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Fernanda Meneghetti Ferro O USO VARIÁVEL DAS CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS EM CONTEXTOS DE AQUISIÇÃO DE TRADIÇÕES DISCURSIVAS DA ESCRITA

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Fernanda Meneghetti Ferro

O USO VARIÁVEL DAS CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS EM CONTEXTOS DE AQUISIÇÃO DE TRADIÇÕES DISCURSIVAS DA ESCRITA

São José do Rio Preto

2015

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Fernanda Meneghetti Ferro

O USO VARIÁVEL DAS CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS EM CONTEXTOS DE AQUISIÇÃO DE TRADIÇÕES DISCURSIVAS DA ESCRITA

Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Estudos Linguísticos, junto ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, Área de Concentração – Análise Linguística, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de São José do Rio Preto.

Orientador: Profª. Drª. Sanderléia Roberta Longhin

São José do Rio Preto

2015

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Ferro, Fernanda Meneghetti.

O uso variável das construções condicionais em contextos de aquisição de tradições discursivas da escrita / Fernanda Meneghetti Ferro. -- São José do Rio Preto, 2015

127 f. : il., tabs.

Orientador: Sanderléia Roberta Longhin

Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas

1. Linguística. 2. Análise linguística (Linguística) 3. Funcionalismo (Linguística) 4. Língua portuguesa - Gramática. 5. Língua portuguesa – Português escrito - São José do Rio Preto (SP) 6. São José do Rio Preto (SP) - Ensino fundamental. I. Longhin, Sanderléia Roberta. II. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. III. Título.

CDU – 41

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE UNESP - Câmpus de São José do Rio Preto

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Fernanda Meneghetti Ferro

O USO VARIÁVEL DAS CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS EM CONTEXTOS DE AQUISIÇÃO DE TRADIÇÕES DISCURSIVAS DA ESCRITA

Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Estudos Linguísticos, junto ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, Área de Concentração – Análise Linguística, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de São José do Rio Preto.

Comissão Examinadora

Profª. Drª. Sanderléia Roberta Longhin

UNESP – São José do Rio Preto

Orientador

Profª. Drª. Angélica Terezinha Carmo Rodrigues

UNESP – Araraquara

Profª. Drª. Cristiane Carneiro Capristano

UEM – Maringá

São José do Rio Preto

2015

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AGRADECIMENTOS

À Profª. Drª. Sanderléia Roberta Longhin por todos os ensinamentos, pelas palavras de incentivo e confiança, que foram imprescindíveis no desenvolvimento desta dissertação, e pela orientação sempre muito cuidadosa e comprometida.

À minha mãe por ser meu maior exemplo de vida e de amor, e por me apoiar incondicionalmente nessa fase tão importante da minha formação acadêmica.

Ao meu pai pelo amor e pelos conselhos sempre valiosos.

Ao Danilo pelo carinho, estímulo e, principalmente, pela compreensão nos momentos de minha dedicação à pesquisa.

À minha avó pelas orações.

A todos os meus familiares e amigos pelo apoio e pelo companheirismo.

À Tailene Munhoz Barbosa, agradeço de modo muito particular, pela amizade dedicada e leal, pelos momentos compartilhados, pela atenção em me ouvir e me ajudar inúmeras vezes durante este percurso.

À Ana Lígia Alves Pacheco pela amizade sincera, pelo carinho e por acreditar sempre no meu potencial.

À minha companheira de pós-graduação, Milena de Brito Mello, pela convivência agradável e pela partilha de angústias e conquistas.

Ao Helker Nhoato pelas “conversas acadêmicas” sempre muito produtivas e pela disponibilidade e generosidade.

À direção da EE Severino Reino e à coordenação do CEL de José Bonifácio pela gentileza de organizar a minha carga horária de trabalho em períodos que não comprometessem a realização deste trabalho de pesquisa.

Às “meninas do CEL”, Rosemeire Volpi Nassif, Amanda Fiel Rosa e Geisa Capobianco Quintas, amigas e companheiras de trabalho, pelo convívio harmonioso e divertido, pela compreensão e pelo incentivo constante.

À Cláudia Salles Bottoni Vanzela e à Luciana Árabe Lima pelo estímulo desde a época do Ensino Fundamental e Médio, pelo exemplo de profissionais e pelo carinho.

À Profª. Drª. Luciani Ester Tenani pelos ensinamentos, durante a Graduação e a Pós-graduação, e pelas contribuições feitas no exame de qualificação.

À Profª. Drª. Cristiane Carneiro Capristano pelas observações criteriosas feitas no exame de qualificação, à Profª. Drª. Angélica Terezinha Carmo Rodrigues pelas sugestões feitas no debate do SELIN, e ambas por terem aceitado compor a banca de defesa.

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RESUMO

Elegendo a junção condicional como fenômeno de estudo, o objetivo desta pesquisa é investigar o processo de inserção dos jovens escreventes do Ensino Fundamental II, de uma escola pública de São José do Rio Preto (SP), nas técnicas idiomáticas e nas técnicas discursivas da língua, nos termos de Koch (1997) e Öesterreicher (1997), ao longo do processo de aprendizagem e desenvolvimento de uma escrita. Investigamos, no eixo das técnicas idiomáticas, a realização variável dos processos juntivos de condição, de acordo com os domínios sintático, semântico e pragmático (HALLIDAY, 1985; KORTMANN, 1997; SWEETSER, 1990), e, no eixo das técnicas discursivas, as possíveis correlações existentes entre tradições discursivas da escrita e os esquemas variáveis de junção condicional (KABATEK, 2005; LONGHIN-THOMAZI, 2011). Com base no modelo de junção sistêmico-funcional proposto por Halliday (1985), aliado aos estudos de Kortmann (1997) e Sweetser (1990), concebemos que as construções condicionais realizam-se por meio de diferentes arranjos sintáticos e abarcam polissemias semânticas e pragmáticas no eixo das relações de sentido. Além disso, consideramos que os esquemas juntivos de condição extrapolam o domínio da lógica, visto que funcionam como recursos discursivos de persuasão, envolvendo as intenções dos participantes do discurso (FILLENBAUM, 1986; HIRATA-VALE e OLIVEIRA, 2003; PAIVA e BRAGA, 2010). Dessa perspectiva, analisamos os processos de junção condicional a partir do cruzamento entre as opções do eixo tático, em que reconhecemos mecanismos paratáticos e hipotáticos de junção, e do eixo das relações de sentido, em que, no nível semântico, discutimos os limites fluidos entre a relação de condição e os sentidos de tempo/modo/alternância, assim como, no nível pragmático, avaliamos as condicionais conforme os domínios de conteúdo, epistêmico e atos de fala (SWEETSER, 1990), destacando as funções discursivo-pragmáticas que assumem nos textos. Investigamos, ainda, em que medida as tradições discursivas em que os textos se inserem ajudam a explicar as frequências e os tipos de esquemas de junção condicional codificados. Em relação ao corpus, é constituído por 221 textos, extraídos de um Banco de Dados de Escrita do Ensino Fundamental II, constituído pelas Profas. Dras. Luciani E. Tenani e Sanderléia R. Longhin, a partir do Projeto de Extensão Universitária “Desenvolvimento de oficinas de leitura, interpretação e produção de textos no ensino fundamental”, financiado pela PROEX/UNESP. Quanto à metodologia, conjugamos as abordagens quantitativa e qualitativa, subsidiadas pelo critério frequência, nos moldes de Heine et al. (1991) e Bybee (2003), por meio da apuração das frequências token e type. Sobre os resultados, verificamos que o quadro dos mecanismos de junção condicional é bastante variável no decorrer dos quatro anos do Ensino Fundamental, apresentando diferentes padrões sintáticos, semânticos e pragmáticos em cada série, e que determinadas tradições discursivas predispõem o uso de tipos específicos de esquemas condicionais.

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ABSTRACT

The aim of this research, by focusing on the conditional conjunction as a study object, is to investigate the process of introducing young writers attending junior high school at a public school in São José do Rio Preto (SP), Brazil, to the idiomatic techniques and discursive techniques of language, in terms of Koch (1997) and Öesterreicher (1997), throughout the learning and development process of writing. On the axis of idiomatic techniques, we study the different ways processes of conditional conjunction occur, according to the syntactic, semantic and pragmatic domains (HALLIDAY, 1985; KORTMANN, 1997; SWEETSER, 1990), and on the axis of discursive techniques, we study possible correlations between discursive traditions of writing and variable conditional conjunction frameworks (KABATEK, 2005; LONGHIN-THOMAZI, 2011). Based on the systemic-functional conjunction model proposed by Halliday (1985), in addition to studies by Kortmann (1997) and Sweetser (1990), we conceive that conditional constructions are realized through different syntactic arrangements and include semantic and pragmatic polysemy on the axis of meaning. Additionally, we consider the conditional conjunction frameworks to surpass the logical domain, given that they function as discursive persuasion resources, involving the intentions of the discourse participants (FILLENBAUM, 1986; HIRATA-VALE & OLIVEIRA, 2003; PAIVA & BRAGA, 2010). From this perspective, we analyze the conditional conjunction processes by intersecting the options on the tactical axis, in which we recognize paratactic and hypotactic conjunction mechanisms, and by investigating the axis of meaning relations, in which we discuss the fluid boundaries between the conditional relation and the sense of time/mode/alternation. Additionally, we study the conditionals according to the domains of content, epistemics and acts of speech (SWEETSER, 1990), highlighting the discursive and pragmatic functions which they take on in the text. Furthermore, we investigate to what extent the discursive traditions to which the texts relate help explain the frequency and the codified types of conditional conjunction frameworks. As to the corpus, it comprises 221 texts extracted from a Database of Junior High School Written Productions, developed by Prof. Dr. Luciani E. Tenani and Prof. Dr. Sanderléia R. Longhin based on the university extension project “Desenvolvimento de oficinas de leitura, interpretação e produção de textos no ensino fundamental” [Workshop development for text reading, comprehension and production at junior high school] funded by PROEX/UNESP. Regarding the methodology, we have combined quantitative and qualitative approaches supported by the criterion of frequency, following Heine et al. (1991) and Bybee (2003), by assessing token and type frequencies. Concerning the results, we have observed that the frame of conditional conjunction mechanisms varies significantly over the four years of junior high school, displaying multiple syntactic, semantic and pragmatic patterns in each grade, in addition to the fact that given discursive traditions create a tendency to use particular types of conditional frameworks. Keywords: conjunction, condition, discursive traditions.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

ESQUEMAS:

Esquema 1 – Modelo sistêmico-funcional de junção, elaborado a partir de Halliday

(1985)... 18

Esquema 2 – Mescla dos processos paratáticos e hipotáticos de junção... 18

Esquema 3 – Filtros para produção de sentido... 37

Esquema 4 – Relações de derivação entre os sentidos de tempo, causa e condição... 65

Esquema 5 – Processo de combinação de orações no eixo da hipotaxe... 70

Esquema 6 – Os diferentes canais de derivação do sentido temporal... 77

Esquema 7 – Relações de derivação entre os sentidos de modo e condição... 84

Esquema 8 – Construções modo/condicionais com polaridade negativa e positiva... 86

FIGURAS: Figura 1 – Canais de derivação das relações semânticas, proposto por Kortmann (1997)... 21

Figura 2 – Esquema da Evocação, proposto por Kabatek (2005)... 39

Figura 3 – Exemplo de proposta de produção textual do EF II... 47

Figura 4 – Exemplar de tabela utilizada para organização dos dados da pesquisa... 55

Figura 5 – Exemplo de atividade sobre Modo Subjuntivo, aplicada na 5ª série... 62

Figura 6 – Trecho da proposta de produção textual 01 do ano de 2010... 68

Figura 7 – Trecho do texto do escrevente S06, produzido no ano de 2011... 81

Figura 8 – Esquema derivacional das relações semânticas, proposto por Kortmann (1997)... 82

Figura 9 – Proposta de produção textual 01, aplicada no ano de 2008... 105

Figura 10 – Texto do escrevente S05, produzido no ano de 2008... 106

Figura 11 – Proposta de produção textual 06, aplicada no ano de 2011... 107

Figura 12 – Texto do escrevente S06, produzido no ano de 2011... 107

Figura 13 – Proposta de produção textual 07, aplicada no ano de 2009... 110

Figura 14 – Texto do escrevente S03, produzido no ano de 2009... 110

Figura 15 – Trecho do texto do escrevente S03, produzido no ano de 2009... 111

Figura 16 – Texto do escrevente S03, produzido no ano de 2011... 112

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Figura 18 – Trecho do texto do escrevente S01, produzido no ano de 2010... 115

Figura 19 – Proposta de produção textual 02, aplicada no ano de 2010... 115

Figura 20 – Texto do escrevente S05, produzido no ano de 2010... 116

Figura 21 – Proposta de produção textual 05, aplicada no ano de 2010... 117

Figura 22 – Texto do escrevente S04, produzido no ano de 2010... 117

GRÁFICOS: Gráfico 1 – Frequência dos padrões semânticos ao longo do EF II... 91

Gráfico 2 – Frequência dos padrões sintáticos ao longo do EF II... 93

Gráfico 3 – Tipologia das correlações verbais das condicionais com se... 97

Gráfico 4 – Frequência dos padrões pragmáticos ao longo do EF II... 100

JUNTOGRAMAS: Juntograma 1 – Conto... 108

Juntograma 2 – Artigo de opinião... 109

Juntograma 3 – Carta pessoal... 113

Juntograma 4 – Artigo de opinião... 113

QUADROS: Quadro 1 – Combinações de orações no domínio da expansão, segundo Halliday (1985)... 20

Quadro 2 – Categoria causal-condicional pertencente ao eixo de realce... 20

Quadro 3 – Níveis linguísticos, de acordo com Coseriu (1979)... 36

Quadro 4 – Tipos de esquemas de junção predominantes em TDs jurídicas... 44

Quadro 5 – Número de textos produzidos pelos escreventes ao longo do EF II... 49

Quadro 6 – Organização das propostas de produção escrita: tema, gênero e tipologia textual... 51

Quadro 7 – Construções condicionais no domínio da hipotaxe e da parataxe... 93

Quadro 8 – Tipologia e distribuição dos esquemas de junção ao longo do EF II... 94

Quadro 9 – Os diferentes graus de hipótese das construções condicionais... 96

Quadro 10 – Recorte de condicionais epistêmicas, produzidas no ano de 2010... 118

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Total de ocorrências produzidas ao longo do EF II... 61 Tabela 2 – Total de ocorrências por padrão semântico ao longo do EF II... 64 Tabela 3 – Tipos de esquemas de junção para o padrão semântico de condição... 65 Tabela 4 – Tipos de esquemas de junção para o padrão semântico de tempo/condição... 78 Tabela 5 – Cruzamento dos padrões condicionais com as propostas de produção... 104

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 O FENÔMENO DA JUNÇÃO E OS MODOS DE EXPRESSÃO DA CONDICIONALIDADE ... 17

2.1 Uma abordagem sobre a junção de orações ... 17

2.2 A expressão de condicionalidade ... 25

2.3 Síntese ... 34

3 TRADIÇÃO DISCURSIVA ... 36

3.1 O conceito de Tradição Discursiva... 36

3.2 A relação entre junção e Tradição Discursiva ... 42

3.3 Síntese ... 45

4 MATERIAL E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 46

4.1 Descrição do Banco de Dados de Escrita do Ensino Fundamental II ... 46

4.2 Constituição e caracterização do corpus ... 48

4.3 Procedimentos de análise ... 53

5 JUNÇÃO CONDICIONAL: A VARIAÇÃO NO EMPREGO DAS CONSTRUÇÕES DE CONDIÇÃO EM TEXTOS ESCRITOS DO ENSINO FUNDAMENTAL II ... 60

5.1 A condicionalidade no EF II: os diferentes mecanismos de expressão ... 60

5.1.1 O padrão semântico de condição ... 64

5.1.2 O padrão semântico de tempo/condição ... 76

5.1.3 O padrão semântico de modo/condição ... 82

5.1.4 O padrão semântico de alternância/condição ... 87

5.2 Sistematização dos dados, ao longo do EF II, conforme três eixos de análise: semântico, sintático e pragmático ... 90

6 TRADIÇÃO DISCURSIVA: UMA RELAÇÃO ENTRE ESQUEMAS JUNTIVOS DE CONDIÇÃO E DIFERENTES MODOS DE DIZER NO ENSINO FUNDAMENTAL II ... 103

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 122

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1 INTRODUÇÃO

Ao eleger a junção condicional como fenômeno de estudo, o objetivo central deste trabalho de pesquisa é investigar a inserção dos jovens escreventes do Ensino Fundamental II (EF II, daqui em diante), de uma escola pública de São José do Rio Preto (SP), nas técnicas idiomáticas e nas técnicas discursivas da língua, no processo de aprendizagem e desenvolvimento de uma escrita. Entendemos por técnicas idiomáticas, segundo Koch (1997) e Öesterreicher (1997), aquelas que incluem opções do sistema e das normas da língua (oposições fonológicas, escolhas lexicais, regras morfossintáticas), sendo o sistema, nos termos de Coseriu (1979), concebido como um conjunto de possibilidades de realizações linguísticas, e as normas, entendidas como as realizações linguísticas tradicionais, isto é, a parte do sistema que é efetivamente usada. Já as técnicas discursivas, são aquelas das Tradições Discursivas (TDs, daqui em diante), concebidas como modelos linguísticos normativos e historicamente convencionalizados que regem a produção e a recepção do discurso.

Para o alcance desse objetivo, no eixo das técnicas idiomáticas da língua, elegemos para investigação a realização variável dos processos juntivos de condição, de acordo com os domínios sintático, semântico e pragmático (HALLIDAY, 1985; KORTMANN, 1997; SWEETSER, 1990), e, no eixo das técnicas discursivas, as possíveis correlações existentes entre TDs da escrita e os esquemas de junção condicional, com base na hipótese de Kabatek (2005), segundo a qual, determinadas TDs, a depender de suas particularidades, podem predispor o emprego de construções linguísticas específicas e não outras.

No domínio da junção, concebemos a condicionalidade como uma relação de sentido altamente complexa, uma vez que prevê a mobilização de diferentes arquiteturas sintáticas (cf. HALLIDAY, 1985) e, mais do que isso, envolve uma polissemia, que revela a fluidez nos limites entre a relação de condição e outros sentidos como, por exemplo, o de tempo, causa/efeito, modo, alternância (cf. LEÃO, 1961; KORTMANN, 1997; NEVES, 2000). Aliada a essa fluidez nos limites entre as relações semânticas, destacamos também o caráter polissêmico das relações pragmáticas, cujo sentido de condição pode se resolver em diferentes domínios cognitivo-pragmáticos, que envolvem relações tanto em um nível mais concreto, quanto em um nível mais abstrato (cf. SWEETSER, 1990).

Além disso, reconhecemos que os processos juntivos de condição não se restringem, fundamentalmente, a um esquema lógico, pautado em relações de causa/efeito (cf. COMRIE,

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1986), a nosso ver, o sentido condicional extrapola o nível das interpretações lógicas, tendo em vista que atua em um plano discursivo (cf. FILLENBAUM, 1986; NEVES, 2000; PAIVA e BRAGA, 2010). A esse respeito, os mecanismos de junção condicional não se limitam ao esquema tradicional se p → q, uma vez que funcionam como recursos discursivos de persuasão, dos quais destacamos, por exemplo, as estratégias de ameaça, promessa e polidez, que envolvem as intenções dos participantes do discurso (cf. FILLENBAUM, 1986; HIRATA-VALE e OLIVEIRA, 2003).

Dada essa complexidade de forma e de sentido que constitui a relação de condição, para dar conta dos objetivos desta pesquisa, conforme já dito, focalizamos as realizações variáveis das construções condicionais em produções escritas de jovens estudantes do EF II, que, para nós, configuram não só possíveis aquisições escolares, aprendidas ao longo de quatro anos, em que são desenvolvidos diferentes conteúdos linguísticos necessários para a compreensão do fenômeno da junção condicional, seguindo as orientações do Currículo do Estado de São Paulo (2008), mas também aquisições vernáculas, resultantes das vivências sociais dos escreventes fora do contexto de aprendizagem formal, ou seja, aprendidas sem a intervenção da escola. As construções de (01) a (06), extraídas de nosso corpus, representam uma amostra da variabilidade de construções que envolve a codificação do sentido de condição: (1) [Z08_5A_02F_04] (2) [Z09_6C_07M_02] (3) [Z08_5A_02F_04] (4) [Z11_8B_02F_03]

(14)

(5)

[Z09_6B_03F_03] (6)

[Z09_6B_03F_01]

As ocorrências expostas acima representam a variação nos modos de expressar o sentido condicional no que concerne a todos os níveis de análise:

- no nível sintático, reconhecemos construções mais dependentes estruturalmente, como em (1), (3), (4), (5) e (6), ou menos dependentes, como em (2), já que, nesse caso, as orações mantêm uma equivalência funcional;

- no nível semântico, concebemos que o nexo condicional convive com diferentes relações, com as quais mantém afinidades semânticas, do tipo tempo/condição como na ocorrência em (3), e modo/condição, como na ocorrência em (4);

- no nível pragmático, diferenciamos, por exemplo, as construções que estabelecem condição entre eventos do mundo, como em (2), daquelas que se realizam em um nível conversacional, como em (5) e (6), que atuam, respectivamente, como condicionais de

ameaça e de promessa.

A partir dessa amostra de esquemas condicionais, representativa do corpus desta pesquisa, verificamos que a condicionalidade se realiza: (i) por meio de diferentes tipos de combinações de orações, ou seja, diferentes arranjos sintáticos que codificam o sentido condicional, em uma relação indissociável entre forma e conteúdo, conforme propõe Halliday (1985); (ii) a partir de relações polissêmicas, de acordo com Kortmann (1997), envolvendo ambiguidade na codificação da condicionalidade, que mantém afiliações semânticas com outros sentidos, em uma relação de convivência da qual emergem diferentes nuanças de condição; e (iii) com base nos domínios cognitivo-pragmáticos, nos moldes de Sweetser (1990), que abrangem relações em nível sócio-físico, em nível do raciocínio e em nível de uma argumentação, dos quais resultam diferentes tipos de condicionais, que assumem também diferentes funções discursivo-pragmáticas.

Diante dessas considerações, nesta pesquisa, investigamos a junção condicional, contemplando diferentes categorias de análise e, mais do que isso, revelando a fluidez dos processos juntivos, conforme sinalizamos. Entretanto, enquanto fenômeno universal da linguagem, a junção favorece não apenas a investigação das faces morfossintática e semântico-cognitiva, mas também das supostas correlações existentes entre construções

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linguísticas específicas e determinadas TDs, como defende Kabatek (2005). A esse respeito, Kabatek (2005) afirma, por um lado, que algumas construções linguísticas constituem traços característicos de determinadas tradições discursivas e também, por outro lado, que algumas TDs suscitam o uso de construções linguísticas particulares. Para o autor, o fenômeno da junção, por mobilizar informações dos vários níveis de análise linguística, é fundamental para o reconhecimento da(s) tradição(ões) discursiva(s) em que um texto se insere.

Nessa perspectiva teórica, Longhin-Thomazi (2011) investigou uma amostra longitudinal de textos produzidos por duas crianças, pertencentes às primeiras séries do Ensino Fundamental I. Um dos objetivos do trabalho foi verificar por quais esquemas de junção os sentidos são codificados nas produções infantis e como esses mecanismos relacionam-se com as TDs que estão sendo adquiridas pelas crianças nessa fase escolar. Sendo assim, a autora se atentou às decisões das crianças no domínio da junção, que fazem escolhas sobre como juntar, no eixo sintagmático, e escolhas no conjunto dos juntores, no eixo paradigmático, deixando transparecer a natureza composicional das TDs.

Quanto aos esquemas de junção condicional, Longhin-Thomazi (2011) concluiu que, nos textos produzidos nas primeiras séries do Ensino Fundamental I, o uso das condicionais é reduzido e que todas as ocorrências representam construções de conteúdo, estabelecidas no domínio sócio-físico, favorecidas por uma relação de causa > efeito entre eventos do mundo. A autora verificou também que as crianças flutuam pelas técnicas idiomáticas da língua, principalmente no que diz respeito às correlações envolvendo a morfologia verbal, aspecto que pode justificar a variação nos modos de representar, na escrita, a relação de condição. No que concerne aos resultados sobre junção, a autora concluiu que a escolha por um ou outro mecanismo, em determinada fase escolar, possivelmente relaciona-se não apenas com a complexidade da construção mobilizada, mas com os traços funcionais dos mecanismos de junção, que são mais ou menos previsíveis em uma dada TD.

Este trabalho de pesquisa, por sua vez, partilha das noções defendidas por Longhin-Thomazi (2011) e traça um percurso de investigação semelhante, visto que: (i) analisa os processos juntivos de condição no EF II a partir de pressupostos teóricos funcionalistas, que levam em conta, como já sinalizado, os diferentes níveis de análise linguística – sintático, semântico e pragmático –, contemplando a não-discretude dos processos de junção condicional (HALLIDAY, 1985; KORTMANN, 1997; SWEETSER, 1990); e (ii) concebe uma possível correlação entre junção e TD, nos moldes de Kabatek (2005), de maneira que busca investigar a contribuição das TDs para o emprego de tipos específicos de esquemas de junção.

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Nesse sentido, para alcançar o objetivo maior deste trabalho, que é investigar o modo variável de inserção dos jovens escreventes do EF II nas técnicas idiomáticas e nas técnicas discursivas da língua, tomando a junção condicional como fenômeno de estudo, propomos a realização de duas tarefas principais: (i) descrever as construções de condição nos textos dos escreventes selecionados, contemplando o cruzamento entre as opções do eixo tático (parataxe e hipotaxe) e o tipo de juntor empregado, assim como o eixo das relações de sentido (que abarca aspectos semânticos e pragmáticos); e (ii) avaliar em que medida a TD em que o texto se insere ajuda a explicar a frequência e os tipos de esquemas de junção condicional encontrados nas produções escritas dos estudantes do EF II.

O corpus desta pesquisa foi recolhido de um Banco de Dados de Escrita, constituído pelas Profas. Dras. Luciani E. Tenani e Sanderléia R. Longhin, a partir das atividades do Projeto de Extensão Universitária “Desenvolvimento de oficinas de leitura, interpretação e produção de textos no ensino fundamental”, financiado pela PROEX/UNESP, desenvolvidas durante um período de quatro anos, de 2008 a 2011, permitindo o acompanhamento dos estudantes durante o segundo ciclo do Ensino Fundamental.

Para cumprir o objetivo (i), que concerne ao eixo das técnicas idiomáticas da língua, que estão relacionadas, a nosso ver, com a realização dos esquemas de junção condicional, selecionamos, desse Banco de Dados, produções escritas de 10 escreventes regularmente matriculados no EF II, durante o período de 2008-2011, de modo que o recorte aproxima-se do que denominamos longitudinal, tendo em vista que trabalhamos com textos dos mesmos escreventes, coletados no decorrer desses anos. Esse recorte justifica-se pelo fato de possibilitar a observação, ao longo de quatro anos, do modo variável de expressão dessa relação de sentido nos textos dos escreventes, que estão em fase de desenvolvimento de uma escrita e, que por isso, lidam ainda com a aquisição de diferentes arranjos morfossintáticos, dentre eles, os arranjos condicionais, que são adquiridos, conjuntamente, em contexto escolar institucionalizado e em contexto vernacular, que abrange diferentes saberes adquiridos a partir da vivência social, conforme já mencionamos. De outro modo, o recorte longitudinal permitirá a investigação da maneira como os escreventes realizam os esquemas de junção condicional nas diferentes séries do EF II e a observação da possível influência do tempo de escolarização na codificação das condicionais, em termos de um possível aumento de complexidade cognitiva das construções ao longo desse período.

Para alcançar o objetivo (ii), que concerne ao eixo das técnicas discursivas da língua, selecionamos alguns textos da amostra longitudinal, que abarcam diferentes TDs da escrita, dentre elas tradições narrativas e argumentativas. A análise essencialmente qualitativa desses

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textos permitirá a observação de aspectos do modo como os escreventes do EF II circulam por diferentes TDs, que estão sendo adquiridas, além de permitir a investigação de uma possível correlação entre junção condicional e determinadas tradições.

No que diz respeito à metodologia utilizada nesta pesquisa, para o cumprimento dos objetivos mencionados, realizamos análises quantitativas e qualitativas, com base no critério

frequência, conforme a abordagem de Heine et al. (1991) e Bybee (2003). Os autores

distinguem dois métodos para o reconhecimento de frequências: a frequência token, que será apurada a partir da contagem geral das ocorrências de construções condicionais, e a frequência type, que será aferida a partir da qualificação e da quantificação dos diferentes padrões condicionais.

No que concerne à divisão deste trabalho, apresentamos, inicialmente, os pressupostos teóricos que fundamentam a nossa pesquisa, divididos em duas seções, a primeira que contempla uma abordagem funcionalista sobre junção de orações, bem como uma revisão de estudos que investigam a expressão da condicionalidade (Seção 2), e a segunda que está centrada na definição do conceito de TD (Seção 3). Em seguida, discutimos as decisões metodológicas que guiaram o nosso percurso de investigação, apresentando como se deu a constituição do corpus, e o estabelecimento dos procedimentos de análise (Seção 4). Depois, expomos duas seções de análise, uma referente à discussão dos resultados obtidos em termos dos processos de junção (Seção 5), e a outra referente à discussão dos resultados alcançados no que diz respeito à relação entre junção e TDs (Seção 6), dando conta, respectivamente, de cada um dos objetivos propostos. Por fim, apresentamos nossas considerações finais sobre o trabalho (Seção 7), bem como as referências bibliográficas.

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2 O FENÔMENO DA JUNÇÃO E OS MODOS DE EXPRESSÃO DA CONDICIONALIDADE

Nesta seção, abordamos as concepções teóricas que fundamentam nosso trabalho, partindo do pressuposto de que os processos de junção condicional envolvem fluidez no que concerne aos níveis sintático, semântico e pragmático. Dessa perspectiva, adotamos, em parte, o modelo de junção sistêmico-funcional proposto por Halliday (1985), que contempla, como já dito, a relação intrínseca entre a forma e o sentido das orações, e partilhamos também dos trabalhos desenvolvidos por Kortmann (1997) e Sweetser (1990), que destacam o caráter polissêmico das relações de sentido, de acordo com a subseção 2.1. Reconhecemos, ainda, a complexidade envolvida nos modos de expressar o sentido condicional, que não é apenas uma relação lógico-semântica, mas também discursiva, conforme tratamos na subseção 2.2, em que o objetivo é alcançar uma compreensão mais detalhada a respeito dessa relação. Esse aparato teórico será fundamental para tratarmos do primeiro eixo de análise desta pesquisa, referente à inserção dos jovens escreventes do EF II nas técnicas idiomáticas da língua, que contempla o fenômeno da junção condicional.

2.1 Uma abordagem sobre a junção de orações

Para tratar do fenômeno da junção, partimos do modelo sistêmico-funcional proposto por Halliday (1985), que interpreta as relações entre as sentenças com base no componente lógico-semântico do sistema linguístico. O autor discute a combinação de orações em termos de um mecanismo de modificação e prevê a conjugação de dois eixos, o sintático e o semântico, defendendo que há uma essência sistêmica, com uma rede de opções para cada parâmetro. Nesse sentido, para Halliday, no âmbito da junção, deve-se considerar, sempre, um cruzamento entre as dimensões: (i) do sistema tático, que trata das relações de interdependência entre as unidades; e (ii) do sistema lógico-semântico, que aborda as relações de sentido que legitimam os processos de junção, conforme ilustra o Esquema 1:

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Esquema 1. Modelo sistêmico-funcional de junção, elaborado a partir de Halliday (1985)

Com base nesse modelo, as opções do sistema de taxe são parataxe e hipotaxe, que se diferenciam por conta do estatuto gramatical das unidades envolvidas. A esse respeito, Halliday (1985) afirma que, quando as orações possuem um estatuto estrutural idêntico, a construção é paratática, mas, de outro modo, quando os estatutos das orações são desiguais, sendo uma modificadora e a outra nuclear, a construção é hipotática, podendo haver uma mescla desses processos nas construções complexas, como ilustra o exemplo do próprio autor, adaptado no Esquema 2, em que a combinação, sinalizada por P, é paratática, e aquela, sinalizada por H, é hipotática:

Esquema 2. Mescla dos processos paratáticos e hipotáticos de junção

Eu faria / se pudesse H

mas não posso

P

A partir desse exemplo, Halliday (1985, p. 218) mostra que as construções complexas são constituídas por relações de diferentes tipos, ou seja, tanto por sequências tipicamente paratáticas, quanto por sequências tipicamente hipotáticas, de modo que uma pode estar inserida no interior da outra, conforme a ocorrência do Esquema 2, em que o primeiro membro da parataxe configura uma construção complexa que comporta uma estrutura de natureza hipotática.

Para Halliday (1985), na parataxe, as orações combinadas preservam o seu funcionamento pleno, enquanto, na hipotaxe, há entre a oração dominante e a oração modificadora certa relação de dependência. Nesse sentido, Halliday (1985, p. 222) defende, por um lado, que, nas combinações paratáticas, em que não há dependência estrutural entre um elemento e outro, a ordem das orações é mais restrita, e uma alteração na sequência pode mudar não apenas a estrutura, mas também o sentido da construção. Por outro lado, nas combinações hipotáticas, em que a oração modificadora é sempre dependente, a ordem dos elementos não é tão rígida, sendo possível inversão no sequenciamento. Dadas essas

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considerações, entendemos que a parataxe constitui-se como uma composição binária, que pode ser invariável por conta da iconicidade das orações, diferentemente das composições hipotáticas em que há uma liberdade relativa, a partir da qual podem emergir diferentes efeitos de sentido.

Apesar de reconhecer essas particularidades que diferenciam, de certo modo, parataxe e hipotaxe, Halliday (1985) trata as opções do eixo tático como não discretas, e essa noção repousa no fato de o autor não conceber os mecanismos paratáticos e hipotáticos de junção como bem delimitados. Desse modo, Halliday (1985) reconhece a existência de esquemas hipotáticos que têm feição paratática, ou vice-versa, e destaca que os padrões paratáticos e hipotáticos podem ser modificados pelo tipo de relação lógico-semântica estabelecida.

Para o autor, não há uma relação estrita em que um significado (por exemplo, temporal, causal, condicional) encontra realizações em um único esquema sintático, traço diferencial nessa abordagem sistêmico-funcional e de relevância para o nosso trabalho, uma vez que qualquer relação de sentido pode se resolver por parataxe, por hipotaxe ou por construções que estão no limite desses níveis. Sendo assim, a partir desses pressupostos teóricos, com base em dois grandes domínios (o da forma e o do sentido), interpretamos os mecanismos condicionais como construções que envolvem diferentes arranjos morfossintáticos e o emprego de uma variedade de juntores, itens que, nesse modelo de junção, abrangem não apenas as tradicionais conjunções coordenativas e subordinativas, mas também advérbios, preposições, perífrases adverbiais e outros elementos que contribuem efetivamente para o processo de junção das sentenças. Diante disso, partilhando das noções defendidas por Halliday (1985), concebemos diferentes graus de dependência1 envolvidos nos

processos de junção, podendo uma dada construção condicional ser mais ou menos dependente, tanto do ponto de vista estrutural, como do ponto de vista semântico.

Quanto às combinações do sistema lógico-semântico, as opções são diversas, mas organizadas por Halliday (1985) em um número de categorias típicas mais gerais. Para o autor, nesse sistema, as relações de sentido constituem dois grupos principais: a projeção e a

1 Entendemos que os graus de dependência, tanto no eixo da parataxe quanto no eixo da hipotaxe, podem ser

avaliados a partir de determinados parâmetros, tais como morfologia verbal, partilhamento de sujeito, dentre outros, coforme mostraremos, na Seção 5, com a discussão da ocorrência em (36), um esquema de junção tipicamente paratático, que poderia ser interpretado, de uma perspectiva mais tradicional, como um caso de junção em que as sentenças são sintaticamente independentes. Mas, dada uma simetria morfossintática, reconhecemos certo grau de dependência, tanto estrutural como semântico, para essa construção condicional paratática. Sendo assim, consideramos que a partir de parâmetros desse tipo é possível avaliar diferentes graus de dependência para os esquemas de junção condicional, contudo, em função dos objetivos deste trabalho, não nos detemos, efetivamente, a análises dessa natureza.

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expansão, conforme indica o Esquema 1. Na projeção, uma oração projeta-se sobre a outra,

expressando uma locução ou uma ideia. Por sua vez, na expansão, as relações podem ocorrer: (a) no eixo da elaboração, em que uma oração elabora o significado de outra, reformulando-o ou especificando-o, (b) no eixo da extensão, em que uma oração estende ou amplia o significado de outra, sempre adicionando algum elemento novo e (c) no eixo do realce, em que uma oração realça o sentido de outra, indicando uma determinada circunstância, tal como tempo, lugar, modo, causa ou condição, como indica o Quadro 1, reelaborado a partir de Halliday (1985) e representativo do domínio da expansão, que dá conta das construções que investigamos aqui:

Quadro 1. Combinações de orações no domínio da expansão, segundo Halliday (1985)

Parataxe Hipotaxe

Elaboração João não esperou, ele fugiu João fugiu, o que surpreendeu a todos Extensão João fugiu, e Fred ficou para trás João fugiu, enquanto Fred ficou para trás Realce João estava com medo, então fugiu João fugiu, porque estava com medo

O eixo do realce é fundamental para esta pesquisa, pois é nele que estão inseridas as construções condicionais, no entanto, apesar dessa classificação proposta por Halliday (1985), não seguimos à risca a terminologia do autor e adotamos o rótulo condição por ser mais consensual na literatura linguística funcionalista. Além disso, conforme dito anteriormente, a nosso ver, o sentido de condição não se configura apenas como uma relação lógico-semântica, nos termos de Halliday (1985), é mais do que isso, a condição pode atuar no nível discursivo-pragmático, na medida em que, para compreensão do sentido condicional, é preciso levar em conta as intenções dos participantes do discurso, viés que será explorado na subseção 2.2.

Ainda quanto à dimensão lógico-semântica, é válido ressaltar que Halliday (1985), além de apontar um conjunto abrangente de relações, organizadas nos eixos da Projeção e da

Expansão, como apresentado, reconhece a essência polissêmica envolvida na codificação

desses sentidos e as fronteiras fluidas que há entre eles, distinguindo, por exemplo, diferentes categorias no eixo do realce, dentre as quais destacamos a causal-condicional, como mostra o Quadro 2, elaborado a partir de Halliday (1985, p. 234):

Quadro 2. Categoria causal-condicional pertencente ao eixo de realce

Categoria Significado

Causal-condicional

causa: consequência porque P então resulta Q

causa: finalidade por causa da intenção Q então a ação P condição: positiva se P então Q

condição: negativa se não P então Q

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Nessa categoria, Halliday (1985) admite proximidades entre as relações de causa e condição, que se desdobram em diferentes subtipos: causa-consequência, causa-finalidade, condição-positiva, condição-negativa e condição-concessiva, conforme indica o Quadro 2. Para nós, ao agrupar essas duas noções em uma mesma categoria, o autor sinaliza que há certa correlação entre os sentidos causal e condicional, um partilhamento de traços semânticos que aproxima ambas as relações, interpretadas, nesta pesquisa, como ambíguas a depender da natureza da construção.

Em função dessas considerações, para dar conta desse eixo lógico-semântico, que envolve ambiguidades de sentido, conforme já apontado, compatibilizamos a proposta de Halliday com as pesquisas desenvolvidas por Kortmann (1997), para o qual determinados domínios de sentido relacionam-se, em maior ou menor grau, a depender das afinidades semânticas que há entre eles. Nessa perspectiva, Kortmann (1997) investigou os usos e determinados processos de mudança envolvidos no desenvolvimento histórico de subordinadores adverbiais de diferentes línguas europeias, a partir de um viés tipológico, e reconheceu diferentes relações lógico-semânticas no âmbito desses itens.

Para Kortmann (1997), cada uma dessas relações equivale a uma camada ou domínio de sentido, que abrange relações mais centrais e mais periféricas, consideradas, de um ponto de vista cognitivo, como mais básicas ou mais complexas, respectivamente. Ademais, de acordo com o autor, esses domínios de sentido abarcam padrões de polissemia, que se dão entre domínios e no interior de cada domínio, sendo possível apreender relações de parentesco entre eles. Nesse sentido, Kortmann (1997) organiza as relações lógico-semânticas em macrodomínios, a saber: tempo, modo, lugar, e o que denomina de CCCC, que corresponde à causa, condição, concessão e contraste. Segundo o autor, entre esses macrodomínios são estabelecidos diferentes canais de derivação, como indica a Figura 1:

Figura 1. Canais de derivação das relações semânticas, proposto por Kortmann (1997)

Nesse esquema, Kortmann (1997) explora o caráter derivacional dos macrodomínios, mostrando que uma determinada relação pode derivar de outra ou, em direção diferente, pode

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dar lugar a outro nexo semântico, e isso resulta das afiliações semânticas existentes entre as relações, por esse motivo, nem todos os caminhos de derivação são produtivos. Diante disso, Kortmann (1997) destaca que: (i) o canal de derivação mais produtivo para as relações de CCCC é o de tempo, como sugere a espessura da seta; (ii) todas as relações alimentam CCCC, mas o contrário não ocorre; (iii) modo e lugar não mantêm afinidades, mas podem dar lugar as outras relações. Dessas sistematizações, o canal de derivação em que tempo alimenta CCCC constitui uma tendência relevante para a nossa pesquisa, tendo em vista que apreendemos, a partir dos dados investigados, a forte relação de proximidade entre os sentidos de tempo e condição, na medida em que verificamos diferentes relações temporais, por exemplo, a sequencialidade e a habitualidade, alimentando a emergência do sentido condicional.

Além disso, no esquema da Figura 1, os macrodomínios de tempo, lugar e modo são considerados por Kortmann (1997) como mais básicos e, por isso, alimentam as relações de CCCC, tomadas como mais complexas. Desse ponto de vista, segundo Kortmann (1997), o esquema representativo dos canais de derivação ajuda a apreender tendências filogenéticas e ontogenéticas, uma vez que sugere um gradiente cognitivo para as relações de sentido, observado tanto no âmbito da história da língua, como no âmbito da aquisição de linguagem.

Sobre essas questões, Kortmann (1997) discute, por exemplo, que, na história da língua, os subordinadores adverbiais que codificam noções mais concretas, como tempo e lugar, desenvolveram-se mais cedo, ao passo que aqueles que codificam os sentidos mais abstratos, como condição e concessão, surgiram posteriormente. E, no que concerne à aquisição de linguagem, o autor mostra que o caminho é semelhante, já que, primeiro, são adquiridas relações temporais e somente mais tarde, as relações de condição, contraste e concessão, fato que evidencia um paralelo entre filogenia e ontogenia.

Assim, aproximando-se do trabalho de Reilly (1983), cuja pesquisa, a partir de dados experimentais, tem como foco o processo de aquisição do sistema condicional na língua inglesa, Kortmann (1997) defende uma tendência ontogenética que indica uma ordem preferencial na aquisição das relações de sentido: a de que as relações mais complexas, dentre elas o sentido condicional, derivam daquelas cujos sentidos são mais básicos, como o nexo semântico de tempo, sendo apreendidas mais tarde. Para o autor, o curso geral de aquisição de linguagem prevê um aumento crescente de complexidade cognitiva próprio das diferentes relações de sentido.

Em conformidade com essa tendência, ressaltamos também a pesquisa desenvolvida por Rodrigues (2001), que aborda as relações de proximidade entre as orações temporais e condicionais na fala de crianças em fase de aquisição de primeira língua. Ao investigar as

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construções hipotáticas de tempo e condição, em dados de fala infantil, tratando da ordem de aquisição dessas construções, Rodrigues (2001) mostrou que a relação temporal precede a condicional, sendo possível ou não a sobreposição de sentidos temporais e condicionais. Partilhando do estudo de Heine et al (1991), a autora postula que entidades mais concretas, que se relacionam, por exemplo, à noção de tempo, podem ser tomadas para a expressão de significados mais subjetivos/abstratos, como o sentido condicional, em um tipo de continuum das categorias cognitivas, que se aproxima do esquema de canais de derivação proposto por Kortmann (1997). Sendo assim, diante desses pontos de vista, destacamos o quanto são tênues os limites entre determinadas relações de sentido, que envolvem os processos de junção, não havendo uma separação discreta e clara entre elas, mas sim uma predisposição derivacional, conforme discutimos.

Essa ambiguidade constitutiva das relações de sentido, conforme debatemos a partir de Kortmann (1997), não se restringe, porém, ao eixo lógico-semântico que caracteriza os esquemas de junção. Para nós, o caráter polissêmico das relações pode ser apreendido também no nível pragmático. Nesse sentido, exploramos uma representação pragmático-cognitiva das condicionais, conforme propõe Sweetser (1990), a partir de um modelo teórico de base cognitivista, no qual defende que as construções juntivas podem receber interpretações distintas a depender dos domínios pragmáticos em que estão inseridas.

Para Sweetser (1990), há três domínios dentro dos quais uma palavra se desdobra em formas polissêmicas: os domínios do conteúdo (sócio-físico), epistêmico (raciocínio lógico) e conversacional (atos de fala). O domínio do conteúdo é interpretado pela autora como mais básico, pois abrange relações mais concretas, do tipo causa/efeito; o domínio epistêmico é considerado como mais abstrato, uma vez que estabelece relações no nível do raciocínio, envolvendo crenças e julgamentos; e o domínio conversacional compreende relações entre momentos de uma argumentação, conforme exemplificado abaixo, a partir de dados do português, extraídos de Neves; Braga; Dall’aglio-Hattnher (2008, p. 959-950):

(7) ...se na mulher se retira os ovários... retirando portanto a fonte pro/da/eh::/ elaboradora de hormônio... feminino. o::as glândulas mamárias... elas se atrofiam [EF SSA 49]

(8) a identificação, se tiver assim, um caráter já de uma pequena, um pequeno exame, então já está com um nível mais complexo [EF POA 291]

(9) [bem... então::... a partir disto olha nós vamos poder entender... qual o tipo de arte que se desenvolveu porque] se eu quero criar... uma réplica da realidade... um Duplo do animal que eu quero caçar qual é o único estilo que eu posso usar? [EF SP 405]

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Na ocorrência em (7), a relação estabelecida entre as orações pertence ao domínio da causalidade, na qual “retirar os ovários” constitui a causa e “atrofiar as glândulas mamárias” configura a consequência, representando uma construção típica de conteúdo. Por sua vez, na ocorrência em (8), a relação pertence ao nível epistêmico, tendo em vista que o falante conclui, com base em crenças, que o processo de identificação pode ser considerado mais complexo, quando se realiza um pequeno exame. E, na ocorrência em (9), a oração “se eu quero criar uma réplica da realidade, um duplo do animal que eu quero caçar” motiva uma pergunta, isto é, o ato de fala interrogativo “qual é o único estilo que eu posso usar?”.

A partir dessa diferenciação, Sweetser (1990) afirma que os sentidos podem passar de um domínio para outro, sendo esse caminho unidirecional, sempre das relações mais concretas para as mais abstratas, fato que revela uma tendência filogenética: as relações no nível do conteúdo (mais básicas e referenciais) são desenvolvidas historicamente mais cedo do que aquelas em nível epistêmico (mais subjetivas), indicando um aumento de complexidade crescente.

Essa tendência, todavia, não se restringe apenas à história da língua, podendo ser apreendida no processo de aquisição de linguagem, o que indica uma correlação entre filogênese e ontogênese, já discutida anteriormente no âmbito das relações semânticas, a partir dos estudos de Kortmann (1997). Por sua vez, no âmbito das relações pragmáticas, esse aumento de complexidade cognitiva, verificado por Sweetser em uma perspectiva filogenética, também pode ser observado a partir de dados ontogenéticos, e, nesse sentido, destacamos o trabalho desenvolvido por Sanders e Evers-Vermeul (2010), que investigam a aquisição de construções que veiculam causa em dados de fala infantil.

Sanders e Evers-Vermeul (2010) observam que as relações causais no domínio do conteúdo são adquiridas antes que aquelas pertencentes ao domínio epistêmico e de atos de fala, mas, curiosamente, as crianças de diferentes faixas etárias estudadas, entre quatro e seis anos de idade, não divergem, em números, na produção das relações epistêmicas e de ato de fala. Sendo assim, os autores questionam essa tendência ontogenética de que as relações em nível de conteúdo são adquiridas primeiro do que as relações em nível epistêmico e de atos de fala, indicando que há fatores de outra ordem influenciando na produção das causais.

A esse respeito, Sanders e Evers-Vermeul (2010) defendem que o contexto em que as relações de causa são produzidas é essencial para a definição dos tipos de construções realizadas, isto é, os sentidos produzidos dependem, fundamentalmente, da tarefa de comunicação estabelecida. Para chegar a esse resultado, que revela uma correlação entre o tipo de texto e os tipos de esquemas de junção realizados, os autores trabalham com crianças

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holandesas em fase de aquisição de linguagem, aplicando experimentos linguísticos que solicitam diferentes tarefas comunicativas, ou seja, o contexto para realização das construções de causa é variável. Com base nessa metodologia, Sanders e Evers-Vermeul (2010) constatam, por exemplo, que, na tarefa em que as crianças devem fazer uma descrição, prevalecem as relações de conteúdo, enquanto que na tarefa de conversação, cujo objetivo é formular uma opinião a respeito de um fato polêmico, prevalecem as relações no domínio epistêmico e de atos de fala, independentemente da faixa etária, fato que leva os autores a constatação de que a frequência no emprego das causais não está exclusivamente relacionada a fatores cognitivos, mas ao contexto de produção das construções.

Diante dessas considerações, a proposta de Sweetser (1990), aliada aos estudos desenvolvidos por Sanders e Evers-Vermeul (2010), é relevante para a nossa pesquisa, pois entendemos, com base nessa teoria cognitivista, que é possível apreender diferentes graus de complexidade para as construções que veiculam condição, a partir da diferenciação dos domínios pragmático-cognitivos. Mais do que isso, a proposta contribui para investigarmos em que medida esse aumento de complexidade, verificado por Sweetser (1990) em dados filogenéticos, pode ser apreendido nos nossos dados de escrita do EF II, visto que analisamos textos dos mesmos escreventes ao longo dessa fase escolar e, para nós, o tempo de escolarização constitui um parâmetro importante para avaliar a complexidade das construções condicionais.

Além de partilharmos das noções defendidas por Sweetser (1990), nossa expectativa é a de que a frequência e os tipos de construções condicionais empregados nos textos do EF II podem não estar relacionados apenas com a cognição, que envolve um conjunto de conhecimentos adquiridos a partir de práticas sociais que são vernáculas e formais. Por esse motivo, nos aproximamos também da pesquisa desenvolvida por Sanders e Evers-Vermeul (2010), para investigarmos, nos dados de escrita do EF II, a hipótese, defendida pelos autores, de que o tipo de texto influencia na codificação de determinados tipos de construções juntivas.

2.2 A expressão de condicionalidade

As construções condicionais, de modo geral, apresentam, muitas vezes, uma hipótese como ponto de apoio e é nesse sentido que esse tipo de construção recebe a denominação de período hipotético, sendo considerada de natureza lógica a relação estabelecida entre as partes que o constitui. Equiparar as noções de hipótese e de condição não é, entretanto, algo tão simples, como sinaliza Leão (1961, p. 19):

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O reconhecimento do caráter lógico da relação hipotética pede que comecemos por uma tentativa de definição, cuja dificuldade aliás é impossível negar. Os próprios filósofos confundem, às vêzes, os têrmos proposição hipotética e proposição condicional, reunindo sob um dêsses nomes tôdas as proposições em que ou uma afirmação ou uma negação está subordinada a uma condição ou hipótese.

A autora discute, a esse respeito, que a contradição aparece na própria comparação das definições apresentadas para esses termos que, ora são considerados como sinônimos, ora são tratados distintamente. Essa distinção repousa na ideia de que, numa proposição condicional, há uma condição obrigatória e suficiente, da qual depende o evento representado na outra oração. Já, numa proposição hipotética, admite-se uma hipótese, da qual depende o conteúdo expresso na sentença seguinte. Pensando dessa forma, aparentemente, fica nítida uma diferenciação entre os conceitos, até que se encontre no verbete “condicional” a definição de “sinônimo de hipotético” ou “consequência de um julgamento hipotético qualquer”, como debate Leão (1961, p. 20).

No entanto, para a autora, essa distinção deixa de ser significativa, uma vez que propôs um estudo, no qual discute detalhadamente os períodos hipotéticos iniciados por se, cujo foco é uma estrutura ou um molde de frase, correspondente a uma categoria linguística. Desse ponto de vista, Leão (1961, p. 21) não faz nenhuma diferenciação entre hipótese e condição e chama de período hipotético “ao conjunto de duas orações, uma das quais (geralmente a primeira) exprime uma suposição, condição, ou ponto de partida de raciocínio, iniciando-se pela conjunção se e subordinando-se sintaticamente à outra”, como ilustra a construção seguinte, exemplo da própria autora:

(10) Se a noite estiver bonita, iremos todos ao circo. (p. 73)

Em consonância com a denominação “período hipotético”, defendida por Leão (1961), estão os estudos de Neves (2000), para quem a relação emergente da combinação das orações que constituem uma construção de condição repousa na ideia de que a partir de uma condição expressa na prótase (oração subordinada), dá-se uma consequência apresentada na apódose (oração principal), conforme o esquema prototípico se p → q. Essas noções, que constituem o ponto de partida para a compreensão do nexo de condicionalidade, alimentam discussões de diferentes naturezas que dão origem a interpretações diversificadas para a relação condicional. Comrie (1986), inserido em uma corrente voltada à lógica, por exemplo, ao defender que há uma relação intrínseca entre p e q, pertencente ao domínio da causalidade, reconhece que essa relação ocorre de tal modo que, no esquema das condicionais: (i) ambas as orações, tanto p como q, podem ser verdadeiras, ou (ii) p pode ser falsa, enquanto q é verdadeira, ou

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ainda (iii) ambas as orações podem ser falsas. Exclui-se, no entanto, a possibilidade de o elemento consequente, representado pela oração q, ser considerado falso, conforme presente também em Haiman (1978, p. 577), para quem um antecedente falso, assim como um consequente verdadeiro não fere a relação lógica de uma construção condicional, e uma condicional verdadeira pode ser construída a partir de duas declarações quaisquer. Diante disso, Comrie (1986) afirma que o nexo de condicionalidade pode ser explicado/interpretado com base, fundamentalmente, em um esquema lógico que privilegia os valores de verdade das orações, assim como em uma relação de causa/efeito indispensável na leitura de condição.

A esse respeito, Neves (2000) discute que, de acordo com a tradição lógica, considerando os valores de verdade expressos nas orações relacionadas, as construções condicionais são classificadas em reais, irreais e eventuais, de modo que a realidade dos fatos se sobrepõe à realidade do enunciado, fato não aceito pela autora, que afirma:

O que se diz tradicionalmente é que o período “real” repousa sobre a realidade: o

enunciado da prótase é concebido como real, e, a partir daí, o enunciado da apódose é concebido como uma consequência necessária, e, portanto, também real.

Ocorre que essa generalização, que tem base lógica, não se confirma quando se avaliam usos efetivos da língua. (NEVES, 2000, p. 836)

Desse modo, Neves (2000) defende que, quando se considera a língua em uso, não se deve falar em realidade, tendo em vista que a realidade de um estado de coisas não implica, obrigatoriamente, a realidade de um enunciado, ou seja, realidade e linguagem não se confundem. Desse ponto de vista, Neves (2000) adota, então, o termo factualidade, para ela, o que se afirma é sempre a factualidade do que é dito. Nesse sentido, Neves; Braga; Dall’aglio-Hattnher (2008, p. 958) alegam que os valores de verdade expressos nas orações representam um dos critérios para a análise das construções condicionais e permitem a classificação dessas construções em: (i) real/factual – dada a realização/verdade de p, segue-se, necessariamente, a realização/a verdade de q; (ii) irreal/contrafactual – dada a não-realização/falsidade de p, segue-se, necessariamente, a não-realização/a falsidade de q; (iii) eventual/potencial – dada a potencialidade de p, segue-se a eventualidade de q, respectivamente, exemplificadas abaixo:

(11) mas se pode não precisa essa auto-análise [D2 REC 05] (p. 962)

(12) e a a imagem que eu fazia era a seguinte se o Japão fosse uma Birmânia, por exemplo que é um dos países atrasados, as economias industriais que ganharam a Segunda Guerra não teriam ajudado o Japão, quer dizer de outra maneira, se o Japão fosse a Birmânia né? [EF RJ 379] (p. 965)

(13) eu memorizei o meu processo, se vocês me trouxerem o livrinho aquele eu respondo todos eles e (es)tou no nível de conhecimento; bem, mas é preciso que eu aplique, que eu utilize os sinais de trânsito na hora certa, o que eu tenha a habilidade de passar mais rápido pelo guardinha [EF POA 278] (p. 966)

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Em (11), de acordo com as autoras, a construção envolve um componente de causalidade, de modo que o evento descrito na prótase é tomado como factual e, a partir dele, o evento expresso na apódose é interpretado como uma consequência necessária. Já, em (12), a relação de causa/efeito é de outra natureza, pois ocorre uma inversão de polaridade entre as orações, ou seja, a prótase positiva “se o Japão fosse uma Birmânia” pressupõe uma negação “o Japão não é uma Birmânia” e a apódose negativa “as economias não teriam ajudado” pressupõe um conteúdo positivo “as economias ajudaram”. Por sua vez, em (13), não há uma relação de causalidade, nesse caso, a prótase repousa sobre a eventualidade, e o evento descrito na apódose é tomado como certo, caso a condição expressa na prótase seja satisfeita.

Como se vê, Neves (2000) e Neves; Braga; Dall’aglio-Hattnher (2008) apontam que a relação de condicionalidade extrapola um esquema lógico, cujo principal critério para interpretação das condicionais repousa sobre a realidade do enunciado. Neves (2000) defende que, ao observar os usos efetivos da língua, explicações lógicas para as construções de condição não são suficientes, assim como afirmam Paiva e Braga (2010) sobre a relação de causa/efeito em um trabalho que discorrem sobre a natureza de construções justapostas e paratáticas com e. A relação de causalidade, concebida por Comrie (1986) no domínio da lógica formal, foi eleita pelo autor como a base do nexo de condição, entretanto, em direção inversa, ao investigar as causais justapostas e paratáticas com e, Paiva e Braga (2010) verificam que a relação de causa/efeito excede a esfera da lógica para atuar mais efetivamente em um plano discursivo-pragmático, no qual estão em jogo as intenções de dizer, ou seja, as escolhas do sujeito, que é intencional.

Paiva e Braga (2010) reconhecem que, em muitos casos, a relação causal é alimentada por um sequenciamento temporal lógico, que reflete eventos sucessivos, em um tempo contínuo, linear, característico de uma sequencialidade icônica. Todavia, destacam que, em determinados casos, o nexo causal só fica garantido quando se recorre a esquemas interpretativos do mundo, como no exemplo discutido por elas:

(14) O indivíduo não gostou, Ø mandou a professora ir para aquele lugar. (p. 321)

Para a interpretação causal da construção apresentada, é necessário reconhecer que, entre aluno e professora, já estava instaurada uma situação problemática, devido a um pedido feito pela docente ao estudante, que ficou irritado. Fora desse contexto específico, a relação de causalidade não se legitima, como ocorre na ocorrência em (15):

(30)

(15) Eu cheguei em casa, Ø encontrei a patroa chorando. (p. 320)

Nesse caso, Paiva e Braga (2010) mostram que apesar de haver um sequenciamento temporal claro dos eventos descritos na ocorrência em (15), a relação de causa é bloqueada pela ausência de esquemas de mundo que validam uma leitura do tipo se p → q, na qual o evento “chegar em casa” seria interpretado como causa e o evento “encontrar a esposa chorando” representaria uma consequência.

Nesse sentido, as pesquisadoras afirmam que “a avaliação que autoriza um nexo de causalidade não funciona se não se considerar as relações discursivas e as intenções do locutor” (PAIVA; BRAGA, 2010, p. 321). Desse ponto de vista, a causalidade ultrapassa o domínio lógico e funciona no domínio do discurso, em um nível argumentativo. Essas considerações, a nosso ver, estendem-se também para o nexo de condição, que se sustenta, muitas vezes, em uma relação de causa e efeito, mas nem sempre essa relação pertence ao domínio da lógica. A condicionalidade, então, não se restringe apenas ao esquema lógico se p

→ q, cuja leitura indica que, com base em uma condição expressa na prótase, tem-se um

resultado apresentado na apódose, a condicionalidade implica uma relação interpessoal entre falante e ouvinte, da qual emergem diferentes sentidos, já que estão em jogo as intenções dos participantes do discurso, conforme o exemplar abaixo, retirado do trabalho de Hirata-Vale e Oliveira (2011):

(16) Se você ficar com fome, tem comida na geladeira. (p. 200)

Essa ocorrência configura um caso de condicional que não está pautado em uma relação lógica, e Hirata-Vale e Oliveira (2011) afirmam que a causalidade não se sustenta para todos os esquemas condicionais, mostrando que o evento descrito na oração “tem comida na geladeira” não pode ser interpretado como efeito de “se você tem fome”. Segundo as autoras, esse tipo de condicional seria entendido como uma construção atípica nas abordagens lógicas, como a de Comrie (1986), discutida anteriormente, entretanto, defendem que esses usos são empregados com frequência para expressar o sentido de condição e, geralmente, revelam intenções comunicativas.

Nessa perspectiva, que considera o caráter discursivo das construções condicionais, está o reconhecido trabalho “Condicionais são tópicos”, de Haiman (1978), que tem grande relevância nos estudos do nexo de condição. Para Haiman, até então, tanto linguistas como filósofos não haviam apresentado uma explicação coerente para as construções condicionais, uma vez que os lógicos, em sua maioria, se detinham em explicar a condicionalidade partindo

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