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O confronto entre os Juntogramas 1 e 2 sinaliza que, no texto pertencente à tradição narrativa, do qual resultou o Juntograma 1, prevalecem: (i) no que diz respeito às combinações sintáticas, apresentadas no eixo superior do gráfico, somente construções paratáticas e (ii) no que concerne às relações de sentido, expostas no eixo inferior do gráfico, relações temporais. Dessa forma, o texto caracteriza-se por uma ordenação de eventos no tempo, traço definidor das tradições narrativas. De modo diferente, no texto pertencente à tradição argumentativa, do qual resultou o Juntograma 2, são codificadas: (i) no que diz respeito à sintaxe, tanto construções paratáticas como hipotáticas e (ii) no que concerne à semântica, diferentes relações, dentre as quais destacamos o nexo condicional, empregado como uma estratégia de persuasão, além do sentido causal, que é frequente no texto e que, de certa forma, tem parentesco semântico com a relação de condição, conforme já discutimos. Nesse caso, o texto caracteriza-se por trechos tipicamente argumentativos, em que o escrevente impõe sua opinião a respeito de um tema, tentando persuadir o interlocutor.

À semelhança do que ocorre na Proposta 01, do ano de 2008, cujos textos produzidos se inserem tipicamente na tradição narrativa, em que nenhum esquema de junção condicional foi mobilizado, na Proposta 07, do ano de 2009, verificamos o emprego de apenas um mecanismo que veicula o sentido de condição, conforme indica a Tabela 5. Nessa proposta, foi solicitada a produção de uma Carta Pessoal, destinada a um amigo, na qual os escreventes deveriam contar sobre uma briga que tiveram com essa pessoa, recordando como aconteceu essa situação e de que maneira terminou o desentendimento, como ilustra a Figura 13, representativa dessa proposta:

Figura 13. Proposta de produção textual 07, aplicada no ano de 2009

A partir da Proposta 07, do ano de 2009, os escreventes produziram textos em que prevalecem traços comuns da tradição Carta pessoal, assim como traços típicos de tradições narrativas, numa relação de convivência que revela uma das características definidoras do conceito de TD, a composicionalidade das TDs, que, nesse sentido, relaciona-se com o fato de um mesmo texto abarcar uma rede de tradições. Diante disso, nos textos referentes a essa proposta de produção, foi possível flagrar uma circulação dos escreventes por diferentes modos de dizer, conforme o exemplar da Figura 14:

Figura 14. Texto do escrevente S03, produzido no ano de 2009

Essa produção escrita se insere na tradição Carta pessoal por meio da mobilização de arranjos que são típicos desse modo de dizer, ou seja, pela inserção, no início do texto, de local, data, saudação e, no final, de uma despedida, que constituem traços mais recorrentes dessa TD. No conteúdo da carta, por sua vez, parte em que há mais liberdade na escolha de determinadas construções, o escrevente mobiliza esquemas juntivos predominantemente temporais, comuns nas tradições narrativas, o que revela o trânsito do escrevente por diferentes TDs.

Além disso, sobre o emprego predominante dos esquemas temporais, assim como no texto da Figura 10, nesse texto em (14), há a codificação de uma temporalidade icônica, em que os acontecimentos seguem determinado sequenciamento, que sinaliza a ordem dos fatos no mundo, como sugere o trecho abaixo:

Figura 15. Trecho do texto do escrevente S03, produzido no ano de 2009

[Z09_6B_01F_07]

Nesse trecho, o escrevente conta uma parte das atividades que realizou durante o dia, até o momento em que entra no msn para conversar com uma amiga, ocasião na qual emerge o conflito da narrativa. A relação de tempo é codificada pelo uso dos juntores e, aí e na hora

que, mobilizados para marcar os eventos que vêm antes e depois na situação, todos

contribuindo para a expressão de um tempo icônico, relação de sentido comum nas tradições narrativas, conforme já discutimos anteriormente, sinalizando que, de modo diferente, nas tradições argumentativas, que exigem uma postura avaliativa do sujeito, as construções de tempo não aparecem com tanta frequência, dando lugar a outras relações de sentido, das quais destacamos, a partir da análise do texto da Figura 12, os processos juntivos de condição, presentes também no texto abaixo, pertencente à Proposta 06, de 2011:

Figura 16. Texto do escrevente S03, produzido no ano de 2011

[Z11_8D_05F_06]

Nesse texto, que também é representativo da tradição Artigo de opinião, uma vez que se constitui por trechos tipicamente argumentativos, em que o escrevente expõe sua opinião a respeito da aprovação da lei antifumo, o estudante posiciona-se em favor da lei, argumentando que o cigarro é uma escolha na vida das pessoas. Entretanto, defende que essa escolha não pode interferir na vida dos não fumantes, ou seja, que o único prejudicado deva ser aquele que opta por fumar, mesmo sabendo o mal que o cigarro causa, conforme indicam as construções condicionais grifadas em vermelho na Figura 16. As condicionais, nesse texto, (bem como no que analisamos anteriormente, pertencente a essa mesma proposta, que evoca uma tradição argumentativa), configuram um mecanismo importante na argumentação, pois são empregadas como estratégia para persuadir o interlocutor de que o cigarro é um grande inimigo das pessoas.

Diante disso, ao confrontarmos ambos os textos, referentes às Figuras 14 e 16, reiteramos a tendência, já apresentada a partir da análise dos Juntogramas 1 e 2, de que as tradições narrativas contribuem para o uso predominante de esquemas temporais, enquanto as

tradições argumentativas contribuem para o emprego de outras relações, dentre elas o sentido condicional, que reforçamos com a exposição dos Juntogramas 3 e 4, correspondentes às tradições Carta pessoal e Artigo de opinião: