitanas mais importantes de Lisboa (32,7%) e do Porto (20,1%), sendo a terceira Coimbra (7,6%). Quando se considera apenas o sector público, Lisboa corresponde a 25,4% do total, o Porto a 14,2% e Coimbra a 10,7%, ou seja, os dois distritos onde se localizam as duas cidades mais importantes correspondem a 39,6% do total do ensino superior público. Porém, quando se considera apenas o sector privado, então Lisboa corresponde a 42,3%, o Porto a 27,8% e Coimbra corresponde a apenas 3,6%, i.e., os dois distritos onde se localizam as duas cidades principais correspondem a 70,1% do total das vagas do sector privado. Portanto, os dados disponíveis mostram que as instituições de ensino superior privado estão predominantemente localizadas nas áreas mais populosas de Lisboa e do Porto, onde a sua oferta excede a oferta pública. O elemento de lucro presente na lógica de Mercado explica a razão pela qual as instituições privadas evitam as regiões menos desenvolvidas e as regiões de menor densidade populacional (Correia, Amaral e Magalhães 2002). 3,13 3,20 3,79 3,21 3,25 0,39 0,84 3,23 0 1 2 3 4 V acancies/1,000 inhabitants
Alentejo Algarve Centre Lisbon
VT
North Azores Madeira Total
Figura 6 – Distribuição a nível de distrito (público, privado e total) (2005‐06)
Fonte: OCES, 2005
Até à revolução de 1974, uma das manifestações do carácter elitista do ensino superior Português consistia na sua concentração regional extremamente elevada. Até aos princípio dos anos 70 não havia universidades fora das três cidades principais (Lisboa, Porto e Coimbra). A expansão regional do sistema ocorreu de forma inicialmente lenta, antes de se tornar numa característica importante do sistema a partir dos meados dos anos 80. O elemento principal da diversificação regional foi o desenvolvimento do sector politécnico público. Os politécnicos públicos desde a sua criação tiveram sempre uma forte orientação regional e foram sempre vistos como o instrumento principal para levar o ensino superior aos locais mais remotos do país. Ao contrário das expectativas de muitos observadores, o sector privado não contribuiu de forma muito significativa para a diversificação regional do sistema. As instituições privadas investiram prioritariamente nas áreas urbanas de Lisboa e do Porto, quase ignorando algumas áreas urbanas importantes, 0 5 000 10 000 15 000 20 000 25 000 30 000
Aveiro Beja Braga Bragança
Castelo Branco
Coimbra Évora Faro
Guarda Leiria Lisboa Portalegre Porto R. A. Açores R. A. Madeira Santarém Setúbal Viana Castelo
Vila Real Viseu
District
V
acancies
em particular na Região Centro. Por estes motivos, a distribuição regional da rede do ensino superior é mais homogénea no sector público do que no sector privado (Tabela 18). Tabela 18 – Distribuição dos alunos matriculados por região (%) 2002 Região 1967 1991
Público Privado Total
População 15–24 anos Norte 18,5 26,8 27,0 37,6 30,0 38 Centro 24,6 18,0 25,7 7,7 20,6 22 Lisboa 56,9 49,6 36,0 52,3 40,6 24 Sul 4,2 9,2 1,9 7,1 11 Ilhas 1,4 2,1 0,4 1,7 6 Fonte: INE – vários anos; DGES: vários anos Finalmente, deve notar‐se que a expansão do ensino superior – em particular a expansão da rede pública – contribuiu para diminuir a mobilidade dos alunos, na medida em que a criação de novas instituições numa região veio atrair um número crescente de candidatos a viver nessa região. Nos meados dos anos 90 a proporção do número total de candidatos e de candidatos com êxito, provenientes da mesma região para as instituições localizadas nas duas áreas mais populosas (Lisboa e Porto), onde se localizam as escolas maiores e de maior prestígio, era superior a 60%. Pelo contrário, as regiões com menor população ainda estavam a preencher metade das suas vagas com candidatos de fora da região, embora essa proporção estivesse, em geral, a diminuir. Portanto, a distância instituição é um dos principais determinantes das preferências dos estudantes. Quando uma nova instituição é criada, ela torna‐se rapidamente a primeira preferência para um número significativo de candidatos, em vez das universidades mais tradicionais (Coimbra, Lisboa e Porto). Como só os politécnicos podem fixar uma quota regional para acesso, pode concluir‐se que a regionalização da procura resulta, fundamentalmente, dos custos associados com a deslocação para uma instituição longe da residência habitual.
Finalmente, as Tabelas 19 e 20 apresentam alguns dados estatísticos que mostram a forma como evoluíram as vagas nos sectores público e privado, sendo de notar a diminuição do sector privado e o crescimento do sector público, mas sem que tenha havido alterações dramáticas nas proporções de vagas entre regiões.
Tabela 19 – Evolução do número de vagas públicas por região Nuts II 1997 ‐ 98 1998 ‐ 99 1999 ‐ 00 2000 ‐ 01 2001 ‐ 02 2002 ‐ 03 2003 ‐ 04 2004 ‐ 05 2005 ‐ 06 Alentejo 3 169 3 539 3 894 3 783 3 827 3 703 3 392 3 392 3 392 Algarve 1 815 1 800 1 885 1 819 1 810 1 790 1 672 1 697 1 755 Centro 11 270 11 994 12 690 13 513 14 032 14 305 13 307 13 366 13 435 Lisboa VT 12 445 13 244 13 896 14 625 14 978 15 209 14 250 14 408 14 376 Norte 11 015 11 677 12 683 13 092 13 588 13 596 12 741 13 056 13 311 Azores 660 640 665 710 725 685 630 685 610 Madeira 330 399 530 500 395 452 416 534 554 Total 40 704 43 293 46 243 48 042 49 355 49 740 46 408 47 138 47 433 Fonte: OCES, 2005 Tabela 20 – Evolução do número de vagas privadas por região Nuts II 1997 ‐ 98 1998 ‐ 99 1999 ‐ 00 2000 ‐ 01 2001 ‐ 02 2002 ‐ 03 2003 ‐ 04 2004 ‐ 05 2005 ‐ 06 Alentejo 1 550 1 490 1 500 630 685 650 642 607 632 Algarve 600 575 595 515 535 595 648 740 966 Centro 4 865 5 115 5 295 4 220 4 090 3 540 3 459 3 184 3 511 Lisboa VT 22 024 22 494 22 304 17 979 18 165 17 975 16 729 16 590 17 144 Norte 15 726 16 111 15 483 12 604 12 300 12 790 12 410 12 854 13 912 Azores 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Madeira 170 170 135 140 140 140 134 155 173 Total 44 935 45 955 45 312 36 088 35 915 35 690 34 022 34 130 36 338 Fonte: OCES, 2005 3. A investigação
O que se verifica no ensino é, de certo modo, reproduzido na investigação, sector em que Portugal também tinha um atraso evidente na altura da revolução de Abril de 1974. A Tabela 21 apresenta a evolução da despesa total em I&D a preços correntes entre 1982 e 2003, mostrando o progresso conseguido. A Tabela 22 apresenta a despesa em I&D a preços correntes por sector de actividade, mostrando que as empresas contribuem menos do que seria de esperar, sendo o Estado responsável por cerca de 70% da despesa total. Na verdade, o ensino superior tem a maior contribuição para as despesas em I&D e, considerando que a maioria das Instituições Privadas sem Fins Lucrativos (IPSFL) estão associadas a universidades, então o sector do ensino superior representa cerca de 50% da despesa total em I&D.
Tabela 21 – Despesa em I&D a preços correntes e em % do PIB Ano 1.000 € DI&D/PIB (%) 1982 32 627,4 0,28 1984 56 402,1 0,32 1986 99 099,2 0,36 1988 149 194,4 0,39 1990 259 535,5 0,48 1992 401 022,5 0,58 1995 460 037,1 0,54 1997 576 882,9 0,59 1999 814 746,7 0,71 2001 1 038 431,7 0,80 2003 1 019 581,0 0,74 Fonte: GPEARI, Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional Tabela 22 –Despesa em I&D para cada sector, preços correntes (1982 ‐2003) 1982 1990 1995 1997 1999 2001 2003 Sector 1.000 € % 1.000 € % 1.000 € % 1.000 € % 1.000 € % 1.000 € % 1.000 € % Indústria 10 193,4 31 67 764,7 26 96 228,0 21 129 565,7 22 184 797,1 23 330 310,7 32 338 038,1 33 Estado 14 225,2 44 66 041,8 25 124 313,8 27 139 704,1 24 227 672,2 28 215 518,9 21 172 045,2 17 Ensino Superior 6 722,3 21 93 514,6 36 170 428,0 43 230 988,1 40 314 363,7 39 380 648,5 37 391 797,4 38 IPSFL* 1 486,4 5 32 214,4 12 69 067,3 13 76 625,1 13 87 913,8 11 111 953,7 11 117 700,4 12 Total 32 627,4 100 259 535,5 100 460 037,1 100 576 882,9 100 814 746,7 100 1 038 431,7 100 1 019 581,0 100 * Instituições Privadas sem Fins Lucrativos Fonte: GPEARI, Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional A Tabela 23 apresenta os principais indicadores das unidades de investigação de Portugal em 1996, 1999 e 2003, os quais permitem verificar a melhoria muito significativa que se foi verificando ao longo dos anos, reflectindo o efeito de um modelo estável de financiamento sobre o sistema de I&D. É importante salientar que, entre 1999 e 2003, o número de investigadores doutorados aumentou a uma média anual de 19%, o que é notável e permitiu reforçar as unidades de investigação, aumentando e consolidando a sua dimensão, para além de ter permitido, igualmente, um aumento muito significativo do número de unidades.
Tabela 23 – Principais indicadores das unidades de investigação de Portugal em 1996, 1999 e 2003 Indicadores 1996 1999* 2003 Número de doutorados 3 575 5 823 8 324 Número de unidades 270 354 473 Número médio de doutorados/unidade 13,2 16,4 17,6 *Consolidado em Dezembro de 2000. Fonte: FCT, Avaliação das Unidades de Investigação 2002‐2004, reportagem global É também importante salientar a fraqueza da contribuição do sector empresas para o sector de I&D durante algumas décadas. Esta fraqueza é demonstrada, de forma muito evidente, pelo baixo número de doutorados a trabalhar nas empresas e é certamente um dos aspectos negativos que condiciona o desenvolvimento do país (ver Tabela 24). Tabela 24 – Número de investigadores doutorados a trabalhar na indústria* Ano Número de doutorados 1995 41 1997 94 1999 104 2001 113 2003 189 * inclui os que têm equivalência a doutoramento Fonte: OCES, 2005
A Tabela 25 apresenta a despesa total em I&D para cada região, sendo de lamentar que ainda não exista este tipo de dados depois de 2003. A tabela mostra que, em 2003, a Região de Lisboa representava mais de 50% da despesa total embora a sua população seja de apenas 25,7% da população de Portugal, o que deve comparar‐se com a Região Norte com apenas 24% da despesa mas 35,6% da população ou a Região Centro com cerca de 16% da despesa total e representando 22,7% da população. Estes dados mostram de forma evidente que ainda existem fortes desequilíbrios regionais no esforço nacional de I&D, com um favorecimento claro da Região de Lisboa.
Tabela 25 – Despesa em I&D para cada região, preços correntes (1995‐2003)
1995 1997 1999 2001 2003
Regiões1
ETI % ETI % ETI % ETI % ETI %
Norte 94 545,1 21 114 874,3 20 169 524,8 21 212 620,4 20 246 402,8 24 Centro 71 889,5 16 97 140,1 17 123 770,7 15 155 392,8 15 167 024,4 16 Lisboa 258 254,9 56 312 865,9 54 413 535,2 51 596 420,9 57 531 688,7 52 Alentejo 14 391,0 3 25 130,2 4 34 026,7 4 36 701,6 4 40 986,1 4 Algarve 4 871,3 1 9 197,0 2 16 295,3 2 14 478,1 1 13 534,9 1 Açores 6 371,1 1 8 528,6 1 47 925,4 6 12 628,3 1 12 308,6 1 Madeira 9 714,1 2 9 146,8 2 9 668,7 1 10 189,5 2 7 635,6 1 Total 460 037,3 100 576 882,9 100 814 746,7 100 1 038 431,7 100 1 019 581,0 100 1 As regiões correspondem às NUTS II Fonte: GPEARI, Inquérito ao Potencial Científico e Técnico Nacional, OCDE, Principaux Indicateurs de la Science et de la Technologia, 2002(2) Dase de données.
A Tabela 26 apresenta dados sobre o pessoal que trabalha em I&D, demonstrando uma vez mais o carácter dual de Portugal e o significativo progresso feito. Tabela 26 – Pessoal a trabalhar em I&D (1990‐2001) Tipo de pessoal em I&D 1990 1995 1997 1999 2001 2003 Total de investigadores Número de investigadores 12 675 18 690 22 355 28 375 31 146 ETI 7 736,3 11 599,2 13 642,3 15 751,4 17 724,0 (ETI)/população (0/00) 1,6 2.4 2,8 3.1 3,4 Total de pessoal em I&D Número de pessoas 18 953 25 024 29 413 36 872 39 163 ETI 12 042,6 15 465,3 18 034,8 20 805,7 22 970,0 25 509,4 (ETI)/população (0/00) 2,4 3,3 3,7 4,1 4,4 4,9 Fonte: GPEARI, Inquérito ao Potencial Científico e Técnico Nacional; OCDE, Principaux Indicateurs de la Science et de la Technologia, 2002(2)
Finalmente, a Tabela 27 apresenta a distribuição de pessoal de investigação, reproduzindo uma vez mais uma situação em que há uma forte concentração na Região de Lisboa e Vale do Tejo em detrimento das regiões Norte e Centro quando se considera a população residente. Infelizmente, estas assimetrias regionais têm‐se mantido e são bem mais evidentes quando se comparam as distribuições regionais do pessoal dos laboratórios de estado (Tabela 28) que se encontra extremamente concentrado em instituições da capital (75%).
1995 1997 1999 2001 2003
Regiões1
ETI % ETI % ETI % ETI % ETI %
Norte 3 559,3 23 3 826.8 21 4 854,6 23 4 961,8 22 6 314,5 25 Centro 2 291,2 15 2 967,3 16 3 402,6 16 3 790,1 17 4 401,3 17 Lisboa 8 219,5 53 9 199,0 51 10 534,4 51 12 133,0 53 12 795,5 50 Alentejo 610,2 4 969,9 5 941,6 5 956,3 4 989,1 4 Algarve 225,8 1 369,0 2 395,5 2 421,7 2 459,2 2 Açores 225,4 1 314,1 2 354,4 2 398,1 1 341,1 1 Madeira 333,9 2 388,7 2 322,6 2 308,6 1 228,7 1 Total 15 465,3 100 18 034,8 100 20 805,7 100 22 969,6 100 25 529,4 100 1 As regiões correspondem às NUTS II Fonte: GPEARI, Inquérito ao Potencial Científico e Técnico Nacional Tabela 28 – Pessoal em I&D do sector Estado por região (1995‐2003) 1995 1997 1999 2001 2003 Regiões1
ETI % ETI % ETI % ETI % ETI %
Norte 390,6 8 392,1 7 547,3 9 438,8 7 398,2 8 Centro 224,5 5 229,5 4 367,8 6 295,6 5 325,3 7 Lisboa 3 478,3 74 3 710,1 71 4 132,1 70 4543,6 76 3 698,5 75 Alentejo 227,8 5 409,9 8 445,4 8 325,8 5 222,6 5 Algarve 62,6 1 81,5 2 89,0 2 48,1 1 39,3 1 Açores 61,7 1 136,0 3 101,0 2 106,3 2 93,6 2 Madeira 270,0 6 270,5 5 219,1 4 212,3 4 139,5 3 Total 4 715,5 100 5 229,5 100 5 901,8 100 5 970,5 100 4 917,0 100 1 As regiões correspondem às NUTS II Fonte: GPEARI, Inquérito ao Potencial Científico e Técnico Nacional 4. Conclusões Portugal chegou à revolução do 25 de Abril numa situação muito frágil quanto aos seus sistemas de ensino e de investigação. Infelizmente, apesar de todos os esforços, não foi possível eliminar totalmente este atraso em relação aos parceiros Europeus e Portugal continua numa situação de fragilidade e próximo da cauda da Europa. A aposta durante décadas num modelo de desenvolvimento baseado em mão‐de‐obra com baixo nível de formação e baixos salários muito contribuiu para atrasar a resolução destes problemas.
Portugal é, também, um país sem regiões com poder político e administrativo real e onde na capital se concentram poderes e recursos. A Região Norte de Portugal
é, infelizmente, a zona do pais com piores indicadores educativos e em que os investimentos per capita em I&D ficam muito abaixo dos da capital. A concentração na região Norte das indústrias de mão‐de‐obra intensiva (e.g. têxtil e calçado), com baixa formação e mal paga contribuiu para reforçar esta situação negativa. Apesar de ser a região com o maior número de jovens isso não é traduzido no número de vagas para acesso ao ensino superior, mas é igualmente verdade que a concentração dos investimentos públicos na área de Lisboa (bastará recordar a concentração dos laboratórios de estado) e a debilidade do sector empresarial do norte não têm, por enquanto, permitido criar emprego qualificado capaz de absorver a totalidade dos licenciados pelas instituições de ensino superior da região.