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Boletim Jurídico nº 1/2017 ( )

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Academic year: 2021

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Boletim Jurídico nº 1/2017

(6.4.2017)

1. Governo volta atrás e suspende a cobrança da contribuição sindical compulsória dos servidores públicos

Em 17 de fevereiro passado o Ministério do Trabalho havia expedido a Instrução Normativa nº 1/2017, determinando que os órgãos e entidades da administração procedessem ao desconto, contra as remunerações dos servidores estatutários, da “contribuição sindical” compulsória, de que trata o art. 8º, IV, parte final, da Constituição Federal, regulamentada pelos artigos 578 e seguintes da CLT.

A “contribuição sindical” nada mais é do que o antigo “imposto sindical”, que implica no desconto de 1 (um) dia da remuneração dos trabalhados (uma vez ao ano, no mês de março), destinada ao financiamento da estrutura sindical, e que independe das mensalidades decorrentes da livre filiação do trabalhador a respectiva entidade sindical.

Ele existe desde os idos da década de 40, quando a CLT foi sancionada, e faz parte da chamada “unicidade sindical”, imposta pelas Constituições brasileiras desde esta época, e que proíbe a criação de mais de uma entidade sindical representativa da mesma categoria na mesma base territorial.

Os sindicatos de servidores públicos - desde a sua criação, no final da década de 80 -, sempre foram contrários ao pagamento desta “contribuição” compulsória por parte dos servidores públicos, entendimento este que resulta da luta pelo direito à liberdade de organização sindical, que implica não só na liberdade do servidor se filiar à entidade sindical que entender mais conveniente para a defesa dos seus direitos, mas também na prerrogativa da categoria decidir livremente sobre o modo de financiamento das atividades sindicais.

À vista disso, e diante da edição da citada IN nº 1/2017, do Ministério do Trabalho, desde fevereiro passado as entidades nacionais representativas dos servidores públicos vêm realizando reuniões com o Governo federal no sentido de demovê-lo da decisão de promover o referido desconto compulsório desta “contribuição sindical”, o que fez inicialmente com que ele não fosse mesmo comandado na folha de março passado, como era a previsão inicial.

Ainda assim, e por precaução, o Escritório SLPG estava concluindo a elaboração de uma ação judicial voltada exatamente a reconhecer a ilegalidade da mencionada “contribuição sindical”, aguardando apenas o desfecho das negociações entre as entidades e o Governo para então ajuizar esta demanda.

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Hoje, porém, o Diário Oficial da União trouxe a publicação da Portaria nº 421, de 5 de abril, exarada pelo Sr. Ministro do Trabalho, determinando a

suspensão dos efeitos da anterior IN nº 1/2017, e, em consequência,

também a suspensão de qualquer desconto salarial a este título.

2. STF suspende decisão do TCU que mandava administração rever

pensões por morte pagas a filhas de servidores públicos

Em novembro de 2016 o Tribunal de Constas da União fez publicar o Acórdão nº 2.780, do Plenário da Corte, em que apreciou a concessão de pensão por morte a filhas de servidores públicos (maiores e solteiras), de que trata a Lei nº 3.373, de 1958, concluindo que algumas destas pensões estariam sendo mantidas irregularmente, determinando que os órgãos e entidades da Administração Federal procedam à sua revisão e, caso constatada a presença desta irregularidade, suprimam seu pagamento.

A Lei em questão determinava que a cessão da pensão somente ocorreria nas hipóteses de casamento da pensionista ou de posse em cargo público, direito este que era originário da Lei nº 1.711, de 1952 (antigo Estatuto dos Servidores Civis da União), e foi revogado pela Lei nº 8.112, de 1990, mas as situações que até então haviam se constituído foram mantidas, em razão do respeito ao direito adquirido.

O Acórdão do TCU, entretanto, considerou ilegal a manutenção do citado benefício se ficar comprovado que a respectiva pensionista aufere qualquer outra fonte de renda capaz de lhe assegurar uma “sobrevivência condigna”, expressão aberta e vaga, que vinha permitindo, por exemplo, que a Administração concluísse que o recebimento de uma aposentadoria de 1 (um) salário mínimo, paga pelo Regime Geral de Previdência, já seria suficiente para garantir esta “sobrevivência condigna”, daí decorrendo a decisão de suprimir o pagamento da respectiva pensão por morte.

O escritório SLPG já vinha ajuizando ações em favor destas pensionistas, visando assegurar a sua manutenção, obtendo inclusive algumas decisões favoráveis, como ocorreu recentemente na Ação nº 5005273-58.2017.4.04.7200/SC.

Pois bem, ontem o Ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, apreciou um Mandado de Segurança Coletivo que trata do assunto, deferindo parcialmente a liminar para suspender os efeitos do referido Acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU), ao entendimento de se trata de verba de natureza alimentar, e que a revisão, nos moldes em que determinada pelo TCU, pode resultar na cessação de uma das fontes de renda destas pensionistas.

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posteriores no texto legal (ou até mesmo sua revogação, como aqui ocorreu), não poderiam levar á modificação de situação protegida pelo direito adquirido. Pensionistas que estejam nesta situação devem procurar sua entidade sindical para o ajuizamento de ações visando manter o pagamento de suas respectivas pensões.

3. STF decide que revisões de aposentadorias por invalidez têm efeitos financeiros apenas a partir de março de 2012

Em 29 de março de 2012 era promulgada a Emenda Constitucional nº 70, que restabelece os direitos à integralidade de proventos e à paridade com os

ativos aos servidores públicos aposentados por invalidez a partir de 1º de

janeiro de 2004, direitos estes que haviam sido excluídos pela anterior Emenda Constitucional nº 41, de 31.12.2003.

A EC nº 70 determinava, ainda, que a administração pública procedesse á revisão das aposentadorias concedidas nestas condições a partir de 1º de janeiro de 2004, de modo a verificar se os servidores tinham direito a diferenças salarias decorrentes desta revisão, e, caso positivo, as pagasse, atribuindo a esta conta efeitos financeiros retroativos à data de promulgação da própria Emenda Constitucional, ou seja, 29 de março de 2012.

As assessorias jurídicas das entidades representativas de servidores públicos (dentre as quais o Escritório SLPG) passaram a ajuizar ações coletivas ou individuais visando estender estes efeitos financeiros à data da respectiva aposentadoria, se ocorrida entre 1º de janeiro de 2004 e 28 de março de 2012, confrontando-se assim com o limitado efeito retroativo dado pela EC nº 70/2012.

É que se a aposentadoria ocorreu antes de 29 de março de 2012, e por força da EC nº 41 não teve respeitados os direitos à integralidade e à paridade, a nós parecia evidente que vindo a EC nº 70 a alterar a anterior EC nº 41, neste particular, então os efeitos financeiros desta modificação deveriam alcançar a data de cada aposentadoria, e não uma data posterior.

Esta específica questão, entretanto, acabou se transformando no “Tema 754” do instituto da “Repercussão Geral”, utilizado pelo Supremo Tribunal Federal -STF, quando um determinado “assunto” chega até a Corte e se constata que ele se reproduz (repercute) em inúmeros processos País afora, merecendo um tratamento especial de parte do Supremo.

Quando isto ocorre (o assunto vira “Repercussão Geral”), todos os processos que tramitam nos tribunais inferiores têm sua tramitação suspensa, e ficam aguardando o desfecho deste específico julgamento por parte do Supremo.

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Pois ontem, 5 de abril, o STF finalmente julgou o assunto do “Tema 754”, decidindo que os efeitos financeiros da EC nº 70, de 2012, retroagem mesmo somente à data por ela própria definida, ou seja, a 29 de março de 2012. Com isso os tribunais inferiores, onde milhares de processos versando sobre este mesmo assunto encontram-se pendentes de apreciação ou suspensos, haverão agora de julgá-los, devendo tomar por base o precedente firmado pelo Supremo Tribunal Federal.

Trata-se, assim, de mais uma decisão do STF que vem em claro prejuízo aos direitos dos trabalhadores (aqui servidores públicos), demonstrando, mais uma vez, que o STF vem adotando posicionamentos ditados muito mais por aspectos econômicos do que efetivamente jurídicos.

É preciso frisar, entretanto, que a decisão tomada ontem pelo STF não adentrou ao mérito da questão da integralidade dos proventos dos servidores beneficiados pela mencionada Emenda Constitucional nº 70, de 2012 (ou seja, se o direito à esta integralidade implica no pagamento integral também das gratificações de desempenho, segundo a última pontuação recebida em atividade), que segue sendo objeto de apreciação pelo Poder Judiciário. 4. STF decide que greve de servidores que atuem na área de

segurança pública

O Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou ontem o Recurso Extraordinário em Agravo nº 654.432, também sob o instituto da Repercussão Geral (“Tema 541”), que trata do exercício do direito de greve por parte dos policiais civis.

Por maioria, o STF decidiu que é inconstitucional o exercício do direito de greve por parte de policiais civis e demais servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública, afirmando apenas que é

obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de segurança pública, nos termos do artigo 165 do Código de Processo Civil, para vocalização dos interesses da categoria.

O recurso havia sido interposto pelo Estado de Goiás contra decisão do Tribunal de Justiça local (TJ-GO) que, na análise de ação apresentada naquela instância pelo Estado contra o Sindicato dos Policiais Civis de Goiás, garantiu o direito de greve à categoria por entender que a Constituição Federal não veda este direito, de modo que não caberia ao Poder Judiciário restringir tal direito, sob pena de estar agindo como legislador ordinário, o que ofenderia o princípio da independência entre os Poderes.

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“funções análogas às dos militares”, razão pela qual sejam eles policiais ou não, também estão proibidos de fazer greve.

Além de constituir clara restrição imposta pelo STF ao direito de greve, o que já constitui fato grave - notadamente porque expressa o entendimento do Supremo de que mesmo que a Constituição diga expressamente sobre um determinado direito, ele (STF), pode interpretar este direito de forma contrária, operando como autêntico “legislador constituinte” -, a decisão em questão implica em claro retrocesso social, pois deixa os servidores da segurança pública completamente a mercê dos Governadores dos Estados, que normalmente se negam a negociar a melhoria das condições salariais e de trabalho da categoria, negando-lhes o principal instrumento para a veiculação de suas reivindicações.

Demais disso, é preciso ter em mente que a decisão em questão logo se estenderá a outras categorias da segurança pública, como a dos policiais federais ou a dos policiais rodoviários federais, abrindo perigoso espaço para a ampliação da restrição ao exercício do direito de greve a outras atividades estatais consideradas “imprescindíveis”, como alguns Ministros do STF chegaram a cogitar durante o julgamento de ontem.

Temos aqui, assim, mais um dos muitos retrocessos sociais que o Brasil vem vivenciando ultimamente, seja em medidas adotadas pelo Poder Executivo (como a proposta de Reforma da Previdência, por exemplo), pelo Poder Legislativo (como a aprovação da terceirização também nas atividades finalísiticas das empresas e do serviço público), ou pelo Poder Judiciário (como são exemplos as recentes decisões do STF), o que demanda de todas as entidades representativas dos trabalhadores do setor privado e dos servidores públicos, lado a lado com suas respectivas assessorias jurídicas, uma atenção especial, de modo a impedir que estes retrocessos se aprofundem, fulminando direitos fundamentais duramente conquistados. Florianópolis, 6 de abril de 2017

Luís Fernando Silva -

OAB/SC 9582

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